Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos ANÁLISE E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS PROFISSIONAIS Bruno Stramandinoli Moreno Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Introdução Os indivíduos, quando motivados a manter relações com outros indivíduos, estabelecem o chamado grupo de referência. Isto significa que as ações destes indivíduos serão balizadas, a partir disto, por um grupo de relações (p.ex. colegas de trabalho), que assume um papel normativo no comportamento do indivíduo. Albuquerque e Palácios (2004) salienta, que tal grupo normativo desempenhará a função de alinhar as condutas dos seus membros a valores e regras, em geral, amplamente disseminadas no contexto social. Será que todos nos comportamos da mesma forma? Em todas as circunstâncias? E de diante de problemas por exemplo, seguimos o mesmo protocolo social? Muitas classes profissionais, como médicos, enfermeiros, psicólogos, advogados, militares, pedreiros, técnicos de manutenção de eletrodomésticos, técnicos radiologistas, tem códigos de conduta de ética que funcionam como guia de condutas (será?). É claro que todos estes grupos profissionais têm um modo próprio muito particular de guiar o comportamento de seus representantes, e mesmo assim, dar margem a certa variação de individualidade. Entretanto o grupo de referência a que pertence o indivíduo ainda atuará cerceando sua prática, pois espera-se que ele tenha determinada postura diante de questões e desafio, problemas e dilemas em seu cotidiano profissional. Os comportamentos (postura) ante aos problemas que enfrentará, será o grupo de referência que referendará. Os autores ainda destacam que muitas e muitas vezes somos surpreendidos atuando de uma maneira inadequada, num dado momento, e no outro parece que aquele comportamento é entendido como aceitável. O que será que varia, nós mesmos, o contexto, o grupo de referência? Quando diante de um problema (seja ele novo ou não) não resolvido, faz com que, momentaneamente, ainda nos fragilizemos. O que fazemos a partir disso é o que diferencia os grupos de referências que nos aportam. Mas a máxima estabelecida pelo filosofo francês Jean-Paul Sartre ainda Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos é verdadeira: “O que fazemos com o que fazem de nós? ”. Segundo ele tendemos a estruturar um esquema que torne conhecido novamente aquilo que ficou incerto e que nos permita sentir-nos outra vez em ambiente seguro. Mas por que precisamos entender o que é um grupo para a busca na resolução de um dado problema profissional? Este é o intuito deste material, demonstrar como a interação entre pessoas tem papel decisivo na resolução de problemas. 1. Pessoas e equipes e solução de problemas. Biólogos, neurocientistas, antropólogos e muitos outros estudiosos têm concluído que a vida humana é grupal. O homem é um artefato social, produzido pela vivência em grupo. Grupos os quais é inserido: no mundo, na família (ou qualquer outra forma coletiva que funcione assim). Mesmo que busque se isolar o indivíduo sofre ou é impactado pela coletividade humana. Pai, mãe, chefes, clientes, vizinhos, fornecedores, colegas de trabalho, figuras públicas, entre outros, influenciarão, nortearão e impactarão nas nossas decisões e comportamentos. Neste sentido, cabe salientar que pouco importa quem executa a ação! Todavia, é o comportamento em si, e seu significado, que representa algo que o mobilizou. Em geral o contexto que o circunda. O papel dos grupos está diretamente ligado a discussão deste como um conjunto formado por duas ou mais pessoas que buscam alçar a consecução de um certo objetivo (por exemplo a resolução de um problema) e para tanto mobiliza dos envolvidos/afetados certo grau de interação, delimitado por uma certa temporalidade, relativamente longa. Assim sendo, Albuquerque e Palácios (2004), entendem que para este conjunto de indivíduos ser considerado grupo serão necessárias algumas condições (requisitos) serem atendidas: (a) quanto menor for o número de seus membros; (b) quanto maior for a interação entre os seus membros; (c) quanto maior for a sua história e; (d) quanto mais perspectiva de futuro partilhado seja percebido pelos seus membros. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Os autores compreendem que se os grupos são pequenos, as pessoas se conhecem de maneira mais concreta, e vivenciam uma relação próxima, compartilhando, em alguma medida, objetivos, anseios, expectativas, e, aceitam acordos coletivos construídos pelo próprio grupo. Cabe diferenciar aqui o que é e o que não é um grupo. Imagine aquele ponto de ônibus, e você esperando o “174 – Vila Iara” das 17h30, e ir para casa. O ponto lotado. Este coletivo é um grupo? Não, pois cada uma das pessoas lá esperando, depende apenas de si mesmas, para conseguir “pegar o buzão”. Agora, pensa aquele fim de semana que você vai se reunir com seus amigos para “bater uma bola”, “tomar uma cerveja”, etc. Nestas condições temos um grupo constituído, pois é no coletivo que o objetivo é alcançado. De outra forma, um grupo vai além de um “monte” de pessoas, pois há em seu âmago uma interdependência de ações. Haja vista terem interações uns com os outros, regularmente, para alcançar os objetivos no decorrer do tempo. A resolução de problemas está intimamente ligada a atuação em grupo, pois partir de sua vivência surge a possibilidade do cumprimento de tarefas, consideradas importantes, especialmente quando sob as seguintes condições, Grilleti (2019), quando: a) não há nenhum grau de especialização, frente uma situação-problema, grupos apresentam melhores julgamentos do que a média dos indivíduos, agindo de forma isolada; b) frente a problemas complexos, a solução, em grupo, pode ser manejada através da divisão do compartilhamento da informação, e rateio de tarefas entre os membros do grupo, em geral, os indivíduos, tendem a ter mais sucesso. c) o risco é aceitável, mesmo havendo forte tendência às decisões serem extremadas, os grupos dão suporte criativo, invetivo e inovador na consecução das tarefas necessário para tanto. No contexto profissional, as Equipes de Trabalho, apresentam-se como uma variação, bastante específica de grupos de pessoas, Albuquerque e Palácios (2004), Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos identificam-nas também sob a denominação de “grupos de trabalho”, “círculos de qualidade”, “comitês de gestão”, ou mesmo, “times”. Uma particularidade das equipes de trabalho é que elas, em geral, evidenciam, uma busca intensa de mecanismos que fomentem aspectos como eficácia, eficiência e efetividade, no que tange o desempenho do indivíduo. Neste sentido, os autores nos trazem uma coletânea de definições de equipes que trabalho, a qual transcrevemos a seguir: Tabela 1 – Compilado de definições sobre Equipes de Trabalho Arrow e McGrath (1995) “[...] padrão complexo de relações dinâmicas entre um conjunto de pessoas (membros), que utilizam uma determinada tecnologia para atingir propósitos comuns. Nesta definição, os autores apontam a existência de três elementos constitutivos: os membros, o propósito ou objetivo e a tecnologia” Guzzo e Dickson (1996) “[...]indivíduos que se percebem e são percebidos pelos outros como uma entidade social, interdependentes por causa das tarefas que desempenham, e inseridos num sistema social maior, a organização, que é afetada pelo desempenho do grupo”. West Borrill e Unsworth (1998) “[...] entidade social, inserida no contexto organizacional, desempenhando tarefas que tanto contribuem paraque o objetivo da organização seja atingido, como afetam outros indivíduos dentro e fora da organização”. Machado (1998) “Um sistema de relações dinâmicas e complexas entre um conjunto de pessoas, que se identificam a si próprias e são identificadas por outras pessoas dentro da organização como membros de um grupo relativamente estável, que interagem e compartilham técnicas, regras, procedimentos e responsabilidades, utilizadas para desempenhar tarefas e atividades com a finalidade de atingir objetivos mútuos”. Fonte: Adaptado de Albuquerque e Palácios (2004) Como é possível perceber no que tange às equipes de trabalho, a responsabilidade pelo resultado final é compartilhada, seja em maior ou menor grau. Ora, se a equipe ganha, todos ganham, se a equipe perde, todos perdem. Em outros Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos tipos de grupos isto não acontece, pois em bora o objetivo seja comum, ele não é compartilhado, ou seja, se um dá grupo alcançar o objetivo, outro pode não o alcançar, de modo que, as equipes de trabalho se caracterizam por ter um objetivo de trabalho compartilhado. Ainda que cada membro possa ter metas específicas que devam ser atingidas, haverá um objetivo global, da equipe, que é a razão pela qual foi criada e que é compartilhado por todos. 1.1. A dinâmica de equipes de trabalho O funcionamento de uma equipe de trabalho, naquilo que concerne sua efetividade e eficácia, se articula à adoção de seguintes critérios de formação, agregados em cinco categorias (ALBUQUERQUE; PALÁCIOS, 2004): (a) as características das tarefas (de baixa, média e de alta complexidade); (b) a forma como o trabalho se estrutura (sua organização); (c) as características dos componentes (referente aos conhecimentos que detêm, das habilidades que dominam e da motivação que os mobilizam); (d) as características da equipe (como poder é distribuído, a disponibilidade dos recursos, e o grau de hétero ou homogeneidade), e; (e) os processos da equipe (sua coordenação, sua comunicação, os conflito e outros processos emergentes). Tais questões só serão ainda impactadas pela fase, a qual encontre-se a equipe. A figura abaixo nos apresenta cinco fases na formação de uma equipe: Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Figura 1: Fases da Formação de Equipes Fonte: Adaptado de Zanchet; Paula; Rodrigues (2011) Formação Orientar para a tarefa. Estabelecimento de relações de dependência entre os integrantes do grupo. Em que se estabelece e se testa a dependência, reconhecimento dos limites do grupo e do comportamento dos indivíduos. Confusão Definir ou determinar o lugar – hierarquia – dos indivíduos no grupo, na esfera da tarefa. Há então a gestão dos conflitos internos do grupo, reconhecimento de autonomia e direitos. Normalização Criar harmonia no grupo, com a criação de normas e a determinação de papéis. De modo que, num terceiro momento há o desenvolvimento da coesão do grupo, descobrem-se as similaridades e maior coesão, através da exposição de opiniões. Execução Executar atividades, usando a energia e a estrutura da equipe; emergir com as soluções da tarefa. Em que o foco é atuar sobre a tarefa Dissolução Finalizar a atuação do grupo. Há então um processo de avaliação da equipe ou autoavaliação. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos 1.2. Quais as vantagens e desvantagens da atuação de Equipes de Trabalho? Para Palácios e Romá, (2013) as Equipes de Trabalho se organizam segundo três critérios: a) RECOMENDAÇÃO Como forças-tarefa, comitês "ad hoc" ou equipes de projeto, são equipes que estudam problemas específicos e recomendam soluções, muitas vezes trabalhando como um esquema integrado para completar dados e dissolvendo-se logo após o propósito haver sido cumprido); b) EXECUÇÃO Como grupos, ou mesmo órgãos, funcionais, as equipes que desempenham tarefas permanentes para a organização e são relativamente estáveis e permanentes), e; c) PESQUISA e ACELERAÇÃO Como órgãos formais ou como grupos gestores, são equipes que formulam propósitos, objetivos, valores e direções estratégicas e ajudam as pessoas a implementá-los adequadamente. O que determinará o quanto e em que nível uma Equipe de Trabalho conseguirá se efetivar, na resolução de um problema, será a forma como seus membros percebem a satisfação com suas tarefas, bem como, os objetivos tenham sido traçados: sua forma de alcance. Outro aspecto é a maneira como as relações interpessoais ocorrem entre seus membros e indivíduos externos à Equipe de Trabalho. Um ponto central, neste sentido, é considerar como as práticas de Resolução de Problemas se estabelecem. Sob esta ótica, os autores destacam algumas condições que podem permear o “sucesso” de uma Equipe de Trabalho, quando na busca por soluções: 1ª CONDIÇÃO: O grau de LEALDADE entre os membros e com o líder da equipe. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos 2ª CONDIÇÃO: O nível de CONFIANÇA entre os membros e com o líder da equipe. 3ª CONDIÇÃO: A quantidade de HABILIDADE, empregadas pelos membros, no alcance de objetivos global. 4ª CONDIÇÃO: A forma de COMUNICAÇÃO entre os membros. 5ª CONDIÇÃO: O estilo de TOMADA DE DECISÕES da equipe. 6ª CONDIÇÃO: O nível de CONVERGÊNCIA de valores e necessidades de cada membro se em relação aos da equipe. 7ª CONDIÇÃO: A diferença entre o nível de RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL e o nível de RESPONSABILIDADE COLETIVA. Cabe aqui compreender melhor como as características de uma dada Equipe de Trabalho opera e qual seu foco de atenção. Novamente os autores nos dão, com clareza, está descrição, através do quadro esquemático que se segue: Tabela 2 – Caracterização de Equipes de Trabalho Fonte: Adaptado de Palácios e Romá (2013) Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Para compreender melhor como estes tipos de Equipes de Trabalho se organizam, faz-se necessário analisar com um pouco mais de profundidade sua dinâmica. Assim vejamos os tipos de atividades que uma equipe pode desempenhar: Tabela 3 – Taxionomia de Tarefas de Equipes de Trabalho Fonte: Adaptado de Palácios e Romá (2013) A chave do sucesso de qualquer Equipe de Trabalho é a capacidade de seus membros erigirem um consenso estratégico, ou seja, construírem a compreensão compartilhada (concordante ou similar) entre os membros da equipe sobre as prioridades estratégicas de ação e os meios para executá-la (PALÁCIOS; ROMÁ, 2013). 2. Resolvendo Problemas individualmente e em Equipe A princípio é preciso definir o que vem a ser um “problema”. Segundo SOARES (2012, p.93) “[…] um problema pode ser definido como um resultado indesejado de um processo [...]”, ou “[…] como um estado de dificuldade que precisa ser resolvido [...]”, ou ainda, como a “[…] a diferença entre o desempenho obtido e as metas, ou ‘maneira’ como as coisas deveriam ser [...]”. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Neste sentido, conforme Snowden e Boone (2007) os problemas podem ser classificados segundo cinco contextos (definidos em razão da natureza da relação entre causa e efeito): (a) que exijam compreensão (diagnóstico) da situação e que demandam ação apropriadamente contextualizada apropriada (classificadas, então, como simples, complicadas, complexas e caóticas) e; (b) em que não está claro qual dos outros quatro contextos é predominante (classificado como desordem). Aqui nos ateremos aos quatro primeiros contextos. Contextos Simples: foco nas Melhores Práticas. Contextos simples se caracterizampor sua condição estável e pela clareza nas relações causa-efeito. Aqui todos, sem maiores esforços, são capazes de compreender o que ocorre. A solução, em geral, é evidente e não deixa “sombra de dúvidas”. Pois como o entendimento é compartilhado por todos os envolvidos/afetados as soluções são inquestionáveis. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Figura 2 – Ilustração contexto simples. Fonte: Pixabay, 2019. A maneira de manejar e gerir a construção de soluções em contextos como este é direta. Os membros da Equipe de Trabalho identificam o problema, o classificam e sugerem a respondem (sugerindo e executando a solução encontrada). Isto significa que a resposta pensada, é baseada na categorização de fatos da situação, facilmente e claramente perceptíveis. Normalmente este tipo de contexto demanda uma dinâmica de funcionamento em que a gestão sob um estilo de comando e controle para definir parâmetros funciona bem. As prescrições são claras e as soluções quando demandadas são facilmente construídas e implementadas. É muito raro neste tipo de contexto encontrar situações de desacordo, uma vez que a comunicação é clara. Contextos complicados: a palavra é com os especialistas Diferentemente dos Contextos Simples, os Contextos Complicados, não tem um nível de previsibilidade tão claro. Há a possibilidade de uma gama variada de soluções e, mesmo que seja possível identificar uma relação de causa-efeito, não são todos os envolvidos/afetados que são capazes de identificá-la. Neste contexto a busca por solução não tem resposta tão prontas. Há uma maior intensidade de reflexões e análises em relação ao Contexto Simples, mais prescritivo. Não é incomum membros mais experientes responderem mais rápido, em termos de identificação do problema, do que seus companheiros mais novos. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Figura 3 – Ilustração contexto complicado. Fonte: Pixabay, 2019. No contexto complicado há a demanda por uma postura mais investigativa, no encalço das opções mais apropriadas, e que melhor atendam, ao problema. Isto nos remete à percepção de que as soluções levam mais tepo para serem definidas do que no Contexto Simples. Contextos Complexos: “Houston, we have an Emergency” Quando a situação se “complica”, segundo Grilleti (2019), há pelo menos, alguma solução a ser buscada. Agora quando há um incremento de complexidade na situação-problema, as melhores soluções não podem simplesmente ser encontradas. Isto se assemelha quando da comparação de um problema mecânico em um carro (que pode ser desmontado e remontado, “igualzinho”, por um especialista) e um problema de saúde, de uma criança, que não é possível e não há manual capaz de assegurar uma solução a ser descoberta. Aqui reside o âmbito do DESCONHECIDO! Uma significitiva parcela dos negócios contemporâneos tem transitado por este reino. Figura 4 – Ilustração contexto complexo. Fonte: Pixabay, 2019 Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos As situações e soluções organizacionais em geral se caracterizam como de ordem complexa uma vez que as empresas estão envoltas num universo de imprevisível, fluxo e incerto. Muitas vezes as compreensões e identificações só são possíveis em carácter retrospectivo. A vida parece ser muito mais experimental, em que a imposição de um dado tom ou curso de ação, tende a ser menos eficaz. Há uma intensa investigação a ser desenvolvida. Contextos caóticos: a urgência é de uma resposta rápida Se em inúmeras mitologias o Caos traduz-se como um vazio (sem fim e sem definição), na Filosofia ele se caracteriza como um estado mais amplo e indiferenciado de elementos ausentes. Deleuze e Gattari (1993), traduzem bem isso: Pedimos somente um pouco de ordem para nos proteger do caos. Nada é mais doloroso, mais angustiante do pensamento que escapa a si mesmo, ideias que fogem, que desaparecem apenas esboçadas, já corroídas pelo esquecimento ou precipitadas em outras, que também não dominamos (p.237) Por conseguinte, em um estado caótico, a busca por soluções pare ser algum sem sentido, pois não se pode identificar relações de causa-efeito, devido ao fato de de modificarem constantemente sem que seja cabível nem delineável nenhum padrão, tão somente “turbulências”. Não estamos mais falando de alguma solução que esteja encoberta, mas sim de irreconhecibilidade. Imagine situações em que esta condição prevaleça: o 11 de Setembro (Torres Gêmeas – World Trade Center), o Hospital Público Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos de uma Grande Metrópole Brasileira, uma briga na “geral” do Estadio de Futebol de sua cidade, etc.). Figura 5 – Ilustração contexto caótico. Fonte: Pixabay, 2019. Atuação dos membros de uma Equipe de Trabalho quando diante de um contexto caótico não deve ser escavar por padrões, mas sim, na concepção e Grilleti (2019), é conter a crise. Imagine que você está andando na rua e distraído pisa em um caco de vidro, que lhe corta a planta do pé. Qual seria sua reação? Pelo menos de imediato, o que é mais importante? Estacar o sangramento, certo? Até que você faça isso, pouco importa o que o caco de vidro estava fazendo de bobeira lá na rua. O foco da intervenção da equipe não é investigar é sim, dotar de ordenamento ao contexto, para assim, conseguir identificar em que pontos pode fazer uso da estabilidade presente e quais não isto está ausente. As soluções do problema em contextos caóticos demandam primeiro uma resposta ordem, para assim, passar a tratar da complexidade que emergiu. Obviamente, novas oportunidades surgem, mas primeiro é preciso que haja a identificação de padrões que auxiliem a mitigar crises futuras, tanto quanto à discernir os meandros de possíveis soluções. A comunicação é imperativa: “ou faz algo ou morre na sarjeta”, não há tempo hábil para discussão. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos 2.1. Resolvendo problemas De acordo com o tipo de contexto enfrentado (a partir daqueles apresentados por Snowden e Boone, 2007) adotar uma abordagem que se embuta na resolução de problemas dependerá do objetivo inicial. A velocidade de reposta, em geral, será ditada pela capacidade de encontrar maneiras ágeis de identificar o problema em si e propor soluções. Um fator destacado por Grilleti (2019), que tende a catalisar a criação de solução ais ágeis é o grau de autonomia que às pessoas envolvias/afetadas é ofertado. Às pessoas, segundo a autora, é preciso apresentar o problema, de maneira que possam compreendê-lo suficientemente bem a ponto de serem capaz de proporem soluções a seu enfrentamento. Um método, por ela destacado é o denominado “Árvore de Problemas”. Figura 6 - Árvore de Problemas. Fonte: VAPORTEC, 2017. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos A Árvore de Problemas é composta pelas partes e estas são alocadas com os problemas no centro (Caule) conectando os efeitos (Topo) e as Causas (Raízes). Adicionalmente os problemas identificados são hierarquizados, com os mais complexos em cima e os mais abaixo. Esta hierarquização tem “razão de ser”: os elementos táticos e mais específicos que serão analisados primeiro. Sempre a partir de fatos e dados, as análises focam-se em arregimentar as pessoas naquelas hipóteses que tem maior potencial de solucionar o problema. As pessoas, então, são mobilizadas, pela recomendação erigida pelas análises da Árvore do Problema em si. Neste sentido, os passos que advêm desta mobilização podem ser traduzidos conforme a figura baixo representa: Figura7: Engajando as pessoas. Fonte: GRILLETI (2019) Ao nortear suas reuniões entenda que grande parte do sucesso de se sobrepor- se a um problema está na capacidade de: (a) identificar “Qual é o problema”; (b) construir uma solução para o problema, e; (c) entender quais foram as razões catalisaram o alcance da solução. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos 2.1.1. Definindo o problema Quando se enfrenta um problema é preciso encará-lo de forma que as pessoas se sintam inspiradas, provocadas, desafiadas, mobilizadas e instigadas a buscar uma (ou várias) solução. A maneira como delimitamos o problema pode encerrar a vontade ou incendiar o ímpeto com que os envolvidos/afetados se postem. Veja o exemplo apresentado por Grilleti (2019): Figura 8: Formas de delimitar o problema. Fonte: GRILLETI (2019) Para se enfrentar um dado problema é preciso torná-lo factível, dimensionável. Pois como dizia o Gato em “Alice no País das Maravilhas”: “quem não sabe para onde ir qualquer caminho serve”. Ou seja, sem saber ao certo quanto, quando, onde e como, não se pode enfrentar nada. Assim, é preciso confirmar se o problema está bem definido. Um bom exemplo de metodologia que nos auxilia no dimensionamento de um problema são as conhecidas SMART e MASP. Primeiramente na SMART temos, segundo Shahin e Mahbod (2007), a abreviação de Specific – Measurable – Achievable – Realistic – Time-bound A metodologia SMART tem como finalidade a construção de metas palpáveis. Neste sentido, ao rever um problema, sob esta perspectiva, serão dimensionados Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos “erros/distorções cognitivas” (causas). E assim, o que se põe em prática é a análise com base nos critérios do acrônico (cinco critérios) e propor uma revisão, de forma tácita ou explícita. Ou seja, o funcionará como uma ponte necessária que transporta da situação-problemática para a desejada. A metodologia desenha os esforços e recursos que serão mobilizados para a solução. Na tabela abaixo temos uma exemplificação da aplicação da SMART: Fonte: Urquiza (2018) Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos E, temos, em seguida, a MASP (LIMA at al, 2017): Metodologia de Análise e Soluções de Problemas A MASP segundo (LIMA et al, 2017) é constituído de oito ações concatenadas que, seguidas, nos encaminham à solução dos problemas, como esquematizado no passo a passo: 1º PASSO – IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA: Etapa que busca definir o problema e reconhecer sua importância. 2º PASSO – OBSERVAÇÃO: Fase em que as características especificas do problema são investigadas sob vários pontos de vista. 3º PASSO – ANÁLISE: Nesta, busca-se descobrir as causas fundamentais dos problemas. 4º PASSO – PLANO DE AÇÃO: Fase sequencial em que é necessário conceber um plano para bloquear as causas fundamentais. 5º PASSO – IMPLEMENTAÇÃO DO PROBLEMA: Etapa onde ocorre o bloqueio das causas fundamentais. 6º PASSO – VERIFICAÇÃO: Neste, é necessário verificar se o bloqueio realizado na etapa anterior foi efetivo. 7º PASSO – PADRONIZAÇÃO: Em sequência é efetuado a prevenção contra o reaparecimento do problema, através da padronização das ações operacionais do processo. 8º PASSO – PLANO DE AÇÃO: Etapa importante que busca recapitular todo o processo de solução para aplicação em trabalhos futuros que ocorram em contexto similar. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos A elaboração de um plano de ação possibilita visualizar e gerir as ações de maneira mais organizada, definindo os principais prazos e responsáveis pelas ações. Portanto, são definidos os seguintes objetivos: 1. Saber onde quer chegar. 2. Criar metas que são mensuráveis. 3. Listar as tarefas que serão executadas. 4. Dividir as grandes tarefas em partes menores para que sejam de mais fácil gestão e controle. 5. Decidir os prazos para a execução e entrega cotidiana. 6. Criar um esboço para que a se tenha uma visualização do seu plano de ação. 7. Acompanhar periodicamente as ações. Segundo os autores, a MASP se referencia na busca por padronização de ações (leia-se procedimentos), sempre com foco na “correção das falhas” e no estabelecimento de práticas de “prevenção de novos problemas”. Dito de outra forma, ao se adotar os oitos passos do MASP, se está, na verdade, promovendo “ações corretivas e preventivas”. Um exemplo desta metodologia pode ser visualizado na tabela a seguir: https://i2.wp.com/blogdaqualidade.com.br/app/uploads/2012/06/MASP1- menor.png?ssl= O interessante desta metodologia é a possibilidade de se detalhar o problema e sua respectiva causa. Pois ao se fazer uso seu operador será capaz de fragmentar as falhas em menores porções, facilitando a adoção de ações corretivas mais eficaz. Diferentemente da SMART, esta metodologia tem um caráter mais cíclico. Diante de um certo problema, conforme Grilleti (2019) destaca que, ao passar pelo crivo acima descrito, e proceder aos ajustes necessários, você estará pronto avançar na construção de uma resolução ao problema. Uma ferramenta interessante https://i2.wp.com/blogdaqualidade.com.br/app/uploads/2012/06/MASP1-menor.png?ssl https://i2.wp.com/blogdaqualidade.com.br/app/uploads/2012/06/MASP1-menor.png?ssl https://i2.wp.com/blogdaqualidade.com.br/app/uploads/2012/06/MASP1-menor.png?ssl= Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos na Definição de Problemas é apresentada pela autora, no intuito de formatar o problema. Para tanto acesse o respectivo formulário através do link: https://images.endeavor.org.br/uploads/2017/03/Problem-Solving-02-07-10- 1.png 2.1.2. Estruturando o problema Segundo Grilleti (2019) quando uma equipe precisa dimensionar o tamanho do problema a ser enfrentado há a necessidade de se considerar alguns aspectos importantes: A. Fazer uma versão preliminar, já de saída. Todo o trajeto precisa ser iniciado com um primeiro passo. A fim de se evitar despender muito tempo na busca pela árvore ideal é preciso foco. Cada problema demanda, segundo Grilleti (2019), em muitos casos, mais de uma solução. Cada passo dado na direção de uma solução é uma resposta a sua resolução. Experimentar diferentes maneiras de montar a árvore (neste primeiro instante) é de grande valia a fim de se entender melhor o problema. B. Desenho de forma simplificada, depois ajuste (conforme entender necessário). Como vimos a pouco, as Árvores de Problemas são construídas tendo como referências os fatos e dados acessados, assim, ao passo que novos fatos são desvelados ela vai se modificando. C. Busque novas perspectivas. Reuniões para se discutir hipóteses tendem a focar a criatividade de todos os envolvidos e aumentam a probabilidade de melhores respostas emergirem. E óbvio acaba sendo mais divertido, com certeza! Um bom exercício para isso é coletar a perspectiva de um especialista na área, ou mesmo o “chefão”, e a visão o estagiário e identificar suas diferenças e semelhanças. D. Execute cada ação, focada nela mesma (“Um passo atrás do outro”). Traçar diferentes caminhos é imprescindível: testagens, experimentações, simulações dão diferentes perspectivas sobre o problema. https://images.endeavor.org.br/uploads/2017/03/Problem-Solving-02-07-10-1.png https://images.endeavor.org.br/uploads/2017/03/Problem-Solving-02-07-10-1.png Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Por fim, para a consolidação e implementação do plano de ação se faz necessário apresentar o resultado não apenas financeiros para a empresa, mas também para a harmonizaçãoda equipe. Ou seja, é necessário "vender" o resultado da implementação que se está propondo. Utilize os indicadores das problemáticas analisadas, assim como o impacto destes problemas para a organização/relação. Estes números têm um grande impacto para que a alta direção, geralmente responsável pela aprovação da execução de um plano de ação, uma vez que, visam a melhoria da situação do negócio/organização. Síntese Após a definição e a estruturação do problema, cabe coletar os fatos e dados subsidiarão o estabelecimento das análises e, nesta toada, o levantamento das hipóteses. É preciso ter claro que o que guia este momento precisa ser a imparcialidade. Retomar a perguntar elaborada, para poder se aprofunda no problema e na busca por soluções. Mais do que propor uma solução é preciso que esta evidencie os elementos comuns entre os fatos. A proposição é agora socializada entre os membros da equipe e os envolvidos/afetados pelo problema. Primeiro, explicar o problema; segundo, apresentar a solução encontrada; terceiro e mais importante, a meu ver, explanar as razões que levaram a desenhar a solução. A Resolução de Problemas demanda, por parte dos membros das Equipes de Trabalhos, bem como de todos os envolvidos/afetados pelo problema, abertura para mudar em um nível individual. É preciso que toda a Equipe se imbuia de compreensões e entendimentos sobre os diferentes contextos e modo como se dá a transições entre um e outro. Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Conhecimentos estudados: Pessoas e equipes e solução de problemas; A dinâmica de Equipes de Trabalho; Vantagens e desvantagens da atuação de Equipes de Trabalho Definição do Problema; Ferramentas para a resolução de problemas; Estruturação do Problema; Resolução de Problemas; Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos Bibliografia ALBUQUERQUE, F.J.C.; PALÁCIOS, K.E.P. Grupos e equipes de trabalho nas organizações. In: ZANELLI, J.C. et al. Psicologia, trabalho e organizações no Brasil. Porto Alegre: Artemed, 2004. DELEUZE, G.; GUATARRI, F. O que é filosofia? São Paulo: Editora 34, 1993. GRILLETTI, L. Resolução de Problemas: como treinar um time orientado a soluções. Endeavor Brasil, 03 de março, 2017. Disponível em <https://endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/resolucao-de-problemas-como- treinar-um-time-orientado-solucoes/>, 13 de Março de 2019. LIMA, A.C. ;QUIARATO, M.A.; CORREA, T.H.P.; FUZETO, A.P. Aplicação e desenvolvimento do masp (método de análise e soluções de problemas) em instituição sem fins lucrativos. XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO, Joinville, 10 a 13 de outubro de 2017. Acessado em 31 jul 2019, através do link: http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_WIC_239_389_31416.pdfPALÁCIOS, K.P.; ROMÁ, V.G. Gestão de equipes de trabalho. In: BORGES, L.O.; MOURÃO, L. O trabalho e as organizações. A atuação a partir da Psicologia. Porto Alegre: Artmed, 2013. RAJ, P.P. et al. Gerenciamento de pessoas em projetos. 2.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010. SARTRE, J.P. O existencialismo é um humanismo. São Paulo: Abril, 1978 SHAHIN, A.; MAHBOD, M.A. Prioritization of key performance indicators: an integration of analytical hierarchy process and goal setting. International Journal of Productivity and Performance Management, v.56, n.3, p.226-240, May/June 2007. SNOWDEN, D. J.; BOONE, M. E. A leader’s framework for decision making. Harvard Business Review, November, 2007. Disponível em <https://hbr.org/2007/11/a- leaders-framework-for-decision-making>, 13 de Março de 2019. SOARES, M.C.M. Pensamento sistêmico e processos: desenvolvimento de um método de análise sistêmica da situação organizacional para orientação do redesenho de processos. Dissertação [de Mestrado em Engenharia de Produção]. Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2012. Acessado em 24 jul 2019 através do link: http://objdig.ufrj.br/60/teses/coppe_m/MarianaCostaMattosSoares.pdf https://endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/resolucao-de-problemas-como-treinar-um-time-orientado-solucoes/ https://endeavor.org.br/desenvolvimento-pessoal/resolucao-de-problemas-como-treinar-um-time-orientado-solucoes/ http://www.abepro.org.br/biblioteca/TN_WIC_239_389_31416.pdf https://hbr.org/2007/11/a-leaders-framework-for-decision-making https://hbr.org/2007/11/a-leaders-framework-for-decision-making http://objdig.ufrj.br/60/teses/coppe_m/MarianaCostaMattosSoares.pdf Análise e Resolução de Problemas Profissionais – Como lidar com situações em diferentes contextos URQUIZA, V.M. Aplicação de técnicas da gestão da qualidade para resolução de problemas. Trabalho de Conclusão de Curso em [Engenharia Civil]. João Pessoa: UFPB, 2018. Acessado em 31 jul 2019, através do link: https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/13645/1/VMU19062018.pdf VERGARA, S.C. Gestão de pessoas. 16.ed. São Paulo: Atlas, 2016. ZANCHET, T.; PAULA, I.C.; RODRIGUES, C.M.C. Proposição de um método de desenvolvimento de equipes a partir de uma perspectiva multidisciplinar. In: Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial, Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011. Acessado em 24 jul 2019, através do link: http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2011_TN_STO_142_899_18165.pdf https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/13645/1/VMU19062018.pdf http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2011_TN_STO_142_899_18165.pdf
Compartilhar