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ANGÚSTIA DE CASTRAÇÃO
Syandra S. Barros Rodrigues
Origem da angústia
Nas pesquisas sobre o tema da angústia de castração nos deparamos com comparações entre os princípios das teorias de angústia elaboradas por Freud e as teorias posteriores, consideradas mais contemporâneas, de Lacan.
A palavra angústia surge nas colocações de Freud quando ele expõe suas teorias sobre neurose e apresenta o termo “neurose de angústia”. Diferentemente da neurastenia que enfraquece a excitação, Freud percorreu o mesmo caminho da sexualidade, neste caso, chegando à compreensão de um acúmulo de excitação, em suas palavras, um “acúmulo de tensão sexual física”. Esta angústia não estaria localizada neste acúmulo, mas surgiria pela transformação a partir de seu acúmulo. 
	Há uma tensão física que exige corporalmente do sujeito, porém sua percepção é, apenas, psíquica. Para que a descarga psíquica seja realizada a libido precisa ser despertada por algum contato de ideias sexuais e o sujeito é constrangido a liberar o afeto sexual da psique. Freud deu a esse processo o nome de “ação específica”.
	O coito interrompido é considerado totalmente incapaz de proporcionar a descarga ideal e se associa à neurose de angústia. A tensão física não é transformada em um afeto libidinal, não ativa o grupo psíquico que se ajusta com a sexualidade, mantendo a tensão sexual somática no corpo. Sem possibilidade de escoamento, a tensão se transforma em angústia. O emprego anormal dessa excitação é a neurose de angústia.
	No decorrer de seus estudos, Freud expõe a angústia como um tipo de aviso sobre perigos que são provenientes de alguma forma de perda: “o desamparo psíquico do recém-nascido, o receio infantil de perder a pessoa de quem se depende, a perda do amor, o medo de perder o órgão genital na castração e o temor da perda do amor do supereu por não estar à altura de suas exigências”.
	O nascimento se resume numa experiência traumática em sua origem, é a angústia primitiva que é o ponto de partida para o caráter traumático a uma sequência de vivências ulteriores desabrochando novas formas de angústia. Estas angústias estariam embasadas na repressão e teriam origem no trauma do nascimento. 
Em artigo datado de 1937, chamado Análise terminável e interminável, Freud afirma que no fim de todos os tratamentos que conduziu, os homens continuavam com o ideal fixo da ideia de castração e que, as mulheres se fixavam na reivindicação do pênis. Que para ele, essa barreira era intransponível para os neuróticos.
	O objeto fálico seria o marco da ameaça de perda no homem e do interesse da mulher. De acordo com a visão freudiana, no complexo de Édipo, a angústia de castração se depara com uma situação não solucionável, o menino é proibido de investir libidinalmente na mãe e a perda do objeto materno é a certeza de que ele nunca estará imune aos impulsos pulsionais. 
	Nesse ponto, abre-se um parêntese para a teoria de Lacan que vem sendo respeitada e aceita na contemporaneidade. Sobre a angústia, Lacan evidencia que a impossibilidade de possuir o objeto materno é que estrutura o desejo. Nesse caso, a angústia não estaria ligada à sua situação de castração pelo incesto, uma vez que, o desejo do pai pela mãe impossibilita esse incesto e tem como função de normalizar o comportamento. O desejo proibido pela mãe não seria a causa da angústia neurótica, já que o neurótico assumiria o desejo do pai pela mãe e, através desta castração, ele se tornaria capaz de sustentar seu próprio desejo. 
	Lacan não concorda com a barreira intransponível citada por Freud a respeito dos neuróticos em análise. Em sua teoria, Lacan explica que “a perda dos objetos assume um valor fundamental na constituição do desejo: o objeto oral, anal, esópico e a voz. Se na infindável busca pelo objeto fálico a própria castração é o lugar onde uma falta capital engendra a função do desejo, resta saber o que jaz no centro dessa falta”. 
	O tema deste trabalho irá se ater às teorias de Sigmund Freud devido à sua incalculável contribuição para a Psicanálise no geral.
O representativo da sexualidade na psicanálise é o falo, o que leva à consideração de uma realidade apenas masculina. Na menina, a trama edipiana será vivenciada na adolescência. O complexo de Édipo é destruído no menino devido ao complexo de castração, enquanto na menina, ele pode ser introduzido por ele. Para Freud, a mulher não apresenta angústia de castração e sim, uma castração realizada, sendo uma castração ameaçada e a outra, executada.
Nos registros imaginário e simbólico, em termos de imagem associada, isto pode causar grande estranheza, uma vez que, quando se fala em “falo”, a maioria das pessoas associa à imagem do “pênis”, literalmente. Enquanto pesquisas apontam que Freud faz uso da expressão “falo” para designar o objeto do desejo como num deslocamento da biologia. Independente da origem do uso do termo fica claro que, simbolicamente, o representante do falo no imaginário comum é a figura do pênis. Na psicose existe uma forma específica radical de defesa do sujeito que recusa o falo.
Freud afirma que a angústia de ser castrado no menino acontece a partir do momento em que este recebe ameaças externas e não deve ser entendida como uma ação real. A angústia de castração acontece porque ele acredita no perigo dos adultos que brincam dizendo que vão cortar o pênis fora, da mãe que pune pela manipulação do pênis pela criança ou pela tentativa de masturbação e até enurese noturna. 
No menino, quando a angústia de castração é vivenciada, ocorre como consequência a dissolução do complexo edípico. Ele não mais investirá sua libido no objeto de desejo incestuoso por causa do temor da castração, a tendência é a sublimação dos impulsos sexuais para atividades sócias. Período esse em que o menino se depara com a ausência do pênis na menina, fantasia que elas foram punidas por algo errado que fizeram e foram castradas, tendem a desprezá-las por isso e se comportarem como seres superiores.
Está presente a dialética castigo/promessa na teoria freudiana que se apresenta de forma diferente entre os gêneros. A menina não recebe castigo por desejar a mãe, não existe essa relação no complexo de Édipo. O fato de nascer menina já seria, em si, um castigo, a promessa pode ser algo novo, como o desejo de receber do pai um falo. Já para o menino, a castração tem peso de castigo por ter desejado a mãe, a possibilidade de desejar outorga reconhecer o lugar de filho, a condição para o desejo é a falta, isso está no campo da promessa. O ponto comum parece ser a busca do todo.
	Como consequência da diferença salienta-se a fragilidade da estrutura superegóica na menina. Segundo Freud, não há declínio do complexo de Édipo na menina, pelo contrário, o temor da castração que surge na puberdade é a porta de entrada para ele. Sendo o superego o resultado final deste complexo haverá uma fraqueza na estrutura que diz respeito à instância moral. Ou seja, diminui na menina um forte motivo para o estabelecimento do superego.
	A exemplo disso, Freud expõe em suas obras uma espécie de menor senso de justiça nas mulheres, afirmando que há diferença de nível entre o que é eticamente normal para elas e o que é eticamente normal para os homens. O superego feminino nunca se mostra independente de suas origens emocionais, não é tão implacável ou impiedoso. Não obstante, a análise da estrutura edípica se mantém centrada no menino.
Em relação à fobia, Freud afirma que ela pode ser uma formação substitutiva do enfrentamento, sua função é evitar o conflito, evitando assim, a angústia. O sujeito constrói a fobia, evitando entrar em contato com o objeto do medo, dirigindo esse medo a outro objeto e detona o mecanismo de inibição. No caso conhecido em que Freud relata o tratamento de seu paciente Hans, ele afirma que o menino construiu a fobia, dirigiu sua angústia a um objeto substituto, no caso, um cavalo branco a quem ele temia e não mais a seu pai. Assim, de maneira deturpada, a angústia de castração de Hans se transforma na angústia de ser mordido por um cavalo.Em seu artigo - Sobre o tratamento de um menino de sete anos: reflexões sobre inibição e angústia – em que relata o atendimento ao menino Pedro de sete anos, a psicanalista Ana Carolina Teixeira Pinto conta que a criança apresentava queixas sobre a inutilidade do pai em lhe proteger do que ele considerava um comportamento ameaçador da mãe, que nos relatos aparece como o desejo de dormir com o filho contra a vontade do pai. Durante o tratamento, em especial no início, Pedro desenhava conteúdos ameaçadores como monstros e figuras estranhas e, oralmente, descrevia ameaça de ser capturado, engolido e preso por eles. Sempre se colocava como o personagem que teria de lutar das ameaças aterrorizantes.
	Em suas considerações finais, Ana Carolina revela que obteve sucesso com a queixa primária da família de Pedro que se tratava do fato dele não conseguir escrever aos sete anos de idade. E faz um paralelo com a teoria freudiana que diz que na fobia, a angústia pode ser evitada ao se afastar o sujeito do objeto fóbico, mas que a construção da fobia não é em si suficiente para proteger o sujeito da angústia. É necessária a somatória da inibição que tem como objetivo evitar o objeto fóbico. No caso de Pedro, a angústia secundária foi apresentada como primária pela família, o que costuma ser muito comum.
	Na psicanálise freudiana, a neurose e a psicose são a tradução do fracasso do sujeito em aliar as exigências pulsionais e as exigências civilizatórias que têm origem nas frustrações que marcam a vida na infância. A diferença entre os dois quadros é que a neurose resulta do conflito do eu com o objeto enquanto a psicose resulta das dificuldades na relação do eu com o mundo exterior.
	No âmbito das perversões, Freud cita o fetichismo como exemplo do impacto do temor da castração quando o sujeito se vê atingido pela ameaça do confronto da ausência do pênis nas mulheres. Cria-se o fetiche para evitar ou desmentir (Verneinung) a castração e retirar a possibilidade da ausência do pênis evitando o conflito e angústia. 
A lógica das respostas neuróticas e psicóticas se sustentaria nesse mesmo viés, “a realidade da castração anunciada pela figura paterna que se impõe para o sujeito e o leva a erigir respostas defensivas em suas diversas modalidades”. 
Quando Freud iniciou a exposição de seus estúdios sobre a existência e a vivência da sexualidade na criança, através de estágios do desenvolvimento sexual, houve grande controvérsia de repulsa e aversão por parte da maioria da sociedade da época. Freud também ampliou o conceito da sexualidade para além do órgão genital. Esta indignação e rejeição ao estudo da sexualidade trazem à luz as próprias neuroses enfrentadas pela humanidade, pois apenas o fato de sua investigação provoca incômodo, agressividade, algo de recalcado.
O caminho percorrido na infância foi explanado como estágios de desenvolvimento, as alterações no desenvolvimento da sexualidade, por exemplo, quando acontece a “não aceitação” da castração na neurose que impede o processo de simbolização e desencadeia a inversão de afetos, ocorre a aversão sexual.
Os comportamentos e experiências dos meninos na fase em que se deparam com a ausência do pênis nas meninas podem gerar consequências no futuro de alguns homens. Na vida adulta, eles podem apresentar sintomas neuróticos de aversão à ausência do pênis nas mulheres e desprezo por elas, fato que ocorre com alguns homens homossexuais.
A menina descontente por ter nascido sem pênis se afastará da mãe para uma aproximação com o pai, desejando ter um filho com ele para substituir o pênis que não teve. No entanto, quando esse canal para a dissolução satisfatória do complexo edipiano nas meninas não acontece e, sua feminilidade não se constitui, existe a possibilidade de aversão à masturbação e a qualquer tipo de interesse sexual, insatisfeita com o próprio órgão genital, ela pode manter o desejo inicial de possuir um pênis no futuro buscando autoafirmação na masculinidade. Freud indica que essa escolha pode levar a uma orientação homossexual. Vale lembrar que os escritos de Freud a respeito da homossexualidade são muito questionados na atualidade já que, ele a considerava uma perversão.
Diante de várias pesquisas, o que se pode observar é que o tema é vasto e tem muitos pormenores desde seu conceito inicial, o aparecimento das neuroses e psicoses e os tratamentos analíticos. Estudos mostram a busca dos profissionais pela transformação dos quadros neuróticos, dando lugar à simbolização e à sublimação, rompendo com o processo patológico e criando laços sociais.
REFERÊNCIAS
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TERZIS, Antonios; OLIVEIRA, Gustavo Presídio de. Aversão sexual sob uma perspectiva freudiana. Psicologia , Lisboa, v. 23, n. 1, p. 149-163, janeiro de 2009.
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