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A influência da cinesioterapia na fase ativa do trabalho de parto Karla Rachel Oliveira Chaves 1 rachel_chaves@hotmail.com Dayana Priscila Maia Mejia 2 Pós-graduação em Fisioterapia em Urologia, Obstetrícia e Mastologia – Faculdade Ávila Resumo O presente artigo mostra que o puerpério é o momento em que ocorrem alterações a partir do retorno de todos os sistemas ao estado pré-gestacional. O trabalho da fisioterapia no puerpério está relacionado à prevenção e tratamento de alterações músculo-esqueléticas, respiratórias e circulatórias, englobando também as orientações gerais. Porém, a avaliação e o tratamento fisioterapêutico não ocorrem de forma frequente, no entanto deveria ser incluído na rotina hospitalar, visto os benefícios e ação profilática de várias condições do puerpério. O objetivo deste trabalho foi verificar a influência da cinesioterapia na fase ativa do trabalho de parto. Constam, nesse estudo, os principais trabalhos disponíveis, em forma de livros, artigos científicos e revistas publicadas, com o objetivo de agrupar e apontar a evolução de conhecimento sobre o tema e resumindo o que é realmente de interesse. Palavras-chave: Fisioterapia. Cinesioterapia. Parto. Fase Ativa. 1. Introdução De acordo com Rezende e Montenegro (2006), o parto é o estágio resolutivo do ciclo grávido- puerperal. Sendo um fenômeno complexo que o concepto realiza no seu percurso pélvico- genital, onde a gravidez foi uma evolução e o puerpério a involução. O parto é acontecimento mecânico que sucede, completa e finda harmoniosamente todos estes eventos. Os mesmos autores salientam ainda que, para tratadistas, o parto seria a expulsão de feto vital, para o mundo exterior, através das vias genitais. Definição que excluía a extração do produto conceptual por qualquer outro trajeto (laparotomias para a gravidez ectópica e operação cesariana, chamadas de parto abdominal). Segundo Sabatino (2005) e Diniz e Duarte (2004), o trabalho de parto é dividido em três fases: dilatação, expulsão e secundamento. A primeira fase tem dois períodos: a passiva e a ativa. A fase passiva é um período latente, ou de falso trabalho de parto, na qual as contrações podem começar e, após algum tempo, parar. É o momento em que o corpo se prepara para o parto, através da manifestação de hormônios secretados pelo próprio corpo materno. O bebê, neste período, encontra-se com a cabeça encaixada na pelve. A parede do útero passa de sua forma espessa para uma estrutura mais delgada, sensível. O colo se esvaece e o início das contrações leva à expulsão do tampão mucoso. Este processo pode levar dias e até semanas. Quando as contrações chegam numa média de 15 por hora temos um trabalho de parto real com duração de 40 a 50 segundos cada contração. Temos, então, o início da fase de dilatação ativa. Não se recomenda internação anterior a esta fase, mas sim, após 4 centímetros de dilatação. Um trabalho de parto real na primeira gestação pode levar de 6 a 24 horas (SABATINO, 2005; DINIZ; DUARTE, 2004). Oliveira (2003) pontua que a fisioterapia se firma como profissão e ciência ao ampliar cada vez mais seu campo de atuação. Encontra-se em grande crescimento nas áreas de geriatria, 1 Pós-graduanda em Fisioterapia Urologia, Obstetrícia e Mastologia. 2 Orientadora. 2 ginecologia e obstetrícia, dermatologia funcional, esporte e exercício, acupuntura e terapias holísticas. Para Oliveira (2003) a Fisioterapia e exercícios físicos regulares desde o inicio da gestação são benéficos à saúde materna e fetal. Atuam no controle postural da coluna vertebral, previnem dores, evitam um trabalho de parto prolongado, ajudam no controle da ansiedade e estresse, e reduzem o número de indicações ao parto cesárea. A Organização Mundial da Saúde propõe, desde 1996, a revisão de técnicas especializadas apropriadas para o parto, preconizando a movimentação da parturiente durante a fase ativa, a mudança e livre escolha de posições durante as contrações e não ficar na posição supina durante o trabalho de parto. Oliveira (2006) assinala que a cinesioterapia (CT) é uma técnica fisioterapêutica de baixo custo, fácil adesão, boa reprodutibilidade. Ela tem como objetivo a reeducação e restauração da parte musculoesquelética oferecendo melhores condições e qualidade de vida para a mulher. A CT pelviperineal é direcionada a estática pélvica e uroginecológica, oferecendo melhores condições para as continências urinária, fecal e sexual. 2. Anatomia e fisiologia Segundo Baracho (2007), a coluna vertebral consiste de cinco regiões: cervical com sete vértebras, torácica com doze vértebras, lombar com cinco, sacra com cinco vértebras fusionadas e coccígea com quatro vértebras. Dando um total de 33 vértebras, com 24 delas formando regiões distintas: cervical, torácica e lombar, sendo presente nestas, discos intervertebrais desde o axis até o sacro, oferecendo um suporte elástico. As vértebras aumentam de tamanho da cervical para a lombar e diminuem da região sacra para a região coccígea. A coluna vertebral consiste de quatro curvaturas. As duas curvas que possuem uma convexidade posterior (concavidade anterior) são denominadas de curvas cifóticas (regiões torácica e sacra). As regiões que possuem duas concavidades posteriores são a cervical e a lombar (convexidade anterior) que são denominadas curvas lordóticas. A mesma autora assinala ainda, que os corpos vertebrais na região lombar são maiores e mais largos do que aqueles na região torácica e cervical; seus tamanhos maiores permitem sustentar as cargas maiores às quais a coluna lombar está sujeita. A pelve funciona como um escudo protetor para os importantes conteúdos pélvicos, suporta o tronco e constitui a parte óssea do mecanismo pelo qual o peso do corpo é transferido para os membros inferiores ao andar e, às tuberosidades isquiáticas ao sentar. A pelve é constituída pelos seguintes ossos: íleo, ísquio, púbis (que são os ossos do quadril – cada homem possui um par de ossos do quadril, dispostos simetricamente e ligados entre si pela sínfise púbica), sacro e cóccix. Eles são presos juntos por alguns dos ligamentos mais fortes no corpo (POLDEN, 2002). As três partes do osso do quadril são unidas, na região do acetábulo (onde se articula a cabeça do fêmur), por uma ligação cartilagínea em forma de Y que ossifica por volta do 13º- 18º ano de vida (SOBOTTA, 2006). A articulação do quadril é do tipo esferóide com possibilidade de movimentação em flexão, extensão, adução, abdução, rotação medial e rotação lateral (SOBOTTA, 2006). Amplitude normal de movimentos no quadril: Extensão- 0º, flexão- 120º, abdução- 45º, adução- 30º, rotação externa- 45º e rotação interna- 45º (BROWN, 2001). Existem quatro tipos de forma da abertura superior da pelve humana: A ginecóide, que é arredondada, mais favorável ao parto, sendo a mais comum entre as mulheres; androide, que possui forma de coração, sendo a mais comum entre os homens; antropóide, que possui forma alongada e, finalmente a platipelóide, que possui forma achatada (POLDEN, 2002). 3 A pelve feminina, mais leve e delicada em seu arcabouço ósseo, é também mais rasa. Sacro e cóccix, mais planos, são menos salientes anteriormente do que na pelve masculina, para não angustiar o canal de parto. Com arco púbico mais aberto e sacro mais largo, a pelve feminina é mais larga e os quadris mais amplos. As partes altas dos fêmures também são mais afastadas uma da outra (SOBOTTA, 2006). Segundo Polden (2002), os diâmetros da pelve verdadeira ginecóide têm de entrada, em A/P (ântero-posterior) – 28 cm, em oblíquo – 30,5 cm, em transverso – 33 cm; já na cavidade média, em A/P – 30,5 cm, em oblíquo – 30,5 cm, em transverso – 30,5 cm; e na saída, em A/P – 33 cm, em oblíquo – 30,5 cm e, em transverso – 28 cm. São três as articulaçõesdo cíngulo dos membros inferiores, as duas sacro-ilíacas (das mais importantes articulações do corpo, pela enorme carga que deve suportar) e a sínfise púbica (que é a articulação anterior do cíngulo pélvico formada pela união do púbis direito e esquerdo). Elas são construídas de modo a permitirem mobilidade mínima. Quanto aos movimentos fisiológicos: a pelve se movimenta em três planos: sagital, frontal e horizontal. No plano sagital, realiza o movimento de anteroversão, que é a inclinação pélvica anterior e, o movimento de retroversão, que é a inclinação pélvica posterior. No plano frontal, a pelve realiza o movimento de inclinação pélvica lateral direita e o movimento de inclinação pélvica lateral esquerda. No plano horizontal, realiza os movimentos de rotação para direita e de rotação para esquerda (FATTINI, 2007). Figura 1: Anatomia perineal. Fonte: Netter, 1978. 4 O assoalho pélvico consiste em múltiplas camadas de músculos que se estendem entre o púbis e o cóccix, formando o suporte inferior da cavidade abdômino-pélvica. O assoalho pélvico feminino dá passagem para a uretra, vagina e o reto (KISNER, 2005). Os músculos que compõem esta superfície pélvica interna, são os músculos: Coccígeo, o Elevador Ani, que é formado pelos músculos Iliococcígeo, Pubococcígeo e Puborretal; o Bulboesponjoso, Perineal Superficial Transverso, Perineal Profundo Transverso, Músculo do Esfíncter Anal Externo e o Isquiocavernoso (POLDEN, 2002). Já, Kisner (2005) nomeia os músculos Pubococcígeo, Puborretal e Iliococcígeo como Músculo Levantador do Ânus. O elevador do ânus, dos dois lados, forma uma tipóia muscular eficiente que suporta e mantém as vísceras pélvicas em posição (SILVA, 2003). O assoalho pélvico pode ser comparado a uma rede de dormir e sua musculatura possui orientação em oito (8). O assoalho pélvico tem como funções, o suporte aos órgãos pélvicos e a seus conteúdos, suporta aumentos na pressão intra-abdominal, proporciona controle esfincteriano da bexiga e do intestino e ainda funciona em atividades reprodutivas e sexuais (KISNER, 2005). 3. Parto O parto constitui-se em um momento em que as expectativas e ansiedades que acompanharam a gestante ao longo de meses, acabam por tomar uma dimensão real, a escolha do tipo de parto, pois este é um evento que acompanha todo o processo de gestação e puerpério, uma vez que ele já é antecipado na gravidez sob a forma de expectativas, e continua sendo referido após sua conclusão, na forma de lembranças e sentimentos que acompanham a mãe, fazendo parte de sua história (LOPES et al, 2005). Para Costa et al. (2001), o parto esta dividido em quatro fases clinicas, que são denominados períodos clínicos do parto: • Primeiro período: Dilatação. Compreende o intervalo desde o inicio do trabalho de parto a dilatação completa. • Segundo período: Expulsão. Compreende o período entre a dilatação completa e o desprendimento do feto. • Terceiro período: Dequitação. É o período de tempo entre a expulsão do feto e a expulsão da placenta. • Quarto período: É a primeira hora apos a expulsão da placenta. 3.1 Parto Normal Segundo Rezende e Montenegro (2006), o parto pode ser normal ou eutócico (transcorrer fisiologicamente) ou perturbado com condições anormais (distócico). A princípio, o Parto Normal é definido por seus aspectos positivos, como por ser mais fisiológico, mais saudável, mais emocionante e satisfatório para a gestante, tornando-se o parto ideal. Contudo vários médicos referem insegurança e imprevisibilidade com o parto normal em relação ao seu ponto de vista, quando afirmam que durante o parto normal nunca se sabe realmente o que pode acontecer (CHACHAM, 2002). 5 Figura 2: Caminhando para o parto normal. Fonte: Diniz e Duarte, 2004. Para Diniz e Duarte (2004), o parto normal é o chamado parto vaginal, ou seja, aquele que é conduzido com a mulher imobilizada, ou semi-imobilizada, e em posição de decúbito dorsal durante o período expulsivo, a mesma permanece privada de alimentos e líquidos por via oral, algumas situações faz-se necessário o uso de drogas para a indução ou aceleração do parto, como também o uso de fórceps e quase que de forma rotineira a episiotomia. 3.2 Parto Cesárea Para Rezende (1998, p. 1173), “[...] cesariana, cesária ou tomotocia é o ato cirúrgico consistente em incisar o abdome e a parede do útero para libertar o concepto desenvolvido.” Para Burroughs (1995, p. 363), “[...] a cesariana é o nascimento da criança através de uma incisão cirúrgica na parede abdominal e no útero.” O índice de cesarianas tem aumentado muito na última década. Uma das razões para isto é a disponibilidade de antibióticos e de sangue total, que a tornam menos perigosa, sendo realizada por razões maternas e fetais. A tabela 1 mostra o número de partos normais e cesáreos realizados na cidade de Manaus no período de 2008 a maio de 2012, com dados extraídos do Sistema de Informação de Nascidos Vivos - SINASC. 6 Gráfico 1: Número de partos cesárea e normal na cidade de Manaus nos anos de 2008 a maio 2012. Fonte: SINASC, 2012. Vemos que há pouca diferença do parto normal para a cesárea, porém, de acordo com Sallet (2000) a opção pela cesariana é reservada ao médico, que só a fará se houver uma real necessidade, pois se trata de uma cirurgia de grande porte, que pode ser evitada a todo custo. O medo que a mulher tem da dor do parto é injustificada, já que o pós-operatório de uma cesariana será invariavelmente, tão ou mais doloroso do que às doze horas de trabalho de parto, com duração em média de uma semana. 3.3 Fase ativa Rezende e Montenegro (2006) referem que a fase latente dura em média 20 horas nas primíparas e 14 horas nas multíparas. O parto propriamente dito (fase ativa) tem o período de dilatação se completando em cerca de 12h nas primíparas e 7h nas multíparas; a expulsão leva, respectivamente, 50 e 20 minutos. E mais, empregando assistência ativa à parturição, ocorre dentro de seis horas, em geral o período de dilatação. De acordo com Rodrigues et al. (2008), ao iniciar a fase ativa do trabalho de parto ocorre a contração da musculatura longitudinal que empurra o feto em direção ao colo do útero, lembrando que este tem sua função inibida para poder dilatar-se. A musculatura uterina é organizada de forma que a parte superior se contraia fortemente, por isso, durante a gravidez, esta parte é potencializada, a fim de deslocar o feto até o canal de parto. Para Baracho (2007), a fase ativa provoca na mulher diferentes graus de desconforto, pois as contrações são mais fortes e mais longas, prossegue a descida do feto. Ao iniciar o trabalho de parto, a mulher é orientada a inspirar profundamente, focar sua atenção num objeto escolhido e expirar lenta e profundamente, usando o peito, e no final da contração, ela novamente deve inspirar. Esta respiração permitirá que a parturiente descanse. Este método poderá ser feito com a mulher deambulando ou em posição de Sims. À medida que vai evoluindo o trabalho de parto, e a mulher entra na fase ativa do parto, a respiração torácica lenta já não é tão eficiente, então a mulher é estimulada a iniciar a respiração lenta, passar para uma mais curta, e quando a contração atingir seu pico, voltar à lenta (BRASIL, 2001). Parto Normal Parto cesárea 2008 2009 2010 2011 2012 19668 20835 19536 20232 4937 18632 18739 19814 20198 5263 Partos em Manaus Parto Normal Parto cesárea 7 4. Fisioterapia no parto Segundo Baracho (2007), a parturiente tem necessidades básicas que precisam ser atendidas para o seu completo bem-estar. A mulher em todos os momentos de um parto encontra-se com suas necessidades alteradas, necessitando de ajuda no que se diz, respeito as alterações ocorridas em função da gestação. A mesma autora salienta ainda que afisioterapia obstétrica atuará durante toda a gestação, com o objetivo de preparar a evolução de gestação, como também no trabalho de parto, com o intuito de minimizar os distúrbios fisiológicos que ocorrem nessa etapa para que o parto ocorra sem transtornos. A gestante que faz exercícios regularmente terá gravidez e parto mais tranquilos mantendo-se ativa e em forma, terá menos probabilidade de apresentar problemas, com excesso de peso e varizes. Durante os nove meses de gestação a mulher experimenta novas sensações físicas e emocionais que levam a necessidades particulares. Muitas formas de atividades físicas podem satisfazer essas particularidades: caminhadas, natação, hidroginástica, jogos, alongamentos. Sendo a gestação uma fase de transformações para a mulher, ela acarreta mobilizações emocionais em sua vida, obrigando-a a adaptar-se ao novo papel de mamãe. Portanto, quanto mais oportunidades de falar sobre essas modificações, mais aumentam as chances de uma melhor adaptação nesta nova fase (STRASSBURGER e DREHER, 2006). Os mesmos autores afirmam ainda que os fisioterapeutas desempenham um papel importante nesse processo, pois contribuem para o alivio dos desconfortos que surgem durante a gravidez. Podem atenuar os sintomas das alterações da biomecânica da gestante, são capazes de ajudar as mães na prevenção e orientação no que diz respeito às modificações gravídicas, além de contribuírem com a melhora da qualidade de vida, diminuindo suas queixas, através de um programa preventivo. A fisioterapia no pré-parto também tem por objetivo orientar quanto à importância de uma boa postura, manter a força muscular, melhorar ou manter a capacidade cardiovascular, preparar e informar sobre a gravidez e o parto, assim como fornecer apoio psicológico e proporcionar uma boa flexibilidade muscular e mobilidade articular. Esses objetivos são fundamentais para que a gravidez resulte em uma mãe e uma criança saudáveis (POLDEN, MANTLE, 2002; STRASSBURGER e DREHER, 2006). Bim e Perego (2002), complementam essa questão, salientando que a atribuição do fisioterapeuta obstetra não é apenas tratar quando for preciso, mas também tem como função ser membro da equipe obstétrica. Este procura entender o problema, que tem as informações relativas as causas e tratamento das dores na coluna, e leva ao restante da equipe a visar a prevenção e, quando essa falha, a conter e diminuir o problema. Atualmente, muitos obstetras acreditam que uma mulher que pratica algum tipo de exercício durante a gravidez, pode estar menos propensa a ter dificuldades durante o trabalho de parto e o nascimento do bebe. Desta forma, acabam estimulando suas pacientes a serem fisicamente ativas. Sendo assim, a prática de atividade física regular, moderada, controlada e orientada por fisioterapeutas pode produzir efeitos benéficos sobre a saúde da gestante e do feto (LANDI, BERTOLINI e GUIMARAES, 2004). A fisioterapeuta avalia qual a posição mais fácil e mais eficiente para facilitar a insinuação fetal e também a mais prazerosa para cada gestante afim de que seja repetida na próxima contração. O objetivo de cada postura ou movimento deve ser explicado à gestante em linguagem simples, evitando vocabulário especializado. 8 A ação do fisioterapeuta é um fator de estimulo para que a gestante ganhe consciência de que seu corpo ativo pode ser um poderoso instrumento para facilitar o processo do trabalho de parto e trazer-lhe satisfação com a experiência do nascimento (BIO, 2007). Durante uma contração da primeira etapa, o útero fica anterovertido; e a posição supina pode ocasionar desconforto sendo então preferidas as posições que a gestante inclina-se para frente (facilita a anteroversão), de acordo com figura 3. Figura 3: Posição de inclinação para frente. Fonte: BIO, 2007. 5. Metodologia Nesta pesquisa foi utilizado um procedimento exploratório, como parte integrante da pesquisa principal, como o estudo preliminar realizado com a finalidade de melhor adequar o instrumento de medida à realidade que se pretende conhecer. Segundo Santos (2010, p. 32), em outras palavras, “a pesquisa exploratória, ou estudo exploratório, tem por objetivo conhecer a variável de estudo tal como se apresenta, seu significado e o contexto onde ela se insere. Pressupõe-se que o comportamento humano é melhor compreendido no contexto social onde ocorre ” . O ponto de partida foi a realização de uma pesquisa bibliográfica, efetivada por meio de levantamento e leitura do material bibliográfico acerca do objeto da pesquisa, complementando o estudo e análise dos assuntos pertinentes ao tema. Portanto, a metodologia utilizada foi a da pesquisa teórica, de caráter bibliográfico e documental (dados obtidos do SINASC), sendo consultados documentos relativos aos assuntos observados. Para Severino( 2008), a pesquisa bibliográfica é aquela que utiliza material escrito / gravado, mecânica ou eletronicamente. São consideradas fontes bibliográficas os livros (de leitura corrente ou de referência, tais como dicionários, enciclopédias, anuários etc.), as publicações periódicas (jornais, revistas, panfletos etc.), fitas gravadas de áudio e vídeo, páginas de web sites, relatórios de simpósios / seminários, anais de congressos etc. Os meios utilizados para esta pesquisa foram: bibliográfica, consulta à web e documental. Para Santos (2010), os meios são procedimentos que operacionalizam os métodos. Para todo método de pesquisa, correspondem uma ou mais técnicas. Para Severino (2008), a análise de documentos ou análise de conteúdos consiste no exame sistemático de informes ou documentos como fontes de dados. Vários livros foram consultados e procurou-se encontrar uma maneira de sintetizá-los numa obra que tivesse o caráter de objetividade e riqueza de dados. Desta forma, na rotina educacional, pesquisa deve 9 significar a capacidade de ler criticamente a realidade. Motivando para que o aluno se expresse com autonomia. 6. Discussão As parturientes não necessitam de diploma universitário para descobrir, no momento do parto, que postura devem assumir. Como diz Michel Odent, o parto é instintivo, incentivado por sentidos primitivos do cérebro humano, a mulher se movimentará a fim de encontrar uma posição que melhor a conforte. Os esforços são reflexivos a cada contração involuntária do útero e jamais ela permanecerá imóvel na postura em decúbito dorsal (ODENT, 2002). O momento do parto deve ser respeitado, por todos, como um momento íntimo e muito importante para a mulher. O parto é dela e por ela deve ser comandado. No entanto, o que falta é se impor diante de suas necessidades, e não permitir que alguém estranho se oponha a elas. O corpo das mulheres não pode ser o foco das intervenções médicas, principalmente em um processo fisiológico e pessoal. De acordo com Baracho (2007), o parto normal costuma ser um momento agitado; a mãe irá andar, abaixar-se, sentar, ficar de pé, ajoelhar e deitar, tentando instintivamente, encontrar posições confortáveis. Devido à anterversão do útero durante as contrações da primeira etapa, a maioria das mulheres acha que precisa se inclinar para frente em algum tipo de apoio; algumas acabam girando sua pelve. As diferentes posturas que as mulheres deveriam usar precisam ser demonstradas e praticadas durantes as aulas pré-natais, a fim de prepará-las para o momento pré-parto. Existem as posturas inibitórias, as quais são desfavoráveis, e as posturas facilitatórias, que são as pertinentes no momento do parto, facilitando-o. No geral, as posturas verticais são consideradas facilitatórias (figura 4), enquanto as horizontais são consideradas inibitórias (figura 5). Figura 4: Postura facilitatória. Fonte: Polden, 2002. 10 Figura 5: Postura inibitória. Fonte: Polden, 2002. Quando a mulher está em decúbito dorsal, sua pelvefica impactada, as veias e vasos são pressionados, o tempo de parto é maior, a ação dolorosa é mais demorada e a força expulsiva também é grande. Diferente das posturas verticalizadas. Como exemplo de posturas facilitatórias, tem a posição de cócoras, ajoelhada, semi-ajoelhada e de pé inclinada para frente (apoiada) (POLDEN, 2002). Balaskas (1993), enfatiza que o que é mais criticado, especificamente, é o uso quase exclusivo de posições horizontais para o parto, conhecidas como posição supina, de litotomia ou decúbito dorsal. Havendo evidências suficientes de que as posições verticais trazem mais vantagens tanto para a mãe quanto para o bebê. Baracho (2007), também afirma que existem desvantagens em relação à posição em decúbito dorsal, que por tempo prolongado, parece diminuir o ritmo das contrações uterinas, alterar o retorno venoso e interferir na saturação de oxigênio fetal pela compressão de veias importantes, como a veia cava inferior, pelo útero gravídico. Portanto, é prudente alternar as posições durante as contrações (primeira etapa ou primeira fase do parto). Uma opção recomendável é a posição em decúbito lateral esquerdo, conforme ilustra a figura 6, com um travesseiro embaixo da cabeça (preenchendo o espaço entre o ombro e a orelha) e uma almofada embaixo da perna supralateral (que deve ser mantida em semiflexão e adução). Essa posição facilitará um melhor afluxo de sangue e oxigênio uteroplacentário. A não ser que a parturiente seja portadora de alguma patologia que requeira repouso, ela poderá variar as posições e adotar a que se sentir mais confortável. A bola terapêutica também pode ser usada nesta fase como um recurso que promove a posição vertical da mulher, seja no chão, na cama ou no chuveiro, apresentando, como benefício, o alívio de tensões nervosas por ser lúdica. 11 Figura 6: Em decúbito lateral. Fonte: Balaskas, 1993. 7. Conclusão Ao término deste estudo, pode-se verificar que a atuação do fisioterapeuta com gestantes em geral ainda é pouco conhecida, porém esta tem por finalidade ampliar o conhecimento das mulheres com relação aos fatores relacionados a gravidez. Tais fatores dizem respeito a: assuntos relacionados as adaptações posturais que acontecem na gestação, importância da amamentação e da alimentação adequada, orientação quanto aos cuidados ao realizar as atividades diárias, realização de conversas sobre o parto. Além disso, cabe destacar a importância de orientar as gestantes sobre a realização de exercícios, desde que estes sejam feitos sob supervisão de um profissional e com liberação médica. Sendo assim, o fisioterapeuta pode atuar no pré-parto, parto e puerpério, com o objetivo de fornecer suporte as orientações pré-natais e na recuperação pós-parto, podendo prevenir complicações ou desconfortos oriundos da gestação. Durante a prática fisioterapêutica, é essencial que os fisioterapeutas tenham pleno conhecimento de todas as modificações que ocorrem durante esta fase, a fim de impedir o aparecimento de desconfortos e complicações, proporcionando segurança para a gestante e para o feto. É necessário que sejam realizadas uma anamnese e uma avaliação física de qualidade, investigando, principalmente, os dados relacionados à gravidez. A partir da anamnese, do exame físico, e se for necessário, exames complementares, poderão ser desenvolvidas boas condutas de tratamento. O fisioterapeuta deve tratar a paciente gestante com o principal intuito de manter seu bem estar físico e mental; tratar possíveis alterações sistêmicas que surgirem nesse período, prevenir dores e desconfortos, por meio de técnicas, manobras e exercícios, levando em consideração todas as modificações existentes no organismo da grávida e suas limitações. Referências BALASKAS, Janet. Parto ativo : guia prático para o parto natural. 2. ed. São Paulo: Ground, 1993. BARACHO, E. Fisioterapia em Obstetrícia: aspectos de neonatologia, uma visão multidisciplinar. 12. ed. Belo Horizonte: Health, 2007. 12 BIM, C.R.; PEREGO, A.L. Fisioterapia aplicada a ginecologia e obstetricia. Iniciação Científica CESUMAR - mar.-jul. 2002, Vol. 4 n. 01, pp. 57-61. BIO, E. R. Intervenção fisioterapeutica na assistência ao trabalho de parto. Dissertação de mestrado) Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 2007. BRASIL, Ministério da Saúde. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. 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