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UNIVERSIDADE PARANAENSE – UNIPAR Reconhecida pela Portaria – MEC. n.º 1580, de 09/11/1993. Curso de Direito – Campus Sede – Umuarama GIANCARLO DE GIULI MADEIRA A EXTINÇÃO DO FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: ANÁLISE DA PEC N. 333/2017 UMUARAMA 2020 GIANCARLO DE GIULI MADEIRA A EXTINÇÃO DO FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: ANÁLISE DA PEC N. 333/2017 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora do curso de Direito da Universidade Paranaense - UNIPAR, como exigência parcial para obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Ricardo Muciato Martins Umuarama 2020 Autor: Giancarlo de Giuli Madeira Nome: Giancarlo de Giuli Madeira Curso: Direito RA: 00134097 CPF: 082.885.599-48 RG: 12.592.960-5 End. Res.: Rua das Araras, 2076 – Jardim Alphaville – Umuarama/PR Telefone: (44) 99900-3063 E-mail: giancarlo.mad@edu.unipar.br Professor Orientador: Nome: Ricardo Muciato Martins Titulação: Mestre em Direito das Relações Públicas Endereço: Av. Tiradentes, 3240 – Jardim Paraiso, Umuarama – PR, 87505-090 Telefone: (44) 3621 3800 FICHA DE AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CURSO Critérios: Considerando que a supressão da apresentação oral do Trabalho de Curso (TC) não significa critérios aleatórios para atribuição da nota pelo Professor Orientador, relaciona-se as questões de avaliação de acordo com o Art. 18 do Regulamento Geral das Atividades de Elaboração do Trabalho de Curso do Curso de Graduação em Direito, as quais deverão servir de parâmetros orientadores para atribuição da nota. I Etapa - análise do levantamento bibliográfico (mínimo de cinco obras) realizado pelo aluno em consonância com o tema proposto e discutido com o Professor Orientador, com peso de até 1,0 (um vírgula zero) na composição da nota final; II Etapa - linhas gerais do desenvolvimento do trabalho com base no levantamento bibliográfico, elaboração do Resumo Expandido e apresentação na Mostra de Trabalhos Científicos do Curso de Direito, com peso de até 3,0 (três vírgula zero) na composição da nota final; III Etapa - término do desenvolvimento do trabalho conforme item anterior, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final; IV Etapa - introdução e conclusão do trabalho, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final; V Etapa - análise geral do trabalho: conteúdo e apresentação escrita (organização sequencial, relevância do tema e correção gramatical) do trabalho, de acordo com as normas para publicação, com peso de até 2,0 (dois vírgula zero) na composição da nota final; UNIVERSIDADE PARANAENSE Curso de Direito – Umuarama – Unidade – Sede NOTA FINAL DO TC APROVADO REPROVADO TÍTULO DO ARTIGO A EXTINÇÃO DO FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: ANÁLISE DA PEC N. 333/2017 O trabalho será encaminhado para publicação pelo professor orientador? SIM NÃO ACADÊMICO: GIANCARLO DE GIULI MADEIRA R.A. 00134097 SÉRIE/TURMA 4.ª A (x) B ( ) 5.ª A ( ) B ( ) PERÍODO Matutino Noturno X ORIENTADOR: RICARDO MUCIATO MARTINS Observações: Umuarama-PR, 31/10/2020. Assinatura do Prof. Orientador A EXTINÇÃO DO FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: ANÁLISE DA PEC Nº 333/2017 RESUMO: Objetivou-se com estudo realizar uma análise da PEC Nº 333/2007, no que tange o privilégio permitido por ela. Constituição Federal promulgada em 5 de outubro de 1988, a exemplo de constituições anteriores, elenca em seus artigos 29, 53, 96, 102, 105 e 108, hipóteses de foro por prerrogativa de função, instituto que determina que certas autoridades, em razão do cargo ou função pública exercida, sejam processadas e julgadas pelo tribunais de 2º grau, tribunais superiores e pelo Supremo Tribunal Federal. Tecnicamente denominado como “foro privilegiado”, diversamente do que pressupõe a popular alcunha, tal instituto viabiliza um tratamento excepcional em virtude da função ou cargo exercido, buscando proteger o exercício da função ou do mandato público, bem como a celeridade processual. Ocorre que, em nossa realidade social, o foro por prerrogativa de função tornou-se sinônimo de impunidade e tratado como uma manobra de evasão da justiça, visto o grande número de cargos e funções alcançados por esse “privilégio”, situação que congestiona o sistema judiciário pátrio, tornando necessária a discussão acerca do tema e, conforme propõe a PEC nº 333/2017, a plausível reforma do aludido instituto. Para o desenvolvimento da presente análise, foi aferida ampla pesquisa jurisprudencial e doutrinária, com o propósito de elucidar acerca da real necessidade e aplicabilidade do instituto, bem como seu contexto histórico. Observando-se, ainda, a possível lesão a um dos pilares do direito contemporâneo, o princípio constitucional da isonomia. PALAVRAS-CHAVE: Constituição Federal. Foro por prerrogativa de função. Celeridade Processual. Princípio da Isonomia. Emenda Constitucional. Foro privilegiado. THE EXTINCTION OF THE SPECIAL FORUM FOR PREROGATIVE FUNCTION: ANALYSIS OF PEC No. 333/2017 ABSTRACT: The objective of this study was to carry out an analysis of PEC No. 333/2007, regarding the privilege allowed by it. The Federal Constitution promulgated on October 5, 1988, like previous constitutions, lists in its articles 29, 53, 96, 102, 105 and 108, hypotheses of jurisdiction by prerogative of function, institute that determines that certain authorities, due to the position or public function exercised, they are processed and judged by the courts of 2nd degree, superior courts and the Supreme Federal Court. Technically called “privileged forum”, differently from what the popular nickname presupposes, this institute makes possible an exceptional treatment due to the function or position exercised, seeking to protect the exercise of the function or public mandate, as well as the procedural speed. It happens that, in our social reality, the forum for the prerogative of function has become synonymous with impunity and treated as a maneuver of evasion of justice, given the large number of positions and functions achieved by this “privilege”, a situation that congests the system homeland judiciary, making it necessary to discuss the topic and, as proposed by PEC No. 333/2017, the plausible reform of the aforementioned institute. For the development of this dissertation, extensive jurisprudential and doctrinal research was carried out, with the purpose of elucidating about the real need and application of the institute, as well as its historical context and the possible injury to one of the pillars of contemporary law, the constitutional principle of isonomy. KEY WORDS: Federal Constitution, Forum for prerogative function, Procedural Speed, Principle of Isonomy, Constitutional Amendment, Privileged Forum 1 1 INTRODUÇÃO O instituto do foro especial por prerrogativa de função, previsto no ordenamento jurídico brasileiro, sempre foi objeto de grandes discussões em nossa sociedade, no entanto, em tempos recentes, verifica-se o crescimento do número de ações criminais instauradas em face de autoridades políticas, as quais devem ser julgadas em instâncias superiores do Poder Judiciário. Muito doutrinadores e juristas, quando se deparam com tal instituto, não conseguem enxergar ou determinar, a real razão de sua sustentação, menos ainda os motivos que excepcionam o foro especial frente ao princípioconstitucional da isonomia. Neste entendimento, o “foro privilegiado” serviria apenas com um escudo que permite o aumento da impunidade, da corrupção e das desigualdades político-sociais. Alguns doutrinadores, entendem que o foro por prerrogativa de função é maléfico ao Supremo Tribunal Federal e para o país e que, é preciso acabar com ele ou reservá-lo a um número mínimo de autoridades. Por outro lado, a corrente defensora escora-se na ideia da dignidade e relevância dos cargos abrangidos pelo foro especial, cujos ocupantes não poderiam ser julgados por um magistrado com pouca experiência, menos capaz de lidar com as pressões existentes, bem como evitar qualquer tipo de perseguição política. A escolha pelo processo e julgamento dos ocupantes de cargos com foro especial por órgãos colegiados do Poder Judiciário se dá em face destes encontrarem-se a uma certa distância das coações populares, muitas vezes avivadas pela notícia de crimes praticados por autoridades públicas. Objetiva-se, neste trabalho, promover o embate entre a regra do foro por prerrogativa de função e o princípio constitucional da isonomia, bem como sua real aplicação nos dias atuais, a falta de estrutura dos tribunais para processar e julgar tamanha demanda, ainda as reformas pretendidas pela PEC N. 333/2017, utilizando-se como metodologia baseada em ampla pesquisa doutrinária e jurisprudencial. Assim, primeiramente, explanar-se-á acerca do contexto histórico do foro especial por prerrogativa de função. 2 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO NO BRASIL No Brasil, o foro por prerrogativa de função é um instituto que existe desde o período colonial, época do domínio português. Esta possibilidade, inicialmente, era um privilégio aplicado somente a pessoas “importantes”. Estabelecido pela Constituição Política do Império do Brazil, outorgada em 25 de março de 1824, pelo Imperador D. Pedro I, que em seu artigo 179, inciso XVII, dispunha da seguinte maneira: “A' excepção das Causas, que por sua natureza pertencem a Juizos particulares, na conformidade das Leis, não haverá Foro privilegiado, nem Commissões especiaes nas Causas civeis, ou crimes”. O aludido instituto conferia ao Senado competência para processar e julgar os delitos individuais praticados pelos membros da Família Real, Ministros, Conselheiros, Senadores e Deputados, conforme artigo 47 da mesma Constituição. Posteriormente, a Constituição Republicana de 1891, manteve, em seu artigo 57, o foro privilegiado, dando competência ao Senado para processar e julgar os membros do Supremo Tribunal Federal nos crimes de responsabilidade e, ao STF, para julgar os juízes federais inferiores, o presidente da República e os Ministros de Estado nos crimes comuns e de responsabilidade, atribuições mantidas, de alguma forma, em todas Constituições posteriores. Com a Constituição de 1934, estabeleceu-se que, ao invés do Senado, um Tribunal Especial seria competente para o julgamento do Presidente da República nos crimes de responsabilidade. Ainda, a Corte Suprema se incumbiu de processar e julgar, nos crimes comuns, o Presidente da República, Ministros da Corte Suprema, e, nos crimes comuns e de responsabilidade, os Ministros de Estado, Procurador-Geral da república, Juízes dos Tribunais Federais e das Cortes de Apelação dos Estados, do Distrito federal e dos Territórios, Ministros do Tribunal de Contas, Embaixadores e Ministros Diplomáticos, conforme artigo 76, I, a e b No ordenamento vigente da Constituição de 1937, definiu-se competência originária a um Conselho Federal, composto por representantes dos Estados e por dez membros nomeados pelo Presidente da República, para processar e julgar o Presidente e Ministros do STF no cometimento de crimes de responsabilidade. Ao Supremo Tribunal Federal, incumbiu-se a responsabilidade para julgar os Ministros de Estado, em crimes comuns e de responsabilidade, exceto em casos de crimes conexos com os do Presidente da República, onde respondem perante a autoridade competente para julgamento deste. 3 Ainda na Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937, fixou-se ao Supremo Tribunal Federal a competência para processar e julgar originalmente seus próprios Ministros, bem como o Procurador-Geral da República, os Juízes dos Tribunais de Apelação dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, os Ministros do Tribunal de Contas, os Embaixadores e Ministros diplomáticos, no caso de cometimento de crimes comuns e de responsabilidade. Por sua vez, a Constituição de 1946 acrescentou diversas hipóteses que ensejavam a aplicação do foro especial. Fixou a competência do Senado Federal para julgar o Presidente da República, nos crimes de responsabilidade, e os Ministros de Estado, em casos de crimes conexos com aquele, bem como processar e julgar os Ministros do STF e o Procurador-Geral da República, também nos crimes de responsabilidade. Concedeu ao Supremo Tribunal Feral, competência para processar e julgar os Ministros de Estado, no cometimento de crimes comuns e de responsabilidade, excetuados os crimes conexos com o do Presidente da República. Seguindo as atribuições conferidas pela Constituição de 1946, para o Supremo Tribunal Federal atribuiu-se a competência de processar e julgar originalmente o Presidente da República, seus Ministros e o Procurador-Geral da República, no caso de crimes comuns, ainda, os Ministros de Estado, os Juízes dos Tribunais Superiores Federais, os Desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, Ministros do Tribunal de Contas e os Chefes de Missão Diplomática, no cometimento de crimes comuns e de responsabilidade. Aqui, já se pode verificar uma ampla gama de hipóteses de aplicação do foro especial por prerrogativa de função, que foi mantida, com uma outra variação, na Constituição da República Federativa do Brasil de 1967, com a Emenda Constitucional de 1969; destaque-se ao artigo 32, §4º, que discorre da seguinte maneira: “Os deputados e senadores serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”. Ainda em referência a Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional de 1969, a Câmara dos Deputados ampliou suas atribuições, cabendo a ela processar e julgar as acusações em face do Presidente da República e dos Ministros de Estado. Do mesmo modo, atribuiu-se ao Supremo Tribunal Federal a competência para processar e julgar, em caso de cometimento de crimes comuns, o Vice-Presidente da República, os deputados e os senadores, conforme anteriormente citado. Ampliou-se, igualmente, a competência originaria do Tribunal Federal de Recursos, cabendo-lhe processar e julgar os Juízes Federais e do Trabalho, bem como os membros dos tribunais regionais do trabalho, dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal e do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ainda, os mandados de segurança 4 contra ato de Ministro de Estado, do Presidente do próprio Tribunal ou das suas câmaras, turmas, grupos ou secções, do diretor-geral da Polícia Federal ou de juiz federal, cabendo ainda julgar os habeas corpus, quando a autoridade coatora for Ministro de Estado ou a responsável pela direção-geral da polícia federal ou juiz federal. No que tange aos Tribunais de Justiça, manteve-se a prerrogativa para juízes de instância inferior nos crimes comuns e de responsabilidade, e membros do Tribunal da alçada. Observa-se que, o instituto sofreu diversas modificações durante o tempo, entre troca de competência e extensão da prerrogativa de foro a cada vez mais cargos, cabendo destacar a atribuição ao Supremo Tribunal Federal para processar e julgar os crimes cometidos por deputados e senadores, situação que causa imenso congestionamento no referido tribunal. Isto posto, verificar-se-á a situação do foro especialpor prerrogativa de função após a promulgação da Constituição de 1988. 3 O FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ATUALMENTE Conforme analisado, todas as Constituições brasileiras previram algum tipo de foro por prerrogativa de função, no entanto, a Carta Magna de 1988 é reconhecidamente aquela que foi mais numerosa na distribuição de foros especiais para autoridades e agentes públicos. Na Constituição de 1988, o número de autoridades com foro especial chegou ao ápice. Estendeu-se a prerrogativa a todos os membros do Ministério Público, aos conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e dos Tribunais de Conta dos Municípios, aos deputados estaduais, aos prefeitos, além dos foros especiais estabelecidos nas constituições estaduais. Em estudo específico sobre o tema, Newton Tavares Filho aponta que o foro especial não é algo raro nas Constituições ao redor do mundo, no entanto, o problema do ordenamento jurídico brasileiro é a quantidade de cargos com essa imunidade formal, conforme parte relevante do estudo: Foi na Constituição de 1988, entretanto, que o sistema de atribuição de foros privilegiados atingiu seu paroxismo, englobando uma enorme gama de autoridades. Hoje, por determinação da Constituição Federal ou de leis que dela decorrem, possuem foro especial por prerrogativa de função o Presidente e Vice-Presidente da República; os membros do Congresso Nacional; os Ministros do Supremo Tribunal Federal; o Procurador-Geral da República; os Ministros de Estado; os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; as autoridades ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à 5 jurisdição do Supremo Tribunal Federal, em caso de habeas corpus; os Governadores dos Estados e do Distrito Federal; os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal; os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho; os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; as autoridades federais da administração direta ou indireta, em caso de mandado de injunção; os juízes federais, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho; os membros do Ministério Público da União; os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público estadual; os Prefeitos; os oficiais generais das três Armas (Lei nº 8.719, de 1993, art. 6º, I); e os juízes eleitorais, nos crimes eleitorais (Código Eleitoral, art. 29, I, d) (TAVARES, 2015, p.11) Ainda sobre o tema, preleciona Maria Helena Diniz: Regalia concedida legalmente aos que exercem altas funções públicas para serem julgados em foro especial ou serem inquiridos, na qualidade de testemunhas, em sua residência ou onde exercem sua função. Dentre eles podemos citar: presidente e vice- presidente da República; presidente do Senado e o da Câmara dos Deputados; ministros de Estado; Ministros do STF, STJ, do STM, TSE, TST e do TCU; procurador-geral da República; senadores; deputados federais; governadores; deputados estaduais; desembargadores; juízes dos Tribunais de Alçada, dos Tribunais Regionais do Trabalho e dos Tribunais de Contas dos Estados e Distrito Federal; embaixador do país e, por lei ou tratado, concede idêntica prerrogativa ao agente diplomático do Brasil. (DINIZ, 2007, p.807) Essa possibilidade, das constituições estaduais atribuírem foro a autoridades que não possuem, nem de forma equivalente, essa prerrogativa, pode ser apontada como a responsável pelo grande aumento de agentes sujeitos ao foro especial dentro de nosso país. A título de exemplo, a Constituição Estadual da Bahia atribui o foro especial aos vereadores, ampliando o quantitativo de pessoas sujeitas a julgamento em tribunais na escala de milhares. Alguns Estados se destacam pela exacerbada quantidade de autoridades com foro, como é o caso, por exemplo, do Piauí, onde se atribui o foro, por meio de sua Constituição Estadual, a mais de 2.700 autoridades. Com base nessas informações, nas consultas realizadas às constituições estaduais e às fontes de pesquisas citadas na metodologia, é possível chegar a quantidade de aproximadamente 15.000 autoridades que gozam da prerrogativa de foro, cuja competência é atribuída exclusivamente pelas Constituições Estaduais. 6 Enquanto em alguns países o foro é restrito exclusivamente ao Chefe do Executivo; no Brasil, entre o âmbito federal e estadual, existem aproximadamente 55.000 autoridades que fazem jus à prerrogativa de foro, sendo 80% deles membros do Ministério Público e Judiciário. De um lado, nos deparamos com o aumento de autoridades que gozam desse privilégio e a grande quantidade de denúncias e processos, de outro lado a falta de estrutura dos tribunais para processar e julgar essas denúncias, situação que congestiona o judiciário e favorece a corrupção e a impunidade. 4 O FORO ESPECIAL NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL A Constituição Federal de 1988, traz em seu artigo 53, parágrafo 1º, por redação dada pela Emenda Constitucional nº 35 de 2001 que os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. Ainda, o artigo 102, inciso I, alínea b, apresenta um rol de agentes que detém a prerrogativa de foro sob competência de julgamento do Supremo Tribunal Federal: “nas infrações penais comum, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal; b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território; f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamenteinteressados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados; o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; p) o pedido de medida cautelar das ações diretas 7 de inconstitucionalidade; q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público; [...]. (BRASIL, 1988) Recentemente, a Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas (FGV) publicou o “V Relatório Supremo em Números: o foro privilegiado e o supremo”. O estudo é fruto de pesquisa realizada nos processos em trâmite do Supremo Tribunal Federal entre os anos de 2002 e 2016, de titularidade de ocupantes de funções públicas que gozam da prerrogativa do julgamento em foro especial (FALCÃO et al.,2017). O combate à corrupção generalizada, que aparece cotidianamente nos noticiários, principalmente a partir de 2014, após a deflagração da operação Lava-Jato, tem contribuído com o vultoso volume de processos em andamento no STF. São muitas as denúncias realizadas. A Procuradoria-Geral da República, apresentou ao STF, só em 2015, o nome de 50 políticos para abertura de inquéritos. Em 2017, após as delações realizadas pela Odebrecht, o Procurador-Geral submeteu ao Supremo mais de 83 parlamentares para investigação, além de 320 pedidos de declínio de competência, arquivamentos e outras providências (CARVALHO,2016; BULLA, 2017) Para tornar o retrato ainda mais preocupante, a cada eleição, novos processos são encaminhados ao Supremo. Trata-se de ações penais instauradas em outras instâncias que, com a investidura do recém-eleito no cargo, são enviadas para apreciação da Corte. O relatório feito pela FGV aponta que, desde 2007, em todos os anos, a quantidade de novos processos que chegam ao órgão é superior à dos encerrados (FALCÃO et al., 2017). Entretanto, o número de ministros permanece o mesmo: um grupo de 11 juízes responsáveis pela apreciação e julgamento de um universo estimado em 77.1593 processos, dos quais, aproximadamente, 500 são inquéritos e ações penais sob foro privilegiado (CARVALHO, 2016). A divisão do montante geral confere a cada um dos membros do STF a responsabilidade por examinar o mérito de 7.014 processos. Em 2016, somente o ministro Teori Zavascki, até então relator da Lava-Jato, tinha em seu gabinete 7.358 processos para análise. Apesar da quantidade apontada não se referir somente aos processos de foro privilegiado, é possível dimensionar a realidade do Supremo e a vantagem trazida pelo fim da competência especial, ao contribuir para o “desafogamento” da casa (CONSULTOR JURÍDICO, 2017). O resultado dessa situação é evidente, o acúmulo do número de processos para cada ministro e assim, a demora nas apreciações e no trânsito em julgado, sendo comuns situações 8 em que o réu, além do tratamento concedido pela prerrogativa de foro, seja beneficiado pelo instituto da prescrição. O fato é muito grave, visto que produz a sensação de impunidade no meio social e o consequente descrédito das instituições políticas e do sistema judiciário pátrio. Os dados obtidos indicam que os inquéritos instaurados pelo STF têm sido avaliados com mais rapidez que as ações penais em trâmite na Suprema Corte. “Em 2016, da instauração ao trânsito em julgado de um inquérito, transcorreram, em média, 797 dias. As ações penais, por sua vez, foram decididas no prazo médio de 1.377 dias. Ressalte-se que, em 2002, a duração média para o julgamento de ações penais dos parlamentares era de 65 dias” (FALCÃO et al., 2017). No rol dos dez casos com maior tempo de duração para o trânsito em julgado, está a Apelação Penal nº 347, relativa aos crimes de peculato, apropriação indébita e estelionato, supostamente praticado pelo deputado Aníbal Gomes (PMDB) e outros, cujo resultado – absolvição – foi proferido após 11,5 anos. Desse mesmo grupo de casos, 4 processos foram prescritos. Somente a Apelação Penal nº 409, relativa ao crime de desvio de verba federal, cometido pelo deputado Zé Geraldo (PMDB), teve como resultado inédito a condenação de um parlamentar em exercício, isso após 9,4 anos de tramitação (FALCÃO et al., 2017). Outro incidente processual que contribui para a morosidade dos processos de foro especial de competência do STF são os pedidos de vistas realizados pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Apesar da duração média dos processos no referido órgão, em 2016, ter sido de 19 dias para as ações penais e 67 dias para os inquéritos. Verificaram-se situações em que os autos permaneceram por 3 anos na PGR, como o Inquérito nº 2.755, relativo à suposta violação ao art. 89 da Lei de Licitações perpetrada por Carlos Gomes Bezerra (PMDB). Nilson Aparecido Leitão (PSDB) – Inquérito nº 3.629 – foi indiciado pelo mesmo crime, tendo os autos permanecido sob vistas do PGR por 2,1 anos (FALCÃO et al., 2017). Para engajar o entendimento de que a aludida prerrogativa é matéria passível de extinção, aduz Ivan Hartmann (2018, online): Sem o foro, os ministros teriam mais tempo para se dedicar a outros casos, seria um avanço para desafogar o tribunal. Sob o ponto de vista de julgamento das turmas, não acho que o STF vai mudar do dia para a noite, mas teria um impacto na pauta das turmas abrindo espaço para a discussão de outros tipos de processos, que individualmente têm menos visibilidade. Fica evidente não apenas incompatibilidade com o momento vivenciado pelo clamor da população do país, mas a inviabilidade estrutural que não versa sobre o trabalho que pese ser do Supremo Tribunal Federal 9 Observa-se que, a falta de estrutura do Supremo Tribunal Federal, em conjunto com a grande quantidade de denúncias recebidas, principalmente nos últimos anos, com a deflagração de operações de combate à corrupção, são fatores que geram demasiada morosidade no sistema judiciário, congestionando os tribunais e, como já citado, favorecendo a corrupção e a impunidade. 4 O FORO ESPECIAL E O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA ISONOMIA Vive-se, hoje, um Estado Democrático de Direito, sob égide de vários princípios constitucionais, os quais podem ser chamados de “pilares do Direito”, pois neles se desmembram os inúmeros institutos jurídicos necessários para a obtenção de normas que estejam de acordo com a vontade soberana do povo. Acerca do assunto, Luís Roberto Barroso (2018, online) discorre: Os princípios dão unidade e harmonia ao sistema, integrando suas diferentes partes e atenuando tensões normativas. De parte isto, servem de guia para o intérprete cuja atuação deve pautar-se pela identificação do princípio maior que rege o tema apreciado[...] Estes os papéis desempenhados pelos princípios: (i) condensar valores (ii) dar unidade ao sistema (iii) condicionar a atividade do intérprete . Saliente-se que, em nossa Carta Magna, mesmo não havendo hierarquia entra as normas constitucionais, verifica-se a termos ideológicos que os preceitos dos direitos fundamentais que estão presentes no artigo 5º são persecutórios aos demais, visto que são dos princípios que fundamenta o legislador, para alinhar suas ideias. Assim, entende-se que, os princípios são de suma importância para a criação de leis, sendo o contrário inadmissível, pois fere a base normativa e o direito inerente do ser. Dentre os mais importantes encontra-se o princípio da isonomia, elencado no caput do artigo 5º de nossa Carta Magna.Segundo esse princípio, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, ou pelo menos assim deveriam ser considerados. Das lições do jurista Ruy Barbosa (apud BULOS, 2009 p. 17), consegue-se tirar o melhor que se pode definir sobre igualdade, com base em lições Aristotélicas: A regra da igualdade não consiste senão em tratar desigualmente os desiguais na medida em que se desigualam. Nesta desigualdade social, proporcional e desigualdade natural, é que se acha a verdadeira lei da igualdade. Os mais são desvarios da inveja, do orgulho ou da loucura. Tratar com desigualdade os iguais, ou os desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real. Os apetites humanos conceberam inverter a norma universal da criação, pretendendo, não dar a cada um, na razão do que vale, mas atribuir os mesmos a todos, como se todos se equivalessem. 10 Adicionando de forma veemente, os entendimentos doutrinários para com o princípio da igualdade, o doutrinador Alexandre de Moraes (2004, online) discorre: A Constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Dessa forma, o que se veda são as diferenciações arbitrárias, as discriminações absurdas, pois, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência do próprio conceito de Justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades, somente se tendo por lesado o princípio constitucional quando o elemento discriminador não se encontra a serviço de uma finalidade acolhida pelo direito... Entende-se que a usabilidade do princípio da isonomia não apenas é a proibição da exclusão, mas também a obrigação da inclusão, assevera Celso Antônio Bandeira de Mello (2012) que, as distinções são validas quando inexiste um vínculo de correlação lógica entre a peculiaridade da diferença acolhida por residir no objeto, desde que não seja incompatível com os interesses da Constituição. Destaca-se que, o princípio isonômico possui dois conteúdos, a igualdade formal e a material. A primeira vislumbra a igualdade perante a lei, que objetiva excluir prerrogativas, isenções pessoais e vantagens de certas classes de pessoas. É chamado de conteúdo negativo da igualdade e se encontra na esfera meramente normativa e formal. A igualdade material, denominada de igualdade real ou substancial, surgiu da insuficiência da formal, adota medidas que igualam todos, que essencialmente são desiguais. Ao verificar os conceitos que, foram expostos pelo princípio da isonomia, em consonância com as prerrogativas de função, as quais podem ser entendidas como um privilégio para as autoridades que os detém, produzindo meios e formas de obtenção de privilégios quando comparados aos cidadãos comuns, poderiam estar infringidos os preceitos fundamentais nos quais se embasam a igualdade perante a lei formal e a aplicação material. Deste modo, resta evidente a discrepância do intitulado jurídico da prerrogativa de função, que a princípio, seria destinado a defender os trabalhos e métodos dos agentes políticos em suas respectivas funções, que acaba se desdobrando e subvertendo em privilégio fático de defesa, não da função, mas do agente precursor. Em nota pública, a Associação Nacional dos Analistas Judiciários da União (2016), publicou o seu ponto de vista acerca do tema, sob a ótica da defesa do princípio constitucional da isonomia. O legislador não poderá editar normas que se afastem do princípio da igualdade, sob pena de flagrante inconstitucionalidade. O intérprete e a autoridade política não podem 11 aplicar as leis e atos normativos aos casos concretos de forma a criar ou aumentar desigualdades. O particular não pode pautar suas condutas em atos discriminatórios, preconceituosos, racistas ou sexistas Fortalecendo esse entendimento, discorre Efraim Filho (2017, online), relator da PEC nº 333/2017: O foro por prerrogativa de função, popularmente chamado de “foro privilegiado”, é verdadeiro resquício aristocrático que ainda permanece na nossa Constituição Federal. Se de um lado há o crescente clamor social pelo combate à corrupção, de outro temos um sistema desigual entre as autoridades e os cidadãos comuns desprovidos de prerrogativas. Essa seletividade só transmite à sociedade uma mensagem: a de impunidade. Desse modo, o fim do “foro privilegiado” afastará não apenas a ideia de blindagem de certas autoridades, especialmente em casos de corrupção, mas resgatará o princípio republicano de que todos são iguais perante a lei. Isto porque o que era para ser exceção virou regra, visto o extenso rol de hipóteses de “foro privilegiado” no Brasil, que confere essa imunidade formal a mais de 45 mil cargos. Portanto, urge a extinção dos critérios, prerrogativas e exceções que impedem que autoridades sejam verdadeira e eficazmente responsabilizadas pelo cometimento de crimes comuns. Assim, esclarecidos de que o pilar da igualdade constitucional é mais importante, resta que a inconstitucionalidade do foro privilegiado está em evidência, tão como a formalidade a qual se manipula tal privilégio, que está em desacordo com as prerrogativas democráticas de uma republica fundamentada na soberania do povo. 5 PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 333/2017 A PEC nº 333/2017, proposta pelo senador Alvaro Adias em 06/06/2017, é a reunião de diversas outras proposições, que tem como objetivo alterar os artigos 5º, 37, 96, 102, 105, 108 e 125 da Constituição Federal para extinguir o foro especial por prerrogativa de função no caso dos crimes comuns, bem como revogar o inciso X do art. 29, que concede o foro especial aos prefeitos, e o § 1º do art. 53 da Constituição Federal, que concede o foro especial aos deputados e senadores. De forma mais específica, pretende a PEC incluir o inciso LIII-A ao art. 5º da Constituição, para vedar expressamente a instituição de foro especial por prerrogativa de função. Ainda, inserir o § 6º-A ao art. 37 do texto constitucional, para estabelecer que a propositura de ação penal contra agentes públicos por crime comum prevenirá a jurisdição do juízo competente para todas as ações posteriormente intentadas que tenham idêntica causa de pedir e objeto. 12 Alterar o inc. III do art. 96 da Constituição, para afastar o foro por prerrogativa de função para o julgamento de crimes comuns praticados por juízes de direito e membros do MP. Modificar o art. 102 da Carta Magna, para afastar o foro por prerrogativa de função para o julgamento de crimes comuns praticados por membros do Congresso Nacional, por ministros do Supremo Tribunal Federal e pelo Procurador-Geral da República, mantendo-se a competência originária do Supremo Tribunal Federal apenas para processar e julgar, nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara dos Deputados, o Presidente do Senado Federal e o Presidente do Supremo Tribunal Federal; Alterar o art. 105 do texto constitucional, para afastar o foro por prerrogativa de função para o julgamento de crimes comuns praticados por governadores dos Estados e do Distrito Federal, por desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, por membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e por membros do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; Modificar o art. 108 da Constituição, para afastar o foro por prerrogativa de função para o julgamento de crimes comuns praticados por juízes federais (incluídosos da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho) e por membros do Ministério Público da União; Alterar o § 1o do art. 125 do texto constitucional, para vedar que as constituições estaduais estabeleçam foro especial por prerrogativa de função para crimes comuns; Por fim, revogar o inciso X do art. 29 (foro especial por prerrogativa de função do prefeito) e o § 1o do art. 53 da Constituição Federal (foro especial por prerrogativa de função dos Deputados e dos Senadores). O relator da matéria no Senado Federal, senador Randolfe Rodrigues (2018) ao proferir seu voto, alegou que: [...] não há razões para a manutenção de qualquer foro por prerrogativa de função: é um imperativo republicano que todos, sem exceção, sejam iguais perante a lei. Essa igualdade já não se esgota na mera aparência formal de textos normativos vazios: as Ruas deram o tom do que se exige quando o assunto é igualdade! Há que se tratar, do Presidente da República ao Prefeito, passando por ministros, parlamentares, juízes e membros do Ministério Público, todos com o igual rigor do Império da Lei. 13 O texto da proposição foi apreciado e aprovado pelo Senado Federal, logo após, encaminhado à Câmara dos Deputados para regular prosseguimento, admitida pela Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania, onde figurou como relator o deputado Efraim Filho, que no mesmo ato designou a criação de uma Comissão Especial para apreciação do mérito matéria e análise da sua conveniência e oportunidade. A Comissão Especial destinada a proferir parecer à PEC 333/2017 foi efetivamente constituída em 03 de maio de 2018, emitindo um parecer favorável, o qual foi publicado no Diário da Câmara dos Deputados em 14/12/2018 pelo Presidência da Câmara, deputado Rodrigo Maia. Desde então a proposta continua esperando a apreciação no plenário. 14 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O foro privilegiado, por prerrogativa de função, é instituto que sempre esteve presente em nosso ordenamento jurídico, que encontra seus fundamentos no próprio princípio republicano, na medida em que busca proteger o adequado e independente desempenho do cargo ou função pública, havendo um fator, a princípio razoável, de discriminação. Destaque-se que, em sua atual aplicação, o foro por prerrogativa de função teve seu ideal de proteção deturpado, utilizado por políticos como uma forma de evasão da justiça, se tornou sinônimo de impunidade, favorecendo de forma direta a corrupção em nosso país. Isso ocorre pois, conforme citado, os tribunais não possuem estrutura o suficiente para processar e julgar a grande quantidade de denúncias, principalmente após a deflagração de grandes operações de combate à corrupção, como a operação “Lava-Jato”, situação que congestiona o sistema judiciário, ocasionando, muitas vezes, na prescrição. Ainda, verifica-se que, esse “privilégio” alcança hoje mais de 55.000 cargos ou funções públicas, desde de vereadores até o Presidente da República, um número estratosférico no direito comparado, visto que em alguns países nem mesmo o Chefe de Estado goza de tal presunção, fato que corrobora com o afogamento dos tribunais pátrios. Por outro lado, denota-se que o foro por prerrogativa de função concede às autoridades um tratamento diferenciado em relação aos cidadãos comuns, ferindo um dos pilares do nosso direito, o princípio constitucional da igualdade. O Combate à corrupção por meio do entendimento inconstitucional do foro privilegiado poderá produzir uma transformação de cunho cultural no Brasil. Com base nesse princípio, na insatisfação pública diante dessa prerrogativa e de todos os problemas já citados, verifica-se que se faz necessário colocar um ponto final em sua aplicação, ou repensá-la, o que seria um grande avanço para todas as instituições do país. Por fim, pelo que foi analisado pode-se concluir que, é preciso um corte nos privilégios de quem já mantém um alto poder social, para que não apenas se diminua à corrupção, mas também, seja alcançada uma igualdade no tratamento dos cidadãos da república. 15 REFERÊNCIAS: AGUIAR, Júlio César de; OLIVEIRA, João Paulo Lacerda. O fim do foro especial por prerrogativa de função. Revista de Informação Legislativa: RIL, v. 55, n. 217, p. 115-134, jan./mar. 2018. Disponível em: encurtador.com.br/bcmDG. Acesso em: 27 jul.2020. BARROSO, Luís Roberto. 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