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Lesões musculoesqueléticas Com exceção do tecido ósseo, todos os outros tecidos do corpo humano são considerados como tecidos moles. As lesões no tecido mole podem ser classificadas como primárias ou secundárias. As lesões primárias podem ser auto infligidas, causadas por outro individuo ou entidade ou pelo ambiente. As lesões secundárias são, essencialmente, a resposta inflamatória que ocorre após a lesão primária. Estas últimas podem ser subclassificação em lesões agudas, crônicas ou agudas sobre crônicas. Agudas As lesões agudas são resultantes de trauma direto ou de sobrecargas bruscas nos tecidos musculoesqueléticos. Essas lesões macrotraumáticas incluem fraturas e luxações, sendo que a intervenção imediata destas está fora do objetivo da fisioterapia, e subluxações, entorses e distensões, que compõem a maioria das condições observadas em clínicas de fisioterapia. Além disso, o fisioterapeuta pode tratar contusões resultantes da compressão excessiva nos tecidos moles, com a consequente ruptura das fibras musculares e sangramento intramuscular. Os fatores comuns das lesões no tecido mole são a inflamação e a degeneração, ou ambas, no local da lesão. O processo é necessário para a cicatrização do tecido e a maioria dos sintomas associados com a inflamação aguda cede em duas semanas. A inflamação que persiste além desse período é chamada de inflamação crônica e pode resultar em destruição do tecido circundante. Uma vez que as lesões agudas às vezes resultam em inflamação crônica, a prevenção desta última é um objetivo frequente no estágio agudo da inflamação. Crônicas As lesões crônicas são distinguidas das agudas pelo tipo de trauma, o tempo da resposta inflamatória e as diferenças histopatológicas. Os exemplos de lesões microtraumáticas incluem tendinite, tenossinovite, bursite e sinovite. As lesões crônicas envolvem, em geral, alguma forma de irritação mecânica (sobrecarga repetitiva cumulativa, mecânica incorreta ou resistência ficcional) em grau que se estende além da capacidade de autorreparação do tecido. Assim, o tratamento eficiente das lesões crônicas requer a identificação e a correção de todos os fatores etiológicos que contribuem para a lesão. Agudas sobre crônicas Esse tipo de lesão apresenta-se como a ruptura abrupta de um tecido previamente danificado ou cicatrizado e ocorre quando a carga aplicada é muito grande para o nível de reparo ou remodelagem do tecido. Cicatrização do tecido mole Estágio da cicatrização dos tecidos moles Os principais estágios da cicatrização do tecido mole incluem coagulação e inflamação (agudo), que inicia logo após a ocorrência da lesão (até 24 a 48h após a lesão); processo migratório e proliferativo (subagudo), que inicia depois de alguns dias e inclui os principais processos de cicatrização; e processo de remodelação (crônico), que pode durar até um ano, e é responsável pela formação do tecido cicatricial e o desenvolvimento de tecido novo. Embora a simplificação dos eventos complexos da cicatrização em categorias separadas facilite a compreensão do fenômeno, na realidade, esses eventos ocorrem como uma mistura de diferentes reações, nos campos espacial e temporal. Alguns fatores parecem determinar o prognóstico para a cicatrização. O fator mais importante que regula a linha de tempo regional da cicatrização é o fluxo sanguíneo suficiente. Estágio de inflamação e coagulação Esse estágio, que reflete o tipo de estímulo, é limitado pelo tempo. As lesões de tecido mole desencadeiam um processo que representa a reação imediata do organismo a traumas. A reação que ocorre logo após uma lesão inclui uma série de eventos defensivos que envolvem o reconhecimento de patógenos e a preparação de uma reação contra eles. Essa reação envolve a coagulação e a inflamação. Um componente significativo do sistema de defesa do organismo é o desenvolvimento de exsudação tecidual. Logo após uma lesão nos tecidos, o fluxo sanguíneo capilar é interrompido, causando hipóxia na área. O período inicial de vasoconstrição, que dura entre 5 e 10 minutos, inicia a fase inflamatória, quando ocorre um período de vasodilatação e extravasamento dos constituintes sanguíneos. O sangue extravasado contém plaquetas, que secretam substâncias que formam um coágulo para evitar sangramento e infecção, limpar os tecidos mortos e nutrir os leucócitos. Essas substâncias incluem macrófagos e fibroblastos. A função das células sanguíneas brancas do estágio inflamatório é eliminar as substâncias estranhas na lesão, aumentar a permeabilidade vascular e promover a atividade fibroblástica. Devido à variedade de respostas vasculares e de outras respostas fisiológicas, esse estágio de cicatrização agudo é caracterizado por edema, hiperemia, calor e impedimento ou perda da função. Há um aumento na permeabilidade das vênulas, das proteínas plasmáticas e dos leucócitos que vazam para o local da lesão, resultando em edema. Um novo estroma, muitas vezes chamado de tecido de granulação, começa a surgir no espaço da ferida cerca de quatro dias após a lesão. A remoção completa das impurezas das lesões marca o final do processo inflamatório. Este estágio é caracterizado por dor em repouso ou em movimento ativo, ou quando um estresse específico é aplicado à estrutura lesionada. A dor, se for muito grave, pode resultar em defesa muscular e em perda de função. Metas gerais de tratamento: • Controle da inflamação; • Manutenção da integridade e mobilidade de tecidos moles e articulações. Precauções • Dosagem apropriada de repouso e movimento; • Aumento dos sinais flogísticos. Estágio migratório e proliferativo O segundo estágio da cicatrização tecidual, caracterizado pela migração e pela proliferação, sobrepõe-se à fase de inflamação (ate 14 a 21 dias após a lesão). As mudanças características dessa etapa incluem crescimento capilar e formação de tecido granulado, proliferação de fibroblastos com síntese de colágeno e aumento na atividade dos macrófagos e dos matócitos. Esse estágio é responsável pelo desenvolvimento da resistência da lesão à tensão. A matriz da lesão funciona como uma cola para prender as bordas juntas, proporcionando alguma proteção mecânica, enquanto evita a dispersão da infecção. Contudo, essa matriz possui baixa resistência à tensão sendo vulnerável à ruptura até ser substituída por uma matriz de colágeno. A matriz de colágeno facilita a angiogênese ao dar tempo e proteção aos vasos novos e friáveis. A angiogênese ocorre em resposta ao estado hipóxico criado pelo dano ao tecido, bem como a fatores liberados das células durante a lesão. O processo de neovascularização durante essa fase confere uma aparência granular ao ferimento, como resultado da formação de alças de vasos capilares e à migração de macrófagos, fibroblastos e células endoteliais dentro da matriz. Uma vez que a matriz de colágeno abundante tenha sido depositada na lesão, os fibroblastos param de produzir colágeno e o tecido granulado rico em fibroblasto é substituído por uma cicatriz relativamente acelular, marcando a fase final desse estágio. O processo de reparo do tecido fibroso se passa de maneira gradual e pode durar de 5 a 15 dias, ou até várias semanas, dependendo do tipo de tecido e da extensão do dano. Após atingir esse estágio, a efusão ativa e o eritema local do estágio de inflamação desaparecem clinicamente. Contudo, uma efusão residual pode, ainda, permanecer e resistir à reabsorção. Sinais clínicos • Diminuição dos sinais flogísticos; • Desenvolvimento de contraturas; • Fraqueza muscular; • Diminuição do uso funcional. Metas gerais de tratamento • Acelera o processo inflamatório; • Aumento progressivo da mobilidade de tecidos moles e articulações; • Início do fortalecimento muscular; • Prevenir ou minimizar a formação de contraturas e aderências. Precaução • Aumento dos sinais flogísticos. Estágiode remodelação A otimização do ambiente da ferida diminui a duração das fases inflamatórias e proliferativas e protege os tecidos frágeis da ruptura durante a remodelação inicial. A fase de remodelação envolve a conversão do tecido de reparo inicial em tecido cicatricial. A longa fase de contração, remodelação e aumento da resistência à tensão na lesão pode durar até um ano. Os fibroblastos são responsáveis pela síntese, deposição e remodelamento da matriz extracelular. Após a deposição do tecido de granulação, alguns fibroblastos são transformados em miofibroblastos, que se acumulam nas margens da lesão e começam a tracionar as bordas para dentro, reduzindo o seu tamanho. O aumento nos colágenos de Tipos I e III e outros aspectos do processo de remodelação são responsáveis pela contração da lesão e pela formação de cicatrizes visíveis. As células epiteliais migram das bordas da lesão e continuam nesse processo até que células similares do lado oposto se encontrem. Esse tecido contraído, ou tecido cicatricial, é funcionalmente inferior ao tecido original, formando uma barreira para o oxigênio difuso e os nutrientes. Por fim, a nova epiderme endurece pela produção de ceratina proteica. A cicatriz visível muda para vermelha ou púrpura, que branqueia a uma leve pressão, resultando em um tom opaco durante sua maturação. Os desequilíbrios na síntese e na degradação do colágeno durante a fase de cicatrização podem resultar na formação de cicatrizes hipertróficas ou na formação de queloides nas lesões superficiais. Se os tecidos cicatriciais ficarem imóveis, o reparo fibroso é fraco e nenhuma força influencia o colágeno; se não for submetida a tratamento, a cicatriz atinge menos de 20% de seu tamanho original. A contração da cicatriz resulta do encadeamento cruzado das fibras e feixes de colágeno e das adesões entre o colágeno imaturo e os tecidos circundantes, produzindo hipomobilidade. Nas áreas onde a pele é solta e móvel, esse efeito é mínimo. Entretanto, em áreas como o dorso da mão, onde não há pele extra, a contração do ferimento pode ter um efeito significativo sobre a função. Assim, os esforços controlados devem sempre ser aplicados a um novo tecido cicatricial para evitar encurtamentos. A formação de cicatrizes paralelamente à linha de força de uma determinada estrutura é menos vulnerável a novas lesões do que as cicatrizes perpendiculares aquelas linhas de força. Em geral, a fase de remodelação é caracterizada pela progressão de função e atividades livres de dor. Clinicamente, a resposta inflamatória crônica é caracterizada por sinais e sintomas de inflamação aguda (hiperemia, calor, edema e dor), mas em nível muito menor. De forma ideal, o paciente lesionado faz uma transição suave entre os vários estágios da cicatrização e a dor aguda e ardente é substituída por uma menos intensa, que evolui para um ponto indolor. Contudo, a resposta inflamatória crônica persistente resulta em liberação continuada de produtos inflamatórios e proliferação local de células mononucleares. Os macrófagos permanecem no tecido inflamado se a inflamação aguda não melhorar e começam a atrair grandes quantidades de fibroblastos, que invadem e produzem quantidades aumentadas de colágeno. Essa falha durante a fase de cicatrização pode provocar mudanças patológicas no tecido. Muitas vezes, a produção excessiva de colágeno resulta da extensibilidade diminuída de uma articulação ou de uma estrutura do tecido mole. As características da inflamação crônica incluem a resposta fisiológica resistente às intervenções físicas e farmacológicas, resultando em falha da remodelação adequada, em reparos imperfeitos e em persistência dos sintomas. Sinais clínicos: • Ausência dos sinais flogísticos; • Contraturas ou aderências em tecidos moles ou articulações; • Fraqueza muscular; • Diminuição da ADM; • Diminuição do uso funcional. Metas gerais de tratamento • Estimular a cicatrização; • Diminuir a dor devido a sobrecarga em contraturas e aderências; • Aumentar a mobilidade; • Fortalecimento muscular; • Restauração da função. Precaução • Aparecimento dos sinais flogísticos. Fases de tratamento Inicial Intermediaria Final Conter inflamação Diminuir inflamação Ausência de inflamação Analgesia Analgesia Analgesia Manter ADM Ganho de ADM ADM normal Manter FM Início de FM Ganho de FM Início do treino funcional Treino Funcional
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