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Microeconomia para a Anpec Theo Cotrim Martins E-mail: theocm@gmail.com mailto:theocm@gmail.com Aula 05 RELAÇÕES DE DEMANDA ENTRE BENS + OFERTA DE TRABALHO N-Cap. 6 (Demanda); V-Cap.9 (Trabalho) Agenda: • Substitubilidade e complementariedade • Demandas líquidas e brutas • Equação de Slutsky Revisitada • Oferta de Trabalho • Questões Anpec Substitutos e Complementares • Dois bens são substitutos se um pode ser reposto por outro. – exemplos: chá & café, manteiga & margarina. • Dois bens são complementares se são usados conjuntamente. – exemplos: café & leite, arroz & feijão. Substitutos e Complementares Brutos • Os conceitos de substitutos brutos e complementares brutos incluem os efeitos substituição e renda. – Dois bens são substitutos brutos se: 𝜕𝑥𝑖 𝑝𝑗 > 0 – Dois bens são complementares brutos se: 𝜕𝑥𝑖 𝑝𝑗 < 0 Complementares Brutos Quantidade de x Quantidade de y x1 x0 y1 y0 U1 U0 Quando o preço do bem 𝑦 cai, o efeito substituição pode ser tão pequeno que o consumidor compra mais 𝑥 e mais 𝑦. Neste caso, chamamos 𝑥 e 𝑦 de complementares brutos. 𝜕𝑥 𝑝𝑦 < 0 Substitutos Brutos Quantidade de x Quantidade de y Neste caso, chamamos 𝑥 e 𝑦 de substitutos brutos. x1 x0 y1 y0 U0 Quando o preço do bem 𝑦 cai, o efeito substituição pode ser tão grande que o consumidor compra menos 𝑥 e mais 𝑦. U1 𝜕𝑥 𝑝𝑦 > 0 Equação de Slutsky • A mudança de 𝑥 causada por mudanças em py pode ser mostrada por uma equação de Slutsky: I x y p x p x Uyy constant Efeito Substituição (+) Efeito Renda (-) se 𝑥 é normal Efeito Total (?) Assimetria das Definições Brutas • Uma característica indesejável das definições brutas para bens substitutos e complementares é que elas não são simétricas. • É possível que 𝑥1 seja um substituto para 𝑥2 e ao mesmo tempo 𝑥2 ser um complemento de 𝑥1. Assimetria das Definições Brutas • Supondo a função utilidade abaixo: 𝑈(𝑥, 𝑦) = ln 𝑥 + 𝑦 • A demanda de 𝑥 mostra que os dois bens são substitutos brutos. • A demanda de 𝑦 mostra que os dois bens são independentes. • Fazer em casa! Substitutos e Complementares Líquidos • As definições de substitutos e complementares líquidos focam somente no efeito substituição. • Dois bens são substitutos líquidos se: 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑝𝑗 𝑈𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 > 0 • Dois bens são complementares líquidos se: 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑝𝑗 𝑈𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 < 0 Substitutos e Complementares Líquidos • Esta definição olha somente para o formato da curva de indiferença. • Esta definição não é ambígua porque ela é perfeitamente simétrica. 𝜕𝑥𝑖 𝜕𝑝𝑗 𝑈𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 = 𝜕𝑥𝑗 𝜕𝑝𝑖 𝑈𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 Quantidade de x Quantidade de y x1 x0 y1 y0 U1 U0 Mesmo que 𝑥 e 𝑦 sejam complementares brutos, eles são substitutos líquidos. Como a TMS é decrescente, o efeito preço substituição é negativo e o efeito preço substituição cruzado é positivo. Economia com somente dois bens Ou seja, se só existem dois bens na economia, estes serão sempre substitutos líquidos. x1 x0 y1 y0 U1 U0 Economia com somente dois bens x1 x0 y1 y0 U0 U1 Complementares brutos 𝜕𝑥 𝜕𝑝𝑦 < 0 Substitutos líquidos 𝜕𝑥 𝜕𝑝𝑦 𝑈 > 0 Substitutos brutos 𝜕𝑥 𝜕𝑝𝑦 > 0 Substitutos líquidos 𝜕𝑥 𝜕𝑝𝑦 𝑈 > 0 Comprando e Vendendo (Varian – Cap. 9) • Até o momento, a renda do consumidor era dada. • Porém, as pessoas vendem seus coisas para obterem renda (geralmente, o próprio trabalho). • Como devemos modificar a análise anterior de forma a descrever esse comportamento? Demandas Líquidas e Brutas • Suponha que o indivíduo possua uma dotação inicial dos dois bens, representada por (𝑤1, 𝑤2). • Demanda bruta: quantidade de cada bem efetivamente consomido, representada por (𝑥1, 𝑥2) • Demanda líquida: diferença entre aquilo que o consumidor consome e sua dotação inicial, ou seja, (𝑥1 − 𝑤1, 𝑥2 − 𝑤2). É a quantidade comprada ou vendida do bem. Restrição Orçamentária • A renda 𝐼 do indivíduo não é mais um número fixo, mas o quanto ele é capaz de auferir a partir de sua dotação. Assim, a R.O. é dada por: 𝑝1𝑥1 + 𝑝2𝑥2 ≤ 𝑝1𝑤1 + 𝑝2𝑤2 • Sob monotonicidade, temos: 𝑝1 𝑥1 − 𝑤1 + 𝑝2 𝑥2 − 𝑤2 = 0 ...se (𝑥𝑖 − 𝑤𝑖) for positivo, dizemos que o consumidor é um comprador líquido (ou demandante líquido) do bem 𝑖. Se for negativo, dizemos que é um vendedor líquido (ou ofertante líquido). Restrição Orçamentária • Graficamente, temos: - Ao fixarmos 𝑝1 e 𝑝2 , a renda monetária está dada. A inclinação continua −𝑝1/𝑝2. - Como a dotação é sempre acessível, (𝑤1, 𝑤2) está sempre na reta orçamentária. Restrição Orçamentária • Neste caso, temos 𝑥1 ∗ > 𝑤1 e 𝑥2 ∗ < 𝑤2. O indivíduo é comprador líquido do bem 1 e vendedor líquido do bem 2. • Com dois bens, o consumidor é sempre comprador líquido de um bem e vendedor líquido do outro. Mudança na dotação • Antes, a pergunta era como o consumidor ajustava seu consumo dada uma certa variação da renda. • Agora, queremos analisar como o consumo ótimo varia à medida que a dotação muda enquanto os preços permanecem fixos. • Suponha que (𝑤1, 𝑤2) mudou para 𝑤1 ′ , 𝑤2 ′ , tal que: 𝑝1𝑤1 + 𝑝2𝑤2 > 𝑝1𝑤1 ′ + 𝑝2𝑤2′ ....o que indica que a nova dotação vale menos que a anterior. Mudança na dotação • Equivale exatamente a uma queda na renda, o que nos leva a concluir que o consumidor estará pior. • A variação no consumo dos bens 1 e 2 neste caso dependerá da natureza do bem (normal ou inferior?). • Vale ressaltar que ele sempre preferirá uma dotação que vale mais, mesmo que contenha apenas um dos dois bens, o que não quer dizer que ele sempre prefira consumir uma cesta que custe mais caro. Isto ocorre porque ele sempre pode vender sua dotação e adquirir a melhor cesta factível. Variação de Preços • Antes, quando variávamos algum preço, assumíamos que a renda permanecia constante. • Isto não é verdade quando a renda do indivíduo vem a partir de sua dotação. Se o valor de um bem que você vende muda, então sua renda monetária também mudará. • Como a cesta da dotação inicial sempre pode ser adquirida, a reta orçamentária terá de girar em volta desta dotação. Variação de Preços • Se o preço do bem 1 cair, a R.O. torna-se mais plana. • Se o indivíduo era um vendedor líquido do bem 1 e continuar como vendedor líquido, ele estará pior. Variação de Preços • No gráfico, podemos ver que a nova cesta de consumo também estava disponível no conjunto de possibilidades de consumo antes da mudança de preço. • Mas, o consumidor preferiu outra cesta. Por preferência revelada, a nova cesta escolhida piora o bem-estar do indivíduo. • E se ele passasse a ser comprador? Nada podemos afirmar, uma vez que a cesta final não era uma escolha factível antes da mudança de preços. Variação de Preços • Quando um indivíduo é comprador líquido, se o preço aumentar e ele continuar como comprador líquido, sua situação com certeza estará pior. • Se a partir deste aumento de preços ele deixa de ser comprador (passa a ser um vendedor líquido), nada podemos afirmar sobre a variação de bem-estar. • As duas conclusões acima saem do argumento de preferência revelada, sem nem precisar definir a utilidade do consumidor. Como ficaria em um gráfico? Variação de Preços • Agora, suponha que um indivíduo é um comprador líquido do bem 1 e que seu preço diminua. Podemos afirmar que ele continuará sendo um consumidor líquido deste bem. • No gráfico, para ele passar a ser vendedor líquido, ele teria que consumir sobre a linha verde. Mas, por preferência revelada, isto não vai ocorrer, uma vez que estas cestas estavam diponíveis inicialmente.Variação de preços x2 x1 w1 w2 Curva de preço-consumo: mostra todas as possíveis demandas brutas do indivíduo caso ele troque sua dotação inicial (𝑤1, 𝑤2) aos preços vigentes no mercado. Equação de Slutsky Revisitada • Antes, a variação no preço gerava apenas dois efeitos: renda e substituição “usuais”. • Agora, ao variarmos o preço de um dos bens, a renda auferida a partir da dotação também irá variar. • Ex: uma queda no preço do bem 𝑖 aumenta o poder de compra do indivíduo, mas diminui o valor pelo qual ele consegue vender este bem no mercado. Equação de Slutsky Revisitada • Os três efeitos gerados serão: efeito substituição, efeito renda comum e, efeito renda-dotação. • A nova equação de Slutsky será dada por: 𝜕𝑥 𝜕𝑝𝑥 = 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑝𝑥 − 𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝐼 + 𝑤𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝐼 𝜕𝑥 𝜕𝑝𝑥 = 𝜕𝑥𝑐 𝜕𝑝𝑥 − 𝑥 − 𝑤𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝐼 Oferta de Trabalho • Como trabalhador, o indivíduo possui uma dotação de trabalho. Existe um preço - o salário - pelo qual ele pode vender seu trabalho e trocar essa renda adquirida por outros bens no mercado. • Então, a quantidade de consumo e trabalho que o indivíduo irá escolher vai depender das suas preferência e também da sua restrição orçamentária. Oferta de Trabalho • Suponha que o indivíduo possui uma renda 𝑀 independentemente de trabalhar ou não. Esta é a renda não resultante do trabalho. • Suponha, de maneira genérica, que o preço do consumo 𝐶 seja dado por 𝑝. Além disto, ao trabalhar 𝐿 horas, o indivíduo ganha 𝑤 por hora. • Sua restrição orçamentária é então dada por: 𝑝𝐶 = 𝑀 + 𝑤𝐿 Oferta de Trabalho • Agora, suponha que a quantidade máxima de oferta de trabalho – a dotação de trabalho – seja dada por 𝐿 . • Se adicionarmos 𝑤𝐿 aos dois lados da nova R.O. e rearranjarmos, podemos escrever: 𝑝𝐶 + 𝑤 𝐿 − 𝐿 = 𝑀 + 𝑤𝐿 • Podemos ver que (𝐿 − 𝐿) como a quantidade de lazer escolhida pelo indivíduo. Seja 𝑅 = 𝐿 − 𝐿, temos: 𝑝𝐶 + 𝑤𝑅 = 𝑀 + 𝑤𝐿 Restrição Orçamentária • Além disso, podemos escrever a dotação de consumo do indivíduo como 𝐶 = 𝑀 𝑝 . Ao final, temos: 𝑝𝐶 + 𝑤𝑅 = 𝑝𝐶 + 𝑤𝐿 ...esta R.O. nos diz que a soma do consumo com o lazer tem de ser igual ao valor de suas dotações de consumo e de tempo. Podemos assim ver o salário como o preço do lazer, ou custo de oportunidade do lazer. Problema de Maximização • É idêntico ao problema do consumidor usual, porém agora a escolha é entre consumo e lazer. • No ponto de maximização, a taxa marginal na qual ele está disposto a trocar estes dois bens (consumo e lazer) deve ser igual à taxa na qual o mercado está disposto a trocar consumo e lazer • Portanto, a TMS entre consumo e lazer deve ser igual a 𝑤 𝑝 (salário real). Estática Comparativa da Oferta de Trabalho • Se o lazer for um bem normal, quando a renda monetária sobe, as pessoas, em geral, escolhem consumir mais lazer (trabalhar menos). Mas, o efeito depende das preferências do indivíduo. • Agora, o que acontece quando ocorrem variações no salários? Suponha um aumento da taxa de salário. • Há dois efeitos: aumenta-se os ganhos resultantes de se trabalhar mais e aumenta o custo do consumo de lazer. Estática Comparativa da Oferta de Trabalho • Um aumento de salário induz a um aumento no custo do lazer. Logo, o efeito substituição entre lazer e consumo garante que os indivíduos demandarão menos lazer (trabalham mais). • Todavia, a renda monetária também varia, o que provoca um efeito-renda adicional: efeito renda- dotação. • Na equação de Slutsky: 𝜕𝑅 𝜕𝑤 = 𝜕𝑅𝐶 𝜕𝑤 − 𝑅 𝜕𝑅 𝜕𝐼 + 𝑹 𝝏𝑹 𝝏𝑰 Estática Comparativa da Oferta de Trabalho • Se o efeito renda-dotação for grande o suficiente, mesmo que o lazer seja um bem normal, pode ocorrer um aumento do lazer quando o preço do lazer (𝑤) aumenta. • Rearranjando: 𝜕𝑅 𝜕𝑤 = 𝜕𝑅𝐶 𝜕𝑤 + 𝑅 − 𝑅 𝜕𝑅 𝜕𝐼 ...isto terá maior probabilidade de ocorrer quanto maior for "𝑅 − 𝑅". Quando 𝑅 = 𝑅, o indivíduo só consome lazer e o efeito renda é zero: neste caso, o efeito substituição com certeza levará a um aumento da oferta de trabalho. Estática Comparativa da Oferta de Trabalho Varian: “curva de oferta de trabalho curvada para trás” Anpec 2002 – Questão 03 Anpec 2010 – Questão 03 Respostas • Q3 2002: F V V F F • Q3 2010: V V V F V ANEXO Substitubilidade em uma economia com “n” bens Substitubilidade com 𝑛 bens • Sabendo que a demanda hicksiana (𝑥𝑖 𝑐 𝑝1, … 𝑝𝑛, 𝑉 ) é homogênea de grau zero (h.g.0) em todos os preços e, lembrando do Teorema de Euler, vem: 𝑝1 𝜕𝑥𝑖 𝑐 . 𝜕𝑝1 + 𝑝2 𝜕𝑥𝑖 𝑐 . 𝜕𝑝2 + ⋯ + 𝑝𝑛 𝜕𝑥𝑖 𝑐 . 𝜕𝑝𝑛 = 0 • Dividindo a equação acima por 𝑥𝑖, temos: 𝑒𝑖1 𝑐 + 𝑒𝑖2 𝑐 + ⋯ + 𝑒𝑖𝑛 𝑐 = 0 Substitubilidade com 𝑛 bens • Mas já sabemos, pelo efeito substituição do próprio preço que 𝑒𝑖𝑖 𝑐 ≤ 0 (lembre da eq. de Slutsky “usual”). Portanto, para a equação do slide anterior ser igual ou superior a zero, teremos necessariamente que: 𝑒𝑖𝑗 𝑐 ≥ 0 𝑖≠𝑗 ...a soma de todas elasticidade-preço cruzadas de um bem tem de ser não-negativa. Intuitivamente, isso mostrar que a “maioria” dos bens têm de ser substitutos líquidos entre si (um fato empiricamente verificado).
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