Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 clínica cirúrgica 7 - infecções bacterianas da pele e tecido celular subcutâneo - Infecção em cirurgia pode ser conceituada como sendo o resultado da invasão, multiplicação, atividade metabólica e consequentes efeitos fisiopatológicos de microrganismos sobre os tecidos de um indivíduo. Pode ser primária, quando se instala num paciente sem história prévia de cirurgia ou traumatismo, ou secundária a um trauma, acidental ou cirúrgico, que favorece a implantação dos microrganismos. Em ambas as formas, primária e secundária, existe um fator que rompe o equilíbrio entre as defesas orgânicas do hospedeiro e a virulência bacteriana. Podemos classificar as infecções de pele e tecido celular subcutâneo de interesse para a cirurgia ambulatorial em dois grupos, a saber: Pele e Tecido Celular Subcutâneo • Erisipela • Celulite • Abscesso • Fleimão • Panarício • Linfadenite aguda Anexos da Pele • Furúnculo • Carbúnculo • Hidradenite supurativa - Para obter sucesso no tratamento da maioria dessas afecções, é necessário eliminar as condições locais que favorecem a proliferação bacteriana ou que dificultam os mecanismos de defesa local do organismo. Essas medidas incluem retirada de corpos estranhos, ressecção de tecidos desvitalizados, regularização das bordas de uma ferida, eliminação de espaço morto, drenagem ampla das secreções, fechamento secundário dos ferimentos tão logo seja possível e repouso do segmento atingido. INFECÇÕES DA PELE E DO TECIDO CELULAR SUBCUTÂNEO - São aquelas em que os microrganismos se encontram no seio dos tecidos, favorecendo a atuação dos mecanismos de defesa do organismo, porém tornando mais intensa a atuação desses microrganismos sobre o hospedeiro. Aqui, eles encontram maior facilidade de propagação através das várias vias possíveis (tecidual, sanguínea e linfática). Além disso, as substâncias tóxicas produzidas são mais facilmente absorvidas, pois não são eliminadas para o exterior. Ocorre, então, maior intensidade, não só dos fenômenos locais como dos sistêmicos. ERISIPELA - É um tipo de celulite superficial da pele que apresenta envolvimento linfático marcante. - As portas de entrada mais comuns são úlceras de pele, lesões traumáticas, picada de insetos, abrasões, lesões eczemáticas ou psoriásicas e infecções fúngicas. - Às vezes, as lesões são tão pequenas que passam despercebidas, porém, mais frequentemente, são originadas de ferimentos maiores ou de lesões ulceradas. Os fatores predisponentes incluem: estase venosa, paraparesia, diabetes melito e abuso de álcool, obesidade. - A erisipela tende a ocorrer em áreas de obstrução linfática ou de edema. Como ela própria causa obstrução linfática, é comum haver recidiva em áreas de infecção prévia, principalmente nos indivíduos com insuficiência vascular venosa ou linfedema. A porcentagem de recorrência é de 10% a 30% dos casos. - A doença é mais comum na região da perna (70% a 80% dos casos). No passado, a face era a região mais acometida, porém, atualmente, somente 5% a 20% dos casos ocorrem nessa área. A erisipela facial predomina em crianças. - Acomete com maior frequência crianças pequenas e adultos após o quarto decênio de vida. - Nos recém-nascidos, pode ser secundária a infecção do coto umbilical. - A erisipela caracteriza-se, clinicamente, pelo aparecimento abrupto de manifestações sistêmicas, tais como febre elevada, cefaleia, calafrios, mal-estar e desânimo. Acompanhando esse quadro aparece, no local da lesão, uma mancha avermelhada, quente, dolorosa (geralmente em queimação), de bordas elevadas e bem delimitadas. Em geral, a lesão aparece 6 h a 12 h após o início dos sinais e sintomas gerais. A parte afetada torna-se lisa e brilhante, em decorrência do edema que usualmente acompanha o processo. Frequentemente ocorrem linfangite e linfadenomegalia. - Em alguns casos (5%), geralmente mais graves, ocorre a formação de bolhas, em torno do segundo ou terceiro dia. Estas podem ser volumosas e geralmente contêm líquido não purulento. Pode haver hemorragia superficial nas bolhas ou na pele intacta, sobretudo em idosos. Mais raramente, a infecção pode se difundir, surgindo úlceras superficiais, celulite, abscessos subcutâneos, miosite, fleimão, fascite necrosante e, até mesmo, gangrena. Essas complicações decorrem principalmente da falta de tratamento adequado e de traumatismos sobre a lesão. - O diagnóstico diferencial deve ser feito especialmente com a celulite, da qual se distingue pela forma de aparecimento e pela maior riqueza de manifestações sistêmicas. 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Tratamento - O tratamento baseia-se no uso de antimicrobianos sistêmicos, além de medicamentos sintomáticos e cuidados locais. As formas mais leves e/ou iniciais podem dispensar internação hospitalar, porém, em grande número de casos, o tratamento não pode ser feito em regime ambulatorial, pela intensidade do acometimento sistêmico que a doença promove. - O antibiótico de escolha é a penicilina. Geralmente é administrada por via intramuscular (IM) na dose de 400.000 U de penicilina G procaína, de 12/12 h, por um período de 5 a 10 dias, ou até que o paciente se torne afebril durante, pelo menos, 3 dias. - Casos leves podem ser tratados com penicilina por via oral (VO) na dose de 250 mg a 500 mg de 6/6 h, ou amoxicilina (VO) 500 mg de 8/8 h. Pacientes alérgicos à penicilina podem ser tratados com eritromicina por via oral na dose de 250 mg a 500 mg de 6/6 h. - Nos casos graves, a antibioticoterapia deve ser parenteral. Atualmente podemos utilizar as cefalosporinas de terceira geração – ceftriaxona (1 g EV de 24/24 h) ou as cefalosporinas de primeira geração – cefazolina (1 g a 2 g EV a cada 8 h) por igual período de tempo. - Repouso e elevação do segmento acometido constituem medidas importantes. Na presença de lesões superficiais abertas, podem-se usar, localmente, compressas mornas embebidas em soluções de permanganato de potássio (1:10.000), de água de Alibour ou de antibióticos (neomicina, bacitracina). - Com a instituição precoce do tratamento adequado, a doença regride, em geral, dentro de 6 a 7 dias. A lesão local começa a empalidecer e ocorre diminuição gradual do edema e da tensão da pele. É comum ocorrerem descamação e pigmentação local, não havendo formação de cicatriz, salvo em caso de complicações (abscesso, ulceração). CELULITE - Inflamação de origem infecciosa do tecido celular subcutâneo. Às vezes, pode haver extensão superficial e acometimento também da pele. Como a celulite pode se estender superficialmente e a erisipela profundamente, esses dois processos podem coexistir. Por isto, alguns autores consideram a erisipela uma forma de celulite. - Predomina em homens e ocorre em qualquer idade. Os membros inferiores são atingidos mais frequentemente nos pacientes idosos, enquanto os superiores o são nos mais jovens. A celulite acometendo as regiões da cabeça e pescoço e perianal predomina em crianças. - Como a erisipela, origina-se geralmente de uma perda de solução de continuidade da pele, com a porta de entrada dos microrganismos podendo ser uma ferida aberta, uma úlcera, um ferimento penetrante, uma laceração, infecção. Em alguns casos, a via de entrada é tão pequena que não pode ser percebida a olho nu. Essa situação é observada principalmente quando a infecção acomete os membros inferiores. Raramente por disseminação hematogênica. - Indivíduos portadores de insuficiência vascular venosa periférica e/ou linfedema, são mais suscetíveis. - A doença caracteriza-se por apresentar todos os fenômenos próprios dos processos inflamatórios de origem bacteriana, podendo regredir antes que ocorra destruição dos tecidos se os mecanismos de defesado organismo prevalecerem sobre os microrganismos agressores. - Podendo a celulite inicial evoluir para a formação de um abscesso (com ou sem necrose da pele suprajacente) ou de um fleimão. Nos casos mais graves, pode haver superinfecção por bacilos gram- negativos. - Do ponto de vista clínico, ocorrem vermelhidão, calor, dor, edema depressível e intumescimento da pele e do subcutâneo no local da infecção. Em contraste com a erisipela, as bordas da área de celulite são planas e mal definidas. A linfangite e/ou linfadenite de drenagem são menos frequentes, porém não são raras. Pode ocorrer disseminação via vasos linfáticos e/ou corrente sanguínea e bacteremia. - O paciente apresenta ainda manifestações gerais usualmente discretas, caracterizadas por mal-estar, febre, calafrios e anorexia, e a temperatura axilar média oscila em torno de 38°C. A celulite de membros inferiores em pacientes idosos pode causar tromboflebite. - O leucograma costuma revelar leucocitose discreta com pouco ou nenhum desvio para a esquerda. Apenas nos casos em que o agente etiológico é o H. influenzae, observa-se leucocitose acentuada. Tratamento - O tratamento da celulite é conservador e baseia-se em medidas locais e no uso de antimicrobianos sistêmi-cos e sintomáticos. - As medidas locais incluem uso de calor, repouso do segmento atingido e proteção da região contra o trauma. Quando o processo estiver localizado numa extremidade, a elevação desta constitui medida importante. Como a região afetada é menos sensível ao calor, devem ser tomadas precauções para evitar queimaduras no local da aplicação. - O repouso do segmento afetado e a proteção ao trauma têm como objetivo impedir a ruptura da parede de enduração protetora, com consequente propagação da infecção. - Ocorrendo formação de abscesso ou fleimão, a drenagem cirúrgica está indicada. O exame bacteriológico da secreção purulenta (Gram e cultura com antibiograma) indicará a manutenção ou não do antimicrobiano em uso. 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - O tratamento sistêmico baseia-se no uso de antimicrobianos, analgésicos e antitérmicos. Atualmente, a escolha do antimicrobiano varia de acordo com a forma de apresentação e reflete a chance de o agente etiológico ser S. aureus. - Pacientes com celulite leve podem ser tratados com antimicrobianos por via oral, enquanto aqueles com sinais de toxicidade sistêmica ou quando o eritema progride rapidamente devem ser tratados com antimicrobianos por via parenteral. - Opções para o tratamento empírico por via oral incluem clindamicina, sulfametoxazol--trimetoprima, tetraciclina (doxaciclina ou minociclina) ou linezolida. A duração do tratamento depende da resposta clínica e deve ser individualizada, sendo, na maioria das vezes, entre 5 e 10 dias. Pacientes com celulite grave devem ser tratados por mais tempo. ABSCESSO - Infecção localizada do tecido conjuntivo com destruição de tecidos e formação de pus. - Geralmente constitui complicação de infecções contíguas (erisipela, celulite, hidradenite supurativa etc.). Pode resultar de contaminação secundária de ferida traumática ou ocorre como foco infeccioso metastático na vigência de bacteremias ou endocardite. - O agente etiológico mais comum é o S. aureus. Seguem-se os estreptococos e os anaeróbios. O S. aureus é mais comum nos abscessos do tronco e membros, enquanto os anaeróbios são mais comuns nas regiões perianal, genital e inguinal. Nestas regiões, além dos anaeróbios, E. coli, difteroides e Proteus também podem ser os responsáveis. Nos abscessos recidivantes, deve-se pensar em infecção mista (aeróbia/anaeróbia) independente da localização da lesão. - Apresenta-se como tumoração mais ou menos proeminente e circunscrita, delimitada, de tamanho variável, consistência endurecida que se torna amolecida, flutuante à medida que a lesão amadurece, de localização dermo-hipodérmica e/ou subcutânea, circundada ou não por uma área de celulite. Acompanha--se, quase sempre, de rubor, calor, dor e manifestações gerais (febre, mal- estar e calafrios). Nos abscessos mais profundos, flutuação e rubor podem estar ausentes. Nesses casos, a dor é mais difusa. Tratamento - Na fase de maturação, o tratamento é semelhante ao da celulite, consistindo nas medidas locais e gerais já mencionadas para o tratamento dessa afecção. O uso de antimicrobianos sistêmicos pode ser instituído nessa fase, mas, se o abscesso já estiver formado, parece que a contribuição do medicamento é de menor valor. - A indicação ao uso de antimicrobianos deve ser limitada à presença de associação do abscesso com linfangite, linfadenite, febre e/ou sinais de bacteremia, uma vez que, nas lesões bem circunscritas, e dependendo do antimicrobiano usado, a membrana piogênica impede que este atinja concentrações terapêuticas satisfatórias na cavidade do abscesso. - Eles devem ser usados também nos casos de abscessos maiores que 5 cm, múltiplas lesões, extremos de idade, áreas de difícil drenagem (face, mãos e genitália) e em diabéticos ou imunossuprimidos. - Os antimicrobianos mais indicados são as penicilinas sintéticas resistentes à penicilinase, cloxacilina (500 mg) ou dicloxacilina (250 mg) VO, de 6/6 h, uma vez que a maioria dos estafilococos é resistente à penicilina e am-picilina. Alternativas para pacientes alérgicos à penicilina incluem clindamicina (150 mg a 300 mg) ou eritromicina (250 mg a 500 mg) VO, de 6 h em 6 h. Podem também ser usadas cefalosporinas, cefalexina (500 mg) VO de 6/6 h ou cefadroxil (500 mg) VO de 12 h em 12 h. - Quando o abscesso estiver bem localizado e a flutuação for evidente, incisão e drenagem constituem o tratamento adequado. A drenagem possibilita o escape do pus acumulado na loja do abscesso, eliminando grande quantidade de microrganismos em proliferação e evitando que a hipertensão local, resultante do acúmulo do exsudato, rompa a barreira piogênica, disseminando a infecção. Além disso, ela permite eliminar a cavidade criada pela lesão, favorecendo a cura e possibilitando alívio acentuado da dor pela diminuição da tensão intracavitária. - Quando o paciente não estiver em uso de antimicrobiano, ele pode ser administrado, por via endovenosa, meia hora antes da drenagem, de modo que, havendo ruptura da membrana piogênica durante a intervenção, com disseminação bacteriana, o medicamento possa exercer efeito satisfatório. - A técnica de drenagem deve obedecer aos seguintes princípios: 1. Uso de técnica cirúrgica rigorosamente asséptica. Ao contrário do que possa parecer, por se tratar de lesão infectada, uma técnica asséptica previne a contaminação da lesão por outros microrganismos, possivelmente até mais virulentos. 2. A escolha da anestesia depende do tamanho e local do abscesso, idade e equilíbrio emocional do paciente, além de equipamento disponível. Assim, nos abscessos muito volumosos e/ou localizados em regiões muito sensíveis (p. ex., região perianal), a anestesia geral ou o bloqueio troncular são os mais indicados. Também nas crianças, a anestesia geral deve ser feita de maneira quase rotineira. Nos demais casos, a anestesia local pode ser realizada. Ela é feita por infiltração intradérmica de lidocaína, interessando apenas o local da incisão. Nesse caso, devem ser tomados todos os cuidados para impedir a propagação da infecção para os tecidos adjacentes. 3. A incisão é realizada no ponto de maior flutuação do abscesso. Deve ser liberal para permitir drenagem eficiente e, sempre que possível, obedecer à direção das linhas de força da pele. Em seguida, evacua-se o conteúdo intracavitário (pus) após coleta do material para exame bacteriológico (Gram e cultura com antibiograma). Não espremer. 4. Nos abscessos profundos, após esvaziamento da loja, coloca- se um dreno de Penrose, quedeve ser retirado após a parada de drenagem e/ou desaparecimento da cavidade. Nos abscessos superficiais, pode ser utilizado um recurso, que é a retirada de um fragmento de pele no local de drenagem, constituindo a chamada “drenagem em janela”. Esse procedimento dispensa o uso do dreno. 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Terminada a intervenção, aplica-se um curativo, que deve ser trocado diariamente até que ocorra a resolução do processo. Nos casos em que não se colocam drenos, deve-se realizar, durante as trocas de curativos, mano-bras delicadas de afastamento das bordas da ferida para que não ocorram seu fechamento precoce e persistência da infecção. FLEIMÃO - Inflamação difusa e necrosante do tecido conjuntivo. Representa, também, grau evolutivo de um mesmo processo inflamatório que envolve a celulite e o abscesso. Nesse caso, os fenômenos de supuração não se limitam à pequena área. Ao contrário dos abscessos, não ocorre formação de membrana piogênica, e o processo tende a invadir os tecidos numa extensão muito mais significativa. - Tem mais comumente etiologia estreptocócica (maior poder de difusão). Pode ser produzido também pelo S. aureus e por bacilos gram-negativos e anaeróbios, isolados ou em associação. O fleimão pode ser supra-aponeurótico, quando localizado no tecido celular subcutâneo acima da aponeurose; subaponeurótico, se está situado abaixo da aponeurose; e profundo, quando atinge os espaços intermusculares. - O comprometimento do estado geral do paciente é, em regra, muito mais acentuado que nos abscessos, seja pela maior ação tóxica dos microrganismos, seja pelas alterações funcionais e orgânicas que a infecção determina, como também pela maior necessidade de produção pelo organismo de elementos defensivos que vão atuar, no local da infecção, contra os microrganismos e suas toxinas. - Por outro lado, a maior difusão local do processo é responsável por alterações locais muito mais intensas, que podem evoluir até a gangrena. Por esses motivos, entre outros, achamos conveniente internar os indivíduos portadores de um fleimão. Tratamento - O tratamento geral baseia-se nos mesmos princípios observados para os abscessos. Acrescenta-se, aqui, o maior valor da antibioticoterapia sistêmica. - Podem ser utilizadas penicilinas sintéticas resistentes à penicilinase por via endovenosa (oxacilina – 2 g EV de 4/4 h) ou cefalosporinas de primeira geração (cefazolina – 2 g EV de 8/8 h). Uma alternativa para pacientes alérgicos à penicilina é a vancomicina (1 g EV de 12/12 h). - O tratamento cirúrgico demanda o uso de incisões amplas da pele e desbridamento rigoroso dos septos apo-neuróticos e bainhas musculares. O objetivo principal é permitir drenagem ampla das secreções. - São feitos inicialmente curativos diários e, posteriormente, a cada 2 ou 3 dias, de acordo com a evolução. O tecido necrosado é desbridado à medida que a necrose se define. Na maioria das vezes, esses curativos subsequentes (sobretudo os primeiros) são realizados no bloco cirúrgico, com o paciente sob anestesia ou sedação. PANARÍCIO - Infecção supurativa da polpa digital, de origem estafilocócica na grande maioria das vezes. LINFADENITE AGUDA - Infecção de linfonodos representando, na grande maioria dos casos, a localização secundária ou propagação de infecção situada nas proximidades ou a distância. No último caso, ela está localizada em uma área cuja drenagem linfática se faz no sentido do(s) linfonodo(s) acometido(s). - Pode ser específica (origem tuberculosa, sifilítica, linfogranuloma venéreo, leishmaniose etc.) ou inespecífica. A inespecífica tem usualmente etiologia estafilocócica ou estreptocócica. - Inespecíficas: Elas surgem frequentemente na evolução dos diferentes tipos de infecções da pele, subcutâneo e tecidos mais profundos já citados aqui. É comum ocorrer também inflamação associada aos vasos linfáticos (linfangite). - Ocasionalmente são secundárias à disseminação por via sanguínea de infecções a distância. Podem ser também de origem traumática. 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Caracterizam-se pelo aumento do volume de um ou mais linfonodos, que se apresentam duros, regulares e dolorosos. Na fase inicial, os linfonodos acometidos são móveis, podendo ser deslocados facilmente sob a pele que os recobre. - Com a evolução do processo, ocorre acometimento dos tecidos perilinfonodais, surgindo edema, rubor, calor e aumento da dor espontânea e à palpação. Nessa fase, torna-se difícil individualizar os linfonodos atingidos, pois a periadenite promove empastamento regional, com aderência da pele aos tecidos mais profundos. - Quando não convenientemente tratado, o processo evolui para a formação de abscesso linfonodal (ou ganglionar). Na fase de periadenite, os fenômenos gerais são intensos e caracterizam-se por indisposição, febre, calafrios, inapetência e prostração. - Os abscessos ganglionares podem ser facilmente diagnosticados pela presença de flutuação. Quando não drenados cirurgicamente, produzem necrose da pele que os recobre, com consequente abertura para o exterior (fistulização). Tratamento - Deve interessar principalmente a infecção original que motivou o comprometimento linfonodal. Assim, o tratamento vai depender da natureza da lesão inicial. Na maioria dos casos, recorre-se às medidas utilizadas na terapêutica das infecções anteriormente citadas (repouso, imobilização e elevação de segmento atingido, calor local, antibioticoterapia). Quando essas medidas são usadas na fase inicial do desenvolvimento da infecção, consegue-se abortá-la. - Numa fase mais tardia, quando já está presente o abscesso ganglionar com flutuação, a incisão com drenagem cirúrgica está indicada. Para realizá-la, é necessário que o abscesso esteja bem localizado e que já tenha ocorrido diminuição intensa ou desaparecimento da enduração. INFECÇÕES DOS ANEXOS DA PELE FURÚNCULO - Infecção necrosante do folículo pilossebáceo, produzida quase sempre pelo S. aureus. Por vezes, outros microrganismos, como Streptococcus sp., E. coli, P. aeruginosa e Proteus, podem ser os responsáveis. - Pode ocorrer em qualquer local da superfície cutânea, com exceção das superfícies palmar e plantar, mas tem predileção especial por áreas ricas em folículos pilosos e sujeitas a fricção e transpiração (região cervical, face, axilas e nádegas). - Sua incidência aumenta após a puberdade, sendo mais comum em homens adolescentes. Geralmente, as bactérias penetram no interior do folículo pilossebáceo, onde determinam inicialmente uma foliculite. A seguir, a infecção se estende à derme e ao tecido conjuntivo subcutâneo. Forma-se, então, uma área de necrose central, com hiperemia e enduração circunjacentes. Os leucócitos e outras células de capacidade fagocitária migram para a área infectada; alguns são destruídos pelas toxinas bacterianas e se liquefazem, formando o pus. - O material necrótico central é eliminado juntamente com o pus, quando este abre caminho para o exterior através da epiderme. A porção necrosada eliminada recebe o nome de “carnegão”. - O furúnculo manifesta-se, inicialmente, como pequena área avermelhada, endurada, que surge em torno de um folículo pilossebáceo. Com a evolução, o nódulo inflamatório torna-se saliente, duro, doloroso, e apresenta aumento de volume. - A lesão é extremamente sensível à compressão nessa fase, e a dor é tanto mais intensa quanto menos distensível for o tecido celular subcutâneo do local acometido. No ápice dessa saliência, forma-se zona de coloração branco-avermelhada, em decorrência da necrose da pele, que acaba por se romper espontaneamente, eliminando pequena quantidade de pus nos furúnculos menores e deixando escapar o “carnegão” nos de maiores proporções. - Coma eliminação do pus e do material necrótico, ocorre diminuição da tensão, com alívio gradual da dor. A área endurada pode permanecer assim pelo período de 1 semana ou mais, quando evolui para a cura, após eliminação de todo o material necrótico. - A evolução é quase sempre favorável. As complicações, quando ocorrem, dependem principalmente da disseminação dos microrganismos por ruptura da barreira defensiva. Uma das causas mais importantes desse advento é o hábito, comum entre os leigos, de espremer os furúnculos. A disseminação hematogênica pode resultar em osteomielite, endocardite ou outros focos infecciosos metastáticos a distância. - Existe, na face, a chamada “zona perigosa” com relação aos furúnculos e outras infecções. Ela está situada nas regiões do lábio superior e nariz. As infecções aí localizadas podem propagar-se para o seio cavernoso e produzir trombose deste. Por isso, todos os furúnculos na face devem ser tratados com antibioticoterapia sistêmica, e a drenagem cirúrgica deve ser evitada. - O aparecimento de furúnculos múltiplos (furunculose) é relativamente comum e quase sempre provocado pelo ato de coçar, que determina eliminação de pus do furúnculo traumatizado com reinoculação em pontos vizinhos. As roupas também podem ser veículos de transmissão. - Nos casos de furunculose ou de recorrência, deve-se pesquisar fatores predisponentes, tais como desnutrição, obesidade, discrasia sanguínea, uso de corticosteroides, alterações na função dos neutrófilos, diabetes melito e infecção pelo HIV. 6 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Tratamento - As medidas gerais incluem o uso de analgésicos e antimicrobianos sistêmicos. A antibioticoterapia sistêmica, segundo alguns autores, pode ser dispensada em casos selecionados, que apresentam infecção restrita, sem celulite circunjacente nem febre. - Os medicamentos de escolha são as penicilinas sintéticas resistentes à penicilinase cloxacilina (500 mg) ou dicloxacilina (250 mg), VO de 6/6 h. Alternativas para pacientes alérgicos à penicilina incluem clindamicina (150 mg a 300 mg) ou eritromicina (250 mg a 500 mg), VO de 6 h em 6 h. - As medidas locais mais importantes consistem no uso de calor úmido local e imobilização do segmento atingido. Quando localizado em uma extremidade, esta deve ser elevada. Com essas medidas, a grande maioria dos casos pode ser tratada conservadoramente. - Em geral, se o antimicrobiano em uso está sendo eficaz, ocorre involução ou maturação do processo em um prazo de 48 h a 72 h. No último caso, há eliminação espontânea do material necrótico. - A incisão e drenagem cirúrgica, na maioria dos casos, não é necessária nem vantajosa, já que possibilita romper a barreira defensiva, disseminando a infecção. - Quando ocorrem maturação do furúnculo e início da eliminação do “carnegão”, pode-se completar a evacuação da cavidade retirando-se a zona central de necrose com pequena pinça hemostática. Aplica-se, a seguir, pomada de antibiótico (neomicina, bacitracina ou ácido fusídico) no interior da loja, cobrindo-se com curativo. - Por vezes, a intervenção cirúrgica (incisão e drenagem) pode ser necessária, particularmente em lesões grandes e com flutuação. Quando realizada sob anestesia local, esta pode ser do tipo bloqueio de campo ou, de preferência, quando possível, anestesia troncular. Após a incisão, os tecidos necrosados devem ser removidos, juntamente com a secreção purulenta. Aplica-se, a seguir, curativo oclusivo. Os curativos devem ser trocados diariamente, até que seja debelado o processo infeccioso e ocorram granulação e resolução da ferida. - Nos casos de infecções recorrentes está indicada a profilaxia. As principais medidas incluem tratamento antimicrobiano, por 10 a 14 dias, de todo episódio infeccioso novo, limpeza da pele com uso de soluções antissépticas (clorexidina a 4%, hexaclorofeno), lavagem frequente das mãos, uso de toalhas limpas e trocas frequentes de fronhas e roupas íntimas. CARBUNCULO OU ANTRAZ - Infecção necrosante de vários folículos pilossebá-ceos contíguos com acometimento do tecido conjuntivo adjacente, incluindo o tecido subcutâneo. - Quase sempre, o agente etiológico é o S. aureus. Constitui, como já foi dito, um estágio adiantado do furúnculo em que ocorre propagação do processo infeccioso. Esta depende de fatores anatômicos e/ou diminuição dos fatores defensivos do organismo. - Vários são os fatores que determinam diminuição das defesas orgânicas, predispondo ao desenvolvimento dos carbúnculos. Entre eles, distinguimos o diabetes melito, a desnutrição, o uso de corticosteroides, as dermatoses graves (dermatite esfoliativa, pênfigo), as discrasias sanguíneas, os traumatismos, a má higiene etc. O diabetes é particularmente importante, devendo ser pesquisado em todos os indivíduos portadores da infecção. - Aparece como área de enduração intensamente dolorosa e avermelhada, no centro da qual se desenvolvem múltiplas áreas de necrose, das quais saem pequenas quantidades de pus. A pele, no local da necrose, apresenta-se com aspecto de favo de mel. Em torno dessa área, ela é avermelhada e endurada, corresponden do à zona de edema, hiperemia e infiltração leucocitária. - Podem estar presentes ainda linfangite e linfadenite de drenagem. A absorção de produtos tóxicos do processo infeccioso determina o aparecimento de leucocitose e febre, que pode ser alta. - Outros sintomas gerais podem estar presentes, como calafrios, astenia, mal-estar, anorexia etc. A invasão da corrente sanguínea com septicemia e desenvolvimento de abscessos metastáticos é rara e ocorre sobretudo nos pacientes debilitados. - Quando não tratado, a evolução é prolongada, uma vez que a drenagem do material necrótico é dificultada pelas intensas ramificações que se estendem dos orifícios de drenagem até o tecido celular subcutâneo subjacente. Tratamento - Enquanto no furúnculo o tratamento conservador é, quase sempre, a melhor conduta, o carbúnculo requer terapêutica cirúrgica agressiva, no sentido de aliviar a dor, promover drenagem eficaz e acelerar a cura. - Além da terapêutica cirúrgica, deve ser instituído ainda tratamento clínico complementar, que consiste no uso de antibioticoterapia sistêmica (penicilina sintética resistente à penicilinase, cefalosporinas de primeira geração etc.), analgésicos, repouso do segmento atingido e calor úmido local. O diabetes deve ser pesquisado, e, quando presente, deve ser controlado clinicamente. - O tratamento cirúrgico deve ser realizado preferencialmente sob anestesia geral ou troncular. A internação hospitalar não é necessária, salvo quando houver comprometimento acentuado do estado geral ou concomitância com outras afecções sistêmicas. 7 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - A cirurgia baseia-se em dois princípios fundamentais: excisão radical e drenagem ampla, que podem ser obtidas por meio dos seguintes método: 1. Uso de incisões em cruz atingindo toda a extensão do carbúnculo. 2. Uso de incisões paralelas (Gridiron). 3. Incisão circular atingindo toda a periferia da lesão e promovendo sua excisão completa. 4. Incisão estelar com ressecção dos retalhos. - A incisão em cruz é uma das mais utilizadas. Nos pequenos carbúnculos, é a que dá melhores resultados. Ela deve atingir as camadas mais profundas do tecido necrótico e também toda a extensão da lesão em cada direção. Cada um dos quatro segmentos obtidos com a incisão é reparado por uma pinça de Allis e ressecado. A ressecção também deve atingir toda a extensão do tecido necrosado, tanto em lateralidade quanto em profundidade. Quanto mais tecido necrosado for removido, mais rápida será a cicatrização. - Com essas manobras, pode ocorrer sangramento mais ou menos considerável, que, no entanto, pode serfacilmente controlado por meio de um curativo compressivo. - O curativo, salvo em caso de sangramento considerável, não deve ser manipulado durante 24 h a 48 h. Após esse período, o tufo de gaze é removido e os tecidos necrosados persistentes retirados com pinça. São feitos curativos diários até que ocorram remissão da infecção, formação de tecido de granulação e fechamento da ferida. Em alguns casos, pode ser necessária a realização de enxerto cutâneo. HIDRADENITE SUPURATIVA (ACNE INVERSA) - Infecção inflamatória crônica recorrente, debilitante, que atinge a pele intertriginosa das regiões axilar, inguinal, inframamária, genital ou perianal. Atualmente, é aceito que a primeira alteração patogenética ocorre nos ductos foliculares pilossebáceos, como na acne, e há tendência a se renomear essa afecção de acne inversa. - Na patogênese da doença, ocorre oclusão do folículo sebáceo por queratina. A obstrução determina aumento da pressão intraductal, com ruptura folicular, inflamação e, posteriormente, infecção secundária por bactérias da flora normal da pele. - Os microrganismos mais encontrados são o S. aureus, o S. milleri, bactérias aeróbias gram-negativas (E. coli, Proteus, Pseudomonas) e anaeróbios. - Desenvolve-se então o processo infeccioso, que atinge a derme, o tecido celular subcutâneo e as glândulas sudoríparas apócrinas adjacentes, levando a fibrose e enduração, formação de cicatrizes, destruição dos anexos da pele e formação de sinus. - Ocorre após o início da puberdade com o desenvol-vimento dos caracteres sexuais secundários e da função das glândulas apócrinas. Acomete principalmente a região axilar, seguida pelas regiões inguinocrural, perianal, região mamária, nuca e couro cabeludo. - A hidrosadenite afeta mais mulheres do que homens, numa propor-ção de 3:1. O acometimento bilateral das axilas é comum. - Caracteriza-se pelo aparecimento de nódulo eri-tematoso, duro e doloroso na região, frequentemente acompanhado de febre. Ao final de poucos dias, o nódulo começa a amolecer, vindo a apresentar flutuação e ruptura, com drenagem de secreção purulenta e formação de tratos crônicos de drenagem. - Para o diagnóstico de hidradenite supurativa, é neces-sário atentar para os três critérios estabelecidos: 1. Lesões típicas: nódulos profundos, dolorosos e precoces em lesões primárias, abscessos, drenagem de sinus, cicatrizes em ponte e comedões tipo lápide em lesões secundárias. 2. Localização típica: axila, virilha, genitais, períneo, região perianal, região glútea, dobras infra-e intermamárias. 3. Cronicidade e recorrência. - A evolução é variável, pois pode haver formação de apenas um abscesso ou o processo pode repetir-se com o aparecimento de novas lesões abscedadas, fistulização e fibrose regional. Ocasionalmente, a fibrose pode tornar-se tão extensa que produz restrição dos movimentos da extremidade do lado afetado. - Os casos crônicos podem ser acompanhados de anemia secundária, hipoproteinemia, amiloidose, queratite intersticial, artropatia periférica, astenia e depressão. Raramente, pode haver transformação maligna para carcinoma de células escamosas nos tratos epiteliais cronicamente inflamados, especialmente na região perianal. - A hidradenite supurativa deve ser diferenciada do furúnculo e do carbúnculo. A diferença fundamental baseia-se no fato de que nela não há formação do “carnegão”. Na drenagem do abscesso formado ocorre eliminação apenas de pus cremoso. 8 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Tratamento - A hidradenite supurativa, quando não tratada, pode persistir por meses ou anos. O tratamento consiste em medidas locais (antissepsia, calor úmido) e uso de antimicrobianos. Os abscessos, quando formados, devem ser incisados e drenados. A região envolvida deve ser rigorosamente lavada com soluções antissépticas (hexaclorofeno, clorexidina, PVP-I) para suprimir a atividade bacteriana. - Hormônios (estrógeno, progesterona), inibidores da produção de androgênios (leuprolida, ciproterona), corticosteroides, derivados da vitamina A (isotretinoína) e ciclosporina. Porém, nenhum deles se mostrou completamente eficaz. - Existem casos, no entanto, em que o tratamento é ineficaz e ocorrem acometimento e destruição de novas glândulas, com intensificação da fibrose secundária ao processo inflamatório. Nesses casos mais graves e incapacitantes, podem ser realizadas abertura e curetagem dos trajetos fistulosos, marsupialização, ablação com laser de CO2, excisão local ou excisão radical da área envolvida com cicatrização por segunda intenção.
Compartilhar