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EXTENSAO - Jornalismo na era digital A2

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AULA 2 
O JORNALISMO NA ERA DIGITAL
Prof. Arthur Franco 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Por muitas décadas, a profissão de jornalista parecia ocupar um lugar 
especial no imaginário social. O jornalista seria aquele profissional ligado à vida 
boêmia, incumbido da missão de se comprometer com a verdade como um 
paladino da justiça. No entanto, o cenário de mudanças do universo tecnológico 
causou alterações no ideal jornalístico. A modernização que atingiu a sociedade 
na década de 1990 também estendeu seus tentáculos ao jornalismo, mudando 
sua concepção, seus modos de financiamento e também seus valores. A 
digitalização do mundo trouxe a dissolução de certas funções no jornalismo 
enquanto criava outras, as formas de apuração foram atualizadas, a aceleração 
da produção de conteúdo foi ainda mais intensificada, isso em uma área que 
sempre precisou estar quase que à frente dos próprios acontecimentos. 
Como vimos na aula anterior, a internet não é apenas uma nova mídia, mas 
sim uma forma de comunicação inovadora que alterou radicalmente inúmeros 
setores da sociedade, e que tem mecanismos poderosos o suficiente para causar 
mudanças estruturais no jornalismo, não somente práticas, mas também 
ideológicas. Tal revolução causou uma “crise” generalizada sem precedentes no 
jornalismo, um momento de indefinição que abre inúmeras possibilidades 
enquanto torna obsoletas práticas já fundamentadas há décadas. 
A internet altera a forma de consumo da informação, criando uma 
comunicação denominada por Alves (2006) como eu-cêntrica, embasada em 
escolhas individuais do usuário frente a um enorme catálogo de opções 
disponíveis. Se antes a notícia era difundida em blocos escolhidos pelos 
gatekeepers em determinado formato (impresso, televisivo, rádio etc.), em 
horários estabelecidos, hoje “a comunicação se torna eu-cêntrica porque tenho 
acesso somente ao que eu quero, na hora em que eu quero, no formato em que 
eu quero e onde eu quero” (Alves, 2006, p. 97). Os moldes da comunicação 
jornalística tradicional do Século XX se encontram obsoletos, já que o jornalismo 
passa então de um produto a um serviço (Alves, 2006), articulado em uma rede 
contínua hiper-abundante de informações sempre alerta e disponível para quem 
deseja consumi-las. Não é à toa que a Revista Time, uma das maiores 
publicações mundiais, elegeu em 2006 “Você” para estampar sua capa de 
“Pessoa do Ano”, destacando o controle que os usuários da rede têm no modo de 
consumir e produzir informações. 
 
 
3 
Se antes a mídia tradicional era intermediária entre a população e o 
consumo, já que a maior parte dos anúncios era veiculada por ela, no cenário 
digital existe a possibilidade dos anunciantes terem contato direto com o usuário, 
abrindo portas para novas formas de publicidade que não dependem da mídia 
tradicional. Ao mesmo tempo, esse caminho pode apresentar problemas ao 
jornalismo sério que fundamenta uma das bases da democracia. Se antes era o 
dinheiro da publicidade, juntamente das assinaturas, que sustentavam a 
existência da mídia tradicional e agora esse dinheiro é diretamente investido na 
comunicação com os consumidores, como pode o jornalismo de qualidade se 
sustentar? Se a informação que antes só podia ser obtida por meio de um meio 
que trabalhava com publicidade (jornal impresso, rádio jornal, telejornal etc.) e 
hoje ela é disponível para qualquer usuário da web de forma gratuita, como 
amparar o jornalismo que leva tempo e investimento para ter qualidade? São 
perguntas que vão aos poucos sendo respondidas, mediante tentativas e erros 
dos negócios de jornalismo no ambiente digital. 
As mudanças advindas com a web no âmbito do jornalismo ainda não se 
assentaram, ainda não podemos prever como a produção e o consumo de 
informação estarão configuradas na próxima década. O que é possível, é olhar 
para as últimas duas décadas para perceber o que foi alterado no universo 
jornalístico e, então, tentar traçar rotas navegáveis para o futuro. Nesta aula, 
veremos como o jornalismo se adaptou ao universo virtual e algumas tendências 
que aparentam guiar a comunicação no Século XXI. Vamos lá? 
TEMA 1 – A TRANSPOSIÇÃO DO PAPEL PARA A TELA: APONTAMENTOS 
SOBRE O JORNALISMO DIGITAL 
São várias as denominações que o jornalismo pode receber quando 
executado no ambiente virtual, como jornalismo digital, ciberjornalismo, 
webjornalismo e jornalismo online. Sendo o jornalismo digital o mais abrangente 
do conceito, aqui o adotaremos como protocolo, entendendo que ele abarca: 
todo o produto discursivo que constrói a realidade por meio da 
singularidade dos acontecimentos, que é sustentado por redes 
telemáticas ou qualquer outro tipo de tecnologia por meio das quais os 
sinais numéricos são transmitidos e que incorpora a interação com os 
usuários em todo do processo de produção. (Machado, 2000, p.19, 
tradução livre) 
 
 
4 
Nos primórdios do jornalismo digital, era difícil prever como a mídia 
impressa se comportaria frente à onda tecnológica que inundava as redações. 
Alguns anos depois, já era possível perceber que o jornalismo impresso sofreu 
baixas ao redor do mundo, com diversos nomes de peso reduzindo ou extinguindo 
suas publicações no suporte papel. Várias empresas então passaram a possuir 
dois setores separados: um voltado à mídia tradicional e outro direcionado ao 
ambiente virtual, com equipes diferentes. Conforme as inovações digitais 
ganhavam espaço, os dois segmentos foram sendo unificados no Brasil, sendo a 
Folha de São Paulo a última a realizar tal integração em 2010 (Pereira; Adghirni, 
2011). Essa fusão de esferas teve uma visão integracionista de enxergar o veículo 
e os conteúdos como um todo, com cada parte focando não apenas em uma 
plataforma ou tipo de mídia, mas sim a articulação de um sistema conectado e 
com ampla presença digital. 
Muito é especulado sobre as profundas mudanças que afetaram o 
jornalismo em sua transição para uma nova lógica digital. Alguns autores, como 
Charron (Guilhermano, 2019), colocam que a “crise” pela qual o jornalismo passa 
não é em decorrência da falta de interesse do público por notícias ou das 
inovações tecnológicas, mas sim do fator econômico. Para ele, a questão do 
financiamento da produção é que causa o momento de incerteza, porque o saber 
fazer jornalístico ainda é de domínio dos profissionais, porém como financiar essa 
estrutura é o que está causando a instabilidade. Outros autores, como Almiron 
Roig (2006), colocam que as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) 
alteraram a dinâmica de produção tradicional da notícia, porém que a “crise” de 
valores do jornalismo é resultado de uma cultura econômica de corporações e da 
fusão de empresas jornalísticas a grandes corporações que têm como orientação 
valores econômicos. Essa nova configuração leva o autor a se questionar se o 
jornalismo ainda consegue manter seus valores clássicos no Século XXI, já que 
“a fusão de empresas jornalísticas ameaça a sobrevivência da imprensa como 
uma instituição independente, pois o jornalismo se torna uma atividade subsidiária 
dentro de grandes corporações que baseiam sua gestão em outros objetivos” 
(Kovach; Rosenstiel, 2003, p. 45, tradução livre). 
Para corroborar a ideia de que as TICs não foram tão decisivas assim para 
o declínio da mídia impressa, Garcia e Fariña (2007, p. 13, tradução livre) colocam 
que desde a última década do Século XX o jornalismo está em “crise” por uma 
série de fatores, como “um declínio geral na radiodifusão, uma perda de parte do 
 
 
5 
mercado publicitário, um declínio no número de jovens leitores, uma diminuição 
da influência sobre o rádio e a televisão e aumento dos custos de distribuição e 
produção”. 
Apresentadas algumas visões sobre a emergência da comunicação digital 
e os motivos da mudança paradigmática do fazer jornalístico, é importante 
compreender esse fenômeno e suas principais características,especialmente 
aquelas que sofreram alterações com a digitalização da tecnologia. Para tal, 
observemos os dez paradigmas da mídia na era digital propostos por Orihuela 
(2003). O autor propõe que tais entendimentos não irão substituir os antigos 
procedimentos de forma imediata, mas sim apresentam uma perspectiva 
transicional, sendo que no cenário atual midiático, as formas tradicionais de 
comunicação e as novas referências produtivas coexistem. 
• Transformação da audiência “passiva” em usuário “ativo”, já que o 
conteúdo que o internauta escolhe consumir é decidido por seus gostos e 
ao nicho que ele pertence; 
• Mudança de venda da própria mídia para conteúdo, como, por exemplo, a 
CNN, que não é um tipo específico de mídia, mas sim um canal especialista 
em conteúdo da atualidade; 
• Mudança de foco de monomídia para multimídia, uma vez que a internet 
permite a convergência de diversas mídias em seu escopo; 
• Alteração da periodicidade para consumo em tempo real, visto que as 
notícias que tinham certa frequência passam a não ter um momento 
predeterminado para seu consumo e são atualizadas constantemente; 
• A ausência de limites de tempo/espaço para as notícias, já que no digital 
não existe limitação de conteúdo, levando a uma abundância de 
informações; 
• Passagem das informações mediadas por um gatekeeper para uma 
descentralização do que é discutido e disseminado na agenda midiática 
devido à variedade de fontes que transmitem conteúdos; 
• Distribuição e acesso de conteúdo de muitos para muitos, com a 
publicidade e os conteúdos sendo personalizáveis; 
• Acesso do mesmo canal tanto para produtores quanto para consumidores 
de conteúdo, com o estabelecimento de uma relação bilateral com a mídia 
e crescente interatividade; 
 
 
6 
• Mudança de texto linear para hipertexto, com modificação do controle da 
narrativa se alternando do produtor para o receptor; 
• Transformação de dados em conhecimento, com crescente foco na 
informação da informação: “inteligência da informação, interpretação, 
filtragem e pesquisa combinada com o desafio de novas narrativas 
multimídia interativas e fornecido por uma ampla gama de canais” 
(Orihuela, 2003). 
Como colocado por Ramonet (2013), o jornalismo sofreu mudanças a nível 
global com a popularização da internet, especialmente o jornalismo tradicional, já 
que blogs, redes sociais e fóruns de discussão abriram espaços que concorrem 
diretamente com a forma tradicional de levar notícias. Se antes na mídia impressa 
não havia a possibilidade de um leitor expressar de forma direta e despachada 
seu ponto de vista frente uma notícia, hoje qualquer texto postado por um 
jornalista pode ser alvo de comentários. Ramonet (2013) clama que o 
enriquecimento de informações se dá devido aos “neojornalistas”, também 
chamados por ele de “amadores-profissionais”. 
Não obstante, tanto a participação direta do público, quanto a publicação 
de informações de tom jornalístico por “neojornalistas” também envolvem 
questionamentos que estão dentro da alçada do jornalismo, mas geralmente fora 
da percepção do grande público, como: 
• Critérios de noticiabilidade (o usuário muitas vezes não tem bom 
discernimento do que é passível de virar notícia e o que não é); 
• Critérios de confiança (o usuário pode não checar as fontes antes de 
transmitir a informação); 
• Critérios de formato (uso da norma culta, objetividade, imparcialidade). 
TEMA 2 – AS GERAÇÕES DO JORNALISMO DIGITAL: PRIMEIRA, SEGUNDA, 
TERCEIRA E QUARTA 
Desde o começo da incursão do jornalismo pelo universo digital, diversas 
fases de sua existência podem ser elencadas de acordo com seus processos de 
produção e de consumo, e se torna importante ressaltar que tais fases não 
ocorreram de forma totalmente sequenciada e delimitada, tendo coexistindo entre 
si em determinados momentos. Vejamos quais são as três primeiras de acordo 
com as proposições de Mielniczuk (2003). 
 
 
7 
A primeira geração pode ser denominada transposição ou reposição, já que 
aqui os conteúdos oriundos do jornalismo impresso eram meramente transpostos 
para o ambiente virtual, sem preocupação com um design específico para a web 
ou modulação dos conteúdos para uma plataforma diferente. Mielniczuk (2003) 
coloca que os conteúdos eram atualizados a cada 24 horas, o que se relaciona 
com o ciclo de fechamento dos jornais impressos diários. Por se tratar de uma 
mera cópia do jornalismo impresso, não existia uma iniciativa de exploração das 
características próprias da web. O jornalismo online americano, nos primeiros 
anos de sua existência, é um exemplo clássico dessa prática, que ficou conhecida 
como shovelware. É interessante notar como Alves (2006) aponta a atividade de 
transferência de um meio para outro como uma prática já fundamentada no 
ambiente comunicacional, já que inicialmente o rádio era um “jornal falado” e a 
televisão um “rádio com imagens”. Assim, em um primeiro momento, a tendência 
é levar a linguagem e os formatos de uma mídia para outra, com pouca ou 
nenhuma alteração. 
A segunda geração se beneficiou das evoluções técnicas da internet no 
período, e já é possível notar tímidas produções de conteúdo exclusivas para a 
web e experimentações jornalísticas que levam em conta as possibilidades 
oferecidas pelo novo meio, como: 
links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período 
entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade 
de comunicação entre jornalista e leitor ou entre os leitores, através de 
fóruns de debates; a elaboração das notícias passa a explorar os 
recursos oferecidos pelo hipertexto; surge a seção ‘últimas notícias’. 
(Mielniczuk, 2003, p. 9) 
Na terceira geração, é possível identificar ações jornalísticas específicas 
para a internet, assim como o lançamento de produtos exclusivos para tal meio. 
Mielniczuk (2003) aponta a introdução de recursos multimídia, como o uso de sons 
e animações; de recursos de interatividade, como chats e fóruns de discussão; 
opções para que o usuário configurasse o produto de acordo com suas 
preferências, e a atualização contínua das notícias. 
Por último, temos a quarta geração do jornalismo digital, quando ocorre a 
integração com bancos de dados complexos que podem cruzar as informações 
entre si, com ferramentas para apuração, edição e publicação das notícias já 
totalmente imersas no universo online, formas diversas de interação entre notícia, 
usuário e repórter e concepção de sites jornalísticos de alta dinamicidade. Essa é 
 
 
8 
a geração que estamos vivendo atualmente, embora já se possa falar na quinta 
geração do jornalismo digital, como exploraremos no tópico a seguir. 
TEMA 3 – JORNALISMO DE QUINTA GERAÇÃO: INOVAÇÕES E EXEMPLOS 
Como mencionado no tópico anterior, as fases do jornalismo digital não são 
momentos estáticos delimitados por um período temporal certeiro e fixado. Apesar 
de estarmos vivenciando a quarta geração, autores como Barbosa (2013) e Nunes 
(2016) debatem se já não teríamos a superado e estaríamos adentrando sua 
quinta fase. Seguindo a ideia da convergência midiática, na quinta geração do 
jornalismo online temos a conversação multimidiática entre diferentes 
plataformas, em uma “atuação conjunta, integrada, entre os meios, conformando 
processos e produtos, marcado pela horizontalidade nos fluxos de produção, 
edição, e distribuição dos conteúdos, o que resulta num continuum multimídia de 
cariz dinâmico” (Barbosa, 2013, p. 33, grifo da autora). A autora chama atenção 
para o conceito de continuum multimídia, uma união das mídias tradicionais 
totalmente incorporadas com as ditas novas, com redação integradas (que 
englobam as produções para apps, web e impresso), múltiplas plataformas e a 
horizontalidade da produção, da distribuição e do consumo da informação. 
Tanto Barbosa (2013), quanto Nunes (2016) apontam características 
observadas em ligação àmobilidade comunicacional, especialmente relacionadas 
a aplicativos jornalísticos (apps) e a leitura de jornais em tablets, que permitem 
vislumbrar o possível início de uma quinta geração do jornalismo digital. Barbosa 
(2013) destaca os produtos autóctones, aqueles formulados nativamente para um 
meio com conteúdo e funcionalidades exclusivas que: 
vão além daqueles aplicativos compostos com materiais compilados das 
edições impressas e dos sites web, os quais, por enquanto, existem 
como padrão mais comum, configurando a transposição 2.0. Como 
agentes de inovação, renovação e de reconfiguração para o jornalismo 
no atual contexto da convergência jornalística, as mídias móveis 
possuem gramática própria, práticas de produção, dinâmicas de 
consumo e modelos de negócio específicos. Com as mídias móveis, 
surge também o fenômeno da appification – que está influenciando o 
design de sites web, como se pode verificar no redesenho do USA 
Today13, por exemplo, e no que conformará o novo site do The New 
York Times. (Barbosa, 2013, p. 43) 
Nunes (2016) também aponta a importância das produções autóctones no 
contexto da quinta geração, além de características como a independência do 
espaço web (não necessidade do navegador ou de protocolos www, com a criação 
de apps específicos para o jornalismo), a mobilidade e a ubiquidade, um maior 
 
 
9 
potencial off-line, com possibilidade de download das edições e “construção 
visual, de organização de conteúdo, hierarquização noticiosa e design gráfico com 
forte influência dos veículos jornalísticos de papel. Esta referência dialoga com 
influências digitais da própria web, tornando-se um híbrido entre estes dois” 
(Nunes, 2016, p. 26). Quanto ao último item, Barbosa (2013) traz que até uma 
possível inversão de ordem de produção pode ocorrer, primeiro se produzindo 
para os apps e tablets, e depois para as demais plataformas, como a web e o 
impresso. 
Por fim, a quinta geração do jornalismo digital se delineia em torno do 
conceito de remediation, ou seja, a representação de um meio em outro meio, 
identificando o meio anterior, a linguagem por ele utilizada e seus papéis sociais 
para então constituir um novo meio em um suporte novo, como coloca Barbosa 
(2013). No entanto, pela alta rapidez de desenvolvimento dos produtos digitais e 
a diferenciação constante entre produtos “novos” e “velhos”, a autora expõe que 
talvez já se possa trabalhar com o conceito de pós-remediação, já que cada vez 
mais os produtos mais recentes trazem rupturas e novas potencialidades. 
Exemplos da quinta geração do jornalismo digital podem ser identificados 
em produtos como O Globo a Mais (do jornal O Globo), o EdiçãoFolha (do jornal 
Folha de São Paulo), o Estadão Noite (do jornal O Estado de São Paulo), que são 
publicações digitais totalmente voltadas para tablets e smartphones, além dos 
aplicativos de jornais como o The New York Times¸ BBC News, Le Monde | 
Actualités en direct e Herald Sun. 
TEMA 4 – NOVAS FORMAS DE ORGANIZAÇÃO JORNALÍSTICA: AS AGÊNCIAS 
INDEPENDENTES 
A possibilidade de produção de conteúdo a largas audiências por parte dos 
usuários das TICs proporcionou a emergência de entidades e empresas 
comunicacionais desvinculadas dos grandes conglomerados de mídia. Novos 
veículos de informação despontam por meio da organização de comunicadores 
que constroem agências independentes que possuem modelos de financiamento 
e de difusão de notícias diferenciados daqueles da mídia tradicional. 
Além da viabilidade de difusão de conteúdo proporcionada pelas TICs, 
outro fator que também impulsionou a crescente onda de agências independentes 
foram os cortes sofridos por inúmeras redações dos mais diversos tipos de 
veículos. A precarização que atinge os empregos formais também chega ao 
 
 
10 
informais, já que junto do aumento do número de agências, vemos também o 
crescimento de jornalistas freelancers ou daqueles com contratos como pessoas 
jurídicas, tipos de negócios que, de certa forma, também podem ser encarados 
como uma forma de jornalismo independente. 
Algumas características se apresentam como abrangentes para o 
jornalismo independente, como o engajamento em uma dinâmica de crítica social 
aliada a cobertura de eventos ou que não são tradicionalmente noticiados pela 
grande mídia ou trazendo ângulos que ela não explora; o compromisso com a 
verdade e a credibilidade; dar vozes a grupos marginalizados ou socialmente não 
privilegiados; investimentos de modelos de negócios não tradicionais com 
diferentes práticas de captação monetária; a adoção de práticas metajornalísticas, 
ou seja, trazer os valores, os princípios e as práxis jornalísticas para o debate 
público ao trabalhar questões e limites éticos do próprio jornalismo. Nesse sentido, 
os smartphones e a internet são os grandes instrumentos utilizados pelos 
jornalistas ligados as agências independentes, que conseguem atingir 
diretamente o público em uma produção peer-to-peer adaptada ao jornalismo, 
como coloca Satuf (2016, p. 11): 
ancorada numa concepção mais horizontal e aberta da comunicação 
potencializada pelo uso de telefones móveis e smartphones 
interconectados. No jornalismo peer-to-peer, as informações percebidas 
como relevantes pelos integrantes de um grupo ganham o tratamento 
típico de notícia e circulam por redes de cooperação que são formadas 
mais por afinidade ideológica do que por estruturas corporativas 
previamente estabelecidas. Trata-se de um jornalismo produzido a partir 
de mobilizações instantâneas e pontuais, operado por atores 
tecnologicamente empoderados que se unem para interferir no campo 
político, econômico ou cultural. 
Entre 2015 e 2016, a Agência Pública conduziu uma pesquisa que buscava 
delinear o jornalismo independente no Brasil, relevando que naquela época foram 
mapeadas 79 iniciativas distribuídas por 12 estados e no Distrito Federal, com 32 
delas possuindo caráter comercial e 47 sem fins lucrativos. A Pública ainda 
revelou que 57 desses veículos possuem alguma forma de financiamento, 35 
possuem rendas de fontes diversas, 22 de apenas uma fonte e 22 não possuem 
financiamento nenhum. Entre as iniciativas com fins lucrativos, 13 afirmaram obter 
recursos advindos da publicidade, enquanto naquelas sem fins lucrativos o 
modelo de financiamento mais mencionado foi a doação de pessoas jurídicas, 
com 15 iniciativas. 
 
 
11 
Por fim, 13 dos veículos publicam diretamente no Facebook, 59 utilizam 
sites próprios para a publicação de seu conteúdo, o restante divulga em mídias 
diversas como Twitter e Medium e apenas um utiliza o sistema de newsletter. Pelo 
site da Pública (Disponível em: <https://apublica.org/mapa-do-jornalismo/#_>. 
Acesso em: 28 dez. 2020) é possível acompanhar as iniciativas independentes e 
descobrir mais sobre cada uma delas. Como exemplos de agências 
independentes no Brasil podemos citar a Agência Pública, a Ponte, o Nexo Jornal, 
Amazônia Real e AzMina, dentre outros. 
TEMA 5 – MUDANÇAS DA PRÁTICA: COMO O DIGITAL INFLUENCIA A 
ROTINA JORNALÍSTICA? 
A convergência das mídias, a facilidade de acesso à informação e a 
possibilidade de disseminação de conteúdo fora do controle das grandes 
empresas de mídias alteraram profundamente a rotina jornalística. Pereira e 
Adghirni (2011) colocam três mudanças que marcaram o percurso comunicacional 
com a introdução das inovações digitais: uma aceleração na produção e na 
disseminação da notícia, a multiplicação de espaços multimídias e modificações 
na forma de coleta das informações. O oferecimento constante de notícias passou 
a ser a ordem, e os jornalistas se veem refém da lógica de produção de notícias 
bem apuradas em um tempo cada vez mais reduzido. 
Como mostra a pesquisa desenvolvida pela Apex em 2018 sobre o Perfil 
do Jornalista Brasileiro, ser multitarefas é a realidade cotidiana dos profissionais, 
já que “59% informaram que dominam de 3 a 6 ‘habilidades’relacionadas à área 
e 20,7% disseram ter conhecimento em 7 ou mais atividades” (Apex, 2018, p. 15), 
como produção e edição de imagens, captação e edição de vídeos, design e 
mesmo experiência com SEO (Search Engine Optimization), técnica do marketing 
voltada a otimização dos resultados em sites de busca, como o Google. Isso só 
corrobora a visão do jornalista multitarefa, símbolo do profissional da atualidade, 
que é obrigado a dominar diferentes linguagens e domínios técnicos, porém sem 
ter refletida no salário e nas condições de trabalho essa pluralidade de funções. 
Pela pesquisa da Apex vemos também que as TICs não influenciam 
apenas os consumidores de notícia, mas também têm papel fundamental na sua 
produção, já que o e-mail aparece em primeiro lugar como tipo de contato mais 
utilizado, com o Whatsapp em segundo e o telefone apenas em terceiro. O 
jornalista agora depende dos meios digitais para fazer seu trabalho, preso em uma 
 
 
12 
relação de dependência e não desligamento dos mesmos. Se o jornalismo é 24 
horas, como exalta o slogan da GloboNews, “canal de notícias 24 horas no ar. 
Nunca Desliga”, o jornalista também acaba o sendo. Um veículo é feito por 
profissionais, e, se um noticiário nunca desliga, existem profissionais por trás dele 
que também nunca desligam, como colocam Pereira e Adghirni (2011, p. 46): “as 
mídias não têm mais horário de fechamento e são publicadas à medida que os 
fatos se sucedem. Enquanto o jornal ou a revista tem um deadline para a 
impressão gráfica, na tela, a notícia eterniza-se como num vai e vem das ondas 
do mar”. 
 A apuração hoje é um procedimento feito por meio de um computador na 
redação ou pelo WhatsApp. Se antes o jornalista era obrigado a correr atrás da 
notícia de forma concreta, indo à rua, enfrentando trânsito, se encontrando com a 
fonte e dela colhendo o depoimento mediante uma relação mais intimista, hoje o 
profissional de jornalismo corre pelo labirinto que é o ciberespaço, realizando 
entrevistas pelo celular, fazendo a checagem de fatos e sendo bombardeado por 
sugestões de pautas. 
Muitos dos recursos digitais recentes, como o WhatsApp, foram integrados 
automaticamente às rotinas jornalísticas, na maioria das vezes sem uma 
regulação prévia ou preparo da redação para lidar com as demandas constantes 
que ali surgem e com os impactos causados por essa nova forma de 
comunicação. Nesse sentido, a digitalidade não influencia apenas no fazer prático 
da notícia, mas também em sua concepção e valor, já que os meios digitais não 
são utilizados apenas nas entrevistas com as fontes diretas das matérias, mas 
também permitem colaborações na construção das notícias, com os usuários 
enviando sugestões de pauta para as redações. 
Isso pode implicar em uma mudança de valores, já que muitas vezes a 
tessitura da notícia parte do povo para o jornalista para então retornar ao povo, 
indicando a mudança de um caminho que anteriormente se originava do jornalista 
e então seguir para o povo. Tal procedimento pode dar a sensação de inclusão 
do público na construção do jornalismo, mas também pode alterar os valores do 
fazer jornalístico, já que agora os valores defendidos pelo público também 
ganham espaço. As noções de objetividade, transparência, exatidão e verdade, 
intrínsecas ao jornalismo tradicional, muitas vezes perdem lugar para o que o 
público entende como notícia, desencadeando abordagens simplórias e dividindo 
a apuração da notícia com o público. 
 
 
13 
Na corrida por fidelizar a audiência, muitos veículos optam por tal 
abordagem na expectativa de fazer o público se sentir representado e, assim, 
voltar para consumir constantemente seus produtos em um ciclo que se 
retroalimenta. Especialmente em casos de acidentes ou desastres, como 
desmoronamentos ou alagamentos, o jornalismo incentiva a participação 
constante do público, especialmente daquele no local do acontecimento, que “faz” 
uma parte do trabalho do repórter ao enviar para o veículo fotos, vídeos e 
informações sobre o fato. 
Por fim, a redução nos times de inúmeras empresas de mídia tradicional 
causou a migração dos jornalistas para a comunicação institucional, como aponta 
a Pesquisa sobre o perfil do Jornalista Brasileiro, realizada em 2012, a qual 
evidenciou que 40% dos jornalistas atuam em atividades de assessoria de 
imprensa ou em “comunicação ou outras ações que utilizam conhecimento 
jornalístico” e se localizam fora da mídia tradicional (Mick, 2012). Esse tipo de 
negócio de mídia se alia a facilidade de divulgação de informação proporcionada 
pelas TICs e causa alterações no modo de fazer jornalístico, já que interfere no 
processo de construção da notícia ao sugerir pautas, produzir discursos 
específicos e influenciar na agenda midiática, no sentido de que “a redução do 
plantel de jornalistas na imprensa aguçou o interesse de diversas instituições em 
garantir seus espaços na mídia. Para isso passaram, elas mesmas, a empregar 
jornalistas para coletar e municiar a imprensa com as suas ‘notícias’” (Sant’Anna, 
2006, p. 16). 
É o que o autor coloca como uma nova modalidade de participante do 
jornalismo brasileiro, a mídia das fontes, “mídias mantidas e administradas por 
atores sociais que, até então, se limitavam a desempenhar o papel de fontes de 
informações [...] Estas fontes são, em grande parte, verdadeiras organizações 
políticas”. Exemplos são as mídias ligadas aos movimentos políticos, às 
instituições religiosas, às entidades de classe, empresas (públicas ou privadas), 
entre outras. O autor coloca que se antes essas fontes eram espectadores 
externos dos acontecimentos retratados pelo jornalismo, na atualidade elas se 
configuram como condicionantes de informações coletadas e previamente 
tratadas e direcionadas a uma determinada visão de mundo que, “ao contrário da 
imprensa, não estaria desprovida de segundo interesse e sim a serviço de um 
propósito político, econômico, comercial ou de qualquer outra ordem” (Sant’Anna, 
2006, p. 7). 
 
 
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