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Centro obstétriCo Prof.ª Lara Louise Kloch AssistênCiA de enfermAgem no Indaial – 2023 1a Edição Impresso por: Elaboração: Prof.ª Lara Louise Kloch Copyright © UNIASSELVI 2023 Revisão, Diagramação e Produção: Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI. Núcleo de Educação a Distância. KLOCH, Lara Louise. Assistência de Enfermagem no Centro Obstétrico. Lara Louise Kloch. Indaial - SC: Arqué, 2023. 256p. ISBN 978-65-5646-560-9 ISBN Digital 978-65-5646-558-6 “Graduação - EaD”. 1. Parto 2. Mulher 3. Gravidez CDD 610.7 Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679 Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático de Assistência de Enfermagem no Centro Obstétrico. O processo de parto e nascimento é um grande evento fisiológico, um momento especial na vida da gestante parturiente, independentemente da forma de nascimento escolhida – após o momento de “re(nascer)”, a vida da mulher e da família envolvida nunca mais será a mesma. Quando é permitida a parturiente uma experiência positiva de parto e nascimento, automaticamente, oferecemos a ela uma assistência digna e de qualidade, mantendo a sua integridade física e psicológica, respeitando as escolhas e os desejos dela e do acompanhante nesse evento único. O enfermeiro é um profissional essencial dentro da equipe multiprofissional, pois deve acolher essa família e colaborar para que a vivência do parto e do nascimento seja positiva e segura, colocando em prática suas competências específicas no setor do centro obstétrico. Diante disso, na Unidade 1, abordaremos as práticas e os estudos que englobam a assistência de Enfermagem no processo gravídico, puerperal e no nascimento dentro do centro obstétrico, primeiramente, relacionados à fisiologia do parto eutócico, envolvendo a contratilidade uterina que conduz à dilatação do colo uterino, os mecanismos que acarretam a progressão do feto no canal de parto e as fases do parto, que caracterizam os períodos do trabalho de parto da parturiente. Ainda, faz-se importante estudarmos o parto instrumentado e as práticas baseadas em evidências científicas acerca do uso desses métodos e utensílios na hora do parto. O fenômeno que envolve o parto induzido também será um tópico importante, por ser uma condição realizada para a resolução do parto e, por isso, o enfermeiro deve conhecer os métodos utilizados durante uma indução de parto, bem como os cuidados necessários durante a assistência a esse procedimento. A atuação e as competências dos enfermeiros generalista e especialista também serão detalhadas, em conjunto com uma visão da equipe multiprofissional que atua no centro obstétrico. Visto que a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) deve ocorrer também no centro obstétrico, o conhecimento das rotinas do setor se torna imprescindível às práticas realizadas, desde o acolhimento da gestante na triagem obstétrica, a internação no pré-parto, a assistência dentro da sala de partos e na sala cirúrgica aos cuidados na sala de recuperação anestésica. Ainda na Unidade 1, abordaremos os aspectos que abrangem o nascimento, os cuidados imediatos ao recém-nascido e a reanimação neonatal, que também regem as competências do enfermeiro dentro do centro obstétrico. APRESENTAÇÃO Já na Unidade 2, abordaremos questões relativas à assistência de Enfermagem nos procedimentos cirúrgicos aplicados nas urgências e nas emergências obstétricas e ginecológicas, desde casos de abortamento, gravidez ectópica e hemorragias no anteparto, até as emergências de parto e pós-parto, vemos a importância do reconhecimento dessas urgências e emergências no setor e também a identificação do papel do enfermeiro nesses procedimentos. Além disso, serão discutidos alguns aspectos importantes sobre a cesariana, uma intervenção cirúrgica realizada para salvar a vida da mãe e/ou do bebê, quando realmente necessário. Vale ressaltar que é necessário seguir um modelo de assistência, em que a mulher seja a protagonista do parto e os profissionais, os coadjuvantes que apoiam, auxiliam e prezam pelo bem-estar materno-fetal, assim como avaliam a necessidade ou não de intervenções. A cultura acerca do parto normal tem sido desmitificada com as novas pesquisas científicas, e isso mostra a importância da disseminação da Medicina baseada em evidências nesse cenário. Diante disso, na Unidade 3, abordaremos sobre assuntos que abrangem o cuidado integral de Enfermagem no parto normal e cesárea, na qual a humanização e as boas práticas de parto e nascimento serão discutidas sob a perceptiva atual, de acordo com as novas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além de aprofundarmos na dor em obstetrícia, fator, culturalmente, ligado à doença, associando o parto a sofrimento. Logo, é importante a discussão sobre a dimensão da dor fisiológica do parto, uma dor subjetiva para cada parturiente e influenciada conforme a cultura de cada uma. Por isso, o enfermeiro deve conhecer os métodos não farmacológicos para o alívio da dor, assim como os métodos farmacológicos, abrangendo a analgesia e a anestesia, realizados no centro obstétrico. Ainda, na Unidade 3, veremos como relacionar a SAE dentro do centro obstétrico, tanto para a gestante quanto para o recém-nascido, bem como questões de gestão da Enfermagem no setor. Por fim, serão salientados os aspectos éticos que permeiam o profissional de Enfermagem durante o ciclo gravídico-puerperal e também situações relacionadas aos direitos da mulher nesse período da vida, discutindo o consentimento informado para a realização de determinados procedimentos e condutas dentro do centro obstétrico. Acadêmico, esperamos que você esteja motivado para aquisição de novos saberes e aprendizados, para que, como futuro profissional enfermeiro, possa seguir, com segurança, destreza e humanização, as competências que regem a assistência e a gerência dentro do centro obstétrico. Bons estudos! Prof.ª Lara Louise Kloch GIO Olá, eu sou a Gio! No livro didático, você encontrará blocos com informações adicionais – muitas vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico como um todo. Eu ajudarei você a entender melhor o que são essas informações adicionais e por que você poderá se beneficiar ao fazer a leitura dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará informações adicionais e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto estudado em questão. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual – com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página – o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Preocupados com o impacto de ações sobre o meio ambiente, apresentamos também este livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Preparamos também um novo layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar os seus estudos com um material atualizado e de qualidade. Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de educação superior. Todos os estudantesestão habilitados a participar do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira, acessando o QR Code a seguir. Boa leitura! 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Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! QR CODE SUMÁRIO UNIDADE 1 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROCESSO GRAVÍDICO PUERPERAL E NO NASCIMENTO DENTRO DO CENTRO OBSTÉTRICO .....................................................................................1 TÓPICO 1 — FISIOLOGIA DO PARTO ....................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 CONTRATILIDADE UTERINA ...............................................................................4 3 MECANISMO DO PARTO ....................................................................................... 6 4 FASES DO PARTO ................................................................................................ 9 4.1 ASSISTÊNCIA NO PRIMEIRO E NO SEGUNDO PERÍODO DO PARTO .......................10 4.2 ASSISTÊNCIA NO TERCEIRO E NO QUARTO PERÍODO DO PARTO .........................14 5 PARTO INSTRUMENTADO.................................................................................. 15 6 INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO ................................................................ 19 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................22 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................23 TÓPICO 2 — ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO.......25 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................25 2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR .............................................................................26 3 O ENFERMEIRO GENERALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO ............................. 27 4 O ENFERMEIRO ESPECIALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO ............................29 RESUMO DO TÓPICO 2 .......................................................................................... 31 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................32 TÓPICO 3 — ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO ...............................................35 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................35 2 TRIAGEM OBSTÉTRICA .....................................................................................36 3 PRÉ-PARTO ....................................................................................................... 40 4 SALA DE PARTOS ...............................................................................................46 5 SALA CIRÚRGICA ............................................................................................. 48 6 SALA DE RECUPERAÇÃO ANESTÉSICA ..........................................................50 RESUMO DO TÓPICO 3 ..........................................................................................54 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................55 TÓPICO 4 — ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO .............................. 57 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 57 2 AVALIAÇÃO DO RECÉM-NASCIDO .................................................................... 57 2.1 OS CUIDADOS INICIAIS AO RÉCEM-NASCIDO ...........................................................58 2.2 O EXAME FÍSICO DO RECÉM-NASCIDO ....................................................................... 63 2.3 OS REFLEXOS PRIMITIVOS ............................................................................................ 66 3 REANIMAÇÃO NEONATAL ................................................................................. 67 LEITURA COMPLEMENTAR .................................................................................. 77 RESUMO DO TÓPICO 4 ..........................................................................................82 AUTOATIVIDADE ...................................................................................................83 REFERÊNCIAS .......................................................................................................85 UNIDADE 2 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NOS PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS APLICADOS EM URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS OBSTÉTRICAS E GINECOLÓGICAS ...............................................89 TÓPICO 1 — ABORTAMENTO ................................................................................. 91 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 91 2 TIPOS DE ABORTOS ..........................................................................................92 3 TRATAMENTOS ..................................................................................................95 RESUMO DO TÓPICO 1 ..........................................................................................99 AUTOATIVIDADE .................................................................................................100 TÓPICO 2 — GRAVIDEZ ECTÓPICA .....................................................................103 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................103 2 ETIOLOGIA .......................................................................................................103 3 TRATAMENTO ...................................................................................................106 RESUMO DO TÓPICO 2 ........................................................................................108 AUTOATIVIDADE .................................................................................................109 TÓPICO 3 — HEMORRAGIAS ANTEPARTO .......................................................... 111 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 111 2 PLACENTA PRÉVIA .......................................................................................... 111 3 DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA NORMALMENTE INSERIDA ..... 114 4 VASA PRÉVIA ...................................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 3 .........................................................................................119 AUTOATIVIDADE .................................................................................................120 TÓPICO 4 — EMERGÊNCIAS DE PARTO ............................................................. 123 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................123 2 ROTURA UTERINA ........................................................................................... 123 3 INVERSÃO UTERINA ........................................................................................ 125 4 DISTÓCIA DE OMBROS .................................................................................... 127 5 PROLAPSO DE CORDÃO .................................................................................130 RESUMO DO TÓPICO 4 ........................................................................................ 132 AUTOATIVIDADE .................................................................................................133 TÓPICO 5 — HEMORRAGIA PÓS-PARTO ............................................................ 137 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 137 2 ATONIA UTERINA ............................................................................................138 3 TRAUMAS ......................................................................................................... 141 4 RETENÇÃO PLACENTÁRIA .............................................................................142 RESUMO DO TÓPICO 5 ........................................................................................144 AUTOATIVIDADE .................................................................................................145 TÓPICO 6 — CESARIANA ..................................................................................... 147 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 147 2 INDICAÇÕES PARA CESARIANA .....................................................................148 3 OPERAÇÃO CIRÚRGICA ..................................................................................149 3.1 ANESTESIAS INDICADAS ................................................................................................152 4 COMPLICAÇÕES .............................................................................................. 153 5 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA CESARIANA ........................................154 5.1 MONTAGEM DE SALA ...................................................................................................... 156 5.1.2 Materiais .....................................................................................................................157 LEITURA COMPLEMENTAR ................................................................................160 RESUMO DO TÓPICO 6 ........................................................................................ 167 AUTOATIVIDADE .................................................................................................168 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 170 UNIDADE 3 — CUIDADO INTEGRAL DE ENFERMAGEM NO PARTO NORMAL E NA CESÁREA ................................................................................ 173 TÓPICO 1 — SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM (SAE) NO CENTRO OBSTÉTRICO (CO) ...................................................... 175 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 175 2 SAE PARA GESTANTE/PUÉRPERA ................................................................. 176 3 GESTÃO DE ENFERMAGEM NO CENTRO OBSTÉTRICO ................................185 RESUMO DO TÓPICO 1 ........................................................................................ 187 AUTOATIVIDADE .................................................................................................188 TÓPICO 2 — HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ...................191 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................191 2 BOAS PRÁTICAS DE PARTO E NASCIMENTO ................................................. 192 RESUMO DO TÓPICO 2 ....................................................................................... 203 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 204 TÓPICO 3 — A DOR NA OBSTETRÍCIA ................................................................207 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................207 2 MÉTODOS NÃO FARMACOLÓGICOS PARA ALÍVIO DA DOR .......................... 208 3 ANALGESIA E ANESTESIA .............................................................................. 217 RESUMO DO TÓPICO 3 ....................................................................................... 222 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 223 TÓPICO 4 — ASPECTOS ÉTICOS.........................................................................227 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................227 2 ÉTICA PROFISSIONAL DURANTE O CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL .......... 228 3 VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA ................................................................................ 231 4 DIREITOS DA MULHER NO CICLO GRAVÍDICO PUERPERAL ....................... 236 4.1 DIREITOS DA GESTANTE ................................................................................................240 4.2 DIREITOS NO PRÉ-NATAL ............................................................................................240 4.3 DIREITOS NO PARTO .......................................................................................................241 4.4 DIREITOS TRABALHISTAS ..............................................................................................241 4.5 DIREITO EDUCACIONAL E ESTUDANTIL ....................................................................242 4.6 DIREITOS SOCIAIS ..........................................................................................................242 4.7 DOULAS NO BRASIL .......................................................................................................243 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................... 245 RESUMO DO TÓPICO 4 ....................................................................................... 249 AUTOATIVIDADE ................................................................................................ 250 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 253 1 UNIDADE 1 — ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PROCESSO GRAVÍDICO PUERPERAL E NO NASCIMENTO DENTRO DO CENTRO OBSTÉTRICO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • reconhecer os estágios do parto durante a assistência ao parto e ao nascimento; • analisar as condições da saúde materno-fetal durante a assistência ao parto; • identificar as competências do enfermeiro dentro do centro obstétrico, de acordo com a rotina do setor; • identificar as ações do enfermeiro na assistência imediata ao recém-nascido. A cada tópico desta unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FISIOLOGIA DO PARTO TÓPICO 2 – ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO TÓPICO 3 – ROTINAS DO CENTRO OBSTÉTRICO TÓPICO 4 – ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM-NASCIDO Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 CONFIRA A TRILHA DA UNIDADE 1! Acesse o QR Code abaixo: 3 FISIOLOGIA DO PARTO TÓPICO 1 — UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Aprender sobre a fisiologia do parto é a base para que os profissionais que trabalham com parto e nascimento conheçam ofuncionamento do corpo da parturiente e como o enfermeiro pode realizar suas competências, refletindo, positivamente, para o momento do trabalho de parto. O parto normal é um processo fisiológico, mas também um evento social, interagindo com a vida daquela família em formação, e, portanto, uma experiência positiva desse momento trará grandes benefícios para a família e a comunidade. Além disso, é importante salientar que os profissionais da saúde, envolvidos no parto, são coadjuvantes desse evento, sendo a mulher a protagonista – mas por que devemos olhar dessa forma? A resposta é clara: porque o parto é da mulher, e o profissional desempenha um papel importante, que é observar e avaliar o bem-estar materno- fetal e colocar em prática os seus conhecimentos em momentos necessários, críticos, assegurando a saúde da mãe e do bebê, o que é uma grande responsabilidade. Neste tópico, abordaremos o processo fisiológico do parto, desde a contratilidade do útero, que leva ao apagamento e à dilatação do colo do útero, ao mecanismo do parto, para a expulsão do feto, até o nascimento da placenta. Descreveremos cada fase do parto, que pode ser dividida em dilatação, período expulsivo e dequitadura, para que fique claro o tipo de assistência que o enfermeiro pode oferecer em cada período do parto. Além disso, abordaremos o parto instrumentado e a necessidade desse tipo de intervenção, a utilização do fórceps ou ventosa e a realização de episiotomia. Por fim, ainda estudaremos as induções de parto, que são condutas importantes durante a gravidez nas situações em que se faz necessário adiantar o nascimento do feto. Salienta-se a necessidade de práticas baseadas em evidências científicas, por isso a aquisição de novos saberes deve ser fornecida a partir de uma ferramenta atual e adequada. Os conhecimentos da área da saúde estão em constantes atualizações; a obstetrícia é uma área que precisa de profissionais capacitados para o parto normal, que pode ser eutócico (parto normal sem necessidade de intervenções) ou distócico (parto com necessidade de intervenções). 4 Acadêmico, sugerimos que busque mais ferramentas de atualização acerca da assistência do enfermeiro durante o trabalho de parto, parto e pós-parto. DICA 2 CONTRATILIDADE UTERINA O útero tem uma grande função no final da gravidez, que é expelir o feto e os anexos (placenta e cordão), a partir das contrações uterinas. No entanto, antes de tudo, é importante analisarmos a fisiologia do corpo do útero e o desencadeamento do trabalho de parto. Segundo Graça (2017), o útero, anatomicamente, é divido pelo fundo uterino e pelo colo uterino, e sua estrutura é, praticamente, tecido muscular liso, células musculares que estão ligadas entre si, para promover as contrações durante o trabalho de parto. Além disso, podem ser percebidas várias fases que correspondem a diferentes situações fisiológicas do útero durante a gravidez e o parto: Na fase 0, que corresponde à maior parte da gravidez, o corpo do útero permanece em quiescência e pouco reativo aos estímulos contrácteis e o colo mantém-se formado e fechado. Na fase 1, de preparação para o parto, um conjunto de fatores mecânicos, endócrinos e parácrinos prepara o tecido muscular liso do útero e do tecido conjuntivo do colo para aumento progressivo da capacidade contráctil uterina e da distensibilidade do colo. A fase 2 corresponde à fase ativa do trabalho de parto (TP) e, finalmente, a fase 3 à de involução uterina (GRAÇA, 2017, p. 216). Como a contração uterina depende da interação de alguns fatores e componentes proteicos que interagem entre si, Zugaib; Francisco (2016) explica que essa interação proteica é modulada pela miosina, que, resumidamente, quando ativada, possibilita a contração local do miômetro. Somando várias interações, as células musculares se ligam umas às outras, por meio de conexões proteicas, nomeadas conexinas (gap junctions): “[...] a formação de gap junctions, conexões intercelulares entre as células musculares lisas do útero, possibilita a coordenação, transmissão e otimização da formação contráctil” (GRAÇA, 2017, p. 217). Durante a gravidez, as conexinas são praticamente ausentes, evitando as contrações uterinas e, possivelmente, um aborto ou trabalho de parto prematuro. Graça (2017) ainda explica que elas aumentam significativamente no termo da gestação (37 a 41 semanas), e o aumento da relação do estrógeno e da síntese/degradação de prostaglandinas é um estímulo que forma a conexina. A ocitocina tem papel essencial; os estrogênios aumentam também os receptores de ocitocina, que tem efeito no 5 aumento da contratilidade uterina, correspondendo à fase 2 ativa do trabalho de parto. Como inibidores da conexina, é observada a relação de aumento da progesterona e dos inibidores da síntese de prostaglandinas, ou seja, inibem a contractilidade uterina, que, nesse caso, representaria a fase 0 – uma fase de quiescência uterina, conforme citado anteriormente. Graça (2017) elenca três fatores primordiais de ativação da contração uterina durante o trabalho de parto: a síntese de prostaglandinas, o aumento de receptores de ocitocina e a formação de gap junctions. IMPORTANTE O estudo sobre a contratilidade uterina está presente em algumas situações, além do trabalho de parto: durante uma indução de trabalho de parto, durante a inibição da contração, quando trabalho de parto prematuro e também na involução uterina do pós- parto. Além disso, durante a gravidez, há a presença das contrações de Braxton-Hicks, conhecidas como contrações de treinamento, que “ocorre, com frequência, após as 28 semanas de gestação, com uma intensidade de 10 mmHg, podendo chegar a 20 mmHg, que se difundem de forma parcial ou total pelo útero” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2016, p. 318). No período termo da gestação, as frequências das contrações de treinamento aumentam e, quando inicia o trabalho de parto, essas contrações já ficam diferentes, tanto a intensidade como a duração. No decurso do TP, as contrações uterinas provocam o aumento da pressão hidrostática intra-amniótica, a qual se transmite ao colo e segmento inferior enquanto as membranas estiverem intactas, após a rotura das membranas, é a apresentação fetal que exerce diretamente pressão sobre estas estruturas. Em ambos os casos, a pressão exercida constitui um contributo essencial para o apagamento e dilatação do colo (GRAÇA, 2017, p. 221). As contrações uterinas são involuntárias e dolorosas durante o trabalho de parto, de acordo com Montenegro e Rezende Junior (2016), sendo percebidas a partir da palpação abdominal, durante a fase de dilatação, com intensidade de 30 a 40 mmHg e frequência de três contrações em 10 minutos, podendo chegar a cinco contrações em 10 minutos. Têm ritmo e são regulares na fase ativa do trabalho de parto (após 5 cm de dilatação); já na fase latente (fase inicial da dilatação), as contrações são irregulares e sem ritmo. Sobre as fases do trabalho de parto, abordaremos mais à frente. Nené, Marques e Batista (2016) explicam que, como o orifício externo do colo uterino é desprovido de musculatura, ele não irá contrair, o que pode contrair é o orifício interno e, claro, o corpo uterino. Com a pressão vinda da tração no segmento inferior, que atua diretamente no colo, consequentemente, isso propicia o amolecimento do 6 colo anteparto. Assim, o corpo uterino fica mais curto e espesso e o colo, mais fino e dilatado. Normalmente, em primíparas, variam de 6 a 18 horas de trabalho de parto e, nas multíparas, de 6 a 10 horas até a completa dilatação, sem contar o período expulsivo, após a dilatação total de 10 cm. Após o parto, Montenegro e Rezende Junior (2016)comentam que as contrações diminuem até atingir uma em cada 10 minutos, até 12h de puerpério; nesse momento, elas são responsáveis para a involução uterina, um fator interessante é que, quando o bebê suga o peito materno, pode haver aumento dessa atividade uterina, devido aos estímulos hormonais 3 MECANISMO DO PARTO Para o nascimento acontecer, de fato, não são apenas as contrações que fazem todo o trabalho; o feto e a estrutura materna também têm grande importância para a progressão do parto. “Corresponde à sequência dos movimentos passivos da apresentação fetal, que permitem a passagem através do canal do parto” (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 312). Essa adaptação, cujo objetivo, nesse caso, é o feto fazer o trajeto no canal do parto, conta com mais elementos: a força das contrações uterinas e o mecanismo que é o conjunto dos movimentos do feto na bacia (com articulações, ligamento e músculos) (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016). Há alguns aspectos da obstetrícia, acerca da anatomia, que é importante lembrarmos, segundo Graça (2017), a pelve é constituída por quatro ossos: o sacro, o cóccix e o par de ossos formados por íleo, ísquio e púbis. ATENÇÃO Há algumas nomenclaturas e descrições que definem a relação do objeto móvel (o feto) com o organismo materno (eixo uterino), facilitando o entendimento dos profissionais que estão assistindo ao parto, melhorando a comunicação com termos técnicos e entendimento dos acontecimentos. Por isso, citaremos essas nomenclaturas, de forma sucinta, antes de seguir com os movimentos cardinais do feto: • Atitude: é a relação das partes fetais entre si, sendo estas de flexão ou de extensão. A mais comum é a de flexão em que o mento se aproxima do tórax, os membros dobrados na frente do corpo e o dorso ligeiramente curvado para a frente. • Situação: é a relação entre o maior eixo materno e fetal. Essas estão agrupadas em situações longitudinais, transversas ou oblíquas. As longitudinais podem ser classificadas em cefálicas ou pélvicas. [...] 7 • Apresentação: é a parte do feto que se situa no estreito superior da pélvis. As principais apresentações são a cefálica, a de nádegas e a de ombros. • Ponto de Referência: é a parte fetal identificável pelo toque va- ginal, usada para descrever a orientação da apresentação (posi- ção e variedade). [...] • Posição: é a relação do ponto de referência com a parte anterior, posterior ou com as laterais da pélvis materna. • Variedade: é a relação do ponto de referência fetal com os pontos de referência da bacia materna (púbis, sacro [...] anterior ou posterior). É possível perceber algumas das apresentações de um feto de termo na Figura 1, podendo ser diferenciada a posição cefálica fletida (A) e a defletida (B), apresentações pélvicas (E e F) e córmicas (G e H). Figura 1 – Apresentações fetais Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 340) É importante sabermos a posição do feto dentro do útero da mãe no trabalho de parto, com base em alguns fatores, como a atitude e a posição importam muito para uma boa progressão do parto. Graça (2017) explana que, em 96% das gestações, o bebê está em uma situação longitudinal, cefálica (com a cabeça para baixo) e fletido. Além disso, é possível sentir, a partir da manobra de Leopold (palpação abdominal) e também pelo toque vaginal, a apresentação e a variedade do feto. 8 O livro Guia Prático Belly Mapping: descobrindo a posição do bebê na barriga pelo tato, de Gail Tully, oferece as explicações necessárias para interpretar os movimentos e as partes do corpo do bebê e como ele está dentro do útero. Sugerimos a sua leitura, pois é um livro diferente de outros livros técnicos, mais prático e simples de compreender. DICA Nesse momento, podemos abordar os movimentos cardinais do feto, isto é, os movimentos do mecanismo de parto que ocorrem em adaptação aos diâmetros estreitos do canal do parto, os quais se dividem em seis momentos. Zugaib e Francisco (2016) salientam que essa divisão é apenas para fins didáticos, já que, no momento real de uma assistência ao parto, esses momentos acontecem continuadamente sobrepondo um ao outro. Para uma melhor compreensão dos movimentos cardinais do feto, a Figura 2 expressa os mecanismos do parto em apresentação de vértice. Figura 2 – Movimentos cardinais do parto Fonte: Graça (2017, p. 225) 9 A insinuação é o primeiro movimento; é o encaixe do feto, que é a passagem da maior circunferência da apresentação por meio do estreito superior, segundo Montenegro e Rezende Junior (2016), conforme observado na Figura 2 (número 2). A descida consiste no movimento descendente do feto no canal do parto, encontrando-se no estreito médio do canal, conforme a Figura 2 (imagem de número 3). Seguida da flexão do mento fetal sobre a face anterior do tórax, segundo Nené, Marques e Batista (2016), flexão que oferece o menor diâmetro à passagem na pelve, como pode ser observado na Figura 2 (imagens 2 e 3). A rotação interna fetal é outro movimento que acontece continuadamente e é sobreposto aos outros; a rotação interna é a deslocação do occípito no sentido da sínfise púbica, uma rotação de 45° nas anteriores e 90° quando transversas, movimento que é essencial para a progressão do parto (Figura 2, imagem 4), quando a cabeça do bebê entra no assoalho pélvico (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016). A extensão completa pode ser observada na imagem 5 da Figura 2, em que o polo cefálico atinge a vulva, como consequência das contrações e forças, seguindo, nesse momento, a coroação, quando o feto é exteriorizado. Em seguida, há a rotação externa, observada na imagem 6, quando o polo cefálico retoma a atitude anterior à rotação interna inicial, acompanhada pela rotação do tronco, para ajuste do diâmetro dos ombros. Por fim, a expulsão, quando o ombro anterior sai primeiro e depois o posterior, depois da saída dos ombros, o resto do corpo do bebê sai com a força materna sem dificuldade. Esse mecanismo explicado acima tem características únicas em cada nascimento, pois pode variar de acordo com a apresentação fetal e também como tipo de pelve materna. 4 FASES DO PARTO Neste subtópico, emergiremos “nas ondas do mar”, pois é assim que muitos dos profissionais, que trabalham com assistência ao parto, explicam à parturiente como é o trabalho de parto: as contrações são como ondas do mar, que vêm e vão, com uma intensidade progressiva e depois vão embora, sabendo que logo vão voltar. O parto é uma trajetória cheia de emoções e, em cada etapa desse trajeto, há um tipo de sentimento e experiência que a parturiente pode sentir, cabendo também ao enfermeiro guiar essa mulher durante cada fase do parto. Nené, Marques e Batista (2016) afirmam que o início do trabalho de parto se dá quando começam as contrações uterinas regulares e dolorosas, e, consequentemente, ocorre a dilatação do colo uterino. Montenegro e Rezende Junior (2016) explicam que não é tão fácil perceber o início do trabalho de parto real, visto que é necessário um conjunto de acontecimentos, como contrações dolorosas, começando com duas contrações em 10 10 minutos, com duração aproximada de 50 segundos a um minuto, devendo aumentar de frequência. Ainda salientam que, em algumas mulheres multíparas, mesmo com 5 cm de dilatação, a fase ativa do parto pode não ter iniciado ainda. Para Zugaib e Francisco (2016), o fenômeno mais importante são as contrações efetivas, que devem ter frequência regular, sendo esperadas duas a cinco contrações em 10 minutos, com intensidade de 20 a 60 mmHg, com média de 1 minuto de duração. A partir de muitos estudos, dividiu-se o trabalho de parto em períodos, para autores brasileiros, ou estádios, para os autores portugueses. Essa divisão clínica decorre desde o início das contrações uterinas regulares até o puerpério imediato. Estudaremos cada períodoe nos aprofundaremos na assistência que o enfermeiro pode e deve oferecer a mulher/casal/família. 4.1 ASSISTÊNCIA NO PRIMEIRO E NO SEGUNDO PERÍODO DO PARTO O primeiro período é nomeado como o período da dilatação, do apagamento do colo. “Esse período começa com as primeiras modificações cervicais e termina com a dilatação completa do colo uterino (10 cm), de modo a permitir a passagem fetal” (ZUGAIB; FRANCISCO, 2016, p. 326). Esse primeiro período ainda é dividido por duas fases: a latente e a ativa do trabalho de parto. A fase latente, conforme Nené, Marques e Batista (2016) explicam, é a fase de apagamento do colo uterino e do início da dilatação (até 5 cm), podendo ser uma fase mais lenta em primíparas, com duração de mais de 6 horas. Essa fase não tem muito ritmo e pode ser bem variável. Já a fase ativa é considerada após os 5 cm de dilatação até os 8 cm, quando começa a fase de transição (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016). Nesse momento, é possível perceber melhor a relação feto-pélvica. A fase ativa é caracterizada por maior ritmo de contrações e dilatação mais avançada e pode durar também, em média, 6 horas em primíparas. É considerada dilatação total quando atinge os 10 cm, quando não é mais possível tocar o tecido do colo na parte anterior da apresentação fetal. Na Figura 3, podemos observar o processo do primeiro período, a dilatação de uma nulípara (1 a 4) e uma multípara (5 a 8). 11 Figura 3 – Apagamento e dilatação do colo uterino Fonte: Montenegro; Rezende Junior (2016, p. 308) A ruptura da bolsa de águas (amniotomia) ocorre em 80% dos casos no final da dilatação ou no início da expulsão, de acordo com Montenegro e Rezende Junior (2016). Pode acontecer também de romper antes, sendo chamada de rutura prematura de membranas, ou até ficar intacta, sem intervenções desnecessárias até alguma justificativa criteriosa, segundo Nené, Marques e Batista (2016), tipos de partos chamados de empelicados. A amniotomia de rotina não é indicada para acelerar o trabalho de parto, de acordo com muitos estudos e conforme descrito em uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 2018) de cuidados intrapartos para experiências positivas de parto. IMPORTANTE 12 Antes de continuarmos com as fases do trabalho de parto, é de extrema importância que você, acadêmico, futuro profissional enfermeiro, tenha conhecimento do documento da OMS lançado em 2018, intitulado Cuidados intraparto para experiências positivas de parto, que traz 56 recomendações, baseadas em evidências científicas, com o intuito de estabelecer padrões mundiais de cuidados à mulher grávida, de forma saudável, com menos intervenções desnecessárias. Para saber mais sobre esse documento, acesse: http://twixar.me/1gQm. DICA Nomeadamente sobre a assistência do enfermeiro no primeiro período, é imprescindível informar às gestantes sobre a singularidade de cada parto para cada mulher, a intensidade da dor e o tempo do parto, que pode ser diferente para cada parturiente. O incentivo para que a parturiente adote posições que facilitem a progressão do trabalho de parto também faz parte do papel do enfermeiro, como a verticalização, a deambulação e a movimentação da pélvis. A utilização da bola suíça, durante essa fase, traz muitos benefícios, como a descida do bebê pelos estreitos da pélvis. Nené, Marques e Batista (2016) ainda afirmam que a utilização do chuveiro também deve ser encorajada, bem como a realização de massagens, a musicoterapia e outros métodos que transmitam segurança e calma. Além de envolver o casal na tomada de decisão e a mulher como protagonista desse momento, promover um ambiente calmo e tranquilo, livre de barulhos e distrações, também é necessário esclarecer todos os procedimentos realizados, tendo uma comunicação clara e adequada para esse momento. O enfermeiro deve também lembrar a gestante de urinar com uma certa regularidade, para evitar a distensão vesical, pois isso pode se tornar uma barreira para a descida do feto no canal do parto. A monitoração cardíaca fetal também deve ser realizada durante o primeiro período do parto, visto a importância do bem-estar materno-fetal. Conforme as reco- mendações da OMS (WHO, 2018), realiza-se a ausculta cardíaca fetal intermitente, com Doppler móvel, Sonar ou Pinard de estetoscópio. A verificação dos sinais vitais maternos no período também faz parte da assistência de Enfermagem. Já o segundo período do parto, chamado de período expulsivo, o qual se inicia com a dilatação completa e se encerra com a saída total do feto (MONTENEGRO; REZENDE JUNIOR, 2016), há a presença da descida do feto pelo canal vaginal e as contrações voluntárias da parede abdominal, que vêm do termo “vontade de empurrar” ou os “puxos”; aos poucos, a vulva se abre com a apresentação fetal e, logo em seguida, o desprendimento total. Esse período, segundo Nené, Marques e Batista (2016), pode durar alguns minutos ou até 3 horas, sendo necessário saber a fisiologia do parto, para, nesse momento, evitar intervenções desnecessárias, visto que é um momento em que a paciência é uma virtude. 13 Nesse período, o profissional deve encorajar a mulher a escolher a posição que seja mais confortável para ela parir, conforme Figura 4. A vocalização também deve ser apoiada, sem julgamentos e, claro, a orientação para o acompanhante estar presente, de maneira agradável, dando o suporte que a parturiente, também necessário nesse período. Vários autores explanam sobre os benefícios da verticalização da mulher no parto, como as recomendações da OMS. Nesse sentido, segundo Nené, Marques e Batista (2016), posições como cócoras, ajoelhada, de pé, sentada e de gatas têm muitas vantagens, como melhora do fluxo uteroplacentário e da ventilação pulmonar materna, melhoria da eficiência da contratilidade uterina, melhora no alinhamento de feto e pelve materna, aumento dos diâmetros da pelve, otimização do esforço materno, ação da gravidade ao favor do nascimento, além de fatores que se relacionam ao protagonismo da mulher no parto, pois fazem com que a mulher tenha mais poder de escolha e participação no nascimento do seu filho, facilitando a vinculação e o aumento das experiências positivas de parto. Outro fator importante é a diminuição dos partos instrumentalizados. INTERESSANTE Figura 4 – Posição de cócoras sustentada Fonte: Nené, Marques e Batista (2016, p. 345) Para finalizar as abordagens assistenciais desse período específico, Nené, Marques e Batista (2016) ainda ressaltam que o profissional deve estar atento a sinais de alerta, como desacelerações fetais tardias e que demoram para se recuperar, ou que se mantêm em desacelerações – nesses casos, pode ser necessário suporte de oxigênio, conforme solicitação médica. 14 4.2 ASSISTÊNCIA NO TERCEIRO E NO QUARTO PERÍODO DO PARTO O terceiro período é designado quando a dequitadura da placenta acontece e, segundo Nené, Marques e Batista (2016, p. 310), “decorre desde a expulsão do feto até à expulsão da placenta”. Há uma diminuição das contrações uterinas, após a saída do feto, e da área de implantação da placenta, fazendo com que ocorra uma tensão e rutura das vilosidades, a formação de hematoma retroplacentar e aí o descolamento da placenta e de sua expulsão. Essa saída da placenta tem dois tempos: a separação da placenta da parede do útero e sua descida; e a saída dela até a vulva. A placenta pode sair apresentando a face lisa (conhecido como mecanismo de Schultze) ou a face rugosa (conhecido como mecanismo de Duncan), como mostra a Figura 5, demonstrando dois tipos de dequitação da placenta: a imagem “A” retrata o mecanismo de Schultze, sendo mais comum (em 75% dos casos), e a imagem “B”, o mecanismo de Duncan. Figura 5 – Dequitação da placenta Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 329) Nené, Marques e Batista (2016)ainda destacam os sinais do terceiro período: • Contrações uterinas. • Mudança da forma discoide do útero para ovoide, à medida que a placenta se descola para o segmento inferior. • Saída súbita de sangue à vulva. • Descida do cordão ou aumento aparente do cordão, à medida que a placenta desce para o introito vaginal. • Aumento do volume vaginal observável (NENÉ; MARQUES; BATISTA, 2016, p. 311). O tempo da dequitadura é variável, podendo variar de minutos até ser aguardado 45 minutos a 1 hora após a expulsão do feto, segundo Nené, Marques e Batista (2016). Já para Zugaib e Francisco (2016, p. 329), em “80% dos partos a dequitação se dá nos primeiros 10 minutos”. 15 A placenta, sendo um órgão, gerado na gestação, para nutrir o bebê dentro do útero, guarda um grande significado e, por isso, é interessante o enfermeiro dar a opção para a mulher ver e conhecer a placenta. Além disso, é necessário que o enfermeiro verifique se há a ausência de algum cotilédone na placenta, podendo serem evitados restos placentários dentro do útero. A assistência do profissional, nesse momento, também é diminuir a hemorragia pós-parto. A OMS (WHO, 2018) traz como recomendação a tração controlada do cordão umbilical, para a saída da placenta, apenas quando considerada uma perda de sangue significativa e uma prolongação do terceiro período do trabalho de parto. Assim, essa manobra não deve ser feita rotineiramente. A administração de uterotônicos também é uma atitude ativa do profissional, conforme as recomendações para evitar hemorragias no pós-parto imediato. No quarto período, conhecido como puerpério imediato, ou período de Greenberg, correspondente à primeira hora após o parto. Nené, Marques e Batista (2016) salientam que esse momento é fundamental, nos processos hemostáticos, para impedir o sangramento em excesso. Visto a grande probabilidade de hemorragias nesse período, a assistência, a vigília e a observação da puérpera são essenciais. A verificação do globo de segurança de Pinard também é mencionado por Nené, Marques e Batista (2016), o qual corresponde à avaliação da contratilidade uterina, a partir da palpação do útero pelo abdome da mulher, verificando, assim, a ausência de uma atonia uterina. Na primeira hora, o útero deve se manter sempre contraído, completando o mecanismo de hemostasia. Zugaib e Francisco (2016) demonstram os fenômenos de miotamponamento, que se refere à contração do útero e, consequentemente, à oclusão dos vasos miometriais, conhecido como globo vivo de Pinard, e o trombotamponamento, que diz respeito à formação de trombos nos vasos uteroplacentários e, posteriormente, aos coágulos intrauterinos – ambos são fenômenos importantes de defesa do corpo uterino contra uma hemorragia. Para a assistência de Enfermagem, nesse momento, é de grande importância priorizar as queixas maternas, manter estáveis os sinais vitais da puérpera e a vigília de perdas sanguíneas, que evitam desfechos infelizes. 5 PARTO INSTRUMENTADO É importante salientarmos que partos instrumentados podem acontecer, devido a intercorrências obstétricas e distócias do parto, quando estas não são resolvidas por outros meios, sem a necessidade de instrumentos como fórceps, extrator a vácuo (ventosa obstétrica) e episiotomia (corte no períneo). A atualização de estudos, acerca do uso dessas intervenções instrumentais, tem crescido, mostrando técnicas novas e também indicações baseadas em evidências científicas para a uso de tal instrumentos. 16 Sendo um procedimento de competência do médico obstetra, o fórceps e o extrator a vácuo precisam de um olhar menos rotineiro, bem como a episiotomia que faz parte tanto da competência médica como de enfermeiros especialistas em obstetrícia. Para iniciarmos essa abordagem, é interessante saber que o pH do sangue fetal tende a diminuir no terceiro período, que é o período expulsivo, Zugaib e Francisco (2016) ainda explicam que faz parte da fisiologia do parto o desenvolvimento de uma moderada acidose. Entretanto, quando o feto apresenta uma desaceleração tardia, na qual esta faz com que o oxigênio caia a níveis menores ou iguais a 18 mmHg, há uma suspeita de sofrimento fetal que deve ser avaliada, e é indicada a abreviação do período expulsivo. O fórceps é um instrumento com dois ramos. Graça (2017) explana que há o lado direito e o esquerdo do fórceps, formado por uma colher, que se adapta à cabeça do bebê e ao canal do parto, e o cabo, para o médico poder manipular (Figura 6). Os dois ramos ligam-se como uma articulação pelo cabo. Zugaib e Francisco (2016) ainda afirmam que o uso do fórceps foi devidamente assegurado após estudos iniciais que mostravam a sua segurança, quando na presença de uma equipe treinada para a realização desses partos e um obstetra com mãos treinadas para uso desse instrumento. Para evitar a compreensão desequilibrada e excessiva da cabeça fetal, é de extrema importância que as colheres do fórceps sejam perfeitamente simétricas e que a distância entre si no ponto de maior afastamento se adapte ao diâmetro biparietal do feto de termo [...] o operador nunca deve forçar demasiadamente a junção dos cabos (GRAÇA, 2017, p. 559). Figura 6 – Fórceps Fonte: Zugaib; Francisco (2016, p. 419) 17 Indicações para a aplicação do fórceps, segundo Graça (2017) e Zugaib e Francisco (2016): • período expulsivo prolongado e exaustão materna; • necessidade obstétrica de abreviar o período expulsivo, quando há risco materno- fetal; • traços cardíacos suspeitos de hipóxia fetal (sofrimento fetal). Entre as condições maternas e fetais para aplicação do fórceps, segundo Graça (2017) e Zugaib e Francisco (2016), estão: • dilatação completa (10 cm) do colo uterino; • bolsa de água rota; • feto vivo; • apresentação fetal cefálica e encravada; • compatibilidade feto-pélvica; • anestesia local, dos nervos pudendos, ou quando necessária epidural. São contraindicações para o uso do fórceps, segundo Graça (2017), o não cumprimento das condições maternas e fetais citadas anteriormente, e a não familiarização do médico obstetra com o uso do fórceps. Já a ventosa obstétrica, ou o extrator a vácuo, é outra proposta de instrumento para extração do feto, quando se faz necessária. Atualmente, consiste em um instrumento de silicone ou plástico, com um mecanismo manual ou elétrico de bomba a vácuo, conforme mostra a Figura 7. Graça (2017, p. 568) explica que se baseia em uma técnica de “força externa de tração ao escalpe fetal através do vácuo”, salientando que a essa tração, associada ao esforço materno e contrações uterinas do período expulsivo, facilita a passagem do feto. Além disso, Graça (2017) defende que o vácuo é aplicado sob o tecido do escalpe fetal, fazendo com que este forme um edema e penetre na concavidade da ventosa. Um ponto importante que vários autores trazem é que só pode ser utilizada a ventosa com um manômetro, para poder saber a precisão da pressão. Entre as indicações para o uso da ventosa, segundo Graça (2017), estão: • apenas em apresentações de vértice; • sinais de sofrimento fetal no expulsivo; • abreviação do período expulsivo. 18 Já as complicações da ventosa, segundo Graça (2017), são: • caput, pigmentação da pele do escalpe do bebê; • traumatismo pequenos como erosão do escalpe, céfalo-hematoma e hemorragia retiniana; • esões traumáticas maiores: lacerações do escalpe, hematoma subaponevrótico, hemorragia intracraniana e fratura craniana; • lesões indiretas, como paralisias e fraturas de membros superiores e ombros. Figura 7 – Ventosa Fonte: Graça (2017, p. 568) O uso, de forma rotineira, de intervenções no parto e instrumentalização rotineira altera totalmente o curso fisiológico do parto normal e, infelizmente, inicia o que é chamado de cascata de intervenções, em que uma intervenção condiciona a outra sucessivamente, aumentandoa complexidade e o risco de desfecho desfavorável do parto. ATENÇÃO O corte no períneo, conhecido como episiotomia, segundo Graça (2017), não é necessário ser realizado antes da aplicação do fórceps. O autor ainda salienta que a episiotomia é considerada uma lesão perineal de 2º grau, realizada com o intuito de facilitar o segundo período do trabalho de parto e melhorar o desfecho materno fetal. Entretanto, é necessário discutirmos as controvérsias quanto à realização de episiotomia, pois não há evidências científicas que mostram que esse procedimento evita lacerações graves, muitos autores referem que previne riscos maiores de lacerações graves, incontinência urinária e fecal sem ter comprovação científica para tal. “O uso rotineiro ou liberal da episiotomia não é recomendado para mulheres submetidas a parto vaginal espontâneo” (LEAL et al., 2019, p. 9). 19 Em 2018, a OMS determinou como uma prática não recomendada durante o parto, explicando que: Embora a evidência da revisão sobre os efeitos comparativos das políticas de episiotomia tenha sido apresentada como uso seletivo/ restritivo versus uso rotineiro/liberal da episiotomia, devido aos efeitos benéficos da episiotomia seletiva/restritiva em comparação com a política de episiotomia de rotina/liberal, a falta de evidências sobre a eficácia de episiotomia em geral, e a necessidade de desencorajar o uso excessivo de episiotomia de rotina em todos os locais, o Grupo de Desenvolvimento de Diretrizes (GDG) sentiu que era importante enfatizar que o uso rotineiro/liberal da episiotomia “não é recomendado”, ao invés de recomendar o uso seletivo/restritivo da episiotomia. O GDD reconheceu que, no momento, não há evidências que corroborem a necessidade de qualquer episiotomia em cuidados de rotina, e uma taxa “aceitável” de episiotomia é difícil de determinar. O papel de episiotomia em emergências obstétricas, como sofrimento fetal com necessidade de parto vaginal instrumental, continua a ser estabelecido. Se uma episiotomia for realizada, anestesia local eficaz e o consentimento informado da mulher são essencial. A técnica preferida é a incisão médio-lateral, pois as incisões na linha média estão associadas a um maior risco de lesão obstétrica complexa do esfíncter anal (OASI) (WHO, 2018, p. 150, tradução nossa). Graça (2017, p. 580) ainda salienta que, “Portanto, à luz do conhecimento atual, não existem critérios bem definidos nem uniformes para se realizar uma episiomia [...] os dados que dispomos não apoiam a execução da episiotomia por rotina [...] por isso o juízo clínico individual deve prevalecer”. Após a realização de uma episiotomia, é necessário realizar uma episiorafia, que é o reparo dos tecidos com sutura, optando por suturas monofilamentares, para evitar risco infeccioso, competências estas do obstetra, do enfermeiro obstetra, da obstetriz e da parteira. 6 INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO A indução do trabalho de parto é induzir, artificialmente, a contratilidade uterina, para iniciar o trabalho de parto, antes de iniciado espontaneamente. Graça (2017) afirma que é “indicada quando os benefícios para a mãe e para o feto são maiores do que os de deixar prosseguir a gravidez, pelo que deve restringir-se aos casos em que há indicações clínicas formais”. A indução de um parto deve ser realizada apenas quando há real necessidade, para evitar, assim, a medicalização do parto. Por isso, as indicações para indução de trabalho de parto, segundo Graça (2017), Nené, Marques e Batista (2016), e Zugaib e Francisco (2016), são: 20 • Gravidez pós-termo, maior que 41 semanas de gestação. • Rutura prematura de membranas. • Comorbidades maternas, como diabetes e hipertensão. • Situações de patologia associadas a hipertensão induzida pela gravidez, pré-eclâmpsia, eclampsia e síndrome de HELLP. • Estado fetal não tranquilizador. • Feto morto ou anômalo. Para iniciar uma indução de parto, é preciso saber as opções disponíveis, os métodos para indução, relacionando sempre com a avaliação do cérvix, ou seja, de como o colo uterino está. Para isso, existe uma avaliação chamada de Índice de Bishop, que, segundo Nené, Marques e Batista (2016), correlaciona dados da avaliação do colo uterino e a decisão do método a ser utilizado. Nesse índice, são avaliados a dilatação do colo, a consistência, o apagamento, a posição e a altura em relação às espinhas isquiáticas; a partir disso, se o número final do índice de Bishop for igual ou inferior a 5, esse colo é desfavorável e deve ser analisado, primeiramente, uma maturação do colo, ou seja, um amolecimento com prostaglandinas. Acima de 7,0, já pode ser iniciada a indução com oxitocina. Zugaib e Francisco (2016) e Graça (2017) trazem os métodos de indução do trabalho de parto, divididos em mecânicos e farmacológicos, podendo ser abordados como: • Mecânicos: ◦ Deslocamento digital das membranas é um método muito conhecido, utilizado para estimular a produção de prostaglandinas, a partir de um toque vaginal, no qual o profissional ultrapassa o orifício interno do colo para separar, com o dedo, as membranas amnióticas da parte inferior do útero, teoricamente, pode desencadear um trabalho de parto em 48 horas. ◦ Sonda Foley também é um método mecânico conhecido, em que a sonda é colocada na parte interior do orifício do colo uterino, inflando o balão para fazer pressão mecânica no colo uterino, de dentro para fora. A sonda é eliminada em 12 horas. Esse método pode ser utilizado em mulheres com cesariana prévia, visto que mulheres com histórico de cesariana não devem utilizar a indução de parto com prostaglandina misoprostol. • Farmacológicos: ◦ Prostaglandinas (PGE1 e PGE2): utilizadas para maturação do colo uterino, podendo ser de uso endocervical por via vaginal ou via oral. Deve seguir os protocolos de cada instituição, respeitando os períodos entre os comprimidos conforme a mg. As gestantes entram em trabalho de parto, geralmente, após 12 horas do uso da primeira prostaglandina. Essas prostaglandinas não devem ser utilizadas concomitantemente com ocitocina, devendo aguardar um período de 4 horas para usar a ocitocina após prostaglandinas. 21 ◦ Ocitocina: agente mais conhecido nas induções de parto. Sendo um uterotônico sintético, realizado por via endovenosa, com controle de gotejamento, por meio de bomba de infusão. Começa com doses iniciais e aumenta a dose conforme o passar das horas, até obter contrações efetivas e regulares. É de extrema importância a avaliação da vitalidade fetal antes e durante a indução de trabalho de parto, principalmente em uso de métodos farmacológicos, devendo atentar para bradicardias fetais ou acelerações fetais que não estabilizam. ATENÇÃO Outra técnica que é observada a sua utilização nos centros obstétricos é a amniotomia, utilizada para acelerar o trabalho de parto em curso, e de forma rara para indução do trabalho de parto. A OMS (WHO, 2018, p. 117, tradução nossa) recomenda: “O uso de amniotomia isoladamente para prevenção de atraso no trabalho de parto não é recomendado [...] O uso de amniotomia precoce com aumento precoce de ocitocina para prevenção de atraso no trabalho de parto não é recomendado”. Para finalizar, é necessário discutirmos que, atualmente, não apenas no Brasil, mas em grande parte do mundo, há uma alta taxa de indução de partos, muitas vezes desnecessárias, com aumento também da taxa de cesarianas por distócias funcionais do parto e sofrimento fetal. Esses mecanismos de indução devem ser realizados apenas quando bem indicados, conforme citado no início deste subtópico. O enfermeiro, como profissional importante da equipe no centro obstétrico, pode e deve informar à parturiente essas indicações, baseadas em evidências científicas e, quando realizadas, ele deve praticaro cuidado e a vigília materno-fetal durante todo o período da indução do parto. 22 Neste tópico, você aprendeu: • Para uma contração uterina acontecer, é necessária a formação de gap junctions, além da síntese de prostaglandinas e do aumento de receptores de ocitocina. • O trabalho de parto é diagnosticado pela presença de contrações regulares e efetivas, iniciando com duas contrações em 10 minutos, podendo chegar a cinco contrações em 10 minutos, com duração de 50 segundos a 1 minuto. • Conhecer o mecanismo do parto é fundamental para uma assistência de qualidade durante o parto e o nascimento, sendo as apresentações cefálicas fletidas mais comuns, com mais facilidade no encravamento e na expulsão fetal. • As fases do trabalho de parto podem ser divididas em quatro períodos: o primeiro caracterizado pela dilatação do colo do útero, passando pela fase latente, pela fase ativa, pela fase de transição até os 10 cm de dilatação; o segundo período, pela expulsão do feto; o terceiro período, pela dequitadura da placenta; e, por fim, o quarto período sendo o puerpério imediato. • O quarto período, ou período de Greenberg, é a primeira hora após a expulsão da placenta, quando ocorrem dois fenômenos conhecidos como miotamponamento e trombotamponamento, responsáveis pela estabilização de hemorragia uterina no pós-parto imediato. • A assistência do enfermeiro, em cada período do trabalho de parto, vai muito além da parte técnica, devendo ser vista com humanização e cuidado integral da parturiente e da família. • Um parto instrumentado deve ter assistência de uma equipe preparada, segura e ágil, bem como de um profissional condutor capacitado e familiarizado com tais procedimentos, a fim de evitar desfechos infelizes. • A ocitocina é um método de indução farmacológica, uma das principais formas utilizadas em induções de trabalho de parto, que necessita, frequentemente, de monitoração cardíaca fetal. RESUMO DO TÓPICO 1 23 1 Os estudos da fisiologia do parto mostram que a bioquímica, para o início do trabalho de parto, é dividida em fases: a fase 0 da quiescência, com a ação da progesterona evitando partos prematuros, seguida pela fase 1 de ativação miometral, pela fase 2 de estimulação e contração uterina, e pela fase 3 de involução uterina no pós-parto. A fase 2, das contrações efetivas, é precedida por uma preparação do útero e do colo, indolor e irregular. Com base em como é conhecida essa fase, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) Preparação de quiescência, conhecidas como preparação para o parto. b) ( ) Contrações de Braxton-Hicks, conhecidas como as contrações de treinamento. c) ( ) Contrações de Partos-Hicks, conhecidas como as contrações de treinamento. d) ( ) Contrações de ativação miometral, conhecida como preparação para o parto. 2 Considera-se que um falso trabalho de parto não tem contrações regulares nem dilatação do colo do útero e muito menos a percepção da dor. Sobre a importância de se reconhecer a diferença entre um falso trabalho de parto e um trabalho de parto verdadeiro, analise as sentenças a seguir: I- O trabalho de parto verdadeiro tem a presença de contrações uterinas regulares, com intervalos cada vez menores, chegando apenas até duas contrações em 10 minutos. II- A percepção da dor de uma contração pode ocorrer tanto na lombar da parturiente como na região de baixo ventre. III- É possível identificar a presença de uma contração quando se sente o útero endurecido à palpação abdominal, além da valorização da queixa da parturiente sobre a dor da contração. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças II e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 A indução do trabalho de parto é um procedimento que deve ser realizado com cautela e apenas quando realmente necessário, conforme indicações clínicas baseadas em evidências científicas. De acordo com as indicações para indução de trabalho de parto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: AUTOATIVIDADE 24 ( ) Deve ser induzido o parto em caso de gravidez pós-termo, que corresponde ao período após as 39 semanas de gestação. ( ) Situações como pré-eclâmpsia, eclâmpsia, hipertensão induzida pela gravidez, síndrome de HELLP e diabetes são indicações para a indução do trabalho de parto. ( ) A indução do trabalho de parto é indicada apenas quando os benefícios para a mãe e o feto são maiores do que se a gestação for mantida. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) F – V – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) V – F – V. 4 O trabalho de parto é um evento fisiológico, um conjunto de fenômenos espontâneos que conduz a dilatação do colo uterino e a expulsão do feto. O parto eutócico acontece quando não há intervenções, seguindo-se todos os períodos de forma definida e sem intercorrências. Diante disso, disserte sobre as fases do trabalho de parto e alguns pontos importantes para a assistência do enfermeiro nos períodos elencados. 5 Acerca do parto instrumentado, ou parto distócico, percebe-se que, atualmente, são utilizadas práticas rotineiras de uso de instrumentos durante o período expulsivo, com a justificativa de apressar o parto e ajudar a parturiente. Nesse contexto, disserte sobre a utilização desses instrumentos e quando realmente eles se fazem necessários. 25 ATRIBUIÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE NO CENTRO OBSTÉTRICO UNIDADE 1 TÓPICO 2 — 1 INTRODUÇÃO O parto é um evento único, em que a mulher, que está grávida, decide o ambiente onde deseja realizar o parto e os profissionais que estarão com ela – isso não exclui os profissionais que já devem estar presentes nesse momento, como no caso de um centro obstétrico de uma instituição hospitalar, em que há as equipes capacitadas com cada profissional especialista da área, sendo médico, enfermeiro, técnico de Enfermagem, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta etc. Além desse suporte, não podemos nos esquecer da presença de um acompanhante, que não pode ser substituído pela presença da doula, e vice-versa. Antigamente, os profissionais envolvidos no parto eram apenas as parteiras e suas auxiliares, não sendo um ato médico, mas, sim, pertencente a esse grupo de mulheres envolvidas no parto e no nascimento. Com o passar do tempo e com o aumento do uso de tecnologias, o estudo da medicina evoluiu e os usos de intervenções no parto, consequentemente, aumentaram, deixando a parteira de ser a profissional envolvida no parto para dar lugar ao médico. Infelizmente, percebeu-se que a autonomia da mulher no parto acabou sendo ofuscada com a figura desse novo agente, assim como o respeito a seu corpo e suas escolhas. Diante de muitas manifestações e dados sobre o aumento da mortalidade materno-fetal, os agentes de saúde iniciaram mudanças para melhorar a assistência ao parto e inserir boas práticas de parto e nascimento. Um dos fatores indicados foi a inserção da equipe multidisciplinar, que, hoje, é percebida como de grande importância para gestação, organização, agilidade, qualidade de humanização da assistência à parturiente. Com isso, o enfermeiro ganhou muito mais autonomia nesse cenário, junto à mulher, e a Enfermagem obstétrica mostrou-se, e ainda se mostra, capaz de trazer grandes contributos, quando inserida no cuidado à parturiente. Dessa forma, neste tópico, abordaremos, um pouco mais, as atribuições desses profissionais envolvidos no parto e no nascimento dentro do centro obstétrico, para, em seguida, nos aprofundarmos nas rotinas desse setor. 26 2 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR Uma equipe multidisciplinar nada mais é do que um grupo de profissionais, cada qual comsua especificidade, em grande maioria juntos por um objetivo geral comum – no caso do centro obstétrico, o maior objetivo seria o bem-estar da tríade na vivência do parto e do nascimento. Essa equipe especializada e capacitada traz maior segurança para a mãe em um momento especial da vida dela, visto que há uma partilha de informações, conhecimentos e também uma assistência de qualidade, promovendo, assim, uma experiência mais positiva do parto e do nascimento. É importante salientar que, além da assistência técnica de cada profissional, a humanização no cuidado à parturiente é um dos fatores mais importantes nesse meio. Evangelista et al. (2016) comentam essas iniciativas, salientando que deve ser promovida a humanização na equipe multidisciplinar. Entretanto, percebe-se que ainda há fatores que não contribuem para o bem- estar materno e fetal; atualmente, no Brasil e em outros países, um deles é a falta assistência multidisciplinar, o trabalho em equipe. “Aponta-se, nessa perspectiva, que uma grande parte das complicações que envolvem a saúde materna e perinatal revela que a equipe não atua de forma conjunta devido à comunicação desarticulada e deficiente” (BRAZ et al., 2019, p. 2). É claro que esse problema, em potencial, não ocorre só por causa da falta de articulação entre os profissionais, sendo, talvez, uma questão multifatorial. Verificou-se outra vertente sobre a compreensão de que este é um processo complexo que envolve a articulação dos distintos níveis de atenção, a gestão das instituições de saúde e boas condições de infraestrutura e recursos humanos. Os autores também enfatizaram que é necessário que haja condições favoráveis para os profissionais de saúde desenvolverem seu trabalho, além de estímulo, qualificação e aperfeiçoamentos, subsídios fundamentais para a efetivação de práticas que busquem atender às necessidades das usuárias (BARROS; MORAES, 2020, p. 89). Nesse sentido, devemos encarar que a assistência multiprofissional deve ser observada como um trabalho de saúde coletivo, “embora, entre as diferentes categorias, ainda predomine a tendência de se satisfazer aspirações profissionais e criar hegemonias, a interdisciplinaridade assume uma grande importância, uma vez que identifica e nomeia uma mediação possível entre os saberes e competências” (BRAZ et al., 2019, p. 7). 27 As Diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2017a), trazem recomendações para os profis- sionais seguirem uma assistência mais organizada, humanizada e baseada em evidência científica durante o parto, relatando quais profissionais devem estar envolvidos nessa assistência direta: mé- dicos obstetras, pediatras, neonatologistas, anestesiologistas, ge- neralistas, enfermeiros obstétricos, obstetrizes, enfermeiros assis- tenciais e técnicos de Enfermagem, além de todos os profissionais envolvidos indiretamente na assistência ao parto, como fisiotera- peutas, psicólogos, nutricionistas, doulas e educadores perinatais. IMPORTANTE O hospital, muitas vezes, é considerado, pela parturiente, um local diferente do comum, que ainda traz a lembrança de “doenças”; dessa forma, para a família, deve ser ofertado um ambiente adequado para o parto, além de profissionais capacitados, uma equipe especializada e que acolha a mulher nesse momento especial, que é a vinda de um novo ser. De acordo com Carraro et al. (2008), quando ocorre uma comunicação adequada, um acolhimento, uma escuta ativa e que traz a sensação de conforto e segurança para a mulher, nesse momento, há uma solidificação do cuidado integral à saúde dessa parturiente, com apoio emocional e físico, promovendo a participação ativa dessa agente principal do parto, a mulher. 3 O ENFERMEIRO GENERALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO É importante salientar a grande importância das atribuições do enfermeiro generalista dentro desse setor, visto que ele se insere na equipe interdisciplinar e sabe da sua importância para um cuidado de qualidade às parturientes, escutando, de forma ativa, as necessidades delas. Verifica-se que essa é uma realidade observada em outro trabalho, realizado com enfermeiros obstetras na região sul de Santa Catarina, que destacou a importância do apoio da equipe multiprofissional para o fortalecimento da autonomia do enfermeiro e, consequentemente, a melhoria da assistência como um todo (BRAZ et al., 2019, p. 6). Nesse sentido, é importante destacarmos as competências do profissional inserido nesse meio, segundo o Decreto nº 94.406, de 8 de junho de 1987 (BRASIL, 1987). 28 Segundo o Art. 8º, ao Enfermeiro incumbe: I- privativamente: [...] h) prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puérpera e ao recém-nascido; j) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; l) execução e assistência obstétrica em situação de emergência e execução do parto sem distocia (BRASIL, 1987). NOTA Nota-se que, além das competências generalistas, em vários estudos, a visão holística e desmedicalizada do enfermeiro na assistência ao parto se destaca entre os outros profissionais. “Pontua-se que, para tanto, a sua autonomia profissional deve ser preservada e os profissionais de saúde devem atuar em conformidade com a legislação brasileira e, também, com as resoluções e pareceres normativos dos conselhos e categorias em que se inserem” (BRAZ et al., 2019, p. 7). O Enfermeiro sem as titulações [...] poderá realizar, como integrante da equipe de saúde, o acompanhamento do trabalho de parto normal, realizar dinâmica uterina e toque vaginal, entretanto, o conteúdo abordado na graduação não o capacita integralmente para a realização de parto normal sem distocia. Não compete ao Auxiliar e Técnico de Enfermagem a realização de dinâmica uterina e toque vaginal (COREN-SP, 2013, p. 5). O enfermeiro, nesse cenário, contribui para uma assistência humanizada, possibilitando um espaço de conforto à mulher, observando queixas, necessidades e medos da parturiente, informando a parturiente sobre procedimentos e condutas do setor, colocando em prática o consentimento informado e a estimulando a se tornar a protagonista do seu parto, ao promover a presença do acompanhante e também realizar métodos naturais de alívio da dor no momento das contrações; além disso, o enfermeiro se mostra como o principal agente que valoriza a cultura, a crença, as necessidades e os desejos da parturiente durante o parto, ou seja, é um profissional “chave” dentro do centro obstétrico. “Desse modo, é necessário que na gestão da assistência relaciona- se a um processo social e humano envolvendo a motivação, liderança, participação, comunicação, colaboração e influência interpessoal” (AMORIM; BACKES, 2020 apud SILVA et al., 2020, p. 180). 29 4 O ENFERMEIRO ESPECIALISTA NO CENTRO OBSTÉTRICO Diante das atribuições citadas no Art. 9º do Decreto nº 94.406/1987 (BRASIL, 1987), é importante relacionarmos essas competências com alguns dados observados no portal do governo brasileiro de atenção às mulheres, o qual explica que, desde 1990, observou-se os países que inseriram os enfermeiros obstétricos na assistência ao parto, concluindo-se uma redução significativa da mortalidade materna de 2 a 5% no ano. Art. 9º Às profissionais titulares de diploma ou certificados de Obstetriz ou de Enfermeira Obstétrica, além das atividades de que trata o artigo precedente, incumbe: I- prestação de assistência à parturiente e ao parto normal; II- identificação das distocias obstétricas e tomada de providência até a chegada do médico; III- realização de episiotomia e episiorrafia, com aplicação de anestesia local, quando necessária (BRASIL, 1987). Essa prática de atuação dos enfermeiros especialistas em obstetrícia e ginecologia é reconhecida pela OMS, e, ainda,
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