Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CUIDADO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER Amanda Caroline Sartori Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você apresentará os seguintes aprendizados: � Reconhecer a anatomia do aparelho reprodutor feminino. � Identificar as funções fisiológicas do aparelho reprodutor feminino. � Descrever as etapas do ciclo menstrual. Introdução O sistema genital feminino abrange os órgãos da cavidade pélvica inter- nos, os principais órgãos do aparelho reprodutor feminino envolvendo ovários, tubas uterinas, útero e vagina, e externos, que correspondem a monte do púbis, lábios maiores e menores do pudendo, clitóris, bulbo do vestíbulo e glândulas vestibulares maiores e glândulas de Skene. Neste capítulo, você estudará sobre a anatomia e as funções fisioló- gicas do aparelho reprodutor feminino, bem como as etapas do ciclo menstrual. Anatomia do aparelho reprodutor feminino O sistema genital feminino (Figura 1) é responsável por produzir os óvulos — os gametas femininos e os hormônios sexuais femininos (o estrógeno e a progesterona) —, e suas estruturas compreendem o espaço de fecundação, implantação e desenvolvimento do ovo ou zigoto, além de representarem o local do canal do parto (MARTINI; TIMMONS; TALLITSC, 2009). Fi gu ra 1 . S is te m a ge ni ta l f em in in o. Fo nt e: M ar tin i, Ti m m on s e T al lit sc (2 00 9, p . 7 28 ). Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual2 Genitália interna Ovários Referem-se a gônadas femininas com formato ovalado e coloração cinzento- -rósea, medindo cerca de 5 cm de comprimento, 2,5 cm de largura e 8 mm de espessura (Figura 2), localizadas na cavidade peritoneal pélvica, à frente do ligamento largo do útero, em cavidades nomeadas fossas ováricas, e presas à porção superolateral do útero pelo ligamento útero-ovárico (BECKER et al., 2018). Os ovários atuam no desenvolvimento das células germinativas femininas, denominadas óvulos, e funcionam como glândulas endócrinas na produção dos hormônios estrógeno e progesterona, responsáveis por controlar o desen- volvimento das características sexuais femininas secundárias e agir sobre o útero nos mecanismos de implantação. O interior dos ovários é revestido por epitélio germinativo, apresentando a região do córtex, uma região periférica, na qual se encontram os folículos ováricos primários, e o estroma, a extensão central do ovário, além de tecido conjuntivo e vasos sanguíneos. Ademais, a superfície do ovário permanece lisa e brilhante até a fase da puberdade, ficando rugoso ao dar início a puberdade e as outras fases seguintes, em decorrência da expulsão dos ovócitos (BECKER et al., 2018). 3Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual Fi gu ra 2 . A na to m ia d o út er o em v is ta p os te rio r. Fo nt e: M ar tin i, Ti m m on s e T al lit sc (2 00 9, p . 7 29 ). Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual4 Tubas uterinas Trata-se de órgãos tubulares musculares ocos com cerca de 13 cm de com- primento (Figura 3), cuja função consiste em captar o ovócito na cavidade peritoneal e levá-lo até o útero, além de representarem o local de fecundação e segmentação (MARIEB; HOEHN, 2009). Nas extremidades das tubas uterinas, são encontradas fendas nomeadas óstio abdominal da tuba uterina, que está rodeada por fímbrias. Quando há a ovulação, as tubas uterinas fazem movimentos semelhantes aos de varredura na cavidade peritoneal, na tentativa de encontrar o ovócito, pegando-o por meio das fímbrias e levando-o para o seu interior por meio do óstio abdominal da tuba uterina. A tuba uterina apresenta quatro partes distintas (MARIEB; HOEHN, 2009): � Parte uterina (intramural): situada na espessura da parede uterina e que abrange o óstio uterino da tuba. � Istmo: área fina e próxima do útero, que corresponde ao terço medial da tuba uterina. � Ampola: com diâmetro um pouco mais elevado e que corresponde ao terço lateral da tuba uterina. � Infundíbulo: a área terminal e distal da tuba uterina, bastante dilatada e semelhante a um funil. Normalmente, a fecundação ocorre na região dilatada da tuba uterina, nomeada ampola, contexto no qual é formado o zigoto, que se deslocará pela tuba uterina durante cerca de 3 dias, até encontrar o útero. Conforme o zigoto percorre, a tuba uterina segmenta-se, formando-se a mórula, que avança em direção ao útero, região em que forma o blastocisto; normalmente no 8º dia posterior à fecundação, implanta-se a mucosa uterina. Segundo Marieb e Hoehn (2009), a túnica mucosa da tuba uterina apresenta várias pregas longitudinais, chamadas de pregas tubárias ciliadas, embora algumas células tenham cílios e outras não. Desse modo, as células não ci- liadas na mucosa da tuba uterina são secretoras e produzem um fluido usado para auxiliar na deslocação do óvulo até o útero, além de de obstaculizar a passagem de microrganismos do útero para a cavidade peritoneal. Ainda, o batimento ciliar e os movimentos peristálticos proporcionados pela contração da camada muscular lisa da tuba uterina são procedimentos que ajudam no transporte do óvulo para o útero. 5Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual Fi gu ra 3 . T ub as u te rin as . Fo nt e: M ar tin i, Ti m m on s e T al lit sc (2 00 9, p . 7 32 ). Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual6 Útero Segundo Vanputte; Regan e Russo (2016), o útero compreende um órgão muscular e oco, com o tamanho e o formato de uma pequena pera e que se localiza na pelve menor, entre o reto e a bexiga, sendo fixado na cavidade pélvica por meio do ligamento largo do útero, do ligamento redondo do útero, do ligamento útero-sacral e dos ligamentos cardinais. Uma das funções do útero refere-se a fixar a implantação e o desenvol- vimento do embrião, além de contribuir para o mecanismo do nascimento pela contração de suas paredes, causando a expulsão do feto (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). O útero (Figura 4) é composto por três regiões: o fundo do útero, área situada sobre a implantação das tubas uterinas, que apresenta os óstios ute- rinos da tuba; o corpo do útero, área com o maior volume; e o colo, também denominado cérvice do útero, uma área abaixo e estreita. O colo do útero pode ser dividido em duas partes, a porção supravaginal — localizada acima da vagina — e a porção vaginal — a área do colo uterino que se projeta para o interior da vagina e apresenta o óstio do útero, que se comunica com a vagina. A cavidade uterina na altura do corpo do útero tem o aspecto de uma fenda triangular de base superior, que se dilata por volta do final do 1º trimestre de gestação. No colo, a cavidade uterina é fusiforme, sendo menor e nomeada canal da cérvice, que não sofre dilatação até o momento do parto. Por fim, a cavidade uterina ainda sofre transformações cíclicas relacionadas à menstruação. A parede uterina é formada por três camadas distintas (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). � Perimétrio: camada caracterizada por ser delgada, composta por uma membrana serosa, que reveste a parte externa do útero e auxilia no desenvolvimento dos ligamentos que contribuem na manutenção do útero em sua posição. � Miométrio: camada caracterizada por ser espessa, na qual se encontram as fibras elásticas, colágenas e musculares, formando um sistema de espirais cruzadas. � Endométrio: considerado a membrana mucosa que reveste a cavidade do útero. Perante a ação do estrógeno e da progesterona, que são hor- mônios ovarianos, o endométrio sofre transformações associadas ao ciclo menstrual. 7Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual Durante o período gestacional, o tamanho do útero aumenta em decorrência da hiperplasia do tecido conjuntivo, da hipertrofia das fibras musculares lisase do desen- rolamento das espirais contínuas do miométrio. Ressalta-se que esse desenrolamento é gradual e segue o crescimento do feto. Durante a gestação, as fibras musculares do colo continuam enroladas. No momento em que as fibras musculares alcançam o máximo de sua capacidade de desenrolamento, são distendidas diretamente e, sob influência de hormônios, começa o trabalho de parto, de modo que as fibras se contraem e empurram o feto para o canal cervical. Desse modo, as fibras musculares do colo se desenrolam, dilatam o canal cervical, contraem as fibras musculares do miométrio e, com a pressão abdominal, acarretam no esvaziamento uterino. Depois do parto, o útero permanece se contraindo e, após um tempo, retorna a um tamanho semelhante ao anterior à gestação, em decorrência do enrolamento das fibras. Importa destacar que as contrações uterinas posteriormente ao parto são muito importantes, pois possibilitam o pinçamento natural das artérias e das arteríolas que se romperam no momento do descolamento da placenta, ou seja, quando não há contrações uterinas após o parto, podem ocorrer quadros hemorrágicos graves e até mesmo a morte (VANPUTTE; REGAN; RUSSO, 2016). Vagina Refere-se a um tubo musculomembranoso, com 7 a 8 cm de comprimento, que se estende do colo do útero até o óstio vaginal, sendo aberto no vestíbulo, área situada entre os lábios menores do pudendo. A vagina é o órgão copulador da mulher e a via de eliminação do sangue da menstruação e das secreções do útero e da passagem do feto durante o parto. Esse órgão localiza-se na cavidade pélvica, na área inferior ao útero, à frente da uretra, antes do reto e do canal anal, e fazendo parte da espessura das estruturas no períneo (COUTINHO; COSTA; SILVA, 2018). Denomina-se óstio da vagina o orifício responsável pela comunicação da vagina com o meio externo, situado no períneo, depois do óstio externo da uretra e antes do orifício anal. Em mulheres que nunca tiveram relações sexuais, o óstio da vagina pode ser parcialmente coberto por uma membrana delgada e pouco vascularizada, chamada hímen (COUTINHO; COSTA; SILVA, 2018). Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual8 Fi gu ra 4 . Ú te ro . Fo nt e: M ar tin i, Ti m m on s e T al lit sc (2 00 9, p . 7 34 ). 9Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual A vagina tem uma parede média formada por fibras musculares lisas e uma membrana mucosa com pregas transversais, nomeadas rugas vaginais. A parede precedente da vagina é mais curta que a posterior, entretanto as paredes estão juntas constituindo uma cavidade que se dilata somente no momento do parto ou durante o ato sexual. Na mucosa vaginal, existem glândulas produtoras de muco e células que, quando estão sob ação de estrógeno, produzem glicogênio e partículas de gorduras, usadas pelos lactobacilos da flora vaginal (bacilos de Doderlein), acarretando na produção de ácido láctico, que concede à vagina pH ácido (COUTINHO; COSTA; SILVA, 2018). Na Figura 5, são exibidos os órgãos genitais femininos externos. Figura 5. Órgãos genitais femininos externos. Fonte: Martini, Timmons e Tallitsc (2009, p. 738). Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual10 Genitália externa Constitui-se por monte do púbis, lábios maiores e menores do pudendo, clitóris, bulbo do vestíbulo e glândulas vestibulares maiores e de glândulas de Skene (TORTORA; DERRICKSON, 2017). A demarcação externa do pudendo feminino é determinada pelo monte do púbis, que se caracteriza por seu volume e proeminência, em decorrência do tecido adiposo subjacente à pele anterior à sínfise púbica, e pelos lábios maiores, contornam e cobrem moderadamente os lábios menores, além de serem recobertos pelo tecido adiposo subjacente, embora as regiões mais internas apresentem menos pelos. Os lábios menores se definem por serem duas pregas pequenas de pele, que não têm pelos. As glândulas vestibulares maiores são estruturas circulares, que se localizam na parte posterior do bulbo do vestíbulo e que, no momento da relação sexual, são comprimidas e secretam muco, com a finalidade de lubrificar a vagina. Ainda, as glândulas de Skene são glândulas mucosas pe- quenas com a função de lançar secreções no vestíbulo da vagina (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Por fim, o clitóris apresenta um tecido erétil, semelhante aos corpos caver- nosos no homem, localizado antes dos lábios menores do pudendo; e o bulbo do vestíbulo são duas massas pequenas, compostas por tecido erétil, situadas ao lado do óstio da vagina (TORTORA; DERRICKSON, 2017). Funções fisiológicas do aparelho reprodutor feminino O sistema hormonal feminino é composto por três hormônios hierárquicos distintos, que, vale destacar, são secretados com intensidades muito variadas ao longo do ciclo menstrual mensal da mulher (HALL, 2017, p. 1039): 1. “O hormônio de liberação hipotalâmica, o hormônio liberador de gona- dotropinas (GnRH)” 2. “Os hormônios sexuais hipofisários anteriores, o hormônio folículo-esti- mulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), ambos secretados em resposta à liberação de GnRH do hipotálamo” 3. “Os hormônios ovarianos, estrógeno e progesterona que são secretados pelos ovários, em resposta aos dois hormônios sexuais femininos da hipófise anterior”. 11Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual Hormônios hipofisários A hipófise é uma glândula endócrina localizada na sela túnica, cavidade óssea encontrada na base do cérebro, e responsável por secretar os hormônios FSH e LH, que proporcionam as transformações ovarianas durante o período do ciclo menstrual da mulher. Ressalta-se que, quando não há os hormônios FSH e LH, os ovários não são ativados. Desse modo, esses hormônios começam a ser secretados entre 9 e 12 anos, responsabilizando-se pelo início dos ciclos menstruais. Ainda, ocorrem aumento e diminuição dos níveis dos hormônios sexuais hipofisários no decorrer dos meses do ciclo menstrual, promovendo alterações ovarianas cíclicas (SILVERTHORN, 2017). O FSH e o LH estimulam suas células-alvo ovarianas ao se combinar com receptores muito específicos de FSH e LH, nas membranas das células-alvo ovarianas. Os receptores ativados, por sua vez, aumentam a secreção das células e, em geral, também o crescimento e a proliferação das células. Quase todos esses efeitos estimuladores resultam da ativação do sistema do segun- do mensageiro do monofosfato cíclico de adenosina, no citoplasma celular, levando à formação da proteinocinase e múltiplas fosforilações de enzimas- -chave que estimulam a síntese dos hormônios sexuais (HALL, 2017, p. 1039). Desse modo, o FSH e o LH a cada 28 dias são encarregados pelo crescimento de 8 a 12 folículos ovarianos, dos quais somente um alcança a maturidade, sendo ovulado aproximadamente no 14º dia do ciclo menstrual (SILVER- THORN, 2017). Hormônios ovarianos O estrógeno e a progestina representam os hormônios sexuais ovarianos, sendo o hormônio estradiol o principal dos estrógenos, enquanto a progesterona o mais relevante das progestinas (AIRES, 2015). Em virtude disso, os estrógenos viabilizam o crescimento e a multiplicação de células específicas, que têm relação com a formação das características sexuais secundárias femininas, e a progestina atua preparando o útero para uma possível gestação, do mesmo modo como age nas mamas com a finalidade da lactação (AIRES, 2015). Nesse contexto, de acordo com Hall (2011), alguns dos efeitos do estrógeno são os seguintes. Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual12 � Órgãos sexuais femininos: na puberdade, os hormônios gonadotrópicos hipofisários aumentam 20 vezes mais. Assim, há elevação dos ovários, das tubas uterinas, do útero e da vagina, além do aumento do depósito de gordura no monte pubiano e nos pequenos e grandes lábios. � Tubas uterinas: há o crescimento de tecidos granulares e o aumentodo número de células epiteliais ciliadas, responsáveis por revestir as tubas uterinas. � Mamas: inicia o desenvolvimento das mamas. � Aumento do metabolismo corporal e do depósito de gordura: o hormônio eleva moderadamente o metabolismo corporal. Além disso, é responsável pelo depósito de quantidades mais elevadas de gordura, principalmente em mamas, glúteos e coxas. � Na pele: contribui para o desenvolvimento de uma pele macia e lisa, com maior vascularização e é mais quente. Já as principais funções da progesterona são as seguintes (SILVERTHORN, 2017). � Proporciona modificações secretórias no útero: realiza alterações das secreções no endométrio uterino, na fase final do ciclo menstrual, objetivando preparar o útero para a implantação do óvulo fertilizado, além de diminuir a frequência e a intensidade das contrações uterinas, favorecendo e evitando a expulsão do óvulo implantado. � Nas tubas uterinas: possibilita o aumento das secreções das tubas uterinas, auxiliando na nutrição do óvulo fertilizado. � Desenvolvimento das mamas: esse hormônio desenvolve os lóbulos e os alvéolos mamários, sucedendo a multiplicação das células alveolares, além de passarem a ter natureza secretora e as mamas ficarem inchadas. Puberdade e menarca A puberdade está diretamente associada ao início da vida adulta, sendo oca- sionada pelo aumento progressivo da produção dos hormônios gonadotrópicos pela hipófise, que tem início aproximadamente com 8 anos e é finalizado no começo da puberdade. Já a menarca, que significa o primeiro ciclo menstrual, ocorre frequentemente entre 11 e 16 anos nas meninas (AIRES, 2015). 13Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual Menopausa Normalmente, surge entre 40 e 50 anos de idade, na ocasião em que o ciclo menstrual passa a ser irregular e não haver mais ovulação em muitos casos. Alguns meses ou anos depois, o ciclo sexual é encerrado por completo. Desse modo, o momento em que se finaliza o ciclo, e os hormônios femininos caem a próximo de zero, é denominado menopausa (AIRES, 2015). Etapas do ciclo menstrual O sistema reprodutor feminino dispõe de alterações cíclicas regulares com a finalidade de preparar o corpo para a fertilização e a gestação. O ciclo menstrual se caracteriza por um sangramento vaginal mensal, que ocorre pela descamação do endométrio e com duração média de 28 dias a partir do início da menstruação (MARIEB; HOEHN, 2009). Ciclo ovariano Desde o momento do nascimento, já existem folículos primordiais sob a cápsula ovariana, cada um dos quais com um ovócito imaturo. No começo de cada ciclo, diversos folículos se ampliam e uma cavidade se forma ao redor do ovócito. Em humanos, um dos folículos em um dos ovários cresce rápido no 6º dia do ciclo menstrual e se transforma no folículo dominante. Destaca-se que ainda não se sabe como ocorre a seleção dos folículos para dominar na fase folicular do ciclo ovariano, porém acredita-se que isso tenha relação com a habilidade do folículo em secretar estrógeno no seu interior (BARRETT et al., 2014; MARIEB; HOEHN, 2009). Ainda nesse contexto, no 14º dia do ciclo menstrual o folículo distendido se rompe e o ovócito é mandado para a cavidade abdominal, sendo representado pelo processo da ovulação (MARIEB; HOEHN, 2009). As células da granulosa dos ovários representa a principal fonte de estrógeno circulante, no entanto as células da teca interna do folículo são indispensáveis para secretar estrógeno, visto que elas secretam androgênios aromatizados a estrógeno pelas células da granulosa. O ovócito é apreendido pelas fímbrias das tubas uterinas, conduzido ao útero e, caso não tenha ocorrido a fertilização, eliminado pela vagina (MARIEB; HOEHN, 2009). Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual14 Durante a ovulação, o folículo rompido fica cheio de sangue, mas as células da granulosa e da teca do revestimento folicular logo começam a proliferar e o sangue coagulado é alterado pelas células luteínicas, formando-se o corpo lúteo. Desse modo, esse acontecimento dá início à fase lútea do ciclo ovariano, caracterizada pela secreção de estrógeno e progesterona pelas células lúteas (MARIEB; HOEHN, 2009). Caso ocorra uma gestação, o corpo lúteo continua e, normalmente, não acontece mais menstruação até o nascimento do bebê, ao passo que, se não há gravidez, o corpo lúteo inicia seu processo de degeneração 4 dias anteriormente à menstruação, ou seja, aproximadamente no 24º dia do ciclo menstrual, e é transformado pelo tecido de cicatrização, formando-se o corpo albicante (BARRETT et al., 2014; MARIEB; HOEHN, 2009). Ressalta-se que não são formados novos ovócitos após o nascimento. Desse modo, ao nascer, há cerca de 1 a 2 milhões de ovócitos, embora mais de 50% deles sofram involução. Assim, um milhão de ovócitos restantes passa pela primeira parte de divisão meiótica e entra em uma fase de suspensão em pró- fase, na qual aqueles que não morrem persistem até a fase adulta. A involução permanece durante o desenvolvimento da mulher e, na fase da puberdade, são apenas 300 mil ovócitos em ambos os ovários, dos quais somente um por ciclo ovariano alcança a maturidade. Após a ovulação, ocorre a primeira divisão meiótica completa, na qual o ovócito secundário obtém a maior quan- tidade de citoplasma; depois, inicia-se a segunda divisão meiótica, porém é interrompida na metáfase e somente é concluída quando um espermatozoide penetra o ovócito. Nessa ocasião, um segundo corpúsculo polar é degenerado e o ovócito fertilizado mantém-se para conceber um indivíduo (BARRETT et al., 2014; MARIEB; HOEHN, 2009). Ciclo uterino Na fase menstrual, as camadas do endométrio são eliminadas, com exceção daquelas mais profundas. Então, inicia-se o crescimento de um novo endo- métrio, sob ação dos estrógenos do folículo em desenvolvimento. Ressalta-se que a espessura do endométrio cresce muito rápido do 5º ao 14º dia do ciclo menstrual; desse modo, conforme a espessura do endométrio aumenta, as glân- dulas uterinas se estendem e se alongam. Tais modificações são denominadas proliferativas, fase do ciclo menstrual nomeada fase proliferativa. Posterior- mente à ovulação, o endométrio fica muito vascularizado e pouco edematoso sob a ação do estrógeno e da progesterona do corpo lúteo. As glândulas passam 15Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual a ser espiraladas, dando-se início à produção de líquido claro, caracterizado pela fase do ciclo menstrual denominada secretora (BARRETT et al., 2014). O endométrio é vascularizado por duas artérias: a porção superficial do endométrio, descamada durante o período da menstruação, denominada ca- mada funcional e vascularizada pelas artérias espiraladas; e a camada mais profunda do endométrio, não descamada na menstruação, chamada de camada basal e irrigada por pequenas artérias basais. Quando o corpo lúteo regride, a ação dos hormônios no endométrio é sus- pensa e o endométrio fica mais fino, o que facilita o enrolamento das artérias espiraladas. Nesse momento, surgem focos de necrose no endométrio e ocorre degeneração das paredes das artérias espiradas, acarretando hemorragias que ocasionam um novo fluxo menstrual (fase menstrual) (BARRETT et al., 2014). Por fim, considerando a função endometrial, a fase proliferativa do ciclo menstrual retrata a restauração do epitélio por meio da menstruação ante- cedente e a secretora refere-se à preparação do útero para a implantação do óvulo fertilizado (BARRETT et al., 2014). AIRES, M. M. Fisiologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2015. 1335 p. BARRETT, K. E. et al. Fisiologia médica de Ganong. 24. ed. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2014. 768 p. BECKER, R. O. et al. Anatomia humana. Porto Alegre: Sagah, 2018. 560 p. COUTINHO, A. O. R.; COSTA, A. A. Z.; SILVA, M. H. S. Anatomia aplicada à enfermagem. Porto Alegre: SAGAH, 2018. 240 p. HALL, J. E. Guyton & Hall: tratado de fisiologiamédica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. 1176 p. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia e fisiologia. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 1072 p. MARTINI, F. H.; TIMMONS, M. J.; TALLITSCH, R.B. Anatomia humana. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. 904 p. SILVERTHORN, D. U. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 960 p. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B. Corpo humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017. 704 p. VANPUTTE, C.; REGAN, J.; RUSSO; A. Anatomia e fisiologia de Seeley. Porto Alegre: AMGH; Artmed, 2016. 1264 p. Anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e ciclo menstrual16
Compartilhar