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Prática como Componente Curricular - GRUPO 1

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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo – 
Campus Avaré 
 
 
 
 
Andressa Victória de Assis Britto, Damares Adriele da Costa Rodrigues, 
Elissa Maria Bonifácio Mazetti dos Reis, Estevam Borges Quinelato, 
Felipe Inácio de Melo, Felipe Reis Rodrigues, Fernanda Lopes de Sá, 
Jaqueline Scarmagnani de Oliveira 
 
 
 
 
 
Prática como Componente Curricular - Grupo 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Avaré 
2021 
O seguinte relatório tem como objetivo sintetizar a discussão do grupo 1 no fórum da 
plataforma Moodle, do Instituto Federal de Avaré. Tal discussão teve como base a 
temática do letramento para surdos, por meio de uma reportagem e artigo sugeridos pela 
professora Vilma. Dessa forma, refletimos e debatemos sobre os desafios e as 
possibilidades que permeiam a vida do indivíduo surdo. 
Na reportagem, conhecemos a estudante Natália Carla, que assim como outros surdos, 
tem o sonho de ingressar em uma faculdade, porém, para eles, concretizar esse sonho é 
um caminho muito complicado e cheio de obstáculos. Natália nos conta como superou as 
barreiras impostas a ela, e que mesmo assim, a luta para extingui-las está apenas no 
começo. Já o artigo, nos apresenta um estudo que investiga a concepção e o uso de 
estratégias de letramento visual na educação de alunos surdos, que respeitem a 
experiência visual de cada um deles. 
Dessa forma, Damares, integrante do grupo 1 comenta, como exposto no artigo, que 
os surdos aprendem de maneira visual, compreendem e produzem informações em 
línguas de sinais, porém, tanto na escola para ouvintes com alunos surdos incluídos como 
nas próprias classes de surdos, não há essa concepção levada a sério, onde mesmo os 
professores, sejam eles surdos ou ouvintes não respeitam a experiência visual de seus 
alunos surdos. Assim, para Damares, diante do artigo, das experiências vividas, e do que 
vemos ao redor é notável a problemática do letramento para surdos e os desafios para esse 
aprendizado. 
Então, Andressa complementa dizendo que, para discutir o letramento de surdos é 
necessário pensar em práticas culturais e sociais de leitura e compreensão de imagens, 
mas, que há uma carência de práticas reais que permitam a eles perceberem-se realmente 
como sujeitos visuais. Sendo assim, a leitura de imagens e as estratégias visuais de leitura 
e interpretação de textos devem ser incentivadas nas escolas e utilizadas não apenas como 
ferramentas de apoio ocupando espaço central na organização do ensino para as crianças 
surdas. Logo, as práticas pedagógicas precisam ser modificadas e readequadas a elas. 
Além disso, cita que Natália Carla, a estudante surda apresentada pela reportagem, é 
uma surda letrada, pois o letramento pode ser estado ou condição de quem não só sabe 
ler e escrever, mas exerce as práticas sociais da leitura e escrita, que circulam na sociedade 
em que vivem, unindo-as com as práticas sociais de interação oral, e também com a Libras 
que, para os surdos simboliza a língua falada. Assim, alfabetizar e letrar os alunos surdos 
é similar ao processo aplicado as pessoas ouvintes, pois ambas são alfabetizadas com a 
teoria e letradas com as experiências vividas do indivíduo. A diferença é que o surdo 
utiliza os sinais para se comunicar, precisando trabalhar muito com a memorização. 
Considerando o que a Andressa expôs sobre os surdos letrados, Damares também 
concorda que Natália seja uma surda letrada, pois pratica a interação social, conseguindo 
se comunicar mesmo sem a fala oral. E no que tange a acessibilidade para os surdos, 
acredita que estamos caminhando a cada dia para a concretização da mesma. Mas, para 
isso é preciso desconstruir o ‘estigma’ da palavra ‘deficiente’, quebrando o preconceito 
pela falta de conhecimento. Assim como é dito na reportagem por Natália, "Um começo 
seriam as crianças, ainda na escola, aprenderem o básico de LIBRAS”, pois, sendo a 
escola um ambiente que além da transmissão de conteúdos, estimula o desenvolvimento 
social, seria muito válido a contribuição do ensino de libras desde o início da formação 
dos alunos, onde todos teriam, um conhecimento básico desta língua, permitindo maior 
inclusão para os surdos. 
Tendo como base a declaração de Damares, Andressa seguiu dizendo que o caminho 
para a acessibilidade do surdo não é fácil. Considera que, de acordo com o relato de 
Natália, a oferta da prova do Enem em LIBRAS não resolveria a falta de acessibilidade 
aos surdos, pois nela são traduzidas apenas as palavras ao aluno, desconsiderando todo 
contexto em que elas estão inseridas. Como a professora Vilma explicou na aula síncrona 
sobre verbos e classificadores, se tirar os classificadores e o foco existir somente no verbo 
não haverá clareza, pois, a parte visual é importante para perceber e entender as 
diferenças. Normalmente existem várias maneiras de sinalizar uma determinada palavra, 
e a melhor maneira vai depender do contexto. Segundo ela, a videoprova garantiria o 
sucesso dos alunos surdos no Enem se o intérprete soubesse contextualizar as palavras. 
Onde o mesmo, teria que ser capacitado para isso, visando a melhor forma de passar ao 
aluno a questão, evitando deixá-lo confuso em suas traduções. 
Destarte, Felipe Reis faz um paralelo entre os dois textos, dizendo que no artigo a 
autora aborda a problemática da adaptação das práticas pedagógicas feitas por ouvintes à 
comunidade surda. Para ele, a surdez não é uma deficiência e sim uma característica tal 
como a cor da pele, o tipo de cabelo etc. O ideal não seria o "mundo" se adaptar ao surdo, 
e sim, que estratégicas fossem desenvolvidas especificamente para eles. Exemplifica que, 
para Natália, a presença dos intérpretes na realização da prova do ENEM não foi eficiente, 
porque eles não interpretaram a prova, apenas traduziram do português para os sinais. 
Compara isso com a tradução de um texto em português para o inglês, dizendo que se 
levarmos ao pé da letra, o texto traduzido provavelmente não fará nenhum sentido. Assim 
é com a LIBRAS, já que ela não é a representação do português em sinais, mas sim, uma 
outra língua, precisando ser traduzida e principalmente interpretada. E para ele, esse foi 
o motivo para que a presença de intérpretes na prova do ENEM não tenha sido suficiente, 
muito menos o uso do dicionário viria a ser, como foi sugerido na reportagem. 
 Então, Fernanda diz que o ensino para surdos deve acontecer por meio de estratégias 
de leitura e escrita adequadas, munidas de metodologias visuais, acessíveis aos alunos 
surdos. Assim, tal como disse CRUZ, O. M. S. S. e PRADO, R. M: “pensar em letramento 
de surdos significa considerar que as informações não podem ser apresentadas de maneira 
oral, as palavras não devem ser desmembradas de acordo com a lógica fonética e os textos 
não são vistos como representações da fala. Para o indivíduo surdo, cada palavra é uma 
imagem e essa imagem pode ser decomposta e compreendida, mas não pode ser 
fragmentada com base na lógica da oralidade”. Conforme o exposto, Fernanda diz que 
para que uma pessoa surda seja de fato considerada letrada, é necessário que ela tenha 
acesso às informações, à compreensão, ao entendimento e à interpretação dos 
acontecimentos implicados com a leitura e a escrita. Para ela, no entanto, uma relação 
consciente com a leitura e a escrita só poderá acontecer por meio de uma língua acessível, 
em conjunto com práticas pedagógicas que envolvam estratégias visuais. 
Também diz, Felipe Inacio, que o surdo é totalmente visual, assim, as regras do 
português escrito e falado tornam a vida do mesmo muito difícil. Cita a própria aluna 
Natália da reportagem que tinha dificuldades para estudar nas universidades, por não 
conseguir boa pontuação no ENEM. Para ele, antigamente era muito complicado tornar 
as aulas mais interativas, contudo, hoje em dia, com o aumento e a evolução das 
tecnologias, tem sido muito mais fácil a comunicaçãoaté mesmo para os surdos, 
proporcionando que eles tenham uma educação e aprendizagem mais eficiente. Ele 
comenta que atualmente temos mais contato e conhecimento da LIBRAS, então, se ela 
for ensinada nas escolas como uma segunda língua favorecerá ainda mais a interação dos 
alunos surdos com os ouvintes. 
Outrossim, Elissa aponta que o Inep mantém um programa chamado Enem em Libras, 
que garante a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na Língua 
Brasileira dos Sinais desde 2017, por meio de uma vídeoprova, uma iniciativa da Política 
de Acessibilidade e Inclusão do Inep direcionada à comunidade surda e deficiente 
auditiva que tem a Língua Brasileira de Sinais como primeira língua. Todavia, diz que a 
aplicação dessa prova em Libras não resolve a problemática dos surdos, porque grande 
parte deles não são alfabetizados em libras, mas sim em português. A língua de sinais, 
por ser viva e mutável possui características próprias, tanto na sintaxe quanto na prosódia. 
Assim, para ela, a aplicação do Enem em Libras, por mais acessível que seja, ainda é 
extremamente exclusiva, pela simples falta da alfabetização nessa língua nas escolas 
regulares. Elissa questiona então, como o surdo poderia fazer uma avaliação do ensino 
médio, sendo que, na maioria das vezes, ele só é "passado" de ano em ano? Tal como os 
outros integrantes do grupo, ela acredita que a Natália é sim uma surda letrada, e cita que 
pela lei os surdos devem ter acesso à educação da mesma forma que os ouvintes e, ele só 
devem aprender o português caso queiram, pois a sua língua materna é Libras. 
Para finalizar, o integrante Estevam diz que, um dos maiores obstáculos aos surdos é 
a falta de interesse dos governos na questão de prover a eles a devida acessibilidade, como 
por exemplo, a falta de escolas bilíngues ou ao menos, um maior número de escolas com 
salas e recursos multifuncionais, onde atue dois ou mais profissionais qualificados, ou 
seja, um professor ouvinte com habilitação em LIBRAS e um professor surdo, ambos 
trabalhando em conjunto com o objetivo de ajudar não apenas aos alunos mais novos que 
estão se desenvolvendo em seu idioma materno, mas também o ensino do "português 
como segunda língua" para que possamos ver mais exemplos de superação e 
desenvolvimento como o da Natália, seja ele pessoal, profissional ou emocional. 
Considerações finais 
De acordo com um dado do IBGE, de fevereiro de 2020, que trata das estatísticas sobre 
os surdos no Brasil, uma pesquisa aponta que mais de 10 milhões de pessoas tem algum 
problema relacionado a surdez, ou seja, 5% da população é surda no Brasil. Destes, 2,7 
milhões não ouvem nada. Então, diante desse cenário é preciso que a sociedade esteja 
preparada para atender os deficientes auditivos em todas as circunstâncias. E como foi 
exposto na entrevista com a Natália Carla, podemos perceber que o Brasil ainda não está 
preparado para isso. 
Além do mais, tanto pelo artigo, quanto pela matéria, fica evidente a noção de que os 
surdos usam a língua de sinais abrangendo o corpo todo, no ato da comunicação. Sendo 
que a comunicação deles está completamente ligada à visão e aos gestos, produzindo 
diversas formas de percepção, interpretação e narração do mundo a partir de uma cultura 
visual. Como, as línguas orais necessitam de um reconhecimento acústico fonatório, e os 
surdos têm um certo impedimento sensorial para tal, então, a língua portuguesa deverá 
ser aprendida por eles, de maneira visual por meio da língua de sinais, que proporciona 
as abstrações, as significações e as construções mentais. É importante que, por meio da 
Libras, eles estabeleçam significações que lhes proporcionem de fato uma ligação 
significativa com o português oral. Para eles, aprender a língua de sinais é condição 
primordial para aprender o português, porém é necessário que tenham acesso não somente 
aos aspectos estruturais e gramaticais do português, mas que estabeleçam, por meio da 
Libras, uma relação de significação com a Língua Portuguesa. E esse ensino deve 
acontecer por meio de estratégias de leitura e escrita adequadas, munidas de metodologias 
visuais, acessíveis aos alunos surdos. 
Referências 
BARBOZA, Andressa; ROSSI, Mariane. Jovem surda que 'não entendeu nada' do Enem 
fala sobre redação: 'Conquista'. G1, Santos, 07 de novembro de 2017. Disponível em: 
<https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/jovem-surda-que-nao-entendeu-nada-do-
enem-fala-sobre-redacao-conquista.ghtml>. Acesso em 17 abr. 2021. 
BOTELHO, Paula. Linguagem e letramento na educação dos Surdos; ideologias e 
práticas pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. 
CRUZ, O. M. S. S. e PRADO, R. M. Educação bilíngue e letramento visual: reflexões 
sobre o ensino para surdos. Revista Espaço. [S.I.] 2019. Disponível em: 
<https://www.ines.gov.br/seer/index.php/revista-espaco/article/view/621>. Acesso em 
14 de maio de 2021. 
EQUIPE SIGNUMWEB. Conheça as estatísticas sobre os surdos no Brasil. Belo 
Horizonte, Minas Gerais. 2 de nov. de 2020. Disponível em: 
<https://blog.signumweb.com.br/curiosidades/surdos-no-brasil/>. Acesso em 14 maio de 
2021. 
LEBEDEFF, Tatiana Bolívar. Aprendendo a ler “com outros olhos”: relatos de oficinas 
de letramento visual com professores surdos. Maio/agosto 2010. Disponível em: 
<https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1606/1489#>. Acesso 
em 13 abr. 2021.

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