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Trabalho justiça federal

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS 
DEPARTAMENTO DE DIREITO 
 
 
UM ESTUDO ACERCA DA JUSTIÇA FEDERAL NA REPÚBLICA BRASILEIRA 
SOB O PRISMA DAS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS REPUBLICANAS 
Izabela de Oliveira Trajano1 
 RESUMO 
Esta pesquisa apresenta uma abordagem teórica acerca da Instituição da Justiça Federal, com 
foco na análise das Constituições Federais Republicanas de 1891, 1934, 1967 e na atual Carta 
Magna de 1988. Teve como objetivo, um caráter analítico e de perscrutar a previsão legal dessa 
Instituição, de modo a compreender as disposições jurídicas que regulam sua organização e 
funcionamento, do crescente número de competências a ela atribuídas e da estrutura e 
composição a que a Justiça Federal está submetida. Complementada por estudos bibliográficos, 
doutrinários, legislativos e jurisprudenciais, atendendo aos mecanismos de uso para a 
formulação de uma pesquisa correlata e de relevância para o meio acadêmico jurídico. Almeja 
trazer como resultado do estudo, uma contribuição legítima para os estudos acerca da Instituição 
de Justiça federativa. 
Palavras-chave: Justiça. Federal. Constituição. Estrutura. Organização. Competência. 
ABSTRACT 
This research presents a theoretical approach on the Federal Justice Institution, focusing on the 
analysis of the Republican Federal Constitutions of 1891, 1934, 1946, 1967 and on the current 
Magna Carta of 1988. Its objective is to be analytical and to scrutinize the legal provision of 
this Institution, aiming to understand the legal provisions governing its organization and 
operation, the growing number of competences attributed to it, the structure and composition 
 
1 Aluna do 4º Período do curso de Direito, da Universidade Federal do Maranhão 
2 
 
 
 
to which the Federal Justice is subjected. Complemented by bibliographical, doctrinal, 
legislative and jurisprudential studies, considering the mechanisms of use for the formulation 
of a correlate and relevant research to the legal academic environment. It aims to bring, as a 
result of the study, a legitimate contribution to the studies about the federative Justice 
Institution. 
Key words: Justice. Federal. Constitution. Structure. Organization. Competence. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 O presente trabalho tenciona delinear um panorama geral sobre a Instituição de justiça 
federativa levando em consideração seu contexto histórico, desde a sua criação mediante a 
edição do Decreto 848, de outubro de 1890, até sua regulamentação atual pela Constituição de 
1988 e com as Emendas Constitucionais promulgadas. Objetiva abordar desde seu percurso 
histórico até regulamentação contemporânea, traçando um breve apontamento acerca das suas 
competências determinadas pelo Art. 109 da Carta Maior vigente, assim como perspectivas 
futuras para a Instituição. 
A pesquisa envolverá conhecimentos teóricos e doutrinários visando elevar o 
acervo intelectual relativo ao tema tratado. Desse modo, objetiva oferecer a possibilidade de 
uma compreensão mais aprofundada desse assunto. Portanto, tendo como foco a Justiça no 
âmbito federativo, busca-se entender de que forma a Justiça Federal se constituiu ao longo das 
décadas por intermédio de diversos dispositivos legais e como ela é regulada atualmente. Dessa 
forma, com a utilização dessa abordagem teórica, visa-se servir de apoio complementar aos 
estudos voltados ao ordenamento jurídico brasileiro e as Instituições de Justiça. 
 
2 HISTÓRICO DA INSTITUIÇÃO NAS CONSTITUIÇÕES REPUBLICANAS DO 
BRASIL 
 
 A respeito da instituição abordada, Velloso (1995) alui que a Justiça Federal no Brasil 
nasceu conjuntamente com a República. Foi com a abertura firmada com o regime federativo 
que houve a introdução do sistema dual de justiça formado pelos órgãos judiciários a nível 
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federal e estadual, cada um coexistindo com suas respectivas organizações internas e 
competências próprias. 
 Vidigal de Oliveira (2017) aborda o histórico da Instituição em sua obra “Justiça 
Federal: evolução histórico-legislativa A trajetória em seus 50 anos”. De acordo com o autor, a 
Justiça Federal teve início com o revogado Decreto 848, de 11 de outubro de 1890, durante o 
Governo Provisório no início da instauração do Estado Republicano. Tratava da criação, 
organização, composição e competência da Justiça Federal, instituindo em seu Art. 1° que “A 
Justiça Federal será exercida por um Supremo Tribunal Federal e por juízes inferiores 
intitulados- Juízes de Secção.”. Outrossim, também era composta por juízes substitutos de livre 
nomeação pelo Presidente da República após aprovação pelo Senado, os quais cumpriam 
mandatos de seis anos. 
 Velloso (1995) e Oliveira (1996) ilustram que um papel novo e imprescindível 
atribuída ao Poder Judiciário pelo Decreto 848 foi a função de guardião da constitucionalidade 
das leis e dos direitos individuais, ainda que interpostos contra atos dos demais poderes da 
República. 
 O mesmo dispositivo também estabelecia as prerrogativas dos magistrados 
federais, determinando que estes seriam vitalícios e inamovíveis, prerrogativas também 
seguidas pela atual Constituição de 1988. Importa destacar que essas prerrogativas não se 
aplicavam aos juízes substitutos, visto que possuíam mandatos de apenas seis anos. Tal decreto 
também inaugurou uma série de princípios que atualmente regem o Judiciário, tais como o 
princípio da inércia, ao especificar em seu Art. 3° que “Na guarda e applicação da Constituição 
e das leisnacionaes a magistratura federal só intervirá em especie e por provocação de parte.” e 
o princípio do Juiz Natural em seu Art. 8°, ao prescrever que “O Tribunal decidirá as 
questões affectas á sua competencia, ora em primeira e única instancia, ora em segunda 
e última, conforme a natureza ou o valor da causa.” 
 Destarte, a respeito do sistema judiciário anteriormente vigente, lembra Vidigal 
(2017): 
“Até então, e ainda sob a égide da Constituição Política do Império do Brasil, de 
25/03/1824, o Poder Judiciário nacional identificava-se como Poder Judicial e tinha 
sua estrutura formada pelos juízes de Direito e jurados, na 1ª instância, pelas 
“Relações” em cada uma das províncias, como órgãos de 2ª instância, e pelo Supremo 
Tribunal de Justiça, como órgão de cúpula do Poder Judicial.” (VIDIGAL, 2017). 
 
 Ademais, elucida o jurista que a criação da Justiça Federal inspirou-se tanto na Justiça 
Federal norte-americana de 1789, no âmbito da organização e do alcance jurisdicional, quanto 
na Justiça Federal da Suíça de 1874 no âmbito da delimitação do campo de atuação, além de 
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ter sido guiada pela Justiça Federal da “Confederação da Argentina”, especialmente no que 
tange à sua lei de organização judiciária de 1883. 
 Assim, determinava o Decreto que a Justiça Federal de primeira instância seria exercida 
por juízes de secção, juízes substitutos e juízes ad hoc, os quais eram de livre nomeação pelo 
presidente da República. Em segunda (e última) instância, a Justiça Federal seria exercida pelo 
Supremo Tribunal Federal, o qual também era dotado por membros de livre nomeação pelo 
Presidente da República, após a aprovação do Senado, e contava com 15 juízes. Cabe ressaltar 
que ao todo a Justiça Federal era composta por 21 seções, sendo formada uma seção em cada 
Estado e uma no Distrito Federal. 
 Tal molde de Sistema Judiciário instituído pelo Decreto supracitado foi posteriormente 
amparado pela promulgação da Constituição Republicana, em 1891. Relembra Oliveira (2017) 
que a Constituição Federal de 1891 não incluiu alterações consideráveis em relação à 
organização da Justiça Federal, apenas acrescentou, dentre as competências do Supremo 
Tribunal Federal, a de processar e julgar os ministros de Estado, nos crimes comuns e nos deresponsabilidade, quando não fossem de competência do Senado (art. 59, I, a), e criou os 
tribunais federais, sem delimitar o seu campo de atuação, determinando que caberia ao 
Congresso deliberar sobre sua criação (art. 55) (OLIVEIRA, 2017). 
 Em seguida, a Lei 221 de 1894 veio complementar a organização da Instituição. A 
partir desse documento legal houve a criação, em substituição ao juiz ad hoc, dos cargos de juiz 
suplente do substituto do juiz seccional (Art.2°), em número de 3 juízes suplentes na sede do 
juiz seccional (Art. 3°), e, fora da sede, de acordo com a iniciativa do juiz seccional e criação 
por decreto do Governo Federal (Art. 3°, § 1º). 
 Outrossim, houve também uma ampliação nas competências do Supremo Tribunal 
Federal, assim como dos juízes seccionais, e do Júri Federal. O Art. 13° da referida Lei dispôs 
a competência e função da Justiça Federal, especificando que aos juízes e tribunais federais 
cabe o processo e julgamento das causas “que se fundarem na lesão de direitos individuais por 
atos ou decisões das autoridades administrativas da União”. 
 A respeito dessa competência, deslinda o Juíz Federal Fernando Moreira Gonçalves 
(2014) em fala pela Revista Consultor Jurídico que: 
 
 “Essa ação, denominada de sumária especial ou de nulidade de ato administrativo, é 
considerada a precursora do Mandado de Segurança entre nós e ressalta a vocação, 
desde o nascimento, do Judiciário federal para a proteção de direitos e garantias 
individuais.” (GONÇALVES, Fernando Moreira, 2014). 
 
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 Em seguida, o magistrado também ensina que a Constituição de 1934 trouxe avanços 
não somente no âmbito do sufrágio universal, com o estabelecimento do direito de voto às 
mulheres, mas também na esfera do Judiciário, com a criação da Justiça Eleitoral, o 
aperfeiçoamento da repartição de competência entre a Justiça Federal e a dos Estados, além de 
ter conferido status constitucional ao mandado de segurança. Sadek (1995) e Almeida (1992) 
realçam também a modificação relativa ao anterior modelo de pluralismo processual, o qual foi 
substituído pela instituição da unidade do processo, mas sem alterar o dualismo da Justiça entre 
a federal e a estadual. Oliveira (1996) acrescenta que essa Constituição também impôs a 
criação, por lei específica, dos tribunais federais, cuja competência era restrita a julgar revisões 
criminais dos conflitos de jurisdição, afetos a causas de competência dos juízes federais 
 Contudo, em 1937 houve a extinção da Justiça Federal no ínterim do chamado 
Estado Novo. Por meio de um golpe, Getúlio Vargas decretou o fechamento do Congresso 
Nacional e outorgou uma nova Constituição. Por meio de tal Carta, o Judiciário passou a 
constituir-se apenas pelo Supremo Tribunal Federal, Pela Justiça Estadual e pela Justiça Militar. 
Assim, restou somente a previsão constitucional da segunda instância da Justiça Federal, sendo 
a jurisdição da primeira instância exercidas no âmbito da Justiça Estadual, composta pelos 
juízes de Direito da Capital dos estados e do Distrito Federal. Sadek (1995) e Velloso (1995) 
explicam que a competência para processar e julgar as causas de interesse da União foi 
deslocada para a esfera da Justiça Estadual, cabendo ao Supremo Tribunal Federal julgar tais 
causas em recurso ordinário. 
 A Constituição de 1946 revogou a extinção da Justiça Federal, entretanto, apenas 
a 2° instância foi recriada. A jurisdição de 1° instância anteriormente de alçada federal 
permaneceu sendo exercida pela Justiça Estadual. A 2° instância, por sua vez, era constituída 
pelo Tribunal Federal de Recursos, o qual era composto de 9 juízes e era parte integrante do 
Poder Judiciário Nacional em conjunto com o STF, a Justiça Militar, a Justiça Eleitoral e a 
Justiça de Trabalho. Eram competências desse Tribunal os recursos cabíveis nas causas de 
interesse da União, as decisões denegatórias de habeas corpus proferidas por juízes locais, 
dentre outras. Essa Constituição também previu a possibilidade de criação de tribunais federais 
de recursos em outras regiões, através de lei ordinária mediante proposta do Tribunal Federal 
de Recursos. 
 Foi a partir da promulgação do Ato Institucional 2, em 1965, que a primeira instância da 
Justiça Federal tornou a ter previsão legal. Na mesma norma também se suspendeu as garantias 
constitucionais de vitaliciedade e inamovibilidade dos juízes, sendo previsto em seu Art. 14, 
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parágrafo único, a possibilidade de os magistrados serem demitidos, removidos, postos em 
disponibilidade ou aposentados de acordo com os interesses e objetivos do governo militar. 
Sob essa perspectiva, Moreira Gonçalves (2014) atenta para o fato de que tanto a extinção dessa 
Instituição em 1937 quanto sua recriação em 1965 estão associadas a atos de força de governos 
autoritários. 
 Com a edição da Lei. 5.010, em 30 de maio de 1966, teve-se a organização da Justiça 
Federal de primeira instância. Foi-se estabelecido a competência dos Juízes Federais e Juízes 
Federais Substitutos, com a colaboração dos órgãos auxiliares instituídos em lei e pela forma 
nela estabelecida (Art. 1°). Houve o agrupamento da jurisdição federal de primeira instância 
em cinco Regiões Judiciárias: Centro-Oeste, Norte, Nordeste, Leste e Sul. O Art. 3° dessa 
legislação também definiu que “Cada um dos Estados e Territórios, bem como o Distrito 
Federal, constituirá uma Seção Judiciária, tendo por sede a respectiva Capital.”, enquanto o 
Capítulo II da referida norma instituiu a criação do Conselho da Justiça Federal, composto pelo 
presidente, vice-presidente e 3 ministros do Tribunal Federal, eleitos por dois anos, tratando o 
Art. 6° e Art. 7° das competências desse órgão. Ademais, outra importante mudança no âmbito 
da organização judiciária federal foi a criação do cargo de juiz federal substituto. O legislador 
inovou ao estabelecer que estes seriam providos por meio de concurso público, dentre 
candidatos com idade entre 28 a 50 anos e que detinham mais de 4 anos de prática na área 
jurídica. Através disso, abriu-se as portas para a entrada na magistratura federal passar a reger-
se por critérios não-políticos. 
Esse modelo de estrutura judiciária também foi seguido pela posterior Constituição 
Federal de 1967, cuja inovação pautou-se apenas em determinar a ampliação da quantidade de 
Tribunais Federais de Recursos, delimitando um em Pernambuco e outro em São Paulo. O 
número mínimo de ministros desses Tribunais deveria ser fixado por lei complementar, 
devendo ser inferior ao número de ministros do Tribunal de Brasília. Seguindo a abertura 
proposta pela Lei 5.010/66, o critério para o preenchimento de cargos de juiz federal passou a 
ser reservado por concurso público, havendo a exigência de idade mínima em 30 anos. Foi 
estabelecido pela Emenda Constitucional n. 7, de 1977, a ampliação da composição do Tribunal 
de Recursos, o qual de 13 ministros passou a ser composto por 27, sendo feito o provimento 
desses cargos pelos seguintes critérios: 15 deles por promoção de juízes federais, 4 dentre 
membros do Ministério Público Federal, 4 advogados e os restante divididos entre magistrados 
ou membros do Ministério Público dos Estados e do Distrito Federal. 
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Após a Constituição Federal de 1967, a Justiça Federal passou a ser regida pela atual 
Constituição de 1988. Por intermédio de tal Carta Magna, houve, dentre outras mudanças, a 
criação do Superior Tribunal de Justiça, visando absorver parte das competências do Supremo 
Tribunal Federal, objetivando descongestionar tal órgão, e também assumir as funções do 
Tribunal Federal de Recursos, o qual fora extinto. Outra inovação no campo da organização 
judiciária foi a integração do Conselho de Justiça Federal ao Superior Tribunal de Justiça (Art. 
105, parágrafo único,II), sendo responsável pela supervisão administrativa e orçamentária da 
Justiça Federal de primeiro e segundo graus. A previsão da Justiça Federal na Carta Maior de 
1988 será mais detalhada no tópico subsequente. 
 
3 PREVISÃO E ESTRUTURA NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA 
DO BRASIL 
 
Almeida (1992, p. 33) elucida que a Constituição de 1988 deu continuidade ao 
mecanismo de unidade processual, alterando apenas a competência dos estados para 
legislarem sobre procedimentos em matéria processual, que passou a ser concorrente. O autor 
também aponta sobre a criação dos juizados especiais de pequenas causas, medida 
imprescindível para o desafogamento judicial. 
Em 1989 foram instalados os Tribunais Regionais Federais como segunda instância da 
Justiça Federal, substituindo o anterior Tribunal Federal de Recursos. Por meio da Resolução 
n.1 de 1988 do Tribunal Federal de Recursos foram estabelecidas as jurisdição e sede desses 
Tribunais, as quais foram divididas em 5 Regiões. 
Assim, estabelece a Constituição Federal, em seu Art. 106, que a Justiça Federal é uma 
Instituição do Sistema de Justiça estruturada em dois graus de jurisdição, sendo eles os 
Tribunais Regionais Federais e os Juízes Federais. Acerca da estruturação de tais órgãos, 
determina o Art. 107 que os Tribunais Regionais Federais são compostos pelo número mínimo 
de sete juízes, devendo estes serem brasileiros natos ou naturalizados com mais de trinta e 
menos de sessenta e cinco anos, sendo nomeados pelo Presidente da República. 
Os incisos I e II do Art. 107 definem os sistemas para seleção de tais juízes, sendo um 
quinto das vagas reservadas “dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade 
profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira.”, 
8 
 
 
 
seguindo a regra do “quinto constitucional” observada no Art. 94 da Constituição Federal, 
segundo o qual: 
“Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, 
e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, 
com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de 
reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados 
em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.” (BRASIL, 
1988) 
 
As demais vagas são destinadas aos juízes federais com mais de cinco anos de exercício, 
seguindo alternadamente os critérios de antiguidade e merecimento. 
A respeito da organização da primeira instância da Justiça Federal, determina o Art. 110 
que “cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma seção judiciária que terá por 
sede a respectiva Capital, e varas localizadas segundo o estabelecido em lei.”. Acrescenta, 
ainda, o parágrafo único do dispositivo legal supracitado que “nos Territórios Federais, a 
jurisdição e as atribuições cometidas aos juízes federais caberão aos juízes da justiça local, na 
forma da lei.” 
Destarte, Avena (2019) explica que são órgãos de primeira instância os Juízes Federais 
que oficial nas respectivas varas, as quais são distribuídas em subseções judiciárias. Tais 
subseções judiciárias correspondem às cidades-sede da Justiça Federal, sendo partes integrantes 
das seções judiciárias localizadas em cada Estado e Distrito Federal. Dentro das hipóteses 
previstas, cabe recurso ao Tribunal Regional Federal da localidade, assim como em casos 
previstos há a possibilidade de recurso das decisões desse Tribunal para o Supremo Tribunal de 
Justiça e para o Supremo Tribunal Federal. 
Nesse sentido, Avena (2019) evidencia que nem todas as Comarcas são sede da Justiça 
Federal. Contudo, tal circunstância não implica que crimes de competência da Justiça Federal 
serão julgados pela Justiça Estadual. A competência permanece no âmbito da federal. O autor 
elucida esse fato exemplificando que um crime federal ocorrido no município de Piratini, no 
Rio Grande do Sul, será processado e julgado perante a Subseção Judiciária localizada 
na cidade de Pelotas. Assim, observa Avena que é definido pelos Regimentos Internos e 
provimentos editados pelo respectivo Tribunal Regional Federal a definição da Subseção 
Judiciária Federal a que se vincula o município onde ocorreu o crime. 
As competências dos Tribunais Regionais Federais são elencadas pela Constituição 
Federal. A respeito do tema, Moraes (2017, p. 403) elucida que “A competência da Justiça 
Federal vem taxativamente prevista na constituição. Dessa forma, conclui-se que a competência 
da Justiça comum é subsidiária.” De acordo com o Art. 109 da Carta Magna, cabe aos Tribunais 
Regionais Federais: 
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I - processar e julgar, originariamente: 
a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e 
da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do 
Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; 
b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes 
federais da região; 
c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal 
ou de juiz federal; 
d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal; 
e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; 
II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos 
juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua 
jurisdição. (BRASIL, 1988). 
 
 Destarte, importa ressaltar que se enquadram nas competências dos TRF’s o foro 
de prerrogativa dos juízes federais da área de sua jurisdição, tratando-se de crimes comuns e de 
responsabilidade, e também o foro de prerrogativa dos membros do Ministério Público da 
União. Ademais, lembra Moraes (2017, p. 404), que “em grau recursal, os Tribunais Regionais 
Federais têm competência para o julgamento das causas decididas pelos juízes federais e pelos 
juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.” 
Quanto à competência dos juízes federais, primeiro grau de jurisdição da Justiça 
Federal, determina o Art. 109 que aos juízes federais compete processar e julgar: 
 
I. as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal 
forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de 
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do 
Trabalho; 
II. as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou 
pessoa domiciliada ou residente no País; 
III. as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou 
organismo internacional; 
IV. os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, 
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, 
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça 
Eleitoral; 
V. os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a 
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou 
reciprocamente; 
VI. as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; 
VII. os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, 
contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; 
VIII. os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o 
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a 
outra jurisdição; 
IX. os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, 
excetuados os casos de competência dos tribunais federais; 
X. os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência 
da Justiça Militar; 
XI. os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de 
carta rogatória, após o "exequatur", e desentença estrangeira, após a homologação, as 
causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; 
XII. a disputa sobre direitos indígenas. (BRASIL, 1988). 
 
10 
 
 
 
 
Nesse sentido, Moraes (2017) faz um realce acerca da competência nas causas que se 
referem a disputa sobre direitos indígenas, mencionando que engloba inclusive a ação penal 
relacionada com o tipo genocídio quando praticado contra indígenas no contexto de disputa de 
terras. Assim, o autor relembra a fala do STF: 
 
“confere competência à Justiça Federal para processar e julgar a disputa sobre 
direitos indígenas, os quais são aqueles indicados no art. 231 da Constituição, 
abrangendo os elementos da cultura e os direitos sobre terras, não alcançando delitos 
isolados praticados sem qualquer envolvimento com a comunidade indígena”. 
 
Moraes (2017) ainda alui para a competência da justiça federal para processar e julgar 
ações nas quais a Ordem dos Advogados do Brasil esteja inserida na relação processual, seja 
no caso do conselho federal ou no seccional. Destarte, menciona o entendimento do STF sobre 
como a “OAB seria, portanto, autarquia corporativista, o que atrairia, a teor do art. 109, I, da 
CF, a competência da justiça federal para o exame de ações — de qualquer natureza — nas 
quais ela integrasse a relação processual”. 
Nessa óptica, cabe introduzir os destaques feitos por Avena (2019) acerca do Art. 109 
da Constituição Federal. Em uma análise do Art. 109, IV, o autor destaca que a Carta Magna 
excluiu do rol de competências dos Juízes Federais o processo e julgamento das contravenções 
penais. Dessa forma, menciona o jurista a Súmula 38 do STJ, a qual dita que 
“compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo 
por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da 
União ou de suas entidades”. Assim, o autor explica que no caso de haver um crime de 
competência federal conexo com uma contravenção penal, deverá ser feita uma cisão 
processual, sendo cada infração julgada na alçada da justiça competente a ela relacionada. 
Acerca do inciso V-A do Art. 109, inserido pela Emenda Constitucional 45/2004, atenta 
Avena (2019) que o legislador constituinte preferiu não especificar o rol dos crimes que se 
tornariam alçada da Justiça Federal, tendo em vista a amplitude da expressão “direitos 
humanos”. Sob essa perspectiva, infere-se que o deslocamento de competência promovido pela 
EC 45/2004 pressupõe uma “análise de cada situação de fato, 
de suas circunstâncias e de suas peculiaridades.” (AVENA, 2019). A respeito do 
entendimento jurisprudencial, vem o STJ entendendo que para tal delito ser caracterizado deve 
se atender ao princípio da proporcionalidade, através da demonstração concreta de risco de 
descumprimento das obrigações adquiridas em tratados internacionais ratificados pelo Brasil 
(STJ, CC 47.455/PA, DJ 22.11.2007.). 
11 
 
 
 
Avena também disserta sobre o inciso VI, o qual aborda a competência jurisdicional 
federal para crimes contra a organização do trabalho. Explica o jurista sobre o entendimento 
jurisprudencial pacífico no sentido de que é necessário a efetiva lesão aos direitos dos 
trabalhadores considerados no âmbito da coletividade para inserir-se a competência federal, 
uma vez que o processo e julgamento da lesão a direito individual cabe à Justiça Estadual. 
Moraes (2017) destaca o foro das causas de interesse da União (CF, art. 109, §§ 1º e 2º). 
Cita o § 1º que “As causas em que a União for autora serão aforadas na seção judiciária onde 
tiver domicílio a outra parte.”, e o § 2º que as “causas intentadas contra a União poderão ser 
aforadas na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela onde houver ocorrido o 
ato ou fato que deu origem à demanda ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito 
Federal.”. Também, o § 3° da Carta Magna elenca a possibilidade de processo e julgamento na 
Justiça Estadual nas causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, no 
foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, na hipótese de a comarca do segurado não 
ser sede de vara federal. 
Outrossim, importa destacar a determinação imposta pela Súmula Vinculante 36 do 
Supremo Tribunal Federal acerca da competência da Justiça Federal comum para processar e 
julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se 
tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação 
de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil. 
Assim, pode-se perceber com as informações apresentadas anteriormente que a 
Constituição Federal de 1988 destaca-se pela ampliação da atuação e independência do Poder 
Judiciário. Como aduz Sadek (1995), passou a caber quase exclusivamente à organização o 
recrutamento de seus membros, diminuindo-se a influência de setores externos (SADEK, 
1995). A respeito da Justiça Federal, percebe-se que esta passou a ser mais regionalizada e 
descentralizada, especialmente no que tange à segunda instância, com o estabelecimento das 
cinco regiões do Tribunal Regional Federal, o qual foi dotado de mais autonomia que o anterior 
Tribunal Federal de Recursos. 
 
4 MUDANÇAS POR EMENDAS CONSTITUCIONAIS E PERSPECTIVAS DA 
INSTITUIÇÃO PARA O FUTURO 
 
Em 30 de dezembro de 2004 foi promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e 
do Senado Federal a Emenda Constitucional 45. Por intermédio da emenda ao texto 
12 
 
 
 
constitucional supracitada, houve uma Reforma do Judiciário, indispensável para a adequação 
da ordem jurídica à realidade brasileira. A respeito do tema, Pedro Lenza (2019) ensina, com 
base no Art. 107, § 1º e 2° da CF: 
 
“Em busca da efetividade do processo e do acesso à ordem jurídica justa, a Reforma 
do Judiciário (EC n. 45/2004) previu a instalação da Justiça itinerante e 
descentralização, nos termos dos §§ 2.º e 3.º do art. 107: os TRFs instalarão a Justiça 
itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, 
nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos 
e comunitários; os TRFs poderão funcionar descentralizadamente, constituindo 
Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à Justiça em 
todas as fases do processo.” (LENZA, 2019). 
 
Destaca-se, também, a ampliação da competência do Justiça de Trabalho, a alteração no 
Art. 93, I, com o acréscimo da exigência do bacharelado em direito para ingresso na carreira de 
magistrado e o mínimo de três anos de atividade jurídica, assim como do inciso II do mesmo 
artigo, o qual impôs a participação de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e 
promoção de magistrados como etapa obrigatória do processo de vitaliciamento. Com a 
mudança, a garantia constitucional da vitaliciedade só será adquirida pelo Juiz de primeiro grau 
após dois anos de exercício do cargo e participação em curso oficial ou reconhecido pela escola 
nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados. 
Sob essa perspectiva, vale mencionar a mudança no Art. 105, parágrafo único, que 
passou a ser regido por dois incisos: o primeiro versando sobre a integração da Escola Nacional 
de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados ao Superior Tribunal de Justiça, cuja função 
precípua é a de regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção na carreira, e o 
segundo versando sobre o Conselho da Justiça Federal, o qual já era parte integrante do STJ na 
redação original da Constituição Federal de 1988, mas com a redação da Emenda Constitucional 
n. 45/2004 passou a ser órgão central da Justiça Federal, com poderes correicionais e decisões 
de caráter vinculante. 
Moraes (2017) sublinha a ampliação da competência penal da Justiça Federal no que 
tange à proteção dos DireitosFundamentais. Em prol da maior eficácia da proteção dos Direitos 
Humanos Fundamentais, a EC 45/05 estendeu a competência da Justiça Federal, prevendo a 
possibilidade do Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento 
de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja 
parte, suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou 
processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal (CF, art. 109, § 
5º). 
13 
 
 
 
Para elucidar a inovação, Moraes (2017) citou o caso do IDC n° 02, envolvendo o 
homicídio de um vereador reconhecido como defensor dos Direitos Humanos e autor de 
inúmeras denúncias contra a atuação de grupos de extermínio na fronteira dos Estados da 
Paraíba e Pernambuco. Considerando esse contexto e a previsão na EC 45/2004, o Superior 
Tribunal de Justiça, em outubro de 2010, após pedido do Procurador-Geral da República, 
deslocou a competência para apuração dos fatos para a Justiça Federal. 
Moraes (2017) também recorda o instituto do Incidente de Deslocamento de 
Competência, durante esse período, foi utilizado cinco vezes pelo Superior Tribunal de Justiça, 
enfatizando ainda que: 
“em duas oportunidades houve o deslocamento de competência, levando-se sempre 
em conta a necessidade da presença de três requisitos essenciais: (a) grave violação a 
direitos humanos; (b) risco de responsabilização internacional pelo descumprimento 
de obrigações derivadas de tratados internacionais, e (c) notória incapacidade das 
instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas.” (MORAES, 2017). 
 
 Avena (2019) explica que a mudança legislativa se deu pelo entendimento de que, 
uma vez tendo o Brasil ratificado 
tratados internacionais que coíbem os delitos contra os direitos humanos, cabe à 
própria União Federal a responsabilidade pela sua apuração e repressão. O autor também 
discorre sobre como caracterizar determinado delito como 
atentatório ou não aos direitos humanos. 
 
Ademais, uma importância tentativa de modificação em prol da descentralização e 
regionalização da Justiça Federal deu-se com a Emenda Constitucional n. 73/2013, a qual 
inseriu o § 11 ao Art. 27 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, o qual dispôs: 
 
§ 11. São criados, ainda, os seguintes Tribunais Regionais Federais: o da 6ª Região, 
com sede em Curitiba, Estado do Paraná, e jurisdição nos Estados do Paraná, Santa 
Catarina e Mato Grosso do Sul; o da 7ª Região, com sede em Belo Horizonte, Estado 
de Minas Gerais, e jurisdição no Estado de Minas Gerais; o da 8ª Região, com sede 
em Salvador, Estado da Bahia, e jurisdição nos Estados da Bahia e Sergipe; e o da 9ª 
Região, com sede em Manaus, Estado do Amazonas, e jurisdição nos Estados do 
Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. (BRASIL, 2013). 
 
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal, por intermédio da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade 5.017 concedeu liminar suspendendo a criação dos Tribunais Regionais 
Federais da 6°, 7°, 8° e 9° Região. Uma das justificativas para a concessão da liminar, na fala 
do então ministro Joaquim Barbosa, foi a de que a iniciativa de criação das cortes deveria partir 
do Judiciário, como prevê a Constituição. 
Moraes (2017) também salienta a inovação promovida pela Emenda Constitucional n° 
95, de 15 de dezembro de 2016. Tal reforma ao texto constitucional principiou um novo regime 
no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União, distribuindo limites 
14 
 
 
 
individualizados para as despesas primárias de diversas Instituições da Justiça, dentre elas, a 
Justiça Federal. 
Relativamente a evolução e perspectivas para o futuro, é notável o enorme avanço no 
âmbito da autonomia institucional oferecido pela Constituição de 1988 à Justiça Federal. 
Conforme elucida Sadek (2004), como consequência deste novo modelo a anteriormente 
acanhada atuação da Justiça Federal, com um pequeno rol de competências constitucionalmente 
estabelecidas, além da centralização marcante, foi substituída por um modelo descentralizado 
e mais regionalizado, o qual acarretou em uma considerável onda de intervenção dessa 
Instituição nas mais variadas áreas de política pública. 
 Além disso, constata Sadek (2004) que é apreciável o movimento processual da Justiça 
Federal. Tais resultados obtidos são um reflexo direto das inovações na estrutura da Justiça 
Federal inauguradas pela Constituição de 1988. Destarte, Sadek (2004) observa tanto o número 
de processos distribuídos no 1° grau quanto o de julgados aumentou mais de 5 vezes de 1989 a 
2002. 
Luís Roberto Barroso (2009) atentou para uma judicialização da vida nas últimas 
décadas, constatando serem três os principais fatores correlacionados com essa circunstância 
nova: a redemocratização, a constitucionalização abrangente e a amplitude do sistema de 
controle de constitucionalidade. 
Também cabe ressaltar, como observa Baumbach (2013) que a expansão do sistema 
judicial não foi conduzida apenas no Brasil com o advento da Carta Magna de 1988, em verdade 
tratou-se de uma tendência observada internacionalmente desde o fim da década de 80. Ainda 
alui o autor: 
“Muito já se avançou na reforma do Poder Judiciário. Com a Constituição de 1988 e, 
especialmente, a partir da Emenda Constitucional no 45/2004, a Justiça se 
democratizou, aproximou-se do cidadão, adotou práticas afinadas com a ciência da 
Administração, passou a apurar com certa eficácia os deslizes cometidos pelos seus 
membros, baniu o nepotismo. O mais importante de tudo, tornou-se consciente das 
próprias deficiências e se dispôs a arrostar os desafios, que continuam numerosos. 
(BAUMBACH, 2013).” 
 
Destarte, como elucidado pelo autor, a tendência da Justiça Federal, conforme 
observado com a evolução desde a primeira vez em que foi regulada por um dispositivo legal, 
a mencionar o revogado Decreto 848, é sanar suas deficiências e ampliar sua capacidade 
solucionar litígios e demandas de maneira justa e célere, respeitando-se o devido processo legal 
e contraditório. Baumbach (2013) também realça que diversas iniciativas propostas já vêm 
remediando as enfermidades desse órgão jurisdicional, tais como a implantação da súmula 
vinculante e a repercussão geral. 
15 
 
 
 
Cabe sublinhar ainda as propostas que tem como parâmetro a democratização do Poder 
Judiciário, apontadas por Sadek (2004). Respectiva à abertura das portas do Poder Judiciário 
para os setores menos abastados economicamente, sobressai-se a criação dos novos Juizados 
Especiais, os quais foram implantados pela Justiça Federal e iniciaram suas operações em 2002, 
voltados especialmente para causas previdenciárias. Sobreleva-se também os Juizados 
Especiais voltados para causas de menor complexidade e para crimes de menor potencial 
ofensivo, visando ambos uma maior celeridade dos processos a que se referem sua jurisdição. 
Outrossim, a autora deslinda que devem-se somar ações objetivas que estabeleçam parâmetros 
mais flexíveis para a modelagem dos processos decisórios às atividades voltadas para a 
desburocratização e simplificação 
Sob essa óptica, a Justiça Federal destaca-se pela perspectiva positiva para o futuro no 
âmbito da tão necessária reforma da Justiça. Os recursos empregados e as evoluções vistas 
através da análise das Constituições anteriores e da atual demonstram que essa Instituição se 
mantém no caminho certo para a manutenção da eficácia do Estado de Direito, especialmente 
no que tange à concretização dos direitos fundamentais declarados na Constituição, como bem 
referido por Baumbach (2013). 
 
7 CONCLUSÃO 
 
O presente trabalho desenvolvido buscou analisar a Instituição de Justiça do âmbito 
Federal. Orientou-se para elucidar acerca do percurso histórico, composição, elementos, 
organização, estrutura e competências daJustiça Federal. Sumariamente, pôde conceituar a 
Instituição abordada, com base no Art. 106 da Carta Maior de 1988, que se trata de um órgão 
do Sistema de Justiça estruturado em dois graus de jurisdição, sendo eles os Tribunais Regionais 
Federais e os Juízes Federais. 
Destarte, tal estudo produzido tencionou demonstrar o que é, como surgiu, quais as 
competências, como se estrutura e se organiza e quais dispositivos regem e já regeram a Justiça 
Federal. Ensejou também que a análise da legislação e dos entendimentos doutrinários 
tangentes ao assunto contribua para uma melhor percepção acerca desse instituto e da sua 
aplicação no cenário atual do Sistema Judiciário brasileiro. Assim, verificou que entender as 
normas que conduzem o judiciário brasileiro federativo é de suma importância, considerando a 
16 
 
 
 
histórica e ainda existente evolução no fluxo jurisdicional no país e a necessidade de normas 
que regulem este instituto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
 
 
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