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A história e o mecanismo do trauma são muito importantes, evidenciando a biomecânica do trauma, o estado inicial do paciente no local, o tempo transcorrido desde o trauma e a resposta a ressuscitação. • Acidente automobilístico: tipo de colisão, deformação do veículo, vítimas fatais, posicionamento no veículo, uso de dispositivos de segurança. • Acidente de motocicleta: uso de capacete, superfície de queda, atropelamentos • Queda: altura e superfície de queda • Ferimentos penetrantes: arma branca (sexo do agressor – energia e força, números de ferimentos e característica da arma) ou arma de fogo (calibre e tipo de arma, número de ferimentos, orifícios de entrada e saída, distância do disparo. Os traumas contusos são causados principalmente por aceleração e desaceleração abrupta, que levam a uma compressão e cisalhamento. Os órgãos mais lesados são o baço (40-55%), o fígado (35-45%) e o intestino delgado (5-10%). Nos traumas penetrantes, a lesão pode ser direta (causa diretamente pelo projétil) ou indireta com lesão de estruturas adjacentes por meio de estilhaços do projétil. Na arma branca, a lesão é limitada ao trajeto da arma, sendo o fígado (40%) o órgão mais acometido, seguido do intestino delgado (30%), diafragma (20%) e cólon (15%). Na arma de fogo há a lesão direta e a lesão por cavitação, sendo o intestino delgado (50%) o órgão mais acometido, seguido do cólon (40%), fígado (30%) e estruturas vasculares (25%). Devemos nos atentar para ferimentos em dorso, períneo, nádegas e tórax inferior, por serem regiões mais escondidas. No trauma penetrante a definição da transição toracoabdominal é importante porque pode haver traumas concomitantes dessas regiões: • Limites superiores: anterior (4º EIT(intercostal) - linha intermamilar); lateral 6º EIT; posterior 8º EIT (ponta da escápula) • Limite inferior: rebordo costal. A probabilidade de lesão intrabdominal é: • Arma branca anterior: 30-40% • Arma branca em flanco e lombar: 18-23% • Arma de fogo: 97% → principal conduta laparotomia exploratória Avaliação inicial: ABCDE do trauma. Tratar choque hemorrágico com ressuscitação volêmica, investigar lesão abdominal, pélvica, retroperitoneal. Excluir fratura de bacia, ossos longos e intratorácica. Até 40% dos hemiperitôneos não tem manifestação clínica na avaliação inicial. Além disso, devemos expor o paciente por completo. O exame físico inclui: • Inspeção: escoriações, hematomas, contusões, lesões abertas • Ausculta: presença ou ausência de ruídos • Percussão: timpanismo (pneumoperitôneo, distensão), macicez (hemoperitôneo). Sinal de Jobert → presença de timpanismo onde deveria haver macicez. • Palpação: defesa (voluntária x involuntária) irritação peritoneal • Compressão das cristas ilíacas: analisar crepitação, movimentos anormais, dor, fraturas • Toque retal: se crepitação posterior pode indicar retropneumoperitôneo; sangue = lesão do TGI; atonia esfincteriana = lesão medular; posição cefálica da próstata = lesão de uretra posterior. • Examinar períneo e genital: analisar existência de uretrorragia, violência sexual. Algumas situações podem atrapalhar o exame físico inicial como a alteração do nível de consciência, lesão em coluna cervical, lesão costal baixa ou pélvica (defesa voluntária devido a dor), anestesia para realização de outros procedimentos. As medidas auxiliares podem ser efetivas: 1. Sondagem nasogástrica: Ajuda na descompressão gástrica e redução do risco de broncoaspiração. A presença de sangue pode indicar lesão em TGI. Contraindicação: fratura de base de crânio (passar via oral) 2. Sondagem vesical: auxilia o esvaziamento vesical, sendo efetivo pra controle da diurese e hidratação. Contraindicação: suspeita de lesão de uretra (realizar uretrocistografia). Além disso, alguns exames complementares também podem ser feitos: • Tomografia computadorizada em pacientes estáveis. Grande utilidade em traumas fechados e bom para análise de vísceras parenquimatosas. Permite o estadiamento anatômico de lesões em diversos órgãos abdominais. • Exames laboratoriais: hemoglobina, lactato, amilase, gasometria arterial, tipagem sanguínea e provas cruzadas, leucometria, exame toxicológico, EAS. • Radiografia: RX abdome/ bacia AP ortostático (ou decúbito lateral) com paciente estável – ajuda a analisar pneumoperitôneo (indicação de laparotomia exploradora), fratura de arcos costais, fratura de pelve, presença de corpo estranho, trajeto do projétil no FAF (orifício de entrada e saída) • USG – FAST/eFAST (estendido). Realizado na sala de trauma em pacientes instáveis. Auxilia a identificar hemoperitôneo. O exame é sistematizado em 4 regiões – saco pericárdico (avaixo do processo xifoide), recesso hepatorrenal (espaço de Morrison), recesso esplenorrenal e pelve. Dificuldades: obesos, distensão, enfisema subcutâneo e cirurgias prévias. O eFAST inclui essas 4 janelas e é estendido para o pulmão, acrescentando-se a linha axilar anterior direita, axilar anterior esquerda, e linhas hemoclaviculares anteriores direta e esquerda. Sinal de pneumotórax no FAST: “rabo de cometa” • LPD (lavado peritoneal diagnóstico) – exame invasivo realizado na sala de emergência em pacientes instáveis. Não define a localização nem extensão da lesão e não define trauma peritoneal. É mais indicado para exame físico abdominal duvidoso por dor ou rebaixamento do nível de consciência ou impossibilidade de seguimento clínico. Contraindicação absoluta: indicação de laparotomia exploratória. - Critérios de positividade: saída de 10 ml de sangue aspirado; sangue no soro drenado pós infusão; 100.000 hemácias ou 500 leucócitos por campo de soro drenado; presença de bile, restos alimentares ou material fecal no liquido drenado. • Laparoscopia – lesões toraco-abdominais – avaliação de lesão de diafragma. É melhor para diagnóstico de lesões diafragmáticas. Sensibilidade comparada ao FAST e ao LPD. Seu uso é restrito. No trauma contuso, se o paciente for estável, com ausência de sinais clínicos de lesão abdominal podemos fazer o exame clínico seriado. Mas, se ele possuir sinais clínicos inequívocos de trauma com lesão abdominal (peritonite) é indicador cirurgia imediata. Em pacientes com exame clínico duvidoso e/ou impossibilitado, com suspeita de lesão abdominal ou com rebaixamento de nível de consciência, devemos fazer exames complementares. Se instabilidade hemodinâmica → LPD e FAST, e se estabilidade hemodinâmica → TC de abdome. No trauma penetrante, se houver lesão penetrante com evisceração e/ou peritonite difusa a cirurgia deve ser imediata. Se houver ferimento por arma branca anterior no abdome deve-se fazer uma exploração digital, se houver penetração da fascia ou peritoneal a indicação é de laparotomia exploradora. Caso não tenha penetração na cavidade abdominal (ferimento tangencial) a conduta é observação clínica além da sutura. Em caso de dúvida de diagnóstico: laparoscopia, exame clínico seriado ou TC. Se o ferimento por arma branca for em flanco ou dorso e houver penetração da cavidade abdominal evidente, a conduta é laparotomia exploradora. Se houver dúvida pode-se fazer exploração digital ou TC de abdome com triplo contraste. Pacientes estáveis e sem sinal de peritonite podem ser submetidos a exames complementares: TC de abdome, LPD, FAST, laparoscopia. Em ferimentos por arma de fogo a conduta é laparotomia explorada para contenção de hemorragias e contaminação. Ferimentos penetrantes em transição toracoabdominal a direita recomenda-se laparoscopia, TC, RX seriado de tórax, toracoscopia (se drenagem torácica) – laparotomia. Se for a esquerda, geralmente laparotomia exploradora (laparoscopia pode estar bem indicada). No tratamento não cirúrgico, se indicação de cirurgia, é feito uma observação clínica seriada, monitorização multiparamétrica, exames laboratoriais, jejum, evitar ATB e analgésicos fortes nas primeiras12h. Se houver sinais de piora clínica, dor abdominal (peritonite) instabilidade, alteração aos exames de imagem deve-se fazer laparotomia exploradora. O tratamento cirúrgico é por meio da laparotomia exploradora (incisão mediana ampla) quando houver: ➢ Trauma penetrante: hipotensão, FAF não tangencial, evisceração, hemorragia de TGI e TGU, peritonite, TC com lesão de TGI, bexiga, intraperitoneal, pedículorenal, parenquimatosa grave. ➢ Trauma contuso: hipotensão + FAST positivo ou evidência clínica de hemorragia intraperitoneal, LPD positiva, peritonite, pneumoperitôneo, pneumoretroperitôno ou ruptura de hemidiafragma, TC com lesão em TGI, bexiga, intraperitoneal, pedículo renal, parenquimatosa grave. A primeira coisa a ser feita na laparotomia exploradora é o tamponamento imediato do sangue após a incisão com gazes para identificar a fonte de sangramento. A cirurgia é feita visando a redução de danos, priorizando uma laparotomia abreviada, com recuperação metabólica e se necessário uma segunda cirurgia para o reparo definitivo. Lesão esplênica As lesões possuem um estadiamento de acordo com a tabela: Grau Tipo de lesão Descrição I Hematoma Subcapsular, <10% de superfície I Laceração Laceração capsular, > 1cm de profundidade no parênquima II Hematoma Subcapsular, 10-50% da superfície, intraparenquimatoso, < 5cm em diâmetro II Laceração Laceração capsular, 1-3 cm de profundidade no aprênquima que não compromete vasos trabeculares III Hematoma Subcapsular, >50% de superfície ou em expansão; ruptura subcapsular ou hematoma parenquimatoso > 5 cm ou em expansão III Laceração >3 cm de profundidade ou envolvendo vasos trabeculares IV Laceração Laceração com comprimento de vasos segmentares ou hilares produzindo desvascularização de 25% do baço V Laceração Baço pulverizado V Vascular Lesão hilar com desvascularização Apesar desse estadiamento, independente do grau da classificação, se o paciente não for instável, prioriza-se o tratamento conservador ao invés da cirurgia.
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