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O domínio Archaea Arqueas são organismos procariotos de grande diversidade, mas menores, quanto ao número de espécies, que as do domínio Bacteria. Por serem procariontes, não apresentam membrana interna individualizando um material genético, ou seja, uma carioteca: este material fica de forma difusa pelo citoplasma. Nem sempre apresentam parede celular – e, quando a apresentam, sua composição é distinta da parede das bactérias, formada por diversos componentes sem peptidoglicanos. Arqueas podem ser unicelulares ou formar filamentos ou agregações. Os seres do domínio Archaea possuem características moleculares distintas que os separam tanto das bactérias (o outro grupo mais proeminente de procariontes) quanto dos eucariotos (organismos, inclusive plantas e animais, cujas células contêm um núcleo definido). Os membros do Archaea incluem: • Pyrolobus fumarii, cujo limite superior de temperatura para a vida é de 113°C (235°F), já foi encontrado em fontes hidrotermais; • Espécies de Picrophilus, que foram isoladas de solos ácidos no Japão. Trata-se dos organismos mais tolerantes ao ácido de que se tem conhecimento: são capazes de crescer em torno de pH 0; • Metanogênicos, que produzem gás metano como subproduto metabólico e são encontrados em ambientes anaeróbicos, como pântanos, fontes termais e intestinos de animais e seres humanos. Fisiologicamente, arqueas podem ser aeróbias, anaeróbias facultativas ou estritamente anaeróbias. Há espécies quimiossintetizantes e fotossintetizantes anoxígenas, além de outros tipos diversos de obtenção de energia. Recentes análises filogenéticas do material genético de diversas espécies dividiram as arqueas em dois grupos: crenarqueota e euriarqueota. As crenarqueotas são postuladas como os organismos mais abundantes em oxidação de amônia no solo, representando uma grande proporção dos micro- organismos presentes no picoplâncton dos oceanos do mundo. Já a subdivisão euriarqueota, apresenta organismos em sedimentos marinhos de profundidade que são responsáveis pela remoção do metano, por meio da oxidação anaeróbica do gás armazenado nesses sedimentos. Em contraste, estima-se que as euriarqueotas metanogênicas de ambientes anaeróbios terrestres, como campos de arroz, geram aproximadamente de 10% a 25% das emissões globais de metano. Embora muitas das arqueas cultivadas e pesquisadas sejam extremófilos, estes organismos, em seus respectivos habitats extremos, representam apenas uma minoria da diversidade total do domínio Archaea. Estudos com diversas técnicas mostraram que as arqueas são abundantes e desempenham importantes papéis ecológicos em ecossistemas frios e temperados. Elas também são encontradas vivendo em associação com eucariotos. Características • Parede celular - Como existem vários tipos de paredes celulares nas arqueas, a ausência ou presença do peptidoglicano é uma característica distintiva entre elas e as bactérias; • Ácidos graxos - As arqueas têm ligações de éter ligando os ácidos gordos às moléculas de glicerol; • Complexidade da RNA polimerase - Tanto arqueas quanto eucariotas têm múltiplas RNA polimerases que contêm múltiplos polipeptídeos. As da arquea, por exemplo, contêm mais de oito polipeptídeos; as de eucariotos, 10 a 12. Portanto, as RNA polimerases daquela se assemelham mais às destes que às de bactérias; • Síntese proteica - Várias características da síntese proteica nas arqueas são semelhantes às dos eucariotos, mas não às das bactérias. Uma diferença proeminente é que estas possuem um RNAt iniciador (RNA de transferência) com um aminoácido metionina modificada, enquanto os eucariotos e as arqueas têm um com uma metionina não modificada; • Metabolismo - Vários tipos de metabolismo em arqueas e bactérias não existem em eucariotos, incluindo a fixação de nitrogênio, desnitrificação, quimiolitotrofia e crescimento hipertermofílico. A metanogênese (produção de metano como subproduto metabólico) ocorre apenas no domínio Archaea, especificamente na subdivisão euriarqueota. Sobrevivência Diversas pesquisas observam que as arqueas apresentam uma série de habilidades de resistência dentro de ambientes que, a princípio, não permitiriam vida. Estes organismos podem ser encontrados tanto em locais com temperaturas acima de 60ºC como em geleiras próximas de 0ºC. Alguns conseguem viver em ambientes salinos, alcalinos ou até mesmo ácidos. As arqueas halofílicas parecem ser capazes de prosperar em ambientes com alto teor de sal por abrigarem um conjunto especial de genes que codifica enzimas para uma via metabólica que limita a osmose. Essa via metabólica, conhecida como via metilaspartato, representa um tipo único de Anaplerose (processo de reabastecer provisões de intermediários metabólicos). Filogenia Os domínios Archaea e Eukarya apresentam uma evidente proximidade com o domínio Bacteria, o que confere uma base para falar sobre o processo de surgimento dos eucariontes. Os estudos filogenéticos mais recentes sobre as arqueas indicam o seguinte cladograma: Eukaryota, ou seja, o domínio no qual os seres humanos estão incluídos, é o grupo-irmão do clado pertencente ao domínio Archaea, chamado de Heimdallarchaeota. Esses dados mostram, além da relação íntima entre Eucaryota com esses seres, uma das peças que faltavam para analisar a formação dos eucariontes. Teoria da endossimbiose Cerca de 1,7 bilhões de anos atrás, o planeta Terra era muito diferente do atual. Nos mares, uma série de células procariontes se proliferava, pois elas não mais eram atingidas por enormes meteoros ou qualquer outro tipo de desastre ambiental intenso. Com essa proliferação, é possível imaginar que a disponibilidade de substâncias nutritivas dissolvidas na água começava a diminuir. Com a diminuição de nutrientes, foi necessário englobar outros procariontes para suprir suas carências energéticas. Em diversos movimentos de englobamento, as células procariontes então começavam não só a receber um maior aporte energético, como também a aumentar a possibilidade do estreitamento das relações de simbiose. Paralelamente, o aumento da absorção de moléculas, como os lipídios provenientes das membranas de outros procariontes, proporcionava uma maior quantidade de material para ser estendido à superfície celular. De certo modo, esta superfície também se estendeu internamente, promovendo o fenômeno de invaginação da membrana. Estas novas células seguiam no processo de aquisição de células procariontes a fim de utilizar suas substâncias e seus nutrientes para a manutenção energética. Alguns destes procariontes englobados foram indivíduos que conseguiam captar moléculas oxidativas, como o oxigênio atmosférico, e extrair o máximo de elétrons de nutrientes adquiridos, formando diversas moléculas de ATP. A partir do estabelecimento de relações mútuas de troca de favores entre estas células adquiridas e a eucarionte, uma intimidade genética começou a se desenvolver. Tempos depois, a antiga célula procarionte com alta aquisição energética agora se tornava parte integrante da célula eucarionte, e passou a ser chamada de mitocôndria. Outra linhagem de células eucarióticas com mitocôndrias, tempos depois, começou a englobar pequenos procariontes fotossintetizantes similares às cianobactérias atuais, originando os eucariontes fotossintetizantes. Hoje em dia, eles são representados por algas uni ou pluricelulares e plantas.
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