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1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 iesc - anemias - A anemia é uma condição patológica em que ocorre diminuição da massa de hemoglobina e da massa eritrocitária. A redução da concentração de hemoglobina (Hb), em si, não define a anemia, pois esse achado pode ocorrer em situações fisiológicas, como a que se observa a partir do segundo trimestre da gestação, principalmente por volta da 24ª semana, atribuída à hemodiluição. - Ainda assim, para fins práticos, a concentração da hemoglobina (ou o hematócrito) é o parâmetro laboratorial mais utilizado para definir o quadro de anemia. A primeira etapa na avaliação do paciente é estabelecer se ele de fato tem anemia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) define anemia como a concentração de Hb inferior a 12 g/dL para mulheres pré- menopausa e inferior a 13,0 g/dL para homens e para mulheres na fase pós- menopausa. - Os valores mínimos normais para a concentração de hemoglobina sanguínea é de: • 13g/dl para homens; • 12g/dl para mulheres; • 11g/dl para gestantes e crianças entre 6 meses e 6 anos. - Além da idade, do sexo e da altitude, outros fatores também podem influenciar os níveis de concentração da Hb, como o tabagismo, a idade gestacional e o índice de massa corporal. - A prevalência da anemia varia de acordo com a região e com a situação econômica dos diferentes países. Por exemplo, a anemia falciforme e a talassemia β são mais prevalentes na África equatorial e na bacia do Mediterrâneo, respectivamente, mas também são encontradas em países como o Brasil, que receberam imigrantes dessas regiões. - As anemias obedecem a um padrão de análises que necessita de uma visão introdutória da hematopoiese e de valores referenciais devido à intrínseca relação de causas e efeitos dos seus diferentes tipos. Hematopoiese e valores referenciais em hematologia são abordagens distintas, porém, extremamente ligadas no sentido do entendimento do resultado de um hemograma. - Nesse contexto a avaliação se faz, sob o ponto de vista dos resultados numéricos, nas formas independentes das três séries celulares do sangue, quais sejam, a série vermelha – em que são considerados os eritrócitos e seu principal componente, a hemoglobina, a série branca – em que se avaliam os diferentes tipos de leucócitos, e a série trombocítica ou plaquetária – em que se determinam as plaquetas. - A avaliação do plasma e de alguns de seus inúmeros componentes, também se reveste de grande importância, uma vez que, diante de um quadro patológico, o médico e o profissional de laboratório precisam de analisar o conjunto de informações para interpretar o resultado de um determinado exame. A ERITROPOIESE - Essa terminologia se refere exclusivamente à formação dos eritrócitos, desde a célula tronco pluripotencial primitiva, das células nucleadas intermediárias (eritroblastos), reticulócitos, eritrócitos, fatores da eritropoiese (eritropoietina ou EPO, vitamina B12, ácido fólico e ferro), fatores genéticos, fatores ambientais (infecção, queimadura, etc). - Portanto a eritropoiese não se refere apenas ao desenvolvimento morfológico e funcional dos eritrócitos e de seus precursores, mas também são dependentes de situações inesperadas, por exemplo: incompatibilidade materno-fetal de Rh, entre outras. - O tempo total da eritropoiese, do momento em que a célula tronco pluripotencial é estimulada pela Interleucina-3 ou IL-3 a se dividir, até a formação do eritrócito demanda um período aproximado de oito dias. Somente o reticulócito consome cerca de três dias nesse processo. - O eritrócito, ao sair da medula óssea, adquire a forma bicôncava nos primeiro momentos de exposição na circulação sanguínea, processo que é promovido por fatores físico-químicos que regulam a permeabilidade celular com destaques para as bombas de sódio, potássio, cálcio e ATPase. O eritrócito normal terá bom desempenho por 100 dias, aproximadamente. - Entre o 100º ao 120º dias de vida eritrocitária, as bombas de permeabilidades perdem gradualmente suas ações biológicas e a morfologia bicôncava muda para a forma esférica. Os eritrócitos esféricos e envelhecidos rolam com dificuldades na microcirculação, notadamente na do sistema reticulo endotelial, onde 80 a 85% serão fagocitados pelos macrófagos, enquanto que cerca de 15 a 20% hemolisam espontaneamente na própria circulação. - Por essas razões observam-se alguns poucos eritrócitos deformados em pessoas sem anemia, alguns com corpos de Heinz – corpúsculo indicativo de degradação da hemoglobina e, portanto, possibilidade de apoptose eritrocitária. - No processo de fagocitose dos eritrócitos envelhecidos pelos macrófagos, estabelecem-se ações imunológicas de reconhecimento dos produtos fagocitados e que resultarão na liberação de interleucina 3 (IL-3) para estimular as células tronco pluripotenciais a se reproduzirem, bem como, os átomos de ferro acumulados pelos macrófagos e obtidos das moléculas de hemoglobinas dos eritrócitos fagocitados serão passados por meio de receptores celulares específicos aos eritroblastos basófilos, policromáticos e ortocromáticos, para serem utilizados na síntese de moléculas de hemoglobinas. - Por todas essas razões é fundamental o conhecimento da eritropoiese, o desenvolvimento normal das ações de sucesso na formação eritrocitária, bem como as possibilidades de causas de insucesso na eritrogênese. Ao conhecermos essas possibilidades, as análises quantitativas e qualitativas (citológicas) dos eritrócitos se tornam explicáveis quando normais ou alteradas. FISIOPATOLOGIA - Cada tipo de anemia tem suas caraterísticas fisiopatológicas específicas. Entretanto, vale a pena discutir aspectos fisiopatológicos comuns a todos os tipos de anemia. A hemoglobina é a proteína que transporta o oxigênio dos pulmões aos tecidos. A captação e a liberação do oxigênio pela hemoglobina são influenciadas por: temperatura, pH, concentração de CO2 e quantidade de 2,3-DPG. A curva de dissociação da oxi-hemoglobina mostra a correlação da saturação de O2 com a pressão parcial de O2 e o conteúdo de Hb. - Redução da massa de hemoglobina pode acarretar diminuição significativa da capacidade de transporte de O2 e de sua liberação para os tecidos, que se torna mais evidente em condições de aumento súbito da demanda. A queda da concentração da Hb leva à mobilização pelo organismo de mecanismos compensatórios, tais como, aumento do débito cardíaco, redistribuição do fluxo sanguíneo para órgãos vitais, aumento do influxo de líquido do espaço extravascular para o intravascular, entre outros, mecanismos esses acionados de maneira menos efetiva nos indivíduos idosos ou debilitados. CLASSIFICAÇÃO - A classificação das anemias pode obedecer vários critérios, entre os quais, os mais utilizados na prática laboratorial, destacam-se a classificação laboratorial e a classificação fisiopatológica. A classificação laboratorial da anemia se suporta nos resultados dos índices hematimétricos (VCM e HCM), 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 resultando em três tipos de anemias: normocítica/normocrômica, microcítica/hipocrômica e macrocítica, conforme o esquema abaixo: - A classificação laboratorial de anemias é, portanto, a forma mais comum na comunicação entre laboratório e médico, entretanto há de se destacar que nem sempre a anemia normocítica/normocrômica é indicativo que os eritrócitos estejam normais em seus tamanhos, formas e cromias. - Na realidade a maioria das anemias normocíticas/normocrômicas tem diversidades morfológicas caracterizadas por macrócitos, micrócitos e poiquilócitos, em que o valor médio do volume eritrocitário (VCM) resulta normal. Da mesma forma a diferença de cromia, por exemplo, micrócitos hipocrômicos e macrócitos normocrômicos resulta em valor médio de hemoglobina intraeritrocitária (HCM) normal. - Por fim, em casosde anemia normocítica/normocrômica com alterações morfológicas de eritrócitos, esses fatos devem ser relatados, por exemplo: “anemia normocítica/normocrômica com morfologia eritrocitária composta por micrócitos hipocrômicos, esquisócitos, células em alvo e macrócitos”. O valor de RDW quando associado ao VCM facilita a configuração da morfologia eritrocitária que poderá ser encontrada na análise morfológica, conforme o quadro a seguir: - Quando se tem informações clínicas do paciente, a classificação laboratorial se torna mais fácil de ser compreendida, porém, nem sempre essas informações são prestadas ao laboratório, conforme a exposição a seguir: a) Situações patológicas mais comuns nas anemias normocíticas/normocrômicas: câncer, doença renal, invasão tumoral da medula óssea, hemorragia aguda, inflamação, anemia hemolítica adquirida, anemia falciforme e fase inicial da deficiência de ferro. b) Situações patológicas mais comuns nas anemias microcíticas/hipocrômicas: deficiência crônica de ferro, hemorragia crônica, talassemias menor, intermédia e maior, S/beta talassemia, S/alfa talassemia e anemia sideroblástica. c) Situações patológicas mais comuns nas anemias macrocíticas: deficiências de vitamina B12 e folatos, mielofibrose, doenças hepáticas e anemia megaloblástica, anemia hemolítica com reticulocitose. - Por outro lado as anemias classificadas por meio das alterações fisiopatológicas do paciente determina o que denominamos por classificação fisiopatológica da anemia. - Hemorragia aguda: sangramento volumoso, interno ou externo. - Hemorragia crônica: sangramento contínuo, de pequeno volume, nos tratos gastrointestinal, urinário ou reprodutivo. - Hemolítica hereditária: hemoglobinopatias, enzimopatias e doenças de membrana. - Hemolítica adquirida: malária, queimadura, auto-imune, hiperesplenismo, hemoglobinúria paroxística noturna, doença hemolítica do recém-nascido e transfusão ABO incompatível. - Hipoproliferativa por déficit nutricional: deficiências de vitamina B12, ácido fólico ou ferro. - Hipoproliferativa por déficit de absorção: deficiência de receptor celular para vitamina B12 (fator intrínseco), deficiência de transferrina, síndrome de mal absorção e gastrectomia. - Aplástica por insuficiência de produção medular: destruição do tecido medular por vírus, toxicidade, mieloftise (mielofibrose, mieloma, metástase e leucemia). - De todas as situações apresentadas as dificuldades mais frequentes se devem à diferenciação laboratorial das duas principais causas das anemias microcíticas e hipocrômicas, ou seja, anemia ferropriva e talassemias alfa ou beta menor. - Morfologicamente, as anemias são classificadas de acordo com os índices hematimétricos (determinados por contadores eletrônicos de células). Juntamente com as determinações da concentração de hemoglobina, do número de hemácias e do hematócrito, são fornecidos também o volume corpuscular médio (VCM), a hemoglobina corpuscular média (HCM), a concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e o red cell distribution width (RDW) – o RDW é um índice que reflete o grau de anisocitose, que é a variação de tamanho dos eritrócitos. - Embora não seja utilizado para a classificação das anemias, é importante ressaltar que nas anemias adquiridas, ele se altera antes do VCM, quando começam a coexistir células de tamanho maior ou menor com as de tamanho normal, mas o número delas ainda não é suficiente para alterar a média e refletir no VCM. - De acordo com o VCM, as anemias podem ser classificadas do ponto de vista morfológico em: ▪ Microcíticas (VCM < 80 fl); ▪ Normocíticas (VCM 80 a 100 fl); ▪ Macrocíticas (VCM > 100 fl); ▪ Hipocrômica: HCM < 26; ▪ Normocrômica: HCM entre 26 e 34. - ANEMIAS MICROCÍTICAS HIPOCRÔMICAS: Uma anemia microcítica é definida quando temos VCM<80 fl e hipocrômica quando temos HCM < 28 pg e/ou CHCM <32 g/dL. Não existem muitas causas de anemia microcítica hipocrômica. São elas: (1) anemia ferropriva; (2) talassemia; (3) anemia de doença crônica (o VCM não chega abaixo de 75fL); (4) anemia sideroblástica, forma hereditária, e (5) anemia do hipertireoidismo. - ANEMIAS MACROCÍTICAS: Uma anemia macrocítica é definida quando temos VCM>100 fL. A causa clássica de anemia macrocítica é a anemia megaloblástica (carência de folato e/o B12). Esta é a anemia que cursa com 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 os maiores níveis de VCM, frequentemente na faixa entre 110-140 fL. Existem diversas outras causas de anemia macrocítica, todas elas manifestando-se com macrocitose leve (100-110fL) ou com normocitose (podem ser, na verdade, macro ou normocíticas). São elas: (1) síndromes mielodisplásicas, incluindo a forma adquirida da anemia sideroblástica, (2) anemia aplásica, (3) etilismo, (4) drogas do tipo: AZT, metotrexate etc., (5) anemia da hepatopatia crônica, (6) anemia do hipotireoidismo, (7) anemias hemolíticas (excetuando-se as talassemias), (8) anemia da hemorragia aguda. Estas duas últimas são as anemias que cursam com reticulocitose e os reticulócitos são hemácias de tamanho maior, justificando elas serem eventualmente macrocíticas. - ANEMIAS NORMOCÍTICAS NORMOCRÔMICAS: Uma ampla gama de etiologias encontra-se neste grupo. As principais são: (1) anemia ferropriva, fase mais inicial, (2) anemia de doença crônica, (3) anemia da insuficiência renal crônica, (4) anemia da hepatopatia crônica, (5) anemia das endocrinopatias – hipotireoidismo, hipoadrenalismo, (6) anemia aplásica, (7) mielo-displasias, (8) ocupação medular – mielofibrose, leucemias, câncer metastático, infecção disseminada, (9) anemias hemolíticas, (10) anemia por sangramento agudo, (11) anemia multicarencial – ferropriva e megaloblástica. - A anemia pode ser classificada em aguda e crônica, quanto ao tempo de instalação; decorrente da diminuição da produção (hipoproliferativa) ou do aumento da destruição dos eritrócitos (perda ou hemólise), quanto à causa e em normocítica/normocrômica, macrocítica e microcítica/hipocrômica, quanto ao volume corpuscular médio (VCM). - Essa última maneira de classificar as anemias confere a vantagem prática de guiar o médico com respeito à investigação de sua causa, até porque, além do quadro clínico, o médico em geral dispõe, numa fase inicial, do hemograma, com os valores hematimétricos e as contagens de células das outras séries (leucócitos e plaquetas), o que também é útil para estabelecer o diagnóstico. VALORES REFERENCIAIS EM HEMATOLOGIA - É importante ressaltar que os valores referenciais, por mais consagrados que sejam na literatura científica, sofrem interferências enormes na sua configuração. Entre essas interferências destacam-se: a. extratos sócio- culturais das populações analisadas; b. condições de saneamento e estrutura social e ambiental das comunidades (cidades, bairros, hospitais) em que o laboratório atua; c. qualidade técnica dos procedimentos analíticos, quer sejam manuais, automatizadas ou automatizadas- informatizadas. - Por todas essas razões, o desejável seria que os valores referenciais fossem extraídos da população sadia na comunidade em que o laboratório atua. Essa é uma questão singular, porém de difícil aplicabilidade. Por isso buscam-se valores referenciais mais abrangentes. - Entretanto, mesmo na população brasileira há que se considerar as diferenças regionais, sociais e culturais, além das estruturas físicas da cidade (ex.: saneamento básico adequado, sistema de saúde atuante, etc.) em que o laboratório está inserido, como já foi apresentado anteriormente. ANEMIAS – CONCEITOS BÁSICOS - Anemia é uma palavra latinizada (anaemia) proveniente do significado grego de aima (sangue) e o prefixo an (falta de), resultando a palavra anaima (pessoa com falta de sangue). Atualmente considera-se por anemia a constatação clínica e laboratorialde uma pessoa com valor de hemoglobina abaixo do esperado para sua faixa etária. - As causas que induzem o estado de anemia em uma pessoa são muito diversas, entretanto as principais delas se observam como consequências de vários tipos de doenças (ex.: hemorragias, câncer, aplasia de medula, etc), bem como por alterações decorrentes de insucessos biológicos da própria eritropoiese. Por essas razões, a definição de anemia é a redução de concentração do teor de hemoglobina. - O estado de anemia, notadamente a anemia crônica, tem consequências ao portador e que podem ser resumidas em dois mecanismos que alteram processos fisiológicos resultantes de sua ação normal, a saber: a) O transporte deficitário de oxigênio pela redução da hemoglobina diminuem as atividades metabólicas de todas as células e induz em disfunções orgânicas generalizadas, cujos principais sintomas caracterizam- se por cansaço, fraqueza e mal estar geral. b) Particularmente nos processos crônicos de anemia, o organismo procura se adaptar à situação patológica com evidentes desgastes fisiológicos, especialmente para o sistema cardiorrespiratório. - Deve-se ressaltar que ao considerarmos o estado anêmico de uma pessoa é necessário que, além de avaliar a concentração do teor da hemoglobina, é preciso a avaliação completa do hemograma, observando com detalhe os resultados do eritrograma e, com especificidade, os valores dos índices hematimétricos de VCM (volume corpuscular médio) e HCM (hemoglobina corpuscular média). Justamente esses dois índices determinam a classificação laboratorial das anemias em microcíticas/hipocrômicas, normocíticas/normocrômicas, e macrocíticas. 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Além dos valores do eritrograma é importante ressaltar a essência da morfologia eritrocitária que se obtém da criteriosa análise citológica efetuada em microscópio. Por mais parâmetros que tenha o mais moderno contador automatizado de células, jamais ele alcançara as centenas de parâmetros que a mente humana de um profissional experimentado poderá realizar. (*) em casos de suspeita clínica de anemia. (**) na ausência de inflamações, infecções, etc, a ferritina diminui antes da redução do ferro sérico. (***) por ser a ferritina uma proteína de fase aguda, suas variações são dependentes do estado clínico do paciente. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO - As manifestações clínicas da anemia são variáveis e dependem da etiologia, da gravidade, da velocidade de instalação, das eventuais comorbidades e dos mecanismos compensatórios que o paciente foi capaz de mobilizar. As queixas mais comumente observadas são astenia, dispneia e palpitações, especialmente aos esforços, que se acentuam à medida que a anemia se intensifica. - Também são relativamente comuns queixas de tontura, cefaleia, zumbidos, claudicação intermitente e angina pectoris nos pacientes com doença arterial aterosclerótica. Queixas específicas também podem ocorrer em diferentes tipos de anemia, por exemplo, a perversão do apetite (pica) na anemia ferropriva e queixas neurológicas na anemia por deficiência de cobalamina. Ao exame físico, o paciente, em geral encontra-se pálido. - Pode-se ainda observar hipotrofia das papilas da língua nas anemias ferropriva e megaloblástica, edema maleolar, entre outros sinais. A icterícia e a esplenomegalia são sinais sugestivos de anemia hemolítica ou de anemia megaloblástica. Outros achados podem sugerir síndromes de falência ou infiltração da medula óssea (MO), como a presença de petéquias e a febre. - Dentre os exames a ser solicitados, o hemograma é o mais importante, pois ele permite classificar a anemia de acordo com sua a intensidade e com o volume corpuscular médico (VCM) das hemácias, além de mostrar as contagens de leucócitos, assim como a sua morfologia (ex. pleocariócitos e bastonetes gigantes nas anemias megaloblásticas), e de plaquetas (reduzida na falência ou infiltração da MO e na anemia megaloblástica, entre outras). - A contagem de reticulócitos também é importante, pelo menos para o diagnóstico, pois contribui para definir a magnitude da eritropoese, ou seja, se se trata de causa de origem central (anemia hipoproliferativa- reticulocitopenia) ou de destruição ou perda de eritrócitos (reticulocitose). - Outros exames também podem ser úteis, como o aumento da concentração sérica da bilirrubina não conjugada (indireta) e da desidrogenase lática nas anemias hemolíticas e nas anemias megaloblásticas (a última também está elevada nas leucemias agudas). - O diagnóstico das anemias carenciais não costuma apresentar dificuldade na maioria dos casos. Na anemia ferropriva, observa-se redução da saturação da transferrina e da concentração da ferritina sérica. Na anemia da doença inflamatória crônica, a saturação da transferrina também é baixa, mas vem comumente associada ao aumento da concentração da ferritina sérica (também pode estar normal). - Nas anemias megaloblásticas, as concentrações de cobalamina (vitamina B12) ou de ácido fólico estão comumente reduzidas. Contudo, na anemia megaloblástica por deficiência de cobalamina, seus níveis séricos podem estar dentro da faixa de normalidade, que é muito ampla, mas, em geral, próximos de seu limite inferior (200-300 pg/ mL). - Nesses casos, concentração elevada da homocisteína (também elevada na deficiência de folato, na insuficiência renal e no hipotireoidismo) e do ácido metilmalônico (sensível, mas pouco acessível na prática clínica) podem contribuir para definir o diagnóstico de carência de vitamina B12. Pode-se ainda dosar a cobalamina ativa, ligada à transcobalamina (holotranscobalamina), que é a que de fato importa (é inativa quando ligada à haptocorrina), cujo resultado é mais fidedigno da sua deficiência. Entretanto, a dosagem da forma ativa também é pouco acessível na prática clínica. - A deficiência de folato também pode cursar com nível sérico normal desse nutriente. A sua dosagem nas hemácias é mais fidedigna da deficiência de folato, apesar de não ser tão automatizável quando a sua dosagem no soro, e, por isso, menos reprodutível de um laboratório a outro. Esse também é um exame pouco disponível na prática clínica. - Além dos exames mencionados, outros também podem ser necessários, a depender da hipótese diagnóstica, por exemplo, a análise do aspirado e biópsia de MO para o diagnóstico da anemia aplástica ou da leucemia aguda; os exames de imagem (esplenomegalia). Diagnóstico Laboratorial das Anemias Microcíticas e Hipocrômicas - O diagnóstico laboratorial das anemias microcíticas e hipocrômicas inicia- se com a avaliação do eritrograma. As avaliações específicas com a utilização de técnicas que dimensionam o “status” de ferro, as eletroforeses qualitativa e quantitativa de hemoglobinas e a contagem de reticulócitos, são capazes de diferenciar a grande maioria dos casos de anemia microcítica e hipocrômica. - O “status” de ferro no processo da investigação laboratorial é composto por três dosagens bioquímicas (ferro sérico, ferritina e capacidade total de ligação do ferro ou CTLF) e uma avaliação obtida por cálculo matemático que resulta na saturação de transferrina (Ferro sérico x 100/CTFL). Por meio do painel de avaliação de Ferro sérico, ferritina, CTLF e saturação da transferrina é possível supor as principais causas de anemia microcítica e hipocrômica. - Muitas vezes, entretanto, os resultados da avaliação do ”status” de ferro não consegue identificar a causa da anemia microcítica e hipocrômica. Nessas situações as eletroforeses qualitativas e quantitativas de hemoglobinas podem auxiliar a definição do diagnóstico. A consulta à tabela 6 facilita essa interpretação. A contagem de reticulócitos auxilia o diagnóstico laboratorial da anemia microcítica e hipocrômica. - Nas situações decorrentes da deficiência de ferro e naanemia sideroblástica, os valores de reticulócitos se situam abaixo da normalidade (< 0,5%). Nas talassemias alfa e beta menor é comum observar discreta reticulocitose (> 2,5% a 3,5%). Nas talassemias interativas (Tal. Beta/Hb S e Tal. Beta/Hb C) há evidente reticulocitose (> 3,5%). Nos casos por intoxicação de chumbo a contagem de reticulócitos pode estar normal, porém é mais frequente a sua diminuição. - Finalmente, o diagnóstico diferencial para anemia microcítica e hipocrômica em pessoas intoxicadas pelo chumbo se faz por meio da dosagem de chumbo sanguíneo. Para a anemia sideroblástica é comum os procedimentos da coloração dos eritrócitos e eritroblastos de esfregaços de sangue medular com o corante azul da Prússia. 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 ANEMIA FERROPRIVA - A anemia ferropriva (AF) é a condição mais exacerbada da deficiência de ferro, que a precede e a suplanta em prevalência. A rigor, a deficiência de ferro afeta todo o organismo, não apenas a eritropoese e o transporte de oxigênio, uma vez que o ferro é constituinte de todas as células e tecidos, como, por exemplo, os músculos, cuja proteína mioglobina também contém o grupo heme. - A AF, como mencionado anteriormente, é a mais prevalente das anemias, e afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo. Na AF, ocorre uma série de mecanismos compensatórios da anemia, desde os cardiovasculares, comuns a todo tipo de anemia, até os mais específicos, como a redução da síntese do hormônio hepcidina, que resulta em aumento da absorção de ferro, que tem lugar no duodeno. - A maioria dos casos de AF decorre de perda aumentada de sangue ou da demanda aumentada por ferro, observada na infância, especialmente nos lactentes prematuros, na adolescência e na gestação. Nos adultos, presume-se que a AF decorra de perda de sangue, especialmente na menstruação. Nos homens e nas mulheres após a menopausa, é recomendável investigar sangramento por trato gastrointestinal, que pode ser oculto e assintomático. - Causas de AF, ou de deficiência de ferro muito observadas nas duas últimas décadas são o uso prolongado de inibidores da bomba de prótons e a cirurgia bariátrica, que podem acarretar má absorção do ferro. Não é comum a deficiência por falta de ingestão desse metal, exceto em crianças em regime alimentar restrito ao leite por períodos prolongados, pois o leite é relativamente pobre em ferro. Em resumo, a AF é sempre decorrente de uma condição clínica subjacente, que deve ser investigada. - O quadro clínico já foi descrito acima e, em essência, não difere do de outros tipos de anemia, com a exceção da perversão do apetite, como também já foi mencionado. O diagnóstico é relativamente fácil na maioria dos casos. O grau de anemia é variável, mas pode ser intenso; as características morfológicas são de anemia microcítica e hipocrômica, exceto quando leve, em que o VCM pode estar dentro da faixa de normalidade, em geral, mais próximo do limite inferior. - A série leucocitária não costuma estar alterada, no entanto, percentagem significativa (~30%) dos pacientes apresenta plaquetose ou concentração de plaquetas próxima do limite superior da normalidade, especialmente quando a AF decorrer de sangramento. O ferro sérico está diminuído ou normal e a transferrina costuma estar aumentada, o que resulta em saturação reduzida da transferrina (< 15%); a ferritina sérica está reduzida, mas pode estar dentro da faixa de normalidade em caso de a AF estar associada ou ser secundária à anemia da doença inflamatória. - O tratamento padrão é a suplementação de sal de ferro por via oral, na dose de 50-200 mg/dia de ferro elementar (o ferro elementar corresponde a 20% da massa do sulfato ferroso) para indivíduos adultos. Em caso de intolerância ao sal de ferro oral ou por suposta ou confirmada má absorção, pode-se administrar ferro por via parenteral (sacarato de hidróxido férrico ou carboximaltose férrica). A suplementação de ferro deve ser feita até a normalização da concentração de Hb e das reservas de ferro (ferritina). - A anemia pode ser definida como um estado em que a concentração de hemoglobina no sangue está anormalmente baixa, em consequência da carência de um ou mais nutrientes essenciais, qualquer que seja a origem dessa carência. Contudo, apesar da ausência de vários nutrientes contribuir para a ocorrência de anemias carenciais, como folatos, proteínas, vitamina B12 e cobre, indiscutivelmente, o ferro é, entre todos, o mais importante. - Essa carência é atualmente um dos mais graves problemas nutricionais mundiais em termos de prevalência, sendo determinada, quase sempre, pela ingestão deficiente de alimentos ricos em ferro ou pela inadequada utilização orgânica. Estima-se que aproximadamente 90% de todos os tipos de anemias no mundo ocorram por causa da deficiência de ferro. - Mesmo dispondo-se, atualmente, de inúmeras informações relativas à etiologia e à prevalência da anemia, esta continua persistindo como um dos mais graves problemas de saúde pública no mundo. Ela atinge principalmente os grupos mais vulneráveis à carência de ferro que são as crianças e as gestantes, em função do aumento das necessidades desse mineral, decorrente da rápida expansão de massa celular vermelha e pelo crescimento acentuado dos tecidos nessas fases da vida. - Identifica-se a primeira infância como uma das fases de maior risco em razão de alguns fatores relacionados às necessidades de ferro do lactente, como as reservas de ferro ao nascer, a velocidade de crescimento, a ingestão e as perdas do mineral. O último trimestre da gestação é o período no qual ocorre o mais importante aumento de peso e de armazenamento de ferro no feto. Crianças prematuras ou de baixo peso ao nascimento terão acumulado menos ferro em comparação com um recém-nascido a termo. - Após o nascimento, observa-se uma fase de elevada velocidade de crescimento e, em uma criança a termo, as reservas adquiridas durante a gestação serão utilizadas durante os primeiros 4 a 6 meses de vida. O leite materno possui pequena quantidade de ferro, mas, entretanto, alta biodisponibilidade para este mineral, com uma utilização elevada quando da ausência de outros fatores dietéticos. Após o esgotamento da reserva, o organismo dependerá do ferro exógeno (dietético) para evitar o aparecimento da anemia. - Os elevados requerimentos fisiológicos de ferro na primeira infância tornam a criança especialmente vulnerável à anemia por deficiência de ferro durante o segundo semestre e o segundo ano de vida. Nesse sentido, atenção especial deve ser dada ao período de amamentação e posterior fase de introdução de alimentos complementares, quando deverá ocorrer a introdução oportuna, correta e apropriada dos alimentos ricos em ferro e outros micronutrientes, igualmente necessários ao crescimento e desenvolvimento adequado. - Alguns fatores, como a amamentação prolongada e a introdução precoce do leite de vaca estão associados à anemia, mas o uso contínuo de fórmulas infantis fortificadas parece ser um fator protetor. Deve-se ressaltar que o leite fluido de vaca, principalmente quando administrado a crianças menores de 4 meses, pode induzir à anemia pela produção constante de microhemorragias. - Uma vez que o ferro é elemento essencial para o desenvolvimento normal e para a integridade funcional dos tecidos linfóides, a deficiência pode levar a alterações na resposta imunitária. Dessa forma, a anemia pode contribuir para maior morbidade em razão de menor resistência a infecções. Além disso, pode prejudicar o crescimento, o desenvolvimento da linguagem, reduzir a atividade física, a produtividade e o apetite. Pode também modificar o comportamento e levar ao pobre desenvolvimento cognitivo, o qual tem recebido destaque na literatura atual. - Assim, evitar a anemia por deficiência de ferrona infância é muito importante. As políticas de saúde pública e as intervenções pediátricas e de cunho nutricional que objetivem a prevenção são as estratégias mais 6 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 seguras, uma vez que a maior prevalência ocorre entre crianças de 6 a 24 meses de idade. - Durante a gravidez, as inúmeras mudanças fisiológicas que acontecem levam ao aumento do volume plasmático e à diminuição do estoque de micronutrientes. Como a demanda de energia e nutrientes está aumentada, caso não seja atendida, pode desencadear, além da desnutrição, deficiências nutricionais específicas, como a de ferro. A anemia grave na gestação está associada ao maior risco de morbidade e mortalidade fetal e materna. Mesmo no caso de anemia moderada, verificam-se maiores riscos de parto prematuro e baixo peso ao nascer, que, por sua vez, se associam a riscos elevados de infecções e mortalidade infantil. - Entre as gestantes, as adolescentes tornam-se em um grupo mais vulnerável por causa do expressivo aumento da demanda de ferro associada ao rápido crescimento físico da menina. Na gestante adolescente os efeitos da anemia são mais pronunciados, sendo o fator da menor busca pelos serviços de saúde e do pré-natal uma influência negativa sobre seu estado de saúde. - Na etiologia da anemia, fatores dietéticos, como a ingestão inadequada de alimentos fontes de ferro, e demais problemas decorrentes da interação dos constituintes da dieta com o ferro são importantes. O ferro proveniente dos alimentos pode não estar sendo ofertado em quantidade suficiente para suprir as necessidades metabólicas do organismo, ou pode estar numa forma química inadequada à sua absorção. - Sabe-se que o ferro está presente naturalmente nos alimentos na forma ferrosa (Fe 2+) ou férrica (Fe 3+). A forma ferrosa é mais biodisponível que a férrica. Esta pode ser reduzida para ferrosa na presença de ácido clorídrico e de agentes redutores, como o ácido ascórbico, melhorando a sua absorção. - A quantidade de ferro absorvida varia em razão das quantidades de ferro não-heme e heme na dieta, de sua biodisponibilidade e da natureza da dieta em termos de fatores estimuladores ou inibidores de absorção. Assim, nem todo ferro contido nos alimentos é absorvido, pois a biodisponibilidade desse mineral varia de acordo com fatores extrínsecos e intrínsecos. - No primeiro caso, encontram-se fatores da alimentação, que podem agir inibindo ou promovendo a absorção do ferro. No segundo caso, encontram- se fatores relacionados às necessidades individuais do mineral, que abrangem o estado nutricional, a saúde, o sexo e a idade. Fatores extrínsecos - Forma química: existe diferença na forma química deste mineral: o ferro heme é encontrado nos produtos de origem animal (carnes em geral) e é melhor absorvido que o ferro não-heme, presente nos produtos vegetais como cereais, tubérculos e leguminosas. O ferro heme é derivado principalmente da hemoglobina e da mioglobina das carnes, das aves e dos peixes. Apesar de representar uma pequena proporção do conteúdo de ferro da dieta, desempenha importante papel, uma vez que a porcentagem absorvida é bem maior e sua absorção é menos afetada pelos demais componentes da dieta. Por outro lado, quase todo o ferro da dieta é não-heme, respondendo por mais de 85% do ferro total. Sua absorção depende, em grande parte, das reservas corporais e da solubilidade na parte proximal do intestino delgado, que, por sua vez, depende da influência que a composição da refeição, em seu conjunto, exerce sobre a solubilidade deste mineral. O ferro não-heme precisa de uma proteína transportadora (transferrina) para sua absorção, estando sujeito a fatores químicos ou alimentares que podem influenciar nesse processo. - Composição da dieta: como dito anteriormente, a composição da dieta em relação à presença de fatores inibidores ou estimuladores da absorção do ferro é sobremaneira relevante para a adequada absorção do ferro dietético. Fatores estimuladores: são aqueles que se unem firmemente ao ferro para manter a estabilidade da ligação e a solubilidade do complexo através do trato gastrointestinal. Eles formam quelatos solúveis com o ferro, especialmente na forma férrica, prevenindo sua precipitação e permitindo a liberação do ferro para absorção pelas células da mucosa. Entre os fatores estimuladores, o ácido ascórbico, presente basicamente nas frutas, destaca- se por ser um potente facilitador da absorção do ferro, quando oferecido juntamente com a refeição, podendo aumentar a biodisponibilidade do ferro das dietas. Ele possui propriedade redutora e quelante, podendo melhorar a absorção do ferro em refeições com baixa biodisponibilidade que contenham potentes inibidores, como os fitatos e os polifenóis. Em dietas em que a participação das carnes é reduzida, o conteúdo de ácido ascórbico torna-se da maior relevância para a determinação do valor nutritivo do ferro. Outros ácidos orgânicos também contribuem para o aumento na absorção do ferro, como os ácidos cítrico, málico, e tartárico, encontrados nos vegetais, nas frutas e em temperos. Semelhantemente, observa-se o efeito facilitador das carnes na absorção do ferro, sendo este mais marcante naqueles alimentos que possuem fatores inibidores. Fatores inibidores: os agentes inibidores são ligantes que quelam o ferro, formando complexos insolúveis de alta afinidade, de tal forma que o ferro não é liberado para a absorção. A adição ou a presença de alguns minerais na dieta pode prejudicar a absorção do ferro, como, por exemplo, zinco, cobre, cobalto, níquel, cádmio e manganês. Isso sugere que podem existir vias comuns de absorção, levando a um mecanismo de competição entre esses minerais. Observa-se com relação especificamente ao cálcio que este mineral interfere na absorção do ferro não-heme. Provavelmente, o mais importante inibidor de absorção do ferro em cereais e vegetais é o fitato ou ácido fítico. As maiores fontes desse elemento são cereais integrais, fibras e feijões. As fibras também podem diminuir a absorção graças ao aumento do trânsito intestinal. Outro fator inibidor da absorção do ferro é o ácido oxálico, encontrado no espinafre, na beterraba e em algumas leguminosas. Os compostos fenólicos são um grupo de substâncias em alimentos e bebidas considerados prejudiciais à biodisponibilidade do ferro. São eles: os flavonóides, os ácidos fenólicos, os polifenóis e os taninos. Esses compostos são encontrados principalmente nos chás preto e mate, no café, em alguns refrigerantes, no chocolate, no vinho tinto e, em menor proporção, em alguns vegetais e leguminosas. - Portanto, a presença na dieta de fatores estimuladores da absorção desse mineral e a concomitante ausência de fatores inibidores são de fundamental importância para a melhoria da biodisponibilidade do ferro não-heme, principalmente em populações nas quais é conhecida a baixa ingestão de ferro de origem animal, visando assim prevenir o aparecimento da anemia por deficiência de ferro. Fatores intrínsecos - Situações fisiológicas: existem alguns momentos fisiológicos que podem alterar o processo de absorção do ferro, como as etapas da vida em que há maior taxa de crescimento, o que ocorre na infância e na gravidez. Nesses períodos, há aumento na biodisponibilidade do ferro, principalmente do não-heme, favorecendo assim sua maior absorção para suprir com maior facilidade os requerimentos do organismo. - Situações de deficiência nutricional: quando ocorre a instalação da anemia, há maior absorção do ferro, sendo essa situação considerada como o mais importante determinante da taxa de absorção do ferro, seja ele heme ou não-heme. Há evidências de que um indivíduo anêmico pode absorver duas a três vezes mais ferro do que um indivíduo normal. - Situações de baixa acidez gástrica: levama redução da absorção, uma vez que o ácido clorídrico é um potente agente solubilizante do ferro não-heme. Essa condição pode acompanhar redução da secreção de ácido clorídrico pelo estômago após consumo exagerado de antiácidos, após cirurgias ou em situação de idade avançada. - A forma mais comum de se detectar a anemia é por meio da medida do valor da concentração da hemoglobina no sangue. Esse valor é controlado homeostaticamente, variando levemente entre pessoas normais. Deve-se observar que a deficiência de ferro no organismo se desenvolve em três estágios, e seus efeitos adversos iniciam-se antes mesmo dos indivíduos apresentarem anemia, como pode ser verificado abaixo: 1º Estágio – Ocorre depleção nos depósitos de ferro, o que pode ser medido pela diminuição da ferritina sérica, normalmente para valores inferiores a 7 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 12 µg/L. Neste momento, a concentração plasmática do ferro, a saturação da transferrina e a concentração da hemoglobina permanecem normais. A dosagem da concentração de ferritina sérica é um dos métodos mais sensíveis para o diagnóstico dessa deficiência, entretanto existem situações que podem levar a elevação desse indicador mesmo na presença de deficiência deste mineral, como, por exemplo, doenças hepáticas e câncer. 2º Estágio – Ocorrem mudanças bioquímicas como reflexo da falta de ferro para a produção normal da hemoglobina e outros componentes essenciais, sendo observadas alterações no transporte do ferro e nas hemácias que foram recentemente distribuídas na circulação sangüínea. Neste momento, ocorre diminuição nos níveis de saturação da transferrina, e a maior parte do ferro presente no soro encontra-se unida a ela. Neste estágio, como o ferro sérico se encontra reduzido, a capacidade total de ligação da transferrina apresenta-se aumentada, e a saturação da transferrina, diminuída. 3º Estágio – É a anemia por deficiência de ferro propriamente dita, quando a produção da hemoglobina diminui o suficiente para levar a redução da sua concentração abaixo dos valores normais para pessoas de mesma idade e sexo. Caracteriza-se por ser anemia hipocrômica e microcítica. Outro indicador que pode ser usado para diagnóstico nesta fase é o volume corpuscular, que é a medida do volume ocupado pelas células vermelhas em relação ao volume total do sangue centrifugado. - A utilização da hemoglobina para a avaliação do estado nutricional de ferro tem se mostrado satisfatória, sendo este um indicador de fácil operacionalização e baixo custo, com ampla utilização em pesquisas populacionais. Os pontos de corte de hemoglobina para diagnóstico da anemia, definidos pela Organização Mundial da Saúde em 1968, ainda são utilizados para populações que vivem ao nível do mar e são apresentados na tabela abaixo: - Em 1998, a OMS e o Unicef, em revisão destes pontos de corte, subdividiram a faixa etária de 6 a 14 anos. Em crianças de: 5–11anos (11,5 g/dL) e 12–13 anos (12 g/dL). Outra classificação distingue os níveis de gravidade da anemia, segundo valores de hemoglobina para menores de 5 anos e gestantes, conforme tabela abaixo: - O exame físico clássico toma por base a presença de sinais clínicos e sintomas de anemia, tais como: palidez cutânea, da conjuntiva, dos lábios, da língua e das palmas das mãos, além de respiração ofegante, dificuldade na deglutição (disfagia), fraqueza orgânica (astenia) e perda de apetite. - Entretanto, esses sinais e sintomas apresentam baixa precisão ao serem usados como método inicial e exclusivo para identificação da anemia, podendo levar a falsas conclusões, uma vez que alguns desses sinais são inespecíficos e difíceis de detectar. Deve-se considerar que estes podem ser influenciados por outras variáveis, como a pigmentação da pele, por exemplo. Nesse sentido, o diagnóstico bioquímico é o mais indicado, por sua precisão. Ações de suplementação a grupos de risco - A utilização de suplementação medicamentosa com sais de ferro para prevenir e tratar a anemia é um recurso tradicional e amplamente utilizado, sendo a forma oral de administração a preferencial. Ela pode ser usada como ação curativa em indivíduos deficientes ou profilaticamente em grupos com risco de desenvolver anemia. - A suplementação apresenta algumas dificuldades em relação ao surgimento de efeitos colaterais indesejáveis e à longa duração do tratamento. Em muitos casos, os pacientes têm dificuldade em aderir ao tratamento porque o surgimento de efeitos adversos é superior às queixas relatadas e relacionadas à própria anemia. Dessa forma, a falta de motivação para a manutenção do tratamento tem levado a situações de baixa efetividade desse tipo de terapia medicamentosa. - Uma alternativa recente para a minimização desta baixa adesão tem sido a redução da periodicidade da administração das doses de sais de ferro. Estudos recentes têm demonstrado que a administração semanal propicia consideráveis reduções de efeitos colaterais (vômitos, diarréia, constipação intestinal e cólicas) freqüentemente associados ao abandono da suplementação, tornando-se, dessa forma, uma excelente estratégia para o alcance de resultados mais efetivos. - Segundo Unicef, a dose semanal de ferro a ser administrada em crianças deve ser correspondente ao dobro da recomendação da Recommended Daily Allowances (RDA). - No que se refere às gestantes e às mulheres até o terceiro mês pós-parto, a Organização Mundial da Saúde preconiza a suplementação de apenas uma dose diária de 60 mg, já que os problemas decorrentes da intolerância do suplemento de ferro têm sido mais frequentemente observados quando a gestante faz uso de mais de um comprimido de 60 mg de ferro por dia. - Vale ressaltar, que a OMS considera que doses diárias acima de 30 mg já trazem efeitos positivos na prevenção da anemia por deficiência de ferro em gestantes. - Entre os diversos tipos de sais de ferro, o sulfato ferroso (Fe SO4 ) é um dos mais utilizados e de menor custo, sendo absorvido rapidamente em situações ideais de administração. Apesar de normalmente ser o medicamento de escolha, possui como limitantes as intercorrências gastrointestinais e a interferência da dieta na absorção do sal de ferro. Pode ser usado na forma de tabletes ou solução líquida, sendo esta última mais indicada no caso de crianças. - A educação alimentar e nutricional deve buscar o aumento do consumo de ferro, melhorando a ingestão dos alimentos-fonte ou dos alimentos habituais com densidade de ferro adequada. Em muitos casos, alterações qualitativas e quantitativas no consumo podem ser uma alternativa bem sucedida, em que por meio do conhecimento dos fatores estimuladores e inibidores da absorção do ferro se pode contribuir para o melhor aproveitamento do ferro dietético e biodisponibilidade da alimentação. Deve-se buscar o aumento do consumo de alimentos ricos em ferro, bem como o aumento do potencial de biodisponibilidade desse mineral, minimizando os fatores que interferem na dieta. - O Brasil adotou a fortificação universal das farinhas de trigo e milho com ferro e ácido fólico. Já a fortificação do sal para consumo humano com iodo vem sendo adotado desde 1953. - Além da fortificação das farinhas de trigo e de milho e das ações educativas, o Ministério da Saúde desenvolve o Programa Nacional de Suplementação de Ferro. Esse Programa destina-se à suplementação preventiva de todas as crianças de 6 a 18 meses com ferro; gestantes a partir da 20ª semana gestacional com ferro e ácido fólico e mulheres até o terceiro mês pós-parto e pós-aborto com ferro. - As crianças e/ou gestantes que apresentarem doenças que cursam por acúmulo de ferro como, anemia falciforme, não devem ser suplementadas com ferro, ressalvadas aquelas que tenham a indicação de profissional competente. Havendo suspeita dessas doenças, a suplementaçãonão deverá ser iniciada até a confirmação do diagnóstico. - Os profissionais de saúde deverão estar atentos aos seguintes sintomas e sinais, pois estes são comumente observados em pessoas que têm anemia 8 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 falciforme: – anemia crônica; – crises dolorosas no corpo; – palidez, cansaço constante, icterícia (cor amarelada, visivelmente identificada no interior dos olhos); – feridas nas pernas; – constantes infecções e febres; e – inchaço muito doloroso nas mãos e nos pés de crianças. - Observação: Caso a criança e/ou a gestante apresente os sinais e sintomas mencionados acima, encaminhe-os ao médico ou a uma unidade de saúde onde possa ser realizado o diagnóstico mais detalhado. Lembre-se de não suplementá-las com sulfato ferroso. ANEMIA DA DOENÇA INFLAMATÓRIA - A anemia da doença inflamatória (ADI), também conhecida como anemia da doença crônica, é a segunda mais prevalente nos pacientes com anemia (a primeira é a anemia ferropriva) e a primeira em pacientes internados ou com doença crônica. - A ADI ocorre em doenças que causam ativação imune e inflamação, tais como infecção crônica, doenças autoimunes e câncer. Mais recentemente, outras condições clínicas também foram identificadas como causadoras da ADI, como a doença renal crônica, a insuficiência cardíaca congestiva, a doença pulmonar crônica e a obesidade. - A fisiopatologia da ADI envolve pelo menos três mecanismos principais: 1) restrição à mobilização do ferro de seus depósitos, principalmente nos macrófagos, mas que também diminuem a sua absorção intestinal; 2) supressão da eritropoese pelos mediadores da inflamação e, por fim, 3) redução da sobrevida das hemácias. - O primeiro mecanismo envolve incremento da produção da interleucina (IL)-6, entre outros, que estimula os hepatócitos a aumentar a produção da hepcidina, o principal regulador da homeostase do ferro. O segundo mecanismo decorre da redução da produção da eritropoetina (EPO), assim como da redução da resposta à sua ação. Por fim, o terceiro mecanismo, mas menos importante que os dois anteriores, é a redução da sobrevida dos eritrócitos, atribuída a eritrofagocitose aumentada, tanto pelos macrófagos do fígado quanto do baço. - O diagnóstico da ADI às vezes é dificultado por sua concomitância com a deficiência de ferro, ou de outro nutriente, com a hemorragia, ou pelo fato de o fenômeno inflamatório não ser evidente. - Os sintomas e sinais são similares aos das outras anemias, entretanto, é comum haver no quadro clínico características específicas da doença de base, por exemplo, artrite (artrite reumatoide), linfadenomegalia (linfoma, tuberculose), etc. Laboratorialmente, a anemia da ADI se caracteriza por ser leve a moderada (Hb ≥ 8,5-9,0 g/dL) e normocítica (VCM: 80-100 fL) e normocrômica. Observam- -se ainda hipoferremia, hipotransferrinemia (saturação da transferrina < 20%) e hiperferritinemia (a ferritina é proteína de fase aguda, de modo que seus níveis séricos aumentam na inflamação). - Além disso, observam-se com frequência aumento da velocidade de hemossedimentação, dos níveis séricos da proteína C reativa e do fibrinogênio e aumento policlonal das gamaglobulinas. Além desses exames, é importante investigar a causa da anemia, que pode não ser evidente num primeiro momento. - Então, recomenda-se avaliar as funções renal, hepática e tireoidiana (o hipotireoidismo é causa de anemia leve a moderada) e dosar a vitamina D, que exerce regulação negativa sobre a produção de hepcidina, de modo que indivíduos com hipovitaminose D podem apresentar anemia, em geral de leve intensidade. - O tratamento da ADI é principalmente o tratamento da doença de base. Eventualmente, pode ser útil o uso da eritropoetina, especialmente em pacientes idosos e com comorbidade que torne mais difícil ou impossível ao paciente mobilizar os mecanismos compensatórios da anemia, como, por exemplo, a insuficiência cardíaca. Entretanto, o uso da eritropoetina pode acarretar complicações como hipertensão arterial e levar a aumento do risco de trombose. A administração de composto de ferro também pode trazer benefício, mesmo com valores de ferritina dentro da faixa de normalidade e mesmo sem o aumento da concentração de Hb, como já foi descrito. - A transfusão de hemácias raramente é necessária, até porque a concentração de Hb não costuma ser muito baixa no paciente com ADI. Sua indicação deve se limitar a situações emergenciais. ANEMIA NA GESTAÇÃO - Durante a gestação, ocorre o fenômeno da hemodiluição, decorrente do aumento da volemia plasmática de até 50%, enquanto o aumento da massa eritrocitária chega a aproximadamente 25%, o que explica queda da concentração de Hb. Por isso, adota-se valor mais baixo de concentração de Hb (10,5-11,0 g/dL) como limite inferior da normalidade. - Das causas de anemia na gestação, a mais comum é a deficiência de ferro. A gestação requer uma quantidade adicional de ferro de mais de 1.000 mg, dos quais 350 mg para o feto e a placenta, 500 mg para a expansão da massa eritrocitária e 250 para as perdas do parto, aproximadamente. A necessidade diária de ferro aumenta de 0,8 mg no início da gestação para 7,5 mg no terceiro trimestre, o que supera a absorção diária (1-5 mg). - Portanto, as gestantes têm de mobilizar ferro de suas reservas, que, quando não são suficientes, resultam em anemia. As pacientes sob maior risco são as multigestas, as que tiveram gestação menos de um ano antes, as adolescentes, as vegetarianas e as que têm história de perdas menstruais aumentadas. - A anemia ferropriva no início da gestação, além dos efeitos diretos sobre a gestante, está associada a maior risco de parto prematuro e de neonato com déficit ponderal ao nascimento. Portanto, seu diagnóstico e tratamento precoces devem fazer parte de programa de seguimento pré- natal. O tratamento da anemia ferropriva em gestante não difere do propugnado para outro tipo de paciente, exceto o de não se recomendar a administração de composto de ferro parenteral no primeiro trimestre. - Sugere-se iniciar a suplementação de sal de ferro (ex. sulfato ferroso) por via oral (mais barato e mais seguro), 50-200 mg/dia de ferro elementar, mesmo com a concentração de Hb dentro da faixa de normalidade, quando a ferritina estiver em níveis inferiores a 30 ng/mL, ou quando seu nível estiver entre 30-100 ng/mL na vigência de anemia, especialmente se microcítica (é improvável a anemia ferropriva com ferritina ≥ 100 ng/mL). A ingestão do sal de ferro de estômago vazio ou associado a vitamina C aumenta a sua absorção. - Depois de iniciado o tratamento por via oral, é importante monitorar periodicamente a sua eficácia, por exemplo, 2 a 4 semanas depois do seu início, inclusive para mudar a via de administração de oral para parenteral caso não se tenha observado aumento da concentração de Hb. - Além da deficiência de ferro, também podem ocorrer durante a gestação outras deficiências de nutrientes, como a do ácido fólico e a da cobalamina (vitamina B12), entretanto, em menor frequência, especialmente a última. - A anemia por deficiência de folato tem se tornado menos frequente que antes em razão da suplementação desse nutriente no início, ou mesmo antes, da gestação, para evitar má-formação em tubo neural do feto. Para esse fim, ou para tratar a anemia, basta administrar 1 mg/dia de folato, dose mais que suficiente para compensar as necessidades aumentadas da gestação. - A deficiência de cobalamina pode ser tratada com a suplementação oral desse nutriente. Pacientes com problema que interfira com a absorção, no íleo terminal, de vitamina B12, por exemplo, aqueles submetidos a cirurgia bariátrica, devem receber a suplementação por via sublingual ou intramuscular (IM). 9 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 ANEMIA DA DOENÇA RENAL - A anemia é complicaçãoque acomete a maioria dos indivíduos com insuficiência renal crônica (IRC) em estágio avançado e, nesses pacientes, estaria associada a piora da qualidade de vida e a risco aumentado de desenvolvimento de doença cardiovascular e de morte. Sua instalação é gradual e piora à medida que piora a função renal. - A principal causa da anemia da IRC é a produção reduzida da eritropoetina- EPO (90% da EPO é sintetizada nos rins e 10%, no fígado), um hormônio (PM 30 kDa) que promove a sobrevida dos progenitores eritropoéticos, assim como a sua diferenciação. Outros fatores também contribuem para a anemia da IRC, como a inflamação, o sangramento, a deficiência de ferro e a redução da sobrevida média das hemácias. - Antes do advento dos agentes estimuladores da eritropoese (AEEs), a anemia da IRC era tratada com suplementação de ferro, com a administração de andrógenos e com a transfusão de hemácias. Sugere-se considerar o uso de AEE quando a Hb for inferior a 9,0-10,0 g/dL. Entretanto, o ímpeto de indicar um AEE arrefeceu um pouco quando se observaram alguns efeitos adversos associados ao seu uso, como hipertensão arterial, crise convulsiva e trombose no local de acesso vascular. - Recomenda-se atualmente usar uma dose de EPO, ou de outro AEE, suficiente para atingir concentração de Hb de 10,0 a 12,0 g/dL, uma faixa que proporciona bom controle dos sinais e sintomas da anemia, e com menor risco de complicações cardiovasculares que aquele associado a valores mais elevados de Hb. - Além do uso dos AEEs, é importante manter em níveis adequados as reservas de ferro, que, no caso, significa manter concentração de ferritina acima de 200 ng/mL em pacientes em hemodiálise, ou acima de 100 ng/mL em pacientes em tratamento conservador, além de saturação da transferrina ≥ 20%. Recomenda-se suspender a administração de ferro quando ferritina ≥ 500 ng/mL. A via preferida de administração de ferro é a parenteral, uma vez que sal de ferro por via oral é pouco ou nada absorvido em razão dos elevados níveis de hepcidina encontrados em pacientes com IRC. ANEMIA NO IDOSO - O indivíduo idoso (≥ 65 anos) apresenta maior prevalência das anemias carenciais (ferro, vitamina B12 e folato), da anemia da doença inflamatória e das anemias clonais (síndrome mielodisplásica). Mas, comumente sofre de anemia de causa mal definida, em geral, uma associação de dois ou mais fatores. - Em língua inglesa, é comum o uso do termo “inflammaging” para definir a anemia da inflamação crônica do idoso, associada à diminuição da eritropoese observada nessa idade, decorrente da queda da produção de andrógeno e da senescência do compartimento celular dos precursores da eritropoese. As citocinas inflamatórias IL-6, IL-1 e o fator de necrose tumoral α (TNF-α) estão em níveis comumente aumentados no idoso, mesmo sem uma doença inflamatória evidente. - Além disso, o idoso tem menor reserva funcional de órgãos e, portanto, menor capacidade de mobilizar os mecanismos compensatórios à anemia, o que o torna particularmente vulnerável aos seus efeitos. Então, é comum o paciente se apresentar em estado de fragilidade física, deprimido e com declínio cognitivo. Uma das explicações para a anemia do idoso é um maior número de eritrócitos em processo de morte celular (eriptose). Ela se caracteriza por maior expressão na face exterior da membrana citoplasmática da fosfatidilserina. - O tratamento da anemia do idoso requer investigação da causa da anemia, por exemplo, a deficiência de ferro. A reposição de ferro é recomendada quando se acredita que possa haver uma deficiência desse metal, mesmo que parcialmente camuflada pelo substrato inflamatório. Nesses casos, a reposição oral de ferro deve ser pouco ou nada eficaz, em razão dos níveis elevados da hepcidina, que impedem a sua absorção. Então, preconiza-se a administração de ferro por via parenteral. - A transfusão de hemácias não costuma ser necessária, entretanto, em razão da menor reserva funcional de órgãos, pode ser necessário indicar a transfusão com níveis mais elevados de Hb, se o paciente apresentar sintomas ou sinais atribuíveis à anemia. TRATAMENTO TRANSFUSIONAL - Há, basicamente, duas indicações de transfundir hemácias: diminuir a hipóxia causada pela anemia e suprimir a eritropoese anormal, como na anemia falciforme com complicação, por exemplo, acidente vascular encefálico isquêmico, em que se preconiza a redução da HbS para níveis inferiores a 30-40%. - A indicação de transfundir hemácias para reduzir ou prevenir a hipóxia depende de vários fatores, como: o grau da anemia (dado pela concentração da Hb); a sua gravidade (repercussão da anemia em paciente específico); o diagnóstico, por exemplo, pacientes com talassemia maior requerem transfusões periódicas de hemácias por toda a vida, mesmo quando assintomáticos e com níveis de Hb relativamente altos (9,0-10,0 g/dL); a presença de comorbidades que podem favorecer ou desfavorecer a indicação de transfusão, assim como influir na dose transfusional (pacientes idosos podem não tolerar doses mais altas de transfusão), entre outros. - Portanto, não há um valor de concentração de Hb abaixo do qual a transfusão de hemácias esteja automaticamente indicada. Cada paciente apresenta necessidades específicas. No entanto, a adoção de gatilhos transfusionais é justificável para pacientes com quadro clínico relativamente homogêneo, como, por exemplo, o observado em cirurgia de revascularização miocárdica ou em unidades de tratamento de onco- hematologia. - A dose transfusional depende de tudo o que foi exposto acima, mas também dos objetivos da transfusão. Por exemplo, a transfusão na talassemia maior, ou na anemia falciforme, visa a atingir um objetivo numérico de concentração de Hb, o que requer um cálculo preciso da dose de hemácias a transfundir. - No entanto, o objetivo mais frequente é de melhorar clinicamente um paciente com descompensação cardiovascular decorrente da anemia, ou por ela agravada. Nesse caso, a dose não visa a atingir um objetivo numérico de Hb, mas sim, a melhora clínica que pode se dar eventualmente com a transfusão de um único concentrado de hemácias (200-250 mL de hemácias). - Em regra, a transfusão de uma unidade de concentrado de hemácias eleva a concentração de Hb de 1,0-1,5 g/dL num paciente com 70 kg (volemia de 5.000 mL). Benefícios da Anemia - A anemia é uma óbvia condição patológica, entretanto, em algumas situações específicas, é possível presumir que anemia leve ou moderada possa trazer benefícios. Por exemplo, a inflamação crônica cursa com aumento do risco de complicações trombóticas, por várias razões, entre elas o aumento da viscosidade sanguínea. A redução da massa eritrocitária (anemia) comumente observada na doença inflamatória contrapor-se-ia então a esse fenômeno. De fato, aumento forçado da concentração de Hb com o uso de AEEs leva ao risco aumentado de trombose. Essa constatação foi determinante para a adoção atual de alvo mais baixo de Hb (~11,0 g/dL), tanto para a anemia da IRC quanto para a decorrente de doença inflamatória que nos anos iniciais do uso de AEE. - Outra vantagem observada é a menor mortalidade por malária por Plasmodium falciparum em pacientes com anemia ferropriva, o que talvez também seja verdade para outros tipos de infecção. Por fim, não um benefício propriamente dito, a detecção de anemia indica a necessidade de investigar a sua causa, o que pode favorecer o diagnóstico mais precoce, por exemplo, de doenças neoplásicas, ou seja, a anemia pode ser o primeiro, e por tempo variável o único sinal de doença grave ainda oculta. - Além disso, a concentração de Hb é poderoso indicador de risco de morte para o idoso e de prognóstico para várias doenças, de modo que valor reduzido desse parâmetro pode sugerir condutas terapêuticas (e 10 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO2021.1 diagnósticas) mais vigorosas, pois faz pressupor doença de base mais avançada. ROTEIRO PARA INVESTIGAÇÃO DE ANEMIAS Anemia: Homens - Hb < 13,5 g/dl Mulheres - Hb < 12 g/dl NÚMERO DE RETICULÓCITOS (normal = 20 a 100 000/mm3 ) • NORMAL OU DIMINUÍDO = DEFEITO DA PRODUÇÃO • AUMENTADO = HEMÓLISE OU SANGRAMENTO AGUDO DEFEITO DA PRODUÇÃO 1)Fase de diferenciação: • anemia geralmente normocítica e normocrômica, às vezes micro/hipo ou macrocítica • pode cursar com pancitopenia grave com consequente infecções por Gram negativos e/ou sangramento cutâneo-mucoso (petéquias e equimoses) devido à neutropenia e plaquetopenia • hemograma pode demonstrar células imaturas ou neoplásicas a) DOENÇAS CRÔNICAS Causas: alteração de fatores de crescimento de células hematopoéticas e/ou citocinas, fibrose da medula óssea, invasão por células neoplásicas, etc Exemplos: insuficiência renal, hipo ou hipertireoidismo, doenças hepáticas, doenças inflamatórias (colagenoses, infecções graves), neoplasias, etc b) DOENÇAS PRIMÁRIAS DA MEDULA ÓSSEA Exemplos: aplasia de medula óssea, mielodisplasias, leucemias 2) Fase de multiplicação: • anemias macrocíticas • neutrófilos hipersegmentados • pode haver pancitopenia Causas : deficiência de Vit B12 ou ácido fólico Deficiência de Vit B12- pode cursar com neuropatia Fontes: derivados animais Causas: defeitos de absorção da Vit B12 como Anemia perniciosa ( anticorpos anti-células parietal ou anti-fator intrínseco) , defeito da secreção de ácidos pelo estômago, doenças do íleo ( Crohn, sprue, etc) Deficiência de Ácido fólico Fontes: vegetais Causas: carência alimentar, alcoolismo, drogas que inibem absorção ou metabolização de ácido fólico (sulfas, pirimetamina, anti-convulsivantes, etc), doenças do jejuno (Crohn, sprue, etc), utilização excessiva (anemias hemolíticas, gravidez, etc) 3) Fase de hemoglobinização: Anemia hipocrômica, microcítica HEMOGLOBINA = HEME + GLOBINA + FERRO Defeitos do metabolismo do FERRO • Anemia ferropriva- ferritina↓, ferro sérico ↓, saturação da transferrina↓TIBC ↑, transferrina↑ • Doença crônica com sequestro de ferro no Sistema Reticulo Endotelial (doenças inflamatórias graves como artrite reumatóide, linfoma de Hodgkin, infecções sistêmicas de longa duração)- TIBC↓, ferro sérico ↓, ferritina N ou ↑ Defeitos da síntese de GLOBINAS Talassemias alfa (αα/α- ; αα/-- ; α-/α-) e beta MENOR (βo β ; β+ β) Geralmente glóbulos vermelhos > 5 milhões/mm3 e RDW < 20% ALFA-TALASSEMIA- geralmente descendente de africanos; Eletroforese de hemoglobina normal; Detecção por técnicas de biologia molecular (PCR) BETA-TALASSEMIA- geralmente descendente de italianos; Eletroforese de hemoglobina- HbA2↑ ; HbF N ou ↑ Defeitos da produção do HEME (rara) Presença de sideroblastos em anel (eritroblastos com ferro armazenado nas mitocôndrias, formando um anel ao redor do núcleo) evidenciados por coloração específica das células da medula óssea. ANEMIAS HEMOLÍTICAS (↑ no de reticulócitos) Congênita ou Adquirida ? História familiar ou quadro clínico crônico sugerem doença hereditária, Quadro agudo sugere forma adquirida. CONGÊNITAS - As hemácias se constituem basicamente por membrana, hemoglobina e enzimas. Portanto os defeitos congênitos decorrem de alterações nestes compartimentos. 1) Defeitos da Membrana: • Esferocitose hereditária • Eliptocitose hereditária • Piropoiquilocitose hereditária • Defeitos de transporte de cations: xerocitose, estomatocitose e síndromes intermediárias Esferocitose hereditária: • 80% dos casos herança dominante • a mais frequente das anemias hemolíticas congênitas • Cursa com hemólise crônica (icterícia, esplenomegalia, litíase biliar) • Quadro clínico varia desde ausência de anemia até anemia grave dependente de transfusão • Diagnóstico é dado pelo estudo familiar, quadro clínico e laboratorial de hemólise e aumento da fragilidade osmótica das hemácias . O CHCM costuma ser elevado e o VCM discretamente diminuído Eliptocitose hereditária e Piropoiquilocitose hereditária • Geralmente indivíduos são assintomáticos ou têm hemólise discreta • Formas graves (Piropoiquilocitose ) geralmente ocorre em heterozigotos duplos ou homozigotos • Diagnóstico é dado pela detecção de numerosos eliptócitos ou poiquilócitos (piropoiquilocitose ) no sangue periférico 11 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1
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