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SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO: ATUAÇÃO PROFISSIONAL E O FORTALECIMENTO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA

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SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO: ATUAÇÃO PROFISSIONAL E O 
FORTALECIMENTO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA 
 
Lara Moreira Giló1 
Tatiane Souza da Silva2 
Talita de Freitas Lima3 
Maria Keile Pinheiro4 
 
RESUMO 
 
O presente estudo se realiza a partir de análise documental e do levantamento bibliográfico acerca da 
Política de Educação brasileira e sua relação com o Serviço Social, tendo em vista a emergência do 
debate sobre o Projeto de Lei Nº 3688/2000 de autoria do ex-deputado José Carlos Elias (PTB-ES), 
que objetiva a inserção dos/as profissionais de Serviço Social e Psicologia na educação básica, 
ofertado através da educação pública. Nesse sentido, esse trabalho busca refletir sobre os aspectos que 
permeiam a atuação do Assistente Social inserido neste espaço sócio ocupacional, considerando 
principalmente os rebatimentos do atual contexto de crise política, ética e econômica na política de 
educação do país. Assim, buscamos compreender de que forma a inserção das/os Assistentes Sociais 
nessa política, pode contribuir com a garantia e efetivação do direito a educação, conforme prevê a 
Constituição Federal de 1988. 
 
Palavras-chave: Educação, Serviço Social, Projeto de Lei. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
O debate acerca da educação no Brasil atualmente está sendo constantemente 
realizado, tendo em vista o contexto social e histórico em que vivemos do avanço 
significativo do conservadorismo e do neoliberalismo que vem resultando no desmonte dos 
direitos sociais conquistados pela classe trabalhadora através da Constituinte de 1988, assim, 
a pauta diária são os direcionamentos que permeiam a educação brasileira e as possíveis 
formas de resistência. Nesse sentido, buscando contribuir com a educação pública, gratuita e 
 
 
1 Autora; Graduanda do Curso de Bacharelado em Serviço Social do Instituto Federal de Educação Ciências e 
Tecnologia do Ceará – IFCE – campus Iguatu/CE; Membro do GEPCA – Grupo de Estudo e Pesquisa em 
Criança e Adolescente. gilolara10@gmail.com; 
2 Co-autora; Graduanda do Curso de Bacharelado em Serviço Social do Instituto Federal de Educação Ciências e 
Tecnologia do Ceará – IFCE – campus Iguatu/CE; Membro do GEPCA – Grupo de Estudo e Pesquisa em 
Criança e Adolescente. tatianesouza123456@gmail.com; 
3 Co-autora; Graduanda do Curso de Bacharelado em Serviço Social do Instituto Federal de Educação Ciências e 
Tecnologia do Ceará – IFCE – campus Iguatu/CE; Membro do GEPCA – Grupo de Estudo e Pesquisa em 
Criança e Adolescente. Membro do GEPEL - Grupo de Pesquisa e Estudos em Educação, Linguística e Letras. 
talitaafreitas87@gmail.com; 
4 Professora orientadora; Bacharela em Serviço Social pelo Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia 
do Ceará – IFCE – campus Iguatu/CE; Especialista em Saúde da Família e Comunidade, na modalidade 
Residência Multiprofissional em Saúde pela Escola de Sáude Pública do Ceará. keile_mp@hotmail.com. 
 
 
mailto:keile_mp@hotmail.com
 
de qualidade o debate sobre a inserção das/os Assistentes Sociais ganha visibilidade, e no 
cenário atual avança, o que se mostra enquanto uma pequena conquista e uma possibilidade 
de colaborar com a perspectiva educacional crítica, que vise a proporcionar a autonomia dos 
sujeitos. 
Posto isso, este artigo traz um resgate histórico sobre o processo de educação formal 
no Brasil, que se inicia juntamente com a colonização do país, onde a Igreja Católica era a 
responsável pela catequização e letramento dos povos que aqui viviam. Observou-se que 
desde o início de sua povoação o Brasil foi explorado e a educação de seu povo foi construída 
com o intuito de beneficiar aos poderosos. Ressaltamos que a democratização de um ensino 
público, gratuito e de qualidade é fruto também da luta da classe trabalhadora, e é nesse ponto 
onde a inserção do Assistente Social se faz de grande valia. 
Refletimos, portanto, sobre: Como se deu a implantação da educação brasileira? De 
que forma e quais leis garantem esse direito? De que forma a participação do Assistente 
Social responderá as expectativas criadas para a sua atuação dentro do ambiente escolar? 
Assim, para que possamos nos aproximar de respostas para as reflexões aqui 
apresentadas, fizemos análise de documentos relacionados à política de educação no Brasil e a 
inserção do Assistente Social na educação básica como a Lei de Diretrizes e Bases da 
Educação Brasileira Nº 9.394/1996 e do Projeto de Lei Nº 3688/2000, e ainda realizamos 
revisão de literatura que abordam essa temática como os escritores: Paulo Freire, Dermeval 
Saviani, José Paulo Netto, entre outros. 
 
METODOLOGIA 
 
Com a intensão de compreender como se constitui a política de educação no Brasil, e o 
papel da/o Assistente Social inserida/o neste espaço sócio ocupacional, a presente pesquisa 
ancorou-se na perspectiva do materialismo histórico dialético, tendo em vista que, no nosso 
entendimento esse método possibilita a apreensão real do objeto. Desse modo, 
 
A teoria é para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito 
que pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a 
dinâmica do objeto que pesquisa [...] Numa palavra: o método de pesquisa que 
propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa alcançar a essência do 
objeto. (NETTO, 2011, p. 21-22) 
 
É nesse sentido, que este estudo se configura enquanto uma pesquisa de natureza 
qualitativa, entendendo que, segundo Silveira e Córdova (2009, p. 32) “a pesquisa qualitativa 
 
preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, 
centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais”. Portanto, sob 
essa perspectiva, foram utilizados, o método documental, tendo em vista a necessidade de 
realizar análise de documentos relacionados a política de educação no Brasil e o método 
bibliográfico, que consiste na revisão da literatura sobre o tema abordado e possibilita o 
diálogo entre os teóricos. 
 
EDUCAÇÃO E SEUS FUNDAMENTOS ONTOLÓGICOS 
 
Sabemos que o homem e a mulher se diferenciam dos animais pela sua capacidade de 
trabalho, tendo em vista que, diferente dos animais, não se adaptam a natureza, ele/a a 
transformam adaptando a natureza a si através do processo de trabalho, no entanto, o homem 
e a mulher não nascem sabendo realizar trabalho, aprendem na medida em que transformam a 
natureza e se transformam concomitantemente, isto é; 
 
Ele não nasce sabendo produzir-se como homem. Ele necessita aprender a ser 
homem, precisa aprender a produzir sua própria existência. Portanto, a produção do 
homem é, ao mesmo tempo, a formação do homem, isto é, um processo educativo. 
A origem da educação coincide, então, com a origem do homem mesmo. Diríamos, 
pois, que no ponto de partida a relação entre trabalho e educação é uma relação de 
identidade. Os homens aprendiam a produzir sua existência no próprio ato de 
produzi-la. Eles aprendiam a trabalhar trabalhando. Lidando com a natureza, 
relacionando-se uns com os outros, os homens educavam-se e educavam as novas 
gerações (SAVIANI, 2007, p. 154). 
 
Portanto, é com base nessa relação ontológica entre trabalho e educação que se 
organizava o processo de produção dos meios de subsistência das comunidades primitivas, 
onde os instrumentos de trabalho eram coletivos e os homens e as mulheres passavam o 
conhecimento adquirido para geração posterior, sendo assim, a educação, se constitui 
enquanto um fenômeno humano, isto é, assim como o trabalho, a educação compõe a essência 
humana. 
No entanto, com o decorrer do movimento histórico, e a partir do surgimento da 
propriedade privada e consequentemente da sociedade de classes, a educação passa a se 
distanciar dos processos de trabalho, emergindo assim a educação sobre duas perspectivas, 
uma direcionada a classe dominante, na qual desenvolvia atividades intelectuais, artísticas e 
culturais e a outra voltada para a classe subalterna,com ênfase no desenvolvimento material 
dos processos de trabalho, dessa forma, se inicia o processo de institucionalização da 
educação. Contudo, 
 
 
Essa separação entre escola e produção reflete, por sua vez, a divisão que se foi 
processando ao longo da história entre trabalho manual e trabalho intelectual. Por 
esse ângulo, vê-se que a separação entre escola e produção não coincide exatamente 
com a separação entre trabalho e educação. Seria, portanto, mais preciso considerar 
que, após o surgimento da escola, a relação entre trabalho e educação também 
assume uma dupla identidade (SAVIANI, 2007, p. 157). 
 
Desse modo, mantém-se assim as duas perspectivas da educação, a primeira voltada 
para o trabalho manual, que se realiza durante a sua execução e a segunda é aquela 
proporcionada nas escolas que visam o desenvolvimento do trabalho intelectual. Esse 
processo se aprofunda a partir da emersão do modo de produção capitalista, no qual estamos 
inseridas/os, tendo em vista que é com base na produção de conhecimentos e tecnologias que 
esse sistema se amplia e se reproduz, portanto, a educação formal passa a ter centralidade nos 
processos educacionais, como forma de garantir uma qualificação geral para os indivíduos 
atuarem no mercado de trabalho. 
A noção de educação defendida nesse trabalho a compreende como um processo 
dialético, um diálogo não necessariamente por meio de fala, mas que se desenvolve também 
por meio de gestos e ações, na sua relação dialética com a realidade. A educação segundo 
Freire (1979), “é um processo de constante libertação do homem, educação esta que, não 
aceita nem homem isolado do mundo, nem tampouco o mundo isolado do homem, pois a 
história não existe sem os dois” (p. 75-76). 
Ademais, com fins de aprofundar essa discussão sobre a educação e as distinções 
educacionais desenvolvidas nas escolas, buscaremos compreender suas configurações no 
Brasil e a correlação de forças que a permeia a partir da existência de dois projetos 
educacionais, um que atende as necessidades desse modo de produção e o outro que através 
da educação pauta e busca construir uma emancipação política, tendo como horizonte 
estratégico a emancipação humana. 
 
CONFIGURAÇÕES DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: Educação enquanto um direto 
social 
 
 No Brasil, o processo de educação formal se inicia juntamente com a colonização do 
país, onde a Igreja Católica era a responsável pela catequização e letramento dos povos 
tradicionais, esses chamados de índios, sendo que esta era a finalidade da educação, na época. 
No entanto, é importante sublinhar que antes da invasão de Portugal existia um processo 
 
educacional não formal nessas comunidades, isto é, a educação era construída através das 
experiências vivenciadas no cotidiano, sendo estas permeadas de valores morais, éticos, 
culturais, entre outros. 
Paulo Freire (1981) traz que o Brasil é um país onde a sua colonização se deu a partir 
de interesses nas riquezas e nos povos da terra e não em busca de construção de uma 
civilização. 
 
O sentido marcante da nossa colonização, fortemente predatória, à base da 
exploração econômica do grande domínio, em que o “poder do senhor” se alongava 
“das terras às gentes também” e do trabalho escravo inicialmente do nativo e 
posteriormente do africano, não teria criado condições necessárias ao 
desenvolvimento de uma mentalidade permeável, flexível, característica do clima 
cultural democrático, no homem brasileiro. [...] Os nossos colonizadores não 
tiveram [...] intenção de criar na terra descoberta, uma civilização. Interessava-lhes a 
exploração comercial da terra (FREIRE, 1981, p. 66-67). 
 
Assim, desde os primórdios de sua povoação o Brasil foi explorado e a educação de 
seu povo foi construída com o intuito de beneficiar aos poderosos. Segundo Saviani (2019, p. 
75), ao nos ocuparmos de entender a educação implantada durante a colonização, 
observaremos que esse processo na verdade “trata-se [...] de aculturação, já que as tradições e 
os costumes que se busca inculcar decorrem de um dinamismo interno, isto é, que vai do meio 
cultural do colonizador para a situação objeto de colonização”. 
Durante o movimento histórico brasileiro a educação perpassa por diversas mudanças 
e aos poucos vai sendo reconhecida e proporcionada pelo Estado, porém, mesmo com 
pequenos avanços o número de analfabetismo era exorbitante, tendo em vista que, o acesso à 
rede de ensino era garantido apenas à elite brasileira. 
Desse modo, apesar de termos remetido a processos educacionais presentes nas 
comunidades tradicionais e também aqueles desenvolvidos de maneira arbitrária quando do 
processo de invasão do país, destacamos que sua constituição formal é extremamente recente, 
visto que, observamos tímidos avanços ocorridos durante o governo de Vargas, como a 
criação do Ministério dos Negócios da Educação e da Saúde Pública (1930), mas é somente a 
partir da Constituição Federal de 1988 que a Educação se constitui enquanto um direito social 
conforme expressa o Artigo 6º5. 
No Brasil, o sistema educacional, seja ele público ou privado, é regulamentado pela 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira sob o número 9.394 de 1996. De acordo com 
 
5 Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção 
à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. Brasil (1988). 
 
o Art. 21 desta Lei, a educação escolar no Brasil “compõe-se de: I - educação básica, formada 
pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II - educação superior.” (BRASIL, 
1996). A LDB também institui e determina quais os deveres do Estado no que tange a 
educação escolar pública e a administração desta através da colaboração entre a União, os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, como traz o Título VII6 que trata dos recursos 
financeiros. 
É importante compreender que, os avanços que marcaram a educação brasileira não 
ocorreram somente a partir do poder público, nem tampouco devem ser analisados como 
frutos da benesse da classe dominante. Na nossa compreensão devem ser problematizados 
como produto histórico da correlação de forças entre as classes sociais e das diversas formas 
de enfrentamento e reivindicação construídas pela classe trabalhadora, visto que, a educação 
era uma demanda da sociedade civil organizada. 
Nesse sentido, a democratização de um ensino público, gratuito e de qualidade é fruto 
também da luta da classe trabalhadora e por isso a educação brasileira se constitui hoje, 
conforme estabelece a Constituição Federal do Brasil de 1988, enquanto “direito de todos e 
dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, 
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 
qualificação para o trabalho”7. 
Diante disso, em 2003 se inicia uma reconfiguração da educação pública no Brasil, 
tendo em vista a ampliação desta principalmente nas gestões administradas pelo Partido dos 
Trabalhadores com a liderança política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durou 
de 2003 a 2011, logo após assumida pela ex-presidente Dilma Rousseff, que durou de 2012 
até o golpe sofrido no ano de 2016. 
Assim, importa destacar que ainda em 2001 é implantado o Plano Nacional de 
Educação – PNE com duração até 2010. Este prevê estratégias que proporcionem o avanço da 
educação pública em todas as suas etapas. Dessa forma, conforme o MEC (2014, p. 21) “A 
expansão de matrículas na Educação Infantil foi significativa no período 2000 a 2013, tendo 
se ampliado de 5.338.196 para 7.590.600, ou seja, em 14 anos houve um aumento de 42,2%”. 
Além dessa expansão destacamos também o crescimento na frequência escolar da população 
preta/parda “de 78,9% (2004) para 82,5% (2012); a população indígena apresenta um 
crescimento de22,4% no período de 8 anos indo de 74,1% (2004) para 90,7% (2012)” (MEC, 
2014, p. 32). 
 
6 Título VII da LDB, se refere aos recursos financeiros. Não é necessária, fala apenas o que consta np texto. 
7 Constituição Federal Brasileira, de 05 de outubro de 1988 – Art. 205º 
 
 Em harmonia com o esses avanços na educação básica, ocorre a interiorização das 
universidades e institutos federais, a partir da necessidade de se investir no desenvolvimento 
econômico e social de algumas regiões do país, como parte significativa do Programa de 
Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI, 
instituído em 2007 durante a gestão de Fernando Haddad. Nesse sentido, 
 
Entre 2003 e 2013, duas das regiões mais carentes de ensino superior – Norte e 
Nordeste – apresentaram expansão significativa da oferta. O percentual de 
crescimento das matrículas na região Nordeste, de 94%, correspondeu ao dobro do 
registrado para o Sudeste e mais do triplo daquele registrado na região Sul. A região 
Norte teve a segunda maior taxa de crescimento (76%) entre as regiões do país 
(MEC, 2014, p. 20) 
 
No entanto, em 2014 chega ao Brasil reflexos intensos da crise econômica 
internacional que se inicia em 2008, onde juntamente com a ofensiva neoliberal e a 
organização da extrema direita no país, as políticas públicas passam a ser alvos dos cortes nos 
investimentos. Esse processo se evidencia de forma mais significativa em 2016, com o golpe 
que impeachmou a presidenta eleita democraticamente em 2014 com 54,5 milhões de votos. 
Desse modo, no governo Temer é aprovado a Ementa Constitucional 95/2016, que 
limita os gastos públicos nas áreas sociais durante 20 anos, redirecionando os valores para 
pagamento da amortização dos juros da dívida pública, isso significa o congelamento dos 
investimentos também na educação. 
Atualmente, no (des)governo de Jair Bolsonaro, vemos a continuidade do retrocesso 
dos direitos sociais e o desmonte da educação. Conforme Oliveira (2019) “a educação é a área 
mais afetada pelos cortes de orçamento”, onde damos destaque ao programa Future-se, 
lançado em julho de 2019. Segundo o MEC (2019), esse programa tem a finalidade de 
promover a autonomia financeira das universidades e institutos federais a partir do 
empreendedorismo e captação de recursos privados. 
No entanto, o supracitado programa fere os princípios que regem o ensino superior 
brasileiro, comprometendo a autonomia das universidades a partir de uma tentativa de 
condicionar sua estrutura a lógica do mercado. Desse modo, o referido programa é mais uma 
forma de flexibilizar e precarizar os processos educacionais, tendo em vista que esse 
programa é lançado concomitante a realização de diversos cortes na educação superior, que 
compromete o funcionamento das universidades públicas, a permanência das/os estudantes e a 
produção cientifica do país. 
 
Diante disso, é possível identificar os avanços na educação brasileira a partir de 
conquistas resultantes das lutas da classe trabalhadora, mas que no contexto de uma crise 
política e econômica e frente a um governo da extrema direita, estão sendo sucateadas a 
passos largos. Esse desmonte das políticas públicas acontece com base nas demandas do 
capital que necessita expandir as suas taxas de lucro, a privatização e mercantilização de 
serviços como educação, saúde e previdência, estes são ramos do mercado altamente 
rentáveis. Dessa maneira, se faz necessário fortalecer a organização da sociedade civil, com a 
finalidade de resistir a esses ataques e reivindicar a defesa dos direitos sociais e das políticas 
públicas, ou seja, reivindicar o respeito a Constituição Federal de 1988 e buscar avançar na 
efetivação dos direitos legítimos à “classe que vive do trabalho”. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
Atualmente a Política de Educação se mostra enquanto um novo espaço sócio 
ocupacional para a atuação do Assistente Social, tendo em vista que, existem poucos 
profissionais inseridos nessa política. No entanto, a relação entre o Serviço Social e educação 
não é algo recente, pelo contrário, desde a gênese da profissão que a prática do Assistente 
Social é desenvolvida com base em processos educacionais, sejam eles, formais ou não 
formais. 
 
Embora muitos tendam a afirmar que se trata de um debate ou de um campo novo, a 
vinculação do Serviço Social com a Política de Educação foi sendo forjada desde os 
primórdios da profissão como parte de um processo de requisições postas pelas 
classes dominantes quanto à formação técnica, intelectual e moral da classe 
trabalhadora, a partir de um padrão de escolarização necessário às condições de 
reprodução do capital em diferentes ciclos de expansão e de crise (CFESS-CRESS, 
2013, p. 15-16). 
 
Se na gênese da profissão essa aproximação com a política de educação servia para 
atender uma demanda da classe dominante no sentido de disciplinar a classe trabalhadora e 
moralizar as expressões da “questão social”, notamos que, a partir do movimento de 
reconceituação em sua vertente de intenção de ruptura com as bases tradicionais 
conservadoras, a profissão de Serviço Social busca uma aproximação das lutas da classe 
trabalhadora e procura se afirmar na “defesa intransigente dos direitos humanos”, conforme 
consta no Código de Ética Profissional (CEP) (1993). 
Dessa forma, o espaço educacional é uma área estratégica e de amplas possibilidades 
para atuação do Assistente Social, tendo em vista que, a educação em meio a sociedade do 
 
capital é uma área de disputa, pois tanto pode promover a naturalização das expressões da 
Questão Social e garantir a reprodução das relações sociais capitalistas, como também pode 
ser um espaço crítico, que busque desenvolver a autonomia dos sujeitos, fortalecer o vínculo 
entre a família e a escola, promover justiça social através da efetivação da política de 
Assistência Estudantil e contribuir com a emancipação política. 
 
Com isso, podemos evidenciar que a atuação do Serviço Social na Educação 
contribui para a resolução de problemáticas sociais, as quais possam desdobrar-se 
em atendimentos sociais aos alunos, suas famílias ou comunidade em geral, na 
realização de encaminhamentos, informações, orientações, elaboração e implantação 
de projetos de cunho educativo, dentre outros. Sendo assim, entende-se que para 
atingir a criança de forma integral, é necessário intervir junto a sua família (CRUZ et 
al., 2013, p. 6) 
 
Diante disso, atualmente encontra-se em tramitação o Projeto de Lei Nº 3688/2000 de 
autoria do ex-deputado José Carlos Elias (PTB-ES), que objetiva a inserção dos/as 
profissionais de Serviço Social e Psicologia na rede de educação pública de educação básica. 
A luta por esse espaço vem acontecendo há anos, a tramitação deste não significa sua 
aprovação, tendo em vista que vivemos um (des)governo neoliberal que busca a super 
lucratividade em contraste com o declínio de direitos vivenciados pela classe trabalhadora. 
O conjunto CFESS (Conselho Federal de Serviço Social) / CRESS (Conselho 
Regional de Serviço Social), juntamente com o CFP (Conselho Federal de Psicologia) e CRP 
(Conselho Regional de Psicologia), vem se mobilizando há anos para que haja a aprovação do 
referido projeto, acompanhando e tensionando as apreciações nas comissões da Câmara e do 
Senado Federal para garantir a aprovação do citado projeto, este que certamente contribuirá 
para o fortalecimento das equipes multiprofissionais e das demandas colocadas quanto às 
exigências que perpassam a ainda necessária ampliação do acesso aos distintos níveis de 
educação, assim como, a permanência desses sujeitos. De acordo com o CFESS, no dia 21 de 
agosto desse ano a deputada Jandira Feghali, somou esforços à demanda das categorias 
profissionais referidas e solicitou urgência para que haja a votação. 
Diante disso, destacamos a importância do/a assistente social no ambiente escolar, 
esseprofissional possui formação necessária para uma compreensão da realidade dos sujeitos 
que vivem nesse espaço, bem como, contribuir a partir das dimensões ético-político, teórico-
metodológica, técnico-operativa e investigativa que parametram a formação em Serviço 
Social para apreender e intervir qualitativamente no conjunto das expressões da “questão 
 
social”8, partindo da perspectiva que a escola permite acessar as violações de direitos sofridos 
por esse público. 
Nesse sentido, a atuação profissional do Serviço Social no ambiente escolar contribui 
na fomentação de uma sociedade pautada em valores éticos, visando a emancipação dos 
usuários, buscando garantir a efetivação dos seus direitos, como saúde, assistência social e 
todos as políticas que estes necessitarem, dito isto vale salientar como princípios éticos da 
profissão: 
 
Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a 
ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; 
Defesa intransigente dos direitos humanos […]; Ampliação e consolidação da 
cidadania […]; Posicionamento em favor da equidade de justiça social […]; 
Empenho na eliminação de todas as formas de preconceitos […] e Exercício do 
Serviço Social sem discriminar, nem discriminar por questões de inserção de classe 
social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física 
(CFESS, 1993, p. 23) 
 
Compreendemos que as dificuldades enfrentadas para a inserção efetiva desse 
profissional são inúmeras, mas é inegável a necessidade destes para um enfretamento político 
das expressões da “questão social” no ambiente escolar. Como aponta 
 
 [...] a luta do Assistente Social contra as debilidades da educação no país precisa se 
fazer notória nos espaços políticos, constituindo-se através de ações mobilizadoras 
que direcionem os sujeitos e profissionais envolvidos com a educação e 
representantes políticos a refletirem sobre estas questões, e se unirem nesta luta, 
entendendo que este projeto defende ‘a consolidação e ampliação da democracia e 
dos direitos de cidadania’ (CFESS, 1993 apud OLIVEIRA, 2016, online). 
 
Diante do discutido, é inegável a necessidade da aprovação do projeto de lei 
3688/2000 e a sua efetivação enquanto direitos da população, se fazendo essencial a 
compreensão dos avanços que este projeto trará, bem como a participação da comunidade 
escolar e sociedade civil, pois só através de luta que se faz política pública. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A partir do exposto, é possível perceber que mesmo após décadas de luta em busca de 
uma educação emancipatória e libertadora a escola ainda mantém seu papel conservador. No 
 
8 O conceito de “questão social” observado nesse trabalho considera como “o conjunto das expressões das 
desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais 
coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, 
monopolizada por uma parte da sociedade” (IAMAMOTO, 2011, p. 27). 
 
entanto conforme Freire (2005) apresenta na obra Pedagogia do Oprimido, apesar de a escola 
ainda ser conservadora e não só refletir, mas reproduzir as iniquidades e desigualdades 
sociais, ela também pode ser uma ferramenta de libertação, e ainda de conquistas e 
compreensão dos nossos direitos e deveres como cidadãos. 
Diante disso, é inegável a necessidade de se entender a relevância da inserção do 
profissional de Serviço Social no ambiente educacional, pois como traz Oliveira (2016, 
online) este atuará na “luta contra a violência, a exclusão social, [...] e as diferentes formas de 
violação dos direitos das crianças e dos adolescentes, além de focalizar a instituição familiar e 
toda a sua estrutura como parte importante para o aprendizado dos alunos”. 
Compreendemos, portanto, que a atuação da/o Assistente Social dentro da Política de 
Educação não é atual, mas com a atualização da discussão e luta pela aprovação da PL Nº 
3688/2000 o debate acerca dessa temática intensificou-se. 
Vale destacar que o enfrentamento desse novo desafio pela profissão não é algo 
individual da categoria, haja visto que a sua inserção no âmbito escolar é uma preocupação da 
sociedade como um todo. Assim, faz-se necessário compreender que esta luta vai para além 
da profissão, pois versa estabelecer relações de diálogo, de socialização e de acolhimento, na 
busca de concretização e execução de direitos, de forma que se possa progredir e ultrapassar 
as fragilidades enfrentadas. 
Destarte, a/o Assistente Social necessitará atuar através de ações educativas e não 
somente na busca de solucionar problemas, percebendo que a educação se organiza em uma 
política social que tem como compromisso a garantia dos direitos sociais. Logo, o profissional 
deverá buscar a ruptura com os ideais conservadores e opressores que voltam a se propagar 
pelas escolas e pelas ruas, que é fruto desse (des) governo conservador. 
 
REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 20, set, 2019 
 
BRASIL. Lei das Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Lei Nº 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. 
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm Acesso em: 21, set, 2019. 
 
BRASIL, Código de Ética do Assistente Social. Brasília – CFESS, 1993. 
 
BRASIL. Código de ética do/a assistente social. Lei 8.662/93 de regulamentação da profissão. - 10ª. ed. rev. e 
atual. - [Brasília]: Conselho Federal de Serviço Social, [2012]. Disponível em: 
http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf. Acesso em: 29, set,2019. 
 
BRASIL, LEI Nº. Relatório Educação para Todos no Brasil 2000-2015: versão preliminar. Ministério da 
Educação e Cultura. junho, 2014. 
http://www.cfess.org.br/arquivos/CEP_CFESS-SITE.pdf
 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Academia Brasileira de Educação declara apoio formal ao Future-se. MEC. 
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