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Centro obstétriCo Prof.ª Lara Louise Kloch AssistênCiA de enfermAgem no Indaial – 2023 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof.ª Lara Louise Kloch Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. KLOCH, Lara Louise. Assistência de Enfermagem no Centro Obstétrico. Lara Louise Kloch. Indaial - SC: Arqué, 2023. 256p. ISBN 978-65-5646-560-9 ISBN Digital 978-65-5646-558-6 “Graduação - EaD”. 1. Parto 2. Mulher 3. Gravidez CDD 610.7 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Assistência de Enfermagem no Centro Obstétrico. O processo de parto e nascimento é um grande evento fisiológico, um momento especial na vida da gestante parturiente, independentemente da forma de nascimento escolhida – após o momento de “re(nascer)”, a vida da mulher e da família envolvida nunca mais será a mesma. Quando é permitida a parturiente uma experiência positiva de parto e nascimento, automaticamente, oferecemos a ela uma assistência digna e de qualidade, mantendo a sua integridade física e psicológica, respeitando as escolhas e os desejos dela e do acompanhante nesse evento único. O enfermeiro é um profissional essencial dentro da equipe multiprofissional, pois deve acolher essa família e colaborar para que a vivência do parto e do nascimento seja positiva e segura, colocando em prática suas competências específicas no setor do centro obstétrico. Diante disso, na Unidade 1, abordaremos as práticas e os estudos que englobam a assistência de Enfermagem no processo gravídico, puerperal e no nascimento dentro do centro obstétrico, primeiramente, relacionados à fisiologia do parto eutócico, envolvendo a contratilidade uterina que conduz à dilatação do colo uterino, os mecanismos que acarretam a progressão do feto no canal de parto e as fases do parto, que caracterizam os períodos do trabalho de parto da parturiente. Ainda, faz-se importante estudarmos o parto instrumentado e as práticas baseadas em evidências científicas acerca do uso desses métodos e utensílios na hora do parto. O fenômeno que envolve o parto induzido também será um tópico importante, por ser uma condição realizada para a resolução do parto e, por isso, o enfermeiro deve conhecer os métodos utilizados durante uma indução de parto, bem como os cuidados necessários durante a assistência a esse procedimento. A atuação e as competências dos enfermeiros generalista e especialista também serão detalhadas, em conjunto com uma visão da equipe multiprofissional que atua no centro obstétrico. Visto que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) deve ocorrer também no centro obstétrico, o conhecimento das rotinas do setor se torna imprescindível às práticas realizadas, desde o acolhimento da gestante na triagem obstétrica, a internação no pré-parto, a assistência dentro da sala de partos e na sala cirúrgica aos cuidados na sala de recuperação anestésica. Ainda na Unidade 1, abordaremos os aspectos que abrangem o nascimento, os cuidados imediatos ao recém-nascido e a reanimação neonatal, que também regem as competências do enfermeiro dentro do centro obstétrico. APRESENTAÇÃO Já na Unidade 2, abordaremos questões relativas à assistência de Enfermagem nos procedimentos cirúrgicos aplicados nas urgências e nas emergências obstétricas e ginecológicas, desde casos de abortamento, gravidez ectópica e hemorragias no anteparto, até as emergências de parto e pós-parto, vemos a importância do reconhecimento dessas urgências e emergências no setor e também a identificação do papel do enfermeiro nesses procedimentos. Além disso, serão discutidos alguns aspectos importantes sobre a cesariana, uma intervenção cirúrgica realizada para salvar a vida da mãe e/ou do bebê, quando realmente necessário. Vale ressaltar que é necessário seguir um modelo de assistência, em que a mulher seja a protagonista do parto e os profissionais, os coadjuvantes que apoiam, auxiliam e prezam pelo bem-estar materno-fetal, assim como avaliam a necessidade ou não de intervenções. A cultura acerca do parto normal tem sido desmitificada com as novas pesquisas científicas, e isso mostra a importância da disseminação da Medicina baseada em evidências nesse cenário. Diante disso, na Unidade 3, abordaremos sobre assuntos que abrangem o cuidado integral de Enfermagem no parto normal e cesárea, na qual a humanização e as boas práticas de parto e nascimento serão discutidas sob a perceptiva atual, de acordo com as novas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além de aprofundarmos na dor em obstetrícia, fator, culturalmente, ligado à doença, associando o parto a sofrimento. Logo, é importante a discussão sobre a dimensão da dor fisiológica do parto, uma dor subjetiva para cada parturiente e influenciada conforme a cultura de cada uma. Por isso, o enfermeiro deve conhecer os métodos não farmacológicos para o alívio da dor, assim como os métodos farmacológicos, abrangendo a analgesia e a anestesia, realizados no centro obstétrico. Ainda, na Unidade 3, veremos como relacionar a SAE dentro do centro obstétrico, tanto para a gestante quanto para o recém-nascido, bem como questões de gestão da Enfermagem no setor. Por fim, serão salientados os aspectos éticos que permeiam o profissional de Enfermagem durante o ciclo gravídico-puerperal e também situações relacionadas aos direitos da mulher nesse período da vida, discutindo o consentimento informado para a realização de determinados procedimentos e condutas dentro do centro obstétrico. Acadêmico, esperamos que você esteja motivado para aquisição de novos saberes e aprendizados, para que, como futuro profissional enfermeiro, possa seguir, com segurança, destreza e humanização, as competências que regem a assistência e a gerência dentro do centro obstétrico. Bons estudos! Prof.ª Lara Louise Kloch GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. 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Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! QR CODE SUMÁRIO UNIDADE 1 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROCESSO GRAVÍDICO PUERPERAL E NO NASCIMENTO DENTRO DO CENTRO OBSTÉTRICO .....................................................................................1 TÓPICO 1 — FISIOLOGIA DO PARTO ....................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 CONTRATILIDADE UTERINA ...............................................................................4 3 MECANISMO DO PARTO ....................................................................................... 6 4 FASES DO PARTO ................................................................................................ 9 4.1 ASSISTÊNCIA NO PRIMEIRO E NO SEGUNDO PERÍODO DO PARTO .......................10 4.2 ASSISTÊNCIA NO TERCEIRO E NO QUARTO PERÍODO DO PARTO .........................14 5 PARTO INSTRUMENTADO.................................................................................. 15 6 INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO ................................................................ 19 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................22 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................23 TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO.......25 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................25 2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR .............................................................................26 3 O ENFERMEIRO GENERALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO ............................. 27 4 O ENFERMEIRO ESPECIALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO ............................29 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................32 TÓPICO 3 — ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO ...............................................35 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................35 2 TRIAGEM OBSTÉTRICA .....................................................................................36 3 PRÉ-PARTO ....................................................................................................... 40 4 SALA DE PARTOS ...............................................................................................46 5 SALA CIRÚRGICA ............................................................................................. 48 6 SALA DE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA ..........................................................50 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................54 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................55 TÓPICO 4 — ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO .............................. 57 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 57 2 AVALIAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO .................................................................... 57 2.1 OS CUIDADOS INICIAIS AO RÉCEM-NASCIDO ...........................................................58 2.2 O EXAME FÍSICO DO RECÉM-NASCIDO ....................................................................... 63 2.3 OS REFLEXOS PRIMITIVOS ............................................................................................ 66 3 REANIMAÇÃO NEONATAL ................................................................................. 67 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 77 RESUMO DO TÓPICO 4 ..........................................................................................82 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................83 REFERÊNCIAS .......................................................................................................85 UNIDADE 2 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NOS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS APLICADOS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS OBSTÉTRICAS E GINECOLÓGICAS ...............................................89 TÓPICO 1 — ABORTAMENTO ................................................................................. 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 91 2 TIPOS DE ABORTOS ..........................................................................................92 3 TRATAMENTOS ..................................................................................................95 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................99 AUTOATIVIDADE .................................................................................................100 TÓPICO 2 — GRAVIDEZ ECTÓPICA .....................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................103 2 ETIOLOGIA .......................................................................................................103 3 TRATAMENTO ...................................................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................108 AUTOATIVIDADE .................................................................................................109 TÓPICO 3 — HEMORRAGIAS ANTEPARTO .......................................................... 111 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 111 2 PLACENTA PRÉVIA .......................................................................................... 111 3 DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA NORMALMENTE INSERIDA ..... 114 4 VASA PRÉVIA ...................................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................119 AUTOATIVIDADE .................................................................................................120 TÓPICO 4 — EMERGÊNCIAS DE PARTO ............................................................. 123 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................123 2 ROTURA UTERINA ........................................................................................... 123 3 INVERSÃO UTERINA ........................................................................................ 125 4 DISTÓCIA DE OMBROS .................................................................................... 127 5 PROLAPSO DE CORDÃO .................................................................................130 RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................ 132 AUTOATIVIDADE .................................................................................................133 TÓPICO 5 — HEMORRAGIA PÓS-PARTO ............................................................ 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 137 2 ATONIA UTERINA ............................................................................................138 3 TRAUMAS ......................................................................................................... 141 4 RETENÇÃO PLACENTÁRIA .............................................................................142 RESUMO DO TÓPICO 5 ........................................................................................144 AUTOATIVIDADE .................................................................................................145 TÓPICO 6 — CESARIANA ..................................................................................... 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 147 2 INDICAÇÕES PARA CESARIANA .....................................................................148 3 OPERAÇÃO CIRÚRGICA ..................................................................................149 3.1 ANESTESIAS INDICADAS ................................................................................................152 4 COMPLICAÇÕES .............................................................................................. 153 5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA CESARIANA ........................................154 5.1 MONTAGEM DE SALA ...................................................................................................... 156 5.1.2 Materiais .....................................................................................................................157 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................160 RESUMO DO TÓPICO 6 ........................................................................................ 167 AUTOATIVIDADE .................................................................................................168 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 170 UNIDADE 3 — CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM NO PARTO NORMAL E NA CESÁREA ................................................................................ 173 TÓPICO 1 — SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) NO CENTRO OBSTÉTRICO (CO) ...................................................... 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 175 2 SAE PARA GESTANTE/PUÉRPERA ................................................................. 176 3 GESTÃO DE ENFERMAGEM NO CENTRO OBSTÉTRICO ................................185 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 187 AUTOATIVIDADE .................................................................................................188 TÓPICO 2 — HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ...................191 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................191 2 BOAS PRÁTICAS DE PARTO E NASCIMENTO ................................................. 192 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................... 203 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 204 TÓPICO 3 — A DOR NA OBSTETRÍCIA ................................................................207 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................207 2 MÉTODOS NÃO FARMACOLÓGICOS PARA ALÍVIO DA DOR .......................... 208 3 ANALGESIA E ANESTESIA .............................................................................. 217 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................... 222 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 223 TÓPICO 4 — ASPECTOS ÉTICOS.........................................................................227 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................227 2 ÉTICA PROFISSIONAL DURANTE O CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL .......... 228 3 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ................................................................................ 231 4 DIREITOS DA MULHER NO CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL ....................... 236 4.1 DIREITOS DA GESTANTE ................................................................................................240 4.2 DIREITOS NO PRÉ-NATAL ............................................................................................240 4.3 DIREITOS NO PARTO .......................................................................................................241 4.4 DIREITOS TRABALHISTAS ..............................................................................................241 4.5 DIREITO EDUCACIONAL E ESTUDANTIL ....................................................................242 4.6 DIREITOS SOCIAIS ..........................................................................................................242 4.7 DOULAS NO BRASIL .......................................................................................................243 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................... 245 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................... 249 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 250 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 253 1 UNIDADE 1 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROCESSO GRAVÍDICO PUERPERAL E NO NASCIMENTO DENTRO DO CENTRO OBSTÉTRICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer os estágios do parto durante a assistência ao parto e ao nascimento; • analisar as condições da saúde materno-fetal durante a assistência ao parto; • identificar as competências do enfermeiro dentro do centro obstétrico, de acordo com a rotina do setor; • identificar as ações do enfermeiro na assistência imediata ao recém-nascido. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FISIOLOGIA DO PARTO TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO TÓPICO 3 – ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO TÓPICO 4 – ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 FISIOLOGIA DO PARTO TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Aprender sobre a fisiologia do parto é a base para que os profissionais que trabalham com parto e nascimento conheçam ofuncionamento do corpo da parturiente e como o enfermeiro pode realizar suas competências, refletindo, positivamente, para o momento do trabalho de parto. O parto normal é um processo fisiológico, mas também um evento social, interagindo com a vida daquela família em formação, e, portanto, uma experiência positiva desse momento trará grandes benefícios para a família e a comunidade. Além disso, é importante salientar que os profissionais da saúde, envolvidos no parto, são coadjuvantes desse evento, sendo a mulher a protagonista – mas por que devemos olhar dessa forma? A resposta é clara: porque o parto é da mulher, e o profissional desempenha um papel importante, que é observar e avaliar o bem-estar materno- fetal e colocar em prática os seus conhecimentos em momentos necessários, críticos, assegurando a saúde da mãe e do bebê, o que é uma grande responsabilidade. Neste tópico, abordaremos o processo fisiológico do parto, desde a contratilidade do útero, que leva ao apagamento e à dilatação do colo do útero, ao mecanismo do parto, para a expulsão do feto, até o nascimento da placenta. Descreveremos cada fase do parto, que pode ser dividida em dilatação, período expulsivo e dequitadura, para que fique claro o tipo de assistência que o enfermeiro pode oferecer em cada período do parto. Além disso, abordaremos o parto instrumentado e a necessidade desse tipo de intervenção, a utilização do fórceps ou ventosa e a realização de episiotomia. Por fim, ainda estudaremos as induções de parto, que são condutas importantes durante a gravidez nas situações em que se faz necessário adiantar o nascimento do feto. Salienta-se a necessidade de práticas baseadas em evidências científicas, por isso a aquisição de novos saberes deve ser fornecida a partir de uma ferramenta atual e adequada. Os conhecimentos da área da saúde estão em constantes atualizações; a obstetrícia é uma área que precisa de profissionais capacitados para o parto normal, que pode ser eutócico (parto normal sem necessidade de intervenções) ou distócico (parto com necessidade de intervenções). 4 Acadêmico, sugerimos que busque mais ferramentas de atualização acerca da assistência do enfermeiro durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. DICA 2 CONTRATILIDADE UTERINA O útero tem uma grande função no final da gravidez, que é expelir o feto e os anexos (placenta e cordão), a partir das contrações uterinas. No entanto, antes de tudo, é importante analisarmos a fisiologia do corpo do útero e o desencadeamento do trabalho de parto. Segundo Graça (2017), o útero, anatomicamente, é divido pelo fundo uterino e pelo colo uterino, e sua estrutura é, praticamente, tecido muscular liso, células musculares que estão ligadas entre si, para promover as contrações durante o trabalho de parto. Além disso, podem ser percebidas várias fases que correspondem a diferentes situações fisiológicas do útero durante a gravidez e o parto: Na fase 0, que corresponde à maior parte da gravidez, o corpo do útero permanece em quiescência e pouco reativo aos estímulos contrácteis e o colo mantém-se formado e fechado. Na fase 1, de preparação para o parto, um conjunto de fatores mecânicos, endócrinos e parácrinos prepara o tecido muscular liso do útero e do tecido conjuntivo do colo para aumento progressivo da capacidade contráctil uterina e da distensibilidade do colo. A fase 2 corresponde à fase ativa do trabalho de parto (TP) e, finalmente, a fase 3 à de involução uterina (GRAÇA, 2017, p. 216). Como a contração uterina depende da interação de alguns fatores e componentes proteicos que interagem entre si, Zugaib; Francisco (2016) explica que essa interação proteica é modulada pela miosina, que, resumidamente, quando ativada, possibilita a contração local do miômetro. Somando várias interações, as células musculares se ligam umas às outras, por meio de conexões proteicas, nomeadas conexinas (gap junctions): “[...] a formação de gap junctions, conexões intercelulares entre as células musculares lisas do útero, possibilita a coordenação, transmissão e otimização da formação contráctil” (GRAÇA, 2017, p. 217). Durante a gravidez, as conexinas são praticamente ausentes, evitando as contrações uterinas e, possivelmente, um aborto ou trabalho de parto prematuro. Graça (2017) ainda explica que elas aumentam significativamente no termo da gestação (37 a 41 semanas), e o aumento da relação do estrógeno e da síntese/degradação de prostaglandinas é um estímulo que forma a conexina. A ocitocina tem papel essencial; os estrogênios aumentam também os receptores de ocitocina, que tem efeito no 5 aumento da contratilidade uterina, correspondendo à fase 2 ativa do trabalho de parto. Como inibidores da conexina, é observada a relação de aumento da progesterona e dos inibidores da síntese de prostaglandinas, ou seja, inibem a contractilidade uterina, que, nesse caso, representaria a fase 0 – uma fase de quiescência uterina, conforme citado anteriormente. Graça (2017) elenca três fatores primordiais de ativação da contração uterina durante o trabalho de parto: a síntese de prostaglandinas, o aumento de receptores de ocitocina e a formação de gap junctions. IMPORTANTE O estudo sobre a contratilidade uterina está presente em algumas situações, além do trabalho de parto: durante uma indução de trabalho de parto, durante a inibição da contração, quando trabalho de parto prematuro e também na involução uterina do pós- parto. Além disso, durante a gravidez, há a presença das contrações de Braxton-Hicks, conhecidas como contrações de treinamento, que “ocorre, com frequência, após as 28 semanas de gestação, com uma intensidade de 10 mmHg, podendo chegar a 20 mmHg, que se difundem de forma parcial ou total pelo útero” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2016, p. 318). No período termo da gestação, as frequências das contrações de treinamento aumentam e, quando inicia o trabalho de parto, essas contrações já ficam diferentes, tanto a intensidade como a duração. No decurso do TP, as contrações uterinas provocam o aumento da pressão hidrostática intra-amniótica, a qual se transmite ao colo e segmento inferior enquanto as membranas estiverem intactas, após a rotura das membranas, é a apresentação fetal que exerce diretamente pressão sobre estas estruturas. Em ambos os casos, a pressão exercida constitui um contributo essencial para o apagamento e dilatação do colo (GRAÇA, 2017, p. 221). As contrações uterinas são involuntárias e dolorosas durante o trabalho de parto, de acordo com Montenegro e Rezende Junior (2016), sendo percebidas a partir da palpação abdominal, durante a fase de dilatação, com intensidade de 30 a 40 mmHg e frequência de três contrações em 10 minutos, podendo chegar a cinco contrações em 10 minutos. Têm ritmo e são regulares na fase ativa do trabalho de parto (após 5 cm de dilatação); já na fase latente (fase inicial da dilatação), as contrações são irregulares e sem ritmo. Sobre as fases do trabalho de parto, abordaremos mais à frente. Nené, Marques e Batista (2016) explicam que, como o orifício externo do colo uterino é desprovido de musculatura, ele não irá contrair, o que pode contrair é o orifício interno e, claro, o corpo uterino. Com a pressão vinda da tração no segmento inferior, que atua diretamente no colo, consequentemente, isso propicia o amolecimento do 6 colo anteparto. Assim, o corpo uterino fica mais curto e espesso e o colo, mais fino e dilatado. Normalmente, em primíparas, variam de 6 a 18 horas de trabalho de parto e, nas multíparas, de 6 a 10 horas até a completa dilatação, sem contar o período expulsivo, após a dilatação total de 10 cm. Após o parto, Montenegro e Rezende Junior (2016)comentam que as contrações diminuem até atingir uma em cada 10 minutos, até 12h de puerpério; nesse momento, elas são responsáveis para a involução uterina, um fator interessante é que, quando o bebê suga o peito materno, pode haver aumento dessa atividade uterina, devido aos estímulos hormonais 3 MECANISMO DO PARTO Para o nascimento acontecer, de fato, não são apenas as contrações que fazem todo o trabalho; o feto e a estrutura materna também têm grande importância para a progressão do parto. “Corresponde à sequência dos movimentos passivos da apresentação fetal, que permitem a passagem através do canal do parto” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 312). Essa adaptação, cujo objetivo, nesse caso, é o feto fazer o trajeto no canal do parto, conta com mais elementos: a força das contrações uterinas e o mecanismo que é o conjunto dos movimentos do feto na bacia (com articulações, ligamento e músculos) (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016). Há alguns aspectos da obstetrícia, acerca da anatomia, que é importante lembrarmos, segundo Graça (2017), a pelve é constituída por quatro ossos: o sacro, o cóccix e o par de ossos formados por íleo, ísquio e púbis. ATENÇÃO Há algumas nomenclaturas e descrições que definem a relação do objeto móvel (o feto) com o organismo materno (eixo uterino), facilitando o entendimento dos profissionais que estão assistindo ao parto, melhorando a comunicação com termos técnicos e entendimento dos acontecimentos. Por isso, citaremos essas nomenclaturas, de forma sucinta, antes de seguir com os movimentos cardinais do feto: • Atitude: é a relação das partes fetais entre si, sendo estas de flexão ou de extensão. A mais comum é a de flexão em que o mento se aproxima do tórax, os membros dobrados na frente do corpo e o dorso ligeiramente curvado para a frente. • Situação: é a relação entre o maior eixo materno e fetal. Essas estão agrupadas em situações longitudinais, transversas ou oblíquas. As longitudinais podem ser classificadas em cefálicas ou pélvicas. [...] 7 • Apresentação: é a parte do feto que se situa no estreito superior da pélvis. As principais apresentações são a cefálica, a de nádegas e a de ombros. • Ponto de Referência: é a parte fetal identificável pelo toque va- ginal, usada para descrever a orientação da apresentação (posi- ção e variedade). [...] • Posição: é a relação do ponto de referência com a parte anterior, posterior ou com as laterais da pélvis materna. • Variedade: é a relação do ponto de referência fetal com os pontos de referência da bacia materna (púbis, sacro [...] anterior ou posterior). É possível perceber algumas das apresentações de um feto de termo na Figura 1, podendo ser diferenciada a posição cefálica fletida (A) e a defletida (B), apresentações pélvicas (E e F) e córmicas (G e H). Figura 1 – Apresentações fetais Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 340) É importante sabermos a posição do feto dentro do útero da mãe no trabalho de parto, com base em alguns fatores, como a atitude e a posição importam muito para uma boa progressão do parto. Graça (2017) explana que, em 96% das gestações, o bebê está em uma situação longitudinal, cefálica (com a cabeça para baixo) e fletido. Além disso, é possível sentir, a partir da manobra de Leopold (palpação abdominal) e também pelo toque vaginal, a apresentação e a variedade do feto. 8 O livro Guia Prático Belly Mapping: descobrindo a posição do bebê na barriga pelo tato, de Gail Tully, oferece as explicações necessárias para interpretar os movimentos e as partes do corpo do bebê e como ele está dentro do útero. Sugerimos a sua leitura, pois é um livro diferente de outros livros técnicos, mais prático e simples de compreender. DICA Nesse momento, podemos abordar os movimentos cardinais do feto, isto é, os movimentos do mecanismo de parto que ocorrem em adaptação aos diâmetros estreitos do canal do parto, os quais se dividem em seis momentos. Zugaib e Francisco (2016) salientam que essa divisão é apenas para fins didáticos, já que, no momento real de uma assistência ao parto, esses momentos acontecem continuadamente sobrepondo um ao outro. Para uma melhor compreensão dos movimentos cardinais do feto, a Figura 2 expressa os mecanismos do parto em apresentação de vértice. Figura 2 – Movimentos cardinais do parto Fonte: Graça (2017, p. 225) 9 A insinuação é o primeiro movimento; é o encaixe do feto, que é a passagem da maior circunferência da apresentação por meio do estreito superior, segundo Montenegro e Rezende Junior (2016), conforme observado na Figura 2 (número 2). A descida consiste no movimento descendente do feto no canal do parto, encontrando-se no estreito médio do canal, conforme a Figura 2 (imagem de número 3). Seguida da flexão do mento fetal sobre a face anterior do tórax, segundo Nené, Marques e Batista (2016), flexão que oferece o menor diâmetro à passagem na pelve, como pode ser observado na Figura 2 (imagens 2 e 3). A rotação interna fetal é outro movimento que acontece continuadamente e é sobreposto aos outros; a rotação interna é a deslocação do occípito no sentido da sínfise púbica, uma rotação de 45° nas anteriores e 90° quando transversas, movimento que é essencial para a progressão do parto (Figura 2, imagem 4), quando a cabeça do bebê entra no assoalho pélvico (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016). A extensão completa pode ser observada na imagem 5 da Figura 2, em que o polo cefálico atinge a vulva, como consequência das contrações e forças, seguindo, nesse momento, a coroação, quando o feto é exteriorizado. Em seguida, há a rotação externa, observada na imagem 6, quando o polo cefálico retoma a atitude anterior à rotação interna inicial, acompanhada pela rotação do tronco, para ajuste do diâmetro dos ombros. Por fim, a expulsão, quando o ombro anterior sai primeiro e depois o posterior, depois da saída dos ombros, o resto do corpo do bebê sai com a força materna sem dificuldade. Esse mecanismo explicado acima tem características únicas em cada nascimento, pois pode variar de acordo com a apresentação fetal e também como tipo de pelve materna. 4 FASES DO PARTO Neste subtópico, emergiremos “nas ondas do mar”, pois é assim que muitos dos profissionais, que trabalham com assistência ao parto, explicam à parturiente como é o trabalho de parto: as contrações são como ondas do mar, que vêm e vão, com uma intensidade progressiva e depois vão embora, sabendo que logo vão voltar. O parto é uma trajetória cheia de emoções e, em cada etapa desse trajeto, há um tipo de sentimento e experiência que a parturiente pode sentir, cabendo também ao enfermeiro guiar essa mulher durante cada fase do parto. Nené, Marques e Batista (2016) afirmam que o início do trabalho de parto se dá quando começam as contrações uterinas regulares e dolorosas, e, consequentemente, ocorre a dilatação do colo uterino. Montenegro e Rezende Junior (2016) explicam que não é tão fácil perceber o início do trabalho de parto real, visto que é necessário um conjunto de acontecimentos, como contrações dolorosas, começando com duas contrações em 10 10 minutos, com duração aproximada de 50 segundos a um minuto, devendo aumentar de frequência. Ainda salientam que, em algumas mulheres multíparas, mesmo com 5 cm de dilatação, a fase ativa do parto pode não ter iniciado ainda. Para Zugaib e Francisco (2016), o fenômeno mais importante são as contrações efetivas, que devem ter frequência regular, sendo esperadas duas a cinco contrações em 10 minutos, com intensidade de 20 a 60 mmHg, com média de 1 minuto de duração. A partir de muitos estudos, dividiu-se o trabalho de parto em períodos, para autores brasileiros, ou estádios, para os autores portugueses. Essa divisão clínica decorre desde o início das contrações uterinas regulares até o puerpério imediato. Estudaremos cada períodoe nos aprofundaremos na assistência que o enfermeiro pode e deve oferecer a mulher/casal/família. 4.1 ASSISTÊNCIA NO PRIMEIRO E NO SEGUNDO PERÍODO DO PARTO O primeiro período é nomeado como o período da dilatação, do apagamento do colo. “Esse período começa com as primeiras modificações cervicais e termina com a dilatação completa do colo uterino (10 cm), de modo a permitir a passagem fetal” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2016, p. 326). Esse primeiro período ainda é dividido por duas fases: a latente e a ativa do trabalho de parto. A fase latente, conforme Nené, Marques e Batista (2016) explicam, é a fase de apagamento do colo uterino e do início da dilatação (até 5 cm), podendo ser uma fase mais lenta em primíparas, com duração de mais de 6 horas. Essa fase não tem muito ritmo e pode ser bem variável. Já a fase ativa é considerada após os 5 cm de dilatação até os 8 cm, quando começa a fase de transição (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016). Nesse momento, é possível perceber melhor a relação feto-pélvica. A fase ativa é caracterizada por maior ritmo de contrações e dilatação mais avançada e pode durar também, em média, 6 horas em primíparas. É considerada dilatação total quando atinge os 10 cm, quando não é mais possível tocar o tecido do colo na parte anterior da apresentação fetal. Na Figura 3, podemos observar o processo do primeiro período, a dilatação de uma nulípara (1 a 4) e uma multípara (5 a 8). 11 Figura 3 – Apagamento e dilatação do colo uterino Fonte: Montenegro; Rezende Junior (2016, p. 308) A ruptura da bolsa de águas (amniotomia) ocorre em 80% dos casos no final da dilatação ou no início da expulsão, de acordo com Montenegro e Rezende Junior (2016). Pode acontecer também de romper antes, sendo chamada de rutura prematura de membranas, ou até ficar intacta, sem intervenções desnecessárias até alguma justificativa criteriosa, segundo Nené, Marques e Batista (2016), tipos de partos chamados de empelicados. A amniotomia de rotina não é indicada para acelerar o trabalho de parto, de acordo com muitos estudos e conforme descrito em uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2018) de cuidados intrapartos para experiências positivas de parto. IMPORTANTE 12 Antes de continuarmos com as fases do trabalho de parto, é de extrema importância que você, acadêmico, futuro profissional enfermeiro, tenha conhecimento do documento da OMS lançado em 2018, intitulado Cuidados intraparto para experiências positivas de parto, que traz 56 recomendações, baseadas em evidências científicas, com o intuito de estabelecer padrões mundiais de cuidados à mulher grávida, de forma saudável, com menos intervenções desnecessárias. Para saber mais sobre esse documento, acesse: http://twixar.me/1gQm. DICA Nomeadamente sobre a assistência do enfermeiro no primeiro período, é imprescindível informar às gestantes sobre a singularidade de cada parto para cada mulher, a intensidade da dor e o tempo do parto, que pode ser diferente para cada parturiente. O incentivo para que a parturiente adote posições que facilitem a progressão do trabalho de parto também faz parte do papel do enfermeiro, como a verticalização, a deambulação e a movimentação da pélvis. A utilização da bola suíça, durante essa fase, traz muitos benefícios, como a descida do bebê pelos estreitos da pélvis. Nené, Marques e Batista (2016) ainda afirmam que a utilização do chuveiro também deve ser encorajada, bem como a realização de massagens, a musicoterapia e outros métodos que transmitam segurança e calma. Além de envolver o casal na tomada de decisão e a mulher como protagonista desse momento, promover um ambiente calmo e tranquilo, livre de barulhos e distrações, também é necessário esclarecer todos os procedimentos realizados, tendo uma comunicação clara e adequada para esse momento. O enfermeiro deve também lembrar a gestante de urinar com uma certa regularidade, para evitar a distensão vesical, pois isso pode se tornar uma barreira para a descida do feto no canal do parto. A monitoração cardíaca fetal também deve ser realizada durante o primeiro período do parto, visto a importância do bem-estar materno-fetal. Conforme as reco- mendações da OMS (WHO, 2018), realiza-se a ausculta cardíaca fetal intermitente, com Doppler móvel, Sonar ou Pinard de estetoscópio. A verificação dos sinais vitais maternos no período também faz parte da assistência de Enfermagem. Já o segundo período do parto, chamado de período expulsivo, o qual se inicia com a dilatação completa e se encerra com a saída total do feto (MONTENEGRO; REZENDE JUNIOR, 2016), há a presença da descida do feto pelo canal vaginal e as contrações voluntárias da parede abdominal, que vêm do termo “vontade de empurrar” ou os “puxos”; aos poucos, a vulva se abre com a apresentação fetal e, logo em seguida, o desprendimento total. Esse período, segundo Nené, Marques e Batista (2016), pode durar alguns minutos ou até 3 horas, sendo necessário saber a fisiologia do parto, para, nesse momento, evitar intervenções desnecessárias, visto que é um momento em que a paciência é uma virtude. 13 Nesse período, o profissional deve encorajar a mulher a escolher a posição que seja mais confortável para ela parir, conforme Figura 4. A vocalização também deve ser apoiada, sem julgamentos e, claro, a orientação para o acompanhante estar presente, de maneira agradável, dando o suporte que a parturiente, também necessário nesse período. Vários autores explanam sobre os benefícios da verticalização da mulher no parto, como as recomendações da OMS. Nesse sentido, segundo Nené, Marques e Batista (2016), posições como cócoras, ajoelhada, de pé, sentada e de gatas têm muitas vantagens, como melhora do fluxo uteroplacentário e da ventilação pulmonar materna, melhoria da eficiência da contratilidade uterina, melhora no alinhamento de feto e pelve materna, aumento dos diâmetros da pelve, otimização do esforço materno, ação da gravidade ao favor do nascimento, além de fatores que se relacionam ao protagonismo da mulher no parto, pois fazem com que a mulher tenha mais poder de escolha e participação no nascimento do seu filho, facilitando a vinculação e o aumento das experiências positivas de parto. Outro fator importante é a diminuição dos partos instrumentalizados. INTERESSANTE Figura 4 – Posição de cócoras sustentada Fonte: Nené, Marques e Batista (2016, p. 345) Para finalizar as abordagens assistenciais desse período específico, Nené, Marques e Batista (2016) ainda ressaltam que o profissional deve estar atento a sinais de alerta, como desacelerações fetais tardias e que demoram para se recuperar, ou que se mantêm em desacelerações – nesses casos, pode ser necessário suporte de oxigênio, conforme solicitação médica. 14 4.2 ASSISTÊNCIA NO TERCEIRO E NO QUARTO PERÍODO DO PARTO O terceiro período é designado quando a dequitadura da placenta acontece e, segundo Nené, Marques e Batista (2016, p. 310), “decorre desde a expulsão do feto até à expulsão da placenta”. Há uma diminuição das contrações uterinas, após a saída do feto, e da área de implantação da placenta, fazendo com que ocorra uma tensão e rutura das vilosidades, a formação de hematoma retroplacentar e aí o descolamento da placenta e de sua expulsão. Essa saída da placenta tem dois tempos: a separação da placenta da parede do útero e sua descida; e a saída dela até a vulva. A placenta pode sair apresentando a face lisa (conhecido como mecanismo de Schultze) ou a face rugosa (conhecido como mecanismo de Duncan), como mostra a Figura 5, demonstrando dois tipos de dequitação da placenta: a imagem “A” retrata o mecanismo de Schultze, sendo mais comum (em 75% dos casos), e a imagem “B”, o mecanismo de Duncan. Figura 5 – Dequitação da placenta Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 329) Nené, Marques e Batista (2016)ainda destacam os sinais do terceiro período: • Contrações uterinas. • Mudança da forma discoide do útero para ovoide, à medida que a placenta se descola para o segmento inferior. • Saída súbita de sangue à vulva. • Descida do cordão ou aumento aparente do cordão, à medida que a placenta desce para o introito vaginal. • Aumento do volume vaginal observável (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 311). O tempo da dequitadura é variável, podendo variar de minutos até ser aguardado 45 minutos a 1 hora após a expulsão do feto, segundo Nené, Marques e Batista (2016). Já para Zugaib e Francisco (2016, p. 329), em “80% dos partos a dequitação se dá nos primeiros 10 minutos”. 15 A placenta, sendo um órgão, gerado na gestação, para nutrir o bebê dentro do útero, guarda um grande significado e, por isso, é interessante o enfermeiro dar a opção para a mulher ver e conhecer a placenta. Além disso, é necessário que o enfermeiro verifique se há a ausência de algum cotilédone na placenta, podendo serem evitados restos placentários dentro do útero. A assistência do profissional, nesse momento, também é diminuir a hemorragia pós-parto. A OMS (WHO, 2018) traz como recomendação a tração controlada do cordão umbilical, para a saída da placenta, apenas quando considerada uma perda de sangue significativa e uma prolongação do terceiro período do trabalho de parto. Assim, essa manobra não deve ser feita rotineiramente. A administração de uterotônicos também é uma atitude ativa do profissional, conforme as recomendações para evitar hemorragias no pós-parto imediato. No quarto período, conhecido como puerpério imediato, ou período de Greenberg, correspondente à primeira hora após o parto. Nené, Marques e Batista (2016) salientam que esse momento é fundamental, nos processos hemostáticos, para impedir o sangramento em excesso. Visto a grande probabilidade de hemorragias nesse período, a assistência, a vigília e a observação da puérpera são essenciais. A verificação do globo de segurança de Pinard também é mencionado por Nené, Marques e Batista (2016), o qual corresponde à avaliação da contratilidade uterina, a partir da palpação do útero pelo abdome da mulher, verificando, assim, a ausência de uma atonia uterina. Na primeira hora, o útero deve se manter sempre contraído, completando o mecanismo de hemostasia. Zugaib e Francisco (2016) demonstram os fenômenos de miotamponamento, que se refere à contração do útero e, consequentemente, à oclusão dos vasos miometriais, conhecido como globo vivo de Pinard, e o trombotamponamento, que diz respeito à formação de trombos nos vasos uteroplacentários e, posteriormente, aos coágulos intrauterinos – ambos são fenômenos importantes de defesa do corpo uterino contra uma hemorragia. Para a assistência de Enfermagem, nesse momento, é de grande importância priorizar as queixas maternas, manter estáveis os sinais vitais da puérpera e a vigília de perdas sanguíneas, que evitam desfechos infelizes. 5 PARTO INSTRUMENTADO É importante salientarmos que partos instrumentados podem acontecer, devido a intercorrências obstétricas e distócias do parto, quando estas não são resolvidas por outros meios, sem a necessidade de instrumentos como fórceps, extrator a vácuo (ventosa obstétrica) e episiotomia (corte no períneo). A atualização de estudos, acerca do uso dessas intervenções instrumentais, tem crescido, mostrando técnicas novas e também indicações baseadas em evidências científicas para a uso de tal instrumentos. 16 Sendo um procedimento de competência do médico obstetra, o fórceps e o extrator a vácuo precisam de um olhar menos rotineiro, bem como a episiotomia que faz parte tanto da competência médica como de enfermeiros especialistas em obstetrícia. Para iniciarmos essa abordagem, é interessante saber que o pH do sangue fetal tende a diminuir no terceiro período, que é o período expulsivo, Zugaib e Francisco (2016) ainda explicam que faz parte da fisiologia do parto o desenvolvimento de uma moderada acidose. Entretanto, quando o feto apresenta uma desaceleração tardia, na qual esta faz com que o oxigênio caia a níveis menores ou iguais a 18 mmHg, há uma suspeita de sofrimento fetal que deve ser avaliada, e é indicada a abreviação do período expulsivo. O fórceps é um instrumento com dois ramos. Graça (2017) explana que há o lado direito e o esquerdo do fórceps, formado por uma colher, que se adapta à cabeça do bebê e ao canal do parto, e o cabo, para o médico poder manipular (Figura 6). Os dois ramos ligam-se como uma articulação pelo cabo. Zugaib e Francisco (2016) ainda afirmam que o uso do fórceps foi devidamente assegurado após estudos iniciais que mostravam a sua segurança, quando na presença de uma equipe treinada para a realização desses partos e um obstetra com mãos treinadas para uso desse instrumento. Para evitar a compreensão desequilibrada e excessiva da cabeça fetal, é de extrema importância que as colheres do fórceps sejam perfeitamente simétricas e que a distância entre si no ponto de maior afastamento se adapte ao diâmetro biparietal do feto de termo [...] o operador nunca deve forçar demasiadamente a junção dos cabos (GRAÇA, 2017, p. 559). Figura 6 – Fórceps Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 419) 17 Indicações para a aplicação do fórceps, segundo Graça (2017) e Zugaib e Francisco (2016): • período expulsivo prolongado e exaustão materna; • necessidade obstétrica de abreviar o período expulsivo, quando há risco materno- fetal; • traços cardíacos suspeitos de hipóxia fetal (sofrimento fetal). Entre as condições maternas e fetais para aplicação do fórceps, segundo Graça (2017) e Zugaib e Francisco (2016), estão: • dilatação completa (10 cm) do colo uterino; • bolsa de água rota; • feto vivo; • apresentação fetal cefálica e encravada; • compatibilidade feto-pélvica; • anestesia local, dos nervos pudendos, ou quando necessária epidural. São contraindicações para o uso do fórceps, segundo Graça (2017), o não cumprimento das condições maternas e fetais citadas anteriormente, e a não familiarização do médico obstetra com o uso do fórceps. Já a ventosa obstétrica, ou o extrator a vácuo, é outra proposta de instrumento para extração do feto, quando se faz necessária. Atualmente, consiste em um instrumento de silicone ou plástico, com um mecanismo manual ou elétrico de bomba a vácuo, conforme mostra a Figura 7. Graça (2017, p. 568) explica que se baseia em uma técnica de “força externa de tração ao escalpe fetal através do vácuo”, salientando que a essa tração, associada ao esforço materno e contrações uterinas do período expulsivo, facilita a passagem do feto. Além disso, Graça (2017) defende que o vácuo é aplicado sob o tecido do escalpe fetal, fazendo com que este forme um edema e penetre na concavidade da ventosa. Um ponto importante que vários autores trazem é que só pode ser utilizada a ventosa com um manômetro, para poder saber a precisão da pressão. Entre as indicações para o uso da ventosa, segundo Graça (2017), estão: • apenas em apresentações de vértice; • sinais de sofrimento fetal no expulsivo; • abreviação do período expulsivo. 18 Já as complicações da ventosa, segundo Graça (2017), são: • caput, pigmentação da pele do escalpe do bebê; • traumatismo pequenos como erosão do escalpe, céfalo-hematoma e hemorragia retiniana; • esões traumáticas maiores: lacerações do escalpe, hematoma subaponevrótico, hemorragia intracraniana e fratura craniana; • lesões indiretas, como paralisias e fraturas de membros superiores e ombros. Figura 7 – Ventosa Fonte: Graça (2017, p. 568) O uso, de forma rotineira, de intervenções no parto e instrumentalização rotineira altera totalmente o curso fisiológico do parto normal e, infelizmente, inicia o que é chamado de cascata de intervenções, em que uma intervenção condiciona a outra sucessivamente, aumentandoa complexidade e o risco de desfecho desfavorável do parto. ATENÇÃO O corte no períneo, conhecido como episiotomia, segundo Graça (2017), não é necessário ser realizado antes da aplicação do fórceps. O autor ainda salienta que a episiotomia é considerada uma lesão perineal de 2º grau, realizada com o intuito de facilitar o segundo período do trabalho de parto e melhorar o desfecho materno fetal. Entretanto, é necessário discutirmos as controvérsias quanto à realização de episiotomia, pois não há evidências científicas que mostram que esse procedimento evita lacerações graves, muitos autores referem que previne riscos maiores de lacerações graves, incontinência urinária e fecal sem ter comprovação científica para tal. “O uso rotineiro ou liberal da episiotomia não é recomendado para mulheres submetidas a parto vaginal espontâneo” (LEAL et al., 2019, p. 9). 19 Em 2018, a OMS determinou como uma prática não recomendada durante o parto, explicando que: Embora a evidência da revisão sobre os efeitos comparativos das políticas de episiotomia tenha sido apresentada como uso seletivo/ restritivo versus uso rotineiro/liberal da episiotomia, devido aos efeitos benéficos da episiotomia seletiva/restritiva em comparação com a política de episiotomia de rotina/liberal, a falta de evidências sobre a eficácia de episiotomia em geral, e a necessidade de desencorajar o uso excessivo de episiotomia de rotina em todos os locais, o Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes (GDG) sentiu que era importante enfatizar que o uso rotineiro/liberal da episiotomia “não é recomendado”, ao invés de recomendar o uso seletivo/restritivo da episiotomia. O GDD reconheceu que, no momento, não há evidências que corroborem a necessidade de qualquer episiotomia em cuidados de rotina, e uma taxa “aceitável” de episiotomia é difícil de determinar. O papel de episiotomia em emergências obstétricas, como sofrimento fetal com necessidade de parto vaginal instrumental, continua a ser estabelecido. Se uma episiotomia for realizada, anestesia local eficaz e o consentimento informado da mulher são essencial. A técnica preferida é a incisão médio-lateral, pois as incisões na linha média estão associadas a um maior risco de lesão obstétrica complexa do esfíncter anal (OASI) (WHO, 2018, p. 150, tradução nossa). Graça (2017, p. 580) ainda salienta que, “Portanto, à luz do conhecimento atual, não existem critérios bem definidos nem uniformes para se realizar uma episiomia [...] os dados que dispomos não apoiam a execução da episiotomia por rotina [...] por isso o juízo clínico individual deve prevalecer”. Após a realização de uma episiotomia, é necessário realizar uma episiorafia, que é o reparo dos tecidos com sutura, optando por suturas monofilamentares, para evitar risco infeccioso, competências estas do obstetra, do enfermeiro obstetra, da obstetriz e da parteira. 6 INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO A indução do trabalho de parto é induzir, artificialmente, a contratilidade uterina, para iniciar o trabalho de parto, antes de iniciado espontaneamente. Graça (2017) afirma que é “indicada quando os benefícios para a mãe e para o feto são maiores do que os de deixar prosseguir a gravidez, pelo que deve restringir-se aos casos em que há indicações clínicas formais”. A indução de um parto deve ser realizada apenas quando há real necessidade, para evitar, assim, a medicalização do parto. Por isso, as indicações para indução de trabalho de parto, segundo Graça (2017), Nené, Marques e Batista (2016), e Zugaib e Francisco (2016), são: 20 • Gravidez pós-termo, maior que 41 semanas de gestação. • Rutura prematura de membranas. • Comorbidades maternas, como diabetes e hipertensão. • Situações de patologia associadas a hipertensão induzida pela gravidez, pré-eclâmpsia, eclampsia e síndrome de HELLP. • Estado fetal não tranquilizador. • Feto morto ou anômalo. Para iniciar uma indução de parto, é preciso saber as opções disponíveis, os métodos para indução, relacionando sempre com a avaliação do cérvix, ou seja, de como o colo uterino está. Para isso, existe uma avaliação chamada de Índice de Bishop, que, segundo Nené, Marques e Batista (2016), correlaciona dados da avaliação do colo uterino e a decisão do método a ser utilizado. Nesse índice, são avaliados a dilatação do colo, a consistência, o apagamento, a posição e a altura em relação às espinhas isquiáticas; a partir disso, se o número final do índice de Bishop for igual ou inferior a 5, esse colo é desfavorável e deve ser analisado, primeiramente, uma maturação do colo, ou seja, um amolecimento com prostaglandinas. Acima de 7,0, já pode ser iniciada a indução com oxitocina. Zugaib e Francisco (2016) e Graça (2017) trazem os métodos de indução do trabalho de parto, divididos em mecânicos e farmacológicos, podendo ser abordados como: • Mecânicos: ◦ Deslocamento digital das membranas é um método muito conhecido, utilizado para estimular a produção de prostaglandinas, a partir de um toque vaginal, no qual o profissional ultrapassa o orifício interno do colo para separar, com o dedo, as membranas amnióticas da parte inferior do útero, teoricamente, pode desencadear um trabalho de parto em 48 horas. ◦ Sonda Foley também é um método mecânico conhecido, em que a sonda é colocada na parte interior do orifício do colo uterino, inflando o balão para fazer pressão mecânica no colo uterino, de dentro para fora. A sonda é eliminada em 12 horas. Esse método pode ser utilizado em mulheres com cesariana prévia, visto que mulheres com histórico de cesariana não devem utilizar a indução de parto com prostaglandina misoprostol. • Farmacológicos: ◦ Prostaglandinas (PGE1 e PGE2): utilizadas para maturação do colo uterino, podendo ser de uso endocervical por via vaginal ou via oral. Deve seguir os protocolos de cada instituição, respeitando os períodos entre os comprimidos conforme a mg. As gestantes entram em trabalho de parto, geralmente, após 12 horas do uso da primeira prostaglandina. Essas prostaglandinas não devem ser utilizadas concomitantemente com ocitocina, devendo aguardar um período de 4 horas para usar a ocitocina após prostaglandinas. 21 ◦ Ocitocina: agente mais conhecido nas induções de parto. Sendo um uterotônico sintético, realizado por via endovenosa, com controle de gotejamento, por meio de bomba de infusão. Começa com doses iniciais e aumenta a dose conforme o passar das horas, até obter contrações efetivas e regulares. É de extrema importância a avaliação da vitalidade fetal antes e durante a indução de trabalho de parto, principalmente em uso de métodos farmacológicos, devendo atentar para bradicardias fetais ou acelerações fetais que não estabilizam. ATENÇÃO Outra técnica que é observada a sua utilização nos centros obstétricos é a amniotomia, utilizada para acelerar o trabalho de parto em curso, e de forma rara para indução do trabalho de parto. A OMS (WHO, 2018, p. 117, tradução nossa) recomenda: “O uso de amniotomia isoladamente para prevenção de atraso no trabalho de parto não é recomendado [...] O uso de amniotomia precoce com aumento precoce de ocitocina para prevenção de atraso no trabalho de parto não é recomendado”. Para finalizar, é necessário discutirmos que, atualmente, não apenas no Brasil, mas em grande parte do mundo, há uma alta taxa de indução de partos, muitas vezes desnecessárias, com aumento também da taxa de cesarianas por distócias funcionais do parto e sofrimento fetal. Esses mecanismos de indução devem ser realizados apenas quando bem indicados, conforme citado no início deste subtópico. O enfermeiro, como profissional importante da equipe no centro obstétrico, pode e deve informar à parturiente essas indicações, baseadas em evidências científicas e, quando realizadas, ele deve praticaro cuidado e a vigília materno-fetal durante todo o período da indução do parto. 22 Neste tópico, você aprendeu: • Para uma contração uterina acontecer, é necessária a formação de gap junctions, além da síntese de prostaglandinas e do aumento de receptores de ocitocina. • O trabalho de parto é diagnosticado pela presença de contrações regulares e efetivas, iniciando com duas contrações em 10 minutos, podendo chegar a cinco contrações em 10 minutos, com duração de 50 segundos a 1 minuto. • Conhecer o mecanismo do parto é fundamental para uma assistência de qualidade durante o parto e o nascimento, sendo as apresentações cefálicas fletidas mais comuns, com mais facilidade no encravamento e na expulsão fetal. • As fases do trabalho de parto podem ser divididas em quatro períodos: o primeiro caracterizado pela dilatação do colo do útero, passando pela fase latente, pela fase ativa, pela fase de transição até os 10 cm de dilatação; o segundo período, pela expulsão do feto; o terceiro período, pela dequitadura da placenta; e, por fim, o quarto período sendo o puerpério imediato. • O quarto período, ou período de Greenberg, é a primeira hora após a expulsão da placenta, quando ocorrem dois fenômenos conhecidos como miotamponamento e trombotamponamento, responsáveis pela estabilização de hemorragia uterina no pós-parto imediato. • A assistência do enfermeiro, em cada período do trabalho de parto, vai muito além da parte técnica, devendo ser vista com humanização e cuidado integral da parturiente e da família. • Um parto instrumentado deve ter assistência de uma equipe preparada, segura e ágil, bem como de um profissional condutor capacitado e familiarizado com tais procedimentos, a fim de evitar desfechos infelizes. • A ocitocina é um método de indução farmacológica, uma das principais formas utilizadas em induções de trabalho de parto, que necessita, frequentemente, de monitoração cardíaca fetal. RESUMO DO TÓPICO 1 23 1 Os estudos da fisiologia do parto mostram que a bioquímica, para o início do trabalho de parto, é dividida em fases: a fase 0 da quiescência, com a ação da progesterona evitando partos prematuros, seguida pela fase 1 de ativação miometral, pela fase 2 de estimulação e contração uterina, e pela fase 3 de involução uterina no pós-parto. A fase 2, das contrações efetivas, é precedida por uma preparação do útero e do colo, indolor e irregular. Com base em como é conhecida essa fase, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Preparação de quiescência, conhecidas como preparação para o parto. b) ( ) Contrações de Braxton-Hicks, conhecidas como as contrações de treinamento. c) ( ) Contrações de Partos-Hicks, conhecidas como as contrações de treinamento. d) ( ) Contrações de ativação miometral, conhecida como preparação para o parto. 2 Considera-se que um falso trabalho de parto não tem contrações regulares nem dilatação do colo do útero e muito menos a percepção da dor. Sobre a importância de se reconhecer a diferença entre um falso trabalho de parto e um trabalho de parto verdadeiro, analise as sentenças a seguir: I- O trabalho de parto verdadeiro tem a presença de contrações uterinas regulares, com intervalos cada vez menores, chegando apenas até duas contrações em 10 minutos. II- A percepção da dor de uma contração pode ocorrer tanto na lombar da parturiente como na região de baixo ventre. III- É possível identificar a presença de uma contração quando se sente o útero endurecido à palpação abdominal, além da valorização da queixa da parturiente sobre a dor da contração. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 A indução do trabalho de parto é um procedimento que deve ser realizado com cautela e apenas quando realmente necessário, conforme indicações clínicas baseadas em evidências científicas. De acordo com as indicações para indução de trabalho de parto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: AUTOATIVIDADE 24 ( ) Deve ser induzido o parto em caso de gravidez pós-termo, que corresponde ao período após as 39 semanas de gestação. ( ) Situações como pré-eclâmpsia, eclâmpsia, hipertensão induzida pela gravidez, síndrome de HELLP e diabetes são indicações para a indução do trabalho de parto. ( ) A indução do trabalho de parto é indicada apenas quando os benefícios para a mãe e o feto são maiores do que se a gestação for mantida. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) F – V – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) V – F – V. 4 O trabalho de parto é um evento fisiológico, um conjunto de fenômenos espontâneos que conduz a dilatação do colo uterino e a expulsão do feto. O parto eutócico acontece quando não há intervenções, seguindo-se todos os períodos de forma definida e sem intercorrências. Diante disso, disserte sobre as fases do trabalho de parto e alguns pontos importantes para a assistência do enfermeiro nos períodos elencados. 5 Acerca do parto instrumentado, ou parto distócico, percebe-se que, atualmente, são utilizadas práticas rotineiras de uso de instrumentos durante o período expulsivo, com a justificativa de apressar o parto e ajudar a parturiente. Nesse contexto, disserte sobre a utilização desses instrumentos e quando realmente eles se fazem necessários. 25 ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO O parto é um evento único, em que a mulher, que está grávida, decide o ambiente onde deseja realizar o parto e os profissionais que estarão com ela – isso não exclui os profissionais que já devem estar presentes nesse momento, como no caso de um centro obstétrico de uma instituição hospitalar, em que há as equipes capacitadas com cada profissional especialista da área, sendo médico, enfermeiro, técnico de Enfermagem, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta etc. Além desse suporte, não podemos nos esquecer da presença de um acompanhante, que não pode ser substituído pela presença da doula, e vice-versa. Antigamente, os profissionais envolvidos no parto eram apenas as parteiras e suas auxiliares, não sendo um ato médico, mas, sim, pertencente a esse grupo de mulheres envolvidas no parto e no nascimento. Com o passar do tempo e com o aumento do uso de tecnologias, o estudo da medicina evoluiu e os usos de intervenções no parto, consequentemente, aumentaram, deixando a parteira de ser a profissional envolvida no parto para dar lugar ao médico. Infelizmente, percebeu-se que a autonomia da mulher no parto acabou sendo ofuscada com a figura desse novo agente, assim como o respeito a seu corpo e suas escolhas. Diante de muitas manifestações e dados sobre o aumento da mortalidade materno-fetal, os agentes de saúde iniciaram mudanças para melhorar a assistência ao parto e inserir boas práticas de parto e nascimento. Um dos fatores indicados foi a inserção da equipe multidisciplinar, que, hoje, é percebida como de grande importância para gestação, organização, agilidade, qualidade de humanização da assistência à parturiente. Com isso, o enfermeiro ganhou muito mais autonomia nesse cenário, junto à mulher, e a Enfermagem obstétrica mostrou-se, e ainda se mostra, capaz de trazer grandes contributos, quando inserida no cuidado à parturiente. Dessa forma, neste tópico, abordaremos, um pouco mais, as atribuições desses profissionais envolvidos no parto e no nascimento dentro do centro obstétrico, para, em seguida, nos aprofundarmos nas rotinas desse setor. 26 2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Uma equipe multidisciplinar nada mais é do que um grupo de profissionais, cada qual comsua especificidade, em grande maioria juntos por um objetivo geral comum – no caso do centro obstétrico, o maior objetivo seria o bem-estar da tríade na vivência do parto e do nascimento. Essa equipe especializada e capacitada traz maior segurança para a mãe em um momento especial da vida dela, visto que há uma partilha de informações, conhecimentos e também uma assistência de qualidade, promovendo, assim, uma experiência mais positiva do parto e do nascimento. É importante salientar que, além da assistência técnica de cada profissional, a humanização no cuidado à parturiente é um dos fatores mais importantes nesse meio. Evangelista et al. (2016) comentam essas iniciativas, salientando que deve ser promovida a humanização na equipe multidisciplinar. Entretanto, percebe-se que ainda há fatores que não contribuem para o bem- estar materno e fetal; atualmente, no Brasil e em outros países, um deles é a falta assistência multidisciplinar, o trabalho em equipe. “Aponta-se, nessa perspectiva, que uma grande parte das complicações que envolvem a saúde materna e perinatal revela que a equipe não atua de forma conjunta devido à comunicação desarticulada e deficiente” (BRAZ et al., 2019, p. 2). É claro que esse problema, em potencial, não ocorre só por causa da falta de articulação entre os profissionais, sendo, talvez, uma questão multifatorial. Verificou-se outra vertente sobre a compreensão de que este é um processo complexo que envolve a articulação dos distintos níveis de atenção, a gestão das instituições de saúde e boas condições de infraestrutura e recursos humanos. Os autores também enfatizaram que é necessário que haja condições favoráveis para os profissionais de saúde desenvolverem seu trabalho, além de estímulo, qualificação e aperfeiçoamentos, subsídios fundamentais para a efetivação de práticas que busquem atender às necessidades das usuárias (BARROS; MORAES, 2020, p. 89). Nesse sentido, devemos encarar que a assistência multiprofissional deve ser observada como um trabalho de saúde coletivo, “embora, entre as diferentes categorias, ainda predomine a tendência de se satisfazer aspirações profissionais e criar hegemonias, a interdisciplinaridade assume uma grande importância, uma vez que identifica e nomeia uma mediação possível entre os saberes e competências” (BRAZ et al., 2019, p. 7). 27 As Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a), trazem recomendações para os profis- sionais seguirem uma assistência mais organizada, humanizada e baseada em evidência científica durante o parto, relatando quais profissionais devem estar envolvidos nessa assistência direta: mé- dicos obstetras, pediatras, neonatologistas, anestesiologistas, ge- neralistas, enfermeiros obstétricos, obstetrizes, enfermeiros assis- tenciais e técnicos de Enfermagem, além de todos os profissionais envolvidos indiretamente na assistência ao parto, como fisiotera- peutas, psicólogos, nutricionistas, doulas e educadores perinatais. IMPORTANTE O hospital, muitas vezes, é considerado, pela parturiente, um local diferente do comum, que ainda traz a lembrança de “doenças”; dessa forma, para a família, deve ser ofertado um ambiente adequado para o parto, além de profissionais capacitados, uma equipe especializada e que acolha a mulher nesse momento especial, que é a vinda de um novo ser. De acordo com Carraro et al. (2008), quando ocorre uma comunicação adequada, um acolhimento, uma escuta ativa e que traz a sensação de conforto e segurança para a mulher, nesse momento, há uma solidificação do cuidado integral à saúde dessa parturiente, com apoio emocional e físico, promovendo a participação ativa dessa agente principal do parto, a mulher. 3 O ENFERMEIRO GENERALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO É importante salientar a grande importância das atribuições do enfermeiro generalista dentro desse setor, visto que ele se insere na equipe interdisciplinar e sabe da sua importância para um cuidado de qualidade às parturientes, escutando, de forma ativa, as necessidades delas. Verifica-se que essa é uma realidade observada em outro trabalho, realizado com enfermeiros obstetras na região sul de Santa Catarina, que destacou a importância do apoio da equipe multiprofissional para o fortalecimento da autonomia do enfermeiro e, consequentemente, a melhoria da assistência como um todo (BRAZ et al., 2019, p. 6). Nesse sentido, é importante destacarmos as competências do profissional inserido nesse meio, segundo o Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987 (BRASIL, 1987). 28 Segundo o Art. 8º, ao Enfermeiro incumbe: I- privativamente: [...] h) prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puérpera e ao recém-nascido; j) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; l) execução e assistência obstétrica em situação de emergência e execução do parto sem distocia (BRASIL, 1987). NOTA Nota-se que, além das competências generalistas, em vários estudos, a visão holística e desmedicalizada do enfermeiro na assistência ao parto se destaca entre os outros profissionais. “Pontua-se que, para tanto, a sua autonomia profissional deve ser preservada e os profissionais de saúde devem atuar em conformidade com a legislação brasileira e, também, com as resoluções e pareceres normativos dos conselhos e categorias em que se inserem” (BRAZ et al., 2019, p. 7). O Enfermeiro sem as titulações [...] poderá realizar, como integrante da equipe de saúde, o acompanhamento do trabalho de parto normal, realizar dinâmica uterina e toque vaginal, entretanto, o conteúdo abordado na graduação não o capacita integralmente para a realização de parto normal sem distocia. Não compete ao Auxiliar e Técnico de Enfermagem a realização de dinâmica uterina e toque vaginal (COREN-SP, 2013, p. 5). O enfermeiro, nesse cenário, contribui para uma assistência humanizada, possibilitando um espaço de conforto à mulher, observando queixas, necessidades e medos da parturiente, informando a parturiente sobre procedimentos e condutas do setor, colocando em prática o consentimento informado e a estimulando a se tornar a protagonista do seu parto, ao promover a presença do acompanhante e também realizar métodos naturais de alívio da dor no momento das contrações; além disso, o enfermeiro se mostra como o principal agente que valoriza a cultura, a crença, as necessidades e os desejos da parturiente durante o parto, ou seja, é um profissional “chave” dentro do centro obstétrico. “Desse modo, é necessário que na gestão da assistência relaciona- se a um processo social e humano envolvendo a motivação, liderança, participação, comunicação, colaboração e influência interpessoal” (AMORIM; BACKES, 2020 apud SILVA et al., 2020, p. 180). 29 4 O ENFERMEIRO ESPECIALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO Diante das atribuições citadas no Art. 9º do Decreto nº 94.406/1987 (BRASIL, 1987), é importante relacionarmos essas competências com alguns dados observados no portal do governo brasileiro de atenção às mulheres, o qual explica que, desde 1990, observou-se os países que inseriram os enfermeiros obstétricos na assistência ao parto, concluindo-se uma redução significativa da mortalidade materna de 2 a 5% no ano. Art. 9º Às profissionais titulares de diploma ou certificados de Obstetriz ou de Enfermeira Obstétrica, além das atividades de que trata o artigo precedente, incumbe: I- prestação de assistência à parturiente e ao parto normal; II- identificação das distocias obstétricas e tomada de providência até a chegada do médico; III- realização de episiotomia e episiorrafia, com aplicação de anestesia local, quando necessária (BRASIL, 1987). Essa prática de atuação dos enfermeiros especialistas em obstetrícia e ginecologia é reconhecida pela OMS, e, ainda,vários estudos têm verificado que a inserção desse profissional no parto melhora o cuidado a parturiente. Segundo dados obtidos do portal do governo brasileiro, “Pesquisas apontam que 83% dos óbitos maternos e fetais poderiam ser evitados com o cuidado da enfermagem obstétrica, incluindo o planejamento familiar” (BRASIL, 2020). Considera-se inegável a importância da Enfermagem Obstétrica na equipe multidisciplinar durante o cuidado à parturiente, todavia, para que essa assistência tenha sucesso, faz-se necessária uma interação entre a equipe multiprofissional, como preconizam as políticas públicas de Humanização do Parto e Nascimento do Ministério da Saúde do Brasil, atendendo às recomendações emanadas pela Organização Mundial de Saúde (BRAZ et al., 2019, p. 6). Para conhecer os detalhes das atribuições da Enfermagem, leia o Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987, que regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, a qual dispõe sobre o exercício da enfermagem e dá outras providências. Acesse: http://twixar.me/wgQm. DICA 30 Acadêmico, a atuação do enfermeiro obstetra, dentro do centro obstétrico, é focada em atendimento de partos de baixo risco, que seguem a fisiologia do parto normal; já os médicos obstetras têm a sua atenção e assistência voltadas ao parto patológico e fora da fisiologia normal. Entretanto, um não exclui o auxílio e a atenção do outro em ambas as situações de partos (normais ou patológicos). IMPORTANTE Segundo Silva A. et al. (2018), o enfermeiro obstetra, além de estar atento às queixas dessa parturiente, deve observar sinais que indicam algum tipo de intercorrência, para saber qual conduta tomar diante de uma possível emergência. A informação à gestante sobre a evolução do trabalho de parto e as condutas tomadas também devem fazer parte do cuidado integral do enfermeiro obstetra. Observar e monitorar cada período do trabalho de parto, diagnosticar e auxiliar durante as fases do trabalho de parto fazem parte da assistência. Percebeu-se ainda as várias finalidades do enfermeiro obstetra, desde a prática do favorecimento para um ambiente propício a redução da ansiedade e o medo nas mulheres em trabalho de parto, além da oferta e aplicabilidade de técnicas para amenizar as dores e possíveis complicações nos períodos do parto (SILVA, A. et al., 2018, p. 92). Algumas atividades durante o trabalho de parto da enfermeira obstétrica são: avaliação do bem-estar materno-fetal, realizando a partir da ausculta cardíaca fetal e sinais vitais maternos, avaliação da progressão do trabalho de parto, a partir do exame de toque vaginal e observação do segmento da fisiologia do parto. Já no parto, a condução do mesmo quando parto eutócico e a realização de sutura se necessário. No que abrange o nascimento, como atribuição, está o recebimento deste recém-nascido e apresentação do mesmo para a mãe, realizando a promoção do contato pele a pele. IMPORTANTE 31 Neste tópico, você aprendeu: • A equipe multiprofissional tem grande importância no processo de parturição, uma vez que cada profissional com sua competência e atribuição dentro do centro obstétrico. • A humanização da assistência no período do parto e do nascimento também se mostra um fator relevante, quando associada à inserção de profissionais capacitados na área materna e obstétrica. • Médico obstetra, anestesista, pediatra, enfermeiro generalista, enfermeiro obstetra e técnico de Enfermagem são os profissionais em linha direta com a assistência ao parto. Fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo e doulas seguem, de forma indireta, tornando a assistência do parto mais humana e multidisciplinar. • O enfermeiro generalista pode atuar no acompanhamento do trabalho de parto e parto de forma legal, tendo como seus maiores contributos a desmedicalização do parto, auxílio com métodos naturais de alívio da dor e suporte técnico para a parturiente. • O enfermeiro obstetra tem grande autonomia profissional dentro do centro obstétrico, visto que suas competências abrangem, além do acompanhamento do trabalho de parto, a condução desse procedimento, quando de baixo risco, cabendo, ainda, a avaliação de eventuais riscos e emergências, realizando o cuidado necessário para a parturiente dentro de suas atribuições. RESUMO DO TÓPICO 2 32 1 O Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987, regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem e dá outras providências. Acerca do exercício da atividade de Enfermagem na assistência ao parto e ao nascimento, assinale a alternativa INCORRETA: FONTE: BRASIL. Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987. Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de ju- nho de 1986, que dispõe sobre o exercício da enfermagem, e dá outras providências. Disponível em: http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/d94406.htm. Acesso em: 16 set. 2022. a) ( ) Ao enfermeiro generalista incube, privativamente, a prestação de assistência de Enfermagem à gestante, à parturiente, à puérpera e ao recém-nascido, o acompanhamento da evolução e do trabalho de parto, bem como a sua execução. b) ( ) Ao enfermeiro generalista incube, privativamente, a assistência obstétrica em situação de emergência e a execução do parto com ou sem distócia. c) ( ) Ao enfermeiro obstetra incube a prestação de assistência à parturiente e ao parto normal e a realização de episiotomia e episiorrafia, com aplicação de anestesia local, quando necessário. d) ( ) Ao enfermeiro obstetra incube a identificação das distócias obstétricas e a tomada de providência até a chegada do médico. 2 O enfermeiro tem grandes contribuições para o período clínico do parto, podendo ser ressaltadas a valorização do desejo da mulher, a comunicação entre equipe e paciente, e a promoção da escuta ativa durante o período do parto, valorizando crenças, histórias e necessidades físicas e emocionais dela. Com base nas atribuições específicas do enfermeiro obstetra, que se mostra de grande importância no meio do processo de parturição, analise as sentenças a seguir: I- É de responsabilidade do enfermeiro a avaliação do bem-estar materno e fetal, sendo um dos cuidados para garantir a saúde da mãe-feto a realização da ausculta cardíaca fetal e dos sinais vitais maternos. II- A avaliação da progressão do trabalho de parto pode ser feita a partir do exame do toque vaginal, no qual se verifica a consistência do cérvix, a posição do bebê e a dilatação cervical. III- Uma das atribuições que traz grande autonomia para o enfermeiro obstetra é o acompanhamento e a execução do parto normal eutócico. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Todas as sentenças estão corretas. AUTOATIVIDADE http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/d94406.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-1989/d94406.htm 33 3 Segundo a Política Nacional da Humanização (PNH), do Ministério da Saúde, e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma vivência positiva de parto, a humanização na assistência ao parto tem, como proposta principal, o respeito à tríade e aos desejos da parturiente para o momento do parto e do nascimento, além da promoção do trabalho em equipe, a fim de tornar o cuidado multidisciplinar. Diante disso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O resgate a autonomia da mulher é um fator determinante da humanização do parto, o qual deve ser praticado por todos os profissionais que trabalham direta ou indiretamente com o processo de parturição. ( ) O enfermeiro não necessita estar atento às queixas da parturiente sempre, visto que esse não é umfator importante para a avaliação de possíveis riscos e intervenções. ( ) A escuta ativa deve ser promovida por todos os profissionais, tanto médicos quanto enfermeiros, a fim de promover maior segurança e conforto ao casal. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A inserção do enfermeiro obstetra, dentro da equipe multidisciplinar, simplifica a forma de atendimento mais humanizado e também diminui os níveis de intervenções irrelevantes no parto, fazendo com que a mulher tenha mais autonomia e protagonismo no momento do nascimento do seu filho. Diante disso, discorra sobre as principais atribuições do enfermeiro obstetra dentro do centro obstétrico. 5 Com o passar dos anos, a mulher perdeu o seu papel de agente ativo no nascimento do filho e, por isso, atualmente, existe a necessidade do resgate do parto normal humanizado, no qual a parturiente tem seus direitos e escolhas respeitados, diante de um acompanhamento com profissionais qualificados, minimizando as intercorrências durante do parto e trazendo maior segurança e qualidade ao atendimento. Diante disso, por que a assistência multiprofissional deve ser observada como um trabalho de saúde coletivo no processo de parturição? 34 35 TÓPICO 3 — ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos as rotinas do centro obstétrico, setor que, geralmente, segue um fluxo de atendimento para gestantes, parturientes, puérperas, lactantes e também, por vezes, o atendimento a mulheres com condições ginecológicas, relacionadas à obstetrícia. É importante conhecermos o fluxo de atendimento desse setor, visto que o profissional enfermeiro deve exercer as competências específicas para o centro obstétrico, além das competências gerais do enfermeiro. Entre tais competências, estão o acolhimento e a realização da anamnese da mulher, no momento que ela entra na triagem obstétrica, os cuidados assistenciais de rotina durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato no pré-parto e na sala de parto, bem como a assistência de rotina na sala cirúrgica, que pode estar dentro do próprio centro obstétrico, destinado a procedimentos obstétricos e ginecológicos, ou na sala cirúrgica do centro cirúrgico, a qual deve estar ao lado do centro obstétrico, para suprir a demanda de intercorrências, dependendo da organização da instituição hospitalar. Por fim, cuidar das rotinas da sala de recuperação, onde estão as mulheres que passaram por um parto normal ou as que passaram por cesariana, como os cuidados pós-anestésicos. É importante salientar que cada instituição tem a sua estrutura e divisão de setores, as rotinas e os cuidados prestados devem seguir um padrão durante a assistência, porém os manuais e protocolos podem se diferenciar de uma instituição para outra. Assim, abordaremos, de maneira simplificada, de acordo com autores e diretrizes do Ministério da Saúde, os cuidados e as rotinas assistenciais, bem como a implementação do processo de Enfermagem dentro do setor do centro obstétrico. A organização do centro obstétrico conta com uma estrutura que deverá atender à mulher e ao acompanhante, para dar suporte no período gravídico-puerperal, composto por triagem para classificação de risco da mulher, o pré-parto e as salas de partos ou salas PPP, que são as salas pré-parto, parto e pós-parto, podendo contar, também, com uma sala cirúrgica e a sala de recuperação dentro do mesmo setor. Neste tópico, em geral, veremos os cuidados destinados a gestantes de baixo risco, em que há uma evolução normal do trabalho de parto e parto. 36 No Tópico 4, abordaremos as intercorrências em gestações de risco. Fique atento às dicas de leitura, bem como aos pontos de interesse sobre esse tópico. ESTUDOS FUTUROS 2 TRIAGEM OBSTÉTRICA As gestantes que chegam ao setor devem, primeiramente, ser avaliadas, passando pela triagem obstétrica, verificando a queixa para, após isso, o profissional responsável do plantão realizar a conduta necessária. Conhecido também como acolhimento da paciente, é na triagem que o enfermeiro ouve as queixas da mulher, respeitando a Política Nacional da Humanização, que diz: A palavra “acolher”, em seus vários sentidos, expressa “dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a, agasalhar, receber, atender, admitir” [...]. O acolhimento como ato ou efeito de acolher expressa uma ação de aproximação, um “estar com” e “perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão, de estar em relação com algo ou alguém. É exatamente no sentido da ação de “estar com” ou “próximo de” que queremos afirmar o acolhimento como uma das diretrizes de maior relevância política, ética e estética da Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (BRASIL, 2009, p. 10-11). O Manual de Acolhimento e Classificação de Risco em Obstetrícia, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2018), salienta que esse momento é essencial para a mulher/casal que procuram a instituição, muitas vezes, com maior frequência do que deveria, devido a dúvidas e queixas que poderiam ter sido explicadas e informadas com mais clareza. Esse acolhimento tem também um objetivo especial de criação de vínculo entre o enfermeiro e o casal, o depósito de confiança no profissional da saúde faz com que essa mulher se sinta mais protagonista da gestação e parto. Ainda, em algumas queixas comuns, pode estar oculta alguma situação que requeira solução mais rápida, como algumas emergências obstétricas. Nesse sentido, a importância de uma escuta qualificada, treinada e capacitada é necessária para perceber situações clínicas urgentes. A classificação de risco também deve ser associada a esse acolhimento, visto que o atendimento por ordem de chegada é falho nos casos em que há a priorização de urgências clínicas. Ainda, segundo o Manual do Acolhimento de Classificação de Risco em Obstetrícia (BRASIL, 2018), deve ser realizada essa classificação de risco em todas as portas de entrada de maternidades e centros obstétricos, organizando e facilitando o atendimento de prioridade: 37 A implantação do A&CR [Acolhimento e Classificação de Risco] passa pela articulação dos seguintes movimentos de mudanças: • Ampliação da responsabilização dos profissionais de saúde em relação aos usuários e efetivação dos vínculos de confiança. • Aperfeiçoamento do trabalho em equipe, com a integração e complementaridade das atividades exercidas pelas categorias profissionais que atuam nos serviços que assistem partos. • Atendimento médico, do enfermeiro obstetra, ou de obstetriz em tempo oportuno, fazendo com que a usuária seja assistida de acordo com a sua gravidade clínica, abandonando a lógica do atendimento por ordem de chegada. • Otimização dos espaços para agilizar o atendimento, seguindo-se os referenciais da ambiência. • Informação à mulher e aos familiares/acompanhantes dos tempos de espera previstos para atendimento (BRASIL, 2018, p. 15). Entre as atribuições do enfermeiro envolvido em Acolhimento e Classificação de Risco em Obstetrícia (A&CRO) estão: • Receber as fichas de atendimento, avaliando de forma ágil e responsável a prioridade da mulher, de acordo com a queixa apresentada. • Chamar a mulher pelo nome, solicitando também a presença de um acompanhante, caso seja desejo da usuária. • Acolher a mulher e o acompanhante, de forma cordial e responsável. • Classificar o risco com rapidez e eficiência, seguindo o protocolo adotado. • Anexar a ficha de “notificação de violência”, quando houver suspeita ou confirmação de caso. • Registrar dados da classificação na ficha de atendimento, sinalizando, por meio de cores, a classificação da mulher. • Registrar a classificação no mapa do A&CR. • Orientar a mulher, de formaclara, quanto a sua situação e ao tempo de espera do atendimento. • Entregar a ficha de atendimento ao técnico, para que seja colocada nos consultórios. • Reclassificar as usuárias sempre que forem identificadas alterações pela equipe. • Estar integrado com a equipe multiprofissional do centro obstétrico/maternidade, buscando melhor resolutividade da atenção. • Supervisionar o trabalho do técnico/auxiliar de Enfermagem e estagiário, orientando corretamente, quando necessário. • Realizar passagem de plantão regularmente, não sendo permitido abandonar o plantão sem que outro funcionário o assuma. • Registrar, em livro próprio, as ocorrências do setor. Acadêmico, é importante que você, como futuro profissional da Enfer- magem, compreenda todas as atribuições do enfermeiro envolvido em A&CRO. IMPORTANTE 38 Além dessas atribuições, é importante que o ambiente esteja tranquilo e organizado, de forma que a mulher/casal e a doula se sintam confortáveis e seguros. Deve-se lembrar de ter uma cadeira a mais para o acompanhante, o que mostra o interesse do profissional para que ele participe da triagem. Para o início da triagem, a verificação dos sinais vitais da gestante, em conjunto com a escala de nível de dor (Figura 8), e a ausculta do batimento cardíaco fetal (BCF) são cuidados essenciais nesse momento, assim como a anotação desses parâmetros no prontuário da paciente. Figura 8 – Escala de dor Fonte: Brasil (2018, p. 36) A Tabela 1 apresenta os parâmetros de pressão arterial e frequência cardíaca da gestante e da puérpera, com os níveis estáveis dos parâmetros e os níveis alterados. Tabela 1 – Parâmetros de avaliação de pressão arterial e frequência cardíaca da gestante e puérpera Pressão arterial sistólica Pressão arterial diastólica Frequência cardíaca Inaudível ou abaixo de 80 mmHg ********* ≥ 140 ou ≤ 59 bpm, em pa- ciente sintomática ≥ 160 mmHg ≥ 110 mmHg ≥ 140 ou ≤ 50 bpm, em pa- ciente assintomática ≥ 140 mmHg a 159 mmHg, com sintomas ≥ 90 a 109 mmHg, com sin- tomas 91 a 139 bpm < 139 mmHg < 89 mmHg 60 a 90 bpm Fonte: Brasil (2017b, p. 35) Para a classificação de risco obstétrico, a A&CRO traz, como referências, fluxogramas de classificação de risco, criados por multiprofissionais, baseados em evidências científicas, que têm como objetivos avaliar a gravidade e o potencial de agravamento de situações e a necessidade ou não de assistência imediata. Esses fluxogramas abrangem os seguintes fenômenos: 39 • Desmaio/mal estar geral. • Dor abdominal/lombar/contrações uterinas. • Dor de cabeça, tontura, vertigem. • Falta de ar. • Febre/sinais de infecção. • Náuseas e vômitos. • Perda de líquido vaginal/secreções. • Perda de sangue via vaginal. • Queixas urinárias. • Parada/redução de movimentos fetais. • Relato de convulsão. • Outras queixas/situações (BRASIL, 2018, p. 37). Acadêmico, você pode conferir os fluxogramas completos e esquema- tizados no documento do Ministério da Saúde: Manual de Acolhimento e Classificação de Risco em Obstetrícia (BRASIL, 2018), disponível em: http://twixar.me/zgQm. DICA Após a classificação de risco, deve ser sinalizada, na pulseira de identificação da paciente, a cor que irá definir o tempo de espera (vermelho, laranja, amarelo, verde ou azul). As pacientes que estiverem com pulseira vermelha são de atendimento imediato, devendo ser levadas à sala de emergência, pois têm risco de morte e necessitam de atendimento médico imediato (BRASIL, 2018). As de pulseira laranja devem ser atendidas em até 15 minutos no consultório médico do centro obstétrico. A pulseira amarela indica um atendimento em até 30 minutos, sendo a paciente atendida também em consultório médico. A pulseira verde significa que o atendimento será em até 120 minutos, sem risco grave, podendo ser atendida por ordem de chegada. Por fim, a pulseira azul corresponde ao atendimento não prioritário ou encaminhamento, conforme pactuação (BRASIL, 2018). Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal (BRASIL, 2017a), se a parturiente estiver com trabalho de parto estabelecido, ou seja, com mais de 4 cm de dilatação e contrações efetivas, já poderá ser admitida para internação. Após a admissão, essa paciente passará por outra linha de assistência. Montenegro et al. (2014), no livro de Protocolos de medicina materno-fetal, organizam os tópicos de cuidados prestados na admissão da parturiente: • Avaliação da temperatura axilar/auricular; • Avaliação da PA no braço direito com grávida sentada – esfingomanômetro de Hg nas grávidas com antecedentes de hipertensão, medidos automático nas restantes; • Avaliação da proteinúria (exceto nos casos de rotura de membranas); • Informação à parturiente e família dos regulamentos do bloco de partos (MONTENEGRO et al., 2014, p. 209). 40 Além disso, é importante a realização de testes rápidos, como vírus da imunodeficiência humana (HIV) e exame de VDRL, além de saber o tipo sanguíneo e o fator Rh, para a profilaxia anti-D no pós-parto, se for o caso de Rh negativo. Ainda, é necessário perceber também as queixas e os motivos da internação, como perda de líquido, dor em baixo ventre, contrações etc. Montenegro e Rezende Junior (2016) salientam que o enema intestinal e a tricotomia do monte de Vênus não são mais recomendados, pois não têm evidências científicas que mostram o benefício dessas práticas para a diminuição de infecções maternas. A OMS (WHO, 2018) também não recomenda mais esse tipo de procedimento nos centros obstétricos. Acadêmico, o enfermeiro deve garantir a presença de um acompa- nhante de escolha da parturiente durante toda a internação no centro obstétrico; assim, a mulher se sentirá mais segura e confortável, contribuindo com o desenvolvimento do trabalho de parto e a vinculação da família. ATENÇÃO Além disso, no momento da internação, o enfermeiro deve perguntar se há um plano de parto, o qual deve ser discutido com a equipe e o casal, além de arquivado em prontuário da paciente. Esse documento é importante para a equipe entender as expectativas da grávida: “A grávida deve entender que o seu plano de parto, tal como ela própria, é alvo de atenção individualizada e de respeito. Mas que, porque se trata disso mesmo, de um plano, poderá ser necessário mudar a atuação em função de determinadas circunstâncias” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 363). 3 PRÉ-PARTO Na sala de pré-parto, ficam internadas as gestantes em trabalho de parto, em indução de trabalho de parto ou casos de condução de aborto, que devem ficar em salas isoladas e privativas. Os profissionais da equipe de Enfermagem envolvidos no pré- parto são o enfermeiro chefe, o enfermeiro obstetra, o enfermeiro assistencial e o técnico de enfermagem. ATENÇÃO 41 Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério da Saúde (2017a), as mulheres durante o trabalho de parto devem ser tratadas pelos profissionais da saúde com respeito e empatia, além da importância de serem munidas de informações, baseadas em evidências científicas, e sempre serem envolvidas na tomada de decisões. Informá-la sobre métodos de alívio da dor também é uma prática que deve ser rotina no pré-parto, encorajá-la a se movimentar, fazer uso da ducha e da bola suíça e deambulação, a fim de trazer inúmeros benefícios para a progressão do trabalho de parto, além de auxiliar no alívio natural da dor. O apoio físico e emocional também é imprescindível, além de uma dieta livre, quando não estiverem em efeito de opioides ou riscos para anestesia, e o estímulo à ingesta de líquidos também são importantes, visto que a paciente precisa de energia para todo o período do trabalho de parto. Ainda, é salientado o profissional assegurar as medidas assépticas durante o acompanhamentodo trabalho de parto, sendo necessária a limpeza das mãos antes de procedimentos. Um dos pontos importantes sobre o cuidado das necessidades da parturiente, segundo Nené, Marques e Batista (2016), é a nutrição da parturiente, uma vez que, atualmente, o jejum em parturientes de baixo risco não é recomendado por rotina e que o consumo de líquidos isotônicos, durante o trabalho de parto, auxilia para que não ocorra uma cetose. O jejum pode levar à desidratação e à acidose, por isso a necessidade de uma alimentação livre e hidratação, para que a parturiente mantenha seu nível de energia alta, minimizando a sua exaustão na hora do expulsivo. Outro fator importante, ainda englobando os cuidados das necessidades da parturiente, segundo Nené, Marques e Batista (2016), é o estímulo à deambulação, uma das atividades que o enfermeiro deve apoiar e auxiliar a parturiente a realizar, pois diminui a intensidade da dor, ajuda na circulação materna, reduz a duração do trabalho de parto, ajuda na descida do feto na pelve e reduz as taxas de cesarianas. A avaliação do bem-estar fetal, durante o trabalho de parto, deve ser realizada de forma adequada, para garantir uma assistência de qualidade. A ausculta cardíaca fetal deve ser feita, de modo intermitente, em gestantes de baixo risco, com Sonar Doppler ou esteto de Pinard, a cada 30 minutos, por pelo menos 1 minuto, devendo ser registrada, também, a presença de acelerações e desacelerações, conforme as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a). É importante salientar que a OMS (WHO, 2018) não recomenda a monitoração contínua com cardiotocografia durante o trabalho de parto de baixo risco. IMPORTANTE 42 Para compreender melhor o parâmetro de monitoração cardíaca fetal, podemos observar a Tabela 2. Resumidamente, conforme Graça (2017), em padrões normais, devemos ter uma frequência cardíaca fetal basal entre 110 e 160 bpm, uma boa variabilidade dessa frequência cardíaca fetal, acelerações esporádicas e ausências de desacelerações, conforme mostra a Figura 9 em uma cardiotocografia intraparto normal. Tabela 2 – Parâmetros, interpretação e abordagem da monitoração cardíaca fetal Normal Suspeito Patológico Linha de base 110-160 bpm Ausente, pelo menos, uma das características de normalidade, mas sem padrões patológicos. < 100 bpm Variabilidade 5-25 bpm Ausente, pelo menos, uma das características de normalidade, mas sem padrões patológicos. Variabilidade reduzida (< 5 bpm) ou aumentada (> 25 bpm); padrão sinusoidal. Desacelerações Ausência de desacelerações repetitivas Ausente, pelo menos, uma das características de normalidade, mas sem padrões patológicos. Desacelerações tardias ou prolongadas repetitivas durante > 30 minutos (ou 20 minutos se variabilidade reduzida ou uma desaceleração prolongada com > 5 minutos. Interpretação Feto sem hipóxia/ acidose Feto com baixa probabilidade de hipóxia/acidose. Feto com alta probabilidade de hipóxia/acidose. Abordagem clínica Intervenção desnecessária Atuação para corrigir as causas reversíveis (se identificadas), estreita vigilância ou métodos adicionais para avaliar a oxigenação fetal. Ação imediata para corrigir causas reversíveis, métodos adicionais para avaliar a oxigenação fetal ou, se tal não for possível, parto imediato. Em situações agudas [...], parto imediato. Fonte: Graça (2017, p. 245) 43 Figura 9 – Frequência cardíaca fetal normal Fonte: Graça (2017, p. 246) Acadêmico, diante dessas informações e dos parâmetros normais de monitoração cardíaca fetal, você tem conhecimento para perceber e identificar alterações durante a avaliação do bem-estar materno-fetal no trabalho de parto, pois esse também é um cuidado importante durante o trabalho de parto, tanto na fase latente como ativa. IMPORTANTE Na fase latente, Montenegro et al. (2014) trazem como cuidados de rotina: • Avaliação da temperatura axilar/auricular, pulso radial e PA de 4 em 4 horas; • Exame toxicológico de 2/2h se ocorrerem contrações rítmicas; • Exame toxicológico imediato após suspeita de rutura de membranas; • Avaliação cardiotocográfica durante 30 minutos em cada 2 horas, se não tiver havido recentemente utilização de ocitocina e/ou prostaglandinas (se a parturiente não pretender monitorização fetal apenas com auscultação intermitente) [...]; • Nas parturientes sem rotura de membranas e que ainda não foram submetidas à analgesia epidural, não se preconiza a restrição da mobilização se não estiverem a realizar cardiotocografia; • Registro no partograma de todos os dados recolhidos; [...] • Não se preconiza a administração por rotina de soros (MONTENEGRO et al., 2014, p. 209). Na fase ativa, também são destacados os cuidados de rotina nesse período: • Avaliação da temperatura axilar/auricular, pulso radial e PA de 4/4 horas; • Exame toxicológico de hora em hora, se nada ocorrer que justifique exame imediato; • Monitorização cardíaca fetal; • Registro no partograma de todos os dados recolhidos; • Não se preconiza o decúbito obrigatório [...]. Deve ser evitado o decúbito dorsal prolongado (MONTENEGRO et al., 2014, p. 210). 44 Nesse momento, pode surgir a dúvida: como avaliar a progressão do trabalho de parto da paciente e como saber se ela está em período latente, ativo ou expulsivo? A resposta é clara: com observação, cuidados e assistência de qualidade. Assim, há alguns meios de se avaliar a progressão de um trabalho de parto, como a partir do toque vaginal, para perceber como está o colo uterino da parturiente e quantos centímetros de dilatação ela apresenta. Montenegro e Rezende Junior (2016) explicam que o profissional capacitado deve realizar, antes de tudo, a assepsia das mãos, pedir autorização para a paciente, inserir o dedo indicador e médio, utilizando algum lubrificante, até chegar ao colo uterino; a intenção é sentir o apagamento, a dilatação, a orientação e a consistência, se há ou não a bolsa das águas íntegras e a apresentação do feto. Entretanto, toques frequentes sem intenção técnica são traumáticos e desne- cessários para a parturiente. A OMS (WHO, 2018) recomenda que a avaliação por toque vaginal tenha intervalo de, pelo menos, 4 horas, evitando possíveis infecções maternas por agentes externos, salienta ainda a importância da comunicação com a mulher antes, durante e após o procedimento, para não haver constrangimentos. A linha púrpura também pode ser um meio de avaliação da progressão do trabalho de parto (Figura 10). Narchi et al. (2011, p. 314) explica que “a ‘linha púrpura’ é uma mancha de coloração arroxeada que se inicia na região perianal das mulheres em trabalho de parto e que, à medida que a dilatação cervical progride, avança no sentido ascendente pela fissura interglútea em direção à junção sacrococcígea”. Pode ser usada como um método auxiliar para avaliação da progressão do trabalho de parto, pois, quanto mais perto da junção sacrococcígea a linha arroxeada estiver, mais evoluído o trabalho de parto pode estar. Figura 10 – Direção da linha púrpura Fonte: Hobbs (1998 apud NARCHI et al., 2011, p. 314) 45 Outra maneira que pode ser observada, a partir das alterações físicas e adaptações ósseas da parturiente, é o quadrilátero de Michaelis, ou losango de Michaelis, localizado no sacro, esse losango é uma projeção cutânea do sacro, conforme mostra Zugaib e Francisco (2016). A partir disso, é possível observar, conforme a descida do feto na pelve, essa protuberância do losango, sendo mais comum perto do período expulsivo. Além desses fatores interessantes, é possível perceber que a mulher, quando entra em um período ativo do trabalho de parto, fica mais introspectiva, não conversa muito com os outros, pois quer se concentrar durante as contrações; a respiração fica mais intensa e pesada,e a necessidade de se movimentar aumenta conforme a evolução do trabalho de parto. Por fim, outro meio de perceber a evolução do trabalho de parto é seguir a localização da ausculta cardíaca fetal com o sonar, que, conforme se centraliza e desce, é sinal de que o feto já está girando e realizando sua descida na pelve materna. Acadêmico, além desses cuidados assistenciais, a implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), durante trabalho de parto, parto, nascimento e recuperação, é uma competência essencial, que deve seguir o referencial teórico da instituição. É importante lembrarmos de alguns elementos, como histórico de Enfermagem, diagnóstico de Enfermagem, planejamento de Enfermagem, implementação de Enfermagem e avaliação. Segundo Fraga et al. (2018, p. 7), “O PE concomitante com a visão holística do enfermeiro favorece uma assistência individualizada à parturiente e baseada no conhecimento científico, oportunizando lhe sentir-se parte de um processo natural, acompanhando o ritmo do seu próprio corpo”. Fonte: FRAGA, T. et al. Processo de enfermagem em centro obstétrico: perspectivas dos enfermeiros. Texto Contexto Enfermagem, v. 27, n. 3, p. 1-10, 2018. IMPORTANTE Acadêmico, sugerimos a leitura e o conhecimento das Diretrizes da Rede Cegonha, uma estratégia do Ministério da Saúde, com foco para a implementação de cuidados para gestantes e puérperas, que garante o planejamento familiar e a atenção segura, capacitada e humanizada na gravidez, no parto e no puerpério. Atualmente, o Ministério da Saúde também conta com a Rede de Acolhimento Materno-Infantil (Rami) em todo o território nacional. Ambas as iniciativas têm o compromisso da redução das mortalidades materna e infantil. Saiba mais sobre as Diretrizes da Rede Cegonha acessando o link: http://twixar.me/XgQm /. DICA https://www.as.saude.ms.gov.br/redes-de-atencao-a-saude/rede-cegonha/rede-cegonha-apresentacao/ https://www.as.saude.ms.gov.br/redes-de-atencao-a-saude/rede-cegonha/rede-cegonha-apresentacao/ 46 4 SALA DE PARTOS Em algumas instituições, há salas específicas para o período expulsivo, para a assistência do parto em si. Já em outras instituições, é possível que se vejam salas PPP, nas quais não há a necessidade de locomover a mulher para outra sala durante o período final do parto, o que traz conforto e praticidade para a parturiente. De qualquer forma, a sala em que nascerá o bebê deve estar preparada para recebê-lo, com temperatura, no mínimo, em 26 °C, conforme a recomendação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). Acadêmico, os profissionais habilitados, atualmente, para prestar assistência direta ao parto são médico, obstetriz, parteira, enfermeiro e enfermeiro obstetra. Cabe ressaltar que o enfermeiro apenas pode realizar a assistência em casos de partos eutócicos, sem episiotomias e sem episiorrafias. INTERESSANTE No momento do período expulsivo, a parturiente pode ficar mais agitada e, segundo Montenegro e Rezende Junior (2016), a maioria sente vontade de defecar, devido à pressão intestinal por conta da descida do feto na pelve e da passagem no canal do parto. As contrações ficam mais intensas, para auxiliar na expulsão do feto, e os “puxos”, conhecidos como esforços expulsivos, são desencadeados espontaneamente, segundo Zugaib e Francisco (2016). Nesse momento, conforme as recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a), deve ser apoiada a realização de puxos espontâneos e não induzidos, e, quando for percebido que o puxo espontâneo não está sendo eficaz, deve ser oferecido à parturiente outras estratégias, como a mudança de posição, o encorajamento e também o esvaziamento da bexiga. Contudo, em mulheres com analgesia epidural, é necessário incentivar a paciente a realizar os puxos conforme a presença das contrações, quando da dilatação completa. O enfermeiro jamais poderá realizar ou apoiar a realização da pressão do fundo do útero, conhecida como manobra Kristeller, não é uma prática recomendada pela OMS nem pelo Ministério da Saúde. Trata-se de uma prática prejudicial e ineficaz, que deve ser banida da obstetrícia, sem nenhuma evidência científica que prove benefícios – pelo contrário, aumenta o risco de morbidade materna e fetal. Ainda a plenária do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) aprovou, por unanimidade, a decisão 95/2016 do Coren-RS, que proíbe a participação de profissionais de Enfermagem na manobra de Kristeller. ATENÇÃO 47 A monitoração cardíaca fetal deve continuar, de acordo com as recomendações da OMS (WHO, 2018), no período expulsivo, sendo realizada a cada 5 minutos, para manter o bem-estar materno e fetal. Outras recomendações da OMS (WHO, 2018) são quanto à posição do parto, sendo fundamental encorajar a mulher a escolher a posição em que ela se sentir mais confortável para parir, incluindo posições verticalizadas, o que também é válido para parturientes com analgesia epidural, que devem ter o auxílio de profissionais para permanecer na posição desejada com segurança. A posição litotômica não deve ser mais encorajada, ainda mais se não for o desejo da mulher; em parto de baixo risco e eutócico, não há necessidade de sujeitar a mulher a tal desconforto, devido à posição, segundo o Ministério da Saúde. A proteção do períneo também é um assunto muito discutido na Obstetrícia, no qual há autores que trazem os benefícios da técnica “hands on” e outros da “hands off”, que abrangem o conceito de tocar ou não com as mãos no períneo da mulher; assim, um parto conduzido com “hands on” é um parto em que há intervenção com as mãos no período expulsivo, enquanto o “hands off” é sem intervenções no períneo da mulher, sem tração do períneo no momento do expulsivo. Zugaib e Francisco (2016) afirmam que pode ser feita pressão com a mão na região perianal, sem episiotomia, para proteger o períneo de lacerações maiores, e também o apoio ao polo cefálico do bebê na saída, para que seja lento o desprendimento do polo cefálico. Nené, Marques e Batista (2016, p. 318) comentam que “a posição de nascimento, as características tecidulares das mulheres e controle no período do expulsivo são fundamentais”. A OMS recomenda que, de acordo com as preferências e as opções disponíveis, podem ser utilizadas “técnicas para reduzir trauma perineal e facilitar o parto espontâneo (incluindo massagem perineal, compressas quentes e proteção ‘hands on’ do períneo)” (WHO, 2018, p. 5, tradução nossa). Já o Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a) não recomenda a massagem perineal durante o período expulsivo, embora possam ser utilizadas compressas mornas no períneo, recomendando tanto a técnica da mão sobre o períneo, para evitar saídas bruscas do feto, como a técnica de mãos prontas, sem tocar o períneo. Acadêmico, pense como você gostaria de ser tratado em um momento tão especial, como o nascimento de um filho. Com respeito, carinho, ética, privacidade, integridade, humanização e segurança, a pessoa se sente não só parte desse evento, mas a protagonista dele. É dessa forma que devemos tratar as parturientes, com muita empatia. IMPORTANTE 48 Após o nascimento, há a dequitação da placenta, período em que é preciso manter o recém-nascido em contato, pele a pele, com a mãe, para promover a vinculação e mantê-lo aquecido. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a) recomenda dois tipos de assistência nesse período: • A conduta ativa, que engloba um conjunto de medidas, como o uso de medicamentos uterotônicos, conforme recomendação da OMS (WHO, 2018), 10 UI de ocitocina intramuscular ou endovenosa, que corresponde a duas ampolas, como primeira linha de uterotônico no pós-parto imediato; o clampeamento precoce do cordão umbilical; e a tração controlada do cordão após o sinal de separação placentária. • A conduta fisiológica, que envolve o clampeamento tardio do cordão, a expulsão da placenta sem tração controlada e sem uso demedicação uterotônica. De qualquer forma, a OMS (WHO, 2018) recomenda o uso das 10 UI de ocitocina, para evitar hemorragias maternas. Nesse momento, é importante ficarmos atentos a sinais de hemorragias e retenção placentária. Por isso, em caso de uma conduta fisiológica e de a mulher apresentar hemorragia ou a placenta demorar mais de 1 hora, após a expulsão do feto, para dequitar, muda-se a conduta para ativa. 5 SALA CIRÚRGICA Quando o centro obstétrico disponibiliza uma sala cirúrgica especificamente para o setor, o enfermeiro deve organizar essa sala de acordo com a demanda diária do setor, como cirurgias de cesariana, suturas de lacerações de graus 2, 3 ou 4 de parto, curetagens por aborto retido ou por retenção placentária, histerectomias realizadas por emergências, drenagens de abscessos de mama ou vulva, entre outros procedimentos, conforme a organização do setor e da instituição. A montagem da sala e a organização ficam sob responsabilidade do enfermeiro circulante do plantão; para isso, há protocolos para a montagem da sala nas instituições, os quais devem ser seguidos conforme recomendações. Como exemplo, podemos nos basear em um Manual de Rotinas de Enfermagem do Centro Cirúrgico, Recuperação e Central de Maternal (ROMERO et al., 2012), que apresenta algumas etapas: • Ler o pedido de cirurgia, certificando-se do tipo de cirurgia, idade da paciente, aparelhos e solicitações especiais; • Verificar as condições de limpeza da sala antes de montá-las; • Testas o funcionamento dos aparelhos, tais como: aspiradores, bis- turi elétrico, mesa cirúrgica, focos e todos que houver necessidade; • Revisar o carro de anestesia; • Revistas e repor quando necessário, os materiais descartáveis; • Checar os lavabos e repor material para degermação das mãos da equipe cirúrgica; • Repor os pacotes de aventais e campos esterilizados, caixas de ins- trumentos e outros materiais específicos para a cirurgia ou parto a ser realizado (ROMERO et al., 2012, p. 35-36). 49 Romero et al. (2012) ainda citam que o circulante da sala deve ter alguns cuidados durante o procedimento, como: • a conferência da identificação do paciente; • o auxílio ao paciente durante anestesia, se for o caso; • auxiliar também na monitoração; • adaptar a placa de bisturi elétrico; • auxiliar a equipe na paramentação; • abrir o material estéril; • abrir as compressas, se necessário, lembrando-se de pedir ao profissional responsável para as contar e, após o uso, é necessário checá-las e contá-las; • realizar também a degermação, conforme a rotina da instituição; • após finalização da cirurgia, contar os materiais e as peças e realizar a anotação de Enfermagem; • o circulante deve sempre permanecer em sala cirúrgica. Caro acadêmico, enfatiza-se o uso de uma Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica; a OMS (2009) desenvolveu uma lista que preconiza a prevenção de infecção do local cirúrgico, a segurança em anestesia, a melhora do trabalho em equipe, a comunicação e, por fim, a mensuração do cuidado, por meio de indicadores de processos e resultados da assistência. ATENÇÃO Diante de Procedimentos Operacionais Padrões (POPs) de cada instituição, o enfermeiro guiará a sua assistência e sua competência no setor, principalmente na sala cirúrgica. O enfermeiro deve priorizar o atendimento de cirurgias de urgência ou emergência, agendando, em seguida, as eletivas, em acordo com toda a equipe clínica cirúrgica envolvida. A gestão faz parte das competências do enfermeiro também e não deve passar despercebida. Checar o preparo pré-operatório e providenciar a vaga para a sala de recuperação, antes da cirurgia, são pontos importantes. De acordo com Gomes, Dutra e Pereira (2014, p. 8), “[...] o bom desempenho do CC está diretamente condicionado ao bom gerenciamento e coordenação realizado pelo enfermeiro, combinados ao bom estado de conservação dos materiais, instalações físicas, equipe especializada e recursos tecnológicos”. A Figura 11 apresenta uma sugestão de checklist para a cirurgia segura, conforme a OMS (2009). 50 Figura 11 – Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica Fonte: OMS (2009, p. 1) 6 SALA DE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA Na sala de recuperação, estão as mulheres que passaram por parto normal ou cesariana, ou que estão em recuperação de outros procedimentos realizados no centro obstétrico, e que necessitam de vigilância da Enfermagem nas primeiras horas. Abrangendo o puerpério fisiológico de um parto normal, segundo Nené, Marques e Batista (2016), há o regresso das alterações do útero ao fim de seis semanas após o parto e, por isso, existem classificações do puerpério para melhorar a assistência em cada estágio: o puerpério imediato, que conta do primeiro período entre o nascimento do bebê até as primeiras 24 horas; o puerpério precoce, que é o tempo que decorre até o final da primeira semana; e o puerpério tardio, que termina no final da sexta semana pós-parto. Nesse sentido, há sinais e sintomas que a puérpera sente que estão relacionados a involução uterina e todo o processo fisiológico do corpo antes de fechar as seis semanas de puerpério. É importante atenção, principalmente, no período do puerpério imediato, pois é nas primeiras 24 horas que pode haver maior risco de hemorragias pós-parto. As contrações do útero no pós-parto fazem ele regressar ao que era antes e permanecer contraído, evitando atonias uterinas e colaborando para a recuperação da puérpera. Nené, Marques e Batista (2016) explicam que o útero expulsa conteúdos: 51 • Lóquios hemáticos: compostos por restos, eritrócitos e restos de trofoblastos, podendo vir em pedaços de coágulos do primeiro e segundo dia pós-parto. • Lóquios sero-hemáticos: a partir do quarto ou quinto dia pós-parto, com aspecto de sangue envelhecido. • Lóquios serosos: presentes no 10º dia pós-parto, com aspecto de muco espesso, podendo durar até seis semanas pós-parto. A avaliação dos lóquios pelo enfermeiro, na sala de recuperação, é de extrema importância, no sentido de perceber a presença ou não dos coágulos que podem se formar devido aos lóquios hemáticos, o cheiro, se há a ausência de odor fétido, descartando possíveis infecções, e a intensidade desse sangramento. “A persistência de lóquios após quatro a seis semanas deverá fazer suspeitar de uma infecção (endometrite), que apresenta em geral cheiro desagradável/fétido” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 439). ATENÇÃO Acerca dos cuidados de rotina no pós-parto imediato, Montenegro et al. (2014) apresentam alguns: • Colheita do sangue do cordão umbilical de acordo com protocolos de incompatibilidade Rh e ABO; Início imediato (antes da dequitadura) de perfusão ocitocina com 10 UI em 500 mL de soro polieletrolítico [...] se a grávida estiver sem soros 10 UI de ocitocina IM; • Aguardar até 1 hora após o nascimento pela dequitadura espontânea, desde que a hemorragia seja escassa e exista estabilidade hemodinâmica; [...] • Avaliação da formação do globo segurança e da hemorragia genital cada 15 minutos nas primeiras 2h; • Avaliação do pulso radial e PA cada 15 minutos com medidor automático, nas primeiras 2h; [...] • Colocação do recém-nascido junto da mãe e início da amamentação logo que possível (exceto se contraindicada); • Remoção do cateter epidural 2h após o parto; • Remoção do cateter de perfusão EV 2h após o parto, se não houver prescrição de medicamentos por via EV; • Passagem ao setor de puerpério 2 h após o parto (MONTENEGRO et al., 2014, p. 211). 52 Com relação a algumas diferenças de cuidados assistenciais que o Ministério da Saúde traz em suas diretrizes (BRASIL, 2017a), podemos citar: perceber os lóquios e contrações uterinas, perceber as perdas urinárias se estão bem-sucedidas; e alguns cuidados com o períneo, em caso de lacerações ou episiotomia,conforme o grau da laceração, sendo necessário explicar à mulher o que será realizado, no caso, a sutura, e ofertar a analgesia adequada para a realização do procedimento, quando são importantes uma boa iluminação para o profissional que realiza o reparo do trauma, assim como informações para a puérpera sobre cuidados e higiene no períneo. Sinais de alarme no pós-parto, segundo Nené, Marques e Batista (2016), são: temperatura > 38 °C, pressão arterial alterada, hipo ou hipertensão, pulso alterado, taquicardia ou bradicardia acentuada; dor súbita e persistente; cefaleias; pele descorada, fria e viscosa; nas mamas, rubor e calor; no útero, mole à palpação e acima do umbigo após 24 horas pós-parto; sobre a perda sanguínea, se houver, maior que 500 mL com odor fétido; edema no períneo e desconfortos acentuados após sutura; retenção urinária, diarreia, sinais de infecção na sutura abdominal, em caso de cesariana; sinal de tromboflebite nos membros inferiores; náuseas e vômitos; fadiga extrema e incapacidade para dormir. ATENÇÃO No caso de recuperação de cesariana, será necessária maior atenção à puérpera, visto que esta estará impossibilitada de se levantar do leito, devido ao tempo anestésico após a cirurgia. Alguns cuidados de rotina no pós-parto cirúrgico são: • Durante 4 primeiras horas após-cesariana, os sinais vitais devem ser observados e registrados a cada 30 minutos, a seguir, a cada hora e até 8h pós-cirurgia, quando então a avaliação passa a ser feita de 4/4h, principalmente nas pacientes submetidas à administração de morfina no bloqueio anestésico, pelo maior risco de insuficiência respiratória. • Durante as primeiras 12 horas pós-cesariana deve-se manter hidratação venosa, generosa, mínimo de 2.000. Esta, além de necessária para repor as perdas hidreletrolíticas, é uma medida profilática da cefaleia pós-raque, conjuntamente com a utilização de agulha finas para o bloqueio anestésico. • Deve-se manter infusão venosa de ocitocina junto com a hidratação, 5 a 10 UI em cada soro, a fim de assegurar a contração uterina eficaz e, consequentemente, diminuir o sangramento uterino. • É frequente a incidência de enjoos, que costumam ser controlados com bromoprida ou ondansetrona administrada por via venosa. • A diurese é um ponto importante de observação, e tanto o volume quanto a característica da urina (coloração) devem ser rigorosamente observados. Com essa avaliação, é possível fazer o balanço hídrico da paciente, e hematúria maciça pode indicar lesão vesical. 53 [...] • A deambulação assistida deve ser estimulada logo após a retirada da sonda vesical, caso houver, assim como o banho de aspersão. O caminhar precoce, em geral, após 12 h do procedimento cirúrgico, acelera a retomada das funções intestinais e diminui a distensão abdominal, além de prevenir tromboembolismo. [...] • O curativo deve ser retirado 24 horas após a cirurgia [...] a tendência atual é não cobrir a cicatriz após esse período (MONTENEGRO; REZENDE JUNIOR, 2016, p. 991-993). Caro acadêmico, independentemente da via de parto, devemos assegurar o alojamento conjunto entre mãe e bebê, quando condições de saúde estáveis de ambos, devido à importância da criação de vinculação e da amamentação nas primeiras horas, pois fazem diferença na vida materna e infantil. É responsabilidade do enfermeiro garantir que esse momento aconteça de forma saudável. IMPORTANTE 54 Neste tópico, você aprendeu: • O enfermeiro, na triagem obstétrica, tem como competências de rotina o acolhimento mulher/casal e a realização da classificação de risco obstétrico, além de escutar as queixas acerca do motivo da procura da instituição, aferir os sinais vitais, observar sinais e sintomas específicos, e garantir a presença do acompanhante de escolha da mulher após a internação. • No pré-parto, o enfermeiro cuidará da assistência à mulher em trabalho de parto, tanto na fase latente como na fase ativa, sendo de sua responsabilidade informar a mulher/casal sobre métodos que auxiliam no alívio da dor e também na progressão do trabalho de parto. A ausculta cardíaca fetal é um cuidado importante, que deve ser realizado com Sonar Doppler a cada 30 minutos durante 1 minuto, no decorrer de todo o trabalho de parto, devendo permanecer nos parâmetros normais entre 110 e 160 bpm, para garantir o bem-estar materno e fetal. • Os cuidados de rotina, prestados na sala de partos pelo enfermeiro, devem ser baseados em evidências científicas, sendo a ausculta cardíaca fetal, nesse momento, de 5 em 5 minutos, visto que, no período expulsivo, há a compressão do polo cefálico do feto. Deve haver também o encorajamento da parturiente para escolher a posição que mais lhe agradar para o nascimento. • O uso de Procedimentos Operacionais Padrões (POPs) e da Lista de Verificação de Segurança Cirúrgica, dentro da sala cirúrgica, é necessário para uma assistência de Enfermagem de qualidade, segurança e padronização do cuidado. Garantir a realização de um procedimento ou cirurgia, conforme prioridades e emergências do momento dentro do centro obstétrico, também é encargo do enfermeiro e da equipe clínica. • É de extrema importância a vigília no pós-parto e pós-cesariana em sala de recuperação, sendo cuidados de rotina desse local a observação da perda de sangue, os lóquios, o globo de segurança de Pinard e os sinais vitais maternos. RESUMO DO TÓPICO 3 55 1 Acerca do acolhimento e da classificação de risco obstétrico, que tem como objetivo priorizar os atendimentos com mais urgência, conforme sinais, sintomas e queixas da mulher, e das rotinas do enfermeiro na triagem obstétrica, quando realizado o A&CR obstétrico, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Chamar a mulher pelo nome, solicitando também a presença de um acompa- nhante, caso seja desejo da paciente. b) ( ) Registrar dados da classificação na ficha de atendimento, sinalizando, por meio de cores, a classificação da mulher. b) ( ) Não devem ser reclassificadas as pacientes quando forem identificadas alterações pela equipe. d) ( ) Supervisionar o trabalho do técnico/auxiliar de Enfermagem e do estagiário, orientando corretamente quando necessário. 2 Considera-se que, segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal (BRASIL, 2017a), se a parturiente estiver com trabalho de parto estabelecido, ou seja, com mais de 4 cm de dilatação e contrações efetivas, já pode ser admitida para internação. Com base nas rotinas assistenciais de admissão da gestante, analise as sentenças a seguir: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasília: Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017a. Disponível em: http://twixar.me/RgQm. Acesso em: 10 jul. 2022. I- Deve-se perguntar sobre o plano de parto, se houver, sendo importante realizar a leitura para saber expectativas e desejos do casal sobre o parto, registrar no prontuário e informar à equipe. II- A realização dos testes rápidos de HIV e VDRL é rotina na admissão no centro obstétrico, bem como saber o tipo sanguíneo e o fator Rh materno, para casos de profilaxia anti-D no pós-parto. III- O procedimento de enema (limpeza intestinal) deve ser realizado em todas as gestantes na admissão, junto à tricotomia (corte dos pelos pubianos), para evitar possíveis infecções. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 56 3 Segundo as Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a), a vigilância do bem-estar materno fetal também se dá pela avaliação da auscultacardíaca fetal com o Sonar Doppler ou com o aparelho de Pinard, sendo a monitoração da vitalidade fetal um dos cuidados principais nas salas de partos, para garantir a saúde do feto. Diante disso, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal. Brasília: Secretaria de Ciências, Tecnologia e Insumos Estratégicos, 2017a. Disponível em: http://twixar.me/RgQm. Acesso em: 10 jul. 2022. ( ) É recomendada a cardiotocografia contínua durante todo o período do trabalho de parto em gestantes de alto e baixo risco. ( ) O parâmetro normal, para a frequência cardíaca fetal, é de 110 a 160 bpm, sendo alguns sinais de aceleração positivos, porém sinais de desacelerações devem ser observados com alerta. ( ) A ausculta cardíaca fetal pode ser vista de 30 em 30 minutos no período expulsivo, conforme as recomendações. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 A organização da sala cirúrgica é de responsabilidade do enfermeiro do setor, sendo importante lembrar que as competências da Enfermagem vão além da assistência; a gerência também faz parte do cuidado de rotina, assim como, por exemplo, a provisão, a previsão e o controle de materiais na sala cirúrgica são cuidados de rotina gerenciais que o enfermeiro deve ter. Diante disso, disserte sobre outras rotinas que o enfermeiro deve realizar na sala cirúrgica obstétrica. 5 No puerpério imediato, deve-se ter uma grande atenção a todos e quaisquer sinais da mulher que não estejam estáveis, em todos os sistemas corporais, evitando possíveis riscos maternos desencadeados por hemorragias, infecções e entre outras condições que levam ao risco da puérpera. A vigilância adequada em sala de recuperação pode evitar morbidades maternas. Nesse contexto, disserte sobre os principais cuidados do enfermeiro na sala de recuperação com uma puérpera de parto normal e de cesariana. 57 TÓPICO 4 — ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos temas importantes sobre a assistência imediata feita ao recém-nascido, no centro obstétrico. Essa etapa é fundamental para aplicar os cuidados adequados ao recém-nascido, para reduzir os índices de mortalidade infantil. Segundo o Ministério da Saúde, a mortalidade neonatal é responsável por quase 70% das mortes no primeiro ano de vida. Nesse sentido, revisitar, praticamente, o guia, elaborado pelo Ministério da Saúde, para os profissionais da saúde, com o título na Atenção à Saúde do Recém-Nascido (BRASIL, 2014) e as diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022). Veremos a importância do profissional da Enfermagem no momento do pós- parto imediato, quando se inicia o atendimento ao recém-nascido, para que ele nasça sem intercorrências. O atendimento humanizado, ainda na primeira hora de vida, pode ser realizado com atividades simples, como o clampeamento tardio do cordão, a colocação do recém-nascido em contato, pele a pele, com a mãe e o estímulo ao aleitamento materno. Compreenderemos a relevância da avaliação das condições do nascimento e, nesse sentido, falaremos sobre a Escala de Apgar, cuja aferição permite avaliar a resposta do recém-nascido ao nascer. Embora a maioria dos recém-nascidos nasça com boa vitalidade, manobras de reanimação podem ser necessárias, de maneira inesperada. Assim, são essenciais os conhecimentos e a habilidade em reanimação e, por isso, abordaremos também a reanimação neonatal em sala de parto. 2 AVALIAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO Após o nascimento, a adaptação a vida extrauterina do recém-nascido deve ser conduzida, de forma a minimizar traumas externos, podendo serem tomados alguns cuidados para fazer dessa adaptação, ao mundo exterior, um período tranquilo e positivo para o bebê e também para a família. O enfermeiro mostra-se um grande agente nesse meio, sendo necessário o apoio e ter uma visão integral não apenas dos procedimentos realizados, mas percebendo a real importância do cuidado com esse bebê e o impacto que essa atenção e assistência humanizada terá para o seu desenvolvimento (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016). 58 A promoção do envolvimento dos pais, ainda em sala de parto, logo após o nascimento, é essencial e, por isso, a flexibilização de alguns cuidados, realizados pelo enfermeiro, pode ser importante nesse momento especial da primeira hora após nascimento. Nené, Marques e Batista (2016) ainda explicam que permitir que essa família olhe, cheire e ouça o bebê, e realize o contato pele a pele com a mãe, motivando a presença do pai, promove uma boa relação futura entre essa família. Caro acadêmico, saiba que o tipo de assistência, já em sala de parto, do profissional enfermeiro ao recém-nascido, pode interferir, de forma positiva ou negativa, na criação de vínculo com a família, principalmente com a mãe. Por isso, é necessário prestar cuidados baseados em evidências científicas e que tragam benefícios, tranquilidade e segurança para a adaptação extrauterina desse bebê. INTERESSANTE Para uma boa atuação nesse meio, o enfermeiro deve, primeiramente, validar algumas informações sobre a gestação: • Vigilância pré-natal (consultas e exames). • História da gravidez (evolução, doenças, medicação, drogas usadas). • Aspectos psicossociais do parto (preparação para o parto, suporte emocional durante o trabalho de parto, o envolvimento familiar, a comunicação estabelecida entre a equipe de saúde, a parturiente e o acompanhante durante o parto). • Antecedentes materno e paternos (do recém-nascido) (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 486). Com essas informações o enfermeiro ficará mais seguro, antecipando determi- nadas situações de acordo com as informações ante natais. 2.1 OS CUIDADOS INICIAIS AO RÉCEM-NASCIDO Assim que o parto acontece, como vimos nos tópicos anteriores, após a expulsão do bebê, este deve vir para o colo da mãe, realizar o contato pele a pele e manter a temperatura e o calor corporal, evitando possível hipotermia neonatal. Isso acontece, concomitantemente, com a avaliação inicial do pediatra que está em sala de parto ou o profissional de plantão, responsável, no momento, pelo cuidado e pela vigília ao recém- nascido. Essa avaliação inicial pode, inclusive, ser realizada no colo da mãe. 59 Um dos passos mais simples e também importantes, nesse período, é a anotação da hora de nascimento e a identificação do recém-nascido com os dados importantes, como data, hora do nascimento, nome da mãe e sexo do recém-nascido, o que irá depender dos protocolos de cada instituição. Sobre o contato pele a pele, é importante ressaltar que a OMS (WHO, 2018, p. 163) traz como recomendação que “Recém-nascidos sem complicações devem ser mantidos em contato pele a pele (SSC) com suas mães durante a primeira hora após o nascimento para prevenir a hipotermia e promover a amamentação”. Além disso, de acordo com as evidências mostradas pela OMS (WHO, 2012), nas recomendações para a gestão de condições comuns da infância, além do benefício para a amamentação, o contato pele a pele entre recém-nascido e mãe está associado a um aumento na sobrevida dos recém-nascidos, compactuando com a diminuição da mortalidade neonatal. A primeira hora de vida do recém-nascido é um período sensível, chamado na literatura como “hora sagrada”, ou “hora de ouro”, onde o mesmo encontra-se tranquilo, com os olhos abertos e receptivo ao meio externo, ideal para iniciar a interação com a mãe. Ao ser colocado no tórax materno imediatamente após o parto, o recém- nascido, por meio de reflexos e estímulos olfativos é capazde localizar o mamilo da mãe e iniciar o processo do aleitamento. Estes estímulos sensoriais, como o toque e o odor, promovem a liberação de ocitocina materna, que além de auxiliar na prevenção de hemorragias, estimula o instinto materno de proteção ao recém-nascido e contribui para a ejeção do colostro (HOLZTRATTNER et al., 2021, p. 2). A amamentação, na primeira hora de vida, é uma prática recomendada pela OMS (WHO, 2022), que ainda salienta a necessidade de auxiliar esse estímulo também com os bebês com baixo peso ao nascer, vistos os inúmeros benefícios do aleitamento materno para o recém-nascido e também para a mãe. Isso deve ser realizado quando ambos estiverem clinicamente estáveis. Alguns autores, como Silva et al. (2018), trazem os benefícios da amamentação na sala de parto, que são: melhora da adaptação do bebê a vida extrauterina, regulação da glicemia, regulação do sistema cardiorrespiratório e também térmico. A mãe também se beneficia quando o bebê suga, por ser estimulada a produção de ocitocina e prolactina, além de auxiliar na contração uterina mantendo o globo de segurança, produzindo ainda mais leite no organismo, favorecendo a continuidade de um aleitamento materno saudável. Mundialmente, existe um projeto chamado “Hospital amigo da criança”, criado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, em parceria com a OMS, que tem como objetivo recomendar os dez passos para o sucesso da prática do aleitamento materno. Um desses passos é colocar o recém-nascido em contato imediato, após o parto, no colo de sua mãe por, no mínimo, 1 hora, até que sejam necessárias as primeiras avaliações do bebê dentro do centro obstétrico. 60 Ainda relacionando as boas práticas do nascimento com as rotinas do centro obstétrico, o clampeamento do cordão umbilical também é um momento significativo para o bebê, além de ser especial quando o enfermeiro envolve o acompanhante nesse momento, como, na realização do corte do cordão, ao ofertar ao pai que realize o corte, se criança estiver estável após o nascimento. Acadêmico, saiba que vários estudos apontam o benefício do clam- peamento em tempo oportuno do cordão umbilical, não devendo ser realizado o clampeamento imediato após o nascimento, se recém-nascido em bom estado geral. IMPORTANTE A OMS (WHO, 2018) recomenda o clampeamento do cordão umbilical não menos do que um minuto após o parto. A SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022) explica que, na literatura, há várias definições de tempo, mas o mínimo seriam 60 segundos até alguns minutos após parar de pulsar. Isso facilita a transição cardiorrespiratória do recém-nascido após o parto, além da concentração de hemoglobina e ferritina do recém-nascido, podendo reduzir anemia do lactente. Essa recomendação é vedada caso o recém-nascido não comece a respirar logo após o nascimento, sendo necessário clampeamento imediato para a realização de uma assistência de reanimação. O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) recomenda que, após esse clampeamento do cordão, o recém-nascido deve ficar sobre o abdome no colo materno. Nesse tempo, é importante salientar que o profissional responsável, podendo ser pediatra ou quem assiste/realiza o parto, deve avaliar a vitalidade do recém-nascido ao nascer, para a aplicação da Escala de Apgar (Figura 12), que, segundo Nené, Marques e Batista (2016), é uma forma de sistematizar o período de transição do recém-nascido e indicar a necessidade de cuidados para esse bebê, sendo o valor mínimo da escala 0 e o máximo 10. Assim, se o escore estiver entre 7 e 10, é sinal de que não houve dificuldade do recém-nascido para se adaptar à vida extrauterina; se o escore for de 4 a 6, demonstra que houve um grau moderado; e, se for 0 a 3, é grave. O boletim de Apgar é determinado no 1º e 5º minutos após a extração completa do produto conceptual do corpo da mãe, mas não é utilizado para indicar procedimentos na reanimação neonatal. Sua aplicação permite avaliar retrospectivamente a resposta do paciente às manobras realizadas. Se o Apgar é <7 no 5º minuto, recomenda-se realizá-lo a cada cinco minutos, até 20 minutos de vida. É necessário documentar o escore de Apgar de maneira concomitante à dos procedimentos de reanimação executados (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 11). 61 São pontos avaliados na Escala de Apgar: frequência cardíaca, respiração, tônus muscular, cor e a irritabilidade reflexa. ATENÇÃO Figura 12 – Escala de Apgar ampliada Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 38) Nené, Marques e Batista (2016) apresentam orientações quanto à execução dos cuidados imediatos que devem ser prestados na sala de parto, após o nascimento do bebê, nas duas primeiras horas que seguem o parto. O Quadro 1 resume, para melhor fixação, esses cuidados direcionados à Enfermagem. 62 Quadro 1 – Cuidados imediatos ao recém-nascido Orientações de cuidados imediatos após expulsão do recém-nascido Preparar e verificar o material necessário para a apresentação de cuidados imediatos ao recém-nascido. Coletar informação. Utilizar luvas de proteção para cuidar do recém-nascido. Verificar a hora exata do nascimento. Receber o recém-nascido em um campo, previamente aquecido, de preferência que seja macio. Proceder ao clampeamento definitivo do cordão umbilical, conforme recomendações. Se a condição geral do recém-nascido não permitir, o clampeamento deve ser imediato. Cortar o cordão com tesoura esterilizada. Posicionar o recém-nascido no colo da mãe. Secar o recém-nascido com movimentos suaves, com estimulação tátil, tendo o cuidado de manter a cabeça coberta. Substituir o campo por panos novos e aquecidos. Avaliar o índice de Apgar. Identificar o recém-nascido, conforme protocolo da instituição. Fomentar o processo de vinculação através do contato pele a pele, quando recém-nascido estável. Após recomendações do período de contato pele a pele, transportar o recém-nascido para o posto de cuidados o bebê, colocá-lo sob fonte de calor. Posicionar o recém-nascido em decúbito dorsal. Aspiração, somente se necessário, conforme recomendações e avaliações clínicas. Realizar a observação inicial, para detectar malformações externas ou outros indicadores passíveis de influenciar a evolução neonatal. Administrar 1 mg de vitamina K, por via intramuscular, no terço médio do músculo vasto lateral da coxa esquerda. Administrar método Credé em região ocular. Pesar e realizar as medidas antropométricas. Dar banho com água corrente apenas em situações de suspeita ou confirmação de infecção materna, conforme protocolo hospitalar. Colocar fralda. Manter o coto umbilical exterior a fralda. Vestir o recém-nascido com roupa previamente aquecida. Envolver o recém-nascido numa manta quente. Estimular a amamentação. Registrar todos os procedimentos. Fonte: adaptado de Nené; Marques; Batista (2016) 63 Alguns cuidados específicos citado acima, ainda não expomos nos nossos estudos, como a administração da vitamina K, 1 mg, intramuscular no recém-nascido, ela serva para prevenção do sangramento por deficiência de vitamina K, é uma profilaxia da doença hemorrágica do recém-nascido, e é recomendado pela OMS (2018), com fortes evidências científicas mostrando o seu benefício quando realizada em sala de partos, ainda há a possibilidade da aplicação enquanto o bebê segue no colo materno e durante a amamentação, evitando maiores incômodos e traumas. A administração do método Credé, conhecido como prevenção de oftalmia do recém-nascido, é realizada com nitrato de prata, conforme as diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) ou com Iodopovidona (PVPI), com ação antisséptica, na qual deve ser aplicada 1 gota em cada globo ocular. “A conjuntivite neonatal ou oftalmia neonatal é definida como uma conjuntivite purulenta do recém-nascido (RN), nas primeiras quatro semanas de vida (28 dias), usualmente adquirida durante o seu nascimento,a partir do contato com secreções genitais maternas contaminadas” (SBP, 2020, p. 1). Portanto, apenas deveria ser administrado em gestantes com infecção genital de gonorreia. Essa prática, de forma rotineira, está sendo questionada em países de renda alta, segundo a SBP (2020), devido ao nível alto de assistência pré-natal e ao acesso a testes rápidos, porém, no Brasil, não existem dados oficiais de ocorrência da conjuntivite neonatal. Entretanto, ainda há estudos que comprovam a alta prevalência de mulheres brasileiras com infecção genital por Chlamydia trachomatis e gestantes com Neisseria gonorrhoeae, a grande maioria sem sintomas. Nesse sentido, a profilaxia neonatal, no Brasil, é ainda recomendada pelo Ministério da Saúde e pelo Departamento Científico de Neonatologia da SBP. 2.2 O EXAME FÍSICO DO RECÉM-NASCIDO A observação física inicial do recém-nascido deve ser feita de forma cuidadosa e com respeito, devendo o profissional manter comunicação com o recém-nascido e com o acompanhante: “a avaliação implica uma revisão dos vários sistemas, mas a inspeção visual é concomitante à prestação de cuidados e à execução das técnicas de auscultação do tórax, palpação e manipulação do recém-nascido” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 488). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) frisa que o exame físico deverá ser realizado após algumas horas, de preferência, antes de o recém-nascido completar 12 horas de vida e reforça a presença dos pais nesse momento, assim como a relação entre o profissional da saúde e a família, para informar e esclarecer as dúvidas dos pais. “Como regra, o RN como um todo ou em seus segmentos corporais admite um exame que vai do externo para o interno e no sentido crânio-caudal. Inspeção, palpação e ausculta devem ser aplicados nos diversos segmentos examinados” (BRASIL, 2014, p. 58). 64 Acadêmico, saiba perceber as oportunidades, ao examinar o recém-nascido, como a facilidade da verificação de sinais vitais quando o recém-nascido está dormindo; por isso, é preciso ser flexível nesse momento e aproveitar as oportunidades à medida que elas surgem. INTERESSANTE Em geral, o recém-nascido apresenta uma atividade ativa, e choro forte e variável é sinal positivo; a postura, normalmente, é simétrica e fletida, igual à fetal. É importante estar atento a malformações, sinais de angústia respiratória, assimetria postural, fraturas, infecções, gemência e choro agudo. IMPORTANTE Nené, Marques e Batista (2016) trazem o exame físico inicial do recém-nascido dividido em sistemas: • Sistema sensitivo: observação dos olhos, do palato, da permeabi- lidade nasal. • Sistema neurológico: avaliação da atividade global, validando o movimento das extremidades e a sua simetria; verificação do tónus muscular, dos reflexos se sucção, rotação, moro e preensão palpação da fontanela anterior e posterior. • Sistema cardiorrespiratório: auscultação do ápex cardíaco para avaliar a frequência cardíaca (120 a 160pbm), ritmo, tons cardíacos e presença de sons anómalos; avaliação dos pulsos bilateralmente; avaliação das características da respiração (predominantemente abdominal), FR (40-60 ciclos respiratórios por minuto), verifica, na auscultação, a simetria dos sons respiratórios, observar a simetria da expansão torácica. • Sistema gastrointestinal: observação das características do abdo- me, e a ausência de anomalias, auscultação dos sonos intestinais; verificação do número de vãos do cordão umbilical (duas artérias e uma veia). • Sistema geniturinário: observação das características sexuais externas do recém-nascido e qualquer anomalia da genitália; verificação da perfuração do ânus. • Pele: observação da coloração da pele e das suas características (descamação ou falta de gordura subcutânea como indicador da maturidade), observação da presença de manchas de mecónio no cordão umbilical, na pele e unhas das mãos; observação do cumprimento das unhas e as pregas plantares; validação da integridade cutânea (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 488). 65 O Ministério da Saúde (BRASIL, 2014) relata que alguns achados são comuns na pele, como presença de milium, lanugo, vérnix e mancha mongólica, que não têm repercussão clínica, devendo ser explicada a fisiologia da apresentação desses achados aos familiares. O milium corresponde a pequenos pontos brancos, localizados na base do nariz, no queixo e na fronte, isto é, pois acontece a obstrução de algumas glândulas sebáceas, sem a necessidade de intervenções, pois desaparecem após semanas. O lanugo é a presença de pelos pequenos e finos, que, geralmente, estão na região dos ombros e das escápulas, e, quando o recém-nascido é prematuro, é observado em grande quantidade, também caindo e desaparecendo em poucos dias. O vérnix é aquela camada de gordura esbranquiçada na pele do recém-nascido e, por vezes, em prematuros, observa-se a presença do vérnix caseoso em grande quantidade, cujo objetivo é a proteção da pele e o isolamento térmico, podendo ser observado mais nas dobras dos recém-nascidos a termo, não havendo a necessidade de limpá-lo, pois a própria pele do recém-nascido o absorve com o tempo. Já a mancha mongólica são manchas azuis acinzentadas, que estão localizadas no dorso e na região glútea e lombossacral, sendo um sinal de imaturidade da pele na migração dos melanócitos, também estando associados à raça do recém-nascido, comuns em raças negras. A presença de icterícia no recém-nascido deve ser avaliada, caracterizada pela pele amarelada, que decorre da impregnação por bilirrubina. É comum observar a icterícia fisiológica entre 48 e 120 horas após o nascimento. Quando observada nas primeiras 24 horas, é necessário investigar, pois pode ficar intensa e ser classificada como patológica. IMPORTANTE Durante o exame físico de ossos e articulações, existe uma manobra muito realizada pelos pediatras, chamada de manobra de Ortolani. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2014), essa manobra é realizada para perceber a articulação coxofemoral, se há ou não presença de displasia do desenvolvimento do quadril. A criança é colocada em decúbito dorsal, seguram-se os membros inferiores com joelhos, dobras e quadris fletidos, para, a partir disso, fazer uma abdução das coxas com leve pressão nos joelhos, repetindo a manobra para os dois lados e percebendo se há um clique, visto que, quando existe uma instabilidade coxofemoral, durante essa manobra, o clique se faz presente, pois a cabeça do fêmur se encaixa no fundo do acetábulo. 66 Outra atenção, durante o exame físico, é o crânio, devendo-se observar e palpar as fontanelas, para perceber abaulamentos que sugerem aumento da pressão intracraniana, situação presente em casos de meningite, hidrocefalia, edema cerebral ou hemorragia intracraniana, conforme as explicações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). Há também a presença ou não da bossa, que é um edema nas partes moles do crânio, decorrente do parto e que é depressível e regride nos primeiros dias após o parto. Ainda no crânio, o perímetro é importante em recém-nascido a termo e varia entre 33 e 37 cm. 2.3 OS REFLEXOS PRIMITIVOS Habitualmente, deve ser percebida a presença dos reflexos do recém-nascido. Os reflexos primitivos trazem informações importantes de como está a saúde do bebê, sendo uma resposta motora involuntária a um estímulo externo. A palavra primitiva é usada por que esses reflexos estão presentes desde antes do nascimento e ficam presentes até 6 meses de vida, segundo as informações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014). Não há a necessidade de avaliar todos esses reflexos no exame físico, porém, como enfermeiro do centro obstétrico, é importante conhecer a sua existência, para perceber se o recém-nascido segue em bom estado de saúde na sala de partos. Em seguida, abordaremos alguns deles, conformemostrado na cartilha de Atenção à Saúde do Recém-Nascido, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2014): • Reflexo de sucção: manifesta-se quando os lábios da criança são tocados por alguma coisa e, então, ocorre movimentos de sucção dos lábios e da língua do recém- nascido. • Reflexo de preensão: é a preensão palmoplantar, em que é realizada uma pressão na palma da mão e abaixo dos dedos dos pés. • Reflexo de marcha: onde se apoia a região plantar, segurando-se a criança pelas axilas em pé, observando o movimento de extensão das pernas e também marcha reflexa. • Reflexo cutâneo-plantar: quando se faz o estímulo na planta do pé, a partir do calcâneo até nos artelhos, e, então os dedos do recém-nascido fazem postura de extensão. A inspeção do coto umbilical deve ser realizada nesse momento, que, inicialmente, tem aspecto gelatinoso e se mumifica após o 4º dia de vida, aproximadamente, caindo até o 15º dia de vida. Deve- se observar a presença de secreções na base do coto e eritema da pele ao redor da implantação, que são sinais de alerta. A presença de duas artérias e uma veia também deve ser observada. ATENÇÃO 67 • Reflexo de Moro: um dos reflexos mais importantes, pois a sua ausência pode indicar lesões nervosas, musculares e ósseas. A partir de um estímulo brusco, como bater palmas ou esticar bruscamente o lençol que o recém-nascido está deitado ou soltar os braços semiesticados; a partir desse estímulo, é percebida uma resposta de extensão- abdução dos membros superiores, em que os braços ficam estendidos e abertos, junto aos dedos das mãos, e, após isso, ocorre um retorno dos braços à posição original. • Reflexo de voracidade: é o reflexo de procura, geralmente, quando algo chega perto da boca ou ao lado do recém-nascido, este procura para o mesmo sentido. • Reflexo de fuga à asfixia: é avaliado com o recém-nascido em decúbito ventral no leito, com a face voltada para o colchão; durante esses segundos, o recém-nascido deve virar o rosto, liberando o nariz para respirar. Há muitos outros reflexos, mas que são menos frequentes durante o exame físico do recém-nascido, como o reflexo de Magnus e de Kleijn, o reflexo dos olhos de boneca, o reflexo de Babkin e os reflexos tendinosos e patelares. Caro acadêmico, o registro no prontuário eletrônico ou manual deve ser realizado, bem como o registro na caderneta da criança, de forma adequada, contendo todas as medidas antropométricas, peso, cuidados iniciais, hora e data do nascimento, nota Apgar, realizados pelos profissionais presentes no parto, nos cuidados iniciais e nos reflexos presentes. ATENÇÃO 3 REANIMAÇÃO NEONATAL Acadêmico, você sabia que são os primeiros minutos que decidem a vida de um recém-nascido? É um momento determinante para a avaliação imediata após o nascimento, sendo essencial a observação para antecipar a necessidade de uma reanimação neonatal – por isso, a importância da capacitação de toda a equipe. Nesse contexto, o enfermeiro tem grande responsabilidade para o sucesso da reanimação do bebê, reduzindo, assim, as taxas de mortalidade neonatal relacionadas a esses tipos de eventos em sala de parto. 68 De acordo com os dados expostos pela SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 5), “Estima-se que, no Brasil, a cada ano, ao redor de 500.000 crianças necessitem de ajuda para iniciar e manter a respiração ao nascer”, isto é, um valor alto comparado aos outros países em desenvolvimento. Nesse sentido, a SBP publicou as diretrizes de Reanimação do recém-nascido ≥ 34 semanas em sala de parto, cujas práticas de reanimação se baseiam no International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) – Neonatal Life Support Task Force, em que neonatologistas do mundo inteiro realizaram revisões sistemáticas sobre o tema, para garantir práticas atualizadas e baseadas em evidências científicas (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022). “Ao nascimento, cerca de 2 RN [recém-nascidos] em cada 10 não choram ou não respiram; 1 RN em cada 10 precisa de ventilação com pressão positiva; 1-2 em cada 100 requerem intubação traqueal; e 1-3 RN em cada 1.000 necessitam de reanimação avançada, ou seja, ventilação acompanhada de massagem cardíaca e/ou medicações [...]” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 5). INTERESSANTE Acadêmico, o documento da SBP é disponibilizado em meio eletrônico e vale a pena realizar a sua leitura, visto a importância de sempre estarmos atualizados em nossas práticas assistenciais em sala de parto. Acesse: http://twixar.me/2gQm. DICA Você sabe quantos profissionais são necessários para o suporte de reanimação do recém-nascido em sala de parto? Segundo a SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), pelo menos dois ou três profissionais capacitados e aptos a reanimar o recém-nascido, de forma ágil e adequada, com um médico presente, de preferência pediatra, para a realização da intubação orotraqueal, e também para indicar a massagem e as medicações específicas. IMPORTANTE 69 Em todo parto de baixo risco, deve-se ter um profissional responsável pelo recém- nascido, para avaliação inicial e que também esteja capacitado para reanimação imediata, caso seja necessária. A SBP indica sempre a presença de um pediatra na sala de parto, em todos os nascimentos, garantindo, assim, a qualidade da assistência ao recém-nascido. Nené, Marques e Batista (2016) afirmam que existem alguns fatores, observados já no pré-natal da mãe e também durante o parto, que podem conduzir a necessidade de uma reanimação do recém-nascido, como pode ser observado no Quadro 2. Quadro 2 – Condições associadas à necessidade de reanimação do recém-nascido Fatores pré-natais Fatores do parto • Idade < 16 anos ou > 35 anos. • Diabetes. • Síndromes hipertensivas. • Doenças maternas. • Infecção materna. • Aloimunização ou anemia fetal. • Uso de medicações. • Uso de drogas ilícitas. • Óbito fetal ou neonatal anterior. • Ausência de cuidados pré-natal. • Idade gestacional < 39 ou > 41 semanas. • Gestação múltipla. • Rotura prematura das membranas. • Polidrâmnio ou oligoâmnio. • Diminuição da atividade fetal. • Sangramento no 2º ou 3º trimestre. • Discrepância de idade gestacional e peso. • Hidropsia fetal. • Malformação fetal. • Parto cesáreo. • Uso de fórcipe ou extração a vácuo. • Apresentação não cefálica. • Trabalho de parto prematuro. • Parto taquitócico. • Corioamnionite. • Rotura de membranas > 18 horas. • Trabalho de parto > 24 horas. • Segundo estágio do parto > 2 horas. • Padrão anormal de frequência cardíaca fetal. • Anestesia geral. • Hipertonia uterina. • Líquido amniótico meconial. • Prolapso ou rotura ou nó verdadeiro de cordão. • Terapia materna com sulfato de magnésio. • Uso de opioides 4 horas anteriores ao parto. • Descolamento prematuro de placenta. • Placenta prévia. • Sangramento intraparto significativo. Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 6) Antes do atendimento, é ainda indicada a realização de um “briefing” da equipe, para organizar os passos e as responsabilidades de cada um durante a reanimação. Nesse briefing, a SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022) explica que há algumas ações que devem ser organizadas, como a preparação do material necessário para reanimação e, inclusive, o teste de funcionalidade de todos, estando disponíveis para fácil acesso instrumentos durante a reanimação. Caro acadêmico, é de extrema importância que todos os materiais estejam disponíveis para a reanimação. No Quadro 3, é possível perceber, de maneira mais clara, a relação dos materiais necessários para a reanimação do recém-nascido em sala de parto. 70 Quadro 3 – Materiais para reanimação do recém-nascido Na sala de reanimação Sala com temperatura 23-25 °C. Mesa de reanimação com acesso por três lados. Fonte de oxigênio umidificado com fluxômetro e fonte de ar comprimido. Blender para mistura oxigênio/ar. Aspirador a vácuo com manômetro. Relógio de parede com ponteirode segundos. Material para manutenção de temperatura Fonte de calor radiante. Termômetro ambiente digital. Campo cirúrgico e compressas de algodão estéreis. Saco de polietileno de 30 × 50 cm para prematuro. Touca de lã ou algodão. Colchão térmico químico 25 × 40 cm para prematuro < 1.000 g. Termômetro clínico digital. Material para avaliação Estetoscópio neonatal. Oxímetro de pulso com sensor neonatal. Monitor cardíaco de três vias com eletrodos. Bandagem elástica para fixar o sensor do oxímetro e os eletrodos. Material para aspiração Sondas: traqueais nº 6 e 8 e gástricas curtas nº 6 e 8. Conexão de látex ou silicone para conectar sonda ao aspirador. Dispositivo para aspiração de mecônio. Seringas de 10 mL. Material para ventilação Reanimador manual neonatal (balão auto inflável com volume ao redor de 240 mL, reservatório de O2 e válvula de escape com limite de 30-40 cmH2O e/ou manômetro). Ventilador mecânico manual com peça T com circuitos próprios. Máscaras redondas com coxim para recém-nascido de termo, prematuro e prematuro extremo. Máscara laríngea para recém-nascido nº 1. Material para intubação traqueal Laringoscópio infantil com lâmina reta nº 00, 0 e 1. Cânulas traqueais sem balonete, de diâmetro interno uniforme 2,5/3,0/3,5 e 4,0 mm. Material para fixação da cânula: fita adesiva e algodão com soro fisiológico. Pilhas e lâmpadas sobressalentes para laringoscópio. Detector colorimétrico de CO2 expirado. Medicações Adrenalina diluída a 1mg/10 mL em uma seringa de 5,0 mL para administração única endotraqueal. Adrenalina diluída a 1mg/10 mL em uma seringa de 1,0 mL para administração endovenosa. Expansor de volume (soro fisiológico) em duas seringas de 20 mL. Material para cateterismo umbilical Campo esterilizado, cadarço de algodão e gaze. Pinça tipo Kelly reta de 14 cm e cabo de bisturi com lâmina nº 21. Porta agulha de 11cm e fio agulhado mononylon 4.0 Cateter umbilical 3,5F e 5F de PVC ou poliuretano de lúmen único. Torneira de três vias e seringa de 10 mL. Soro fisiológico para preencher o cateter antes de sua inserção. Outros Luvas e óculos de proteção individual para os profissionais de saúde. Gazes esterilizadas de algodão, álcool etílico/solução antisséptica. Cabo e lâmina de bisturi. Tesoura de ponta romba e clampeador de cordão umbilical. Agulhas para preparo da medicação. Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 36) 71 Geralmente, os cuidados básicos prestados a todos os recém-nascidos em sala de parto, segundo Nené, Marques e Batista (2016), já são suficientes para que não haja complicações e uma possível reanimação: manter o bebê seco e aquecido, ou pele a pele com a mãe com campo aquecido sobre eles, ou sob fonte de calor, deixar a cabeça posicionada de forma que as vias áreas permaneçam abertas e limpar com pano ou aspirar se caso for necessária a via área superior. Para a SBP, “A aspiração de vias aéreas não deve ser realizada de rotina e, sim, reservada somente ao recém- nascido com excesso de secreções nas vias áreas” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 8). Esses cuidados já bastam, na maioria das vezes, para manter o recém-nascido saudável durante seus primeiros minutos de vida. Quando esses cuidados básicos ao recém-nascido não o estabilizarem, prova- velmente, será necessário um outro método de estabilização e/ou reanimação. A SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022) explica que o recém-nascido, acima de 34 semanas, não demonstra choro ou movimentos respiratórios regulares, não tem tônus muscular e, em geral, não apresenta uma boa vitalidade, devendo ser conduzido para a sala de reanimação, para iniciar a estabilização desse recém-nascido. Essa estabilização engloba a manutenção da temperatura, para diminuir a perda de calor, ligando as fontes de calor radiante, e esse bebê não deve ser transportado até a sala de reanimação sem campos aquecidos em volta dele. Deve ser posicionado em decúbito dorsal, com a cabeça voltada para o profissional, e realizada a secagem adequada do bebê, a qual já proporciona certo estímulo tátil e pode ajudar na transição da respiração. A fonte de calor é de extrema importância para o recém-nascido, que necessita de estabilização, porém é necessário cuidado para evitar hipertermia, uma temperatura maior que 37,5 °C, que pode agravar a situação do bebê, em vez de melhorar. ATENÇÃO Ainda, para manter a estabilização, há a necessidade de assegurar as vias áreas pérvias. Segundo a SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), o pescoço deve ficar estendido para as vias áreas estarem pérvias, devendo haver cuidado para evitar a hiperextensão do pescoço, e o uso do coxim pode ser benéfico nesse momento. É necessário avaliar a necessidade ou não de aspiração, conforme já citado anteriormente, e reservar apenas para os casos de recém-nascidos com obstrução das vias áreas por muita secreção. Além disso, é importante perceber se há ou não a presença de líquido amniótico meconial, pois isso aumenta o risco de reanimação e, nesse caso específico, indepen- dentemente da espessura e da viscosidade, não deve ser realizada a aspiração, que pode agravar o caso clínico. É importante ressaltar que a presença de líquido meconial, mesmo se o bebê apresentar boa vitalidade, este pode permanecer com a mãe, em contato 72 pele a pele, e a assistência deve ser realizada quando o recém-nascido apresentar “apneia, respiração irregular e/ou frequência cardíaca < 100 bpm, é fundamental iniciar a VPP [ventilação com pressão positiva] com máscara facial e ar ambiente nos primeiros 60 segundos de vida” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 9). Simultaneamente a esses cuidados, é importante a verificação dos sinais vitais do recém-nascido; as próximas decisões e condutas de estabilização do bebê serão baseadas a partir da verificação da frequência cardíaca e da respiração. A frequência cardíaca define as manobras de reanimação e, por isso, deve ser feita de forma rápida e confiável na sala de parto. A palpação do cordão umbilical é um meio de avaliar a frequência cardíaca, assim como a verificação do pulso pelo oxímetro, a ausculta com estetoscópio ou a monitoração da atividade elétrica. Entretanto, de todas essas opções, a SBP recomenda ser mais fidedigno o uso do monitor cardíaco. Futuro enfermeiro, considera-se adequada uma frequência cardíaca maior ou igual a 100 bpm, visto que a bradicardia é definida quando menor que 100 bpm. IMPORTANTE Já a avaliação da respiração é feita a partir da observação. Segundo a SBP (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), deve-se observar a expansão torácica ou o choro. Se houver presença de apneia no recém-nascido ou percepção de irregularidade nos movimentos respiratórios, a respiração está inadequada. Além disso, a saturação é outro sinal vital importante, que decide, muitas vezes, o manejo ventilatório do bebê e, por isso, a leitura confiável da saturação é importante. É fundamental perceber que, após alguns minutos do nascimento, a saturação aumenta; em bebês que não precisam de reanimação, a saturação pode demorar 5 minutos ou mais, após o nascimento, até alcançar 90%. Se, após esses procedimentos de estabilização, o recém-nascido mantiver frequência cardíaca > 100 bpm e respiração regular espontânea, a SBP recomenda que o recém-nascido deve voltar para a sala de parto, junto à mãe, de preferência, em contato, pele a pele, com a parturiente, coberta com tecido quente; em seguida, deve-se apoiar o estímulo à amamentação (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022). 73 Acadêmico, se o bebê, após esses passos iniciais de estabilização, mostrar frequência cardíaca menor que 100 bpm e respiração irregular ou ausente, é necessário iniciar a ventilação com pressão positiva (VPP). A monitoração cardíaca e a saturação são sinais importante que devem ser avaliados nesse momento. Os primeiros 60 segundos são conhecidos como “o minuto de ouro”. ATENÇÃO Na técnica de ventilação com máscara facial, inicialmente,de acordo com a SBB (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022), utiliza-se a ventilação com o balão autoinflável ou o ventilador mecânico manual com peça T. É importante envolver as bordas da máscara com os dedos indicador e polegar, formando a letra “C”, conforme mostra a Figura 13, para que fique fixa e corretamente posicionada nas vias áreas do recém-nascido. Após isso, a ventilação deve ser iniciada de 40-60 movimentos/minuto, com base na regra “aperta/solta/solta”, nos primeiros 15 segundos, se ventilação efetiva, podendo-se perceber aumento da frequência cardíaca. Se, após 30 segundos de VPP, o recém- nascido apresentar frequência cardíaca maior que 100 bpm e respiração regular, pode-se parar o procedimento, observando-o e reavaliando-o. Se, porventura, não melhorar, é necessário realizar algumas condutas corretivas, e, mesmo se com essas condutas ainda permanecer em menos que 100 bpm e com movimentos respiratórios irregulares, deve-se considerar o uso de máscara laríngea com interface para a VPP ou cânula traqueal. E, se acaso, mesmo com essa troca de método de ventilação, a frequência cardíaca for menor que 60 bpm, deve ser iniciada a massagem cardíaca coordenada com a ventilação. Figura 13 – Posição correta dos dedos na máscara Fonte: http://twixar.me/dwQm. Acesso em: 16 set. 2022. 74 A SBP expõe que a compressa cardíaca deve ser feita no terço inferior do esterno do recém-nascido e pode-se utilizar os dois polegares ou dois dedos, sendo a dos dois polegares mais eficiente, lembrando que o local é abaixo da linha intermamilar, e o restante da mão circunda o tórax, conforme mostra a Figura 14 (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022). A profundidade da compressão é de 1/3 da dimensão do tórax e, nesse sentido, a ventilação e a massagem cardíaca são realizadas em sincronia, em uma relação de 3:1, isto é, três movimentos de compressão cardíaca para um movimento de ventilação, totalizando 120 eventos por minuto. Deve-se aplicar isso por 1 minuto e reavaliar a frequência cardíaca; continuar se frequência cardíaca menor que 60 bpm e se, após a continuação das correções, o recém-nascido mantiver frequência cardíaca menor que 60 bpm, entra-se com a administração de adrenalina e, após isso, considera-se a realização do cateterismo venoso umbilical de urgência. Figura 14 – Compressão torácica Fonte: http://twixar.me/0wQm. Acesso em: 16 set. 2022. Quando verificada a necessidade de adrenalina, o enfermeiro deve estar atento para que o seu preparo esteja pronto para administração, conforme apresentado no Quadro 4. Quadro 4 – Preparo de adrenalina para reanimação do recém-nascido Adrenalina endovenosa 1mg/mL Adrenalina endotraqueal 1 mg/ mL Diluição 1 mL de adrenalina 1 mg/mL em 9 mL de SF 0,9% 1 mL de adrenalina 1 mg/mL em 9 mL de SF 0,9% Seringa Seringa de 1 mL Seringa de 5 mL Dose 0,2 mL/kg 1,0 mL/kg Peso ao nascer x dose Se 2 kg = 0,4 mL Se 3 kg = 0,6 mL Se 4 kg = 0,8 mL Se 2 kg = 2,0 mL Se 3 kg = 3,0 mL Se 4 kg = 4,0 mL Velocidade Infusão rápida seguida por flush de 3 mL de SF 0,9% Infusão no interior da cânula traqueal seguido de ventilação – uso único. Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 24) 75 “Quando não há reversão da bradicardia com a adrenalina endovenosa, assegurar que a VPP e a massagem cardíaca estão adequadas, repetir a administração de adrenalina a cada 3-5 minutos por via endovenosa e considerar o uso do expansor de volume” (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022, p. 24). “Vale lembrar que apenas um RN em cada mil requer procedimentos avançados de reanimação [...] quando a ventilação com pressão positiva é aplicada de maneira rápida e efetiva no RN que tem dificuldades na transição da vida intra para a extrauterina” (BRASIL, 2014, p. 46). Diante disso, é importante conhecer o fluxograma de reanimação neonatal do recém-nascido maior que 34 semanas da SBP (Figura 15) (ALMEIDA; GUINSBURG, 2022). Figura 15 – Fluxograma de reanimação neonatal, recém-nascido ≥ 34 semanas Fonte: Almeida; Guinsburg (2022, p. 35) Acadêmico, a reavaliação em cada minuto é fundamental para perceber a próxima etapa da reanimação, saber o passo a passo e se capacitar para tal situação, garantindo uma qualidade na assistência ao recém-nascido. GIO 76 As equipes que trabalham em salas de parto devem ter capacitação e formações continuadas sobre a reanimação do recém-nascido, visto a importância de uma equipe bem treinada para evitar desfechos infelizes nesse momento. A familiarização com o fluxograma, com as técnicas e com as medicações favorece a agilidade no momento da emergência; o enfermeiro deve manter-se sempre atualizado, já que é uma de suas competências fundamentais na sala de parto, além apoiar o desenvolvimento de projetos e programas de atualização sobre esse assunto. Caro acadêmico, além da parte assistencial de uma reanimação em sala de parto, é necessária a realização de registros e anotações adequadas no sistema e no prontuário do paciente. IMPORTANTE 77 FATORES ASSOCIADOS À REALIZAÇÃO DE EPISIOTOMIA Bruna Menezes Aguiar Thales Philipe Rodrigues da Silva Samire Lopes Pereira Ana Maria Magalhães Sousa Roberta Barbosa Guerra Kleyde Ventura de Souza Fernanda Penido Matozinhos INTRODUÇÃO O processo de parir, durante muito tempo, foi considerado natural e privativo da mulher, compartilhado com outras mulheres, seus familiares e parteiras ou comadres. Com o passar dos anos, foi substituído por um modelo de atenção obstétrico, baseado na hospitalização do parto e do nascimento, fomentando um conjunto de práticas obstétricas intervencionistas. Essas medidas tornaram o cenário obstétrico mundial, muitas vezes, violento. Quando realizadas sem indicação clínica, podem aumentar o risco de complicações no pós-parto. Uma das práticas obstétricas consideradas intervencionistas é a episiotomia, uma das intervenções obstétricas mais comuns no mundo e, em alguns países, é considerada um procedimento de rotina. Consiste na ampliação da abertura vaginal por meio de uma incisão cirúrgica no períneo e pode ser realizada por médicos e enfermeiros obstétricos. As taxas de episiotomia aumentaram substancialmente durante a primeira metade do século XX, decorrente do processo de medicalização do ato de parir e como justificativa para os partos por via vaginal ocorrerem sem complicações. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que a taxa de episiotomia em uma instituição não ultrapasse 10%. Há uma variação nesses índices de acordo com o país estudado: por exemplo, na França, ela foi realizada em 19,9% dos partos. Já na Colômbia e na Espanha, a taxa foi de 30,48% e 50%, respectivamente. Revisão sistemática de 2018, que avaliou tendências da prática de episiotomia, observou variação de 5% na Dinamarca até mais de 90% em alguns países asiáticos. No Brasil, foi de 16%, variando de acordo com a paridade: 27,40% nas primíparas e 3,40% nas multíparas. Segundo estudo nacional realizado com dados da pesquisa da avaliação da Rede Cegonha, a proporção de episiotomia foi de 27,7% em hospitais públicos, mas com dados autorreferidos pela parturiente. No cenário brasileiro, esse procedimento é realizado em 27,7% das mulheres em instituições públicas e 39,4% no setor privado. LEITURA COMPLEMENTAR 78 Sabe-se que a episiotomia pode ampliar a extensão das lacerações perineais, além de aumentar o risco de infecção para a mulher, hemorragia, disfunção do assoalho pélvico, dispareunia, fístulas retovaginais, hematomas, dentre outras. Tais complicações têm impactos negativos na qualidade de vida da parturiente e na relação materno- fetal, além de relacionar-se com maiores gastos no sistema de saúde, o que aumenta o tempo de permanência hospitalar. Ressalta-se que, atualmente, não há evidências que corroborem a necessidade de episiotomia nos cuidados de rotina. Contudo, algunsfatores predispõem a mulher ao maior risco de ser submetida a esse procedimento, como: ser primigesta, além da prematuridade, peso e vitalidade do recém-nascido. O uso de analgesia peridural, parto instrumental e aplicação de ocitocina sintética para a indução do trabalho de parto (TP) e partos acima de 41 semanas também apresentam maior possibilidade de realização de episiotomia. Esta pesquisa avança, portanto, em relação aos estudos existentes no contexto brasileiro acerca da temática. DISCUSSÃO Os resultados deste estudo evidenciaram que a episiotomia foi realizada em 26,34% das parturientes; e, destas, 59,21% sabiam que haviam sido submetidas a esse procedimento. Quanto aos fatores associados à realização desse procedimento, constatou-se que mulheres mais jovens, primigestas, mulheres assistidas por profissional que não o enfermeiro obstetra e mulheres que tiveram seus bebês em hospital privado apresentam aumento na chance de serem submetidas a ele. No que tange à realização da episiotomia, a OMS lançou recomendações sobre padrões de tratamento e cuidados relacionados às parturientes. Essas foram, posteriormente, ratificadas pelo Ministério da Saúde, sendo denominadas como boas práticas na atenção ao parto normal. Visam orientar a conduta do profissional e são classificadas como: práticas claramente úteis e que devem ser estimuladas; práticas claramente prejudiciais ou ineficazes e que devem ser eliminadas; e práticas usadas de modo inapropriado no momento de TP e parto, em cuja categoria se insere a episiotomia. Neste estudo, entre as mulheres que realizaram episiotomia, 40,79% não sabiam que haviam sido submetidas a ela. Estudo recente mostrou que a maioria das mulheres são submetidas à cesariana, episiotomia, indução do parto e exames vaginais sem o seu consentimento. Esses resultados apontam que as intervenções desnecessárias durante o trabalho de parto violam os direitos das mulheres e a sua autonomia no processo de parir. Muitas vezes, determinadas condutas são decorrentes da impaciência em aguardar o nascimento de forma fisiológica, desrespeitando a autonomia das mulheres no processo de parturição. Além disso, a realização da episiotomia infringe os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, pelo fato de submeter um corpo saudável a um dano, sem se ter benefício estabelecido por evidência científica. 79 A realização de episiotomia pode aumentar a chance de hemorragias, infecção e deiscência da ferida, formação de hematoma, dor perineal, rompimento estendido no esfíncter anal e reto. Há, também, possíveis complicações no longo prazo, como: dispareunia, disfunção anorretal e disfunção sexual. Ressalta-se que o uso de boas práticas durante o trabalho de parto, recomendadas pela OMS, pode reduzir a probabilidade de intervenções desnecessárias e ter efeitos positivos na experiência de parto dessas mulheres. Os resultados deste estudo mostraram que mulheres mais jovens e primigestas apresentaram maior chance de serem submetidas à episiotomia. Revisão sistemática de 2019 confirma esses achados. A realização desse procedimento em primigestas está associada com maiores chances de lesões obstétricas do esfíncter anal. Autores demonstram que os principais argumentos por parte dos profissionais que fazem o uso inapropriado da episiotomia relacionam-se à rigidez perineal, (justificando-se que poderia levar ao prolongamento do período de desprendimento do polo cefálico), bem como à inexperiência da mulher com o trabalho de parto. Reforça-se que tais argumentos não são embasados em evidências científicas, pois o modelo de assistência ao parto, com uso excessivo de intervenções, não encontra respaldo em diretrizes ou estudos internacionais. A aplicação das práticas claramente úteis e que devem ser estimuladas, como a livre movimentação da parturiente, uso do partograma e realização de métodos não farmacológicos para alívio da dor, podem solucionar as referidas justificativas. Neste trabalho, parturientes assistidas por enfermeiros(as) obstétricos(as) apresentaram menores chances de sofrer episiotomia. Outros estudos ratificam esse achado, além de ressaltarem maiores índices de períneo íntegro e, consequentemente, menor ocorrência de ruptura esfincteriana. Ainda nesse sentido, metanálise realizada com 17.674 participantes evidenciou que as mulheres assistidas por um modelo “Midwife- led continuity” apresentam redução na razão de risco de passar por tal procedimento, com média de 0,84 (IC95% 0,77–0,92). Outro estudo, realizado com 480 prontuários de partos vaginais do Rio de Janeiro, evidenciou que parturientes acompanhadas por enfermeiras(os) apresentaram índice inferior de receber episiotomia. Enfermeiras(os) obstétricas(os) utilizam diversas técnicas que contribuem para o relaxamento da parturiente e proteção perineal, como exercícios respiratórios, movimentos pélvicos e banho morno. A restrição ao número de prestadores da assistência, a redução do número de exames vaginais e a livre escolha de posição, pela mulher, durante o trabalho de parto e parto, determinam a qualidade da assistência ao parto, sendo cuidados estimulados por enfermeiros(as). Por fim, verificou-se, nesta pesquisa, que a chance de ocorrência de episiotomia foi maior em instituições privadas. Esse resultado corrobora dados da revisão sistemática de 2019, os quais mostram que o financiamento do hospital pode ser um fator de risco para a realização dessa incisão cirúrgica. De modo geral, mulheres atendidas em hospitais públicos possuem mais acesso às boas práticas de atenção ao parto e nascimento, tais como métodos não farmacológicos de alívio da dor, livre escolha de 80 posições durante o parto e maior probabilidade de se movimentarem, o que reduz a chance de serem submetidas à episiotomia. Esse fato pode estar relacionado às ações e incentivos realizados pelo Ministério da Saúde para a promoção do parto humanizado e vaginal, por meio da divulgação de manuais, portarias, adaptação do ambiente e qualificação dos profissionais envolvidos com o parto e nascimento. Estudo realizado em uma maternidade pública de Londrina, Paraná, demonstrou proporção de realização de episiotomia de 7,3%, inferior ao recomendado pela OMS. Outro trabalho revelou taxas de intervenção obstétrica mais altas entre as mulheres que pariram em hospitais particulares (47%), quando comparadas aos índices dos hospitais públicos (29%). Ressalta-se que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) estabeleceu algumas medidas para o incentivo do parto normal, como o uso obrigatório do partograma e do cartão da gestante. A episiotomia impacta, também, os custos da atenção hospitalar, como demons- trado por um estudo que avaliou duas maternidades públicas do Rio de Janeiro e uma filantrópica de Belo Horizonte. Verificou-se que a última instituição possuía índices de episiotomia menores (3,1%), repercutindo em menores custos de insumos utilizados, devido à frequência reduzida de práticas invasivas, podendo-se relacionar, ainda, à assistência prestada – 80% dos partos vaginais foram assistidos por enfermeiros obstétricos. Limitações do estudo Por fim, torna-se relevante o reconhecimento de algumas limitações nesta pesquisa. Primeiro, trata-se de um estudo de delineamento transversal, o que impossibilita identificar a temporalidade das associações. Ressalta-se, também, a perda de alguns dados, intrínseca ao fato de a coleta de dados ter sido efetuada, também, em prontuários. Contudo, foram realizadas as análises de sensibilidade de forma comparativa entre a amostra final (de 577 parturientes) e as 23 mulheres excluídas – por ausência de informação no prontuário. Demonstrou-se que as perdas ocorreram deforma aleatória, não afetando as estimativas deste estudo. Contribuições para a área da Enfermagem Muitos são os avanços deste trabalho para a área da saúde e da enfermagem, pois os resultados fornecem informações epidemiológicas importantes, ressaltando que, em instituições públicas e com enfermagem obstétrica, atuante na assistência ao trabalho de parto e parto, há melhores perspectivas em comparação às instituições privadas e com ênfase em uma assistência mais intervencionista. Assim, a garantia de um cuidado humanizado pode, indubitavelmente, contribuir para a redução das taxas de episiotomia. 81 CONCLUSÃO A episiotomia foi realizada em 26,34% das mulheres; e, destas, 59,21% sabiam que haviam sido submetidas a ela. Observou-se que mulheres mais jovens, primigestas, mulheres assistidas por profissional que não o enfermeiro obstetra e mulheres que tiveram seus bebês em hospital privado apresentam aumento na chance de serem submetidas a esse procedimento. Os resultados deste estudo suscitam reflexão sobre a importância de fomentar ações de cuidado e planejamento de atenção à saúde direcionadas a mulheres com perfil apontado nos resultados deste estudo, estimulando modelos de atendimento mais humanizados e holísticos, que considerem a singularidade de cada mulher e respeitem a sua autonomia. Ademais, considerando-se as taxas do uso da episiotomia, este estudo destaca a necessidade de contraindicação absoluta de sua realização indiscriminada. Fonte: adaptada de AGUIAR, B. M. et al. Fatores associados à realização de episiotomia. Rev Bras Enferm., v. 73, Suppl 4, e20190899, 2020. Disponível em: http://twixar.me/LwQm. Acesso em: 19 jul. 2022. 82 Neste tópico, você aprendeu: • A adaptação do recém-nascido à vida extrauterina é um momento que requer alguns cuidados, e o enfermeiro pode auxiliar de diversas formas, como no contato, pele a pele, após o nascimento, manter o recém-nascido aquecido no colo da mãe, estimular o aleitamento materno na primeira hora de vida, realizar o clampeamento do cordão umbilical pelo menos após 1 minuto do nascimento. • A Escala de Apgar deve ser realizada, principalmente, no primeiro e no quinto minutos de vida do bebê, avaliando-se a frequência cardíaca, a respiração, o tônus muscular, a cor e a irritabilidade reflexa. É utilizada para avaliar o estado geral do recém-nascido e a sua adaptação à vida extrauterina. • A estabilização do recém-nascido se dá, primeiramente, com a manutenção das vias aéreas permeáveis, a termorregulação eficaz e a prevenção de infecções. A avaliação inicial deve ser realizada concomitantemente aos cuidados prestados pelo enfermeiro, permitindo uma assistência de qualidade. Os cuidados básicos são: aquecer e secar, posicionar a cabeça de forma a abrir as vias áreas e limpar a via aérea superior. • No procedimento de reanimação do recém-nascido, é importante primeiro garantir a ventilação com máscara, se frequência cardíaca abaixo de 100 bpm; após isso, as compressões cardíacas, se frequência cardíaca abaixo de 60 bpm, devem ser realizadas em conjunto com a ventilação de pressão positiva, com esquema de 3:1, e, se necessário, administrar adrenalina e expansão de volume, conforme protocolos. • O enfermeiro tem a responsabilidade de manter os materiais disponíveis, organizados e funcionantes antes do procedimento de suporte a vida do recém-nascido, sendo imprescindível estar capacitado e familiarizado com protocolos e práticas de reanimação ao recém-nascido. RESUMO DO TÓPICO 4 83 1 Na atuação direta do enfermeiro com recém-nascido na sala de parto, para realizar as condutas de forma adequada e segura, é necessário o conhecimento antecipado de algumas informações. Diante disso, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) É necessário ter conhecimento sobre a vigilância pré-natal, as consultas e os exames da gestante antes do atendimento ao recém-nascido. b) ( ) Saber da história da gravidez, a evolução, as doenças, as medicações de uso e as drogas usadas na gestação são outros fatores importantes para um cuidado adequado ao recém-nascido. c) ( ) Os antecedentes maternos e paternos do recém-nascido não são informações relevantes. d) ( ) Aspectos psicossociais do parto também são importantes, como saber se houve a preparação para o parto, se a gestante teve suporte emocional durante o trabalho de parto e o envolvimento familiar nesse evento. 2 A Escala de Apgar é considerada uma forma importante de sistematizar e avaliar o período em que o bebê se adapta à vida extrauterina, pois os primeiros minutos são essenciais e, por isso, deve-se avaliar as necessidades do recém-nascido, a partir de uma boa observação dos sinais que ele apresenta. Com base na Escala de Apgar, analise as sentenças a seguir: I- O valor mínimo da Escala de Apgar é 0 e o máximo, 10 e, a partir da avaliação, se dá o escore final. II- Se, por acaso, o escore for de 0 a 3, o recém-nascido está em boas condições de saúde e pode permanecer no colo da mãe. III- Deve ser determinado o escore no primeiro e no quinto minuto de vida, não sendo utilizado para indicar procedimentos na reanimação neonatal, pois permite avaliar a resposta neonatal às manobras realizadas. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 84 3 Quando os cuidados básicos ao recém-nascido não o estabilizaram, provavelmente, será necessário outro método de estabilização e/ou reanimação. Se o bebê tiver nascido acima de 34 semanas, não demonstrar o choro ou movimentos respiratórios regulares, não tiver tônus muscular e, em geral, não apresentar uma boa vitalidade, deve ser conduzido para a sala de reanimação, para iniciar a estabilização desse recém-nascido. De acordo com o fluxograma de reanimação neonatal do recém- nascido maior que 34 semanas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O minuto de ouro é caracterizado pelos primeiros 60 segundos de vida do recém- nascido. Nesse primeiro minuto, a equipe deve realizar o briefing, verificar material, realizar anamnese materna, se perguntar se a gestação é a termo, se o recém- nascido está chorando ou respirando, se tem tônus – se essas respostas forem negativas, deve ser realizado o clampeamento imediato do cordão umbilical e o recém-nascido deve ser levado para estabilização. ( ) Se frequência cardíaca for menor que 100 bpm e respiração irregular ou apneia, deve-se iniciar ventilação com pressão positiva, com oxigênio a 100%, e monitoração. ( ) Se a frequência cardíaca for menor que 60 bpm, deve-se iniciar a ventilação com cânula traqueal, oxigênio a 100%, massagem cardíaca coordenada com ventilação, 3:1. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Os cuidados com o recém-nascido abrangem muito mais que as técnicas assistenciais e gerenciais, como a promoção da vinculação da tríade mãe-bebê-pai. O enfermeiro pode realizar algumas condutas para promover e melhorar a vinculação, além de auxiliar na adaptação da vida extrauterina. Disserte sobre as condutas e as medidas que o enfermeiro pode promover para a família. 5 O enfermeiro é o profissional responsável pelos cuidados imediatos após a expulsão do recém-nascido, que devem ser realizados de forma correta visando ao bem-estar do bebê, sempre importante também o registro, posteriormente, de tudo na caderneta da criança. Quais são esses cuidados imediatos realizados pelo enfermeiro ainda na sala de parto? 85 AGUIAR, B. M. et al. Fatores associados à realização de episiotomia. Revista Brasileirade Enfermagem REBEn, Minas Gerais, v. 73, n. 4, p. 1-6, 2020. Disponível em: http://twixar.me/LwQm. Acesso em: 19 set. 2022. ALMEIDA, M. F. B. de; GUINSBURG, R. Reanimação do recém-nascido ≥34 semanas em sala de parto. Diretrizes 2022 da Sociedade Brasileira de Pediatria. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Pediatria; 2022. Disponível em: http://twixar.me/2gQm. Acesso em: 19 jul. 2022. BALZANO, C. O parto é da mulher! Belo Horizonte: Gutenberg, 2019. 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Profilaxia da oftalmia neonatal por transmissão vertical. Documento Científico: Departamento Científico de Neonatologia (2019-2021). 2020. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/ user_upload/22851d-DC-Profilaxia_da_Oftalmia_Neonatal_TransmVert.pdf. Acesso em: 20 jul. 2022. WHO – WORLD HEALTH ORGANIZATION. Recommendations for management of common childhood conditions. Newborn conditions, dysentery, pneumonia, oxygen use and delivery, common causes of fever, severe acute malnutrition and supportive care. Genebra: World Health Organization, 2012. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/ handle/10665/44774/9789241502825_eng.pdf?sequence=1. Acesso em: 19 jul. 2022. WHO. WHO recommendations: intrapartum care for a positive childbirth experience. Geneva: World Health Organization, 2018. Licence: CC BYNC - SA 3.0 IGO. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/260178/9789241550215-eng. pdf. Acesso em: 16 set. 2022. WHO. 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A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – ABORTAMENTO TÓPICO 2 – GRAVIDEZ ECTÓPICA TÓPICO 3 – HEMORRAGIAS ANTEPARTO TÓPICO 4 – EMERGÊNCIAS DE PARTO TÓPICO 5 – HEMORRAGIA PÓS-PARTO TÓPICO 6 – CESARIANA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 90 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 2! Acesse o QR Code abaixo: 91 TÓPICO 1 — ABORTAMENTO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos os aspectos clínicos do abortamento, dividindo em formas clínicas cada tipo de abortamento existente até o momento, bem como os aspectos da humanização no abortamento, a fim de poder especificar como o profissional deve conduzir, acolher e orientar a assistência a mulher em abortamento. Embora a gravidez seja um evento biológico e fisiológico para a maioria das grávidas, algumas mulheres podem desencadear fatores complexos no período gestacional, os quais aumentam o índice de mortalidade materna, quando agravados ou negligenciados. Por isso, a assistência prestada pela equipe profissional de saúde é importante desde o período de pré-concepção até as consultas de pré-natal e durante o parto e o pós-parto, ou, ainda, durante o período de abortamento. No Brasil, o abortamento é um problema de saúde pública, além de, em outros países em desenvolvimento, ser a maior causa de morte materna no mundo, quando falamos de abortamentos sem assistência. É importante ressaltar que, no Brasil, atualmente o abortamento induzido ou provocado é permitido, conforme o Código Brasileiro, desde 1940, apenas nas situações com doenças graves para a gestação, que podem acarretar risco de vida a mulher, nos casos de pós-estupros e de anencefalia fetal. Quando falamos de abortamentos, estamos nos referindo a situações de san- gramentos no período gestacional, especificamente na primeira metade da gestação. O sangramento sempre deve ser investigado e tratado para diminuir riscos maternos e fetais. O aborto espontâneo é uma recorrência, relativamente, frequente nos centros obstétricos e, por isso, os enfermeiros devem estar capacitados, familiarizados e orientados quanto à conduta adequada e humanizada dessas situações, garantindo, assim, um desfecho com riscos mínimos para a mãe, tanto no contexto físico quando psicológico. É imprescindível que o enfermeiro preste uma assistência independente de seus preceitos morais e religiosos; faz-se necessário estar munido de ética para garantir os direitos da mulher nesse momento frágil, que é o processo de um abortamento. 92 2 TIPOS DE ABORTOS Muitas mulheres não sabem que estão grávidas quando, por acaso, ocorre um sangramento no primeiro trimestre com cólicas e, nesses casos, Almeida e Reis (2021) explicam que o abortamento é classificado como subclínico; porém, quando já é conhecida e diagnosticada a gestação e, após isso, ocorre um abortamento, este é classificado como clínico. Zugaib e Francisco (2020) apresentam dados sobre a indecência de abortamentos clínicos entre 15 e 20% das gestações, enquanto os abortamentos subclínicos podem atingir 60% das gestações: “aproximadamente uma em cada quatro mulheres terá um abortamento espontâneo durante sua vida reprodutiva” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 568). Sobre a definição de abortamento, a “OMS, na CID-11, define aborto como a interrupção da gestação com menos de 20 semanas ou com produto da concepção (embrião o feto) pesando menos de 500 g” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 568). Para o Ministério da Saúde, “O aborto espontâneo é definido como gestação intrauterina não viável de até 20-22 semanas ou peso fetal de 500 g” (BRASIL, 2022a, p. 37). Ainda, Zugaib e Francisco (2020) classificam quanto à cronologia, sendo o abortamento precoce a perda até 12 semanas e o abortamento tardio entre 12 e 20semanas de gestação. Por ser também classificado quanto à intenção, isto é, o abortamento espontâneo, sem ação de qualquer natureza, ou o abortamento induzido ou provado, por exemplo, em casos de interrupção da gravidez com interferência intencional. Quanto à etiologia do abortamento, a causa mais comum, segundo Almeida e Reis (2021), são as alterações cromossômicas, ou seja, as anormalidades cromossômicas, chegando a 50% dos abortamentos espontâneos, isto é, fertilização de gametas defeituosos ou irregularidade na divisão dos embrionária. A segunda causa mais comum são alterações anatômicas ou alterações uterinas, como a incompetência istmocervical, que se caracteriza pela insuficiência do colo uterino em manter-se fechado. Segundo Zugaib e Francisco (2020), ela é responsável por até 20% dos abortamentos de repetição, e, geralmente, ocorre devido a traumas passados, como laceração do colo uterino decorrente de parto traumático, ou pós-curetagem, amputação e conização do colo uterino. Também pode ocorrer em decorrência de origens congênitas com: alterações do nível de colágeno ou exposição intrauterina ao dietilestilbestrol. Outro exemplo de malformação anatômica são os miomas. Os miomas submucosos que surgem na cavidade uterina estão relacionados a casos de abortamento, pois prejudicam o desenvolvimento do embrião, além de provocar contrações uterinas. 93 As sinéquias intrauterinas, conhecidas como aderências uterinas, que ocorrem após a curetagem de abortos infectados, podem interferir no processo de implantação ovular, segundo Zugaib e Francisco (2020), e, assim, levar a um abortamento. Outra malformação uterina é o defeito da fusão dos ductos de Müller, como útero unicorno, didelfo, septado, bicorno e arqueado, que pode causar o “abortamento habitual (tardio), restrição de crescimento fetal, prematuridade, apresentações anômalas e hemorragia pós-parto” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 573). Existem outras causas de abortamento, como as alterações endócrinas, Zugaib e Francisco (2020) expõem que nesta causa estão incluídos apenas algumas alterações, que atualmente estudos mostraram a sua real relação com o abortamento, que são: diabetes melito tipo 1 quando não controlada no início da gravidez e a síndrome de ovários policísticos. Além dessas alterações o autor ainda salienta que, algumas infecções maternas também podem ser a causa dos abortamentos, como infecções bacterianas ou virais, por exemplo: Chlamydia trachomatis, Neisseria gonorrhoeae, Listeria monocytogenes, Streptococcus agalactiae, citomegalovírus e herpes-vírus. Alguns fatores imunológicos de causa autoimunes e aloimunes também podem estar relacionados à possível perda do embrião-feto, o que é salientado por Zugaib e Francisco (2020), bem como as trombofilias hereditárias e, obviamente, o uso de drogas e agentes nocivos, como tabagismo, álcool e cafeína. Ainda, é importante salientar que traumas externos são frequentemente associados a ocorrências de abortos, tendo traumas graves maior probabilidade de levar a consequências fatais. Caro acadêmico, quanto às formas clínicas de abortamento espontâneo, temos as seguintes: • ameaça de abortamento; • abortamento em curso/inevitável: ◦ completo; ◦ incompleto; • aborto retido; • aborto infectado ou séptico; • aborto habitual ou recorrente. IMPORTANTE • Ameaça de abortamento: segundo o Ministério da Saúde (2011), a mulher apresenta sangramento vaginal pequeno ou moderado, podendo ou não sentir dores em baixo ventre. O colo uterino da mulher encontra-se fechado e o tamanho do útero, muitas vezes, normal ao da idade gestacional. Nesse caso, no ultrassom, mostra-se o feto vivo, porém com um descolamento ovular pequeno, causando este sangramento. 94 • abortamento em curso/inevitável: Zugaib e Francisco (2020) explicam que o aborta- mento em curso apresenta formas clínicas, como sangramento moderado a intenso com dor abdominal, muitas vezes, intensa. A mulher pode apresentar anemia, taquicardia e hipotensão arterial grave, associado à perda de sangue em grande quantidade. Esse tipo clínico de abortamento resulta no abortamento completo ou incompleto. ◦ Abortamento completo: conforme o Ministério da Saúde (2011), geralmente, ocorre até 8 semanas de gestação, e, como o nome já diz, o aborto foi completo, com a expulsão espontânea total do produto, quando a mulher já não apresenta mais dores ou sangramento intenso, e o seu útero já se encontra contraído e menor que a idade gestacional, ao toque abdominal, e o colo uterino, quando observado pelo espéculo, pode estar ainda aberto, porém fecha-se em poucas horas da expulsão do produto. No exame de ultrassom, a cavidade uterina está vazia ou com coágulos. ◦ Abortamento incompleto: a mulher não expeliu completamente o feto e, por isso, está diante de um aborto incompleto, em que os sinais são sangramento e dores abdominais intensas, sendo diferente da ameaça de abortamento devido à intensidade do sangramento e a dosagem da fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (beta-hCG), que, nesse caso, apresenta declínio, de acordo com Almeida e Reis (2021). Há, ainda, a dilatação cervical e o volume do útero é menor que o esperado para a idade gestacional, com o exame de ultrassom mostrando descolamento decidual, saco gestacional irregular e ausência de batimentos cardíacos. • Abortamento retido: pode ocorrer sem nenhum sinal de ameaça, segundo o Ministério da Saúde (2011), e segue com a regressão de sinais e sintomas da gravidez, com colo uterino fechado, sem presença de sangramento vaginal, na maioria dos casos, porém pode ocorrer como na ameaça de aborto em pequena quantidade e sem dor abdominal. “O exame de ultrassom revela ausência de sinais de vitalidade ou a presença de saco gestacional sem embrião (ovo anembrionado)” (BRASIL, 2011, p. 31). • Abortamento infectado ou séptico: “Com muita frequência está associado a manipulações da cavidade uterina pelo uso de técnicas inadequadas e inseguras. Estas infecções são polimicrobianas e provocadas, geralmente, por bactérias da flora vaginal” (BRASIL, 2011, p. 31). “Principalmente em países em que a lei proíbe a interrupção da gestação, sendo sua prática realizada em condições inadequadas. Cerca de 13% das mortes maternas que ocorrem no mundo são decorrentes do abortamento induzido de forma clandestina” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 579). Para o Ministério da Saúde (2011), os sinais e os sintomas mais comuns do abortamento infectado são: febre, sangramento vaginal com odor fétido acompanhado de secreção purulenta e dor abdominal. Ainda, segundo Almeida e Reis (2011), pode ser classificado em três tipos, conforme o grau da infecção: o tipo I é limitado à cavidade uterina, o tipo II abrange o peritônio pélvico e os órgãos anexos, e, no tipo III, a infecção é generalizada, muitas vezes levando a choque séptico. • Abortamento habitual ou recorrente: “Caracteriza-se pela perda espontânea e consecutiva de três ou mais gestações antes da 22ª semana. É primário quando a mulher jamais conseguiu levar a termo qualquer gestação, e secundário quando houve uma gravidez a termo” (BRASIL, 2005, p. 24), podendo ter várias causas, conforme descrito anteriormente. 95 Para melhor fixação dos tipos de abortamentos, a Tabela 1 apresenta as formas clínicas, os sinais e os sintomas, assim como os aspectos do ultrassom, conforme Zugaib e Francisco (2020). Tabela 1 – Formas clínicas de abortamento Tipo Sinais e sintomas Aspectos ultrassonográficos Ameaça de abortamento Sangramento vaginal leve; ausência de cólicas abdominais ou presença de cólicas leves; orifício interno do colo fechado. Saco gestacional regular; embrião com atividadecardíaca compatível com o comprimento cabeça-nádegas; presença ou ausência de hematoma subcoriônico (descolamento ovular). Abortamento completo História de sangramento; orifício interno do colo fechado ou se fechando. Endométrio linear, ou espessura endometrial maior ou igual a 15 mm. Abortamento incompleto Sangramento vaginal importante ou intermitente; cólicas intensas; orifício interno do colo entreaberto e saída de restos ovulares. Ecos intrauterinos agrupados; eco endometrial irregular; espessura endometrial maior que 15 mm. Aborto retido Sangramento vaginal variável e até mesmo ausente; cessão de sintomas de gravidez; útero do tamanho menor do que o esperado e orifício interno do colo fechado. Embrião com comprimento cabeça-nádegas maior que 7 mm sem atividade cardíaca. Aborto infectado Quadro clínico depende do grau (febre, taquicardia, anemia, abdome doloroso, secreção purulenta e fétida do colo uterino, colo uterino entreaberto). Retenção dos produtos da concepção; endométrio espesso e irregular. 3 TRATAMENTOS Caro acadêmico, o tratamento dependerá do tipo de abortamento, visto que a conduta é diferenciada, de acordo com os aspectos clínicos e ultrassonográficos, podendo ser conduta expectante, tratamento medicamentoso ou tratamento cirúrgico, conforme descrito a seguir: • Conduta expectante: atualmente, percebe-se que há interesse, entre os profissionais, e também das mulheres, de buscar métodos não cirúrgicos para tratamentos de abortamentos, sobretudo em abortamentos precoces, segundo Zugaib e Francisco (2020). Dependendo do tipo de abortamento, a conduta expectante pode ser considerada a mais segura, em termos de recuperação. Quando, por exemplo, há um abortamento incompleto, Zugaib e Francisco (2020) expõem que diversos estudos 96 têm mostrado, hoje, que a conduta expectante tem sido uma opção mais saudável para a mulher, visto que há a eliminação completa do produto após o 3º dia (média) em 79% dos casos; em outro estudo, foi verificada uma taxa de sucesso de 83% após 7 dias de conduta expectante, tendo 3% das mulheres complicações relacionadas a infecções e 5% apresentando necessidade de cirurgia de emergência. Já no aborto retido, a conduta expectante não é a melhor opção, segundo os estudos atuais, visto que a taxa de sucesso é pequena e os níveis de complicações maiores. Esse tipo de tratamento deve ser sempre discutido entre a mulher e o profissional. • Tratamento medicamentoso: Zugaib e Francisco (2020) explicam que se torna uma alternativa para mulheres que não desejam passar por procedimentos cirúrgicos para o tratamento de abortamento. ◦ Misoprostol: tem efeito na contratilidade uterina e no amolecimento do colo uterino, utilizado, muitas vezes, pré-curetagem, ou, em casos de óbito fetal, na indução de parto e hemorragia pós-parto também. Utilizado em abortamento precoces com alto grau de satisfação, efetivo e seguro, sendo preconizada a administração de 800 µg via vaginal a cada 24 horas, por até 2 dias. • Tratamento cirúrgico: ◦ A curetagem uterina é o tratamento mais conhecido para abortamentos, segundo Zugaib e Francisco (2020), tanto para o primeiro quanto para o segundo trimestre da gestação. Indicada em casos de sangramento moderado a intenso, presença de infecção e também no caso das mulheres que não querem esperar, de forma espontânea/medicamentosa, a eliminação do produto. Há riscos como em qualquer procedimento cirúrgico, sendo eles infeção, esvaziamento uterino incompleto, laceração cervical, perfuração uterina, lesão de órgãos pélvicos e hemorragias. ◦ Zugaib e Francisco (2020) também expõem a aspiração elétrica a vácuo e manual em casos de abortamento no primeiro trimestre. Sendo um método de baixo custo, constata-se diminuição de tempo de procedimento e da necessidade de internação hospitalar, quando comparado à curetagem, além de alguns estudos terem mostrado que a diminuição de hemoglobina, após o procedimento, é maior no caso de curetagem uterina. ◦ Para evitar mais casos de abortamentos habituais/recorrentes, geralmente causados por incompetência cervical, a realização da cerclagem do colo uterino é recomendada em uma nova gestação, prevenindo a abertura prematura do colo uterino, por meio de uma sutura circular no orifício cervical (Figura 1). Deve ser realizada entre 12 e 14 semanas de gestação, segundo o Manual de atenção humanizada ao abortamento (BRASIL, 2010 apud ALMEIDA; REIS, 2021). A remoção da sutura deve ser feita com 37 semanas de gestação, para dar seguimento ao parto vaginal. 97 Figura 1 – Cerclagem cervical Fonte: Almeida; Reis (2021, p. 132) Acesse o manual de Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de abortamento, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022a), é direcionado aos profissionais de saúde, aos serviços de saúde e aos gestores públicos, pois apresenta as normas técnicas para atendimento às mulheres em relação ao aborto: http://twixar.me/5wQm. DICA O manual de Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de abortamento, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022a), traz como elementos essenciais: • Acolhimento e orientação para responder às necessidades de saúde mental, social e física das mulheres, além de outras preocupações que possam surgir. • Atenção clínica adequada ao abortamento e suas complicações, segundo referenciais éticos, legais e bioéticos. • Oferecimento de serviços de planejamento familiar às mulheres pós-abortamento, inclusive orientações para aquelas que desejem nova gestação. • Integração com outros serviços de promoção à saúde da mulher e de inclusão social às mulheres (BRASIL, 2022a, p. 9). Caro acadêmico, é importante salientar a humanização no atendimento da Enfermagem em quaisquer casos de abortamento, além do seguimento das intervenções de Enfermagem durante a internação hospitalar. Sobre as condutas do enfermeiro, Almeida e Reis (2021) frisam alguns cuidados de Enfermagem nos casos de abortamento quando hospitalizados: 98 • Encaminhe a paciente ao banho e ofereça troca de roupa, se ela desejar. • Promova um acolhimento humanizado, permitindo que a mulher expresse suas preocupações, medos e angústias. • Ouça de modo a compreender os diversos significados do aborto para a mulher e sua família. • Reduza os estímulos ambientais perturbadores e mantenha a paciente em repouso no leito. • Explique a conduta de acordo com o tipo de aborto e internação. • Oriente e prepare a mulher para o exame físico e ginecológico. • Analise o volume, a coloração e o odor do sangramento vaginal. • Monitore os sinais vitais e balanço hídrico da paciente de acordo com a gravidade da situação. • Explique sobre os medicamentos prescritos, a sua indicação e o tempo de tratamento. • Administre o medicamento prescrito. Além disso, verifique a tipagem sanguínea da mulher, para que seja administrada, nos casos necessários, a imunoglobulina anti-Rh para sensibilização; além disso, confirme a realização do teste sorológico para sífilis e pesquisa de infecção por vírus da imunodeficiência humana (HIV). • Institua e oriente os cuidados perineais. • Oriente a mulher observar, após a alta hospitalar, sangramentos que durem mais de 8 a 10 dias ou sangramentos excessivos de coloração vermelho-vivo, assim como sinais de infecção. Aconselhe também a abstinência sexual por 1 a 2 semanas após a alta hospitalar. • Encaminhe-a para o atendimento psicológico, se necessário, e agende retorno ambulatorial com a(o) enfermeira(o) para fins de acompanhamento, inclusive para seguimento do Planejamento Reprodutivo (ALMEIDA; REIS, 2021, p. 133). Caro acadêmico, lembre-se que acolher e orientar são cuidados essenciais para a mulher em fase de abortamento,assim como tratar, de forma digna e respeitosa, e realizar uma escuta ativa são ações que ajudam a mulher se sentir mais segura e confiar no profissional, para passar por esse momento tendo um sentimento de acolhimento e aceitação por parte daquele que lhe está proporcionando cuidados nesse período. 99 Neste tópico, você aprendeu: • O abortamento é uma intercorrência frequente no centro obstétrico e, quando não cuidado, tratado e orientado, pode virar uma emergência obstétrica e fatalidade materna. • A maioria dos abortamentos ocorre no primeiro trimestre, sendo chamados de abortamentos precoces, enquanto os casos entre 12 e 20 semanas de gestação são classificados como abortamentos tardios. Em sua maioria, as causas são alterações cromossômicas. • A avaliação e a escuta das queixas das mulheres são de grande importância para classificar o tipo de abortamento e o tratamento específico, junto à realização da ultrassonografia. • O tratamento mais comum é a curetagem uterina, porém tem-se mostrado eficiente, também, a conduta expectante em alguns casos e o tratamento medicamentoso com misoprostol.a RESUMO DO TÓPICO 1 100 1 O aborto é um produto da concepção eliminado no processo de abortamento. Sobre a definição de abortamento, especificamente sobre a idade gestacional da perda e as classificações quanto a sua cronologia, com base no Ministério da Saúde (BRASIL, 2022a), assinale a alternativa CORRETA: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Atenção técnica para prevenção, avaliação e conduta nos casos de abortamento. Brasília, 2022a. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_avalia- cao_conduta_abortamento_2ed.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022. a) ( ) Interrupção da gravidez até a 20ª ou a 22ª semana e com o produto da concepção pesando menos de 500 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 12 semanas, e tardio, se ocorrer entre 12 e 20 semanas de gestação. b) ( ) Interrupção da gravidez até a 12ª ou a 20ª semana e com o produto da concepção pesando menos de 500 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 12 semanas, e tardio, se ocorrer entre 20 e 22 semanas de gestação. c) ( ) Interrupção da gravidez até a 20ª ou a 22ª semana e com o produto da concepção pesando menos de 600 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 10 semanas, e tardio, se ocorrer entre 12 e 22 semanas de gestação. d) ( ) Interrupção da gravidez até a 12ª ou a 20ª semana e com o produto da concepção pesando menos de 600 g, podendo ser abortamento precoce, se ocorrer até 12 semanas, e tardio, se ocorrer entre 12 e 20 semanas de gestação. 2 Considera-se, de acordo com Almeida e Reis (2021), que o abortamento tem fatores de risco relacionados diretamente com: idade materna avançada, múltiplos abortamentos provocados, abortamento espontâneo prévio, nova gestação 3 a 6 meses após o parto, uso de drogas lícitas e ilícitas, excesso de cafeína, procedimentos que envolvam a administração de gás anestésico e, também, o uso de medicações como o misoprostol. Mesmo sem esses fatores de risco, muitas mulheres em idade fértil poderão ter algum caso de abortamento em sua vida reprodutiva. Com base na etiologia do abortamento, analise as sentenças a seguir: I- As anormalidades cromossômicas são as causas mais comuns de abortamento, em geral, a trissomia autossômica é a alteração mais frequente, seguida pela monossomia do cromossomo X, a triploidia, tetraploidia e, também a aneuploidia. II- As causas uterinas mais frequentes são: miomas uterinos, sinéquias uterinas (síndrome de Asherman), incompetência cervical e malformações uterinas, especificamente defeitos da fusão dos ductos de Leopold. III- O uso de agentes nocivos, como tabagismo, álcool, cafeína e drogas, também fazem parte da etiologia dos abortamentos. AUTOATIVIDADE https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_avaliacao_conduta_abortamento_2ed.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_avaliacao_conduta_abortamento_2ed.pdf 101 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 O abortamento pode ser classificado como de forma espontânea ou induzida, sendo o produto da concepção com menos de 22 semanas de gestação. O abortamento espontâneo ocorre sem ação deliberada de qualquer pessoa, enquanto os abortamentos provocados ou induzidos são aqueles que interrompem a gravidez antes de atingir a viabilidade fetal. De acordo com as formas clínicas de abortamento, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Na ameaça de abortamento, o sangramento vaginal é intenso, o orifício do colo uterino está aberto e há a ausência de cólicas abdominais. ( ) Em casos de abortamento em curso, há dois tipos: completo e incompleto. O completo já houve a eliminação do produto da concepção, enquanto o incompleto o produto da concepção ainda está em processo de eliminação, apresentando sangramento vaginal intermitente e importante. ( ) No aborto infectado ou séptico, a mulher, na maioria das vezes, apresenta febre, taquicardia, anemia, abdome doloroso, secreção purulenta e fétida proveniente do colo uterino. Não há a retenção de produtos da concepção. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Para cada tipo clínico de abortamento, há uma conduta de tratamento que deve ser adequada, de acordo com o desejo da mulher, junto à orientação e ao aconselhamento médico e da equipe profissional envolvida no abortamento. Acerca dos tratamentos para abortamentos, disserte sobre os tipos que existem e a eficácia deles para determinado tipo clínico de abortamento. 5 Sabe-se que o profissional de Enfermagem, no período em que a mulher estiver hospitalizada em casos de abortamento, sendo espontâneo ou induzido, é essencial para manter o cuidado integral à saúde da mulher. Acerca disso, o que o enfermeiro deve prezar no cuidado à mulher em processo de abortamento, além das intervenções de Enfermagem? 102 103 GRAVIDEZ ECTÓPICA UNIDADE 2 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos acerca da gravidez ectópica, complicação e emergência na gestação considerada a principal causa de mortalidade materna no primeiro trimestre da gravidez e que é uma questão de saúde pública em países desenvolvidos. Atualmente, pode ser diagnosticada de maneira mais rápida, facilitando a conduta e o tratamento. Entretanto, mesmo assim, o aumento da prevalência de gravidez ectópica é alto, devido, também, à prevalência dos fatores de risco, conforme veremos no decorrer deste tópico. Caro acadêmico, para esclarecimentos, a gravidez ectópica é uma gestação cuja implantação do ovo ocorreu fora do útero, podendo esta implantação e desenvolvimento acontecer na tuba uterina, nos ovários, no abdome, no cérvix uterino e, também, na cicatriz de cesariana anterior. Por isso, será abordada a etiologia, ou seja, as causas mais comuns da gravidez ectópica e os tratamentos, além de referenciar o papel do enfermeiro nessa emergência obstétrica. A realização de uma boa anamnese, um exame físico e uma escuta qualificada das queixas da mulher é de extrema importância para formação do diagnóstico, em conjunto com os exames laboratoriais e de imagem realizados pelo médico. O enfermeiro pode e deve perceber essa emergência, quando de evolução aguda, já no exame físico da triagem no centro obstétrico, a partir da inspeção e da palpação abdominal, que se fazem de grande importância nesse momento.2 ETIOLOGIA “Define-se gravidez ectópica (GE) quando a implantação e o desenvolvimento do blastocisto ocorrem fora da sede normal, ou seja, da grande cavidade corporal do útero, como mostra a Figura 2. A localização mais frequente é a gravidez tubária (90% a 95% dos casos)” (BRASIL, 2022b, p. 58). Para Zugaib e Francisco (2020), “a gravidez ectópica geralmente se encontra associada a fatores de risco que causam lesão tubária ou alteração no transporte ovular” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 588). Outros exemplos são (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020): • Doença inflamatória pélvica: infecções genitais, causadas principalmente por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, em que ocorre uma alteração grave nas tubas, podendo até obstrui-las, diminuindo o movimento ciliar e o estreitamento do diâmetro da tuba e, consequentemente, causando um aumento da incidência da gravidez ectópica. 104 • Uso de dispositivo intrauterino (DIU): há a chance de usuárias de DIU terem maiores risco, se o método falhar, de ocorrer uma gravidez ectópica, ainda que não esteja firmada a exata causa, porém dados mostram que, na falha do DIU, o risco de gravidez ectópica é de 1:2 gestações para DIU hormonal e de 1:16 gestações para DIU de cobre, enquanto é de 1:50 gestações para mulheres que não usam métodos de anticoncepção, conforme Zugaib e Francisco (2020). • Cirurgias tubárias prévias: pacientes submetidas a salpingostomia, reanastomose, fimbrioplastia e lise de aderências têm maior incidência de gravidez ectópica. • Antecedente de gravidez ectópica: mulheres que já tiveram gravidez ectópica anterior têm risco aumentando de seis a oito vezes de ter uma nova gravidez ectópica. • Reprodução assistida: uma gravidez recorrente de uma reprodução assistida apresenta risco de evoluir para uma gravidez ectópica, devido ao aumento do volume sanguíneo de estrógeno, que interfere no transporte tubário, ou seja, na motilidade das tubas, facilitando essa retenção do ovo na tuba uterina. • Anticoncepção de emergência: a pílula do dia seguinte, levonorgestrel, aumenta a probabilidade de uma gravidez ectópica, pois este altera a motilidade da tuba. • Estilo de vida da mulher: início precoce de atividade sexual, múltiplos parceiros sexuais e, também, tabagismo. Figura 2 – Gravidez ectópica Fonte: Zugaib (2020, p. 588) “Com o aprimoramento dos exames subsidiários, como as dosagens da fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (beta-hCG) e a ultrassonografia transvaginal (USTV), o diagnóstico é realizado com maior precisão e em uma fase mais inicial” (BRASIL, 2022b, p. 59). IMPORTANTE 105 Caro acadêmico, o diagnóstico da gravidez ectópica se dá por meio de alguns fatores importantes, então, quanto antes ocorrer esse diagnóstico, melhor para o desfecho materno. A associação das manifestações clínicas, os sinais, os sintomas com a presença de algum fator de risco, a realização do exame físico e de exames subsidiários, como beta-hCG e a ultrassonografia transvaginal (USTV), auxiliam para um diagnóstico precoce e uma conduta emergente. Para evitar que a paciente evolua para quadro grave de abdome agudo hemorrágico devido à ruptura tubária, é preciso atentar-se para a realização do diagnóstico precoce, ou seja, de gestação tubária íntegra. Nessas situações, a história clínica é pouco esclarecedora, podendo, às vezes, cursar com a tríade clássica de dor abdominal, atraso menstrual e sangramento genital. O exame clínico, muitas vezes, não é elucidativo. Deve-se lançar mão de exames subsidiários, como a dosagem da beta-hCG e a USTV (BRASIL, 2022b, p. 59). Como citado, na anamnese, realizada na triagem do centro obstétrico, o enfermeiro deve prestar atenção à tríade clássica de sinais e sintomas de gravidez ectópica: dor abdominal, sangramento vaginal e atraso ou irregularidade menstrual, praticamente um deles estará presente nos casos de gravidez ectópica. Ainda é importante esclarecer, segundo Almeida e Reis (2021), que existem duas formas de gravidez ectópica: a aguda (ruptura tubária) e subaguda (abortamento tubário). No caso de gravidez tubária íntegra, a mulher referirá cólica contínua em baixo ventre e sangramento vaginal em pequena quantidade; já na gravidez tubária rota, a paciente tem dor intensa, comparada a pontadas em baixo ventre, que podem estar associadas a casos de choque, com presença de sudorese e angústia. Sinais como o de Blumberg (descompressão brusca dolorosa) e o de Cullen (equimose periumbilical) caracterizam hemorragia abdominal grave, devido à gravidez ectópica rota. Em casos de gravidez ectópica, geralmente, não há modificação da temperatura corporal, apenas subfebril, porém, quando é evidente o choque hemorrágico, percebe-se hipotermia. Os exames subsidiários, segundo o que preconiza o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), devem ser realizados para comprovar o diagnóstico clínico, como o exame de beta-hCG associado à USTV. No caso da USTV, analisa-se a cavidade uterina, se há presença de saco gestacional no útero ou não e, se não, avalia-se a presença de massa anexial extraovariana. Já no exame de beta-hCG quantitativo, o valor sérico, em casos de gestação ectópica, é menor do que o observado na gestação tópica de mesma idade gestacional, mas deve ser realizada a dosagem seriada da beta-hCG, pois, em uma gravidez tópica (normal e viável), o nível de evolução do beta-hCG aumenta entre 1,4 e 3,5 dias. Quando referir valor maior ou igual a 3.500 mUI e houver ausência do saco gestacional tópico (uterino), isso sugere uma gravidez inviável ou gravidez ectópica. Para melhor entendimento desse diagnóstico, podemos observar a Figura 3. 106 Figura 3 – Diagnóstico da gravidez ectópica Fonte: Elito Júnior et al. (2008 apud BRASIL, 2022b, p. 61) 3 TRATAMENTO Quanto ao tratamento da gravidez ectópica, deve-se seguir as recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), que traz como opções: tratamento cirúrgico, podendo ser conservador ou radical, com as opções de salpingectomia ou salpingostomia por via laparotômica ou laparoscópica; e, também, o tratamento clínico, podendo ser decidido pela conduta expectante ou pelo tratamento medicamentoso com metotrexato. • Tratamento cirúrgico: muitas vezes necessário, este tipo de tratamento é importante na maioria dos casos de gravidez ectópica, podendo ser radical (salpingectomia – remoção das tubas uterinas) ou conservadora (salpingostomia – abertura artificial na trompa para drenagem) no caso de mulheres que querem preservar a fertilidade. “A laparotomia deve ser realizada nos casos de ruptura tubária com instabilidade hemodinâmica; nas demais situações, a via preferencial é a laparoscópica” (BRASIL, 2022b, p. 62) • Conduta expectante: apenas nos casos em que não haja instabilidade hemodinâmica da mulher, nos quais se observa um declínio do beta-hCG no intervalo de 24 a 48 horas, com beta-hCG < 2.000 mUI/mL, e com USTV mostrando ausência de embrião com vitalidade, uma massa tubária inferior a 5 cm e, também, desejo de gravidez futura. No caso da conduta expectante, espera-se que se torne abortamento tubário ou uma reabsorção completa do tecido trofoblástico. Geralmente, é indicado a pacientes que apresentam gravidez ectópica de pequeno tamanho e com nível baixo de beta- hCG, como < 1.000 mUI/mL. • Tratamento medicamentoso: o uso do metotrexato (MTX) é reconhecido por sua atividade antitrofoblástica, sendo um tratamento quimioterápico antimetabólico antagonista do ácido fólico. Para utilizar o MTX, são necessários alguns critérios 107 estabelecidos, conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b, p. 62): “Estabilidade hemodinâmica, diâmetro da massa anexial < 3,5 cm, beta-hCG inicial < 5.000 mUI/mL, ausência de dor abdominal, desejo de gravidez futura e termo de consentimento assinado”. O parâmetro mais importantepara iniciar o tratamento com MTX é o beta-hCG: Os preditores de insucesso da terapia medicamentosa são: atividade cardíaca embrionária, massa maior que 4 cm, concentração inicial de beta-hCG maior que 5.000 mUI/mL, presença de sangue na cavidade peritoneal, aumento do beta-hCG acima de 50% nas 48 horas que antecedem o uso do MTX, aumento rápido e contínuo do beta-hCG durante o uso do MTX (BRASIL, 2022b, p. 63, grifo nosso). ATENÇÃO Nesse sentido, há o protocolo de dose única de MTX, por via intramuscular, o protocolo de múltiplas doses intramuscular e o protocolo de duas doses no dia 1 e no dia 4. A vantagem de seguir o protocolo de dose única é que o tratamento é mais simples e com menos efeitos colaterais, pois é administrada uma dose de 50 mg/m2, via intramuscular, acompanhando a dosagem do beta-hCG, no quarto e no sétimo dia após a administração do MTX, para perceber se houve redução do nível, devendo ser acompanhado com dosagens semanais até se igualar aos níveis pré-gravídicos. O enfermeiro deve estar atento às intervenções de Enfermagem durante a internação hospitalar da mulher com gravidez ectópica, bem como durante o procedimento dentro do centro obstétrico. Alguns cuidados importantes são: Providenciar ambiente calmo, com menos estímulos perturbadores para a mulher; manter a paciente em repouso no leito, atente para a data da última menstruação e para a idade gestacional. Monitore os sinais vitais e o balanço hídrico da paciente de acordo com a gravidade da situação; avalie a intensidade da dor; administre analgésicos e antibióticos, conforme prescrição médica; observe as características da perda sanguínea por via vaginal e atente para sinais de choque hipovolêmico; oriente a mulher quando instituído o uso de MTX ao tratamento da GE, informando sobre os possíveis efeitos colaterais, tais como: dor e flatos (orientar a evitar alimentos que “formam gases”), estomatite, gastrite, diarreia e úlceras orais, assim como os efeitos mais raros: dermatite, alopecia e pleurite (ALMEIDA; REIS, 2020, p. 134). Acadêmico, veja que é de extrema importância que o enfermeiro saiba gerenciar os casos de gravidez ectópica dentro do centro obstétrico, a partir dos conhecimentos específicos de diagnóstico, condutas, tratamentos e recuperação, garantindo conforto, segurança e humanização da assistência para a mulher que chega ao setor com essa emergência obstétrica, que é a gravidez ectópica. 108 Neste tópico, você aprendeu: • Mulher, em idade fértil, com vida sexual ativa, apresentando dor abdominal, sangramento vaginal e atraso/irregularidade menstrual, deve ser avaliada para possibilidade ou não de gravidez ectópica. • O padrão para o diagnóstico da gravidez ectópica, e conjunto com a realização de anamnese e exame físico adequado e minucioso, é a dosagem sérica quantitativa do beta-hCG e a realização de USTV. • O tratamento para gravidez ectópica, na maioria das vezes, é cirúrgico, de preferência por laparoscopia, realização da salpingectomia ou salpingostomia, sendo estes classificados, respectivamente, como tratamento cirúrgico radical ou conservador. • Quando a gestação é recente e a gravidez ectópica é pequena, há a possibilidade do tratamento medicamentoso, com o uso de metotrexato, via intramuscular. A gravidez ectópica não pode ser rota para fazer esse tipo de tratamento. RESUMO DO TÓPICO 2 109 1 Com base no Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), a gravidez ectópica ocorre quando a implantação e o desenvolvimento do blastocisto ocorrem fora do útero. Sobre essa área do conhecimento da emergência obstétrica, assinale a alternativa CORRETA: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022. a) ( ) A localização mais frequente da gravidez ectópica é a gravidez ovariana. No entanto, a gestação ectópica pode ocorrer também na porção intersticial da tuba, na cérvix, na cicatriz da cesárea e na cavidade abdominal, quando denominamos de gravidez não tubária. b) ( ) A gravidez ectópica é considerada a principal causa de mortalidade materna no primeiro trimestre da gravidez. c) ( ) Com as dosagens da fração beta do hormônio gonadotrófico coriônico (beta- hCG) e a ultrassonografia abdominal, o diagnóstico é realizado com maior precisão e em uma fase mais inicial. d) ( ) Para evitar que a paciente evolua para quadro grave de abdome agudo hemorrágico devido à ruptura tubária, é preciso atentar-se para a realização do diagnóstico tardio, ou seja, de gestação tubária íntegra. 2 Considera-se que a gravidez ectópica, geralmente, se encontra associada a fatores de risco que causam lesão tubária ou alteração no transporte ovular. Com base nos fatores de risco para gravidez ectópica, analise as sentenças a seguir: I- A doença inflamatória pélvica ocorre por infecções genitais causadas, principalmente, por Chlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, que alteram as tubas, podendo obstruí-las, diminuir o movimento ciliar e o estreitamento, aumentando, assim, a possibilidade de gravidez ectópica. II- Apenas o uso do DIU de cobre pode aumentar a chance de gravidez ectópica. III- Uma gravidez recorrente de uma reprodução assistida apresenta risco de evoluir para uma gravidez ectópica, devido ao aumento do volume sanguíneo de ocitocina. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença I está correta. c) ( ) As sentenças I e II estão corretas. d) ( ) Todas as sentenças estão incorretas. AUTOATIVIDADE http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf 110 3 O enfermeiro tem suas responsabilidades diante da mulher com gravidez ectópica, desde a triagem no centro obstétrico até o cuidado durante o procedimento e na recuperação hospitalar. De acordo as intervenções do enfermeiro com a mulher internada devido à gravidez ectópica, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O enfermeiro deve monitorar os sinais vitais, mas não há necessidade de realizar o balanço hídrico da paciente com gravidez ectópica grave. ( ) É preciso avaliar e observar a perda sanguínea por via vaginal da mulher, pois é necessário ficar atento aos sinais de choque hipovolêmico. ( ) Durante o tratamento de gravidez ectópica, quando medicamentoso com metotrexato, o enfermeiro deve sempre informar os efeitos colaterais à mulher, assim como, quando for cirúrgico, deve informar sobre o procedimento e também sobre os cuidados pós- procedimento. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) F – V – V. b) ( ) V – F – V. c) ( ) V – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Um adequado exame físico pode fazer a diferença na conduta a ser tomada com a paciente. Os achados podem variar de acordo com o estado hemodinâmico da paciente. É importante identificar sinais e sintomas de gravidez ectópica e situações de choque hipovolêmico já no exame físico, realizado na triagem do centro obstétrico. Diante disso, quais os principais achados, sinais e sintomas durante o exame físico com suspeita de gravidez ectópica? 5 Quando se opta pela evolução natural da gravidez ectópica, ou seja, pela conduta expectante, é necessário que essa gravidez se encaixe em algumas condições para poder seguir com maior tranquilidade a conduta escolhida. Quais são essas circunstâncias? 111 TÓPICO 3 — HEMORRAGIAS ANTEPARTO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos acerca das hemorragias que antecedem o parto,definidas, por alguns autores, como hemorragias após a 20ª semana e, por outros, após a 28ª semana de gestação. O Ministério da Saúde classifica a idade gestacional para hemorragias anteparto como após as 20 semanas, sendo que elas não têm relação nenhuma com o trabalho de parto e podem ser conhecidas também como síndromes hemorrágicas da segunda metade da gestação. A hemorragia obstétrica grave é uma causa comum de morbidade e mortalidade materna, e, por isso, algumas causas importantes dessas hemorragias que iremos abordar são: placenta prévia, descolamento prematuro da placenta e vasa prévia. Por vezes, o diagnóstico clínico é complexo, visto que a hemorragia também pode estar oculta. Quando não avaliada corretamente, ou passado despercebida alguma condição clínica importante para o diagnóstico de alguma condição, coloca-se em risco a vida da mãe e do feto. Complicações como choque materno, hipóxia fetal e óbito fetal estão presentes quando não realizadas as condutas corretas e ágeis. É necessário não confundir alguns sinais e sintomas maternos com as alterações fisiológicas da gravidez, como hipovolemia, hipotensão e taquicardia. Por isso, a importância de uma assistência baseada em evidências científicas, atuação de equipe multiprofissional, avaliação minuciosa em exame físico, queixas e sinais vitais, e também familiarização com os protocolos da instituição nos casos de hemorragias anteparto. 2 PLACENTA PRÉVIA A placenta prévia, também conhecida como inserção viciosa de placenta, é quando a placenta se implanta de forma anormal no inferior do útero. Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), a placenta prévia é classificada a partir da 22ª semana de gestação. “A prevalência geral de placenta prévia é de 5,2 por 1.000 gestações e tem aumentado com a maior realização de operações cesarianas. Apresenta risco elevado de morbidade, [...] sendo responsável por índices elevados de prematuridade e mortalidade materna” (BRASIL, 2022b, p. 81). Dessa forma, é caracterizada como uma emergência obstétrica. 112 Zugaib e Francisco (2020) classificam a placenta prévia como total ou parcial e, também placenta de inserção baixa. Na Figura 4, podemos observar primeiro a placenta normalmente inserida, depois a placenta de inserção baixa, seguida da placenta prévia parcial e, por fim, a placenta prévia total. • Placenta prévia total: caso em que a placenta recobre totalmente o orifício interno do colo uterino. • Placenta prévia parcial: quando a placenta cobre parcialmente o orifício interno do colo uterino. • Placenta de inserção baixa: a placenta está inserida no segmento inferior do útero, porém não chega a cobrir nenhuma parte do orifício interno do colo uterino. Figura 4 – Placenta prévia Fonte: Cerqueira (2021, p. 1.705) Sobre os fatores de riscos e a incidência, a placenta prévia, de acordo com Almeida e Reis (2021), é associada à paridade, sendo que as multíparas correm um risco 5 vezes maior, porque o relaxamento uterino favorece a má inserção da placenta. Cesariana anterior também é um fator de risco e, segundo Zugaib e Francisco (2020), o risco de placenta prévia aumenta conforme a quantidade de cesarianas anteriores. A idade materna avançada também se associa a um fator de risco; as gestações múltiplas podem chegar a uma frequência de 40% para desenvolvimento de placenta prévia. Além disso, Zugaib e Francisco (2020) ainda trazem os números de curetagens, tabagismo, uso de drogas ilícitas e cirurgias uterinas anteriores. O quadro clínico, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022), da placenta prévia é: sangramento vermelho vivo de início súbito, sem presença de dor, ocorrendo, em sua grande maioria, no segundo trimestre. IMPORTANTE 113 O exame de toque vaginal não deve ser realizado em caso de suspeita de placenta prévia, conforme Zugaib e Francisco (2020), pois há o risco de causar hemorragia abundante. ATENÇÃO O diagnóstico é realizado a partir da associação dos sinais e dos sintomas da gestante, podendo ser realizada a ultrassonografia para complementar um diagnóstico preciso. “Quanto mais tarde for feito o diagnóstico de placenta prévia, maior será a probabilidade de sua persistência no momento do parto” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 776). Quanto à conduta, há dois tipos: a conduta expectante e a conduta ativa, que variam conforme a intensidade do sangramento, segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), antes de decidir qual das condutas deve ser tomada, quando há sangramento ativo, é necessária, de imediato, a realização de dois acessos venosos calibrosos, para repor volume e evitar choque hipovolêmico, além de avaliar os sinais vitais frequentemente e reservar bolsa de sangue, caso haja a necessidade de reposição sanguínea. “Nos casos de hemorragia grave, a interrupção imediata da gestação é obrigatória, independentemente da idade gestacional, pelo elevado risco materno e fetal” (BRASIL, 2022b, p. 85). Após estabilização hemodinâmica, a avaliação de conduta se baseia em: “gravidade da hemorragia, estimativa da maturidade fetal, condição fetal e presença ou não de trabalho de parto” (BRASIL, 2022b, p. 83), conforme pode ser observado na Figura 5. Figura 5 – Conduta obstétrica Fonte: Brasil (2022, p. 84) 114 No caso da conduta expectante, a gestante deve permanecer em repouso e realizar avaliação quinzenal até chegar no termo da gestação. Já nos casos de conduta ativa, a realização da cesárea é indicada, o parto por via vaginal pode ser considerado quando placenta de inserção baixa, porém, com controle rigoroso do sangramento e do batimento cardíaco fetal, conforme as recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b). Alguns cuidados de Enfermagem, no caso de placenta prévia, de acordo com Almeida e Reis (2021) são: • estabelecer repouso absoluto, de acordo com conduta obstétrica; • humanização no atendimento com a mulher; • minimizar angústias e medos da mulher; • monitorar sinais vitais e realizar balanço hídrico; • controlar a perda de sangue por via vaginal; • avaliar condição fetal a partir da ausculta cardíaca fetal e movimentação fetal; • manter acesso venoso periférico calibroso; • administrar líquidos e hemoderivados, conforme prescrição; • administrar oxigênio por máscara, conforme prescrição; • verificar fator Rh da gestante; se Rh negativo, administrar imunoglobulina anti-D. 3 DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA NORMALMENTE INSERIDA O descolamento prematuro de placenta (DPP) é a separação da placenta, que está normalmente inserida, do útero antes da expulsão do feto, podendo ser parcial ou completo, em gestação de 20 semanas ou mais, assim classificada pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b) e por Zugaib e Francisco (2020). Além disso, é “uma das principais emergências obstétricas hemorrágicas, sendo mundialmente reconhecida como uma situação ameaçadora à vida e com capacidade de evolução rápida para situações de ‘near miss’, assim como para óbitos materno e fetal” (BRASIL, 2022b, p. 86). A causa da DPP ainda está sem esclarecimentos precisos, porém algumas condições podem ser associadas, como as síndromes hipertensivas, os fatores mecânicos e traumáticos e os fatores placentários (por exemplo, tabagismo e uso de drogas ilícitas, que causam a má perfusão placentária, além da anemia e do consumo de álcool, estando este associado à necrose da decídua basal) (ALMEIDA; REIS, 2021). A rotura de vasos maternos na decídua basal está implicada como causa imediata dessa separação [...] o sangue acumulado separa a placenta da decídua inicialmente por meio de uma fina camada. Esse hematoma resultante pode ser pequeno e autolimitado (separação parcial), ou pode continuar a dissecar a interface placenta-decídua, 115levando à separação quase completa ou completa desta (separação total). Pelo fato de a placenta separada não ser capaz de manter sua função de troca de gases e nutrientes, o feto torna-se progressiva- mente comprometido à medida que esse processo evolui (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 789). Na Figura 6, é possível perceber como ocorre o DPP com hemorragia externa. Figura 6 – DPP com hemorragia externa Fonte: Zugaib (2020, p. 789) Entre os fatores de risco para DPP, de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), estão: idade materna maior que 35 anos e menor que 20 anos, multiparidade, síndromes hipertensivas, traumas, distúrbios no líquido amniótico, placenta prévia, cesárea anterior, DPP anterior e pré-eclâmpsia anterior. Acadêmico, acerca do diagnóstico, é basicamente clínico, podendo ser realizada ultrassonografia como exame complementar do diagnóstico, se houver necessidade. Dor abdominal súbita e intensa no abdome, sangramento vaginal, taquissistolia ou hipertonia também podem estar presentes em casos de DPP; em casos de hemorragia interna ou oculta, o sangramento nem sempre está presente (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020), podendo ocorrer em 20% dos casos de DPP. Outro fator importante, observado no exame físico materno, é a pressão arterial com convergência tensional; o estado de pré-choque ou choque hipovolêmico também podem estar presentes. 116 Acadêmico, após o diagnóstico clínico do DPP, é necessária a avaliação das condições da mãe e do feto, principalmente a estabilização hemodinâmica em casos de hemorragia severa, pois essa emergência obstétrica pode ter desfecho com parto via vaginal ou cesariana, dependendo da conduta médica. IMPORTANTE Quando o feto está vivo e estável, a cesariana de emergência entra como conduta imediata, se o parto normal não for iminente, segundo Zugaib e Francisco (2020), sendo a agilidade nesse processo essencial para garantir um desfecho favorável. No caso de feto morto e as condições das mães estarem preservadas, estimula-se o parto normal, mas, se as condições maternas estiverem ruins, se deve recorrer à cesárea. Para melhor compreensão da conduta no DPP, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b) traz um fluxograma (Figura 7). Figura 7 – Conduta no DPP Fonte: Brasil (2022b, p. 88) 117 O enfermeiro tem papel relevante na conduta do DPP e nas suas intervenções, conforme expõem Almeida e Reis (2021): • Manter acesso venoso periférico calibroso. • Administrar reposição de volume e hemoderivado, conforme prescrição médica. • Realizar sondagem vesical de demora para monitorar balanço hídrico. • Controlar a perda de sangue via vaginal. • Avaliar condição materno-fetal, observar variabilidade dos batimentos cardíacos fetais e movimentação fetal. • Observar dinâmica uterina, quando parto normal. • Coletar material laboratorial, para exame hematológico. 4 VASA PRÉVIA Essa condição ocorre quando os vasos sanguíneos fetais correm, através das membranas ovulares, sem estarem cobertos pela geleia de Wharton ou tecido placentário, além de estarem perto do orifício interno do colo uterino. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), há dois tipos: “são a inserção do cordão umbilical distante da massa placentária (inserção velamentosa) e a presença de conexões vasculares em casos de placenta bilobulada” (BRASIL, 2022b, p. 92). Figura 8 – Vasa prévia Fonte: http://twixar.me/T9Qm. Acesso em: 5 jan. 2023. 118 A vasa prévia é uma condição rara, tendo incidência baixa de acordo com os dados mostrados pelo Ministério da Saúde. Entretanto, é importante entender essa condição, pois se trata de uma emergência obstétrica, uma vez que, se houver ruptura das membranas ovulares no trabalho de parto, há o risco de ruptura dos vasos fetais, ou seja, a ruptura da vasa prévia pode acarretar choque hemorrágico fetal rapidamente, levando ao óbito fetal. O diagnóstico pode se dar em três situações: Diagnóstico após a ruptura de vasa previa. Trata-se de situação dramática. Após a ruptura da bolsa das águas, ocorre desaceleração grave e sustentada da frequência cardíaca fetal, obrigando ao parto de emergência para salvar a vida do feto. A taxa de mortalidade perinatal nessa situação é superior a 50%. Diagnóstico incidental de vasa previa íntegra durante o trabalho de parto. O obstetra, ao realizar o toque vaginal para avaliar a evolução do trabalho de parto, percebe uma estrutura semelhante a uma corda fazendo relevo na superfície das membranas. Se o vaso for arterial, identifica pulsações síncronas com a frequência cardíaca fetal. O diagnóstico pode ser confirmado por meio da amnioscopia ou, idealmente, da ecografia transvaginal com Doppler. Dada a importância desse diagnóstico, recomenda-se que, ao realizar o toque vaginal no trabalho de parto, o obstetra atente sempre para a regularidade da superfície das membranas, sobretudo se pretende realizar amniotomia. Diagnóstico durante a gestação, por ultrassonografia, antes do terceiro trimestre. Esse é, sem dúvida, o momento ideal para o diagnóstico, pois determina melhora drástica no prognóstico perinatal. A taxa de sobrevida neonatal é de 95% (BRASIL, 2022b, p. 93). Já quanto à conduta para evitar o risco de ruptura da vasa prévia, quando diagnosticada a tempo, é recomendada a realização da cesariana. Se o feto não estiver no termo gestacional, deve-se, conforme recomendações do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), internar a paciente, observar sinais e sintomas, e realizar a maturação pulmonar do feto, até alcançar maturidade fetal adequada para nascimento via cesariana. Durante o nascimento, especificamente após a saída do bebê, devem ser realizados o clampeamento e o corte do cordão umbilical de maneira rápida, evitando, assim, hemorragia fetal pelos vasos. 119 Neste tópico, você aprendeu: • A hemorragia obstétrica grave é uma causa comum de morbidade e mortalidade materna. Algumas causas importantes dessas hemorragias são: descolamento prematuro de placenta normalmente inserida, placenta prévia e vasa prévia. • A forma clínica comum da placenta prévia é sangramento vaginal indolor, entre o segundo e o terceiro trimestre de gestação, podendo haver contrações uterinas. Pode ser classificada como placenta prévia total, parcial e placenta de baixa inserção. • No descolamento prematuro de placenta normalmente inserida, em casos graves, o profissional deve estar atento ao estado hemodinâmico da mulher, a fim de evitar o risco de choque hipovolêmico. • As hemorragias anteparto devem ser analisadas de forma individualizada, e o acompanhamento do enfermeiro antes, durante e após a emergência é essencial. A avaliação materno-fetal se mostra indispensável, bem como a observação dos sinais e dos sintomas que a mulher apresenta em cada caso. Na maioria dos casos graves, a cesariana de emergência é recomendada. RESUMO DO TÓPICO 3 120 1 Com base no Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b), a placenta prévia é definida como a placenta que se implanta total ou parcialmente na parte inferior do útero, obstruindo ou não o orifício interno do colo uterino, podendo ser classificada de três formas. Sobre as classificações de placenta prévia, assinale a alternativa CORRETA: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Pro- gramáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022. a) ( ) A placenta prévia parcial atinge o orifício interno do colo uterino, cobrindo-o completamente. b) ( ) A placenta prévia total recobre totalmente o orifício interno do colo uterino. c) ( ) A placenta prévia total recobre parcialmente oorifício interno do colo uterino. d) ( ) A placenta de baixa inserção está localizada próximo ao colo uterino, cobrindo-o completamente. 2 Considera-se que o descolamento prematuro de placenta (DPP) consiste na separação da placenta, normalmente inserida, antes da expulsão do feto, em gestação de 20 semanas ou mais. De acordo com os fatores de riscos associados a DPP, analise as sentenças de casos clínicos a seguir: I- A paciente M. P. com 40 anos de idade, G3P1C1, tem maior risco para descolamento prematuro de placenta que a paciente R. S. de 29 anos de idade, G1. II- A paciente I. S., 28 anos de idade, G1, sofreu uma queda, ou seja, um trauma durante sua atual gestação. Já a paciente M. K., de 28 anos de idade, G1, sofre de hipertensão arterial e é tabagista. Ambas têm risco para descolamento prematuro de placenta. III- A paciente A. R., 25 anos de idade, G2P1, diagnosticada com diabetes melito gestacional na atual gestação, controlada com dieta e exercício físico, tem risco elevado para descolamento prematuro de placenta. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf 121 3 Segundo o Manual de gestação de alto risco, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2022b, p. 92), “Denomina-se vasa previa a condição em que vasos sanguíneos fetais não cobertos por tecido placentário ou geleia de Warthon transcorrem através das membranas ovulares a uma distância ≤ 2 cm do orifício cervical interno”. De acordo com essa emergência hemorrágica anteparto, analise as sentenças a seguir: Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Manual de gestação de alto risco. Versão preliminar. Brasília, 2022b. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf. Acesso em: 28 ago. 2022. ( ) A ruptura de vasa prévia é rara, porém, quando ocorre, é considerada emergência grave, com alto risco de morte perinatal. Após a ruptura da bolsa das águas, ocorre desaceleração grave e sustentada da frequência cardíaca fetal, obrigando à realização de parto de emergência para salvar a vida do feto. ( ) Quando a vasa prévia está íntegra, no exame do toque vaginal para avaliação do trabalho de parto, o profissional percebe uma estrutura, parecida como uma corda, fazendo relevo nas membranas. Nesse momento, a conduta ideal é a amniotomia, ou seja, o rompimento artificial da bolsa das águas. ( ) Cabe ao enfermeiro realizar boa anamnese e exame físico completo, escutando, de forma ativa, as queixas da gestante. Para perceber e diagnosticar a presença de vasa prévia, o enfermeiro deve tomar a frente da conduta clínica dessa emergência. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Sabe-se que o índice de descolamento prematuro de placenta (DPP) normalmente inserida tem aumentado nos últimos anos, o que pode estar associado às mudanças nos fatores de riscos a que as gestantes são expostas na atualidade. Felizmente, a escuta ativa, o exame físico e as tecnologias obstétricas contribuem para o diagnóstico precoce do DPP. Algumas consequências dessa emergência são: óbito fetal, trabalho de parto prematuro, restrição de crescimento intrauterino, óbito materno, coagulopatias, histerectomia e infecções puerperais. Diante disso, disserte sobre a importância da atuação do enfermeiro nos casos de DPP. 5 Considerada uma emergência obstétrica frequente, a placenta prévia pode ocasionar prematuridade, baixo peso ao nascer, distúrbios respiratórios do recém-nascido e óbitos perinatais. Estudos mostram que mulheres multíparas, com idade avançada, com cesárea prévia e também curetagem uterina prévia têm maior risco de placenta prévia. Diante disso, responda quais as medidas essenciais da Enfermagem para uma gestante com suspeita de placenta prévia? http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/manual_gestacao_alto_risco.pdf 122 123 TÓPICO 4 — EMERGÊNCIAS DE PARTO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos as emergências de parto mais relevantes, na prática obstétrica, dentro da sala cirúrgica do centro obstétrico, mesmo que raras, podem ocorrer, sendo que tanto o enfermeiro como toda a equipe necessitam estar dispostos para um preparo, organização e, por fim, uma resolução adequada da emergência de parto. Entre os temas abordados, estão a rotura uterina, a inversão uterina, a distócia de ombros e o prolapso de cordão umbilical. É importante frisar que o enfermeiro é agente ativo em cada uma dessas emergências de parto, visto que o diagnóstico precoce pode ser realizado na sala de triagem, por exemplo, ou durante a assistência de trabalho de parto; dessa forma, a escuta ativa das queixas maternas deve ocorrer de maneira adequada, bem como a inspeção e a palpação devem estar presentes no exame físico da parturiente. Quando há a ocorrência de uma das emergências citadas anteriormente, é o enfermeiro que fica responsável pela organização da equipe de Enfermagem, pela preparação da sala cirúrgica e pela assistência imediata à parturiente, garantindo que ocorra uma resolução imediata e baseada em evidências científicas. A atualização constante, sobre as condutas e as medidas de resolução das emergências citadas, é essencial, visto que, a cada ano, há novas evidências científicas e novas propostas de condutas que melhoram a qualidade na assistência e diminuem o índice de mortalidade materna e fetal. 2 ROTURA UTERINA Para Nené, Marques e Batista (2016), a rotura uterina manifesta-se com dor abdominal intensa, hemorragia irregular e sinais de choque. Durante a palpação abdominal, percebe-se a presença de uma rotura ou, até mesmo, é possível palpar o feto sob a parede abdominal. É um acontecimento excepcional, que pode resultar na morte fetal e materna se não for tratado como emergência grave imediata. O’Reilly, Bottomley e Rymer (2005) comentam que é um evento extremamente raro de hemorragia vaginal que ocorre durante o trabalho de parto e o parto, geralmente em mulheres com antecedentes de cirurgia uterina. Ressalta-se que a dor pode ser mascarada se a mulher estiver com analgesia epidural. Outro sinal é a cessação súbita das contrações uterinas, e a percepção de anomalias no batimento cardíaco fetal. Sinais de choque, como a taquicardia, estão presentes, além de hematúria. 124 “Trata-se da rotura completa ou incompleta da parede uterina, que ocorre sobretudo além da 28ª semana gestacional e durante o trabalho de parto, precedida, em sua maioria, por quadro clínico de iminência de rotura uterina, o que facilita sua prevenção” (BRASIL, 2000, p. 58). Montenegro e Rezende (2014) explicam que a rotura uterina pode ser classificada como corporal, segmentária ou segmento-corporal. A Figura 9 mostra, respectivamente, exemplos de rotura completa segmentária, rotura completa corporal e rotura incompleta com hematoma distendido nos ligamentos largos. “A etiologia principal da ruptura uterina nos países desenvolvidos é a pós-cesárea; no mundo em desenvolvimento, é o parto obstruído. Outros fatores de risco incluem grande multiparidade, uso de uterotônicos, traumatismo, placenta percreta, versão interna e grande extração” (MONTENEGRO, REZENDE FILHO, 2014, p. 869). Quanto a sua etiopatogenia, podem ser rupturas espontâneas e provocadas, sendo que a ruptura uterina espontânea ocorre sem a intervenção/interferência de algum profissional, enquanto a ruptura provocada, ou traumática, decorre de versão interna, extraçãopodal, uso de fórceps, entre outros, além da presença de taquissistolia e do aumento da contratilidade uterina pela administração excessiva de ocitócicos. Figura 9 – Tipos de roturas uterinas Fonte: Montenegro; Rezende Filho (2014, p. 871) 125 Futuro enfermeiro, é importante perceber que, na iminência da rotura uterina, a parturiente fica agitada, refere dor extrema abdominal, espe- cificamente hipogástrica, além da presença de taquissistolia. Notam-se o sinal de Bandl, que é o relevo do anel que separa o corpo uterino do segmento inferior, e o sinal de Frommel, que é a palpação dos ligamentos redondos desviados para a face ventral do útero. IMPORTANTE Acadêmico, no caso de rotura uterina consumada, os sinais e sintomas são: dor súbita em região hipogástrica, ausência de contração uterina, presença de hemorragia discreta ou profusa, estado de choque, dependendo da hemorragia. Observa-se o útero em formato de ampulheta, na palpação abdominal, e, em caso de ruptura completa, pode-se perceber o feto na cavidade abdominal. NOTA Nesse caso, os tratamentos, segundo Montenegro e Rezende Filho (2014), podem ser: • Profilático: em casos que não houve ainda a ruptura uterina, ou seja, quando se percebe o aumento da atividade uterina, administram-se tocolíticos para diminuir a taquissistolia. • Curativo: é realizada a terapêutica do choque imediata ao acidente. Pode ser feita a lavagem abdominal, além do desembaraço desta cavidade. • Histerectomia ou histerorrafia: depende das paredes uterinas lesadas e do estado da paciente. 3 INVERSÃO UTERINA A inversão uterina, segundo Nené, Marques e Batista (2016), é quando o corpo do útero se inverte, ou seja, o útero sai pelo colo uterino, após o parto imediato, até o interior da vagina ou mesmo na abertura da vagina. É pouco frequente, mas, quando ocorre, pode causar hemorragia intensa e, consequentemente, choque hipovolêmico materno. 126 Infelizmente, tal emergência obstétrica pode ocorrer quando há muita pressão sobre o fundo uterino no parto ou quando é puxado o cordão umbilical, muitas vezes, com muita pressão, durante a dequitação da placenta que ainda não se descolou. ATENÇÃO “Pode ser parcial ou completa (esta é visível pela saída do útero invertido pela fenda vulvar), acometendo mais multíparas e mulheres com acretismo placentário, quando se tenta tracionar demais o cordão, associado à compressão fúndica” (BRASIL, 2000, p. 61). Zugaib e Francisco (2020) expõem que a sua incidência é variada, menor do que uma em 6 mil partos vaginais. Os fatores de risco são: macrossomia, cordão curto, uso prolongado de ocitocina sintética ou sulfato de magnésio, primiparidade, anomalias uterinas, remoção manual da placenta e acretismo placentário. Para o diagnóstico clínico, é observado ou palpado o útero no canal vaginal ou no períneo (este último nos casos de inversão completa), podendo ocorrer hemorragia intensa e hipotensão. O tratamento pode ser realizado, conforme Zugaib e Francisco (2020), por: • administração de uterolíticos; • manobra de Taxe (Figura 10); • terapêutica cirúrgica. Figura 10 – Manobra de Taxe para reverter a inversão uterina Fonte: Zugaib; Francisco (2020, p. 485) Acadêmico, saiba que, nessa emergência, após a solução da inversão uterina ser realizada com sucesso, a administração de uterotônicos deve ser feita para prevenir a reinversão uterina e diminuir a perda de sangue materna. 127 4 DISTÓCIA DE OMBROS A distócia de ombros, ou a distócia de biacromial, se dá quando a apresentação fetal é cefálica, logo após o desprendimento do polo cefálico, e os ombros não se desprendem. Segundo Graça (2017, p. 585), “é uma emergência obstétrica rara e imprevisível, que pode resultar em graves complicações para o recém-nascido e para parturiente”. Para Zugaib e Francisco (2020), tem incidência inferior a 1% dos partos, porém essa porcentagem aumenta para 6% quando o feto tem peso superior a 4 kg, geralmente associado a uma intercorrência materna da gravidez, como pós-datismo, obesidade materna, diabetes melito gestacional e desproporção entre pelve e feto que pode ter menos que 4 kg. Essa emergência pode causar, ainda, alguns riscos maternos, como lacerações do canal de parto, atonia uterina e rotura uterina, e riscos fetais, como lesões do plexo braquial, fratura de clavícula e úmero, óbito fetal intraparto ou neonatal. Graça (2017) explica que essa emergência é definida como uma dificuldade da extração do feto no nível dos ombros, ou seja, o não desprendimento dos ombros da pelve materna, geralmente, está associado a macrossomia fetal. Acadêmico, perceba que há medidas de prevenção da distócia de ombros e, mesmo sendo um tipo de emergência imprevisível, algu- mas medidas podem ser tomadas para diminuir esse risco, como: o controle de peso da mãe durante o pré-natal, o rastreamento correto do diabetes gestacional e, se diagnosticada, devem ser re- alizados os cuidados necessários para o controle da glicemia e a identificação de macrossomia fetal durante o pré-natal. A indução de trabalho de parto antes da data provável do parto, caso o feto tenha peso acima de 4 kg ou tenha percentil acima de 90, também é uma medida de prevenção. IMPORTANTE De acordo com Graça (2017), é possível perceber alguns sinais evidentes da distócia de ombros, como a retração da cabeça fetal após a sua expulsão, conhecida como “sinal de tartaruga”. Feito o diagnóstico, deve ser posta, em prática, uma série de medidas, como, primeiramente, pedir que a parturiente pare de empurrar, além do profissional que está assistindo ao parto pedir ajuda para outros profissionais para realização das manobras de distócia de ombros. 128 Zugaib e Francisco (2020) explicam, detalhadamente, as manobras necessárias para resolução da distócia de ombros: • Não tracionar a cabeça: essa atitude pode levar à distensão do plexo braquial ou do bulbo, com graves complicações neurológicas. • [...]Realizar a manobra de McRoberts, que consiste na hiperflexão e abdução das coxas, com consequente deslocamento cranial da sínfise púbica e retificação da lordose lombar, liberando- se o ombro impactado. São necessários dois auxiliares para a execução dessa manobra. • Realizar pressão suprapúbica (manobra de Rubin), com pressão contínua sobre o ombro anterior do feto, que desliza sob a sínfise púbica. • Tentar girar os ombros fetais do diâmetro sagital para o diâmetro obliquo. Dessa maneira, o ombro posterior e o anterior poderão ser desprendidos respectivamente do sacro e do púbis. • Para desprender o ombro posterior, pode-se utilizar a manobra de Jacquemier. Após suspender o polo cefálico, introduz-se a mão pela concavidade do sacro, apreende-se o antebraço e, por deslizamento, este é retirado pela face anterior do tórax. Em seguida abaixa-se o tronco, que liberará o ombro anterior. Se houver dificuldade em liberar o ombro anterior, deve-se segurar o polo cefálico com uma das mãos e o braço posterior com outra, enquanto um auxiliar desloca o dorso do feto para o lado e roda o feto em 180°, para o lado do dorso, a fim de transformar o braço posterior em anterior (manobras de Ahlfed e Barnum). • Outra opção é manobra de Woods. O obstetra deve girar o tronco em 180°, em sentido horário. Após o ombro posterior ser liberado, roda-se o tronco em sentido anti-horário, 180°, soltando-se o outro ombro. • Como alternativa, pode-se utilizar a manobra de Matthes. A paciente deve adotar a posição genupeitoral. Nessa posição, o ombro posterior torna-se anterior, permitindo que o braço seja facilmente apreendido e trazido para fora da vagina pela mão do obstetra. Se o dorso do feto está à direita, introduz-se a mão direita; se estiver à esquerda, a mão esquerda. Retirando o braço sacral, promove-se uma rotação de 180°, levando-o para opúbis. Desprende-se o ombro anterior, agora sacral, retira-se o braço e finaliza-se o parto (ZUGAIB; FRANCISCO, 2020, p. 399-400). Acadêmico, é de extrema importância, em caso de emergência obstétrica por distócia de ombros, haver a devida familiarização da assistência e conduta para a resolução dessa intercorrência. ATENÇÃO A Figura 11 demonstra as manobras iniciais para distocia de ombros. 129 Figura 11 – Manobras de McRoberts e Rubin Fonte: Zugaib; Francisco (2020, p. 399) Atualmente, há alguns algoritmos, propostos por diversos autores, para resolução da distócia de ombros a partir da realização de manobras específicas, para melhor facilidade e organização da equipe nessa emergência, quando a parturiente se encontrar em posição tradicional, deitada em decúbito dorsal. O mnemônico, proposto pelo Advanced Life Support of Obstetrics (ALSO), sob o acrônimo HELPERR (em inglês), traduzido como ALEERTA (Figura 12), é composto pelas manobras detalhadas anteriormente por Zugaib e Francisco (2020). Figura 12 – ALEERTA Fonte: Amorim et al. (2013, p. 119) 130 Entretanto, Amorim et al. (2013) explanam um novo protocolo, considerando os benefícios para partos em posição não supina e iniciado com medidas menos invasivas, o mneumônico “A SAIDA” (Figura 13): “A: chamar ajuda, avisar parturiente, aumentar agachamento; S = pressão suprapúbica; A: alterar posição para quatro apoios (manobra de Gaskin); I: manobras internas (Rubin II, Wood, parafuso invertido); D: desprender ombro posterior; A: avaliar manobras de resgate” (AMORIM et al., 2013, p. 115). Os autores ainda salientam que, realizando as três primeiras manobras, é sucesso em 90% dos casos. Figura 13 – A SAIDA Fonte: Amorim et al. (2013, p. 119) 5 PROLAPSO DE CORDÃO “Chama-se procidência ou procúbito a presença do cordão antes da apresentação, estando o saco amniótico íntegro; e prolapso se o cordão se apresentar após a amniorrexe” (REZENDE, 2014, p. 862). O prolapso de cordão é uma emergência obstétrica de grande risco fetal, que se caracteriza com a presença do cordão umbilical à frente da apresentação fetal, ou pode ser um prolapso oculto, quando está ao lado da apresentação fetal, porém ainda mais perto do orifício do colo uterino. Na Figura 14, podemos observar exemplos de laterocidência do cordão (quando a bolsa das águas está íntegra e o cordão ao lado da apresentação fetal), procidência do cordão (quando a bolsa das águas está íntegra e o cordão abaixo da apresentação fetal) e prolapso do cordão (quando é bolsa rota com presença do cordão à frente da apresentação fetal, exteriorizando para o canal vaginal). 131 Figura 14 – Prolapso de cordão umbilical Fonte: Montenegro; Rezende Filho (2014, p. 863) Montenegro e Rezende Filho (2014) ainda explicam a sua etiologia, sendo mais comuns em: multíparas, rotura prematura da bolsa das águas, placenta baixa, inserção velamentosa do cordão, polidrâmnio, gestação gemelar, cordão umbilical longo e prematuridade. O deslocamento do cordão para baixo da apresentação durante ou após a rotura da membrana faz com que ele fique exposto à compressão, dessecação ou morte reflexa, o que afeta diretamente o prognóstico do feto. A morte fetal poderá ocorrer como resultado da asfixia parcial ou completa do cordão umbilical ao lado ou à frente da parte fetal (SILVA et al., 2019, p. 25). A compreensão do cordão umbilical é uma das grandes consequências dessa emergência, causando dificuldade de troca gasosa para o feto. Dessa forma, a conduta deve ser imediata de quem observou e diagnosticou o prolapso de cordão umbilical. Para Montenegro e Rezende Filho (2014), é indicada, como norma, a cesariana imediata, enquanto o dedo que fez a avaliação deve permanecer na vagina da mulher até o último minuto, quando estiver tudo preparado e a paciente, anestesiada e operada. Se possível até organização da sala cirúrgica, a paciente deve ser mantida em posição genupeitoral ou decúbito dorsal, acentuado cefalodeclive, e o profissional que estiver com os dedos na vagina deve fazer uma pressão do polo de apresentação, evitando piora da condição fetal. Tudo isso não deve demorar mais que 5 a 10 minutos até o nascimento por cesariana. 132 Neste tópico, você aprendeu: • No caso de rotura uterina, é importante o enfermeiro notar os sinais de iminência, evitando que chegue a ocorrer, de fato, a rotura uterina. Alguns sinais importantes são: dor extrema hipogástrica, taquissistolia, sinal de Bandl e sinal de Frommel. • A inversão uterina pode ocorrer devido à realização de pressão do fundo uterino no parto ou quando é puxado, excessivamente, o cordão umbilical sem aguardar o descolamento da placenta. As condutas para resolução são: manobra de Taxe ou terapêutica cirúrgica e sempre administração de uterolíticos. • O conhecimento, por parte de toda a equipe de parto, das manobras para resolução da distócia de ombros é imprescindível para um desfecho positivo. A adoção do mneumônico “A SAIDA” deve ser feita quando a paciente estiver em posição verticalizada, enquanto, para o “ALEERTA”, em posição de decúbito dorsal. • É fundamental que, em casos de prolapso de cordão umbilical, os profissionais envolvidos estejam preparados para organização da sala cirúrgica de forma rápida, de 5 a 10 minutos até a realização de cesariana, visto que, quanto maior a demora, maior será o risco de hipóxia fetal e danos neurológicos para o bebê. RESUMO DO TÓPICO 4 133 1 A parturiente M. S., G2P1, com idade gestacional de 38 semanas, obesa e diagnosticada com diabetes melito gestacional, no exame da curva glicêmica realizado com 26 semanas de gestação, segue o controle de glicemia com uso de insulina, conforme prescrição médica. Internada no centro obstétrico em trabalho de parto ativo, logo apresenta puxos; ao exame de toque, é constatada dilatação completa. Durante o período expulsivo, a paciente encontra-se na banqueta de parto, observa-se a saída do polo cefálico do bebê, porém os ombros não se soltam, sendo observado pelo profissional que assiste ao parto o “sinal de tartaruga”. Sobre a situação descrita, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Trata-se de uma emergência obstétrica, nomeada de rotura uterina. Nesse caso, iniciam-se as manobras seguindo o acrônimo “ALEERTA”. b) ( ) Associados os fatores de risco materno e os sinais observados durante o período expulsivo, trata-se de uma distócia de ombros. Nesse caso, diante da posição em que a parturiente se encontra, iniciam-se as manobras seguindo o mneumônico “A SAIDA”. c) ( ) Associados os fatores de risco materno e os sinais observados durante o período expulsivo, trata-se de uma distócia de ombros. Nesse caso, diante da posição em que a parturiente se encontra, iniciam-se as manobras seguindo o acrônimo “ALEERTA”. d) ( ) Trata-se de uma emergência obstétrica, nomeada de rotura uterina. A conduta é a cesariana imediata entre 5 e 10 minutos até o nascimento do bebê, garantindo a sobrevida fetal. 2 Considera-se que a rotura uterina é um evento extremamente raro de hemorragia vaginal, que ocorre durante o trabalho de parto e o parto, geralmente em mulheres com antecedentes de cirurgia uterina, caracterizada como um rompimento total ou parcial do miométrio (camada do útero), juntando a cavidade uterina à cavidade abdominal. Com base nessa emergência obstétrica de parto, analise as sentenças a seguir: I- Trata-se da rotura completa ou incompleta da parede uterina, que ocorre, sobretudo, além da 12ª semana gestacional e durante o trabalho de parto, precedida, em sua maioria, por quadro clínico de iminência de rotura uterina, o que facilita a sua prevenção. II- Os fatores de risco incluem: multiparidade, uso de uterotônicos em excesso, trau- matismo, placenta percreta, versão interna e grande extração.AUTOATIVIDADE 134 III- Quando há rotura uterina, são sinais e sintomas: dor súbita em região hipogástrica, ausência de contração uterina, presença de hemorragia discreta ou profusa, estado de choque, dependendo da hemorragia; observa-se o útero em formato de ampulheta, na palpação abdominal, e, em caso de ruptura completa, pode-se perceber o feto na cavidade abdominal. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Uma inversão uterina é uma emergência de parto rara, na qual o corpo uterino vira pelo avesso, ou seja, inverte-se, protraindo-se através do colo do útero até o interior da vagina ou além da abertura vaginal. Geralmente, está associada à hemorragia intensa; por isso, as condutas devem ser realizadas, após o diagnóstico, de maneira adequada e imediata. De acordo com essa emergência de parto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) A inversão uterina pode ocorrer quando há muita pressão sobre o fundo uterino no parto ou quando é puxado o cordão umbilical, muitas vezes, com muita pressão, durante a dequitação da placenta que ainda não se descolou. ( ) Os fatores de risco são: bebê PIG, cordão longo, uso prolongado de ocitocina sintética ou sulfato de magnésio, primiparidade, anomalias uterinas, remoção manual da placenta e acretismo placentário. ( ) Para a resolução da inversão uterina, devem ser realizadas: a manobra de Taxe, que é a reposição correta do útero, de forma manual, com a mão do profissional; a administração de uterolíticos; ou a medida terapêutica cirúrgica. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Uma emergência de parto que deve ter uma conduta rápida é o prolapso de cordão, caracterizado pela saída do cordão à frente da apresentação, sendo que é possível visualizar o cordão dentro do colo uterino ou na vagina, uma vez que traz grande risco de complicações à saúde do feto e contribui para aumento da taxa de mortalidade materna. Disserte sobre a conduta que deve ser tomada, no centro obstétrico, caso o profissional de Enfermagem, durante uma avaliação de toque vaginal, perceba a presença de prolapso de cordão. 135 5 Atualmente, há alguns algoritmos, propostos por diversos autores, para a resolução de distócia de ombros com manobras específicas, para melhor facilidade e organização da equipe nessa emergência. Considerando os benefícios associados aos partos em posição vertical e a necessidade de iniciar a conduta das manobras menos para as mais invasivas. O mnemônico “A SAIDA” tem mostrado sucesso na maioria dos casos de distócia de ombros. Nesse contexto, disserte sobre o passo a passo da “A SAIDA” no momento do diagnóstico de uma distócia de ombros. 136 137 HEMORRAGIA PÓS-PARTO UNIDADE 2 TÓPICO 5 — 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos a hemorragia pós-parto (HPP), uma emergência obstétrica relacionada com altos índices de morte materna. Embora, segundo dados fornecidos pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), em 2018, globalmente, a morte materna por causa de HPP tenha diminuído 44% nos últimos 25 anos, o Brasil não cumpriu a meta de diminuição de óbitos maternos em 2015; por isso, atualmente, é necessária a implementação de estratégias que previnam a HPP, assim como atualização/treinamento constante dos profissionais e das condutas a serem tomadas em casos de HPP, diminuindo cada vez mais a mortalidade materna por HPP. Diante disso, a OPAS/Organização Mundial da Saúde (OMS), junto ao Ministério da Saúde, criaram uma estratégia chamada de “Zero Morte Materna por Hemorragia – 0MMxH”, dedicada à prevenção da mortalidade materna por hemorragia pós-evento obstétrico. Antes de adentrarmos em cada tipo de HPP, é importante definir, conforme a OPAS (2018), que a hemorragia pós-parto é caracterizada pela perda sanguínea acima de 500 mL, quando parto normal vaginal, ou acima de 1.000 mL, quando cesariana nas primeiras 24 horas. Já a hemorragia pós-parto maciça, que, nas primeiras 24 horas do pós-parto, independentemente se vaginal ou cesariana, é caracterizada pela perda sanguínea maior que 2.000 mL ou quando a puérpera necessita de transfusão de 1.200 mL ou mais de hemácias, ou quando há uma queda de hemoglobina ou um distúrbio de coagulação. Além de poder ser primária, nessas primeiras 24 horas pós- parto, ou secundária, quando passa das 24 horas pós-parto até 6 semanas depois. Nesse sentido, existem os “4Ts”, que definem as principais causas de HPP: tônus, em que grande parte das HPPs está relacionada; trauma, possivelmente do canal do parto por alguma laceração; tecido, podendo ser relacionado a um pedaço de placenta que fica retido; e trombina, que remete a coagulopatias. É imprescindível o conhecimento das HPPs, que abrange: atonia uterina, traumas e retenção placentária, que são as causas mais comuns de HPP observadas dentro do centro obstétrico. Nesse processo, o enfermeiro tem papel fundamental, percebendo, desde o exame físico da puérpera, se há alguma alteração na fisiologia do puerpério normal ou não, além de perceber os sinais e os sintomas específicos de cada emergência de HPP. Atentar para a “hora de ouro”, para controle do sangramento puerperal, evitando atrasos e desfechos maternos infelizes. 138 2 ATONIA UTERINA “A atonia uterina é a principal causa de HPP e, portanto, deve ser tratada de forma agressiva, mesmo casos que inicialmente pareçam pouco ameaçadores” (OPAS, 2018, p. 45). Almeida e Reis (2021) ainda salientam que a HPP que tem mais frequência é a atonia uterina, responsável por 90% das HPPs, estando associada à falta de tonicidade dos músculos uterinos, ocasionada pela exaustão da musculatura uterina no trabalho de parto e no parto, ou, por vezes, pelo uso da anestesia geral. Infecções genitais, multiparidade, macrossomia fetal e polidrâmnio também são fatores de risco para atonia uterina. Algumas condutas devem ser evitadas para prevenir o risco de HPP, como o uso excessivo e rotineiro de ocitocina durante o trabalho de parto, a realização de episiotomias seletivas e a manobra de Kristeller (manobra de pressão no fundo uterino). ATENÇÃO Caro acadêmico, é importante lembrar que as medidas de prevenção de qualquer tipo de HPP devem ser realizadas de rotina, conforme as recomendações da OPAS/OMS. Algumas medidas são: administração do uso universal da ocitocina sintética após o parto (10 UI, intramuscular), clampeamento oportuno do cordão umbilical (após 1 minuto), tração controlada do cordão umbilical, vigilância/massagem uterina no pós-parto (massagem gentil durante 5 minutos nas primeiras 2 horas) e estímulo do contato pele a pele de mãe e filho. ATENÇÃO Para uma assistência eficaz e correta da emergência de HPP, especificamente por atonia uterina, basicamente, são necessárias algumas medidas para reverter a atonia uterina, primeiramente a massagem uterina abdominal, e, se caso esta não for efetiva, deve ser realizada a massagem uterina bimanual, conhecida como Manobra de Hamilton, segundo a OPAS (2018), como mostra a Figura 15. 139 Figura 15 – Massagem uterina bimanual Fonte: OPAS (2018, p. 31) A realização de um acesso venoso calibroso para administração de líquidos, sangue e medicações, se necessário, segundo Zugaib e Francisco (2020), deve ser realizada em todas as HPPs, independentemente do seu tipo. Deve-se administrar ocitocina 5 UI lenta, durante 3 minutos, como dose de manutenção, seguida de soro fisiológico (SF) 0,9% de 500 mL com 20-40 UI de ocitocina, dose conforme prescrição médica, em 250 mL/h, assim comomostra a Figura 16 do fluxograma da OPAS (2018) da assistência em caso de atonia uterina. Se acaso a ocitocina não realizar o efeito desejado na contratilidade uterina, a metilergometrina é indicada e, se esta, também não responder, o misoprostol via retal é indicado; o ácido tranexâmico, se disponível, também pode ser administrado concomitantemente com o uterotônico, para obter o resultado desejado. Como últimos recursos para reversão da atonia uterina, caso a medicação falhar, é indicada a realização do balão de tamponamento intrauterino ou a laparotomia como tratamento cirúrgico. 140 Figura 16 – Assistência na atonia uterina Fonte: OPAS (2018, p. 46) IMPORTANTE Geralmente, na atonia uterina ou em outro tipo de HPP como traumas ou retenção de tecidos, o tratamento inicial é direcionado para estimulação uterina com massagem manual externa em fundo do útero, para o estímulo da contratilidade uterina e da expulsão de coágulos sanguíneos que podem se formar ou até algum fragmento de tecido retido. É importante evitar o choque hipovolêmico, sendo a reposição de volemia essencial, bem como os medicamentos conhecidos como ocitócicos. Não se deve esquecer de checar as reservas de hemoderivados, caso haja necessidade de estabilização hemorrágica. A avaliação dos sinais vitais materno é um cuidado essencial e básico nessa emergência obstétrica, de modo que, pelo menos, a cada 15 minutos, devem ser aferidos os sinais da puérpera, avaliando junto ao quadro neurológico materno. 141 3 TRAUMAS A segunda maior cauda de HPP são os traumas, ou seja, lacerações de trajeto e hematomas do canal de parto, que podem ter relação com episiotomia no parto, instrumentação utilizada no parto (por exemplo, o uso de fórceps), sendo a multiparidade também trazida como fator de risco, conforme Almeida e Reis (2021). “Sempre que se estiver diante de um sangramento, pense na possibilidade de lacerações ou hematomas no canal do parto” (OPAS, 2018, p. 46). IMPORTANTE A revisão do canal de parto é importante assim que ocorre a dequitação da placenta, pois é possível perceber alguma laceração, hematoma e sangramento excessivo por causa traumática no trajeto de parto. OPAS (2018) ainda ressalta que suturas e drenagem de hematomas devem ser realizados quando houver necessidade. Pode, também, ocorrer a rotura ou a inversão uterina, conforme discutido anteriormente, classificadas como traumas importantes. A Figura 17 apresenta a sequência do atendimento em caso de HPP por traumas. Figura 17 – Assistência em lesão do canal do parto Fonte: OPAS (2018, p. 47) 142 Quando observada a origem do sangramento, se for de origem traumática, deve-se, primeiramente, realizar a correção do trauma, seja ele uma sutura, por conta de laceração no períneo, ou mais grave, como rotura uterina ou inversão uterina – emergências de parto que necessitam de condutas específicas. Sugerimos a leitura das Recomendações assistenciais para prevenção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica, da OPAS (2018), disponível em: http://twixar.me/J9Qm. DICA 4 RETENÇÃO PLACENTÁRIA Classificada como hemorragia pós-parto secundária ou tardia, conforme Almeida e Reis (2021), a retenção de restos placentários impede a involução uterina no período do pós-parto. Sabemos que, após o descolamento completo e a expulsão da placenta, a contração uterina realiza o fechamento dos vasos sanguíneos uterinos, onde estava inserida a placenta. Quando a placenta não se descola completamente ou não é expulsa, o útero não consegue realizar a contração para ocluir os vasos sanguíneos, ocorrendo a hemorragia em virtude da retenção placentária ou de algum tecido fragmentado. “Atualmente, tem sido crescentes os casos de hemorragia por retenção placentária, especialmente em função do aumento das cesarianas e, por conseguinte, dos casos de acretismo placentário” (OPAS, 2018, p. 47). Zugaib e Francisco (2020) explicam que, para um diagnóstico preciso, se deve observar a dequitação espontânea da placenta por completo e, após a sua expulsão, a presença inteira dos cotilédones. Além disso, mulheres não tenham cirurgias uterinas prévias têm menores chances de retenção de restos placentários. A ultrassonografia também se mostra um exame auxiliar para o diagnóstico. De acordo com a OPAS (2018), existem situações em que a placenta não se desprende do útero no tempo esperado, necessitando de extração manual ou curetagem. Quando há a retenção de restos placentários, é indicada a realização de curetagem, quando estes não saem com a massagem externa abdominal; já nos casos de acretismo placentário, não é recomendado remover a placenta, devendo ser discutido entre a equipe médica e a paciente as opções por histerectomia ou conduta conservadora. A OPAS (2018) ainda comenta a importância de um atendimento especializado, durante o parto, para gestantes com placenta prévia ou acretismo placentário, pois há maior chance de HPP por retenção placentária. 143 Acadêmico, é importante resumirmos e salientarmos que o tratamento de quais- quer HPPs deve seguir, primeiramente, a sequência de atendimento da HPP, conforme pode ser observado na Figura 18. Figura 18 – Sequenciamento do atendimento de HPP Fonte: OPAS (2018, p. 60) 144 Neste tópico, você aprendeu: • A hemorragia pós-parto (HPP) tem como principais causas a atonia uterina, a laceração do canal de parto (traumas) e a retenção placentária ou de fragmentos, podendo causar morte materna se não realizada a conduta correta. • A observação da perda sanguínea por via vaginal é o principal sinal de alerta. A equipe deve observar a origem do sangue e se preparar para assistência, de acordo com a etiologia da HPP. O enfermeiro deve também estar atento à “hora de ouro”, bem como às reservas hematológicas, se necessárias na emergência. • A utilização de ocitocina sintética (10 UI, intramuscular) no pós-parto imediato é obrigatória em todas as instituições e assistências pós-parto, promovendo a contratilidade uterina e prevenindo, assim, hemorragias. Quando diagnosticada a HPP, algumas medidas devem ser tomadas, como massagem uterina bimanual, administração de ocitócicos, reposição de volemia, além da revisão do canal de parto ou da presença de restos placentários. • A avaliação do tônus uterino e altura do fundo uterino e a observação do volume de perdas sanguíneas são competências do enfermeiro durante o período puerperal e quando há suspeita de HPP.\ RESUMO DO TÓPICO 5 145 1 Com base nas Recomendações assistenciais para prevenção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica, da OPAS (2018), a estratégia 0MMxH foi criada para prevenção da mortalidade materna por hemorragia pós-evento obstétrico e para fortalecer as capacidades dos profissionais da área da saúde em habilidades para controle das emergências obstétricas hemorrágicas, visto que profissionais capacitados, treinados e atualizados atingem os objetivos, eliminando as barreiras de acesso a qualidade da assistência durante a HPP. Sobre os conhecimentos e técnicas de HPP, assinale a alternativa CORRETA: Fonte: OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Recomendações assistenciais para pre- venção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília: OPAS, 2018. Disponível em: http://twixar.me/y9Qm. Acesso em: 8 set. 2022. a) ( ) Define-se hemorragia pós-parto quando há a perda sanguínea acima de 500 mL após cesariana ou acima de 1.000 mL após parto normal nas primeiras 24 horas. b) ( ) Uma das definições da hemorragia pós-parto maciça é o sangramento, após 24 horas do parto vaginal, superior a 2.000 mL. c) ( ) A classificação de hemorragia pós-parto primária é, basicamente, aquela que ocorre nas primeiras 24 horas após o parto. d) ( ) Entreas causas específicas da hemorragia pós-parto primária, estão: atonia uterina, trauma no canal do parto, infecção puerperal e doença trofoblástica gestacional. 2 As condutas ativa e de prevenção de HPP, após o parto, no período de dequitação da placenta, são intervenções dirigidas para facilitar a saída da placenta pelo aumento da contratilidade uterina e para evitar a hemorragia pós-parto por uma atonia uterina. Com base nas medidas de prevenção da HPP que devem ser incorporadas na rotina de todos os profissionais do parto, analise as sentenças a seguir: I- O uso universal da ocitocina após o parto é recomendado, sendo administrada 10 UI, via intramuscular, em todos os partos, logo após o nascimento. II- O clampeamento oportuno do cordão umbilical também é uma medida de prevenção da HPP, sendo recomendado o clampeamento nos primeiros 30 segundos após o nascimento do bebê. III- A tração controlada do cordão umbilical, realizando, em conjunto com manobras específicas para estabilização uterina, é uma medida que pode ajudar para evitar HPP, sendo que qualquer profissional pode realizar essa medida, não sendo necessário o conhecimento prévio. AUTOATIVIDADE 146 Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças II e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e II estão corretas. d) ( ) Somente a sentença I está correta. 3 Alguns autores consideram placenta retida quando o terceiro período não se completou decorridos 30 minutos do parto fetal. Já a retenção de cotilédones pode ocorrer no momento da extração manual da placenta, quando há zonas de acretização, e, nesse caso, os fragmentos placentários impedem a oclusão dos vasos uterinos e sua involução, ocasionando, assim, uma HPP por tecido. De acordo com a HPP por retenção placentária, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Os casos de cesarianas e de acretismo placentário são fatores que aumentam o risco de uma HPP por retenção placentária. ( ) Quando a placenta não se desprende do útero no tempo adequado, pode ser necessária a extração manual da placenta. ( ) Quando há restos de tecidos placentários, pedaços de cotilédones, que ficaram retidos no útero, a abordagem adequada seria a realização de curetagem. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – V – F. b) ( ) V – V – V. c) ( ) F – V – V. d) ( ) V – F – V. 4 A existência do mnemônico “4Ts” mostra as quatro principais causas de hemorragia pós-parto, uma vez que há a possibilidade de existir mais do que um fator causador da HPP. A “hora de ouro” foi adotada para evitar atrasos no diagnóstico da HPP, bem como as condutas que devem ser tomadas imediatamente para controle de sangramento, diante da origem dele. Descreva quais são os “4Ts” e as causas específicas de HPP. 5 Segundo a OPAS (2018, p. 9), “O diagnóstico precoce e a execução das ações de controle do sangramento, de forma sequenciada, consciente, correta e sem perda de tempo, devem ser objetivos da abordagem de um quadro de HPP”. Nesse contexto, o enfermeiro pode identificar os fatores de risco para HPP? Quais são as ações que devem ser realizadas para conter a HPP? Fonte: OPAS – ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Recomendações assistenciais para prevenção, diagnóstico e tratamento da hemorragia obstétrica. Brasília: OPAS, 2018. Disponível em:http://twixar.me/y9Qm. Acesso em: 8 set. 2022. 147 CESARIANA UNIDADE 2 TÓPICO 6 — 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos a cesariana, que é uma das cirurgias mais antigas da história da medicina e que, atualmente, é o procedimento cirúrgico mais realizado nas mulheres no mundo todo, cujas técnicas se aperfeiçoaram e a assistência com o uso de tecnologias também se modernizou, além de novas condutas terem sido acionadas. Entretanto, infelizmente, o que se tem visto é o aumento nas taxas de cesarianas no mundo todo, com vários estudos mostrando que isso aumenta significativamente as taxas de morbidade materna e perinatal, quando sem indicação. Contudo, mesmo assim, ainda são realizadas cesarianas sem indicações baseadas em evidências científicas. Em 2015, a OMS, em sua declaração sobre as taxas de cesarianas, comenta que, desde 1985, a taxa ideal de cesariana é considerada entre 10% e 15%, porém, em muitos países, não é isso que acontece. No Brasil, por exemplo, vive-se uma epidemia de cesarianas, chegando a 56% nos serviços públicos e 85% nos privados, conforme dados do Ministério da Saúde. Por isso, a OMS traz recomendações para a diminuição de cesarianas e salienta que a cesárea é uma intervenção efetiva para salvar a vida da mãe e do bebê, quando indicada por motivo médico, não devendo passar de 10%, devido às complicações significativas que esse procedimento pode trazer. Dessa forma, é importante a atuação do enfermeiro nesse meio, para que sejam estimuladas a conversa e a troca de informações entre profissional e gestante/ casal sobre as indicações de cesarianas e suas complicações. Quando bem indicada, a cesariana deve ser feita por uma equipe médica capacitada para tal, junto à equipe de Enfermagem, para garantir uma assistência de qualidade e segurança durante a cirurgia. Nesse sentido, estudaremos as indicações de cesariana, detalhando as técnicas utilizadas para essa operação, bem como os tipos de anestesia, as complicações e, por fim, a atuação da assistência do enfermeiro na cesariana, especificando os cuidados, a montagem da sala cirúrgica e dos instrumentos da caixa de cesárea. 148 2 INDICAÇÕES PARA CESARIANA Diante do aumento de taxas de cesariana no Brasil, as indicações dessa cirurgia devem se manter em uma lista atualizada, baseada em evidência científica e com indicações clínicas reais. Segundo Zugaib e Francisco (2020), há algumas explicações para o aumento de cesarianas, sendo alguns fatores responsáveis por esse aumento: a postergação da maternidade, ou seja, mulheres com idade materna avançada; o uso da monitoração eletrônica intraparto contínua, que aumenta a probabilidade de uma cesariana; os fetos pélvicos; as induções de parto; o uso da medicina defensiva também se torna responsável por esse aumento significativo de cesarianas; as cesárias agendadas por prevenção do assoalho pélvico, ou seja, a desinformação e o despreparo das mulheres para o parto normal levam a esse pensamento; e, por fim, a cesariana por pedido materno. Nas revisões da literatura em busca das melhores evidências disponíveis sobre indicações de cesariana, Amorim, Souza e Porto (2010a; 2010b) analisaram as principais indicações de cesariana, na tentativa de reduzir a incidência de cesarianas, oferecendo recomendações baseadas em evidências para indicações de cesarianas eletivas e intraparto ou de urgência, expondo como indicações, associadas com as “Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana”, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2016): • Reais: ◦ Descolamento prematuro da placenta. ◦ Prolapso de cordão. ◦ Placenta prévia. ◦ Ruptura de vasa prévia. ◦ Apresentação córmica (podendo ser tentada a versão cefálica externa antes). ◦ Herpes genital com lesão ativa no dia do parto. • Reais, que podem acontecer, porém devem ser diagnosticadas corretamente: ◦ Desproporção cefalopélvica (DCP) (diagnosticado intraparto). ◦ Sofrimento fetal agudo (frequência cardíaca fetal não tranquilizadora). ◦ Parada de progressão do parto (quando não se resolve com outras estratégias). • Situações com condutas individualizadas: ◦ Apresentação pélvica (recomendada versão cefálica externa antes). ◦ Duas ou mais cesáreas anteriores (discutir sobre VBAC). ◦ Vírus da imunodeficiência humana (HIV) (dependendo de fatores como carga viral). 149 Recomendamos a leitura da Portaria nº 306, de 28 de março de 2016, elaborada pelo Ministérioda Saúde (BRASIL, 2016), em parceria com diversas instituições, como Conselho Federal de Medicina (CFM), Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Associação Médica Brasileira (AMB) e Associação Brasileira de Enfermeiros Obstetras e Obstetrizes (Abenfo), na qual são apro- vadas as “Diretrizes de Atenção à Gestante: a operação cesariana”: http://twixar.me/S9Qm. DICA Acadêmico, você sabia que há muitas falsas indicações de cesarianas e que, por isso, o índice de cesarianas é tão alto no Brasil? Algumas situações/desculpas/condições são utilizadas pelos profissionais para indicar uma cesariana sem necessidade, como bacia muito estreita, baixa estatura materna, bebê alto, bebê pequeno, bebê grande, circular de cordão, falta de dilatação fora do trabalho de parto, placenta velha, entre outras indicações sem base nenhuma em evidências científicas. ATENÇÃO Sugerimos a leitura do texto Indicações reais e fictícias de cesariana, da médica obstetra, PhD, pesquisadora e cientista, Melania Amorim, em colaboração com a obstetriz Ana Cristina Duarte: http://twixar.me/X9Qm. DICA 3 OPERAÇÃO CIRÚRGICA A cesariana se dá por meio da retirada do feto por uma incisão cirúrgica abdominal, conforme Zugaib e Francisco (2020), tendo, portanto, como conceito, uma laparotomia com uma incisão uterina. Já a sua classificação foi proposta por Robson, em 1996, segundo Graça (2017), ao esclarecer, a partir de dez grupos exclusivos (Figura 19), a avaliação clínica da grávida, em trabalho de parto ou não, a fim de podermos compreender as diferentes taxas de cesarianas e em quais situações foram realizadas a cirurgia. Essa classificação usa cinco parâmetros: história obstétrica, início do trabalho de parto, posição do feto, número de fetos e idade gestacional. 150 É importante frisar que o uso da classificação de Robson é recomendado pela OMS, pois permite a comparação/análise das taxas de cesáreas entre esses grupos, podendo, assim, monitorar as taxas de cesarianas nas instituições hospitalares. Figura 19 – Classificação de Robson Fonte: OMS (2015, p. 6) 151 Para escolher a melhor técnica para a operação cirúrgica utilizada na cesariana, segundo Zugaib e Francisco (2020), devem sempre ser considerados a segurança materna e os custos envolvidos no procedimento, além do tempo, da perda de sangue e dos riscos de infecção da ferida operatória. As medidas pré-operatórias, citadas por Zugaib e Francisco (2020) como essenciais, são: manter o bem-estar materno e fetal até no nascimento; manter o equilíbrio hemodinâmico da gestante antes mesmo do início da operação; manter o jejum materno, quando cesarianas eletivas; avaliação pré-anestésica; e rotinas como a sondagem vesical e degermação da pele na região abdominal. A profilaxia de infecções deve ser realizada para diminuir riscos de morbidade infecciosa materna e, por isso, a associação da antissepsia e da antibioticoproflaxia deve ser adotada rotineiramente. “Em ambiente cirúrgico, após a antissepsia e a fixação dos campos, a grávida é colocada em posição de Trendelenburg moderada, inclinando- se o seu tronco e as pernas de 35° a 45°, o que deve ser rigorosamente observado” (REZENDE, 2014, p. 974). Quanto à incisão abdominal, deve ser escolhida conforme a situação materno- fetal, priorizando a minimização da morbidade materna, o efeito estético e a facilidade de acesso cirúrgico, podendo ser feita incisão vertical ou transversal (dividida em alguns tipos de incisão). Zugaib e Francisco (2020) e Graça (2017) explicam cada uma delas: • Incisão vertical: um corte longitudinal, realizado de forma rápida, conhecido como a antiga e clássica cesariana, realizada raramente nos dias atuais, pois, quando comparada com a cesariana transversal, duplica a chance de transfusão sanguínea e a alta probabilidade de acontecer uma disfunção da zona cicatricial na próxima gravidez. Geralmente, é indicada quando há a necessidade de rapidez na extração fetal, como em caso de anestesia geral ou mulheres com distúrbios de coagulação e também em casos como o acretismo placentário, que necessita de uma incisão na região corporal alta. • Incisão transversal: há alguns tipos de incisão transversal, sendo a incisão de Pfannenstiel a mais utilizada atualmente, por trazer maior conforto para a mulher, sobretudo na respiração, além de diminuir o risco de hérnias e aderências. As únicas desvantagens são: a parestesia prolongada dos nervos sensitivos superficiais e a predisposição a hematomas subaponeuróticos. Nessa técnica, a incisão é suprapúbica, levemente arciforme com concavidade superior e extensão de 10 a 12 cm. Após a extração do feto e da placenta, é realizada a sutura, a histerorrafia, com pontos separados ou contínuos, e a pele, preferencialmente, é fechada com sutura contínua intradérmica. 152 3.1 ANESTESIAS INDICADAS Para cesariana, a anestesia geral só é indicada em situações de contraindicação das outras técnicas de anestesias. A anestesia mais usada é a técnica regional raquidiana ou, também, a peridural. Segundo Zugaib e Francisco (2020), a escolha da técnica depende das condições clínicas e do tempo estimado. • Raquidiana: conhecida como punção lombar, a agulha chega no espaço onde circula o líquido cefalorraquidiano. Essa técnica envolve menor volume de anestésico, maior segurança materna, quando associada à questão de toxicidade anestésica local e melhor condição operatória para o médico. Nesta técnica, há um bloqueio lombossagrado e torácico. É importante a descompressão da veia cava inferior, realizada com o desvio do útero para a esquerda, de forma manual, de preferência até o início da incisão, pois melhora o retorno venoso materno (Figura 20). • Peridural: é administrado anestésico local no espaço epidural. Indicada quando existe um tempo cirúrgico prolongado, quando não há a contraindicação de bloqueio simpático. O bloqueio é sensitivo e a duração é ilimitada, visto que pode ser realizada em doses intermitentes. Entretanto, tem maior risco de toxicidade materna (Figura 20). • Geral: como visto anteriormente, a anestesia geral deve sempre ser evitada, sendo realizada em casos em que a grávida recusa a técnica regional ou que tenha alguma contraindicação para a técnica regional, ou outras situações que necessitam de antecipação rápida do parto, como em casos de hemorragia grave, pois o início dessa anestesia é mais rápido do que as outras. Acadêmico, saiba que, antes de qualquer técnica para anestesia de cesariana, a gestante deve estar com sinais vitais monitorados, recebendo expansão volêmica, além de estar informada e consciente do procedimento que será realizado. IMPORTANTE Figura 20 – Anestesias regionais Fonte: http://twixar.me/t9Qm. Acesso em: 5 jan. 2023. 153 4 COMPLICAÇÕES Há riscos maternos da cesariana, que devem ser explicados à gestante antes da sua realização. Como a cesariana é uma intervenção cirúrgica abdominal, “implica sempre uma taxa de morbidade materna significativamente maior do que a observada no parto vaginal” (GRAÇA, 2017, p. 577), havendo riscos hemorrágicos, riscos de mortalidade materna, risco de atonia uterina, rotura uterina e, também, de lesão do trato urinário. Atualmente, as principais complicações são percebidas no período intraope- ratório e puerperal e nas gestações sequenciais, sendo que Zugaib e Francisco (2020) salientam como principais complicações: • Acretismo placentário: mais incidente quando gestante com cesarianas anteriores, sendo que as possíveis complicações durante a cesariana, quando descoberto o acretismo placentário, são: hemorragia intensa, coagulação intravascular dissemina- da, necessidade de histerectomia, lesão de bexiga, síndrome de angústia respiratória no adulto, tromboflebite pélvica, morte materna,entre outras. • Placenta prévia: mais incidente quando gestante com cesarianas anteriores. • Lesões urológicas: podem acontecer em cirurgias ginecológicas e nas cesarianas, visto a localização próxima da bexiga e ureteres. • Rotura uterina: é a complicação mais temida nas parturientes que tenham cesarianas anteriores. • Dor pélvica: pacientes submetidas a cesarianas apresentam maior probabilidade de dor pélvica crônica. • Mortalidade materna e morbidade materna. • Transfusão sanguínea. • Deiscência da cicatriz uterina. • Infecção da ferida operatória. • Tromboembolismo: uma das complicações pós-operatórias mais graves, quando a cesariana é realizada durante o trabalho de parto. • Endometrite puerperal. A OMS (2015, p. 1) conclui que “A cesárea pode causar complicações significativas e, às vezes, permanentes, assim como sequelas ou mortes, especialmente em locais sem infraestrutura e/ou capacidade de realizar cirurgias de forma segura e de tratar complicações pós-operatórias [...]”. 154 Recomendamos a leitura do documento Declaração da OMS sobre taxas de cesáreas, emitido pela OMS (2015), no qual a organização frisa que as cesáreas são efetivas para salvar vidas de mães e crianças, quando bem indicadas e feitas em ambiente seguro, e fala, ainda, dos riscos e a necessidade da adoção de uma classificação universal para medição da taxa de cesárea, como a classificação de Robson. Acesse: http://twixar.me/89Qm. DICA 5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA CESARIANA A assistência prestada pelo Enfermeiro, sendo generalista ou especialista, na cesariana abrange desde medidas como preparação física da grávida para a cirurgia, considerando, também, quatro importantes aspectos (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016): • Consentimento livre e informado, com documento assinado e consentido pela mulher, quando ela estiver fora de situações de stress e medo. • Garantir que a cesariana é realizada por uma indicação clínica baseada em evidência científica. • Oferecer apoio emocional para mulher diante da indicação da cirurgia. • Aceitação dos próprios sentimentos como profissional, devido à desilusão de incapacidade profissional pelo não desfecho de parto vaginal. O enfermeiro, em conjunto com o médico anestesista, tem a responsabilidade de informar, orientar e tirar as dúvidas da gestante do tipo de anestesia a ser utilizado para a cesariana. Nesse sentido, uma das competências técnicas do enfermeiro é a preparação do material da anestesia, bem como a colaboração durante a técnica anestésica dentro da sala cirúrgica do centro obstétrico. Nené, Marques e Batista (2016) salientam a importância do trabalho em equipe para o sucesso na anestesia na cesariana. O olhar integral para a grávida, é um ponto importante da assistência da Enfermagem, fornecendo uma visão holística para suprir as necessidades da grávida/casal. O casal geralmente está tenso, quando encaminhado para uma cesariana, é necessário acalmar o casal e transmitir segurança. IMPORTANTE 155 Seguindo o Enhanced Recovery After Surgery (ERAS), que é um protocolo de cuidados pré-operatórios em várias especialidades médicas, alguns cuidados pré- operatórios devem ser estabelecidos, sendo parte da competência da Enfermagem garantir a realização dessa etapa antes da cesariana. As diretrizes do ERAS baseiam- se nas evidências da mais alta qualidade disponíveis, sendo algumas que seguem o guideline para cuidados pré e perioperatórios em cesariana, conforme Caughey et al. (2018): • Educação à paciente: informar sobre o procedimento, as indicações, os riscos e a recuperação. • Administração dos medicamentos anestésicos: conforme prescrição médica. • Preparo intestinal: não está mais recomendado, antes da realização da cesariana, devido ao alto desconforto materno. • Jejum: estudos atuais mostram que não há aumento de complicações devido ao jejum curto e, por isso, encoraja-se que as gestantes ingiram líquidos claros, com um tempo mínimo de 2 horas antes da cesariana, e realizem refeições leves até 6 horas antes. • Antibióticoterapia profilática: administrada 30 a 60 minutos antes de cesariana, conforme prescrição médica. • Preparo da pele: utilizar solução de clorexidina alcoólica na região da cirurgia. • Monitoração dos sinais vitais: em monitor de sinais vitais, bem como controle da temperatura. • Manejo de fluidos: manter a reposição de volemia, conforme prescrição médica. Acerca das estratégias de vinculação mãe/bebê e da promoção do aleitamento materno, o enfermeiro deve permitir que a mãe tenha contato com a criança logo após o nascimento, se a criança e a mãe estiverem em boas condições clínicas, devendo ser estimulado o contato pele a pele, de maneira a não contaminar o campo cirúrgico. Uma das assistências importantes da Enfermagem é na sala de recuperação pós- anestésica (SRPA), em que a puérpera deve ser vigiada e monitorada constantemente pela equipe de Enfermagem, garantindo uma recuperação com riscos maternos mínimos. Mesmo sendo um período complexo e no qual pode ocorrer complicações clínicas, é papel do enfermeiro garantir qualidade na assistência. A realização da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) faz parte do conjunto da assistência de qualidade da Enfermagem. A SAE será abordada, de forma mais detalhada, na Unidade 3. ESTUDOS FUTUROS 156 Considerando o período de permanência do paciente em SRPA como crítico, pois podem ocorrer complicações consequentes à ação depressora das drogas anestésicas sobre o sistema nervoso e ao próprio ato cirúrgico, é imprescindível que o enfermeiro sistematize o registro das informações, oferecendo à equipe de Enfermagem condições para atuar com o cliente de maneira efetiva, planejada e segura (FISHER; BORGES, 2019, p. 67). Fisher e Borges (2019) ainda comentam sobre a necessidade de criação de um instrumento, para que os profissionais tenham facilidade de anotar e gerir um plano de ação de cuidados de Enfermagem para a parturiente em sala de recuperação pós-anestésica: O instrumento reserva uma parte para o momento de recepção da puérpera no CC, bem como para o momento intra operatório. Dentre as anotações pertinentes estão: horário de entrada na SO, tipo de infusão, sinais vitais, tipo de anestesia, horário do término da cesariana, e se houve alguma intercorrência. Especificamente para o período de recuperação anestésica, o instrumento contém: horário de recepção na SRPA, horário da alta, exame físico do paciente (considerando controle dos sinais vitais, avaliando necessidades neurológicas, cardior- respiratória, gastrointestinais, renais e tegumentares), infusões, eliminações, escala de Aldrete e Kroulik, controle da dor, medicações administradas, diagnóstico, prescrição, intervenção e evolução de Enfermagem [...]. Por fim, destina-se um espaço no instrumento para que os profissionais de Enfermagem que assumirão a puérpera na unidade de internação possam manter os registros da paciente. Nes- te local destinam- se: sinais vitais, administração de medicamentos, orientações, diagnóstico, prescrição, intervenção e evolução de En- fermagem (FISHER; BORGES, 2019, p. 68). O conhecimento teórico-científico deve ser base para as estratégias de cuidados de Enfermagem para a gestante/parturiente/puérpera que realizou uma cesariana, pois a prática de técnicas corretas, a gestão da equipe na sala cirúrgica, os cuidados e a vigília no pós-operatório são competências básicas e essenciais para o manejo adequado de uma cesariana, em contexto da equipe de Enfermagem. A seguir, abordaremos a montagem da sala para cesariana e os materiais neces- sários para a realização dessa cirurgia, que é mais uma responsabilidade do enfermeiro na cesariana. 5.1 MONTAGEM DE SALA A montagem da sala cirúrgica para a cesariana, dentro do centroobstétrico, deve seguir as normas protocolares da instituição, os famosos procedimentos operacionais padrões (POPs), específicos para a cirurgia cesariana. Nesse sentido, utilizaremos, como base, o POP da maternidade-escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Preparo da Sala Cirúrgica para Cesariana com área de Aplicação: Centro Obstétrico, revisado em 2020, para a execução por parte das equipes de Enfermagem (BERNARDES; SILVA, 2020). 157 Dessa forma, a montagem da sala tem como objetivos: um ambiente organizado, com disponibilidade de materiais cirúrgicos necessários para a cesariana, e também materiais adjacentes necessários para o desenvolver da cirurgia. Logo, faz-se necessária a disponibilidade de uma mesa principal com os ins- trumentos cirúrgicos, assim como uma mesa auxiliar grande para outros materiais estéreis, além da mesa auxiliar pequena para o anestesista e outra mesa auxiliar pequena para casos de realização de procedimentos como a sondagem vesical e o preparo de medica- mentos. A mesa cirúrgica deve ficar no centro da sala, para melhor fluxo dos profissionais em casos de emergências cirúrgicas durante a cesariana. Alguns cuidados e atividades devem ser desenvolvidos na montagem da sala, segundo o POP da UFRJ (BERNARDES; SILVA, 2020) são: • Realizar a higienização das mãos, entrar na sala com máscara e touca cirúrgica. • Verificar limpeza da sala antes da montagem. • Testar o funcionamento dos aparelhos: aspirador, eletrocautério, foco e monitores. • Reunir os materiais necessários para a cesariana. • Observar prazo de validade do material. • Organizar materiais nas mesas (atenção para não os contaminar): na montagem da mesa, uma pessoa abre os materiais e a outra organiza os materiais na mesa de forma estéril. • Organizar o saco plástico de coleta da placenta, e identificar com o nome da paciente. • Identificar o tubo de coleta do sangue do cordão com nome da paciente. • Identificar a pulseira da mãe-bebê. • Registrar, no sistema, a cesariana, bem como livros, boletins ou checklist cirúrgica. • Checar todos os instrumentos antes e após o término da cirurgia. 5.1.2 Materiais Sobre os materiais necessários para a montagem da mesa cirúrgica, seguindo o POP da UFRJ (BERNARDES; SILVA, 2020): • bandeja de cesárea com instrumentais; • lâmina para o bisturi; • caneta do eletrocautério; • luva estéril para os participantes da cirurgia; • capote estéril para os participantes da cirurgia; • cuba rim e pinça de antissepsia; • bacia estéril; • campos cirúrgicos descartáveis para: cobertura da paciente, cobertura das mesas e para o recém-nascido; • compressas cirúrgicas (que devem ser contadas no início e no final da cesariana); • gaze estéril; 158 • clorexidina alcoólica 0,5%; • seringa 20 mL; • agulha 40×12; • fios de sutura necessários; • bandeja peridural para anestesia com compressas, gaze, seringas, agulhas e álcool 70%; • luvas de procedimento, máscaras cirúrgicas, saco plástico, tubos de ensaio para coleta de sangue e pulseiras de identificação. Acadêmico, assista ao seguinte vídeo, que mostra a montagem da mesa de instrumentação cirúrgica (cesárea): https://youtu.be/94H09PM6pR4. DICA Os materiais da mesa principal e da mesa auxiliar devem ser organizados conforme a sequência lógica de uso de cada material, obtendo, assim, mais praticidade no manuseio do instrumentador durante a cesariana (Figuras 21 e 22). Figura 21 – Instrumentos na mesa principal Fonte: Zugaib (2020, p. 445) Figura 22 – Instrumentos na mesa auxiliar Fonte: Zugaib (2020, p. 445) https://youtu.be/94H09PM6pR4 159 Geralmente, os materiais devem ser divididos em: instrumentos de diérese, que é a etapa de incisão (por exemplo, os instrumentos como bisturi e tesouras ficam em um lado juntos); os instrumentos que servem para hemostasia ficam separados também (as pinças para conter sangramentos); já os afastadores, as pinças de pressão e outras ficam separados em um lado auxiliar da mesa; e, por fim, os porta-agulhas, que serão utilizados na finalização da cesariana. Assim, a caixa de cesariana deve conter: • afastador Farabeuf médio e afastador Farabeuf grande; • cabo de bisturi; • cúpula média; • seis pinças Allis 16 cm; • uma pinça anatômica 16 cm e 18 cm; • cinco pinças Backhaus; • uma pinça Cheron 25 cm; • uma pinça dente de rato 16 cm e 18 cm; • seis pinças Kelly curva 16 cm e quatro pinças Kelly retas 18 cm; • duas pinças Kocher retas 16 cm e duas pinças Kocher curvas 16 cm; • um porta agulha Mayo-Hegar 16 cm e 18 cm; • uma supra púbica; • uma tesoura Mayo-Hegar curva 17 cm e uma tesoura Mayo-Hegar reta 17 cm; • uma tesoura Metzembaum curva 18 cm; • uma válvula Doyen médio. Acadêmico, é importante saber desde os instrumentos da caixa da cesárea até a montagem completa da sala cirúrgica para cesariana, visto que é de responsabilidade do enfermeiro a realização, também, de instrumentação cirúrgica, se necessário, durante a cesariana. É importante que a sala cirúrgica do centro obstétrico esteja sempre organizada, revisada e montada para uma cesariana de emergência. Os materiais devem estar dispostos para facilitar a organização, quando se faz necessária a agilidade de abertura deles. ATENÇÃO 160 LEITURA COMPLEMENTAR AVALIAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA HEMORRAGIA PÓS-PARTO Solana Nunes Vieira Brenda Alice Andrade Vidigal Antônio Sávio Inácio Andréa de Souza do Norte Milaine Nunes Gomes Vasconcelos INTRODUÇÃO Caracteriza-se um quadro de hemorragia pós-parto (HPP) quando se apresenta perda sanguínea em valores superiores a 500 mL nas 24 horas iniciais após o parto. Alerta-se, no entanto, que as perdas acima de 1.000 mL são mais inquietantes por resultarem, na maioria das vezes, em alterações fisiopatológicas que podem levar à instabilidade hemodinâmica. Podem-se classificar as HPPs como imediata e tardia. Associa-se a primeira, geralmente, à atonia uterina, que ocorre após o processo de dequitação nas primeiras horas do pós-parto, e a segunda, entre 24 horas e 6 semanas depois do nascimento do bebê, tendo, como principais causas, produtos provenientes da concepção dos quais sua retirada completa não foi efetiva e/ou infecções. Associam-se, também, outros fatores, como a ruptura uterina, o traumatismo do trato genital (lacerações vaginais e cervicais) ou os distúrbios de coagulação materna. Afirma-se, por alguns autores, que, durante o parto vaginal, diversos fatores podem estar associados à HPP e, entre eles, estão o terceiro período de parto prolongado, o impedimento da descida da apresentação fetal, a episiotomia, a macrossomia, o uso de fórceps e de vácuo extrator, a indução e a condução do trabalho de parto, a hemorragia pós-parto prévia e a nuliparidade. Visa-se, pela quinta meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da Organização Mundial da Saúde (OMS), à redução de ¾ da mortalidade materna no período de 1990-2015 e, para que esse objetivo seja alcançado, é necessário que ocorra a redução da mortalidade materna por HPP. Reafirma-se, diante disso, pela OMS, que, para que essa meta seja atingida, será necessário que todos estejam preparados, qualificados e com um aprimoramento cuidadoso voltado à saúde das mulheres por meio de políticas e programas estratégicos que garantam intervenções eficazes para a redução da HPP. 161 Sabe-se que, no Brasil, a HPP é a segunda causa de mortalidade materna, ficando atrás das doenças hipertensivas. Informa-se que, em um estudo realizado em Santa Catarina, os resultados de mortalidade materna por HPP apresentaram taxas de 30,3%. Identificou-se, em levantamento de dados do Sistema de Informação de Mortalidade e Nascidos Vivos, do Ministério da Saúde do Brasil, que as HPP correspondem a 40,8% das hemorragias obstétricas. Entende-se, a partir da constatação do alto índice de morbimortalidade materna associado à HPP,que é imprescindível conhecer quais as principais condutas de Enfermagem utilizadas para o controle dessa complicação obstétrica. Deve-se o enfermeiro, como responsável pela assistência à mulher, ser dotado de conhecimento técnico e científico acerca das complicações obstétricas e, assim, oferecer à puérpera intervenções de Enfermagem eficazes para o restabelecimento do bem-estar e do controle da hemorragia pós-parto. Acredita-se que a pesquisa contribuirá para a discussão que norteará as condutas a serem seguidas nas HPP e, também, permitirá conhecer quais as principais ações sistematizadas são utilizadas pelos enfermeiros envolvidos na assistência. MÉTODO Trata-se de quantitativo, descritivo e exploratório. Elegeu-se, como local de estudo, uma maternidade na cidade de Manaus (AM), Brasil, que é centro de referência obstétrica ambulatorial e hospitalar para gestantes de alto risco. Compôs-se a população da pesquisa por enfermeiros plantonistas dos setores de assistência às puérperas (Centro de Parto Normal Intra-hospitalar – CPNIH; Pré-Parto, Parto e Pós-parto – PPP; Centro Cirúrgico Obstétrico – CCO – e Alojamento Conjunto – ALCON). Elencaram-se os seguintes critérios de inclusão: ser enfermeiro da maternidade e atuar nos setores de assistência à puérpera. Excluíram-se os enfermeiros que se encontram de férias ou em licença e, dos 40 enfermeiros, foram excluídos sete, que se recusaram a participar da pesquisa, sendo a amostra composta por 33 participantes. Coletaram-se os dados por meio da aplicação de questionário do tipo fechado desenvolvido pelas pesquisadoras. Referem-se as perguntas às características demo- gráficas, às características da formação profissional, aos aspectos profissionais e de titulação, às medidas preventivas e de controle de HPP, às capacitações, dificuldades e necessidades no atendimento à HPP. Realizou-se a coleta na própria unidade durante o plantão dos enfermeiros. Obtiveram-se os dados tabulados por meio do Programa Microsoft Excel 2016, analisados estatisticamente por meio das frequências absolutas e relativas e apresentados por meio de tabelas. 162 RESULTADOS Mostra-se que, dos 33 enfermeiros participantes, 17 (51,52%) eram da faixa etária de 31 a 40 anos, seguidos de oito (24,24%) de faixa etária menor ou igual a 30 anos e oito (24,24%) com faixa etária de 41 a 60 anos. Informa-se que houve uma prevalência do gênero feminino, com 31 (93,94%) participantes, e 15 (45,45%) declararam-se casados, 14 (42,42%), solteiros e quatro (12,12%) divorciados. Acrescenta-se, no que se refere à formação acadêmica dos indivíduos da pesquisa, que os dados mostraram que 19 (57,58%) enfermeiros apresentavam tempo de formação menor ou igual a 5 anos, seguidos por dez (30,30%), com 6 a 10 anos e quatro (12,12%) com mais de 11 anos de formados, mostrando que 87,88% dos profissionais possuíam menos de 10 anos de formação. Constatou-se, quanto ao tempo de serviço no setor, que 31 (93,93%) enfermeiros possuíam até 5 anos de serviço na instituição hospitalar e dois (6,06%) não informaram o tempo de serviço. Verificou-se, em relação às titulações dos profissionais de Enfermagem, que a grande maioria possuía pós-graduação lato sensu, sendo a área de destaque a Ginecologia e/ou a Obstetrícia e nenhum participante possuía pós-graduação stricto sensu. Averiguou-se, quanto ao conhecimento dos profissionais sobre as causas, o controle e a prevenção da HPP, que 28 (84,85%) enfermeiros conheciam quais as causas, 23 (69,70%) referiram ter conhecimento sobre as medidas preventivas e 24 (72,73%) conheciam as de controle, porém, 20 (60,61%) enfermeiros responderam que nunca atenderam algum caso de HPP. Apurou-se, ainda, que 18 (54,55%) profissionais afirmaram saber o que seria uma ação sistematizada de prevenção de HPP, contudo, 18 (54,55%) afirmaram que não há, na instituição, uma ação sistematizada de prevenção, embora 15 (45,45%) afirmam haver e, dentre os entrevistados, 28 (84,84%) afirmaram conhecer as principais causas, medidas de prevenção e de controle de HPP. Levantaram-se, por este estudo, informações sobre as capacitações, as dificuldades e as necessidades de melhorias nos atendimentos dos enfermeiros na sistematização do atendimento da HPP. Constatou-se, diante disso, que 28 (84,85%) enfermeiros não possuíam nenhuma capacitação em prevenção e controle de HPP e, do total de entrevistados, 27 (81,82%) não relataram dificuldade para aplicar as ações de prevenção e controle de HPP, porém, 21 (63,64%) citaram que há a necessidade de melhoria no atendimento aos casos de HPP. Destaca-se, entre os participantes, que cinco (15,15%) referiram ter feito capacitação e atuavam nos setores de PPP e CPNIH. Acrescenta-se, em relação às principais dificuldades encontradas pelos enfermeiros na assistência durante a prevenção e o controle da HPP, que seis (18,18%) enfermeiros responderam e, destes, quatro (66,66%) informaram quanto à falta de materiais adequados, quatro (66,66%) relataram a falta de profissionais capacitados para desenvolver as atividades, três (50%) citaram o número insuficiente de profissionais 163 trabalhando na unidade e a falta de tempo foi informada por um (16,66%) profissional como uma das principais dificuldades. Deve-se enfatizar, todavia, que 27 (81,82%) entrevistados não informaram dificuldades na prevenção e no controle da HPP. Infere-se, sobre a necessidade de melhoria no atendimento aos casos de HPP, que 20 (60,60%) entrevistados citaram que há necessidades de melhoria e dentre essas melhorias estão: a atualização nas medidas de controle de HPP (14 = 70%); acesso dos medicamentos uterotócicos (10 = 50%) e a organização ou a obtenção do kit de emergência da HPP (10 = 50%). DISCUSSÃO Demonstrou-se, por este estudo, que os enfermeiros atuantes na assistência ao parto eram predominantemente jovens no serviço e do sexo feminino. Afirmou-se, pela maioria, ter conhecimento sobre as causas, as medidas de prevenção e controle, embora parte dos entrevistados nunca tivesse assistido pacientes em tal estado. Detalha-se que, dos entrevistados, 30 possuíam titulação de especialista em Enfermagem obstétrica, fator importante por se tratar de um serviço em maternidade. Evidenciou-se, assim, que os profissionais deveriam possuir o conhecimento das principais causas de HPP, sendo este um ponto determinante para uma assistência rápida, eficiente e resolutiva diminuindo-se, assim, possíveis complicações do agravo que leva muitas mulheres ao óbito. Constatou-se, ainda, que grande parte dos profissionais possuía menos de cinco anos dentro do serviço e, embora quase a totalidade dos entrevistados fosse especialista nas áreas de Ginecologia/Obstetrícia, mais da metade afirmou nunca ter tido contato com pacientes em quadro de HPP, fator determinante para a qualidade do serviço. Entende-se que a prática clínica é a principal responsável pelo acúmulo de conhecimentos e habilidades e tal qualificação não necessariamente vem com o tempo de serviço em um determinado setor, nem com a idade e, sim, com a experiência clínica com determinadas situações. Faz-se necessária a qualificação dos profissionais para a prestação da assistência por se tratar de um público altamente específico. Comprovou-se, nesse sentido, que os entrevistados estavam dentro do que seria preconizado para a realização de suas atividades, pois, quanto mais qualificado e preparado está o profissional, maior será a chance de êxito na realização de suas atividades, e o aprimoramento de suas habilidades é essencial para a execução de seu papel junto ao paciente. Acredita-se que o conhecimento é a base para uma assistência de qualidade, e o estudo demonstrou que os profissionais possuíam o conhecimento teórico, embora nãopossuam uma vivência maior na prática. Identificou-se, por meio desta pesquisa, que as causas de HPP mais conhecidas pelos profissionais entrevistados eram: atonia, laceração, dificuldade de coagulação e trabalho de parto prolongado. Corroboram-se estudos que apresentaram tais problemas como as principais causas e os estudos também evidenciaram as anemias, a indução 164 do trabalho de parto, a retenção placentária e a episiotomia como possíveis riscos relacionados com a HPP, apesar de não terem sido reconhecidos pelos profissionais. Devem-se conhecer todas as causas possíveis, pelos profissionais que trabalham com parto e puerpério, inclusive a associação dos seus fatores de risco. Devem-se, entretanto, esses fatores ser diagnosticados e registrados ainda no acompanhamento pré-natal, podendo ser classificados como pré-natais e intraparto. Acrescenta-se que fatores de risco como a cesárea anterior, o polidrâmnio, a gestação gemelar, a macrossomia e a pré-eclâmpsia não foram apontados pelos participantes como causas de HPP. Pode-se prevenir a HPP por medidas importantes que diminuem a mortalidade materna e, para isso, a assistência do enfermeiro obstetra é fundamental e baseia-se na avaliação clínica da puérpera considerando-se os seguintes aspectos: estado geral; sinais vitais; presença do globo de segurança de Pinard, que representa a contratilidade uterina e a hemóstase do sítio de inserção placentária e sangramento vaginal/lóquios. Verificou-se, porém, que somente a administração de ocitocina foi devidamente reconhecida como medida preventiva pela maior parte dos profissionais. Referiu-se o conhecimento das medidas preventivas da HPP, pela maioria dos profissionais, como ações utilizadas logo após o parto para evitar a hemorragia. Recomenda-se, pelas Diretrizes do Ministério da Saúde (MS), que a avaliação materna seja feita imediatamente após o parto como a revisão sistemática da placenta e anexos, a aferição dos sinais vitais a cada 15 minutos na primeira hora pós-parto e a verificação da contratilidade uterina por meio da palpação abdominal para a certificação da presença do globo de segurança de Pinard. Salienta-se, conforme citado anteriormente, que as medidas preventivas descritas neste estudo foram a administração de ocitocina e a massagem uterina, o que evidenciou uma necessidade de esclarecimento entre medidas preventivas e medidas de controle, pois os cuidados básicos de monitoramento vital e o exame clínico obstétrico não foram citados quando se refere às medidas de prevenção. Admite-se que a falta do conhecimento sobre as medidas preventivas da HPP pelos enfermeiros da unidade e a ausência da avaliação clínica podem repercutir diretamente na qualidade do serviço prestado, fato que pede uma reflexão sobre a qualidade do acompanhamento dessas mulheres em sua “hora dourada” e como a prevenção da HPP está sendo trabalhada pela equipe. Tornam-se de suma importância a vigilância constante das puérperas e os registros das avaliações clínicas para a detecção precoce de alterações que possam levar à hemorragia para, assim, assegurar o restabelecimento do equilíbrio para uma evolução sadia do puerpério. Demonstra-se, em pesquisas, que os óbitos por HPP ocorrem nas primeiras 24 horas e são causados pela dificuldade em identificar o problema, além de uma infraestrutura inadequada na assistência. Inicia-se, após a identificação precoce de sinais de HPP, a fase de controle onde a maioria dos enfermeiros referiu ter conhecimento de práticas adequadas corroborando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que cita a administração de ocitocina intravenosa (recomendação forte e evidência de qualidade 165 moderada), a massagem uterina (recomendação forte e evidência de qualidade baixa) e o uso de cristaloides isotônicos para a reanimação hídrica intravenosa (recomendação forte e evidência de qualidade baixa) como principais condutas para o tratamento inicial da HPP. Aponta-se, no entanto, por estudos realizados, que a ocitocina tem indicação mais efetiva para a utilização de forma profilática, ainda sem comprovação científica para o uso como tratamento e, com relação ao misoprostol, estudos apontam a ineficiência de sua utilização em conjunto com a ocitocina. No entanto, acrescenta-se que outras formas de tratamento, como a compressão bimanual, a hidratação venosa e a transfusão sanguínea, foram pouco identificadas pelos profissionais, apesar de estudos atuais considerarem maior efetividade para o tratamento. Podem-se minimizar as complicações, inclusive, prevenir o obtido materno, pelo reconhecimento precoce desses sinais. Descreveu-se, apesar dos profissionais afirmarem possuir um conhecimento acerca da temática, que a falta de capacitação profissional é uma dificuldade que influencia na assistência à HPP. Adquire-se tal capacitação com a oferta e a realização de curso de atualização baseado em evidência científica que, em conjunto com as políticas de saúde, proporciona um atendimento sistematizado. Torna-se a ausência de capacitação preocupante, pois irá remeter a um atendimento deficiente para a emergência obstétrica e o diagnóstico feito de forma tardia e culmina em uma inabilidade para o tratamento e cuidados necessários. Entende-se, assim, que é de responsabilidade da maternidade o estímulo à atualização constante. Reconheceu-se, neste estudo, pela maioria dos enfermeiros obstetras, a necessidade de melhorias no que se refere ao atendimento à HPP seja em nível de atualizações, seja por meio de acesso de medicações, refletindo na organização do serviço. Mostra-se que o setor mais destacado pelo interesse em melhorias foi o CPNI, e os que menos referiram necessidade de melhorias foram o CCO e o ALCON. Indica-se, porém, que o setor ALCON apresentou profissionais com pouco conhecimento sobre as causas, as medidas preventivas e de controle para as HPP, merecendo reflexão, pois é um setor que recebe a mulher em seu pós-parto, período este que exige, dos profissionais deste setor, o conhecimento, a habilidade e a prontidão aos sinais de hemorragias. Limitou-se esta pesquisa pela resistência dos enfermeiros em responder o instrumento de pesquisa devido a medos internos de cunho profissional por instabilidade empregatícia, porém, a amostra foi satisfatória para a realização do estudo. CONCLUSÃO Observou-se que, embora alguns profissionais apresentassem um certo conhecimento sobre a HPP, prevaleceu uma deficiência quanto ao conhecimento das causas e dos fatores de risco, como medidas preventivas e de controle para o agravo, refletindo em falhas no acompanhamento das puérperas, principalmente nas primeiras, dificultando a identificação de complicações e o restabelecimento do bem-estar da 166 puérpera. Ressalta-se que é neste momento em que ocorre mais chances para a HPP e essa realidade merece discussão devido à formação e à titulação encontradas, onde a maioria possuía certificado de especialista na área de Ginecologia/Obstetrícia. Detalha-se que a dificuldade referida por alguns profissionais, em aplicar as ações de prevenção e controle da HPP, foi representada pela falta de material no serviço e falta de profissional capacitado para esse tipo de ocorrência. Passa esse dado a ser relevante mesmo sem representatividade, em termos estatísticos, quando mostra que há profissionais especialistas atuando, porém, sem capacidade técnica adequada, sem capacitações e/ou atualizações para o atendimento dessa complicação. Necessita- se, por isso, que o enfermeiro obstetra esteja em constante processo de atualização e capacitações, adquirindo novos conhecimentos relacionados à assistência de Enfermagem, principalmente emsituações que contribuem para as altas taxas de mortalidade materna. Torna-se necessário que as instituições ofertem condições para que seus profissionais possam se atualizar visando à melhoria da qualificação e da assistência no atendimento à prevenção e controle da HPP. Conclui-se, diante desses resultados, que há a necessidade de estabelecer as seguintes propostas para a melhoria da assistência de Enfermagem na HPP: realizar capacitação para os enfermeiros com o propósito de atualizar os conhecimentos acerca de assistência da HPP e estabelecer um protocolo a ser instituído e seguido pelos enfermeiros durante a assistência à puérpera em HPP. Fonte: VIEIRA, S. N. et al. Avaliação da assistência de Enfermagem na hemorragia pós-parto. Revista de Enfermagem, v. 12, n. 12, p. 3247-3253, 2018. Disponível em: http://twixar.me/Q9Qm. Acesso em: 8 set. 2022. 167 Neste tópico, você aprendeu: • A cesárea é cirurgia efetiva, criada para salvar a vida do binômio mãe-bebê, porém deve ser realizada apenas quando indicada por reais motivos médicos. • Atualmente, os riscos maternos e perinatais são menores durante a cesariana, quando comparados à antigamente, graças à realização de uma técnica cirúrgica adequada, com antissepsia, preparo correto dos materiais cirúrgicos, profilaxia materna com antibiótico, asism como capacitação dos profissionais envolvidos. • Atualmente, a técnica utilizada para realização de cesariana é a incisão segmentar transversal, conhecida como incisão de Pfannenstiel, muitas vezes, associada à anestesia raquidiana, trazendo menores riscos maternos e fetais. • As complicações maternas mais importantes associadas à realização de cesarianas são a ruptura uterina, a placenta prévia e o acretismo placentário. • O enfermeiro deve manter as salas cirúrgicas prontas no centro obstétrico, para cesaria- nas de emergências. A organização dos materiais, a checagem de funcionamento e a validade são fatores importantes e que devem ser observados diariamente. RESUMO DO TÓPICO 6 168 1 Atualmente, as indicações de cesárea, na grande maioria dos casos, são indicações obsoletas e sem base científica. Alguns fatores podem explicar o aumento na taxa de cesarianas, como a medicina defensiva. Hoje, as indicações são divididas por indicações de causa materna ou de causa fetal. Sobre as indicações para a cesárea, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) São indicações reais: prolapso de cordão, herpes genital sem lesão ativa no dia do parto e pelve materna pequena. b) ( ) São indicações reais, que podem ocorrer durante o trabalho de parto, mas que devem ser diagnosticadas de forma correta e com atenção: DCP, sofrimento fetal agudo e parada da progressão do parto. c) ( ) O HIV e a apresentação fetal pélvica são indicações absolutas de cesariana, sem a possibilidade de realizar alguma estratégia antes para viabilizar o parto normal. d) ( ) Mulher que tem a pelve pequena, que seja muito magra ou se o bebê for muito grande e a mulher obesa são fatores que já indicam a realização de cesariana. 2 Sobre as taxas de cesarianas, é salientado que “a cesárea pode causar complicações significativas e às vezes permanentes, assim como sequelas ou morte, especialmente em locais sem infraestrutura e/ou capacidade de realizar cirurgias de forma segura e de tratar complicações pós-operatórias” (OMS, 2015, p. 1). Com base nas complicações da cesariana, analise as sentenças a seguir: Fonte: OMS. Declaração da OMS sobre Taxas de Cesáreas. Genève: OMS, 2015. Disponível em: http://twixar.me/x9Qm. Acesso em: 8 set. 2022. I- A complicação mais incidente, durante a cesariana, e que aumenta os riscos quando a gestante tem cesarianas anteriores é o acretismo placentário. II- As lesões pulmonares podem acontecer com frequência nas cirurgias ginecológicas, especificamente com maior risco na cesariana. III- A temida rotura uterina é uma complicação que pode ocorrer durante a cesariana e que aumenta o risco quando a gestante tem cesarianas prévias. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e III estão corretas. b) ( ) Somente a sentença I está correta. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. AUTOATIVIDADE 169 3 Sendo uma cirurgia bastante comum na área da obstetrícia, a técnica para a operação da cesariana deve se basear em alguns fatores: a segurança da mulher, o custo do procedimento, o tempo que irá levar, a perda de sangue e, também, o risco de infecção na ferida cirúrgica. A equipe deve estar capacitada e familiarizada com a técnica escolhida, para oferecer uma assistência de qualidade para a mulher. De acordo com as técnicas de incisão para a realização de uma cesariana, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) Atualmente, a técnica mais utilizada é a incisão longitudinal, vertical infraumbilical. ( ) A incisão de Pfannenstiel, conhecida como a incisão transversa, é a técnica de preferência entre os obstetras, sendo considerada, atualmente, a mais segura e confortável para a mulher. ( ) Após a extração do feto e da placenta, é realizada a sutura e a histerectomia, com pontos separados ou contínuos, sendo a pele, preferencialmente, fechada com sutura contínua intradérmica. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 O uso da classificação de Robson é recomendado pela OMS, pois permite a comparação/análise das taxas de cesáreas entre esses grupos, podendo, assim, monitorar as taxas de cesarianas nas instituições hospitalares. Diante disso, quais são as características dos grupos observados na classificação de Robson e como esta classificação deve ser realizada? 5 Alguns aspectos são imprescindíveis na assistência prestada pelo enfermeiro na cesariana, como o consentimento livre e informado da mulher, a garantia de indicação clínica da cesariana e também a oferta de apoio emocional para a mulher. Disserte sobre os cuidados técnicos específicos da assistência do enfermeiro nos períodos pré e pós-operatório da cirurgia de cesariana. 170 ALMEIDA, L. P.; REIS, A. T. Enfermagem na prática materno-neonatal. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. AMORIM, M. M. R.; DUARTE, A. C.; ANDREUCCI, C. B.; KNOBEL, R.; TAKEMOTO, M. L. S. Distocia de ombro: proposta de um novo algoritmo para conduta em partos em posições não supinas. Revista Femina, v. 41, n. 3, p. 115-124, 2013. Disponível em: http://files.bvs.br/upload/S/01007254/2013/v41n3/a4499.pdf. Acesso em: 7 set. 2022. AMORIM, M. M. R.; SOUZA, A. S. R.; PORTO, A. M. F. Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte I. Revista Femina, v. 38, n. 9, p. 459-468, 2010a. AMORIM, M. M. R.; SOUZA, A. S. R.; PORTO, A. M. F. Indicações de cesariana baseadas em evidências: parte II. Revista Femina, v. 38, n. 8, p. 416-422, 2010b. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Saúde da Mulher. 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TÓPICO 1 – SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) NO CENTRO OBSTÉTRICO (CO) TÓPICO 2 – HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM TÓPICO 3 – A DOR NA OBSTETRÍCIA TÓPICO 4 – ASPECTOS ÉTICOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 174 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 3! Acesse o QR Code abaixo: 175 TÓPICO 1 — SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) NO CENTRO OBSTÉTRICO (CO) UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Neste tópico, abordaremos a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), um processo que deve ser realizado em todos setores e áreas de serviço de Enfermagem, trazendo como benefícios a organização do trabalho profissional e a operacionalização do trabalho da Enfermagem. A Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) nº 358/2009 dispõe sobre a SAE e a implementação do processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, explicando que o processo de Enfermagem se divide nas etapas de histórico de Enfermagem, diagnóstico de Enfermagem, planejamento de Enfermagem, implementação e avaliação de Enfermagem. Todo esse processo deve ser baseado em suporte teórico, para consulta e construção de cada etapa. Sobre a execução, na prática, deve-se registrar cada etapa realizada, sendo necessário conter: o resumo dos dados coletados sobre o paciente, o diagnóstico, as ações que serão realizadas a partir do diagnóstico, e os resultados alcançados a partir dessas intervenções. Cada registro efetuado é um meio de respaldo técnico e científico para a equipe de Enfermagem Anotações/registros de Enfermagem sobre os cuidados prestados ao paciente devem ser realizados constantemente. Dentro do centro obstétrico, essa sistematização é feita a partir da observação dos seguintes agentes: gestantes, puérperas e recém- nascidos. A gestão da Enfermagem dentro do centro obstétrico será outro tópico abordado, visto que a SAE já se trata de um instrumento de gerência e organização de responsa- bilidade do enfermeiro. Nesse sentido, alguns fatores também permeiam a gerência de Enfermagem nesse setor, como a liderança, a tomada de decisões, a gestão da equipe e de estratégias para melhorar o ambiente de trabalho, consequentemente, oferecendo uma assistência de qualidade para a gestante, a puérpera e o recém-nascido. 176 2 SAE PARA GESTANTE/PUÉRPERA “O profissional enfermeiro tem função importante nesse processo ao gerenciar o cuidado de Enfermagem a estas mulheres. Gerenciar refere-se ao gerenciamento da assistência de Enfermagem e tem a ver com prever e prover os recursos necessáriospara que se efetive o cuidado” (CUNHA, 2011, p. 4 apud FRAGA, 2016, p. 25). Por isso, antes de abordarmos a SAE da gestante e da puérpera, é fundamental frisarmos alguns pontos importantes. A maioria das mortes maternas e neonatais ocorre por causas evitáveis, o que significa que, no pré-natal, na saúde primária ou em outro serviço de saúde em que foi realizado o pré-natal da gestante, poderia ter sido detectada alguma condição ou comorbidade possível de ser controlada, evitando um desfecho infeliz. Até mesmo algumas condutas vistas como inadequadas, quando tomadas durante o parto e/ou as primeiras horas de vida do recém-nascido, podem corroborar para morte materna e neonatal. “A maior parte dos desfechos desfavoráveis que acontecem na gestação é um problema de saúde pública. As preocupações com estas mulheres e com o recém- nascido vêm crescendo cada vez mais” (FRAGA, 2016, p. 23). Diante disso, a Organização das Nações Unidas (ONU), em conjunto com centenas de líderes, estabeleceu, em 2015, ao analisar os maiores problemas mundiais, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com 17 objetivos e 169 metas (Figura 1). Nesse sentido, no objetivo 3 de saúde e bem-estar, o qual estabelece que se deve garantir o acesso à saúde de qualidade e promover o bem-estar para todos, em todas as idades, são especificadas algumas metas, embora nosso interesse seja, de maneira mais focada, na gestação e neonatos: 3.1 Até 2030, reduzir a taxa de mortalidade materna global para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos. 3.2 Até 2030, acabar com as mortes evitáveis de recém-nascidos e crianças menores de 5 anos, com todos os países objetivando reduzir a mortalidade neonatal para pelo menos 12 por 1.000 nascidos vivos e a mortalidade de crianças menores de 5 anos para pelo menos 25 por 1.000 nascidos vivos (ONU, 2015, p. 21). Acadêmico, recomendamos a leitura dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2015) no site das Nações Unidas – Brasil. Acesse o link, a seguir, e saiba mais sobre os trabalhos realizados para alcançar os 17 objetivos: https://brasil.un.org/pt-br/sdgs. DICA https://brasil.un.org/pt-br/sdgs 177 Figura 1 – ODS Fonte: http://twixar.me/GJQmAcesso em: 10 jan. 2023. Acadêmico, nesse momento, você pode se perguntar “o que os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio têm a ver com a SAE?”. O tipo de acompanhamento de uma gestante no pré-natal, durante o trabalho de parto, no parto e no puerpério determina e define o desfecho da saúde materna. Portanto, um bom acompanhamento, de qualidade, com profissionais capacitados e que tenham conhecimento técnico, científico e de gestão do cuidado garante desfechos favoráveis para a mulher durante o seu ciclo gravídico-puerperal. A realização da SAE entra como um grande agente estrategista, para melhorar e garantir uma assistência segura para essa mulher. Infelizmente, percebe-se que ainda há falta de planejamento e organização no cuidado durante a realização da SAE. Na maioria das vezes, o enfermeiro presta uma assistência descontex- tualizada, tendo em vista que suas ações são voltadas apenas para o procedimento em si e não para a mulher, limitando-se apenas à prescrição médica para prestar assistência à parturiente. Além disso, no dia a dia do enfermeiro, existe o excesso de atividades burocrá- ticas voltadas para o controle de material, gerenciamento do pessoal de Enfermagem, registros e relatórios escritos de forma não sistema- tizada, caracterizando a execução de tarefas rotineiras, e revelando, assim, a falta de disponibilidade com a assistência (SANTOS; RAMOS, 2012, p. 14). É importante ter em mente que “O conhecimento científico respalda a ação prática. Suas bases de sustentação são indicadores do desenvolvimento de uma profissão, além de constituírem marco importante na evolução da prática assistencial” (SILVA et al., 2011 apud FRAGA, 2016, p. 28). 178 Diante disso, devemos relembrar da teoria das necessidades humanas básicas, de Wanda de Aguiar Horta, que propôs a realização do processo de Enfermagem (PE), o qual é composto por ações sistematizadas e relacionadas entre si, com o objetivo geral de oferecer uma assistência de cuidados de Enfermagem ao paciente. Segundo Horta (2011 apud FRAGA, 2016), as etapas do PE são: histórico de Enfermagem, diagnóstico de Enfermagem, plano assistencial, plano de cuidados ou prescrição de Enfermagem, evolução de Enfermagem e prognóstico de Enfermagem. Para uma padronização de terminologias nos cuidados de Enfermagem e na formação do diagnóstico de Enfermagem, mundialmente, temos o NANDA-I e II (acrônimo para North American Nursing Diagnosis Association), que utiliza várias taxonomias e é considerado o mais variável e estável para consultas, conforme Fraga (2016). Outros sistemas de classificação que facilitam a realização da SAE são: a Classificação das Intervenções de Enfermagem (NIC); a Classificação dos Resultados de Enfermagem (NOC); o sistema de OMAHA (classificação para a saúde comunitária); o Sistema de Classificação de Cuidados Clínicos (CCC); e a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE®), que foi desenvolvida com a unificação de vocabulários da Enfermagem, como a NANDA, NIC, NOC, e sistema da OMAHA, entre outros (SANTOS; RAMOS, 2012, p. 14). Acadêmico, para melhor percepção da aplicação da SAE no centro obstétrico, especificamente para gestantes e parturientes, o Quadro 1 apresenta alguns resultados de estudos acerca da temática. Quadro 1 – Estudos sobre SAE no centro obstétrico Autor Resumo Santos; Ramos (2012) Propõe um protocolo para a SAE às parturientes no centro obstétrico. Foram identificados sete diagnósticos de Enfermagem: contração uterina normal, dor de trabalho de parto, medo do trabalho de parto, fadiga, expulsão uterina fetal sem distócias ou intercorrências, laceração do pe- ríneo ou vagina e corte na região médio-lateral do períneo. Na sequência, foram definidos os resultados esperados e as intervenções de Enfer- magem com base na literatura. Nas considerações finais, foi defendido que um protocolo para a SAE às parturientes estimulará a atuação dos enfermeiros obstetras no acompanhamento dessas mulheres, favore- cendo uma assistência individualizada, fundamentada cientificamente e respeitando o processo natural do trabalho de parto e parto, além de consolidar a implementação da SAE 179 Silva; Nóbrega; Macedo (2012) Trabalharam diagnósticos/resultados de Enfermagem para parturientes e puérperas, utilizando a Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE). A maioria desses diagnósticos/resultados foram agrupados dentro das necessidades psicobiológicas, o que pode ser ex- plicado pelas alterações orgânicas desencadeadas na mulher enquanto gestante, parturiente e puérpera, mas também em função da formação dos profissionais de saúde/Enfermagem, que prioriza a visão biológica do ser humano. Essas alterações na mulher promovem necessidades que são prioritárias na assistência de Enfermagem. No entanto, as necessi- dades psicossociais e psicoespirituais não podem ser negligenciadas. Mazoni; Carvalho; Santos (2013) O objetivo foi identificar a presença dos indicadores clínicos da dor em situação de parto e correlacionar a referência verbal de intensidade de dor com as contrações uterinas. Foi evidenciada uma correlação entre referência verbal e evidência observada de contração uterina, que se associaram ao aumento do escore de intensidade da dor à medida que aumenta a pressão intrauterina. Frisando que a dor é um dos diagnósti- cos mais frequentes nas parturientes. Terto et al. (2021) Aborda a internação precoce da gestante, que ocasiona intervenções obstétricas desnecessárias, que culmina com a indicação de cesariana. Nesse contexto, surge o cuidado de Enfermagem cirúrgico que envolve desde o manejo clínico à execução de atividades educativas. Por meio douso da SAE, esses cuidados são ofertados de forma individualizada, conferindo uma assistência integral e resolutiva. Santos; Ramos (2012) Com o objetivo de propor um protocolo para a SAE para parturientes no centro obstétrico. No pré-parto, a proposta de assistência à parturiente consiste, inicialmente, em uma consulta de Enfermagem. O instrumento para consulta de Enfermagem contempla os dados de identificação da parturiente, os dados relacionados à gestação, o exame físico da partu- riente, os exames laboratoriais e os dados do parto. A segunda etapa do protocolo consiste na identificação dos diagnósticos de Enfermagem. Para tanto, um formulário específico foi elaborado. O referido formulá- rio contempla sete diagnósticos de Enfermagem com suas respectivas intervenções e os resultados esperados. Fonte: Araújo et al. (2022); Fraga (2016); Santos; Ramos (2012) A primeira etapa da SAE realizada na gestante ou puérpera é coletar os dados, fazer uma anamnese e um histórico de Enfermagem. Diante disso, utilizaremos, como exemplo, o formulário de elaboração do histórico de Enfermagem com a gestante/ parturiente (Figura 2) (SANTOS; RAMOS, 2012), para uso durante a consulta de Enfermagem no pré-parto do centro obstétrico ou, até mesmo, na sala de parto. 180 Figura 2 – Formulário para histórico de Enfermagem Fonte: Santos; Ramos (2012, p. 15) A segunda etapa, após a percepção das necessidades da gestante/parturiente, observadas durante a consulta e a anamnese, é a etapa da elaboração dos diagnósticos de Enfermagem. 181 Em 2016, um estudo realizado por Fraga em um centro obstétrico de um hospital do sul do Brasil, do qual participaram 81 mulheres internadas em trabalho de parto, consideradas gestantes de risco habitual, traz os diagnósticos de Enfermagem mais presentes, conforme NANDA-I: • dor no trabalho de parto; • nutrição desequilibrada: menos do que as necessidades corporais; • risco de volume de líquidos deficiente; • insônia; • mobilidade física prejudicada; • fadiga; • disposição para conforto melhorado; • conforto prejudicado; • conhecimento deficiente; • disposição para conhecimento melhorado; • controle emocional instável; • ansiedade; • enfrentamento ineficaz; • disposição para enfrentamento melhorado; • medo; • risco de infecção; • risco de integridade da pele prejudicada; • risco de integridade tissular prejudicada; • risco de quedas; • risco de sangramento; • risco de contaminação. INTERESSANTE A terceira etapa é o planejamento de ações de Enfermagem. Santos e Ramos (2012) esquematizaram um outro formulário que pode auxiliar na organização dessa etapa, melhorando o planejamento da assistência (Quadro 2). “A visão holística do enfermeiro obstetra associada ao Processo de Enfermagem, favorece uma assistência individualizada à parturiente, fundamentada no conhecimento científico, fazendo com que ela se sinta parte de um processo natural, acompanhando o ritmo do seu próprio corpo” (SANTOS; RAMOS, 2012, p. 17). 182 Quadro 2 – Planejamento da Assistência Diagnóstico de enfermagem Resultados esperados Intervenções de enfermagem Contração uterina normal Contração uterina em progressão Avaliar a dinâmica uterina registrando sua frequência, duração e intensidade; Monitorar o batimento cardíaco fetal (BCF) antes, durante e após as contrações para identificar presença de desacelerações intrapélvicas; informar ao profissional médico alterações no BCF e/ou nas contrações uterinas. Dor de trabalho de parto Dor de trabalho de parto diminuída Encorajar a deambulação durante o trabalho de parto; incentivar as posições verticais; ensinar técnicas de respiração e relaxamento; promover banho de chuveiro morno e massagem lombossacral; e registrar a evolução do trabalho de parto em partograma. Medo do trabalho de parto Medo diminuído Conversar usando uma abordagem calma e segura; explicar o processo de trabalho de parto e parto esclarecendo suas dúvidas; permitir presença de acompanhante conforme desejo da parturiente; implementar o toque afetivo para acalmá-la realizado pelo enfermeiro ou acompanhante escolhido pela parturiente; e oferecer terapia com música. Fadiga Fadiga melhorada Orientar a parturiente quanto à forma de fazer relaxamento muscular para que ela descanse entre uma contração e outra. Expulsão uterina fetal sem distócias ou inter- corrências Expulsão uterina rea- lizada Deixar passar lentamente a cabeça do feto; proteger o períneo durante o nascimento; clampear e cortar o cordão umbilical após o término das pulsações; verificar integridade da placenta após delivramento; colocar o recém-nascido junto ao seio materno para estimular o aleitamento e a liberação de ocitocina. 183 Laceração do períneo ou vagina Prevenção de contami- nação da laceração Examinar o canal vaginal após o delivramento fisiológico da placenta para verificar presença de lacerações; realizar correção de laceração após administração de anestésico local; orientar sobre higiene na região vulvoperineal e uso de roupas limpas. Corte na região médio- -lateral do períneo Prevenção de conta- minação do corte na região médio-lateral do períneo Fazer infiltração de anestésico local, se necessário; fazer corte na região médio-lateral do períneo (episiotomia), se necessário; realizar episiorrafia; fazer toque retal para garantir a integridade tissular; orientar sobre higiene na região vulvoperineal e uso de roupas limpas. Fonte: Santos; Ramos (2012, p. 16) Além da gestante, a SAE também deve ser realizada para a puérpera, ou seja, a mulher no período pós-parto, visto que é um momento de profundas modificações, tanto fisiológicas como psicológicas. Nesse momento, a Enfermagem atua com a prevenção de complicações e a promoção de conforto, do pós-parto imediato e mediato, enquanto essa puérpera estiver internada na instituição hospitalar, conforme demonstra o quadro a seguir. ATENÇÃO Quadro – SAE na puérpera Diagnósticos de Enfermagem Resultados Intervenções Atividades Intolerância à atividade caracterizada por desconforto aos esforços, relacionada à dor. Mobilidade Indica- dores: desempenho no posicionamento do corpo; andar; movi- mentos realizados com facilidade. Au- mentar para: 5 (não comprometido). Promoção do conforto físico: controle da dor. Investigar com a paciente os fatores que aliviam/pioram a dor; reduzir ou eliminar fatores que precipitam ou aumentam a experiência de dor. Privação de sono caracterizada por ansiedade, cansaço e sonolência durante o dia relacionada a práticas maternas que não favorecem o sono. Nível de desconforto Indicadores: ansiedade; dor. Aumentar para: 5 (nenhum). Promoção do conforto físico: controle do ambiente: conforto. Evitar interrupções desnecessárias e permitir períodos de descanso; Determinar as origens do desconforto, como roupa de cama com rugas e irritantes ambientais. 184 Dor aguda caracterizada por gestos protetores e relato verbal de dor relacionada a agentes lesivos físicos (ferida operatória). Controle da dor Indicadores: descrição dos fatores causadores; uso de medidas preventivas; uso de analgésicos conforme recomendação; relato de dor controlada. Aumentar para: 5 (consistentemente demonstrado). Promoção do conforto físico: controle da dor. Assegurar que a paciente receba cuidados precisos de analgesia; Informar sobre a dor, suas causas, duração e desconfortos antecipados em decorrência dos procedimentos. Conforto prejudicado caracterizado por ansiedade, medo e relatos de sentir-se desconfortável. Nível de desconforto Indicadores: ansiedade; medo; estresse; dor. Aumentar para: 5 (nenhum). Promoção de conforto psicológico: terapia de relaxamento. Usar abordagem calma e tranquilizadora, escutando a paciente com atenção; criar ambiente calmo e sem interrupções, com iluminação difusae temperatura confortável, sempre que possível; provocar comportamentos que sejam condicionados a produzir relaxamento, como respiração profunda. Fonte: Barbosa et al. (2014, p. 847) Algumas ações/prescrições da Enfermagem, para as puérperas em período de pós-parto imediato dentro do centro obstétrico, devem ser realizadas conforme o diag- nóstico de Enfermagem: • monitorar os sinais vitais a cada 4 horas; • avaliação da altura uterina e massagem uterina de a cada 2 horas; • avaliação dos lóquios a cada 2 horas; • estimular a deambulação após 2 horas do parto; • avaliar a dieta nutricional, de acordo com a prescrição médica; • orientar sobre amamentação em todos os períodos do dia; • orientar sobre autocuidado materno, uma vez. Caro acadêmico, é importante estabelecer um roteiro da SAE, a partir da construção de protocolos, formulários e tabelas, como apresentado ao longo deste tópico. Isso fornece melhor organização para a implementação de cada etapa do processo de Enfermagem, fomentando uma assistência de qualidade e com segurança, provida de conhecimento técnico-científico, para as gestantes e puérperas do centro obstétrico. 185 A criação de instrumentos, pelo enfermeiro, pode facilitar a SAE, dinami- zando o cuidado e agilizando o tempo na realização do processo de En- fermagem. Veja um exemplo de instrumento com uso de checklist feito pelos autores Fialho et al. (2014), disponível em: http://twixar.me/DJQm. DICA 3 GESTÃO DE ENFERMAGEM NO CENTRO OBSTÉTRICO Dentro do centro obstétrico, há algumas responsabilidades do enfermeiro, principalmente do especialista em obstetrícia, como a gestão do local de trabalho, da equipe, dos materiais, de tomada de decisões e do cuidado prestado. A organização desse serviço resultará em maiores índices de satisfação do paciente atendido. Na maternidade, o enfermeiro gerencia o cuidado de modo a facilitar a assistência de Enfermagem oferecida à parturiente, ao bebê e aos familiares. Tanto nesse contexto como nas demais unidades de cuidado, utiliza-se ferramentas gerenciais que são capazes de auxiliar na organização, planejamento, coordenação, delegação ou prestação dos cuidados, supervisão, previsão e provisão de recursos, capacitação da equipe, desenvolvimento de medidas educativas com a família, interação com outros profissionais, além de ocupar espaços de articulação e negociação, permitindo a implementação de melhorias do cuidado (COPELLI et al., 2017, p. 1348). Em primeiro lugar, o enfermeiro do turno, responsável pelo setor, deve estar sempre atualizado e capacitado, para poder prestar uma assistência de qualidade para parturientes, puérperas e recém-nascido, e uma das grandes competências é a liderança. Dentro do cenário multiprofissional, esta é uma ferramenta essencial e indispensável para o enfermeiro. No cenário de atuação da maternidade em estudo, a liderança acontece por meio das estratégias planejadas em reuniões de colegiado gestor, do processo de tomada de decisão compartilhada, da educação permanente. Além disso, a pesquisa baseada em evidências científicas faz parte do cotidiano desses profissionais e também possui papel relevante para demonstrar os impactos das ações desenvolvidas. Pesquisadores afirmam que a prática baseada em evidências é uma tecnologia em- preendedora no âmbito da saúde materno infantil, pois as evidências científicas devem nortear a prática clínica (ZAMBERLAN; ROCHA; BACKES, 2017 apud SOUSA et al., 2018, p. 2). 186 Caro acadêmico, você já ouviu falar sobre a governança compartilhada de Enfermagem? Basicamente, é um modelo de gestão que se baseia em compartilhar as decisões em equipe, corresponsabilizando ações e promovendo a autonomia profissional da equipe. Para saber mais, acesse o estudo de Copelli et al. (2017): http://twixar.me/FJQm. DICA A capacitação da equipe de Enfermagem deve ser promovida, por meio da realização de cursos de aprimoramento, promovendo a educação continuada dentro do centro obstétrico. Quebrar paradigmas e práticas obsoletas da obstetrícia, para os profissionais ofertarem uma assistência de qualidade, atualizada e, principalmente, baseada em evidências científicas é essencial. Nesse sentido, o enfermeiro responsável pode trazer assuntos, para a equipe, sobre humanização da assistência ao parto, boas práticas, métodos de alívio da dor, medidas de segurança, entre outras temáticas pertinentes ao setor da obstetrícia e que irão trazer benefícios para a parturiente e a puérpera que usufruem do serviço obstétrico e materno. Entende-se que a gestão em Enfermagem seja um conjunto de atividades gerenciais e assistenciais, caracterizadas pelo exercício da liderança, de tal modo que a influência atinja todos os liderados. Isto ocorre desde a realização dos procedimentos técnicos, na elaboração de critérios de qualidade nas principais decisões tomadas (RUTHES; FELDMAN; CUNHA, 2010 apud HOFFMANN; PETTENON; ROMAN, 2019, p. 3). É importante que essa atividade não afaste o enfermeiro responsável das gestantes, parturientes e puérperas, mas, pelo contrário, aproximar ainda mais, visto que o objetivo é melhorar o cuidado de Enfermagem realizado para essas mulheres, a partir de fatores que influenciam diretamente esse “cuidar”. Em um centro obstétrico de alto fluxo de atendimentos, o enfermeiro responsável deve saber gerir a assistência da sua equipe desde a triagem, no pré-parto, na sala de partos, na sala cirúrgica e na sala de recuperação pós-anestésica. A fluidez do fluxo de atendimento deve ser mantida, bem como a humanização dos profissionais com as mulheres. ATENÇÃO 187 Neste tópico, você aprendeu: • A realização da SAE entra como um grande agente estrategista, para melhorar e garantir uma assistência segura para a mulher, um acompanhamento seguro e de qualidade, com profissionais capacitados, que têm conhecimento técnico, científico e de gestão do cuidado, garantindo desfechos favoráveis para a mulher durante o seu ciclo gravídico-puerperal. • Construir e utilizar instrumentos que facilitam a coleta de dados da gestante/puérpera pode auxiliar e agilizar o primeiro passo do processo de Enfermagem. Os diagnósticos de Enfermagem também podem seguir algum instrumento, como uma checklist, e as ações dos enfermeiros devem ser realizadas a partir dos diagnósticos estabelecidos. • A SAE para a puérpera também deve ser realizada com atenção, visto que a mulher no período pós-parto passa por momentos de profundas modificações, tanto fisiológicas como psicológicas. Nesse momento, a Enfermagem atua com a prevenção de complicações e a promoção de conforto, do pós-parto imediato e mediato, enquanto essa puérpera estiver internada na instituição hospitalar. • O enfermeiro deve saber gerir a sua equipe de Enfermagem, de maneira a mantê-la capacitada e informada. Além disso, a tomada de decisão, como líder de equipe, é vista como grande fator dentro do centro obstétrico, uma vez que é preciso agilidade no atendimento. Manter os materiais e os instrumentos necessários sempre disponíveis e o setor organizado também são responsabilidades do enfermeiro. RESUMO DO TÓPICO 1 188 1 Com base na Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) no centro obstétrico para gestantes e puérperas, é importante ressaltar a vasta opção de planos de cuidados, de acordo com as reais necessidades da mulher. Por isso, a importância da realização de uma boa anamnese, um exame físico e a formação do diagnóstico de Enfermagem, para, então, planejar as ações, implementá-las e avaliá-las. Sobre a SAE para a gestante e puérpera, assinale a alternativa INCORRETA: a) ( ) Podem ser identificados alguns diagnósticos de Enfermagem no centro obstétrico, como contração uterina normal, dor de trabalho de parto, medo do trabalho de parto, fadiga, expulsão uterina fetal sem distócias ou intercorrências,