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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Engenharia Naval e Oceânica ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA NAVAL Módulo 5: Instalações propulsoras e sistemas auxiliares PROF. DR. HELIO MITIO MORISHITA PROF. DR. HERNANI LUIZ BRINATI Material de apoio ao curso oferecido na Universidade de Pernambuco – UPE Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 1 2007 1 20/04/2007 Texto completo Versão Data Observações Apostila: ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA NAVAL Módulo 5: Instalações propulsoras e sistemas auxiliares Dept./Unidade Data Autores PNV/EPUSP 2007 Prof. Dr. Helio Mitio Morishita Prof. Dr. Hernani Luiz Brinati Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 2 Curso oferecido pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo na Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 3 Data Período Horários Assunto 18:30h – 19:20h Apresentação: Professor, alunos, curso e módulo 5 19:20h – 20:10h Tipos de propulsores 20:10h – 21:00h Tipos de propulsores 26 /0 4/ 20 07 Q ui nt a- fe ira N oi te 21:00h – 21:50h Tipos de propulsores 18:30h – 19:20h Tipos de máquina principal 19:20h – 20:10h Tipos de máquina principal 20:10h – 21:00h Tipos de transmissão 27 /0 4/ 20 07 S ex ta -fe ira N oi te 21:00h – 21:50h Tipo de instalações propulsoras 08:00h – 08:50h Geometria do hélice 08:50h – 09:40h Curva característica do hélice 09:40h – 10:10h Curva característica do hélice M an hã 10:10h – 11:00h Cavitação 13:00h – 13:50h Interação casco-propulsor 13:50h – 14:40h Interação casco-propulsor 28 /0 4/ 20 07 S áb ad o Ta rd e 14:40h – 15:30h Definição de eficiências Data Período Horários Assunto 18:30h – 19:20h Integração casco-hélice-motor 19:20h – 20:10h Integração casco-hélice-motor 20:10h – 21:00h Integração casco-hélice-motor 03 /0 5/ 20 07 Q ui nt a- fe ira N oi te 21:00h – 21:50h Exercício 18:30h – 19:20h Exercício 19:20h – 20:10h Sistemas auxiliares 20:10h – 21:00h Sistemas auxiliares 04 /0 5/ 20 07 S ex ta -fe ira N oi te 21:00h – 21:50h Sistemas auxiliares 08:00h – 08:50h Sistemas auxiliares 08:50h – 09:40h Sistemas auxiliares 09:40h – 10:10h Sistemas auxiliares M an hã 10:10h – 11:00h Sistemas auxiliares 13:00h – 13:50h Arranjo de praça de máquinas 13:50h – 14:40h Arranjo de praça de máquinas 06 /0 5/ 20 07 S áb ad o Ta rd e 14:40h – 15:30h Arranjo de praça de máquinas Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 4 ÍNDICE APÊNDICE A CAVITAÇÃO DO HÉLICE.............................................................113 ................................................................................................................................ 5 Lista de Figuras..................................................................................................... 6 1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 9 2 INSTALAÇÕES PROPULSORAS................................................................. 11 2.1 TIPOS DE PROPULSORES ................................................................... 11 2.1.1 Hélices ............................................................................................ 12 2.1.2 Jato Bomba..................................................................................... 19 2.2 TIPOS DE MÁQUINA PRINCIPAL.......................................................... 21 2.2.1 Motor Diesel.................................................................................... 21 2.2.2 Turbina a Gás ................................................................................. 31 2.3 TRANSMISSÃO DE POTÊNCIA............................................................. 34 2.4 TIPOS DE INSTALAÇÃO PROPULSORA.............................................. 36 3 HÉLICE.......................................................................................................... 41 3.1 GEOMETRIA DO HÉLICE ...................................................................... 41 3.2 CURVAS CARACTERÍSTICAS DO HÉLICE .......................................... 42 3.3 CAVITAÇÃO ........................................................................................... 46 4 INTERAÇÃO CASCO-PROPULSOR ............................................................ 47 4.1 DEFINIÇÃO DAS EFICIÊNCIAS............................................................. 49 5 INTEGRAÇÃO CASCO-HÉLICE-MOTOR .................................................... 53 5.1 PROCEDIMENTO PARA A INTEGRAÇÃO CASCO-HÉLICE-MOTOR.... 61 6 SISTEMAS AUXILIARES DA PRAÇA DE MÁQUINAS................................ 64 6.1 INTRODUÇÃO........................................................................................ 64 6.2 SISTEMA DE ÓLEO COMBUSTÍVEL..................................................... 65 6.2.1 A rede de combustível .................................................................... 66 6.2.2 Bombas injetoras e injetores........................................................... 72 6.3 SISTEMA DE ÓLEO LUBRIFICANTE..................................................... 76 6.3.1 Lubrificação dos cilindros................................................................ 81 Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 5 6.4 SISTEMA DE RESFRIAMENTO DO MOTOR ........................................ 83 6.4.1 Sistema de água doce .................................................................... 83 6.4.2 Sistema de água salgada ............................................................... 86 6.4.3 Sistema aberto de resfriamento ...................................................... 88 6.5 SISTEMA DE AR DE PARTIDA.............................................................. 89 6.6 SISTEMA DE ADMISSÃO ...................................................................... 92 6.7 SISTEMA DE DESCARGA ..................................................................... 93 6.8 SISTEMA ELÉTRICOS ........................................................................... 97 6.9 SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO............................................................. 99 6.10 SISTEMA DE RECEBIMENTO E TRANSFERÊNCIA DE ÓLEO COMBUSTÍVEL ............................................................................................... 104 6.11 SISTEMA DE ESGOTO E LASTRO ..................................................... 105 6.12 SISTEMA DE CIRCULAÇÃO DE ÁGUA SALGADA............................. 108 6.13 SISTEMA DE GERAÇÃO DE VAPOR.................................................. 108 7 ARRANJO DA PRAÇA DE MÁQUINAS ..................................................... 110 8 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................ 113 APÊNDICE A CAVITAÇÃO DO HÉLICE.............................................................114 Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 6 Lista de Figuras Fig. 2.1. Exemplo de propulsor tipo hélice. .................................................................. 13 Fig. 2.2. Passo de um saca-rolha. ................................................................................. 13 Fig. 2.3. Diagrama esquemático das velocidades e das forças em torno de uma seção do hélice. ................................................................................................................ 14 Fig. 2.4. Esquema de um hélice de passo fixo. ........................................................... 15 Fig. 2.5. Esquema da hélice de passo controlável...................................................... 16 Fig. 2.6. Esquema de um hélice em dutos. .................................................................. 17 Fig. 2.7. Esquema de um hélice azimutal..................................................................... 18 Fig. 2.8. Esquema de hélice tipo pod. ........................................................................... 19 Fig. 2.9. Esquema de uma propulsor tipo jato bomba. ............................................... 20 Fig. 2.10. Diagrama pressão volume do ciclo Diesel a) diagrama de pressão x volume e b) diagrama temperatura x entropia. ........................................................... 22 Fig. 2.11. Esquema de operação de um motor de 4 tempos a) admissão do ar; b) compressão do ar; c)combustão e expansão e d) descarga dos gases. ................ 24 Fig. 2.12. Corte Transversal de motores de 4 tempos (a) motor com cilindros em linha; (b) motor com cilindros em V. .............................................................................. 25 Fig. 2.13. Esquema de um motor Diesel de 2 tempos a) combustão e expansão; b) descarga dos gases de exaustão; c) admissão do ar; d) compressão.................... 27 Fig. 2.14 Corte de um motor de 2 tempos. ................................................................... 28 Fig. 2.15 Exemplo de um motor Diesel de baixa rotação. ......................................... 30 Fig. 2.16. Exemplo de um motor de alta rotação......................................................... 31 Fig. 2.17. Processo de um ciclo de Brayton a) diagrama pressão x volume específico; b) diagrama temperatura x entropia. ......................................................... 32 Fig. 2.18. Diagrama esquemático de uma turbina a gás. .......................................... 33 Fig. 2.19. Corte de uma turbina a gás de dois eixos. ................................................. 33 Fig. 2.20. Esquema de uma conexão direta................................................................. 35 Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 7 Fig. 3.1. Curva típica dos coeficiente de empuxo e de torque, e de eficiência de um propulsor em água aberta. .............................................................................................. 45 Fig. 3.2. Cavitação do dorso do hélice. ......................................................................... 46 Fig. 5.1. Esquema de uma instalação propulsora com hélice de passo fio, eixo e motor Diesel....................................................................................................................... 53 Fig. 5.2. Exemplo típico de uma família de curvas. .................................................... 56 Fig. 5.3. Layout Diagrama do motor diesel................................................................... 57 Fig. 5.4. Dados específicos de uma serie de motores. .............................................. 57 Fig. 5.5. Solução da integração casco hélice............................................................... 60 Fig. 6.1. Diagrama da rede de combustível na praça de máquinas......................... 66 Fig. 6.2. Diagrama da rede de tratamento de combustível........................................ 67 Fig. 6.3. Diagrama da rede de combustível para barcos pequenos......................... 71 Fig. 6.4. Esquema de uma bomba individual. .............................................................. 73 Fig. 6.5. Princípio do funcionamento da bomba. ......................................................... 73 Fig. 6.6. Diferentes posições do pistão no cilindro...................................................... 75 Fig. 6.7. Desenho dos injetores de combustível.......................................................... 75 Fig. 6.8. Esquema do sistema de lubrificação de baixa pressão para um motor... 77 Fig. 6.9. Esquema da movimentação de óleo do tanque de armazenamento até o tanque de dreno. ............................................................................................................... 79 Fig. 6.10. Processo de tratamento de óleo lubrificante. ............................................. 81 Fig. 6.11. Sistema de lubrificação dos cilindros em motores marítimos de baixa rotação................................................................................................................................ 82 Fig. 6.12. Sistema de água doce. .................................................................................. 84 Fig. 6.13. Sistema de água doce com tanque de separação de óleo. ..................... 85 Fig. 6.14. Sistema de água salgada. ............................................................................. 87 Fig. 6.15. Sistema de resfriamento do motor com as redes de água doce e salgada. .............................................................................................................................. 87 Fig. 6.16. Sistema aberto de resfriamento. .................................................................. 88 Fig. 6.17. Sistema de ar de partida de motores de propulsão. ................................. 90 Fig. 6.18. Dispositivo de distribuição de ar de partida. ............................................... 91 Fig. 6.19. Sistema de admissão de um motor. ............................................................ 93 Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 8 Fig. 6.20. Tipos básicos de silenciadores e retentor de fagulhas............................. 95 Fig. 6.21. Sistema de descarga de uma instalação propulsora. ............................... 96 Fig. 6.22. Ciclo termodinâmico de um ciclo de refrigeração.................................... 100 Fig. 6.23 Componentes de um ciclo de refrigeração ................................................ 101 Fig. 6.24. Ciclo de uma câmara frigoriífica. ................................................................ 102 Fig. 6.25. Ciclo indireto de refrigeração com salmoura. ........................................... 103 Fig. 6.26. Exemplo de um sistema de recebimento e transferência de óleo combustível ...................................................................................................................... 104 Fig. 6.27. Exemplo de um sistema de esgoto e lastro típico. .................................. 106 Fig. 6.28. Exemplo de um sistema de esgoto de água contaminada. ................... 107 Fig. 6.29. Exemplo de sistema de geração de vapor com caldeira de recuperação. ........................................................................................................................................... 109 Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 9 1 INTRODUÇÃO Foi apresentado em um módulo anterior o conceito de resistência ao avanço. Obviamente, o navio, para operar na velocidade desejada, há que vencer esta resistência, e, atualmente isto é realizado através da geração interna ao navio de potência mecânica que é, de alguma forma, convertida em empuxo para mover o navio. Denomina-se instalação propulsora a este conjunto que gera o empuxo e ela é constituída de um propulsor (elemento que gera o empuxo), uma máquina principal (elemento de geração primária de energia) e um sistema de transmissão de potência entre eles. No entanto, uma instalação propulsora requer vários sub- sistemas para a sua operação e o próprio navio também demanda outros sub- sistemas para garantir habitabilidade, conforto e segurança para a tripulação e passageiros. Em geral, o sistema propulsor e os sub-sistemas, denominados de sistemas auxiliares, são instalados na região do navio denominado de praça de máquinas. Obviamente o sistema de propulsão é o mais importante na praça de máquinas, pois ele é o responsável pela movimentação do navio e demanda maior espaço e tem o maior peso. A rigor uma instalação propulsora também tem a finalidade de garantir a manobrabilidade do navio. Existem diversas alternativas de instalações propulsoras e, em princípio, cada uma delas demanda um determinado tipo de sistemas auxiliares para a sua operação. Historicamente, o primeiro tipo de “propulsor” utilizado foi o remo, movido por ser humano e, posteriormente, utilizou-se velas aproveitando a energia eólica. Estas alternativas de propulsão não serão tratadas no curso O objetivo deste módulo é apresentar os principais componentes de uma praça de máquinas, mostrando, quando for o caso, as diversas alternativas possíveis para um dado sistema. No caso da instalação propulsora serão apresentadas, inicialmente, as diversas possibilidades para a sua concepção e, posteriormente, será discutido com maior apuro, a instalação propulsora com hélice de passo fixo com motor diesel, que é o arranjo mais comum. Neste sentido, será apresentado o princípio de operação do hélice e a suas curvas Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 10 características, a sua interação com o casco e, finalmente, a integração casco- hélice-motor, que é efetuada para a seleção correta do propulsor e do motor. Para finalizar este módulo são apresentados os principais sistemas auxiliares de um navio comercial. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 11 2 INSTALAÇÕES PROPULSORAS Existem, atualmente, diversas alternativas para definir uma instalação propulsora, quer seja em termos do propulsor, quer seja em termos de motor principal ou do sistema de transmissão de potência. Os aspectos que influem para a escolha do tipo da instalação propulsora serão vistos posteriormente, mas aqui cabe ressaltar que a seleção deve ser efetuada de modo integrada, isto é, sem dissociar um elemento do outro. E, uma vez definido o tipo da instalação propulsora, a seleção dos seus componentes deve ser efetuada considerando a integração casco-hélice-motor. 2.1 TIPOS DE PROPULSORES Nesta seção são descritos os principais tipos de propulsores que são utilizados na engenharia naval. Vale dizer, desde já, que a grande maioria é baseada em hélices, mas, dependendo da condição de operação pode-se recorrer a um outro tipo conhecido como jato bomba. A escolha do tipo do propulsor depende do perfil de operação do navio. Se for mercante, em geral, o fator predominante é a eficiência durante a viagem do navio, enquanto que em rebocadores, por exemplo, o importante é o empuxo em velocidades baixas e a sua manobrabilidade. O calado de operação também afeta a escolha do propulsor, principalmente para embarcações que necessitam operar em águas restritas. O arranjo do sistema propulsor pode também diferir quanto ao número dos propulsores. Em geral os navios são monohélices, mas dependendo da potência requerida ou por questões de confiabilidade e/ou manobrabilidade pode-se adotar sistemas propulsores com mais de um eixo. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 12 2.1.1 Hélices O hélice é constituído, basicamente, de um bosso no qual é fixado um certo número de pás e, este conjunto, ao girar, gera o empuxo necessário para mover o navio. A pá pode ser entendida como um conjunto de fólios torcidos partindo do bosso. Na Fig. 2.1 é mostrada a geometria de um hélice de 3 pás com a identificação das suas principais partes: o diâmetro do hélice é o diâmetro do círculo concêntrico ao eixo que envolve o próprio hélice; bordas de ataque e de fuga são, respectivamente, as bordas onde a pá do hélice “corta” a água e por onde a água deixa a pá; a face da pá é a superfície vista de popa para a proa e é ela que “empurra” a água quando a embarcação avança para a frente sendo uma zona de alta pressão; o dorso é a face vista de proa para popa e é a face de baixa pressão. Uma outra variável geométrica do hélice que é importante é o seu passo. A geometria das pás corresponde ao desenvolvimento de uma superfície helicoidal e um dos seus parâmetros é o passo que é o deslocamento longitudinal obtido quando o hélice completa uma rotação em torno do seu eixo. A maneira mais simples de entender o passo do hélice é efetuar associação com o movimento da saca-rolha: o passo corresponde ao deslocamento linear do eixo longitudinal da saca-rolha quando este executa uma rotação completa em torno do seu eixo, conforme é mostrado na Fig. 2.2 A abordagem mais simples de compreender o funcionamento do hélice é considerar que uma seção de uma pá é um fólio sujeito ao escoamento de fluido incidindo com um determinado ângulo de ataque, conforme é mostrado na Fig. 2.3 . Este ângulo de ataque depende da velocidade angular do hélice e do raio da seção, e da velocidade do navio e das velocidades axial e tangencial de esteira. Na Fig. 2.3 não está sendo considerado o efeito de esteira. Com isto tem-se uma força de sustentação, que é perpendicular à direção do escoamento. A força de sustentação pode ser decomposta no sentido do eixo longitudinal e isto dá o empuxo do hélice. A outra parcela, perpendicular ao empuxo é responsável pelo torque. Integrando-se estas forças ao longo da área de cada pá e multiplicando pelo número de pás obtém-se o empuxo e o torque do hélice. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 13 Fig. 2.1. Exemplo de propulsor tipo hélice. fonte: www.manbw.com/article_004149.html Fig. 2.2. Passo de um saca-rolha. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 14 Fig. 2.3. Diagrama esquemático das velocidades e das forças em torno de uma seção do hélice. Existem, atualmente, diversos tipos de propulsores baseados no princípio do hélice que foram ou estão sendo desenvolvidos para aumentar o desempenho do propulsor. Os principais tipos são: Hélice de passo fixo O hélice de passo fixo é o propulsor mais empregado devido a sua simplicidade, custo de aquisição e de manutenção baixos em relação aos outros tipos. O bosso e as pás são fundidos em uma única peça e o material em geral é bronze, embora em algumas aplicações possam ser utilizados aço inox. Como o Centro do Eixo propulsor Sentido da rotação α sustentação Empuxo do propulsor Velocidade devido ao avanço do navio Velocidade devido a rotação do perfil Ângulo de ataque Velocidade de incidência Centro do Eixo propulsor Sentido da rotação Força de reação que se opõe ao torque aplicado α sustentação Empuxo do propulsor Velocidade de Velocidade devido a rotação do perfil Ângulo de ataque Velocidade devido ao avanço do navio Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 15 passo é fixo, o empuxo este tipo de hélice só pode ser alterado através da rotação e, conseqüentemente, ele não permite operar, em princípio, com a mesma eficiência em pontos diferentes de operação. Desta forma ela é indicada quando há um modo de operação predominante da embarcação como os navios comerciais que operam na maior parte da sua vida navegando na velocidade de cruzeiro. Na Fig. 2.4 é mostrado o esquema de propulsor de passo fixo. Convém observar que para este tipo de propulsor é necessário alterar o sentido da rotação do eixo se desejar reverter o sentido do empuxo do hélice. fonte: Watson (2002) Fig. 2.4. Esquema de um hélice de passo fixo. Hélice de passo controlável Hélice de passo controlável é um propulsor que permite ao operador alterar o passo das pás livremente e no momento que desejar. O empuxo desejado pode ser obtido alterando-se o passo e/ou a rotação do hélice sendo que o passo pode inclusive ser revertido para alterar o sentido do empuxo. Normalmente, o bosso deste tipo de hélice é maior do que o bosso do hélice de passo fixo, pois no seu interior são instalados mecanismos hidráulicos que permitem girar cada pá Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 16 individualmente para alcançar o passo desejado, independente da rotação do motor. Este tipo de hélice é utilizado quando: a) se deseja alta manobrabilidade; b) o motor principal não permite a reversão da rotação; c) há duas velocidades distintas de operação, por exemplo, velocidade de cruzeiro e máxima; d) quando se deseja empuxos diferentes porém otimizando a eficiência do motor, que opera adequadamente em uma única rotação. Um esquema deste tipo de propulsor é mostrado na Fig. 2.5. fonte: Watson (2002) Fig. 2.5. Esquema da hélice de passo controlável. Hélice em dutos O objetivo deste tipo de hélice é aumentar o empuxo total quando o hélice está bem carregado como no caso dos rebocadores ou quando navios pesqueiros arrastam a rede. O empuxo total é gerado, em parte pelo próprio hélice, e a outra parte pela sustentação gerada no duto. Na Fig. 2.6 é mostrado o esquema deste tipo de propulsor. O passo deste tipo de hélice pode ser fixo ou controlável. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 17 fonte: Watson (2002) Fig. 2.6. Esquema de um hélice em dutos. Hélice azimutal Neste tipo de sistema propulsor o hélice é montado em um eixo que pode girar 360o e o acionamento é efetuado através de uma transmissão em L, conforme é mostrado na Fig. 2.7. As pás podem ser controláveis ou não e pode ou não ter dutos. Este tipo de propulsor tem sido bastante empregado em rebocadores e em navios ou plataformas com sistema de posicionamento dinâmico. A grande diferença em relação aos outros tipos de propulsores é que ele pode ser instalado em qualquer lugar do navio. Por exemplo, ele pode ser instalado na região de proa do navio para auxiliar no posicionamento dinâmico do navio e pode, eventualmente, servir de propulsor principal no caso de falha da hélice principal. Este tipo de propulsor pode ser retrátil para não prejudicar a resistência ao avanço do navio durante a sua viagem normal. Uma das vantagens deste tipo de propulsor é que ele aumenta a manobrabilidade do navio e dispensa o leme. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 18 fonte: Watson (2002) fonte: www.rolls-royce.com a) esquema de um hélice azimutal b) Detalhes de um hélice azimutal Fig. 2.7. Esquema de um hélice azimutal. POD Este tipo de propulsor é similar ao azimutal, mas com a diferença de que um motor elétrico é colocado sob a água diretamente no eixo do propulsor e todo o conjunto pode girar tal como no azimutal. Este tipo de propulsor foi desenvolvido inicialmente para navios quebra-gelos e, posteriormente, começou a ser adotado por outros tipos de navios tal como de passageiros. Na Fig. 2.8 é mostrado um exemplo deste tipo de propulsor. O passo deste tipo de propulsor é em geral fixo e tem-se como vantagens a eliminação do leme e a melhora na manobrabilidade do navio. Comercialmente este tipo de propulsor é oferecido, pelo menos, pela ABB, com o nome de Azipod e pela Rolls-Royce com o nome de Mermaid. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 19 fonte: Gupta e Prasad Fig. 2.8. Esquema de hélice tipo pod. 2.1.2 Jato Bomba Este tipo de propulsor utiliza o princípio da variação da quantidade de movimento da água para gera empuxo para mover o navio. Neste sistema há um bomba que aumenta a pressão do fluido confinado em um duto e a sua saída é um bocal convergente que aumenta a velocidade de saída da água. Este tipo de propulsor tinha uma aplicação mais intensa em pequenas embarcações onde havia restrição de calado mas, atualmente, ele tem sido empregado também para embarcações maiores com alta velocidade. Na Fig. 2.9 é mostrado o esquema de um jato bomba com leme, embora exista sistema sem leme também. Neste caso o bocal tem liberdade de rotação em torno de um eixo vertical. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 20 fonte: Watson (2002) a) Esquema de um propulso jato-bomba com leme fonte:www.rolls-royce.com b) Propulsor tipo jato-bomba sem o leme Fig. 2.9. Esquema de uma propulsor tipo jato bomba. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 21 2.2 TIPOS DE MÁQUINA PRINCIPAL O primeiro tipo de máquina principal utilizado em navios foi uma máquina alternativa com pistão movido a vapor gerado a partir da queima de carvão. Isto se deu no século XIX e no início do século XX foram introduzidos ciclos a vapor já com turbinas, em vez de máquina alternativa, e com caldeiras consumindo óleo combustível, e motores Diesel. Desde então, até a década de 1960 ciclos a vapor eram utilizados em navios que requeriam grandes potências (em torno de 25 MW ou mais) e motor Diesel para potências menores. A partir da década de 1980 houve um grande desenvolvimento tecnológico dos motores Diesel e hoje são ofertados motores com potência da ordem de 80 MW. Além dos dois tipos de motores começaram a serem introduzidas, a partir da década de 1950, instalações nucleares e instalações com turbina a gás na propulsão naval. Atualmente, a grande maioria dos navios comerciais utilizam motores Diesel, devido ao menor consumo específico de combustível quando comparado com outros tipos de motores, e em menor grau emprega-se de turbina a gás. O ciclo a vapor com caldeira consumindo óleo combustível está em franco desuso e instalações nucleares são de aplicação específica em navios militares. Em vista disto, neste curso serão descritos somente as características dos motores Diesel e da turbina a gás, que tem as maiores aplicações comerciais. Descrições detalhadas de outros tipos de motores podem ser encontradas em Harrington (1992). 2.2.1 Motor Diesel O motor Diesel é um motor alternativo de combustão interna, isto é, o fluido de trabalho é o próprio gás de combustão. Para entender o seu princípio de funcionamento é apresentada a Fig. 2.10 que representa, como primeira aproximação, o diagrama da pressão x volume de um ciclo padrão a ar correspondente a um motor Diesel. Os processos que ocorrem neste ciclo são: a) processo 1-2: compressão isoentrópica do gás; b) processo 2-3 fornecimento de calor a pressão constante; Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 22 c) processo 3-4: expansão isoentrópica do gás; d) processo 4-1: resfriamento do gás a pressão constante. Convém observar que no ciclo termodinâmico, ao contrário do que acontece no ciclo real, o fluido de trabalho é imutável e pode-se provar que o trabalho líquido corresponde à área interna da figura definida pelos pontos 1-2-3-4. Na prática o ciclo termodinâmico mostrado na Fig. 2.10 é realizado através da movimentação linear de um pistão dentro de um cilindro que aciona um eixo de manivelas e os 4 processos descritos anteriormente podem ser realizados em 2 tempos (curso do pistão) ou em 4 tempos. (a) (b) Fig. 2.10. Diagrama pressão volume do ciclo Diesel a) diagrama de pressão x volume e b) diagrama temperatura x entropia. Motor Diesel de 4 tempos Na Fig. 2.11 é mostrado o diagrama esquemático de um motor de 4 tempos, que completa um ciclo termodinâmico em 4 deslocamentos do pistão ou duas rotações do eixo de manivela e as suas fases são: Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 23 a) Admissão do ar Ar externo é admitido através da válvula de admissão, instalado na parte superior do cilindro, quando o pistão se aproxima de seu ponto morto superior e começa a descer (Fig. 2.11.a). Isto, juntamente com o processo de descarga dos gases, corresponde ao processo 4-1 de resfriamento que é realizado com a introdução de ar a temperatura externa, b) .Compressão do ar Quando o pistão atinge o seu ponto morto inferior, a válvula de admissão é fechada e o pistão ao subir comprime o ar do interior do cilindro (Fig. 2.11.b). Isto corresponde ao processo 1-2 do ciclo termodinâmico; c) Combustão e expansão Quando o pistão se aproxima novamente de seu ponto morto superior o óleo combustível é injetado e ocorre combustão espontânea. Com isto tem-se o fornecimento de energia (energia química do combustível) que eleva a temperatura dos gases e estes ao expandirem realizam trabalho, isto é, deslocam o pistão e este vira o eixo de manivelas (Fig. 2.11.c). Esta fase corresponde às fases 2-3 e 3-4 do ciclo termodinâmico. d) Descarga dos gases da combustão Após o pistão atingir o seu ponto morto inferior, a válvula de descarga, instalada na parte superior do cilindro, é aberta e os gases são expulsos do cilindro, primeiramente devido à diferença entre a pressão interna e a externa e depois com o movimento ascendente do pistão (Fig. 2.11.d) e o ciclo volta ao seu ponto inicial (Fig. 2.11.a). Esta fase, juntamente com a admissão, completa o processo 4-1 do ciclo termodinâmico de resfriamento do fluido de trabalho. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 24 Comparando-se o ciclo termodinâmico, mostrado na Fig. 2.10 e o real nota- se que a combustão corresponde ao processo de fornecimento de calor e o conjunto dos processos de descarga dos gases e admissão do ar corresponde ao processo de rejeição de calor. Fig. 2.11. Esquema de operação de um motor de 4 tempos a) admissão do ar; b) compressão do ar; c)combustão e expansão e d) descarga dos gases. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 25 Na Fig. 2.12 estão mostrados os cortes de motores de 4 tempos, sendo um com cilindros em linha e o outro com cilindros em V. Conforme será visto adiante ciclos com 4 tempos são utilizados em motores de média e alta rotação. (a) (b) Fig. 2.12. Corte Transversal de motores de 4 tempos (a) motor com cilindros em linha; (b) motor com cilindros em V. Motor Diesel de 2 tempos Na Fig. 2.13 é mostrado o diagrama esquemático de um motor Diesel de 2 tempos que completa um ciclo termodinâmico em 2 cursos do pistão ou uma rotação do eixo de manivela. Convém ressaltar que neste tipo de motor não há Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 26 válvulas de admissão e sim janelas (orifícios) na superfície lateral do cilindro para a entrada do ar e elas são abertas ou fechadas pelo deslocamento do próprio pistão. Já a descarga dos gases, modernamente, é efetuada através de válvula posicionada no cabeçote do cilindro. Nos modelos mais antigos podem ser encontrados motores com a descarga efetuada através de janelas que eram, também, abertas ou fechadas pelo deslocamento do pistão, mas esta solução foi abandonada devido a deficiência na troca de ar. As fases do ciclo são: a) Compressão A compressão do ar se inicia quando o pistão fecha as janelas de entrada do ar, como indicado na Fig. 2.13a e termina quando o pistão atinge o ponto morto superior como mostrado na Fig. 2.13b. Esta fase corresponde ao processo 1-2 do ciclo termodinâmico. b) Combustão Quando o pistão se aproxima do seu ponto morto superior, tal como mostrado na Fig. 2.13c, o combustível é injetado e ocorre a combustão espontânea. Com isto tem-se o fornecimento de energia (energia química do combustível) que eleva a temperatura dos gases. Esta fase corresponde ao processo 2-3 do ciclo termodinâmico. c) Expansão Com a elevação da temperatura devido à combustão os gases expandem realizando trabalho sobre o pistão e este vira o eixo de manivelas, tal como mostrado na Fig. 2.13d. Esta fase corresponde ao processo 3-4 do ciclo termodinâmico. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 27 d) Descarga e Admissão do ar Quando o pistão se aproxima do seu ponto morto superior a válvula de descarga dos gases e as janelas de entrada de ar são abertas, tal como mostrado na Fig. 2.13e e com isto tem-se a renovação do ar. Esta fase equivale ao processo 4-1 de rejeição de calor do ciclo termodinâmico Fig. 2.13. Esquema de um motor Diesel de 2 tempos a) início da compressão; b) final da compressão; c) combustão; d) expansão; e) descarga dos gases e admissão de ar. Na Fig. 2.14 é mostrado o corte transversal de um motor de 2 tempos. Este tipo de ciclo é usado em motores de baixa rotação e potências elevadas Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 28 Fig. 2.14 Corte de um motor de 2 tempos. Atualmente, todos os motores diesel marítimo de 2 tempos utilizam o turbo- compressor para comprimir o ar de admissão. Neste componente o compressor é acionado pela turbina a gás que aproveita os gases de descarga do motor Diesel. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 29 Obviamente o turbo compressor também pode ser acoplado com motor de 4 tempos. Comparação entre os motores de 2 e de 4 tempos A principal diferença entre os dois tipos de motores é a potência desenvolvida. O motor de 2 tempos pode, em princípio, desenvolver o dobro da potência do motor de 4 tempos para uma mesma rotação e mesmas dimensões. Na prática, como há perdas no processo de renovação do ar esta relação é em torno de 1,8. Também o motor de 2 tempos não exige a instalação de mecanismos de acionamento das válvulas de admissão do ar como no caso dos motores de 4 tempos. A válvula de descarga nos motores de 4 tempos pode existir ou não. O ciclo do motor, ou seja, 2 ou quatro tempos dos motores define a faixa de potência e de rotação em que podem ser divididos: a) baixa rotação (de 60 a 150 rpm) Este tipo de motor é a mais utilizado em navios mercantes e a sua faixa de potência, no presente momento, é de 2500 kW a 82000 kW. Este tipo de motor, é de 2 tempos e como a sua rotação é baixa o motor tende a ser grande e pesado. Na Fig. 2.15 é mostrado o maior motor construído até o presente momento cuja potência é 81700 KW a 102 rpm. Um das vantagens dos motores Diesel de baixa rotação é que ele consome óleo com alta viscosidade denominada de bunker C que tem o menor preço no mercado. São, ainda, os motores que apresentam o menor consumo específico de combustível. Este tipo de motor permite a reversão da rotação. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 30 fonte:http//bath.ac.uk/ccsshb/12cyl/ Fig. 2.15 Exemplo de um motor Diesel de baixa rotação. b) média rotação (de 450 a 800 rpm) Este tipo de motor pode ser conectado diretamente ao hélice em embarcações de pequeno porte. Já nas embarcações maiores normalmente utiliza-se um redutor. Este tipo de motor também pode ser empregado nos sistemas diesel-elétrico e são normalmente empregados na geração de energia elétrica nos navios. O motor deste tipo com maior potência é de 23450 kW. Este tipo de motor também pode consumir óleo bunker C, porém requer cuidados especiais de manutenção, isto é, a intervalos mais curtos. Quanto à reversão do sentido da rotação existem motores que permitem e outros não. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 31 c) alta rotação (de 1000 a 3000 rpm) Motores de alta rotação em navios comerciais são utilizados em embarcações pequenas e nos navios com instalação diesel-elétrica. Já nas embarcações militares, onde se exige alta potência em um espaço reduzido, é normal a sua utilização. A potencia máxima deste tipo de motor que pode ser encontrada atualmente é de 7400 kW. Na Fig. 2.16 é mostrado um exemplo deste tipo de motor. Uma desvantagem deste tipo de motor é que ele consome somente óleo diesel, com menor viscosidade, e com preço bem maior do que o bunker C. São ofertados no mercado motores que permitem e que não permitem a reversão da rotação. fonte: www.mtu-online.com/ Fig. 2.16. Exemplo de um motor de alta rotação. 2.2.2 Turbina a Gás O princípio de operação da turbina a gás é baseado no ciclo de Brayton cujo diagrama de pressão em função do volume é mostrado na Fig. 2.17. Os processos deste ciclo são: Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 32 a) processo 1-2: compressão isoentrópica b) processo 2-3: fornecimento de calor a pressão constante c) processo 3-4: expansão isoentrópica do fluido d) processo 4-1 resfriamento do fluido do trabalho a pressão constante a b Fig. 2.17. Processo de um ciclo de Brayton a) diagrama pressão x volume específico; b) diagrama temperatura x entropia. Este ciclo é realizado por um compressor, geralmente axial, um queimador e uma turbina propriamente dito com o arranjo indicado na Fig. 2.18. O compressor realiza o processo 1-2, o queimador o processo 2-3 e a turbina o processo 3-4 onde se obtém a potência desejada. Convém ressaltar que o processo de expansão 3-4 é efetuado em duas etapas, pois há uma turbina específica para mover o compressor e uma outra, denominada turbina de potência, para acionar a carga. Este tipo de turbina é denominada de 2 eixos e a rotação da turbina de potência é da ordem de 3600 rpm. Portanto, ao se utilizar a turbina a gás é necessário utilizar uma engrenagem redutora. Na Fig. 2.19 é mostrado o corte de uma turbina a gás de 2 eixos.. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 33 Fig. 2.18. Diagrama esquemático de uma turbina a gás. Fig. 2.19. Corte de uma turbina a gás de dois eixos. A principal vantagem da turbina a gás é a sua relação potência/peso e potência/volume, sendo que a sua principal desvantagem é o excessivo consumo de combustível quando comparado com motores diesel de baixa rotação. Desta forma a sua aplicação em navios comerciais é restrita e ela só se torna viável economicamente se for combinado com um ciclo a vapor. No entanto, este tipo de máquina é extremamente interessante em embarcações militares onde, Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 34 normalmente, se exige alta potência com espaço reduzido para a praça de máquinas. Mas, em geral, neste tipo de embarcações existem duas velocidades de operação e o desempenho da turbina a gás em cargas parciais é ruim. Desta forma a turbina a gás é utilizada em instalações combinadas. A turbina a gás não permite a reversão da rotação obrigando com isto a utilização de hélice de passo controlável. 2.3 TRANSMISSÃO DE POTÊNCIA Até o presente momento foram vistos os tipos de propulsores e os tipos de máquinas principais. Resta agora examinar os meios disponíveis para transmitir a potência do motor para o propulsor. Ressalte-se também que estes componentes também transmitem o empuxo produzido pelo hélice para o casco do navio. Os meios mais comuns de transmissão de potência são: a) Conexão direta Neste caso a potência do motor é transmitida diretamente ao propulsor através de um eixo e é o meio mais comum desde que não haja necessidade de redução da rotação. O eixo pode ser sólido ou vazado. Se for utilizada hélice de passo controlável é obrigatória a utilização de um eixo vazado. Na Fig. 2.20 é mostrado o esquema de uma conexão direta que é um eixo apoiado em vários mancais. O trecho de eixo entre a saída do motor e a entrada na antepara estanque a ré recebe o nome de eixo intermediário, e o trecho ente a antepara e o hélice de eixo do tubo telescópico. O empuxo neste caso é transmitido ao casco do navio através de um mancal de escora que está acoplado no eixo de saída do motor Diesel. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 35 Fig. 2.20. Esquema de uma conexão direta. b) Conexão com engrenagem redutora A engrenagem redutora é utilizada quando se utilizam motores Diesel de média ou alta rotação ou ainda turbina a gás e turbina a vapor. Algumas engrenagens permitem a reversão da rotação o que pode evitar a utilização de hélice de passo controlável. Convém lembrar que ela é também utilizada em instalações combinadas para que dois ou mais motores acionem um único eixo. c) Transmissão elétrica Quando se utiliza propulsão elétrica a(s) máquina(s) principal (is), que podem ser motores Diesel ou turbina a gás, acionam um conjunto de geradores elétricos que suprem toda a energia elétrica requerida pelo navio. Os hélices são acionados por motores elétricos que podem ser de corrente contínua (CC) ou corrente alternada (CA). Desta forma a energia é transmitida através de cabos elétricos o que confere uma alta flexibilidade de arranjo quando se utiliza este tipo de transmissão. Os motores CC são Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 36 mais pesados do que CA, mas o controle da sua rotação é mais simples. No entanto, atualmente, devido ao desenvolvimento da eletrônica de potência, a rotação dos motores CA pode ser controlada facilmente e por isto eles são os que tem tido preferência. A propulsão elétrica é recomendada quando: a) há uma demanda grande de energia elétrica que não seja para a propulsão como no caso de navios de passageiros; b) há inúmeros propulsores distribuídos ao longo do navio que demandam potências elevadas como é o caso de navios com Sistema de Posicionamento Dinâmico. c) utiliza-se propulsores tipo pod que necessariamente requerem energia elétrica. d) Há necessidade de torque alto ou resposta rápida da rotação do hélice. 2.4 TIPOS DE INSTALAÇÃO PROPULSORA A escolha do tipo da instalação propulsora baseia-se na análise dos seguintes fatores: 1. Potência requerida A potência requerida induz o tipo da instalação propulsora na medida em que define o tipo máquina principal. Por exemplo, se a potência por eixo for menor que 2000 kW a solução recai no motor Diesel de média ou alta rotação induzindo com isto ou o emprego de engrenagem redutora e hélice de passo variável ou uma caixa redutora/reversora com hélice de passo fixo. Se a potência requerida for acima de 90 MW, por exemplo, não há motor, atualmente, seja Diesel ou turbina a gás, que atenda a esta potência com uma única unidade. Uma solução para isto é um sistema de propulsão com 2 eixos. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 37 2. Peso O peso não é grande problema para a maioria dos navios mercantes embora para embarcações como ferry e outras embarcações rápidas, mormente militares, ele tenha importância grande. Neste caso a solução seria a utilização de motores Diesel de média ou alta rotação ou ainda turbina a gás. 3. Espaço Em geral, o espaço também não é o problema principal na maioria dos navios mercantes, mas obviamente é interessante que ele seja o menor possível, pois isto significa maior volume para o transporte de mercadoria. Atenção especial deve ser dada em navios que necessitam de convés corrido como roll on-roll off. Já na área militar há uma grande esforço no sentido de reduzir o espaço ocupado pelo sistema propulsor pois as embarcações são menores e exigem potência elevada. 4. Custo inicial e custo de operação Obviamente como todo projeto de engenharia, a escolha do sistema propulsor deve ser baseada em uma análise criteriosa do custo inicial e do custo de operação para se chegar na melhor solução sob o ponto de vista econômico. O principal item do custo de operação é a conta do óleo combustível e isto tem deslocado preferência pelo motor Diesel de baixa rotação; 5. Demanda de energia elétrica e de aquecimento O normal em navios mercantes é ter um sistema de geração de energia elétrica baseado em um conjunto de Diesel geradores e o vapor é gerado utilizando-se os gases de exaustão dos motores. Se a demanda de energia elétrica for elevada como no caso de navios de passageiros, torna-se interessante a escolha do sistema propulsão elétrico. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 38 6. Confiabilidade e manutenabilidade Confiabilidade é um fator importante na maioria dos navios, mas sua importância aumenta em embarcações cuja falha pode atingir conseqüências sérias tal como em navios de passageiros ou navios petroleiros. Por exemplo, navios aliviadores que operam no Mar do Norte são obrigados a terem 2 eixos com praça de máquinas independentes. Também a facilidade de manutenção é um fator importante na escolha do sistema propulsor. 7. Requisito do navio para manobrabilidade e/ou operação em baixa velocidade Os requisitos de manobrabilidade e/ou operação da embarcação em baixa velocidade ditam o tipo do sistema propulsor. Por exemplo, atualmente há uma grande tendência em utilizar pod em navios de passageiros devido, entre outros motivos, ao aumento da manobrabilidade que este sistema proporciona. No caso de navios aliviadores muitos deles são dotados de sistemas de posicionamento dinâmico que são utilizados durante a operação de carregamento do petróleo em alto mar. Se o propulsor principal é usado para efetuar o posicionamento é compulsório que este seja hélice de passo variável. A importância de cada um destes fatores varia de um tipo de navio para outro e há que se ter sensibilidade para dar o peso relativo para cada um deles em função da embarcação a ser projetada. A seguir são listados os tipos de instalação propulsora mais comuns encontrados na propulsão marítima: a) hélice de passo fixo, eixo propulsor e motor diesel de baixa rotação É, sem dúvida, o sistema propulsor mais comum encontrado atualmente. b) Hélice de passo controlável, eixo vazado e motor diesel de baixa rotação Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 39 Esta instalação é também comum, e podem ser encontrados em navios mercantes e de passageiros. c) Hélice de passo fixo, motor elétrico (CC ou CA) e geração diesel elétrico; Este tipo de sistema propulsor é normalmente empregado em navios quebra-gelos. d) Hélice azimutal com acionamento por motor diesel ou motor elétrico Este sistema é muito empregado em rebocadores e) Hélice tipo POD com geração de energia elétrica a partir de motor Diesel e/ou turbina a gás. Este sistema está sendo muito utilizado em navios de passageiros. f) Hélice de passo variável, eixo vazado e sistema de máquina combinado que pode ser dos seguintes tipos: - CODAD (Combination Diesel And Diesel) Neste caso dois motores Diesel são acoplados a uma engrenagem redutora e o acionamento pode ser realizado por um ou dois motores concomitantemente; - CODAG (Combination Diesel And Gás Turbine) Neste caso o motor Diesel e Turbina a Gás são acoplados a uma mesma engrenagem redutora e cada um deles pode operar individualmente ou concomitantemente. São normalmente utilizados em navios militares mas modernamente este sistema tem sido Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 40 utilizado para a geração de energia elétrica em navios de passageiros. - COGAG (Combination Gás Turbine And Gás Turbine) Nesta combinação, duas turbinas são acopladas a uma engrenagem redutora e elas podem operar individualmente ou concomitantemente. A grande aplicação para este tipo de sistemas é para navios militares. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 41 3 HÉLICE Conforme dito anteriormente, a geometria da pá do hélice é baseada em uma superfície helicoidal e ela é construída de tal maneira que todos os pontos tenham o mesmo ângulo de ataque do fluido e para isto, varia-se, em princípio, o ângulo de passo em função do raio. O resultado é o desenvolvimento de uma superfície complexa cuja explicação matemática não é o escopo deste curso. No entanto serão apresentados os principais parâmetros geométricos que afetam o desempenho do hélice e que devem ser considerados na sua seleção. Além disso, será mostrado exemplo de como os dados do hélice são apresentados para a sua utilização na engenharia naval. 3.1 GEOMETRIA DO HÉLICE As principais características geométricas de um hélice são: a) Diâmetro É o diâmetro do círculo que envolve o hélice. É a definição geométrica mais importante do propulsor e deve-se tentar projetar o hélice com o maior diâmetro possível, respeitando os limites da popa, para tentar obter a maior eficiência possível. b) Passo O passo do hélice é o deslocamento linear do propulsor após uma revolução em torno do seu eixo. (ver Fig. 2.2). Como o passo não é necessariamente igual para todos os raios e para haver uniformidade na caracterização do passo entre os diversos fabricantes, convenciona-se adotar o passo do hélice (P) medido a 70% do raio do hélice e, geralmente, este valor é dividido pelo diâmetro do próprio hélice (D), definindo-se assim Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 42 a razão passo diâmetro P/D. O intervalo do valor da razão passo diâmetro é, normalmente, entre 0,5 e 2,5. c) Número de pás A maioria dos hélices possuem entre 2 a 7 pás. Este número depende, dentre os fatores, do empuxo requerido, do diâmetro permissível e do nível de vibração. d) Área do disco do hélice É a área do círculo cujo diâmetro é o do hélice. O símbolo a ser adota para esta área será . 0A e) Área expandida É a soma da área expandida de cada pá do hélice. O símbolo a ser adotado para esta área será EA f) razão de áreas Muitas vezes se utiliza a razão das duas áreas, isto é, 0A AE para caracterizar o hélice. 3.2 CURVAS CARACTERÍSTICAS DO HÉLICE Até o presente momento não há uma teoria que representa adequadamente o desempenho do hélice em função de todos os parâmetros que caracterizam a sua geometria. Desta forma procura-se predizer o desempenho do propulsor através de ensaios em laboratórios. Nestes ensaios são medidos o empuxo, o torque e a rotação, com a incidência da água com determinadas velocidades, porém sem a presença do casco e, por isto, são chamadas de ensaios de água Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 43 aberta. A velocidade de incidência da água no propulsor é denominada de velocidade de avanço porque, muitas vezes, o ensaio é realizado “correndo-se” o propulsor em um tanque de provas. Para auxiliar o projeto do hélice, ao menos na sua fase inicial, e prever o seu desempenho, são utilizados diagramas de “séries sistemáticas” que são obtidas através de ensaios para determinadas famílias de propulsores que tem semelhança geométrica. Exemplos destas séries são: - Série B de Troost - Série de Gawn - Série de Schoenherr - Série AU e MAU Neste texto será dada ênfase, como exemplo, a série B de Troost. Nesta série foram ensaiadas cerca de 120 propulsores variando-se o número de pás, a razão de área expandida/área do disco e a razão passo/diâmetro. Na Tab.3.1 são mostrados o número de pás e a razão de área considerados durante os ensaios (Lewis, 1988). A razão passo diâmetro foi variada de 0,5 a 1,4. Nº de pás Razão 0A AE 2 0,30 3 0,35 0,50 0,65 0,80 4 0,40 0,55 0,70 0,85 1,00 5 0,45 0,60 0,75 1,05 6 0,50 0,65 0,80 7 0,55 0,70 0,85 Tab. 3.1. Tabela dos hélices da série B ensaiados em Wageningen. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 44 O desempenho de cada propulsor, definido pelo número de pás, razão de área e razão passo/diâmetro é geralmente mostrado em gráficos através dos seguintes parâmetros admensionais: )/,( DPJKK TT = Eq. 3.1 )/,( DPJKK QQ = Eq. 3.2 )/,(00 DPJηη = Eq. 3.3 onde: 42 DN T K H H T ρ= é o coeficiente de empuxo 520 0 DN Q K H H Q ρ= é o coeficiente de torque DN V J H A= é o coeficiente de avanço Q T HH AH D T H K KJ QN VT P P ππη 22 00 0 === é a eficiência do hélice em água aberta ; HT é o empuxo do hélice; (N) HQ é o torque do hélice em água aberta; (Nm) HN é a rotação do hélice; (rps) AV é a velocidade de avanço; (m/s) ρ é a densidade da água; (kg/m3) TP é a potência entregue pelo hélice; 0D P é a potência absolvida pelo hélice em água aberta Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 45 Na Fig. 3.1 é mostrado, como exemplo, a curva característica para um hélice de 4 pás e razão de área 0,55. Nesta figura vale destacar os seguintes pontos: a) a curva de TK para 0=J representa o ponto de empuxo máximo (“bollard pull) que é importante no caso de rebocadores; b) para cada passo a curva de TK se anula para um determinado J . Isto ocorre porque a velocidade de avanço aumenta demasiadamente e o ângulo de ataque é tal que a água atinge o hélice pelo seu dorso. c) para cada razão passo/diâmetro há um valor de J para qual a eficiência é máxima; no entanto, não se recomenda projetar o hélice exatamente no ponto de sua eficiência máxima pois a derivada da curva após o ponto de máximo é muito acentuada e qualquer mudança no regime de operação poderá afetar significativamente o desempenho do sistema propulsor. Desta forma procura-se projetar em um ponto onde a curva é ascendente e um pouco abaixo do ponto de eficiência máxima. O ponto exato é obtido através da integração casco-hélice, conforme é mostrado no Capítulo 5. Fig. 3.1. Curva típica dos coeficientes de empuxo e de torque, e de eficiência de um propulsor em água aberta. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 46 3.3 CAVITAÇÃO Um fenômeno que as curvas de desempenho mostradas, por exemplo, na Fig. 3.1 não levam em consideração é a cavitação que pode ocorrer no dorso do pá, conforme é indicado na Fig. 3.2. A cavitação é a formação de bolhas de vapor que ocorre quando a pressão da água atinge a pressão de saturação correspondente à temperatura do fluido em torno do hélice. Este fenômeno é indesejável, pois além de provocar a erosão da pá, diminui a eficiência do propulsor, e provoca ruídos e vibrações. Na fase de projeto do sistema propulsor, seleciona-se um determinado hélice e verifica-se se este cavita ou não na condição nominal de operação e se cavitar, parte-se para a seleção de um outro propulsor. No apêndice A é explicado em detalhes este fenômeno bem como é apresentado o critério proposto por Burril para prever a cavitação. Fig. 3.2. Cavitação do dorso do hélice. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 47 4 INTERAÇÃO CASCO-PROPULSOR Até o presente momento foram mostrados, independentemente, o conceito de resistência ao avanço e as curvas de desempenho do propulsor. No entanto, quando se instala o hélice na popa do navio, deve-se considerar os fenômenos de interação entre eles que afetam a resistência ao avanço como a velocidade de avanço do hélice. Estas interações são levadas em conta através do coeficiente de esteira e o coeficiente de redução da força propulsora. Assim, dois fenômenos devem ser considerados ao se desejar integrar o desempenho do propulsor e do casco: o efeito da esteira provocado pelo casco sobre o propulsor e o efeito do aumento da resistência ao avanço provocado pelo propulsor. Coeficiente de esteira Quando o navio se movimenta na água forma-se camada limite ao longo do seu casco e devido ao seu formato há, em algum ponto da popa, um descolamento desta camada limite gerando uma esteira. Pode-se admitir que esta esteira tem uma velocidade média , no mesmo sentido da velocidade V do navio. Conseqüentemente a velocidade com que a água encontra do disco do hélice é: eV eA VVV −= Ou seja, a velocidade de avanço que deve ser considerado no cálculo do desempenho do hélice não é a velocidade do navio e sim uma menor. Para levar em conta o efeito da esteira é utilizado o conceito de coeficiente de esteira, sugerido por Taylor, e é definido como: V VV V V w Ae −== Eq. 4.1 Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 48 A partir da Eq. 4.1 obtém-se: Eq. 4.2 )1( wVVA −= Em relação ao coeficiente de esteira valem as seguintes observações: a) Ele depende do formato do casco, e da posição do hélice; desta forma o casco deve ser bem carenado para que a esteira seja o menor possível na região do propulsor ; b) Ele depende da razão entre o diâmetro do propulsor e comprimento entre perpendiculares do navio. Quanto maior esta razão menor é o coeficiente de esteira; c) O coeficiente de esteira aumenta com a rugosidade do casco; d) Para navios monohélices o coeficiente de esteira varia entre 0,20 e 0,45. Quanto maior o coeficiente de bloco do navio maior é o coeficiente de esteira. Coeficiente de redução da força propulsora A ação do propulsor na popa do navio tende a aumentar a velocidade média do fluido em seu redor diminuindo, conseqüentemente, a pressão a ré do navio. Com isto tem-se um aumento na resistência ao avanço R , obtida considerando-se somente o casco, obrigando o propulsor a desenvolver um empuxo maior do que HT R para manter a velocidade desejada do navio. Este efeito é levado em conta através do coeficiente de redução do empuxo definida como: H H T RT t −= Eq. 4.3 A partir da Eq. 4.3 tem-se: Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 49 t RTH −= 1 Eq. 4.4 Ou seja, o fenômeno deve ser entendido como aumento da resistência e, desta forma, o nome coeficiente de redução da força propulsora não é adequado. Segue abaixo algumas observações em relação a este coeficiente: a) A forma do casco tem influência no valor de t; b) em geral o valor de t aumenta quando w aumenta; c) para navios monohélices o valor de t varia entre 0,12 e 0,30; O valor deste coeficiente aumenta com o coeficiente de bloco do navio; 4.1 DEFINIÇÃO DAS EFICIÊNCIAS Um dos objetivos do estudo da interação casco-hélice é a determinação da potência do motor principal para mover o navio na velocidade deseja. Para isto é útil a utilização da noção de eficiência que pode ser definida, convenientemente, para facilitar, não só a compreensão dos pontos onde há maior perda, mas também o cálculo da razão entre a potência requerida pelo navio e a potência a ser instalada. As principais eficiências adotadas na engenharia naval são: a) eficiência rotativa relativa do hélice A eficiência em água aberta do hélice obtida em ensaios com modelos foi definida pela equação Eq. 3.3 como sendo: 00 20 HH AH D T QN VT P P πη == Eq. 4.5 No entanto, um hélice em escala real, devido a não uniformidade do escoamento absorve um torque diferente para uma determinada velocidade Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 50 de avanço ( ), empuxo ( ) e rotação ( ). Com isto a potência efetivamente absorvida pelo hélice e a sua eficiência são dadas por: AV HT HN HHD NQP π2= Eq. 4.6 HH AH D T H NQ VT P P πη 2== Eq. 4.7 Define-se como eficiência rotativa relativa a razão entre as eficiências em água aberta e na popa do navio, isto é: H H H H R Q Q 0 0 ==η ηη Eq. 4.8 A Eq. 4.8 é obtida considerando-se as equações x. 8 e x.10. Para navios monohélices este valor varia entre 0,95 e 1,0 (Lewis, 1988) A partir da Eq. 4.8 pode-se concluir que a eficiência do propulsor na popa do navio é dada por: RHH ηηη 0= Eq. 4.9 b) eficiência do casco A eficiência do casco é definida como sendo a razão entre a potência necessária para mover o navio com a velocidade V vencendo uma resistência R e a potência desenvolvida pelo hélice, isto é: AT E C VT VR P P ==η Eq. 4.10 onde é a potência efetiva. EP Substituindo as Eq. 4.2 e Eq. 4.4 na Eq. 4.10 obtém-se: Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 51 w t C − −= 1 1η Eq. 4.11 c) eficiência propulsiva A eficiência propulsiva é a relação entre a potência efetiva e a potência absorvida pelo hélice, isto é: D T T E D E P P P P P P P ==η Eq. 4.12 Considerando-se as Eq. 4.7 a Eq. 4.11 tem-se que Pη pode ser dada por: RHCP ηηηη 0= Eq. 4.13 As três eficiências acima consideradas estão diretamente relacionadas com a interação casco-hélice. No entanto, o objetivo final é relacionar a potência necessária do motor principal com a potência requerida pelo casco para manter uma determinada velocidade do navio. Para isto define-se, adicionalmente, as seguintes eficiências: d) eficiência de transmissão Esta eficiência relaciona a potência entregue ao hélice ( ) com a potência do motor principal e é definida como: DP M D S P P=η Eq. 4.14 onde é a potência do motor. MP Obviamente esta eficiência depende do tipo do sistema de transmissão de potência e também das características particulares de instalação como o número de mancais, por exemplo. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 52 e) Eficiência total Esta eficiência relaciona a potência efetiva requerida pelo navio com a potência do motor, isto é: M D D E M E T P P P P P P ==η Eq. 4.15 Substituindo as Eq. 4.12 a Eq. 4.14 em Eq. 4.15 obtém-se sRHCT ηηηηη 0= Eq. 4.16 Sob o ponto de vista é interessante ter-se a ordem de grandeza deste número cuja magnitude é determinada pela eficiência do hélice; Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 53 5 INTEGRAÇÃO CASCO-HÉLICE-MOTOR Durante a fase de projeto do navio, uma vez selecionado o arranjo da instalação propulsora , há que se especificar os seus componentes. Ou seja, dado um casco caracterizado pela sua curva de resistência ao avanço, selecionar o melhor conjunto propulsor-motor. A este exercício é dado o nome de integração casco-hélice motor. Neste curso será considerado, como exemplo, uma instalação propulsora composta de um hélice de passo fixo e motor Diesel de baixa rotação com conexão direta, que é o caso mais comum entre os navios cargueiros. O esquema desta instalação está mostrado na Fig. 5.1 Fig. 5.1. Esquema de uma instalação propulsora com hélice de passo fio, eixo e motor Diesel. Para resolver este problema, basicamente, incorpora-se à integração casco-hélice já apresentada a característica do motor. No entanto, Infelizmente a solução para este problema não é imediata sob o ponto de vista matemático, pois não há uma solução analítica. Desta forma, adota-se procedimentos alternativos Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 54 que são baseados ou no método gráfico ou numérico e seleciona-se o que melhor atender a um determinado fator de mérito,que pode ser, por exemplo, a eficiência total. Alguns destes métodos podem ser encontrados em Gerr (1989) e Tornblad (1987) Neste curso será apresentado um destes procedimentos baseando-se no fato de que a velocidade do navio é a de projeto, o diâmetro do hélice já está definido, a partir da configuração da popa, bem como são conhecidos ou estimados os valores do coeficiente de esteira ( ), o coeficiente de redução da força propulsora (t), a eficiência rotativa relativa ( w Rη ), a eficiência de transmissão ( Sη ) e a curva de resistência ao avanço de casco nu [ ]. Também será admitida que é conhecida a faixa de potência e rotação requerido para o motor principal. A finalidade do procedimento, então é definir o hélice em termos de número de pás, razão )(0 VR 0A AE , razão D P , a rotação do hélice, verificar a cavitação do hélice e selecionar o motor principal. O procedimento se baseia em igualar o empuxo do hélice com a resistência ao avanço (considerando-se o coeficiente de redução de empuxo), e a potência absorvida pelo hélice com a potência gerada pelo motor descontando-se as perdas de transmissão. Estas idéias podem ser formalizadas matematicamente mas antes disto convém destacar alguns aspectos dos modelos do casco, do hélice e do motor Diesel. Curva de resistência ao avanço Para a escolha do propulsor e do motor é normal acrescentar na resistência de avanço obtida para casco nu um fator adicional para considerar a variação na rugosidade do casco e o estado do mar. Normalmente acrescenta-se de 8 a 11% devido ao acréscimo na rugosidade do casco e de 7 a 14% devido ao estado de mar. Desta forma a resistênciaR considerado no projeto é: Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 55 )1)(()( 0 α+= VRVR onde 25,015,0 ≤≤ α Eq. 5.1 Curvas características do propulsor Será admitido que são conhecidas as curvas do coeficiente de empuxo e de toque de alguma série de propulsor que de uma maneira geral podem ser escritas como: ),,/,( 0 pás E TT nA ADPJKK = Eq. 5.2 ),,/,( 0 pás E QQ nA ADPJKK = Eq. 5.3 ),,/,( 00 pás E QH nA ADPJK=η Eq. 5.4 O empuxo e o torque do hélice podem ser formalmente expressos como: 42 00 ),,/,(),,,,,( DNnA ADPJKnA ADPNVTT HpasETpásEHHH ρ== Eq. 5.5 52 00 00 ),,/,(),,,,,( DNnA ADPJKnA ADPNVQQ HpasEQpásEHHH ρ== Eq. 5.6 Curvas de desempenho dos motores Diesel de baixa rotação Para ajudar a seleção dos motores os fabricantes fornecem dois tipos de dados: a primeira se refere à sua família de produtos, isto é, dados gerais de faixa de rotação e faixa de potência de uma dada série e, dentro de uma determinada série a potência dos motores em função do número de cilindros. Na Fig. 5.2 é mostrado um exemplo típico de uma família de motores de baixa rotação do fabricante MAN-B&W. Nesta figura são mostradas 29 séries e, para cada série, o fabricante fornece o respectivo intervalo de rotação e de potência. Ressalte-se que uma mesma potência pode ser obtida por várias séries de motores, embora, eventualmente, com o intervalo de rotação diferente. Se o usuário já possuir a potência e a rotação desejada os dados da Fig. 5.2 já permitem efetuar uma Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 56 primeira seleção dos motores. Para uma dada série, o intervalo de potência é coberto variando-se o número de cilindros, e para caracterizar melhor o desempenho de um motor específico, são fornecidas potências que definem a área recomendada para a determinação do ponto de operação do motor (“Layout Diagram”), cujo esquema é mostrado na Fig. 5.3. Neste diagrama, a rotação é definida no intervalo 12 NNN M ≤≤ e elas estão indicadas na Fig. 5.2 e as potências que definem a área de operação são definidos por L1, L2, L3 e L4 cujos valores dependem do motor específico. A potência L1 é a potência máxima contínua de projeto do motor, mas qualquer ponto no interior do quadrilátero pode ser utilizado para definir a potência máxima contínua de contrato. Na Fig. 5.4 são mostrados dados da série K108ME-C que mostram as potências L1, L2, L3 e L4 para cada número de cilindros e também fornece dados sobre consumo de óleo combustível, óleo lubrificante e as dimensões e o peso de cada motor. Fig. 5.2. Exemplo típico de uma família de curvas. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 57 Fig. 5.3. ”Layout Diagram” do motor Diesel. Fig. 5.4. Dados específicos de uma série de motores. Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 58 Obviamente foi apresentada a estrutura de dados de um determinado fabricante de motores. No entanto os dados de outros fabricantes são semelhantes. Equações da integração As equações utilizadas para efetuar a integração casco-hélice-motor são: a) equalização da força do propulsor com a resistência ao avanço t VRnA ADPNVT pásEHH −= 1 )(),,,,,( 0 Eq. 5.7 b) equalização da potência requerida com a potência fornecida pelo motor ),( ),.,,,(2 00 MtipoM R pas E HH S H NMP nA ADPNVQN =ηη π Eq. 5.8 onde , e são, respectivamente, a potência, a rotação e o tipo de motor, definido por uma série e número de cilindros. MP MN tipoM No caso em questão, como a conexão é direta, sem a engrenagem redutora as rotações do hélice e do motor são iguais. As Eq. 5.7 e Eq. 5.8 formam um sistema de duas equações com 5 incógnitas. Desta forma há que se escolher 3 variáveis como independentes. Neste caso o mais recomendado é selecionar , P 0A AE e que caracterizam um determinado propulsor. Adotando-se esta hipótese as pasn Eq. 5.7 e Eq. 5.8 podem ser escritas como: Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 59 t VRDNK HT −= 1 )(42ρ Eq. 5.9 ),( )(2 52 MtipoM R HQ S H NMP DNJKN =η ρ η π Eq. 5.10 Considere inicialmente a Eq. 5.9. t VRDNK HT −= 1 )(42ρ Eq. 5.9 Dividindo-a por tem-se: 42 DNHρ 42)1( )()( DNt VRJK H T ρ−= Eq. 5.11 A partir da definição do coeficiente de avanço tem-se: DJ wVNH )1( −= Eq. 5.12 Substituindo a Eq. 5.12 na Eq. 5.11 tem-se 222 )1()1( )()( DwVt VRJKT −−= ρ Eq. 5.13 Observe-se que dentro das hipóteses admitidas, isto é, ρ,,, DtV e invariantes o parâmetro de é uma constante, isto é: w 2J 2)( JCJKT = Eq. 5.14 onde 222 )1()1( )( DwVt VRC −−= ρ Especialização em Engenharia Naval Módulo 5 – Instalações propulsoras e sistemas auxiliares 60 A parcela a direita da Eq. 5.13 é conhecida como do casco e o parâmetro de é, para uma da velocidade, constante. O ponto de operação é definido pelo valor de que satisfaz a TK 2J *J Eq. 5.13. Este ponto pode ser obtido graficamente ou através de um método numérico se houver modelos matemáticos ou pontos para e . Na )( jKT )(VR Fig. 5.5 é indicada a solução gráfica da Eq. 5.13. Com o coeficiente de avanço, a rotação do propulsor pode ser obtida como: * )1( JD wVNH −= Uma vez obtida a rotação do hélice, há que satisfazer a Eq. 5.10 e isto é efetuado selecionando-se convenientemente o tipo do motor Diesel. Fig. 5.5. Solução da integração casco hélice.
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