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História do Brasil - Revolução de 1930

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HISTÓRIA DO BRASIL 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
- LEI 5.810/94 
 
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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de licença ou direito de qualquer patente, direito autoral ou marca comercial da 
Loja do Concurseiro. 
 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
 
3 
 
 
PROGRAMA: 
HISTÓRIA DO BRASIL 
1. A Revolução de 1930 e a Era Vargas. 
2. As Constituições Republicanas. 
3. A estrutura política e os movimentos sociais no 
período militar. 
4. A abertura política e a redemocratização do Brasil. 
5. Canudos. 
6. Cabanagem. 
 
A REVOLUÇÃO DE 1930 E A ERA VARGAS. 
 
 
A REVOLUÇÃO DE 30 
“A Revolução de 1930 põe fim à hegemonia da 
burguesia do café, desenlace inscrito na própria forma 
de inserção do Brasil, no sistema capitalista 
internacional. Sem ser um produto mecânico da 
dependência externa, o episódio revolucionário 
expressa a necessidade de reajustar a estrutura do país, 
cujo funcionamento, voltado essencialmente para um 
único gênero de exportação, se torna cada vez mais 
precário. 
 
A oposição ao predomínio da burguesia cafeeira não 
provém, entretanto, de um setor industrial, 
supostamente interessado em expandir o mercado 
interno. Pelo contrário, dadas as características da 
formação social do país, na sua metrópole interna há 
uma complementaridade básica entre interesses 
agrários e industriais, temperada pela limitadas fricções. 
Ao momento de reajuste do sistema, por isso mesmo, 
não corresponde o ascenso ao poder do setor industrial, 
seja de modo direto, seja sob a forma da ‘revolução de 
alto’, promovida pelo Estado. 
A burguesia cafeeira se constitui ao longo da Primeira 
República como única classe nacional, no sentido de 
que só ela reúne condições para articular formas de 
ajustamento e integrar assim o país, na medida de seus 
interesses. Em face dela, não emerge nenhuma classe 
ou fração com semelhante força, capaz de oferecer uma 
alternativa econômica e política viável. A disputa, no 
interior das classes dominantes, tem a forma de um 
embate regional, mitigado pelos próprios limites da 
contestação. 
Tendo-se em vista a passividade da massa rural, 
quebrada somente por explosões importantes, mas 
desprovidas de conteúdo político (Canudos, 
Contestado), os limites de intervenção do proletariado, 
a heterogeneidade das classes médias, dependentes em 
regra dos núcleos ‘tradicionais’, o elo mais fraco do 
sistema é constituído pelo Exército e, no seu interior, 
pelos ‘tenentes’. 
Na década de vinte, o tenentismo é o centro mais 
importante de ataque ao predomínio da burguesia 
cafeeira, revelando traços específicos, que não podem 
ser reduzidos simplesmente ao protesto das classes 
médias. Se a sua contestação tem um conteúdo 
moderado, expresso em um tímido programa 
modernizador, a tática posta em prática é radical, e 
altera as regras do jogo, com a tentativa aberta de 
assumir o poder pelo caminho das armas. Sob este 
aspecto, embora inicialmente isolado, o movimento 
tenentista está muito à frente de todas as oposições 
regionais, ao iniciar a luta, em julho de 1922. 
O agravamento das tensões no curso da década de 
vinte, as peripécias eleitorais das eleições de 1930, a 
crise econômica propiciam a criação de uma frente 
difusa, em março/outubro de 1930, que traduz a 
ambiguidade da resposta à dominação da classe 
hegemônica: em equilíbrio instável, contando com o 
apoio das classes médias de todos os centros urbanos, 
reúnem-se o setor militar, agora ampliado com alguns 
quadros superiores, e as classes dominantes regionais. 
 
(Vitória da Revolução de 30) 
 
HISTÓRIA DO BRASIL 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
- LEI 5.810/94 
 
 
4 
Vitoriosa a revolução, abre-se uma espécie de vazio de 
poder, por força do colapso político da burguesia do 
café e da incapacidade das demais frações de classe 
para assumi-lo, em caráter exclusivo. O Estado de 
compromisso é a resposta para esta situação. Embora 
os limites da ação do Estado sejam ampliados para além 
da consciência e das intenções de seus agentes, sob o 
impacto da crise econômica, o novo governo representa 
mais uma transação no interior das classes dominantes, 
tão bem expressa na intocabilidade sagrada das 
relações sociais no campo. 
Mas o reajuste, obtido após um doloroso processo de 
gestação – marcado pela Revolução de 1932, a Ação 
Integralista, a liquidação do tenentismo como 
movimento autônomo, a Aliança Nacional Libertadora e 
a tentativa insurrecional de 1935 – significa uma 
guinada importante no processo histórico brasileiro. A 
mudança entre o poder estatal e a classe operária é a 
condição do populismo; a perda do comando político 
pelo centro dominante, associada à nova forma de 
estado, possibilita, a longo prazo, o desenvolvimento 
industrial, no marco do compromisso; as Forças 
Armadas tornam-se um fator decisivo como 
sustentáculo de um Estado que ganha maior 
autonomia, em relação ao conjunto da sociedade. 
 Na descontinuidade de outubro – 1930, o Brasil 
começa a trilhar enfim o caminho da maioridade 
política. Paradoxalmente, na mesma época em que 
tanto se insistia nos caminhos originais autenticamente 
brasileiros, para a solução dos problemas nacionais, 
iniciava-se o processo de efetiva constituição das 
classes dominadas, abriam-se os caminhos nem sempre 
lineares da polarização de classes e as grandes 
correntes ideológicas que dividem o mundo 
contemporâneo penetravam no país”. 
 
A REPÚBLICA POPULISTA 
 
1. A Moldura Oligárquica 
 
Tá-i, eu fiz tudo pra você gostar de mim 
Ó meu bem, não faça assim comigo não 
Você tem, você tem que me dar seu coração 
(Marcha de carnaval cantada por Carmem Miranda, em 
1930.) 
 
Apesar da rápida vitória, logo no início do governo 
provisório de Getúlio Vargas (1930-1934) as 
divergências entre os grupos no poder eram evidentes. 
Com uma ponta de arrependimento e muita 
insegurança, os representantes das oligarquias 
regionais viam chegar interventores, geralmente 
tenentes, nomeados pelo Presidente, para dirigirem 
seus estados com poderes ditatoriais. No Norte-
Nordeste, havia até um vice-rei, como ironicamente era 
chamado o “tenente” Juarez Távora, responsável pela 
supervisão política de toda a região. A cúpula do 
Exército também estava apreensiva com o poder 
excessivo que os tenentes – por eles combatidos 
durante a década de 1920 – agora exerciam em todo o 
país. À frente de todos estava Vargas, mas naqueles 
primeiros meses ninguém sabia ao certo quem ocupava 
de fato o poder. 
O clima de instabilidade política decorria da 
incapacidade dos principais atores sociais (oligarquias 
regionais, classes médias, militares e trabalhadores) de 
exercer, com isso, sua hegemonia sobre os demais. No 
núcleo do governo provisório, Vargas, os tenentes e 
representantes das várias oligarquiastinham interesses 
contraditórios, muitas vezes conflitantes. Ao redor do 
poder, as Forças Armadas espreitavam os 
acontecimentos com cautela. Longe dos gabinetes, o 
ruidoso movimento operário continuava a apresentar 
suas reivindicações reformistas e planos 
revolucionários. 
As oligarquias regionais sentiam-se duplamente 
ameaçadas. De um lado, devido à presença de 
interventores, que muitas vezes aproximavam-se 
perigosamente dos operários e trabalhadores rurais, 
com propostas de apelo popular. Medidas, como 
redução do preço de aluguéis, melhorias nos serviços 
de saúde, organização de sindicatos e expropriação das 
terras dos fazendeiros comprometidos com o antigo 
governos, punham em confronto interventores e 
oligarcas. 
 
2- Congresso Nacional e oligarquias 
Por outro lado, era visível a intenção de Vargas de não 
se tornar refém dos grupos regionais. Assim, o 
Presidente de imediato dissolveu o Congresso Nacional, 
espaço privilegiado de representação das elites 
brasileiras, concentrado os poderes no Executivo 
federal. A mesma medida foi aplicada aos estados e 
municípios. A representação legislativa, com as 
eleições controladas pela máquina oligárquica, foi 
desativada de 1930 a 1933. Além disso, a autonomia 
regional foi reduzida em relação à possibilidade de 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
 
5 
contrair empréstimos no exterior – que dependiam 
agora de aprovação do governo central – e efetivos não 
podiam mais exceder os do Exército nem contar com 
aviões e peças de artilharia. 
Empossado em 3 de novembro de 1930, Vargas assumiu 
o compromisso de convocar uma Assembléia 
Constituinte, a fim de elabora uma nova constituição 
para o Brasil. No entanto, os “tenentes”, organizados 
no Clube 3 de Outubro, procuravam prolongar o 
governo provisório, com o objetivo de enfraquecer o 
poder regional no Brasil e consolidar suas posições 
políticas. Através de Getúlio Vargas, os tenentes viam a 
possibilidade de estabelecer um Estado forte e 
centralizado no Brasil. Um velho projeto acalentado 
desde o final do século passado por grande parte do 
Exército. 
Os descontentamentos logo se transformaram em clara 
oposição. As oligarquias regionais exigiam o 
restabelecimento do jogo parlamentar. Antigos aliados 
ergueram-se contra o governo e exigiram a convocação 
da Constituinte e o fim do governo provisório. A maior 
parte dos estados Norte-Nordeste, Minas Gerais e até 
mesmo o Rio Grande do Sul, terra de Vargas, voltaram-
se contra o Presidente. Mas o principal foco de 
oposição residia em São Paulo. 
A chamada Revolução Constitucionalista de 1932, 
derrotada em menos de três meses, era indicativa das 
dificuldades políticas daquele momento. Apesar de 
contar com simpatias entre oligarquias de várias partes 
do país, os paulistas ficaram isolados. Nenhum grupo 
de arriscou nem viu perspectivas de sucesso na 
destituição de Vargas e numa nova aliança com São 
Paulo. Por outro lado, apesar de derrotados, os 
paulistas obtiveram concessões do governo federal, que 
visava com isso diminuir sua oposição a Getúlio, como a 
nomeação de Armando de Sales Oliveira, ligado ao 
Partido Democrático (PD), como interventor e a criação 
da Universidade de São Paulo, em 1934. Os tenentes, 
por sua vez, desgastados em termos políticos, tenderam 
a se desarticular, engajando-se, individualmente, em 
grupos à esquerda e à direita. Mais uma vez, vale 
insistir, nenhuma força sociopolítica tinha condições de 
impor-se ao Brasil de forma hegemônica. A solução foi 
uma espécie de pacto político ou compromisso entre os 
vários grupos dominantes. Enquanto isso, Vargas 
ganhava terreno. 
As oligarquias, sem condições de afastar Vargas e os 
militares que o cercavam, fossem das Forças Armadas 
ou do tenentismo, acabaram por aceitar sua direção. 
Ao mesmo tempo, a maioria dos tenentes era cooptada 
pelo jogo político dos grupos regionais, enfraquecendo 
as propostas reformadoras para o mundo rural. 
Começava a se delinear o compromisso entre o governo 
central e as oligarquias regionais: fortalecimento do 
Executivo, direção política de Vargas e manutenção das 
relações sociais no campo, ou seja, do latifúndio, da 
exploração da mão-de-obra livre e do mandonismo da 
burguesia rural brasileira. 
 
3- Constituinte 
Nas eleições para a Constituinte, realizadas em maio de 
1933, o governo estabeleceu um conjunto de regras 
que aperfeiçoava o processo eleitoral ao mesmo tempo 
em que enfraquecia o poder oligárquico. O 
estabelecimento do voto secreto diminuía a ocorrência 
de fraudes e a corrupção eleitoras. Por outro lado, a 
extensão do direito de voto para as mulheres ampliava 
o eleitorado. Por fim, a instituição da bancada 
classista, eleita através dos sindicatos de patrões e 
empregados, e composta por 40 delegados, diminuía a 
influência dos outros 214 representantes eleitos em 
seus estados e, em sua maioria, defensores de 
interesses oligárquicos. 
Ao final dos trabalhos, em julho de 1934, a Assembléia 
Constituinte escolheu Getúlio Vargas para governar o 
Brasil até 1938. O país ganhava o mais avançado texto 
constitucional de sua história até então, que estabelecia 
direitos trabalhistas, garantias individuais e apresentava 
uma forte inclinação nacionalista quanto aos seus 
recursos minerais. O presidente conseguia enquadrar 
as oligarquias no novo arranjo político e assumia um 
novo mandato com uma nova Constituição. 
 
4. A Moldura Autoritária 
 
Eu hoje vou mudar minha conduta, 
Eu vou pra luta 
Pois eu quero me aprumar. 
Vou tratar você com força bruta, 
Pra poder me reabilitar 
Pois esta vida não está sopa 
E eu pergunto: com que roupa, 
Com que roupa eu vou 
Ao samba que você me convidou? 
 
(Noel Rosa, Com que roupa, 1931.) 
 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
- LEI 5.810/94 
 
 
6 
“A Constituição é como as virgens. Foi feita para ser 
violada.” Essa frase. Atribuída a Getúlio Vargas, teria 
sido proferida alguns anos depois da elaboração da 
Constituição de 1934. Naquela altura, a deselegância e 
o desprezo pelos princípios liberais e democráticos não 
eram particularidades de Vargas. Na Alemanha, desde 
1933, Adolf Hitler governava com mãos de ferro, 
exterminando seus opositores políticos, perseguindo os 
judeus e estabelecendo a ditadura nazista. Na Europa 
presenciava-se a escalada de regimes autoritários, 
inspirados nas idéias fascistas: Hungria, Polônia, 
Áustria, Romênia, em breve também Portugal e 
Espanha. 
Na União Soviética, implantara-se a ditadura do 
proletariado como o recurso para consolidar a 
revolução e estabelecer a sociedade comunista. 
Voltada inicialmente contra os representantes das 
classes dominantes russas, logo a ditadura passou a 
perseguir outras tendências do movimento operário, 
como os anarquistas e socialistas. Em 1924, com a 
morte de Lênin, o principal dirigente da Revolução, o 
poder foi conquistado por Stálin, que empreendeu uma 
sistemática política de afastamento e eliminação de 
seus adversários políticos, inclusive importantes 
lideranças revolucionárias, como Leon Trotsky, 
assassinado no México em 1940 por um agente da 
polícia secreta russa. O berço do sonho socialista, talvez 
a maior e mais bela construção utópica da cultura 
ocidental, transformava-se numa ditadura que 
glorificava seu líder máximo, Josef Stálin. 
 
5- Integralistas e comunistas 
No Brasil, diversos grupos de direito organizaram-se, em 
1932, na Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada por 
Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale. A AIB, 
que chegou a ter um contingente de mais de 600 mil 
adeptos, possuía um projeto de Estado totalitário, onde 
não se verificaria a separação e a independência de 
poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Como 
razão suprema da sociedade e da nação, os interesses 
do Estado deveriam prevalecer sobre os direitos e 
interesses particulares de seus membros. Estabelecia-
se, assim, uma concepção corporativista, pelaqual a 
sociedade, tida como um corpo, deveria ser dirigida por 
um líder supremo, no caso o fundador do movimento, o 
jornalista e escritor Plínio Salgado. Nacionalistas 
ardorosos, os integralistas saudavam-se mutuamente 
erguendo o braço direito e gritando Anauê, expressão 
tupi que quer dizer “você é meu parente”. 
Uniformizados com camisas verdes e calças pretas, 
tinham como símbolo a letra grega sigma, para 
expressar a idéia de integridade, e o lema “Deus, Pátria 
e Família”. 
 
A perspectiva autoritária dos integralistas tornava-os 
opositores do liberalismo econômico e da democracia 
burguesa. Seus principais adversários eram os 
socialistas e os judeus, estes últimos tidos como 
estrangeiros e apátridas. Entre os seus adeptos 
figuravam intelectuais (alguns do movimento 
modernista), católicos, militares, empresários, 
representantes das classes médias e operários. 
Em março de 1934, Luís Carlos Prestes, o Cavaleiro da 
Esperança, tornava-se o principal nome do PCB. 
Juntamente com alguns “tenentes” de esquerda, 
Prestes lançava, no ano seguinte, a Aliança Nacional 
Libertadora (ANL). Tratava-se de uma frente popular, 
constituída a partir do PCB, que procurava atrair os 
setores democráticos e antifascistas da sociedade em 
torno de um programa de reformas políticas e sociais, 
que compreendia a suspensão do pagamento da dívida 
externa, a reforma agrária, a nacionalização das 
empresas e a defesa das liberdades individuais. 
As rivalidades entre integralistas e aliancistas 
incendiaram o país. Grandes comícios da ANL 
aglutinavam milhares de trabalhadores e 
representantes das classes médias. Os integralistas 
desfilavam seus estandartes em disciplinadas marchas 
militarizadas. Os confrontos tornaram-se cada vez mais 
frequentes. 
O discurso pelas liberdades democráticas da ANL 
encobria, contudo, um plano revolucionário 
estabelecido em Moscou por Prestes e pela 
Internacional Comunista. Junto com o Cavaleiro da 
Esperança, vieram dólares e militares da Internacional, 
entre os quais o alemão Artur Ernst Ewert, o argentino 
Rodolfo Ghioldi, o norte-americano Victor Baron, o 
russo Pavel Stuchevsky e a alemã Olga Benário, que se 
tornaria a companheira de Prestes. O objetivo era 
destituir Vargas e estabelecer um governo 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
 
7 
revolucionário e popular no Brasil, alinhado com a 
União Soviética. 
Em 5 de julho de 1935, no aniversário do levante do 
Forte de Copacabana, Prestes, num inflamado discurso, 
conclamava os presentes à derrubada do governo. 
Como represália, ainda nesse mesmo mês Vargas 
decretou a ilegalidade da ANL e as centenas de sedes do 
movimento espalhadas pelo Brasil foram fechadas pela 
polícia. 
 
 
 
Os dirigentes do PCB decidiram, então, quatro meses 
depois, em novembro, pôr em prática o plano de 
insurreição armada. A chamada Intentona Comunista 
foi facilmente derrotada pelo governo, o que acabou 
por fortalecer ainda mais o poder de Vargas. Logo após 
o levante, o Presidente solicitou ao Congresso Nacional 
a aprovação do estado de sítio, que suspendia as 
garantias individuais, facilitava a prisão dos revoltosos e 
permitia intervir em estados da União. Muito 
semelhante às revoltas tenentistas, a Intentona 
comunista restringiu-se a uns poucos batalhões em 
Natal, no Recife e no Rio de Janeiro. Após as prisões de 
seus participantes e dirigente, Prestes e Olga Benário 
foram capturados em março de 1936, no bairro carioca 
do Méier. Sob uma feroz repressão, milhares de 
pessoas foram presas e centenas brutalmente 
torturadas. 
 
O Plano Cohen 
O “perigo vermelho” ofereceu a Vargas justificativa que 
o auxiliaram a permanecer no poder até 1945, e a 
morte de soldados e oficiais do Exército no combate à 
Intentona seria explorada durante décadas para 
alimentar o sentimento anticomunista entre os 
militares. Em meados de 1936, com a prisão de todo o 
comando do levante comunista, não havia mais motivos 
para a manutenção do estado de sítio. Para tornar mais 
complexa a situação, a cada novo pedido de 
prorrogação dos poderes extraordinários do Presidente, 
maiores eram as resistências do Congresso Nacional, 
principalmente dos parlamentares articulados em torno 
do paulista Armando de Sales Oliveira (PD), que 
pretendia disputar as eleições presidenciais marcadas 
para maio de 1938. Assim, em junho de 1937, o 
Congresso acabou por negar um novo pedido de 
Getúlio. As oligarquias temiam um golpe de Vargas. 
Nesse momento, três candidaturas já haviam sido 
apresentadas. Além da de Sales Oliveira, a do 
paraibano José Américo de Almeida, ex-ministro de 
Vargas, e a de Plínio Salgado, líder dos integralistas. 
Mesmo assim, tudo indicava que Getúlio Vargas não 
estava disposto a deixar o poder. 
Em setembro de 1937, o país era surpreendido por uma 
grave denúncia: o PCB preparava uma nova insurreição 
comunista, liderada por um agente internacional 
denominado Cohen. Além do assalto ao poder, os 
revolucionários tramavam o assassinato de centenas de 
personalidades públicas e atentados a igrejas e prédios 
do governo. Um documento interceptado por militares 
atestava o plano. Na verdade, tratava-se de uma farsa 
montada pelo capitão do Exército (e militante 
integralista) Olímpio Mourão Filho e utilizada como 
justificativa para ações enérgicas do governo federal. 
Diante da “denúncia”, Vargas solicitou ao Congresso a 
decretação do estado de guerra que lhe concederia 
mais poderes que os anteriores estados de sítio. Apesar 
de algumas resistências, em 1º de outubro os 
parlamentares deram ao Presidente os poderes extra-
ordinários. 
“Quem não for contra o comunismo é comunista”. Esse 
era o lema das perseguições e intimidações políticas, 
que se caracterizaram por intervenções nos estados, 
prisões e criação de campos de concentração militares 
para os militares comunistas e simpatizantes. Tais 
medidas conseguiram imobilizar as oposições, já 
caladas pela censura aos órgãos de imprensa. 
 
 
 
 
 
 
 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
- LEI 5.810/94 
 
 
8 
6- O Estado Novo 
 
 
 
No dia 10 de novembro daquele ano, o Congresso 
Nacional foi fechado. Violava-se a Constituição e, em 
seu lugar, Vargas impunha à nação uma nova, elaborada 
pelo jurista Francisco Campos, que eliminava a 
autonomia dos estados, extinguia o Poder Legislativo 
em todos os níveis (das câmaras municipais ao 
Congresso Nacional) e fortalecia o Poder Executivo. 
A ditadura de Getúlio Vargas inspirava-se no fascismo 
europeu. A Constituição de 1937 baseava-se nos 
fundamentos legais do regime fascista polonês e por 
isso ficou conhecida como a “Polaca”. O Estado Novo, 
como foi denominado o novo sistema político, fazia 
uma clara alusão à ditadura que Antônio de Oliveira 
Salazar exercia em Portugal. Crítica à democracia 
parlamentar, anticomunismo, fim das liberdades 
individuais, centralização político-administrativa, 
censura à imprensa e repressão política davam as cores 
do painel político autoritário que delineava a figura de 
Vargas como chefe supremo do país. Os integralistas, 
defensores de um regime totalitário e corporativista, 
auxiliaram Getúlio na perseguição aos comunistas e 
aplaudiram entusiasticamente o golpe de Estado. 
O fortalecimento do Executivo preencheu o “vazio de 
poder” verificado desde 1930. Diante da incapacidade 
de qualquer grupo social de exercer sua hegemonia 
sobre o conjunto da sociedade, o Estado acabou se 
transformando no principal agente político da nação. 
Os interesses divergentes e conflitantes que opunham 
os diversos setores oligárquicos, as classes médias, os 
militares e a classe trabalhadora passaram a ser 
arbitrados autoritariamente pelo Presidente. 
O Estado, por meio de dura repressão e de intensa 
propaganda, confundia-se com a figura paternalista de 
seu Presidente. Como pai “severo, mas justo”, Vargas 
consolidaria o regime autoritário através do apoio do 
Exército e de um crescentee inigualável prestígio junto 
às massas populares. 
 
7. A Moldura Operária 
 
“Quem trabalha é que tem razão 
 Eu digo isso e não tenho medo de errar 
 O bonde São Januário 
 Leva mais um operário 
 Sou eu que vou trabalhar” 
 
Durante a República Oligárquica (1889-1930), a política 
era exercida e definida, principalmente, nos gabinetes e 
câmaras legislativas, estaduais e federais, e nos currais 
eleitorais pelo Brasil afora. A chamada Revolução de 
1930 ampliou o espaço e o ambiente do exercício do 
jogo político. Aos gabinetes e currais somaram-se as 
praças e ruas das grandes cidades brasileiras. As 
manifestações de apoio popular a Vargas, iniciadas 
durante a campanha eleitoral e intensificadas desde os 
primeiros dias de seu governo, tornaram-se um 
ingrediente constante do seu modo de fazer política. 
Os gabinetes, no entanto, eram pequenos para 
acomodar as massas populares. Vargas consolidaria um 
novo estilo de atuação, no qual a figura do Presidente 
estaria mais próxima da população de seu país. Alguns, 
mais afortunados, conseguiram até um aperto de mãos 
ou um autógrafo. Outros iriam espichar-se em meio à 
multidão para enxergar aquele presidente de pequena 
estatura. Por quinze anos seguidos, de 1930 a 1945, a 
maioria conseguiria ouvir sua voz aguda e penetrante, 
que assim iniciava seus discursos: “Trabalhadores do 
Brasil”. 
Num país onde as questões sociais eram tratadas como 
caso de polícia, em que as reivindicações dos 
trabalhadores eram concebidas como desordem e 
baderna, as atitudes de Vargas indicavam uma nítida 
mudança de rumos. A classe operária passava a figurar 
nos discursos de parte da pomposa elite brasileira. 
 
8. Os Direitos Trabalhistas 
Desde o início de seu governo, Getúlio procurou fixar 
uma imagem paternalista junto aos operários, uma 
espécie de “pai dos pobres”. Ao final de1930, era 
criado o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, a 
cargo do gaúcho Lindolfo Collor, com o objetivo de 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
 
9 
impulsionar a industrialização e de “atender” a 
determinadas reivindicações da classe trabalhadora. Na 
verdade, o Poder Executivo chamava para si a tarefa de 
“arbitrar” os conflitos entre a classe operária e a 
burguesia industrial. 
Como vimos, o movimento operário mostrou-se 
particularmente ruidoso nas primeiras décadas do 
século XX. Nesses momentos, apesar de contar com a 
ação repressiva dos diversos governos, a nascente 
burguesia industrial brasileira inquietava-se diante das 
mobilizações do proletariado. Ao contê-las, o Estado 
enquadrava tanto a classe operária quanto a burguesia. 
A regulamentação de direitos trabalhistas, consagrada 
na Constituição de 1934, fruto de inúmeras lutas e 
contestações operária desde a República Oligárquica, 
foi anunciada à nação como uma doação do Presidente 
aos trabalhadores, “concedendo” jornada de trabalho 
de oito horas diárias, férias remuneradas, descanso 
semanal, proibição do trabalho de menores de 14 anos 
e licença para as mulheres gestantes. A “concessão” 
tinha um sentido muito claro: apagar da memória 
coletiva a importância da organização operária e de 
suas lutas, e dar ênfase à atenção de Getúlio Vargas 
para com a classe trabalhadora. 
 
O Corporativismo 
O enquadramento do operariado não se fazia apenas 
pela regulamentação das conquistas trabalhistas. Em 
1931, o governo federal estabeleceu que os sindicatos, 
para funcionar e reclamar seus direitos ao Ministério do 
Trabalho, deveriam contar entre seus associados 2/3 de 
brasileiros natos. Foi um duro golpe na militância 
anarquista, em grande parte constituída de imigrantes e 
muito mais impetuosa que os hierarquizados 
comunistas. Mas foi também resposta a uma alteração 
que começava a se processar no Brasil, dada pela 
ampliação do número de operários nascidos no país, 
descendentes de imigrantes ou vindos de outras regiões 
brasileiras. 
Em 1935, foi aprovada a Lei de Segurança Nacional 
(LSN), que definia os crimes contra a ordem social: 
greves de funcionários públicos, propaganda subversiva 
e incentivo às rivalidades e conflitos entre os grupos 
sociais. Em lugar da luta de classes, proibida por lei, 
Vargas impunha a conciliação social, que na realidade 
significava a subordinação do operariado aos interesses 
da burguesia e do Estado nacional. Conciliação entre as 
classe, valorização do trabalho, disciplina, ordem e 
nacionalismo compunha os elementos da ideologia 
trabalhista que começava a ser gestada no Brasil, sob 
forte influência do corporativismo fascista. 
Com o golpe de 1937 e a instauração da ditadura do 
Estado Novo, consolidou-se a ideologia trabalhista e 
completou-se o controle sobre as atividades sindicais. 
Além de prender diversos dirigentes anarquistas, 
socialistas e comunistas, o governo fez dos sindicatos 
meros departamentos do Ministério do Trabalho, com 
funções assistenciais e recreativas. Em vez de greves e 
manifestações, os sindicatos organizavam festas, 
grêmios esportivos e colônias de férias para seus 
associados. Em lugar das combativas lideranças de 
outrora, proliferaram os pelegos, representantes 
operários que defendiam os interesses dos patrões em 
vez das reivindicações dos trabalhadores. 
O controle sobre o movimento operário teve como 
desfecho a criação do salário mínimo e da 
obrigatoriedade do imposto sindical, em 1940, e a 
elaboração de um código de direito trabalhista 
denominado Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), 
em 1943, baseado na Carta del Lavoro, legislação da 
Itália fascista. Graças a uma intensa propaganda, o 
trabalhismo ganhou os corações e as mentes da 
população brasileira. 
 
9- Legitimação e propaganda 
 
 
A legitimação do regime era buscada através da idéia de 
que entre o Presidente e as massas trabalhadoras não 
deveria haver nenhuma intermediação. Assim, por 
exemplo, a relação direta e “próxima” entre Vargas e o 
povo justificava o fechamento do Poder Legislativo e a 
ofensiva contra os poderes oligárquicos. Em 1939, com 
o objetivo de garantir tal proximidade, foi criado o 
Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), 
responsável por controlar os meios de comunicação e 
promover a propaganda do regime, o que incluía 
censura a todas as manifestações cívicas e concursos 
musicais, estímulo à produção de filmes nacionais e o 
aproveitamento sistemático do programa Hora do 
Brasil, que desde 1934 era irradiado para todo o país 
por todas as emissoras de rádio entre 19 e 20 horas. 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
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10 
Além de notícias políticas e de informações, a Hora do 
Brasil transmitia músicas dos cantores mais populares 
da época, como Francisco Alves e Carmem Miranda, e 
discursos de Getúlio Vargas e do ministro do Trabalho. 
O programa representava o reconhecimento da 
existência da classe trabalhadora e de suas questões 
sociais. Quase todas as noites, através das ondas do 
rádio, Vargas penetrava os lares brasileiros. No país 
marcado pelo “você sabe com quem está falando?”, isso 
era inovador. A voz do Presidente era conhecida por 
grande parte da população brasileira, acostumada, até 
então, a ser completamente ignorada por sua elite 
dirigente. O conteúdo das mensagens alterava-se ao 
sabor dos acontecimentos, mas um sentido era fixado: 
esse Presidente importava-se como povo. 
Em grandes comícios e desfiles, os trabalhadores 
carregavam bandeiras brasileiras e estandartes com o 
retrato de Vargas. Através da cerimônia cívica, 
ritualizava-se o compromisso entre o Presidente, “pai 
da nação” e os trabalhadores, seus “filhos mais pobres”. 
Nessa “comunhão” emergia o Estado, um verdadeiro 
corpo místico onde não deveria haver disputas entre 
seus órgãos e membros. Acima dos indivíduos e 
interesses de classes, deveriam prevalecer os interesses 
nacionais e a vontade de seu líder. 
Essas inovações das práticas políticas devem ser 
creditadas tanto à sensibilidade pessoalde Getúlio 
quanto às condições gerais que cercaram o Brasil pós-
1930. O “vazio de pode” e a instabilidade verificada nos 
primeiros anos desse período foram solucionados com o 
crescente fortalecimento do Presidente. As massas 
populares eram convocadas para o jogo político, 
legitimado e fortalecendo o poder de Getúlio Vargas. 
Clientes de suas doações e benefícios, elas eram 
controladas a partir de duras medidas repressivas e pelo 
prestígio do Presidente, que imobilizava suas iniciativas 
autônomas. 
A legitimação junto às massas conferia poder e 
estabilidade ao Estado Novo. O golpe de 1937 marcou 
o fim da transição do Estado Oligárquico, característico 
das primeiras décadas da República (1889 a 1930), para 
o Estado Populista, que dominaria a vida da nação de 
1930 até 1964. O enfraquecimento do poder político 
das oligarquias registrara-se simultaneamente à 
crescente incorporação da classe trabalhadora ao jogo 
político e à ampliação do Poder Executivo. O Poder 
Legislativo, espaço privilegiado da expressão 
oligárquica, permaneceu fechado provisoriamente de 
1930 a 1933, funcionou sob medidas de exceção 
(estado de sítio e estado de guerra) de 1935 a 1937 e 
ficou completamente desativado durante o Estado Novo 
até 1945. 
Numa significativa cerimônia cívica, em dezembro de 
1937 o Presidente assistiu à queima e destruição das 
bandeiras estaduais e ao hasteamento do pavilhão 
nacional no Rio de Janeiro. Foi uma espécie de ritual 
fúnebre do Estado Oligárquico, que dava lugar ao 
Estado Populista. Como uma bandeira nacional, o 
retrato de Vargas, carregado em desfiles e pregado nas 
repartições públicas, representava o próprio Estado 
brasileiro. Mas esse era agora um novo Estado. 
 
A Política Externa Brasileira 
O governo brasileiro soube tirar proveito da tensa 
situação internacional ao final da década de 1930. 
Desenvolvendo uma política pragmática, o Brasil 
manteve estreitas relações diplomáticas e econômicas 
tanto com os Estados Unidos quanto com a Alemanha. 
A indefinição do quadro internacional e a divisão 
interna das lideranças políticas brasileiras impediam o 
alinhamento direto com qualquer das duas potências. 
Em setembro de 1939, com a invasão da Polônia pelas 
tropas alemãs, tinha início a Segunda Guerra Mundial. 
De um lado, Alemanha, Itália e em breve o Japão, 
denominadas forças do Eixo. De outro, os Aliados: 
França, Inglaterra e mais tarde Estados Unidos e União 
Soviética. Era hora de definições para o governo 
brasileiro. Em 1942, alegando o torpedeamento de 
navios brasileiros pelos alemães, Vargas declarou 
guerra às forças do Eixo. 
A agressão alemã não foi gratuita, como pode parecer à 
primeira vista. Após quase três anos de negociações, o 
Brasil chegara a um importante acordo com os Estados 
Unidos, que emprestaram 20 milhões de dólares para a 
construção de uma usina siderúrgica no país. Em troca, 
os americanos ganharam o direito de estabelecer bases 
militares, utilizar portos, aeroportos, meios de 
comunicação e estradas de ferro e de rodagem no 
Brasil, em caso de necessidade militar. Em abril de 
1941 Vargas anunciou o início da construção da 
Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em Volta 
Redonda, Rio de Janeiro. No mês seguinte, os norte-
americanos já estavam na guerra. Em janeiro de 1942 o 
governo brasileiro rompeu as relações diplomáticas 
com o Eixo. O Brasil já tinha feito a sua escolha. E 
ganhara com ela. Quando os alemães atacaram as 
embarcações brasileiras, o país, na prática, não estava 
mais numa posição de neutralidade. 
Para os norte-americanos, a América Latina fazia parte 
do círculo de segurança de suas fronteiras. Não se 
esperava o envio de tropas brasileiras para a Europa. 
Bastava estabelecer bases de ação militar e impedir que 
os alemães tivessem livre trânsito pelo hemisfério Sul. 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
 
11 
Antes de entrar na guerra, os Estados Unidos 
garantiram sua retaguarda com uma ampla ofensiva 
política, cultural e econômica que, além do Brasil, 
também se dirigiu à Argentina e ao México. Foi a 
política de boa vizinhança, implantada oficialmente a 
partir de 1940. 
Afora a CSN, o governo brasileiro criou, em 1942, a 
Companhia Vale do Rio Dose, para a extração de 
minérios em Minas Gerais, e a Fábrica Nacional de 
Motores (FNM), no Rio de Janeiro. Com essas empresas 
buscava abastecer o mercado interno com matérias-
primas, bens intermediários (barras de aço, motores, 
chassis, peças e engrenagens) e bens de produção 
(máquinas e equipamentos industriais) necessários à 
produção de outros bens e à diversificação industrial. O 
impulso à industrialização e à modernização do país 
realizavam-se sob o signo do autoritarismo e do 
pragmatismo diplomático. Ma a ambigüidade de Vargas 
teria seu preço. 
 
O Fim do Estado Novo 
A participação do Brasil na guerra, ao lado das forças 
antifascistas, expôs as contradições do regime 
brasileiro. Apesar da forte influência fascista, o Brasil 
lutava contra os Estados autoritários europeus, ao lado 
de países democráticos e da Rússia comunista. A Força 
Expedicionária Brasileira (FEB), com cerca de 25 mil 
homens, combateu de 1944 a 1945. Curiosamente, o 
envio dos contigentes militares ocorreu por iniciativa do 
governo brasileiro, contra a vontade de norte-
americanos e ingleses. 
A guerra era o último esteio do regime autoritário. Com 
o avanço das forças aliadas a partir de 1943, Vargas 
comprometeu-se a convocar eleições gerais ao final dos 
conflitos militares. Pelo rádio, milhões de brasileiros 
acompanhavam os noticiários das frentes de batalha. A 
resistência heróica de Stalingrado (atual Volgogrado), o 
desembarque na Normandia, a campanha da Itália e, 
finalmente, a tomada de Berlim pelos soviéticos. Uma 
verdadeira aula de Geografia. E de Política. 
A direção do processo de democratização do país seria 
alvo de intensas disputas. O enfraquecimento do 
prestígio pessoal de Vargas e a iminente reabertura do 
Poder Legislativo indicavam uma nova correlação de 
forças políticas. O Estado Populista teria de se adaptar 
à democracia representativa e os compromissos entre 
os diversos grupos sociais teriam de ser atualizados. 
Com o poder adquirido ao longo do Estado Novo e o 
prestígio da guerra, alguns militares não aceitariam 
mais a posição de coadjuvantes do processo política 
nacional. Desde 1930 as Forças Armadas ganharam 
coesão, recursos e efetivos militares. Nos anos da 
Segunda Guerra, muitos oficiais haviam se 
impressionado com a organização e o poder do Exército 
norte-americano e já demonstravam seu 
descontentamento em apoiar uma ditadura 
personalista como a de Getúlio Vargas. Entre o final de 
1944 e o início de 1945, dois militares lançaram suas 
candidaturas à presidência da República: o major-
brigadeiro Eduardo Gomes e o general Eurico Gaspar 
Dutra. 
As forças políticas passaram a organizar seus partidos. 
Opositores oligárquicos, liberais, intelectuais e 
dissidentes do Estado Novo agruparam-se na União 
Democrática Nacional (UDN), em torno da candidatura 
de Eduardo Gomes. Do interior do governo Vargas 
surgiram dois partidos: o Partido Social Democrático 
(PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O PSD 
reunia representantes oligárquicos próximos a Getúlio e 
membros da burocracia do Estado Novo. Oficialmente, 
seu candidato era o general Dutra. O PTB tinha uma 
feição marcadamente urbana, agrupando dirigentes 
sindicais e representantes do Ministério do Trabalho. 
Getúlio Vargas foi escolhido presidente dos dois 
partidos. Não era coincidência. 
Em abril de 1945, Luís Carlos Prestes foi anistiado pelo 
governo e deixou a prisão junto com centenas de outros 
presos políticos. No mesmo mês, o governo brasileiro 
estabeleceu relações diplomáticas com a União 
Soviética. Naquele ano o Partido Comunista do Brasil 
(PCB) passou a funcionar legalmente. 
No entanto a transição democrática ainda era incerta. 
Desde o início das manifestaçõescontra a ditadura, em 
1943, ocorreram diversos conflitos entre cidadãos e 
forças policiais, e prisões de lideranças políticas. 
Mesmo assim, Getúlio Vargas prometia a democracia e 
afirmava que não concorreria à presidência, nas 
eleições agora marcadas para dezembro de 1945. Mas 
suas declarações eram recebidas com muita 
desconfiança. “Lembrai-vos de 37.” Esse era o slogan 
da forte campanha oposicionista da UDN. Como 
naquela ocasião, temia-se um golpe de Getúlio. A 
oposição tentaria antecipar-se ao ditador. 
 
10- Queremismo 
Em meio às inseguranças que cercavam os preparativos 
para as eleições, num comício no estádio do Pacaembu 
em São Paulo, Prestes surpreendeu a nação com um 
discurso em que defendia a permanência de Getúlio 
Vargas na presidência até a elaboração de uma nova 
Constituição para o Brasil. “Constituinte com Getúlio”, 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
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12 
passou a ser o lema dos comunistas recém-libertados 
das prisões do Estado Novo. Na verdade, diante de seu 
relativo enfraquecimento junto aos grupos no poder 
(Exército e oligarquias) e ao fortalecimento da oposição, 
Vargas aproximava-se do movimento popular. 
Novamente tentava equilibrar-se no poder. 
“Queremos Getúlio.” Em pouco tempo, um amplo 
movimento de massas passou a exigir a permanência 
de Vargas na condução da transição democrática. Seus 
participantes foram denominados queremistas. Temia-
se que, sob a influência das oligarquias e sob as 
pressões norte-americanas, os grupos mais 
conservadores controlassem o poder. O PCB, apesar 
das perseguições sofridas, seguia as orientações de 
Moscou para apoiar os governos que haviam lutado 
contra os regimes nazi-fascistas. Na avaliação de seus 
dirigentes, uma Constituinte com Getúlio traria mais 
avanços para a classe trabalhadora. A ambigüidade do 
ditador era contagiante. Enquanto flertava com os 
comunistas, Vargas conduzia o processo eleitoral de 
maneira a interferir em seus resultados. 
Um ato político-administrativo serviu de pretexto para 
a articulação que envolveu todos os que temiam a 
permanência da República. 
Em 29 de outubro de 1945, o ex-tenente João Alberto 
comunicou seu remanejamento da chefia da Polícia 
para a Prefeitura do Distrito Federal. Não se tratava de 
uma promoção. Desde agosto desse mesmo ano, ele 
tentava impedir, sem sucesso, a realização de comícios 
queremistas e reunia-se, com freqüência, com militares 
de alta-patente interessados no afastamento de Vargas 
da presidência da República. Para o seu lugar, Getúlio 
nomeou seu irmão Benjamim Vargas, que nem sequer 
chegou a exercer a estratégica função na capital do país. 
Horas depois do comunicado, liderados pelo general 
Góis Monteiro, colaborador de Vargas desde 1930 e seu 
ministro da Guerra na ocasião, os chefes das Forças 
Armadas depuseram o Presidente. 
José Linhares, presidente do Supremo Tribunal assumiu 
a presidência da República em caráter provisório. 
Manteve o calendário eleitoral e, assim, em 2 de 
dezembro de 1945, pouco mais de 6 milhões de 
brasileiros participaram da tão esperada eleição, que 
resultou na vitória de Eurico Gaspar Dutra. 
Apesar de deposto, e recolhido à sua fazenda de São 
Borja, no Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas seria ainda 
por muito tempo o divisor de águas da política 
brasileira. 
 
 
AS CONSTITUIÇÕES REPUBLICANAS 
 
 
Prólogo 
A partir de 1889 o Brasil passou a viver sua experiência 
republicana. Para efetivar essa experiência, se tornou 
preponderante a elaboração da Carta Magna, a nossa 
Constituição. No decorrer da História Brasileira foram 
seis Constituições republicanas, sendo que uma delas, a 
de 1937 foi Outorgada. O Texto abaixo possui o objetivo 
de descrever os Itens mais importantes de cada uma 
delas, que foi retirado da Câmara dos Deputados. 
Desejando aprofundar o conhecimento, recomendo o 
sitehttp://www.senado.gov.br/noticias/especiais/consti
tuicao25anos/historia-das-constituicoes.htm 
 
1- CONSTITUIÇÃO DE 1891 
Foi promulgada pelo Congresso Constitucional, o 
mesmo que elegeu Deodoro da Fonseca Presidente. 
Tinha caráter liberal e federalista, inspirado na tradição 
republicana dos Estados Unidos. Instituiu o 
presidencialismo, concedeu grande autonomia aos 
estados da federação e garantiu a liberdade partidária. 
Estabeleceu eleições diretas para a Câmara, o Senado e 
a Presidência da República, com mandato de quatro 
anos. Estabeleceu o voto universal e não-secreto para 
homens acima de 21 anos e vetava o mesmo a 
mulheres, analfabetos, soldados e religiosos; 
determinou a separação oficial entre o Estado e a Igreja 
Católica; instituiu o casamento civil e o habeas corpus; 
aboliu a pena de morte e extinguiu o Poder Moderador. 
Também nesta Constituição ficou estabelecida, em seu 
artigo terceiro, uma zona de 14.400 Km2 no Planalto 
Central, para a futura Capital Federal. A Constituição de 
1891 vigorou por 39 anos. 
 
2- CONSTITUIÇÃO DE 1934 
Foi promulgada pela Assembleia Constituinte no 
primeiro governo do Presidente Getúlio Vargas e 
preservou a essência do modelo liberal da Constituição 
anterior. Garantiu maior poder ao governo federal; 
instituiu o voto obrigatório e secreto a partir dos 18 
anos e o voto feminino, já instituídos pelo Código 
Eleitoral de 1932; fixou um salário mínimo; introduziu a 
organização sindical mantida pelo Estado. Criou o 
mandado de segurança. Sob a rubrica “Da Ordem 
Econômica e Social”, explicitava que deveria possibilitar 
“a todos existência digna” e sob a rubrica “Da família, 
da Educação e da Cultura” proclamava a educação 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
 
13 
“direito de todos”. Mudou também o enfoque da 
democracia individualista para a democracia social. 
Estabeleceu os critérios acerca da criação da Justiça do 
Trabalho e da Justiça Eleitoral. O Poder Legislativo seria 
exercido pela Câmara dos Deputados com colaboração 
do Senado, sendo aquela constituída por 
representantes eleitos pela população e por 
organizações de caráter profissional e trabalhista. A 
Constituição de 1934 vigorou por 3 anos. 
 
3- CONSTITUIÇÃO DE 1937 
No início de novembro de 1937, tropas da polícia militar 
do Distrito Federal cercaram o Congresso e impediram a 
entrada dos parlamentares. No mesmo dia, Vargas 
apresentou uma nova fase política e a entrada em vigor 
de nova Carta Constitucional. Começava oficialmente o 
“Estado Novo”. Deu-se a supressão dos partidos 
políticos e a concentração de poder nas mãos do chefe 
supremo. A Carta de 1937 possuía clara inspiração nos 
modelos fascistas europeus, institucionalizando o 
regime ditatorial do Estado Novo. Ficaria conhecida 
como “Polaca”, devido a certas semelhanças com a 
Constituição Polonesa de 1935. Extinguiu o cargo de 
vice-presidente, suprimiu a liberdade políticopartidária 
e anulou a independência dos Poderes e a autonomia 
federativa. Essa Constituição permitiu a cassação da 
imunidade parlamentar, a prisão e o exílio de 
opositores. Instituiu a eleição indireta para presidente 
da República, com mandato de seis anos; a pena de 
morte e a censura prévia nos meios de comunicação. 
Manteve os direitos trabalhistas. A Constituição de 1937 
vigorou por 8 anos. 
 
4- CONSTITUIÇÃO DE 1946 
Promulgada durante o governo do presidente Eurico 
Gaspar Dutra, foi elaborada sob os auspícios da derrota 
dos regimes totalitários na Europa ao término da 
Segunda Guerra Mundial, refletia a redemocratização 
do Estado brasileiro. Restabeleceu os direitos 
individuais, extinguindo a censura e a pena de morte. 
Devolveu a independência dos três poderes, a 
autonomia dos estados e municípios e a eleição direta 
para presidente da República, com mandato de cinco 
anos. Em 1961 sofreu importante reforma com a 
adoção do parlamentarismo. Foi posteriormente 
anulada pelo plebiscito de 1963, que restaurava o 
regime presidencialista. A Constituição de 1946 vigorou 
por 21 anos. 
 
 
5- CONSTITUIÇÃO DE 1967 
Foi promulgadapelo Congresso Nacional durante o 
governo Castelo Branco. Oficializava e institucionalizava 
a ditadura do Regime Militar de 1964. Foi por muitos 
denominada de “Super Polaca”. Conservou o 
bipartidarismo criado pelo Ato Adicional n° 2. 
Estabeleceu eleições indiretas, por meio do Colégio 
Eleitoral, para a presidência da República, com quatro 
anos de mandato. Foram incorporadas nas suas 
Disposições Transitórias os dispositivos do Ato 
Institucional n° 5 (AI-5), de 1968, dando permissão ao 
presidente para, dentre outros, fechar o Congresso, 
cassar mandatos e suspender direitos políticos. 
Permitiu aos governos militares total liberdade de 
legislar em matéria política, eleitoral, econômica e 
tributária. Desta forma, o Executivo acabou por 
substituir, na prática, o Legislativo e o Judiciário. Sofreu 
algumas reformas como a emenda Constitucional no 1, 
de 1969, outorgada pela Junta Militar. Tal emenda se 
apresenta como um “complemento” às leis e 
regulamentações da Constituição de 1967. Embora seja 
denominada por alguns como Constituição, já que 
promulgou um texto reformulado a partir da 
Constituição de 1967, muitos são os que não a vêem 
como tal. A verdade é que, a partir desta emenda, ficam 
mais claras as características políticas da ditadura 
militar. Continuava em vigor o Ato Institucional no 5 e 
os demais atos institucionais anteriormente baixados. A 
Constituição de 1967 autorizava a expedição de 
decretos-lei, a nomeação de senadores pelas 
Assembléias Legislativas, a prorrogação do mandato 
presidencial para seis anos e a alteração da 
proporcionalidade de deputados no Congresso. A 
Constituição de 1967 vigorou por 21 anos. 
 
6- CONSTITUIÇÃO DE 1968 
Atualmente em vigor, a Constituição de 1988 foi 
promulgada no governo de José Sarney. Foi elaborada 
por uma Assembleia Constituinte, legalmente 
convocada e eleita e a primeira a permitir a 
incorporação de emendas populares. O Presidente da 
Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, 
ao entregá-la à nação, chamou-a de “Constituição 
Cidadã”. Seus pontos principais são a República 
representativa, federativa e presidencialista. Os direitos 
individuais e as liberdades públicas são ampliados e 
fortalecidos. É garantida a inviolabilidade do direito à 
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade. O Poder Executivo mantém sua forte 
influência, permitindo a edição de medidas provisórias 
com força de lei (vigorantes por um mês, passíveis de 
serem reeditadas enquanto não forem aprovadas ou 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
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14 
rejeitadas pelo Congresso). O voto se torna permitido e 
facultativo a analfabetos e maiores de 16 anos. A 
educação fundamental é apresentada como obrigatória, 
universal e gratuita. Também são abordados temas 
como o dever da defesa do meio ambiente e de 
preservação de documentos, obras e outros bens de 
valor histórico, artístico e cultural, bem como os sítios 
arqueológicos. Reformas constitucionais começaram a 
ser votadas pelo Congresso Nacional a partir de 1992. 
Algumas das principais medidas abrem para a iniciativa 
privada atividades antes restritas à esfera de ação do 
Estado, esvaziando, de certa forma, o poder e a 
influência estatais em determinados setores. A iniciativa 
privada, nacional ou internacional, recebe autorização 
para explorar a pesquisa, a lavra e a distribuição dos 
derivados de petróleo, as telecomunicações e o gás 
encanado. As empresas estrangeiras adquirem o direito 
de exploração dos recursos minerais e hídricos. Na 
esfera política ocorrem mudanças na organização e 
regras referentes ao sistema eleitoral; o mandato do 
presidente da República é reduzido de cinco para 
quatro anos e, em 1997, é aprovada a emenda que 
permite a reeleição do presidente da República, de 
governadores e prefeitos. Os candidatos processados 
por crime comum não podem ser eleitos, e os 
parlamentares submetidos a processo que possa levar à 
perda de mandato e à inelegibilidade não podem 
renunciar para impedir a punição. Até o momento a 
Constituição de 1988 já sofreu alterações 45 vezes, com 
emendas constitucionais versando sobre os mais 
variados temas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ESTRUTURA POLÍTICA E OS MOVIMENTOS SOCIAIS 
NO PERÍODO MILITAR 
 
 
GOVERNOS MILITARES 
Na mitologia greco-romana, os deuses foram criados 
pelo Universo. O Céu (Urano) unido à Terra (Géia) 
produzia filhos que, tão logo nasciam, eram devolvidos 
ao seio materno. Em nome da liberdade, Saturno, o 
filho caçula, revoltou-se contra o pai. Castrou-o, 
libertou seus irmãos e, logo em seguida, tomou seu 
lugar e passou a governar o mundo. No entanto, com 
receio de perder o poder, aprisionou seus irmãos nas 
trevas e passou a devorar seus filhos assim que vinham 
à luz. 
No Brasil, a aliança entre os setores civil e militar pôs 
fim ao populismo. Em nome da liberdade, da ordem, 
dos valores cristãos e, principalmente, da segurança 
nacional, o presidente Goulart foi deposto. Um novo 
governo viria a se formar a partir dessa aliança. No 
entanto, como na mitologia grega, o golpe de 1964 
também devoraria seus filhos. E muitos de seus pais. 
Refugiado no Rio Grande do Sul e depois asilado no 
Uruguai, Jango recusou-se a tentar uma resistência 
armada ao movimento militar. Em dois de abril de 
1964, a presidência da República foi declarada vaga e 
novamente empossado, interinamente, Ranieri Mazzilli, 
presidente da Câmara dos Deputados. 
A intervenção militar era anunciada como passageira e 
saneadora dos “desmandos provocados pela infiltração 
esquerdista no país”. Tratava-se, segundo seus atores, 
de uma verdadeira missão salvacionista, na qual as 
Forças Armadas assumiam uma função tuteladora da 
sociedade, como haviam ensaiado à época da crise do 
regime monárquico e, de 30 e o golpe de 1937, e 
diversas vezes durante o regime populista. Confiante, a 
maioria dos jornais de todo o país saudava a vitória do 
movimento “democrático”. 
Às forças sociais que efetuaram a ruptura constitucional 
cabia agora a tarefa de reorganizar o país. 
Praticamente consensual era a necessidade de um 
Poder Executivo forte, que desmobilizasse e 
desarticulasse as diversas organizações populares, e 
impedisse a ação de seus principais dirigente. Por outro 
lado, caberia formar o novo governo a partir das 
alianças entre os representantes da UDN e do PSD, das 
principais lideranças militares e dos diversos setores do 
empresariado. 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
 
15 
No seio das Forças Armadas, unidas contra o 
comunismo e a esquerdização da República, restavam 
ainda os setores “reformista” ou “nacionalistas”, cuja 
adesão ao golpe contra João Goulart fora obtida graças 
às seguidas insubordinações hierárquicas relevadas pelo 
Presidente. Gradativamente esse grupo foi afastado do 
centro das decisões e alguns de seus representantes 
passaram à oposição ao regime. Os militares 
distinguiam-se ainda em dois outros agrupamentos: a 
chamada “Sorbonne” ou os moderados, como eram 
conhecidos os ideólogos da Escola Superior de Guerra 
(ESG), que forneceriam as bases doutrinárias para a 
intervenção político-social, e os representantes da 
“linha dura”, que comandavam as principais unidades 
militares. Durante os vinte anos de ditadura, esses dois 
grupos disputaram o controle político do país e 
compuseram o núcleo do poder. A hegemonia política, 
tão instável durante a República Populista, seria 
exercida pelos militares. 
 
A. A Institucionalização do Regime 
Em nove de abril, o Comando Supremo da Revolução, 
uma junta militar que assumiu de fato o poder, 
promulgou um conjunto de regras políticas denominado 
Ato Institucional nº (AI-1). Seu principal autor foi o 
jurista Francisco Campos, cuja experiência em leis 
autoritárias remontava à década de 1930, quando 
elaborava a Constituição de 1937. 
O Ato Institucional fortalecia o Poder Executivo e 
concedia ao presidente poderes parasuspender direitos 
políticos, cassar mandatos e exonerar funcionários 
públicos. As garantias constitucionais eram 
interrompidas por seis meses. 
Antecipando as disposições da Constituição, que previa 
eleições pelo Congresso Nacional trinta dias após a 
declaração de vacância dos cargos de presidente e vice-
presidente, os deputados e senadores escolheram o 
general Humberto de Alencar Castelo Branco como 
presidente do Brasil, tendo como vice o político do PSD 
mineiro, José Maria Alkmin. 
O governo de Castelo Branco deveria durar cerca de 
dois anos, tempo que ainda restava ao mandato de 
Goulart, quando então o Brasil retornaria à 
“normalidade” democrática. A eleição presidencial 
estava marcada para outubro de 1965. Os principais 
postulantes à sucessão eram Carlos Lacerda e 
Magalhães Pinto, da UDN, Juscelino Kubitschek, do PSD, 
e Ademar de Barros, do PSP. No entanto, pressões de 
udenistas e da linha dura levaram o novo governo a 
incluir o ex-presidente mineiro na lista das cassações 
políticas, acusado de corrupção em junho de 1964. 
Com isso, grande parte do PSD passou à oposição. 
Um mês depois foi aprovada uma emenda 
constitucional adiando a eleição presidencial para o 
final de 1966 e prorrogando o mandato de Castelo até 
março de 1967. A anunciada normalidade democrática 
começa a ser protelada. 
Dessa vez as medidas autoritárias atingiam em cheio as 
pretensões do irrequieto e temido líder udenista Carlos 
Lacerda, que passou a criticá-las publicamente. Em seu 
currículo constavam tentativas de golpe e 
desestabilização contra todos os últimos governantes 
brasileiros eleitos desde 1950. Magalhães Pinto e 
Ademar de Barros também viam ameaçados seus 
projetos de ocupar a presidência. 
As divergências entre os líderes golpistas tornaram-se 
mais agudas a partir de 1965. Em outubro, as eleições 
demonstraram certa desaprovação popular ao governo, 
que apoiou ostensivamente os candidatos da UDN. A 
oposição venceu na Guanabara, em Minas Gerais, em 
Santa Catarina e no Mato Grosso. Setores militares da 
linha dura ameaçaram destituir Castelo Branco – que 
havia anunciado respeitar o resultado das eleições – e 
estabelecer um verdadeiro “governo revolucionário”. 
Exigiam do presidente o veto à posse dos governadores 
eleitos da Guanabara e de Minas Gerais. Nem mesmo o 
acordo firmado entre os eleitos e o governo federal – 
acalmou os setores mais reacionários das Forças 
Armadas. 
Sob forte tensão política, no dia 27 de outubro, foi 
lançado o Ato Institucional nº 2 (AI-2), que aboliu os 
partidos existentes, transformou em indiretas as 
eleições para a presidência da República, interveio na 
composição do Supremo Tribunal Federal e retomou a 
prática de expurgos e cassações. Abriu-se uma 
crise política no interior do regime. Pressionado pela 
extrema direita, Castelo Branco não dispunha de 
resultados eleitorais que pudessem neutralizar e 
equilibrar o jogo político. Contraditoriamente o militar 
que prometera a normalidade democrática adotava, 
cada vez mais, medidas arbitrárias que consolidavam e 
aprofundavam a ditadura. 
Em fevereiro de 1966 foi baixado o Ato Institucional nº 
3 (AI-3), que tornou indiretas as eleições para os 
governos estaduais e suspendeu as eleições para 
prefeitos de capitais e de municípios considerados de 
segurança nacional, cuja escolha tornou-se privilégio 
dos governadores. No mesmo ano a reorganização do 
sistema partidário deu origem ao bipartidarismo. Os 
partidários do governo articularam-se na Aliança 
Renovadora Nacional (Arena) e a oposição organizou-se 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
- LEI 5.810/94 
 
 
16 
no Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Sob 
constantes ameaças e intimidações, a oposição política 
teve seu espaço cada vez mais reduzido. Ironicamente 
a Arena ficou conhecida como o partido do sim, senhor 
e o MDB como o agrupamento do acho que sim. A 
contestação ao regime não se daria no Parlamento. 
 
C .Frente Ampla 
“No fundo, chegamos à conclusão de que fizemos a 
revolução contra nós mesmos.” Essa lamentosa frase de 
Ademar de Barros sintetizava o ânimo de alguns 
conspiradores civis com os rumos do governo militar. 
Após duras críticas ao regime, Ademar chegou a exigir a 
renúncia do presidente Castelo Branco em um 
manifesto à nação. Em junho de 1966 teve seus direitos 
políticos cassados por dez anos. 
Muito mais agitado, Carlos Lacerda não se limitou a 
discursos e artigos nos jornais contra a ditadura que 
ajudara a instaurar. Procurando organizar um terceiro 
partido político que viabilizasse suas pretensões 
presidenciais, ele recorreu até mesmo aos ex-
presidentes exilados Jango e Juscelino, seus antigos 
inimigos, para formar a Frente Ampla. Aproveitando-se 
do descontentamento geral e com a gradativa perda de 
espaço político, o ex-governador da Guanabara tentava 
uma cartada desesperada. Passou a adotar um discurso 
nacionalista e exigia o retorno do país à democracia. 
Desde 1965, intensificou seus ataques a líderes do golpe 
militar. 
No entanto, além de contraditória, a aliança entre as 
velhas raposas do período democrático populista se 
mostrou ineficaz. Brizola e Jânio negaram-se a 
participar, e Goulart e Juscelino ficaram reticentes em 
apoiar seu antigo desafeto. A Frente Ampla foi posta na 
ilegalidade em 1968. Ao final do mesmo ano, Lacerda 
foi preso e teve seus direitos políticos cassados. O 
bipartidarismo iria durar até 1980. Os tempos eram 
outros. E bem duros. 
Radical. Hoje a palavra pode significar uma manobra 
arrojada sobre um skate ou uma prancha de surfe. Uma 
ousada forma de vestir ou um difícil passo de dança. 
Até mesmo um refrigerante de sabor exótico e cor 
surpreendente. Na década de 1960 os significados 
eram outros. 
O mundo vivia uma intensa efervescência política e 
cultural. Em meio à Guerra Fria os norte-americanos 
assumiam o papel de defensores do capitalismo 
internacional, realizando intervenções militares na 
República Dominicana (com apoio de tropas brasileiras) 
e no Vietnã. Na China o líder comunista Mao Tsé-tung 
consolidava-se no poder com sua revolução cultural. 
Em Cuba o regime socialista de Fidel Castro desafiava os 
Estados Unidos. Na Bolívia, em 1967, a morte de Che 
Guevara firmava-o como modelo do herói 
revolucionário. Na América Latina proliferavam as 
ditaduras patrocinadas pelos norte-americanos. 
No Brasil, apesar das crescentes medidas repressivas e 
das dificuldades políticas estabelecidas para a oposição, 
crescia o sentimento contrário à ditadura. Incursões 
armadas a partir do Rio Grande do Sul e atentado à 
bomba – um deles visando um dos líderes da linha dura, 
o general Costa e Silva – foram frequentes em 1965. No 
ano seguinte, apesar da repressão, os estudantes 
voltaram a se manifestar em todo o país e procuraram 
reorganizar a UNE, posta na ilegalidade desde 1964. A 
esquerda estudantil voltou a protestar. 
Além disso, a insatisfação popular era alimentada pelos 
insuficientes resultados econômicos obtidos pelo 
governo. Herdeiro de uma grave crise econômica, 
Castelo encarregou os economistas Roberto Campos e 
Octávio Bulhões de implementar medidas que 
resolvessem o déficit público e contivessem a taxa 
inflacionária. Através do Programa de Ação Econômica 
do Governo (PAEG), os salários foram comprimidos, 
reduziram-se os gastos públicos, cortaram-se subsídios, 
ampliou-se a arrecadação de impostos e procurou-se 
conceder facilidades ao capital estrangeiro, revogando 
a Lei de Remessa de Lucros regulamentada por João 
Goulart. Apesar da redução da inflação de quase 100% 
ao ano, em 1964, para cerca de 35%, em 1965, e 40%, 
em 1966, a taxa permanecia elevada e em alguns 
setores específicos (eletricidade, combustíveis e trigo) 
ocorreu aumento de preços, provocando o 
descontentamento dos assalariados. O terreno estava 
propício a contestações. 
 
D. Sucessão Presidencial 
Em 1967 a linha dura chegou ao poder. A sucessão de 
Castelo Branco foi decididapelo alto comando das 
Forças Armadas. Desde 1964 o general Artur da Costa e 
Silva vinha angariando simpatias para sua candidatura. 
Em maio de 1966, a convenção da Arena simplesmente 
ratificou o nome do general. O MDB não lançou 
candidato, em protesto contra as seguidas mudanças 
das regras eleitorais, intimidações, cassações e 
impugnações de candidatos da oposição, que 
resultaram na ampla maioria parlamentar de 
governistas. Para vice-presidente foi escolhido o 
udenista Pedro Aleixo. 
Poucos dias antes de deixar o governo, Castelo Branco 
lançou o decreto que instituía a Lei de Segurança 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
 
17 
Nacional, pela qual toda ação considerada 
desestabilizadora do regime – entenda-se greves, 
manifestações, pronunciamentos e articulações 
políticas – passou a ser alvo de severas punições. Na 
prática todos aqueles que fossem enquadrados nessa lei 
teriam seus direitos civis suspensos. 
Em sete de dezembro de 1966, através do Ato 
Institucional nº 4 (AI-4), os deputados e senadores 
foram convocados para a eleição do novo presidente e 
para a elaboração de uma nova Constituição para o 
país. A Constituinte foi convocada com prazo definido 
para terminar seus trabalhos e funcionou sob forte 
pressão militar. Em 21 de janeiro de 1967, foi aprovada 
uma nova Constituição, que procurava legitimar o 
Estado autoritário e manter o Poder Legislativo coagido 
pela repressão. Reorganizava-se, assim, a legislação do 
novo governo que, entre os anos de 1964 e 1966 
estabeleceu quatro atos institucionais, 36 atos 
complementares, 312 decretos-leis e 3.746 atos 
punitivos. Na nova Carta, toda essa legislação era agora 
disposta de modo a conferir “legalidade” ao regime. O 
autoritarismo virava lei. Mas o pior ainda estaria por 
vir. 
E. Manifestações de protesto 
As restrições políticas impostas pelo regime 
desencadearam uma imensa onda de protestos em 
todo o país. Além da vacilante Frente Ampla e do 
limitado MDB, ganhou força no cenário político o 
movimento estudantil, em sintonia com a rebeldia dos 
jovens norte-americanos e europeus nos inquietos anos 
60. Articulando reivindicações específicas aos grandes 
temas nacionais, os estudantes organizaram grandes 
manifestações exigindo o fim da ditadura militar. Como 
suporte, difundia-se uma cultura engajada, que 
propunha transformações radicais na sociedade 
brasileira através da aliança entre intelectuais, 
estudantes, camponeses e operários. No horizonte 
dessas propostas estava o socialismo. 
Os confrontos com policiais tornaram-se frequentes, 
aumentando o clima de radicalização política. Policiais e 
grupos paramilitares invadiam universidades, teatros e 
centros culturais, realizando prisões e espancamentos 
de professores, estudantes, artistas e intelectuais. De 
um lado, bombas de gás lacrimo gênio, cavalaria, 
cassetetes, espadas e tiros. De outro, lenços e garrafas 
com água ou amoníaco (para suportar o efeito do gás), 
bolinhas de gude e rolhas (para derrubar os soldados de 
seus cavalos), coquetéis molotov, faixas contra a 
ditadura e palavras de ordem que revelavam as disputas 
pela hegemonia do movimento: “só o povo organizado 
derruba a ditadura” contra “só o povo armado derruba 
a ditadura”. Como em outras partes do mundo, muitas 
bandeiras dos Estados Unidos, queimadas em público, 
num ritual que pretendia destruir simbolicamente o 
poder da maior potência capitalista da época. 
O clima de efervescência política levou parlamentares a 
condenarem as ações repressivas contra a população 
civil e a denunciar a prática de tortura por parte dos 
agentes policiais. Diante disso, o governo passou a 
exigir a suspensão das imunidades parlamentares dos 
autores de pronunciamentos críticos às ações policiais e 
o seu enquadramento na Lei de Segurança Nacional. Em 
especial tinham em mira o deputado Márcio Moreira 
Alves, do MDB, que se pronunciara contra a ação das 
Forças Armadas na repressão aos estudantes. O 
governo exigia o direito de processar o deputado. Para 
tanto, era necessária a aprovação do Congresso 
Nacional. 
A essa altura, as arbitrariedades cometidas em nome do 
regime haviam aberto dissidências nas bases 
governistas. Para surpresa geral, os deputados negaram 
o pedido do Executivo, impondo-lhe uma fragorosa 
derrota em 12 de dezembro de 1968. Era a hora da 
verdade. Os governantes poderiam ceder às 
manifestações e protestos e restabelecer a democracia 
no país. Ou então aprofundar a ditadura. 
 
F. O AI 5 
Na noite de 13 de dezembro de 1968, menos de 24 
horas após a corajosa sessão parlamentar, foi 
anunciado à nação o Ato Institucional nº 5 (AI-5) e um 
novo Ato Suplementar que fechava o Congresso 
indefinidamente. Pelo AI-5, cuja vigência só expiraria 
por decreto do Executivo – o que só viria a ocorrer dez 
anos depois –, ficavam suspensos todos os direitos civis 
e constitucionais. Nesse período, qualquer cidadão 
brasileiro poderia ser preso e perder seus direitos 
políticos por ordem do Poder Executivo. 
Todos os veículos de comunicação passaram à vigilância 
militar, que operava a censura prévia de qualquer 
matéria de teor oposicionista ou que desse publicidade 
a manifestações de contestação ao regime. O Poder 
Judiciário passou, por uma série de mecanismos, à 
órbita do Executivo. Ocorreram centenas de prisões, 
cassações políticas e expurgos no serviço público, além 
de aposentadorias compulsórias nas universidades. 
Foram suprimidas as garantias básicas do Estado de 
direito, como o mandado de segurança para prisões e 
buscas e o habeas corpus para crimes políticos. Nos 
meses seguintes, novos atos institucionais procuraram 
"legalizar" a atribuição de poderes discricionários ao 
Executivo. 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
- LEI 5.810/94 
 
 
18 
O AI-5 marcava o início de uma nova fase da República 
Militar. Consolidavam-se a institucionalização da 
ditadura e o Estado de Segurança Nacional - o primeiro 
de muitos a se estabelecerem na América Latina –, que 
identificava, como seus inimigos internos, determinados 
setores da sociedade, tidos como agentes do 
comunismo internacional. Disseminada pelos Estados 
Unidos, logo após a Segunda Guerra, e desenvolvida no 
Brasil pela Escola Superior de Guerra (ESG), a partir de 
1949, a ideologia de segurança nacional tornara-se 
peça-chave da propaganda e das ações militares 
ocidentais contra o "expansionismo vermelho". A 
formação de lideranças civis e militares tinha como 
pressuposto a incapacidade governamental das elites 
civis e, consequentemente, previa a atribuição aos 
militares da missão de salvar o país da infiltração 
comunista. 
Ampliando o conceito de guerra para o cotidiano da 
política e submetendo esta última aos desígnios 
geopolíticos do Brasil – país ocidental, capitalista, 
cristão –, obtinha-se uma perigosa identificação entre a 
nação e o Estado, tido como sua representação política. 
Assim, as discordâncias oposicionistas eram 
identificadas como crimes contra o Estado, cujos 
objetivos visavam desestabilizar o regime e subjugar a 
soberania nacional. A espessa e negra cortina 
autoritária cobriria o Brasil por mais de uma década. 
 
G- NAVALHA NA CARNE 
"[. ] que várias vezes seguidas procederam à imersão da 
cabeça do interrogatório, a boca aberta, num tambor de 
gasolina cheio d'água, conhecida essa modalidade como 
“banho chinês” [... ] 
[...] que, inclusive, ameaçaram de tortura seus dois 
filhos; que torturaram seu marido também; que seu 
marido foi obrigado a assistir a todas as torturas que 
fizeram consigo; que também sua irmã foi obrigada a 
assistir à suas torturas; [... ] 
[...] sofreu violências sexuais nó presença e na ausência 
do marido; [... ] 
[...] a interroganda quer ainda declarar que durante a 
primeira fase do interrogatório foram colocadas baratas 
sobre o seu corpo, e introduzida uma no seu anus." 
Depoimentos de vítimas da repressão militar, 
Apud Brasil: nunca mais, p. 39-48. 
 
 
"Nossos acusadoresreclamam com frequência de 
nossos interrogatórios. Alegam que presos inocentes 
eram mantidos horas sob tensão, sem dormir, sendo 
interrogados. Reclamam, também, de nossas ‘invasões 
de lares’, sem mandados judiciais. É necessário explicar 
porém, que não se consegue combater o terrorismo 
amparado nas leis normais, eficientes para um cidadão 
comum. Os terroristas não eram cidadãos comuns." 
Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra 
Rompendo o silêncio, p. 157. 
A tortura degrada tanto aqueles que são submetidos a 
ela quanto os que a cometem. De um lado ou de outro, 
o elemento sombrio e indigno do ser humano aflora. À 
mercê das atrocidades, sem direitos civis que o possam 
amparar, o homem submetido à tortura vê-se 
desumanizado. 
A manutenção de sua dignidade custa-lhe, muitas 
vezes, sua sanidade mental. Ou sua vida. O torturador, 
por mais cruel e sádico que possa parecer, não escapa 
da bestialização que procura impor às suas vítimas. 
Pior. Sua dignidade não pode ser mantida nem pela 
loucura nem através da morte. A memória da barbárie é 
o tormento de seus atos. O ofício do historiador não é 
vingativo nem cruel, mas não deve omitir a crueldade. 
O Estado de Segurança Nacional institucionalizou a 
tortura, que passou a integrar o cotidiano da luta 
política no país. Suprimidas as garantias e os direitos 
civis dos cidadãos, estes se tomaram vulneráveis às 
violências praticadas pelo Estado em nome da defesa 
da nação. Transgressor dos direitos humanos, o regime 
militar permitiu que a nação devorasse seus filhos. 
O endurecimento do regime militar com o AI-5 
provocou uma profunda alteração na política brasileira. 
Eliminada a possibilidade da oposição legal e da 
resistência civil, começou a ganhar corpo a opção do 
confronto militar. Muitos grupos de esquerda, 
compostos em sua maioria por estudantes e 
intelectuais, passaram a organizar a luta armada como 
instrumento de oposição à ditadura. Entusiasmados 
com os sucessos revolucionários chinês e cubano, 
grupos guerrilheiros desejavam estabelecer uma 
república socialista no Brasil. Audaciosas operações 
político-militares, como assaltos a bancos, treinamentos 
de tropas, fugas de presos políticos, ataques a quartéis 
militares e roubos de armamentos e explosivos, 
alimentaram o sonho dos revolucionários brasileiros. 
 
 
 
POLÍCIA MILITAR DO PARÁ - SOLDADO 
HISTÓRIA DO BRASIL 
 
19 
H- A repressão 
Um grande aparato repressivo foi montado para 
combater a oposição armada. Ligado diretamente ao 
Conselho de Segurança Nacional, o poderoso Serviço 
Nacional de Informações (SNI) subordinava todas as 
secretarias estaduais de Segurança e seus respectivos 
Departamentos de Ordem Política e Social – DOPS), 
além de coordenar os serviços secretos e centros de 
operações das três Armas. 
Uma dialética nefasta impunha-se: o endurecimento do 
regime fortalecia a opção da resistência armada; esta 
fortalecia os setores mais identificados com a ideologia 
de segurança nacional, que tinha nesse confronto 
campo fértil para sua expansão. Paradoxalmente, com 
Costa e Silva, a linha dura implementou e levou às 
últimas consequências a doutrina desenvolvida pelo 
grupo da. "Sorbonne". Os militares assumiam o controle 
completo da sociedade. 
No Exército foram criados dois organismos de 
operações especiais: o Destacamento de Operações e 
Informações (DOI) e o Centro de Operações de Defesa 
Interna (Codi). Vinculando as ações das polícias e do 
Exército, e financiadas por industriais brasileiros e 
multinacionais, foram organizadas em São Paulo ações 
de varredura de militantes de esquerda, denominadas 
Operação Bandeirantes (Oban). Em diversas delegacias, 
quartéis militares e mesmo em fazendas particulares de 
membros da repressão, os representantes da esquerda 
tinham de responder a intensos interrogatórios e 
sofriam sessões de torturas. 
Os presos eram submetidos a choques elétricos, pau-
de-arara, estupros, afogamentos, queimaduras, lesões 
físicas e psicológicas de toda a espécie. A humilhação e 
a degradação eram acompanhadas por sofisticadas 
técnicas de tortura e especialistas no ramo. Médicos 
ajudavam os torturadores a manter vivos os seus 
prisioneiros. Torturadores renomados eram designados 
para cuidar de presos que pudessem revelar 
importantes informações. 
Em plena guerra subversiva - uma das expressões caras 
à ESG - o poder militar viveu mais uma crise,. O 
presidente Costa e Silva, acometido de graves 
problemas de saúde, teve de ser afastado do cargo. No 
lugar de permitir a posse do vice-presidente civil Pedro 
Aleixo, o Alto Comando das Forças Armadas passou o 
governo do Brasil a uma Junta de Ministros Militares em 
agosto de 1969. 
Em Outubro do mesmo ano, num clima de forte divisão 
nas Forças Armadas, foi indicado para a Presidência da 
República o general Emílio Garrastazu Médici. Setores 
militares ligados ao grupo da "Sorbonne" temiam que o 
aparato repressivo se tomasse incontrolável. 
As audaciosas ações dos guerrilheiros, principalmente 
do ex-campeão do Exército Carlos Lamarca e de Carlos 
Marighela, deputado constituinte pelo PCB em 1945, 
não foram suficientes para vencer a ditadura. Divididas 
em inúmeros grupúsculos, isoladas politicamente e 
submetidas a uma intensa repressão militar, em pouco 
tempo as organizações guerrilheiras passaram à 
defensiva. 
Sequestros de embaixadores tomaram-se a forma 
desesperada de libertar companheiros aprisionados 
pela repressão. Em 1969, poucos dias após o 
afastamento de Costa e Silva, militantes do Movimento 
Revolucionário 8 de outubro (MR-8) e da Aliança 
Libertadora Nacional (ALN) sequestraram o embaixador 
norte-americano Charles Burke Erick. Em 1970 foram 
sequestrados os embaixadores da Suíça e da Alemanha 
Ocidental e o cônsul do Japão. A cada uma dessas ações 
guerrilheiras, grupos de militantes eram retirados dos 
locais de tortura e banidos do país. No entanto, para 
cada militante libertado, muitos eram presos ou 
mortos. Marighela morreu em novembro de 1969. 
Lamarca, em setembro de 1971. Ao final de 1973, as 
organizações de esquerda haviam sido completamente 
derrotadas. O sonho havia acabado. 
 
I - A resistência 
Apesar de amordaçada pela censura, a sociedade 
brasileira encontrou meios para resistir à onda de 
violências que dominava o pais. As reações eram 
pequenas se comparadas com outros momentos de 
mobilização, mas nem por isso menos importantes. 
Com a repressão sobre os estudantes, intelectuais e 
operários, com as cassações e perseguições aos 
parlamentares de oposição e 
Com o declínio dos grupos guerrilheiros, era necessária 
muita habilidade para enfrentar a ditadura. 
Jornais que tinham suas matérias censuradas passaram 
a publicar trechos de poesias, O Estado de S. Paulo 
estampava estrofes de Os lusíadas e o Jornal da Tarde, 
receitas de bolos. Era uma forma de lembrar aos 
leitores que haviam sido censurados pela repressão. 
Compositores elaboravam letras para canções repletas 
de duplos-sentidos, que pudessem confundir os 
censores. Chico Buarque, cansado de ter suas músicas 
proibidas, criou um novo nome - Julinho da Adelaide - a 
quem atribuiu a autoria de três de suas canções: Acorda 
amor; Jorge Maravilha e Milagre brasileiro. Irônico, o 
compositor fez Julinho dar uma entrevista ao jornal 
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HISTÓRIA DO BRASIL 
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20 
Última Hora em setembro de 1974. No ano seguinte, 
Julinho já havia "morrido", mais uma vez por obra de 
seu criador. 
Mas foram as lideranças progressistas da Igreja católica, 
através de suas pastorais, que exerceram o principal 
papel de resistência nesses anos tão difíceis. "Voz 
daqueles que não tinham voz", ela colocou advogados à 
disposição das famílias dos presos políticos. O objetivo 
inicial era encontrar os prisioneiros e garantir-lhes 
assistência jurídica. O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. 
Paulo Evaristo Arns, fez duras críticas aos militares, 
condenou publicamente as torturas praticadas e 
Denunciou os assassinatos

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