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1 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 hanseníase - iesc - A hanseníase é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, ou também chamado, bacilo de Hansen, que envolve a pele e os nervos periféricos. - A hanseníase é uma importante preocupação de saúde global e endêmica no Brasil, sendo transmitida de pessoa para pessoa por meio das vias aéreas. Ela se manifesta por meio de manchas na pele e alterações de sensibilidade. Além disso, pode ocorrer espessamento de nervos periféricos, principalmente em pernas e braços, podendo afetar também nervos cranianos. - Ao contrário do folclore popular, a hanseníase não é altamente contagiosa e um tratamento muito eficaz está disponível na atenção primária, sendo que, o diagnóstico e o tratamento precoces são necessários para minimizar a probabilidade de deficiência envolvendo os olhos, mãos e pés devido à neuropatia, uma vez que muitas vezes não são reversíveis e podem requerer cuidados por toda a vida. - A Hanseníase é uma doença infecciosa, crônica, de grande importância para a saúde pública devido ao seu poder incapacitante. Acomete principalmente a pele e os nervos periféricos, mas também manifesta-se como uma doença sistêmica comprometendo articulações, olhos, testículos, gânglios e outros órgãos. - O alto potencial incapacitante da hanseníase está diretamente relacionado à capacidade de penetração do Mycobacterium leprae na célula nervosa e seu poder imunogênico. - O homem é considerado o único reservatório natural do bacilo. A sua transmissão ocorre pela vias aéreas superiores (mucosa nasal e orofaríngea) a partir de pessoas com as formas multibacilares (MBs), sem tratamento. É necessário o contato prolongado com indivíduos doentes MBs não tratados para contrair a doença, o que torna os contatos intradomiciliares o primeiro meio para adquiri-la. Uma vez que o trato respiratório superior do novo hospedeiro é infectado, pode ocorrer ampla disseminação dentro do hospedeiro. Ocasionalmente, os organismos podem entrar pela pele ferida. AGENTE ETIOLÓGICO - A hanseníase é causada por bacilos álcool-ácido resistentes do complexo M. leprae, que inclui M. leprae e M. lepromatosis. O M. leprae multiplica-se muito lentamente e é um organismo intracelular obrigatório, com afinidade por células cutâneas e células dos nervos periféricos (células de Schwann), sítios em que ele pode proliferar-se. - predileção por afetar áreas mais frias do corpo (pele, segmentos nervosos próximos à pele e as membranas mucosas do trato respiratório superior). - O M. lepromatosis foi identificado como o agente causador da hanseníase em vários pacientes com hanseníase difusa virchowiana. - Clinicamente, M. leprae e M. lepromatosis são indistinguíveis. Apresentam as mesmas manifestações clínicas, respondem ao tratamento com os mesmos agentes antimicobacterianos e têm prognóstico comparável. CLASSIFICAÇÃO - O sistema de classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi projetado para uso em situações nas quais há pouca ou nenhuma experiência clínica ou suporte laboratorial, sendo baseado no número de lesões cutâneas presentes. Contar apenas as lesões cutâneas pode levar à classificação incorreta de muitos pacientes com hanseníase PB em vez de hanseníase MB, levando a subtratamento em alguns casos. - A hanseníase apresenta uma ampla gama de manifestações clínicas e histopatológicas, refletindo a ampla gama de resposta imune celular ao complexo M. leprae. Tratando-se de uma doença polimorfa em suas apresentações clínicas, a hanseníase é classificada com o objetivo de facilitar o seu manejo. 2 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Visando o tratamento com o esquema PQT/OMS (poliquimioterapia), a classificação dos casos de hanseníase é baseada no número de lesões na pele ou conforme avaliação de espessamento dos nervos de acordo com os seguintes critérios: • Paucibacilar (PB) – casos com até cinco lesões de pele e/ou um tronco de nervo acometido; • Multibacilar (MB) – casos com mais de cinco lesões de pele e/ou dois ou mais troncos nervosos acometidos. - A transmissão se dá por meio de uma pessoa doente, sem tratamento, que elimina o bacilo para o meio exterior infectando outras pessoas vulneráveis. - O principal meio de eliminação do bacilo pelo doente e a mais provável porta de entrada desse no organismo são as vias aéreas superiores (boca e nariz), através de contato prolongado, muito frequente na convivência domiciliar e social. Por isso, o domicilio é apontado como importante espaço de transmissão da doença. - A hanseníase não é transmitida de forma congênita e também não há evidências de transmissão nas relações sexuais. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - A clínica do paciente com hanseníase envolve um cenário de lesões de pele que são crônicas e não respondem ao tratamento padrão para doenças mais comuns ou quando a perda sensorial é observada nas lesões ou nas extremidades (hipo/anestesia). Pistas adicionais incluem a apresentação de cortes ou queimaduras na ausência de dor e histórico de viagens, incluindo residência em países endêmicos. - A hanseníase deve ser suspeitada no contexto dos seguintes sintomas: • Mancha(s) hipopigmentada ou avermelhada(s) na pele; • Sensação diminuída ou perda de sensibilidade na lesão de pele; • Parestesias (formigamento ou dormência nas mãos ou pés); • Feridas ou queimaduras indolores nas mãos ou pés; • Nódulos ou inchaço nos lóbulos das orelhas ou rosto; • Nervos periféricos sensíveis (dor neurológica) e dilatados; - Os achados tardios da hanseníase incluem fraqueza das mãos com dedos em garra, pé caído, paralisia facial ou lagoftalmo, falta de sobrancelhas e cílios, nariz colapsado ou septo nasal perfurado. Os achados clínicos se correlacionam com a extensão do envolvimento do nervo, classificação da doença e presença de complicações imunológicas conhecidas como reações. - Em pacientes com doença tuberculoide, a perda sensorial e/ou motora geralmente ocorre na distribuição dos nervos nas proximidades da lesão cutânea; em pacientes com doença virchowiana, a lesão nervosa pode se tornar mais generalizada. - Normalmente, os troncos nervosos envolvidos incluem os nervos ulnar e mediano (mão em garra), o nervo fibular comum (pé caído), o nervo tibial posterior (dedos em garra e insensibilidade plantar), o nervo facial (lagoftalmo), o nervo cutâneo radial e o grande nervo auricular. Os principais sinais e sintomas da doença são: • Manchas esbranquiçadas (hipocrômicas), acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade. A pessoa sente formigamentos, choques e câimbras que evoluem para dormência, queima-se ou machuca sem perceber; • Pápulas, infiltrações, tubérculos e nódulos; • Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas; • Ausência de suor no local - pele seca. - As lesões da hanseníase geralmente iniciam com sensação de queimação, formigamento e/ou coceira no local, que evoluem para ausência de sensibilidade e, a partir daí, não coçam e o paciente refere dormência - diminuição ou perda de sensibilidade ao calor, a dor e/ou ao tato - em qualquer parte do corpo. Sinais e sintomas menos comuns que também podem ocorrer: - Diminuição e/ou perda de sensibilidade e força muscular, ocorrendo principalmente em pálpebras, mãos e pés. - Inflamação nos nervos que pode ser aguda, crônica ou silenciosa. - Dor e/ou espessamento de nervos. - A descoberta de casos novos de hanseníase é feita por meio da observação dos contatos familiares, colegas de trabalho, de escola e vizinhos, que devem ser investigados e encaminhados para realizar consulta na Unidade de Saúde. DIAGNÓSTICO - O diagnóstico de hanseníase é essencialmente clínico e epidemiológico, sendo realizado por meio da análise da história,das condições de vida do indivíduo e do exame dermatoneurológico, para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade e/ou comprometimento de nervos periféricos. Em poucas situações, é necessária a utilização de exames laboratoriais ou de exames complementares para definição do diagnóstico. - O diagnóstico é estabelecido definitivamente quando pelo menos uma das características a seguir encontra-se presente, com ou sem história epidemiológica: • Lesão(ões) e/ou área(s) da pele com alteração de sensibilidade; • Acometimento de nervo(s) periférico(s), com ou sem espessamento, associado a alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas; • Baciloscopia positiva de esfregaço intradérmico. 3 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Em áreas onde a hanseníase é endêmica e frequentemente reconhecida clinicamente, um diagnóstico baseado apenas nas manifestações clínicas pode ser suficiente. Em áreas onde a hanseníase é relativamente incomum, entretanto, a biópsia de pele pode ser útil para a confirmação diagnóstica e/ou para descartar outras causas da doença. - Diante da suspeita de hanseníase, o exame deve incluir avaliação dermatológica de todo o corpo (exposição de toda a pele) na busca de lesões de pele, além da sua caracterização. - Além disso, deve ser realizado um exame neurológico avaliando função, força e palpação de nervos. A palpação de nervos periféricos observa o aumento e/ou sensibilidade e presença de espessamentos, sendo realizada principalmente nos nervos facial, trigêmeo (supraorbital), auricular, radial, ulnar no cotovelo, mediano, tibial e fibular comum na fossa poplítea. - Um exame sensorial de lesões de pele, extremidades distais e avaliação motora também devem ser realizados, lembrando que o comprometimento sensorial segue uma cronologia, sendo acometida inicialmente a sensibilidade térmica, seguida da dolorosa e, por fim, da tátil. - Os olhos devem ser examinados por uma simples inspeção da conjuntiva e da córnea, bem como avaliação da sensação da córnea, buscando-se por lesões ou sintomas, como: ardor, prurido, hiperemia, visão embaçada, ausência de cílios, lacrimejamento excessivo. - Mesmo o diagnóstico da hanseníase podendo ser realizado clinicamente, existe ferramentas laboratoriais que auxiliam na investigação diagnóstica, como é o caso do exame histopatológico de biópsias de pele e a reação em cadeia da polimerase (PCR). Os exames citados não são realiza dos na atenção primária, apenas nos centros de referência para tratamento de hanseníase, em situações clínicas especiais. - Biópsia de pele (exame histopatológico): esfregaços de pele, nos quais uma pequena incisão é feita (nas orelhas, cotovelos e/ou joelhos) para coletar uma amostra de fluido dérmico. A baciloscopia deve ser feita no momento do diagnóstico em todos os pacientes, independente da forma clínica. Ela permite avaliar a extensão e o tipo de infiltrado e envolvimento dos nervos dérmicos. O exame deve ser realizada da margem mais ativa da lesão mais ativa, inteiramente dentro de uma lesão. Vale ressaltar que o resultado pode ser inconclusivo ou inespecífico e que a baciloscopia negativa não afasta o diagnóstico, já que as formas PBs indeterminada e tuberculoide sempre apresentam exame baciloscópico negativo. - Reação em cadeia da polimerase (PCR): disponível para detecção de DNA de M.leprae e M. lepromatosis em tecidos. A PCR é mais útil como ferramenta de identificação (por exemplo, quando as características clínicas ou histológicas são inconclusivas) do que como ferramenta de detecção. - Reação de Mitsuda: injeção intradérmica de bacilos mortos. Demora 28-30 dias para a leitura. TRATAMENTO - O tratamento da hanseníase consiste em uma decisão compartilhada com o paciente e na terapia poliquimioterápica (PQT) para prevenir o desenvolvimento de resistência. É uma doença contagiosa, que pode afetar além da pessoa, seus entes queridos e comunidade onde ela mora. - O tratamento da hanseníase necessita de um esforço organizado de toda a rede básica de saúde no sentido de fornecer tratamento quimioterápico a todas as pessoas diagnosticadas com hanseníase. - O tipo e duração do tratamento depende se o paciente é paucibacilar ou multibacilar e envolve uma abordagem multiprofissional e interdisciplinar (agentes comunitários de saúde, técnicos de enfermagem, enfermeiros, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros profissionais). - Geralmente esse paciente ganha um projeto terapêutico singular (PTS). Os profissionais da equipe de saúde devem estar capacitados para realizar uma escuta ativa da pessoa portadora de hanseníase. - A PQT é ativa contra o M. leprae e rapidamente torna o paciente não infeccioso; além disso, o uso de PQT reduz a probabilidade de surgimento de resistência aos medicamentos. - Os medicamentos de primeira linha incluem dapsona, rifampicina e, para doença virchowiana, clofazimina. Usados em combinação, eles provaram ser eficazes. - A terapia anti-hansênica convencional é eficaz no tratamento de M. leprae e M. lepromatosis. - A abordagem para o tratamento da hanseníase segue um regime específico para paciente paucibacilares e multibacilares: 4 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 Dapsona: a dapsona é barata e geralmente bem tolerada nas doses usadas para o tratamento da hanseníase. Os efeitos adversos incluem síndrome de hipersensibilidade à dapsona, metemoglobinemia e agranulocitose. A sobrevida encurtada dos glóbulos vermelhos é comum com a dapsona, embora a anemia hemolítica grave seja in- comum, exceto naqueles com deficiência grave de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD); todos os pacientes devem ser examinados para deficiência de G6PD antes de receber dapsona. Como a atividade antibacteriana da dapsona é inibida pelo ácido p-aminobenzóico (PABA), acredita-se que a dapsona tenha um mecanismo de ação semelhante ao das sulfonamidas, que envolve a inibição da síntese do ácido fólico. Uma dose de 100 mg por dia é fracamente bactericida contra M. leprae, mas tal dose excede a concentração inibitória mínima (MIC) do organismo por um fator de cerca de 500. Tais doses inibem até a multiplicação de mutantes de M. leprae com baixo graus moderados de resistência à dapsona. A dose máxima deve ser usada desde o início e não deve ser reduzida durante as reações imunológicas. A resistência da dapsona é geralmente relatada em áreas onde a monoterapia foi usada. Rifampicina: a rifampicina é o medicamento mais bactericida disponível para o tratamento da hanseníase. A rifampicina se liga ao complexo da polimerase de RNA dependente de DNA, desacoplando a transcrição. O alvo da rifampicina é a subunidade beta da RNA polimerase. A toxicidade do medicamento é relativamente baixa, mas está relacionada ao tamanho da dose e ao intervalo entre as doses. As doses padrão para hanseníase têm se mostrado relativamente não tóxicas, embora casos ocasionais de insuficiência renal, supressão da medula óssea, síndrome “semelhante à gripe” e hepatite tenham sido relatados. A administração diária de rifampicina tem efeitos importantes no metabolismo da droga pelo citocromo 3A4 hepático (CYP3A4), que afeta muito outros medicamentos, como anticoncepcionais orais, corticosteroides e inibidores de protease do HIV, entre muitos outros. Clofazimina: a clofazimina é bem tolerada na dose padrão de 50 mg/dia usada para hanseníase. O prin-cipal efeito observado é a pigmentação da pele (especialmente nas lesões cutâneas), uma vez que a droga é lipofílica e se acumula na parede celular rica em lipídios do M. leprae. Em doses mais altas (200 mg/dia), a hiperpigmentação pode ser perceptível em 4 semanas; em doses menores, pode levar de 4 a 6 meses. A clofazimina causa fototoxicidade, que pode acelerar o escurecimento da pelecom a exposição ao sol. Esta pigmentação geralmente desaparece dentro de 1 a 2 anos após o tratamento ser interrompido. Alguns pacientes relutam em tomar clofazimina por causa da pigmentação, mas geralmente a aceitarão se a natureza temporária da pigmentação e o benefício de reduzir a probabilidade de uma reação debilitante ao tratamento forem cuidadosamente explicados. As doses mais elevadas de clofazimina (até 300mg/dia) por vezes utilizadas para o controle das reações podem ocasionalmente produzir efeitos secundários gastrointestinais graves. Os mecanismos de ação da clofazimina não são conhecidos. A droga é fracamente bactericida contra M. leprae, mas a combinaçãode clofazimina e dapsona é muito mais ativa do que qualquer uma das drogas sozinha. - Durante o tratamento, a primeira consulta de acompanhamento deve ser feita em 2 a 4 semanas para avaliar os efeitos colaterais dos medicamentos. Depois disso, as consultas de acompanhamento de rotina devem ser agendadas a cada 3 meses. As visitas devem consistir em um exame clínico, incluindo avaliação da pele, nervos, membros e olhos, bem como estudos laboratoriais para avaliar a toxicidade do medicamento. Os pacientes devem relatar quaisquer novas lesões cutâneas, perda sensorial ou motora, sintomas oculares, reações ou outras queixas. - Os estudos laboratoriais de rotina para avaliar a toxicidade do medicamento durante o tratamento incluem hemograma completo, função renal e função hepática. A elevação assintomática das enzimas hepáticas de até 3 vezes o normal é aceitável. - Após a conclusão do tratamento, o acompanhamento anual por mais 3 anos é garantido para pacientes com doença tuberculoide e por mais 5 anos é garantido para pacientes com doença virchowiana. - Os pacientes devem ser aconselhados a retornar para avaliação se surgirem novas lesões ou outros problemas. - O eritema e o endurecimento das lesões cutâneas podem diminuir alguns meses após o início da terapia. Pode levar alguns anos para que as lesões cutâneas remitam completamente, dependendo do número inicial de lesões e da gravidade da infecção. A maioria das lesões cicatriza sem deixar cicatrizes. 5 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 - Uma vez mortos, os bacilos mortos são removidos dos tecidos muito lentamente; alguns podem persistir nos tecidos por vários anos. Uma vez que M. leprae e M.lepromatosis não podem ser cultivados em cultura e sua viabilidade não pode ser avaliada em biópsias, um ponto final bacteriológico definitivo para o tratamento não está disponível. A presença de bacilos em esfregaços ou biópsias durante e após o tratamento não indica, por si só, falha no tratamento ou resistência aos medicamentos. - Não há evidências de que o tratamento antimicrobiano prolongado aumente a remoção de M. leprae morto dos tecidos. - Dada à falta de um desfecho terapêutico definitivo, avaliar a adesão é especialmente importante para avaliar a integridade do tratamento. Evidências laboratoriais indicam que o M.leprae é morto rapidamente após a exposição à rifampicina e outras drogas usadas. - A experiência com a poliquimioterapia forneceu boas evidências de cura com muito poucas recaídas. Portanto, se a adesão aos protocolos de PQT bem estabelecidos for boa, a eliminação dos bacilos e a resolução das lesões podem ser esperadas. - A progressão da doença que ocorre durante a terapia é quase sempre devido à baixa adesão ao tratamento. Portanto, a educação do paciente é uma parte importante de cada visita; a adesão a um regime medicamentoso prolongado é improvável, a menos que o paciente compreenda perfeitamente sua ne- cessidade. A cooperação da família também é importante. - É papel dos profissionais de saúde ser realista e estabelecer algumas orientações para o paciente sobre o fato de o tratamento ser a melhor forma de prevenção e única forma de cura, além de esclarecer que ele é demorado e exige muita paciência. O tratamento da hanseníase é a única forma de prevenir deformidades para uma vida inteira. - O paciente precisa estar ciente de que os antibióticos podem ser perigosos, causando vários efeitos adversos, alguns até são lesões de pele e de sistema nervoso, porém sem eles não há outra solução para a melhora da doença. - O tratamento é realizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e dura geralmente de 6 a 12 meses, conforme diagnóstico e avaliação clínica. Durante o tratamento alguns pacientes apresentam complicações graves que se não forem acompanhadas pelo profissional responsável pode levar a sequelas físicas. - São as chamadas Reações Hansênicas, podendo surgir antes, durante ou depois do tratamento com a PQT, caracterizadas por: aparecimento de novas manchas ou placas, alterações de cor e edema das lesões antigas, pele avermelhada, espessamento e/ou dor de nervos, mal-estar generalizado ou nódulos subcutâneos dolorosos. - Fique atento durante as visitas domiciliares e ao sinal de qualquer um deles, agende uma consulta com um profissional de saúde. Em cada consulta mensal, o paciente toma a dose supervisionada da medicação e recebe a cartela com os medicamentos das doses a serem auto administradas em casa. - O paciente com hanseníase que não comparecer à dose supervisionada na Unidade Básica de Saúde deve ser visitado no domicílio o quanto antes, buscando-se continuar o tratamento e evitar o abandono. Essa medida visa identificar reações hansênicas, efeitos adversos aos medicamentos e outros possíveis danos à saúde do paciente. PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES - Diante do diagnóstico confirmado, o Ministério da Saúde preconiza ações de prevenção de incapacidades em pacientes com hanseníase. Essa precaução inclui ações que visam evitar episódios de danos ao paciente, sejam eles físicos, emocionais e/ou socioeconômicos. - Quando o paciente já possui algum agravo é preciso tomar providências para evitar maiores complicações. - A prevenção e o tratamento das incapacidades físicas são realizados pelas Unidades de Saúde, através de práticas como educação em saúde, exercícios preventivos, adaptações de calçados, adaptações de instrumentos de trabalho e cuidados com os olhos. - Os pacientes com alguma incapacidade física que demandem a utilização de técnicas complexas devem ser encaminhados aos serviços especializados ou serviços gerais de reabilitação. ORIENTAÇÕES SOBRE TÉCNICAS DE AUTOCUIDADO - A demonstração e a prática do autocuidado devem fazer parte das orientações de rotina do atendimento mensal, sendo recomendada a organização de grupos de pessoas com hanseníase e familiares ou de pessoas de sua convivência que possam apoiá- los na execução dos procedimentos recomendados. - Em todas as situações, deve-se valorizar o esforço realizado pelo paciente para estimular a continuidade das práticas de autocuidado. Ainda que os efeitos adversos aos medicamentos sejam pouco frequentes, estes podem ser graves e requerem encaminhamento imediato para avaliação na Unidade de Saúde para realizar a conduta adequada. - O paciente deve ser orientado a fazer a auto inspeção diária, voltando o autocuidado principalmente de face, mãos e pés, observando detalhadamente os olhos através da movimentação das pálpebras, presença de cílios ou sobrancelhas e alterações da visão. - Atente-se também para o ressecamento, entupimento ou sangramento do nariz. Nas mãos e nos pés realizar sempre hidratação com cremes, observar ferimentos, calosidades, sinais de dormência, fraqueza muscular e proteger-se ao tocar objetos quentes, estimulando sempre o uso de proteção para esses lugares. PREVENÇÃO - As medidas de controle da hanseníase incluem o manejo clínico dos casos ativos e também o manejo dos contatos, ou seja, tratar quem tem a doença e examinar os contactantes próximos. 6 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1- Considera-se como contato intradomiciliar toda pessoa que resida ou residiu (mesmo não familiar) nos últimos 5 anos com indivíduos apresentando hanseníase, independente de sua forma clínica. Todos os contatos devem ser convocados para fazer o exame dermatoneurológico. Contatos intradomiciliares de hanseníase com menos de 1 ano, já vacinados, não necessitam da aplicação de outra dose de BCG. - Os contatos domiciliares devem ser avaliados anualmente quanto a evidências de doença por pelo menos 5 anos e devem ser educados para buscar atenção imediata se houver suspeita de alterações cutâneas ou neurológicas. - A vacinação com BCG é parcialmente protetora para hanseníase; uma única dose parece ser 50% protetora, e 2 doses aumentam ainda mais a proteção. O BCG é administrado ao nascimento na maioria dos países com altas taxas de hanseníase; - As recomendações para aplicação de vacina BCG nos contatos intradomiciliares sadios de pessoas com hanseníase se baseiam na avaliação da cicatriz vacinal: prescreve-se uma dose de BCG para aqueles sem cicatriz ou com apenas uma cicatriz de BCG; e não se prescreve a BCG para aqueles com duas cicatrizes da vacina. - Fora das áreas endêmicas, nenhum tratamento profilático é recomendado. Em áreas endêmicas, as diretrizes da OMS recomendam a profilaxia (com rifampicina em dose única) para adultos e crianças ≥ 2 anos. - A neurite (dor, queimação ou formigamento, dormência súbita ou perda de função) deve ser tratada agressivamente para prevenir ou minimizar a lesão do nervo e subsequente deformidade e incapacidade. A neurite é tratada principalmente com corticosteroides. REAÇÕES IMUNOLÓGICAS - As reações imunológicas são complicações inflamatórias sistêmicas que podem ocorrer antes do tratamento (alguns pacientes inicialmente procuram atendimento médico no contexto de uma reação), durante o tratamento ou meses a anos após a conclusão do tratamento. Essas reações podem afetar 30 a 50% de todos os pacientes com hanseníase. - Existem dois tipos de reações hansênicas: reação hansênica tipo 1 ou reversa (T1R ou RR) e reação hansênica tipo 2 ou eritema nodoso hansênico (T2R ou ENH). - A T1R normalmente ocorre em pacientes com doença limítrofe (BT-BL), enquanto T2R ocorre em pacientes com doença virchowiana (BL-LL); distinguir entre os tipos pode ser difícil. Os dois tipos de reações parecem ter mecanismos imunológicos subjacentes diferentes, mas ambos são mal compreendidos e os fatores que os iniciam são desconhecidos. - Uma sensação geral de fadiga, mal-estar e febre podem estar presente em ambos os tipos de reação. Outras manifestações incluem neurite, artrite, irite e sintomas nasofaríngeos. A inflamação associada às reações pode levar a lesões nervosas graves com subsequente paralisia e deformidade. A reação pode simular alergia a medicamentos, agravamento da doença, neuropatia de início recente ou, em casos graves, choque séptico. - É importante que o médico e o paciente entendam que as reações imunológicas não são reações medicamentosas e que o tratamento medicamentoso deve ser continuado, embora a modificação no uso da rifampicina possa ser necessária quando a prednisona é usada para o controle da reação. Reação hansênica reversa ou reação tipo 1 - Ocorre por exacerbação da resposta imune celular em indivíduo com boa capacidade para destruir bacilos. Ela encontra-se presente tipicamente em pacientes com doença BT, BB ou BL. As manifestações clínicas incluem: • Aparecimento de novas lesões de pele: manchas, pápulas, placas; • Lesões antigas tornam-se mais eritematosas e/ou edematosas e duras; • Ulceração ou descamação das lesões; • Dor espontânea ou à palpação de nervo periférico com ou sem espessamento, sensações parestésicas ou aumento de área anestésica; • Perda da função nervosa com diminuição da força muscular ou perda da sensibilidade; • Edema de extremidades (mãos, pés) e/ou de face. - Na ausência de tratamento, o curso natural do T1R é de vários meses. A T1R parece resultar do aumento espontâneo da imunidade celular e hipersensibilidade do tipo retardado aos antígenos do M. leprae. Eritema nodoso hansênico ou reação tipo 2 - A reação tipo 2 ocorre em pacientes com doença de LB e LL. Uma escala de gravidade clínica para ENH foi desenvolvida para auxiliar os médicos na caracterização do ENH e no seguimento da resposta ao tratamento.Os fatores de risco para T2R incluem puberdade, gravidez e lactação. - O mecanismo do T2R é mal compreendido. É amplamente considerado como um distúrbio do complexo imunológico, embora as evidências para isso não sejam convincentes. Ocorre por exacerbação da resposta imune humoral por depósitos de imunocomplexos em indivíduo com pouca capacidade para destruir bacilos (multibacilares). Foram observados níveis circulantes elevados de fator de necrose tumoral alfa e outras citocinas pró- inflamatórias, mas seus papeis na patogênese permanecem obscuros. - As manifestações clínicas incluem: • Aparecimento de novas lesões de pele: manchas, pápulas, placas; • Erupção repentina de vários nódulos dolorosos, que pode ser superficial ou profundo na derme. Eles podem formar pústulas e ulcerar, liberando pus amarelo que contém polimorfos e 7 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 bacilos álcool-ácido resistentes em degeneração, mas é estéril na cultura. Tais lesões são comumente encontradas nas superfícies extensoras dos membros e na face. À medida que as lesões desaparecem, elas podem aparecer como endurecimento forte nos antebraços e coxas; • Febre alta, cefaleia, mal-estar generalizado, aumento da frequência cardíaca e respiratória, insônia e/ou depressão devido à dor generalizada; • Linfadenopatia sensível, orquite, iridociclite, sensibilidade muscular/articular doloridas e/ou inchadas,neurite única ou múltipla; • Orquiepididimite; • Mão e/ou pé reacional (edema de extremidades); • Glomerulonefrite; • Comprometimento hepático e/ou esplênico. - A biópsia de uma nova lesão em 24 horas demonstra infiltrado de polimorfos sobrepostos à inflamação crônica e forte carga bacteriana de M. leprae. Este é um teste diagnóstico muito útil, uma vez que os polimorfos são extremamente raros em todos os outros tipos de lesões hansênicas. - Na ausência de tratamento, o curso natural do T2R é de 1 a 2 semanas, mas, frequentemente, a reação é recorrente, às vezes por vários meses. Tratamento de reações imunológicas - Em geral, a terapia antimicrobiana deve ser continuada no cenário de reações imunológicas, e os pacientes devem ser tranquilizados de que os sintomas não são uma reação aos medicamentos. As opções para o tratamento de reações imunológicas incluem prednisona com ou sem outros agentes anti-inflamatórios. - O uso de prednisona deve levar à redução da administração de rifampicina de 600mg/dia para 600mg/mês. Os pacientes devem ser monitorados cuidadosamente para neuropatia ou neurite e tratados agressivamente se estas se desenvolverem ou piorarem. A redução gradual da prednisona e de outros agentes anti- inflamatórios é empírica, com base na resposta clínica. - Reações leves sem neurite, ulceração ou outros sintomas graves dos T1Rs podem ser tratadas com cuidados de suporte. T1Rs graves com neurite requerem tratamento imediato com corticosteroides para evitar dano permanente do nervo. A prednisona (40 a 60 mg/dia) deve ser iniciada e diminuída lentamente quando a reação for controlada (em geral, de 3 meses na tuberculoide limítrofe a 9 meses na virchowiana boderline). - Reações leves sem neurite, ulceração ou outros sintomas nas T2Rs podem ser tratadas com cuidados de suporte. T2Rs graves com neurite e sintomas sistêmicos requerem tratamento imediato com corticosteroides para evitar dano permanente ao nervo. Prednisona (40 a 60 mg/dia) deve ser iniciadae rapidamente reduzida (por um período de 2 semanas) quando a reação for controlada; na ausência de resposta clínica, doses mais altas de prednisona podem ser administradas. - A talidomida é muito eficaz no tratamento de reações hansênicas tipo 2, mas a teratogenicidade limita seu uso em mulheres em idade reprodutiva. Digno de nota, a eficácia da talidomida no tratamento de T2Rs é a única razão pela qual não foi completamente banida. A talidomida é administrada inicialmente em uma dose de 300 a 400 mg/dia; frequentemente, esse regime controla a reação em 48 horas. Posteriormente, a dose deve ser reduzida gradualmente para um nível de manutenção, geralmente em torno de 100 mg/dia; a cada poucos meses, são feitas tentativas de reduzir a droga. Para controlar o eritema nodoso hansênico, a talidomida pode ser mantida por vários anos. O desenvolvimento de neuropatia deve levar à interrupção imediata. COMO ABORDAR UM PACIENTE COM HANSENÍASE? - Prestar atenção é essencial!! Ouça as histórias de vida de cada pessoa; Procure descobrir suas dúvidas, o que ela sabe e não sabe sobre a doença; Compreenda as raízes do medo que ela sente e de seus preconceitos; Escute-a sem recriminação. - Logo após as primeiras doses do tratamento a pessoa NÃO transmite mais a doença. - O diagnóstico precoce e o tratamento regular previnem incapacidades e evitam que novas pessoas adoeçam, pois interrompem a transmissão da doença. - O apoio da família para recuperação da pessoa é muito importante. Tirar dúvidas sobre a doença diminui o medo e ajuda no diagnóstico precoce. - As pessoas não são obrigadas a contar aos outros sobre sua doença, assim, o Agente Comunitário de Saúde (ACS) precisa respeitar esta decisão. Uma população bem informada sobre hanseníase e confiante na equipe de saúde supera o medo da doença com mais facilidade e: Não discrimina, nem exclui os que adoecem das atividades coletivas; Procura os serviços de saúde e comunica casos suspeitos precocemente; Busca o serviço de saúde mais cedo para o diagnóstico e o tratamento; Contribui para que muitas pessoas não fiquem com deformidades ou incapacitadas para o trabalho e até mesmo para a realização de atividades cotidianas. 8 SANNDY EMANNUELLY – 6º PERÍODO 2021.1 O QUE O AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE DEVE FAZER? - Identificar sinais e sintomas da hanseníase e encaminhar os casos suspeitos para a unidade de saúde; - Encaminhar contatos intradomiciliares para avaliação na unidade de saúde e estimulá-los a realizar o autoexame, mesmo depois da avaliação; - Acompanhar as pessoas em tratamento e orientá-las quanto à necessidade de sua conclusão no tempo preconizado e estar atento aos prováveis sinais e sintomas de reações e efeitos adversos da medicação; - Realizar busca ativa de faltosos e daqueles que abandonaram o tratamento; - Orientar a realização de autocuidado, visando a prevenção de incapacidades; - Fazer, no mínimo, uma visita domiciliar por mês à pessoa com hanseníase e sua família, estimulando autocuidado e autoexame, de acordo com a programação da equipe, utilizando o material disponível na unidade para cadastramento; - Registrar os dados sobre as pessoas com hanseníase a cada visita, no local e campo específicos da ficha utilizada na unidade, de forma a mantê-los atualizados; - Compartilhar com a equipe informações colhidas durante a visita domiciliar e participar da consolidação dos dados registrados; - Supervisionar o uso de medicamentos, quando indicado e conforme planejamento da equipe; - Desenvolver ações educativas relativas à importância do autoexame e de mobilização envolvendo a comunidade e equipamentos sociais como escolas, conselhos de saúde, associações de moradores relativas à importância do autoexame. - Verificando se os contatos de uma pessoa diagnosticada com hanseníase foram examinados e se receberam a vacina BCG, pois a vigilância das pessoas que têm mais risco de adoecer pode prevenir novos focos. QUANDO ENCAMINHAR/ REFERENCIAR? - Indivíduos com hanseníase poderão ser referenciados às unidades de referência nas seguintes situações: • Suspeita de recidiva; • Forma neural pura; • Reações hansênicas que não responderem à terapêutica padrão; • Reações adversas aos medicamentos; • Incapacidades físicas que necessitem de fisioterapia ou cirurgia reabilitadora; • Dúvida diagnóstica. - Existem alguns casos em que o paciente com hanseníase demanda ser encaminhado para algum especialista: • Caso haja necessidade de exame complementar (que não baciloscopia), sempre referenciado de forma adequada do que está alterado no exame dermatológico e neurológico; • Caso haja vômitos e náuseas incontroláveis: antes pesquisar outras causas e se não é só após medicação mensal; • Caso haja icterícia: antes investigar outras causas (etilismo, hepatite). Se TGO/TGP aumentou 3 vezes o seu limite, suspender e após encaminhar; • Caso haja anemia hemolítica ou metahemoglobinemia: suspender medicação e, após, encaminhar; • Caso haja síndrome pseudogripal grave: nas leves suspender brevemente a quimioterapia e retornar após.
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