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1 anemia megaloblástica Como um problema gástrico pode desencadear outros inúmeros sintomas. CASO CLÍNICO: mulher, 42 anos, relata fraqueza progressiva de MMII iniciado há cerca de 2 anos, associado a queda do estado geral, astenia, perda ponderal e palidez cutâneo-mucosa. Na admissão, encontrava-se em REG, consciente e orientada, mucosas hipocoradas, sem alterações na ausculta cardiopulmonar. EXAMES COMPLEMENTARES: Hb = 10,7g/dL; Ht = 33,4%; VCM = 110,1 fl (macrocitose); CHCM = 32,1%; RDW = 16,9%; Leucócitos = 4.410/mm3; Plaquetas = 81.900/mm3; Vitamina B12 diminuída. Sorologias para HIV, Hepatite B e C, HTLV, VDRL não reagentes. LCR dentro dos padrões de normalidade. EDA: gastrite intensa, com atrofia de mucosa intensa (células parietais perdem sua função, dentre elas a secreção de FI), inflamação crônica, Helicobacter positivo. HD: Anemia perniciosa/megaloblástica por gastrite autoimune. Caracterizada pela síntese defeituosa de DNA; divisão celular lenta em contraste com o crescimento citoplasmático (assincronia da maturação do núcleo em relação ao citoplasma). Apresentando hemácias grandes e núcleos pequenos. Anemia de padrão macrocítico (VCM elevado). P r e c u r s o r e s e r i t r o p o i é t i c o s g r a n d e s (megaloblastose), as células precursoras mandam para circulação hemácias imaturas e que podem ser grandes também. Eritropoiese ineficaz. Dentre as CAUSAS principais incluem deficiência da vitamina B12 pela falta de faltar intrínseco (dieta inadequada, má absorção — gastrectomia, anormalidades do metabolismo de vitamina B12). FISIOLOGIA DA VITAMINA B12: fonte dietética é de origem animal (carnes, ovos e laticínios — cuidado com pacientes em dietas veganas), com necessidade diária mínima de 2,5 mcg (2,5UI)/dia e quantidade corporal/estoque de 2000 - 4000 mcg que duram em média de 3 anos ou mais. O fator intrínseco (FI) é uma glicoproteína secretada pela célula parietal, se associa a vitamina B12 e é absorvido no íleo terminal (se não há FI, a vitamina passa pelo TGI sem ser absorvida). Quando há uma agressão intensa por células autoimune contra as células parietais do corpo/fundo gástrico, haverá menos células parietais e consequentemente menos FI (deficiência de vitamina B12 — utiliza os estoques). Pela falta de B12/ácido fólico NÃO haverá síntese de timina, os cromossomos não se duplicam, impedindo a divisão celular (divisão celular defeituosa) E à medida que as células vermelhas vão sendo re t i radas da c i rcu lação por ultrapassarem a vida média, não ocorre reposição de hemácias e haverá consequente anemia se proporcional ao déficit de vitamina B12. DIAGNÓSTICO : VCM alto (macrocitose), neutrófilos hipersegmentados (células não estão fazendo a correta maturação), corpúsculo de Howell Jolly (no sangue periférico), vitamina B12 diminuída, trombocitopenia, leucopenia. AO DIAGNÓSTICO : ident i f icar causa — deficiência de vitamina B12, sem deficiências (doenças congênitas ou drogas), deficiência de folato. Realiza-se o TESTE DE SCHILLING com fator intrínseco. ANEMIA POR GASTRITE ATRÓFICA: doença autoimune, causada pela falha na produção de fator intrínseco FI pelas células parietais do e s t ô m a g o . C u r s a c o m m a n i f e s t a ç õ e s hematológicas. Sinais e sintomas de anemia (palpitações, astenia, cefaleia, irritabilidade, intolerância aos exercícios, palidez cutânea- mucosa). Sangramentos decorrentes de t romboci topenia (petéquias, equ imoses, sangramento mucoso). Icterícia leve a moderada (decorrente da eritropoiese ineficaz com aumento da hemólise e elevação de BI). Gabriela Reis Viol 2 Muito comum manifestações no TGI: glossite (língua avermelhada, despapilada, dolorosa), queílite angular e sintomas de dispepsia. As manifestações neurológicas estão presentes apenas na deficiência de vitamina B12, cursa com neuropatia periférica (parestesia), distúrbios da sensibi l idade profunda (propr iocept iva e vibratória), síndrome dos sistemas combinados, d is tú rb io de marcha (a tax ia , perda da propriocepção), déficits cognitivos, demência e psicoses. Outras manifestações autoimunes podem estar associadas (ex: vitiligo). MECANISMO DA DOENÇA anemia megaloblástica pediatria Mais comum em adultos. CASO CLÍNICO: menina, 15 anos, branca. Paciente refere cansaço e fraqueza aos médios esforços há aproximadamente 4 meses, associada a sonolência durante o dia. Notou dificuldade de concentração, alguns episódios de esquecimento e queda do rendimento escolar. Mãe nega palidez, sangramentos, febre ou outras queixas. Epigastralgia há aproximadamente 6 meses, média de 2x/semana, associada a sialorreia, sem náuseas e vômitos. Fluxo menstrual intenso. Em uso irregular de omeprazol (por conta própria). Vegana há aproximadamente 1 ano sem uso de suplementos alimentares. EXAME FÍSICO: IMC = 16 (magreza), palidez cutânea leve, hipocorada, abdome doloroso a palpação profunda em região de epigástrio. EXAME LABORATORIAL: Hb = 11,5 g/dL, VCM = 120 f l , neu t ró f i l os h ipe rsegmentados , reticulocitopenia, vitamina B12 reduzida. HD : Anemia carencial? Gastr i te? Úlcera duodenal? CD: Vitamina B12 IM semanas por 2 semanas, acompanhar com hemograma e reticulócitos. Encaminhada para orientação nutricional. Avaliação gástrica (realizou EDA — gastrite enantematosa difusa e Helicobacter positivo). FISIOPATOLOGIA: Alteração do processo de metabolismo do ácido nucléico, redução da síntese de DNA (parada na fase S da síntese de DNA), número reduzido de divisões celulares na MO — eri t ropoiese inef icaz. É causada principalmente por deficiência de B9 (folato — sementes e nozes, folhas verdes, grãos) e B12 (origem animal). O u t r a s c a u s a s d e M A C R O C I T O S E : anormal idades do metabol ismo do DNA (deficiência de vitamina B12 e B9), drogas (antirretrovirais, azatioprina, metotrexato, Gabriela Reis Viol https://drive.google.com/file/d/1kKc9n5X-sHawdjlIqt8fofKfXJRrq0Fv/view 3 metformina), distúrbios primários da medula óssea (mielodisplasia), outros (doença hepática, hipotireoidismo, alcoolismo). Para a vitamina B12 ser absorvida, ela depende diretamente do fator intrínseco secretado pelas células gástricas parietais, pacientes portadores de anemia perniciosa (produzem autoanticorpos contra as células parietais) não absorverão vitamina B12 no íleo terminal. Além disso, necessita-se também de proteases pancreáticas (duodeno). Já a vitamina B9 (folato) não necessita de FI para ser absorvido, acontece de forma passiva no jejuno. CAUSAS DE DEFICIÊNCIA DE B12: deficiência nutricional (dieta vegana, mãe com deficiência no aleitamento), anemia perniciosa (gastrite atrófica — deficiência de FI), gastrectomia/cirurgia bariátrica, gastrite (Helicobacter?), doença do intestino delgado, ressecção ileal ou bypass, DII, insuficiência pancreática, doença celíaca, drogas (omeprazol de uso crônico, metformina). CAUSAS DE DEFICIÊNCIA DE FOLATO: deficiência nutr icional ( ingesta al imentar inadequada), alcoolismo, cirurgia bariátrica (má absorção), doença celíaca, DII, doença intestinal infiltrativa, síndrome do intestino curto (má absorção), hemólise crônica, pacientes em hemodiálise, drogas (sulfassalazina, fenitoína, carbamazepina). MANIFESTAÇÕES CL ÍN ICAS: o co r rem gradualmente, pois há estoques de vitamina B12 e folato (que podem ser abreviados por fatores adicionais). Haverá quadro de fraqueza, palidez, icterícia (secundária a hemólise - hemácia maior fica mais susceptível), manifestações do TGI (anorexia, diarreia); em lactentes observar o desenvolvimento neuropsicomotor, dificuldade na alimentação, hipotonia, irritabilidade, tremores ou convulsões; alterações neurológicas (deficit cognitivo, distúrbios visuais, ataxia, alteração de equilíbrio, sintomas extrapiramidais). ANAMNESE: importante identificar — restrição alimentar? Há quanto tempo? Sintomas no TGI?(refletem má absorção) INVESTIGAÇÃO LABORATORIAL: Hb reduzida, VCM elevado (macrocitose), reticulócitos baixos (se houver hemólise intensa pode haver reticulositose), RDW aumentado, neutrófilos h ipersegmentados ( imaturos no sangue periférico), pancitopenia leve (anemia, leucopenia, plaquetopenia — aspirado de MO), vitamina B12 diminuída, folato reduzido. TRATAMENTO: identificar a causa da anemia (reversível x irreversível), logo após iniciar o uso de medicamentos e orientação nutricional e suplementação. DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12 (IM): Crianças de 50 - 100 mcg 1x/semana até correção, se houver necessidade 1x/mês (cianocobalamina). Adultos 1000 mcg 1x/semana, se houver necessidade 1x/mês (cianocobalamina). DEFICIÊNCIA DE FOLATO: V O — á c i d o f ó l i c o 1 - 5 m g / d i a p o r aproximadamente 4 meses. IV — recomendada quando há necessidade de correção rápida. ACOMPANHAMENTO: feito com parâmetros laboratoriais, avalia-se reticulócitos em 2 semanas da suplementação. Marcadores de hemólise reduzem em 1 - 2 dias. Anemia melhora em 1 - 2 semanas. Neutrófilos normais em 10 - 14 dias. Sintomas neurológicos melhoram com 3 meses. PROFILAXIA: identificar a população de risco, f u n d a m e n t a l a o r i e n t a ç ã o n u t r i c i o n a l (suplementação). Gabriela Reis Viol 4 anemia ferropriva pediatria CASO CLÍNICO: menina, 1 ano e 6 meses. Sem queixas. Aleitamento materno exclusivo até 2 meses, formula láctea dos 2 - 6 meses. Aos 6 meses leite de vaca + achocolatado, e introdução de novos alimentos. Diário alimentar básico: 4 mamadeiras/dia; frutas e vegetais (2 porções/dia); papa com arroz, batata e macarrão; carne 3x/semana; guloseimas. (ALIMENTAÇÃO DE BAIXA QUALIDADE). EXAME FÍSICO: peso e estatura percentil P50, descorada, FC = 112 bpm, FR = 25 irpm, abdome discretamente globoso e hipertimpânico. Pele discretamente ressecada. EXAME COMPLEMENTAR: Hb = 9,5g/dL, microcitose (VCM diminuído), hipocromia (HCM diminuído), reticulopenia, diminuição da ferritina e ferro sérico, capacidade de ligação da transferrina aumentada. HD: anemia carencial = anemia ferropriva. CD: sulfato ferroso 1mg/kg/dia até 24 meses, acompanhamento e mon i to r i zação com h e m o g r a m a , r e t i c u l ó c i t o s e f e r r i t i n a ; suplementação continuada até reposição dos estoques de ferro. CONCEITO: concentração de Hb inferior aos valores de referencia para idade insuficiente para atender as necessidades fisiológicos, e a deficiência de ferro precede esse quadro. CAUSAS: aumento da demanda (crianças e adolescentes, gestantes, tratamento com eritropoietina); baixa ingesta de ferro (nutrição inadequada, obesidade, vegetarianos/veganos, ingesta de leite de vaca — superior a 700ml, uma vez que possui efeito inflamatório intestinal); diminuição da absorção intestinal — duodenal (cirurgias de ressecção, enteropatias = doença celíaca, úlcera gástrica/gastrite, drogas = bloqueadores H2); perda sanguínea crônica (parasitoses = Ancilostomiase, neoplasias, coagulopatias, AINEs, anticoagulantes, doença inflamatória intestinal, hemólise intravascular = anemia falciforme); doença renal (deficiência de eritropoetina); pós operatórios. RISCO DE ANEMIA FERROPRIVA 3 - 6 MESES: deficiência materna de ferro, hemorragia fetal- materna (FMH), outros eventos hemorrágicos perinatais, prematuridade, administração de eritropoetina para anemia da prematuridade, ingestão dietética insuficiente de ferro. DE ONDE VEM O FERRO? 60% de hemácias endógenas, estas são fagocitadas (baço, MO, fígado), o Fe da Hb é convertido da forma ferroso para férrica que se liga a APOTRANSFERRINA (glicoproteína de transporte) = TRANSFERRINA (como o ferro é transportado no plasma. A outra fonte de ferro é através da absorção dos alimentos no intestino. ALIMENTAÇÃO: ferro HEME presente nas carnes (absorção 30%), ferro NÃO HEME presente nos vegetais (folhas verde escuras). ARMAZENAMENTO: a TRANSFERRINA leva o ferro até a célula, adquire a sua forma funcional forma ferrosa, ligando-se a APOFERRITINA = FERRITINA (ferro de depósito). Esse depósito acontece no fígado, baço e MO. MOBILIZAÇÃO: o ferro armazenado será mobilizado nas situações que exigem uma diminuição dos estoques. Uma vez que as reservas de ferro sérico estiverem diminuídas, a ferritina libera o ferro, a transferrina o transporta para a MO para síntese HEME (ferro + protroporfirina) — produção de hemoglobina. Todo esse processo depende da redução de hepcidina, hormônio responsável pela disponibilidade do ferro. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS : f raqueza genera l izada inexp l icada, i r r i tab i l idade, hipoatividade, tontura, cefaleia, falta de ar ou dor torácica (especialmente com atividade), perversão do apetite, taquicardia, extremidades frias, palidez da face e das palmas das mãos, língua dolorida, unhas quebradiças, queda de cabelo, estomatite, predisposição a cáries, alterações na imunidade não específica (diminuição de interleucinas). Gabriela Reis Viol 5 Alterações no desenvolvimento mental/cognitivo e motor (déficit neurocognitivo) INVESTIGAÇÃO CLÍNICA: Identificar pacientes e situações de risco. Pré-natal, anemia materna?, parto, período neonatal, teste do pezinho, doença de base, cirurgias, sangramentos, medicamentos em uso, hábitos alimentares, aleitamento materno, ganho de peso satisfatório?, hábito intestinal, histórico familiar (esplenectomia), contexto socioeconômico. AVALIAÇÃO LABORATORIAL: Hb < 11g/dL (6 meses - 5 anos) Hb < 11,5 g/dL (5 - 12 anos) Hb < 12 g/dL (12 - 15 anos) Ht < 33% (6 meses - 5 anos) Ht < 34% (5 - 11 anos) Anisocitose (hemácias de tamanhos variados - RDW aumentado). Poiquilocitose (hemácias com diferentes formas). VCM diminuído: microcítica (hemácia menor). HCM/CHCM diminuído: hipocrômica. Diminuição do estoque de ferro: diminuição da ferritina (aumentada: neoplasia, doenças hepáticas, processos infecciosos e inflamatórios); ferro sérico diminuído (< 30mg/dL); saturação de transferrina diminuída (< 16%) e capacidade de ligação de transferrina aumentada. D I A G N Ó S T I C O D I F E R E N C I A L : hemoglobinopat ias - talassemia (anemia microcítica); quadros inflamatórios (anemia normocítica e normocrômica); outras anemias carenciais. TRATAMENTO: objetivo de reverter a anemia e reposição de estoques de ferro (mínimo de 3 meses). ORIENTAÇÃO NUTRICIONAL: consumo de alimentos fonte (aporte), reposição de ferro VO (mínimo de 8 semanas) com dose terapêutica 3 a 5 mg/kg/dia de ferro elementar. SUPLEMENTAÇÃO CONTINUADA: por 2 - 6 meses ou até obtenção de ferritina > 15. Efeitos adversos frequentes: náuseas e vômitos, gosto metálico, pirose, dispepsia, plenitude pós prandial, desconforto abdominal, diarreia ou constipação. REPOSIÇÃO PARENTERAL: alta demanda (sangramento do TGI, metrorragia, hemodiálise); má absorção (pós cirurgias gástricas com acometimento do delgado, gastrite atrófica, doença celíaca, DII); falha na terapia oral (efeitos adversos importantes, baixa aderência). ACOMPANHAMENTO: re t icu lóc i tos (boa sensibilidade) e hemograma a cada 30 a 60 dias, ferritina com 30 e 90 dias de tratamento. O tratamento deve acontecer até a reposição dos estoques de ferro. Uma resposta apropriada: aumento na Hb > 1g/dL em 4 semanas para crianças com anemia leve (Hb 9 - 11g/dL); aumento na Hb > 1g/dL em 2 semanas na anemia moderada ou grave (Hb < 9g/ dL. ANEMIA RECORRENTE OU REFRATÁRIA: decorrente de não adesão, dose incorreta, diagnóstico incorreto, perda sanguínea, má absorção. PROFILAXIA: até os 2 anos de idade. D i e t a a v a l i a n d o o t i p o d e a l i m e n t o (biodisponibilidade), combinação e quantidade, alimentos fortificados. Contraindicação de uso de leite de vaca in natura (não processado, em pó ou fluido) para < 12 meses — enteropatia/colite = inflamação/perda crônica sanguínea. Limitação de consumo 500 - 600 ml/dia(crianças 1 - 5 anos). Mínimo 3 porções/dia de alimentos ricos em ferro. Fortificação de alimentos: farinhas de trigo e milho. Incentivo ao aleitamento materno, suplementação profilática, fortificação de alimentos, importância da consulta pediátrica, estímulo aos testes de triagem neonatal, clampeamento adequado do cordão umbilical, uso adequado de fórmulas infantis, contra indicação e limitação ao consumo de leite de vaca/cabra e soja, orientação nutricional (alimentação complementar). Suplementação profilática = 1mg/kg/dia de sulfato ferroso VO (3 meses - 2 anos). Gabriela Reis Viol 6 questões QUAL A DEFINIÇÃO DE ANEMIA? Anemia é definida como o estado em que a concentração de hemoglobina encontra-se abaixo da média considerada normal para a raça, o sexo, a idade e a altitude em que o individuo se encontra. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os limites mínimos ao nível do mar são 12g/dL para mulheres e 13g/dL para homens. A dosagem de hemoglobina possui maior acurácia quando comparada ao hematócrito e à contagem de hemácias, deve, portanto, ser a medida de escolha utilizada para o diagnóstico de anemia. O QUE É HEMATOPOIESE? Hematopoiese (ou hematopoese) é o processo de formação das células sanguíneas. A medula óssea é o órgão produtor das células sanguíneas. Até os cinco anos de idade, a medula de todos os ossos participa deste processo. Com o passar dos anos ocorre uma substituição gordurosa na medula dos ossos longos e na idade adulta somente os ossos da pelve, o esterno, os ossos do crânio, os arcos costais, vertebras e as epífises femorais e umerais são capazes de produzir células sanguíneas. Medula óssea vermelha é a medula com atividade hematopoiética. A medula óssea ou amarela, preenchida pro tecido adiposo, encontra- se presente nos óssos e não possui atividade hematopoiética. O QUE SÃO RETICULÓCITOS? Os reticulócitos são as células precursoras da hemácia representando 0,5 a 2% do total de células circulantes (ou nº absoluto entre 40.000 e 100.000/mm³). O valor de reticulóctios pode ser expresso em número absoluto ou relativo (porcentagem). A contagem de reticulócitos é muito útil para diferencial anemia hipoproliferativas (carenciais, d i s t ú r b i o s m e d u l a r e s ) d e a n e m i a s hiperproliferativas (hemolítica ou sangramento agudo). Devemos corrigir rotineiramente o percentual reticulocitário pelo grau de anemia, isto porque, em valor percentual o nº de reticulócitos pode ser superestimado em um paciente anêmico: IMPORTÂNCIA DA ERITROPOETINA? A eritropoetina é um hormônio produzido pelo parênquima renal (células tubulares proximais), em resposta à hipóxia tecidual, que estimula a diferenciação dos precursores eritroides em eritroblastos. O eritroblasto, aos poucos, vai sofrendo a expulsão do núcleo para formar a hemácia normal. Neste processo teremos um estágio que antecede imediatamente o eritroide e que ainda conserva ribossomas no citoplasma, ricos em RNA, sendo esta célula chamada de reticulócito. O reticulócitos dura um dia na circulação e então perde o material basofílico citoplasmático e se transforma na hemácia. A hemácia circula por 100 a 120 dias quando é retirada da circulação por macrófagos do tecido reticuloendotelial do baço. C O M O O O R G A N I S M O R E S P O N D E FISIOLOGICAMENTE À ANEMIA? A capacidade de adaptação depende da velocidade de instalação da anemia, de sua intensidade, da idade do paciente e de suas condições clínicas, sobretudo em relação ao aparelho cardiovascular. Muitos dos sinais e s i n tomas da anem ia deco r rem desses mecanismos. Quando a anemia se desenvolve lentamente ocorre: • Aumento do volume plasmático; • Aumento da 2,3-DPG que favorece a liberação do oxigênio nos tecidos; • Vasodilatação periférica, com redução da resistência vascular periférica e queda da pressão arterial, sobretudo a diastólica; • Aumento do débito cardíaco (em anemia intensa); • Aumento da frequência cardíaca. Nos quadros agudos não há tempo para compensações. A redução do intravascular leva a hipotensão postural, queda do débito cardíaco, desvio do sangue da pele (palidez) para outros órgãos, dispneia e choque. Gabriela Reis Viol 7 SINTOMAS DAS ANEMIAS? Podem estar relacionadas a 5 fatores principais 1. Hipóxia tecidual. 2. Mecanismos fisiológicos compensatórios. 3. Hipotensão secundária a sangramentos agudos. 4. Achados secundários à lise de eritrócitos, nas anemias hemolíticas. 5. Outros achados relacionados à doença de base causadora da anemia. COMO INICIAR A INVESTIGAÇÃO DAS ANEMIAS? A história clínica é a base da investigação das anemias. O inicio da anemia, a duração dos sintomas, hábitos alimentares, alteração de hábitos intestinais, historia familiar, social, medicamentosa e ocupacional, podem trazer dados que levarão ao diagnóstico da anemia. No sexo feminino a história ginecológica é muito importante, sendo relevantes dados como laqueadura tubária, fluxo menstrual aumentado, presença de coágulos, abortos ou gestações com curto intervalo de tempo. DADOS DO EXAME FÍSICO PODEM SUGERIR ANEMIA? Os principais são: • Presença de icterícia – anemia hemolítica, doença hepática. • Esolenomegalia – anemia hemolítica, doença linfoproliferativa, mielofibrose, hiperesplenismo. • Púrpura, petéquias, equimoses – sangramento, doenças linfoproliferativas. • Queilite angular, glossite atrófica, coiloniquia,esclera azulada, membrana esofagiana com disfagia (síndrome de Plummer- Vinson ou Paterson-Kelly) – sinais de anemia ferropriva. • Perda de sensibilidade vibratória e posição segmentar – deficiências de vitamina B12 AVALIAÇÃO LABORATORIAL INICIAL A avaliação laboratorial inicial deve incluir hemograma, contagem de reticulócitos e análise do sangue periférico (hematoscopia). • HEMOGRAMA COMPLETO (alguns autores utilizam o termo “completo” para designar o hemograma que vem acompanhado da contagem de plaquetas): hemoglobina – mede a concentração do maior pigmento carreador de oxigênio do sangue total; hematócrito – porcentagem do sangue total ocupado pelas células vermelhas; contagem de hemácias – número de células vermelhas expresso em milhões por microlitro de sangue total; índices hematimétricos – dão informações úteis a respeito do tamanho, forma e conteúdo das hemácias; contagem de leucócitos – informações a respeito do número, aspecto morfológico e contagem diferencial dos glóbulos brancos; plaquetas – podemos observar a u m e n t o o u r e d u ç ã o d a s p l a q u e t a s ( t r o m b o c i t o p e n i a < 1 5 0 . 0 0 0 / m m ³ : hiperesplenismo, destruição autoimune, sepse, anemia aplásica, deficiência de cobalamina e ácido fólico. || trombocitose >400.000/mm³: comum na anemia ferropriva e em doenças mieloproliferativas). Gabriela Reis Viol 8 ALTERAÇÕES MAIS FREQUENTEMENTE ENCONTRADAS NA HEMATOSCOPIA? A análise o sangue periférico é parte essencial da avaliação das anemias, podendo confirmar ou esclarecer os achados do hemograma. Podemos destacar a presença de hemácias de morfologia alterada (poiquilócitos) e algumas inclusões citoplasmáticas: • Poiquilócitos: • Macrovalócitos: encontrados na anemia megaloblástica; • Drepanócitos (hemácias afoiçadas): típicas da anemia falciforme; • Microesferócitos: encontrados na esferocitose hereditária e em algumas anemias hemolíticas autoimunes. • Esquizócitos (hemácias fragmentadas): as mais clássicas são os ceratócitos ou quertócitos (em formato de capacete), típicas das anemias hemolíticas microangiopáticas (CIVD< PTT< SHU< etc). • Equinócitos (hemácias crenadas):típicas da uremia. • Dacriócitos (hemácias em lágrima): característica de hematopoese extramedular, ocorre na mielofibrose, metaplasiamielóide agnogênica; • Codócitos (hemácias em alvo):encontrada nas talassemias, outras hemoglobinopatias e hepatopatia. • Eliptócitos (hemácias de forma oval): são células típicas de eliptocitose hereditária, mas podem também ser encontradas, em menor número, nas anemias carenciais, nas talassemias e na mielofibrose; • Estomatócitos (eritrócitos com o halo central semelhante a uma boca de peixe): são típicos da estomatocitose hereditária, porém também podem ser artefatuais ou encontrados nas hepatopatias. • Hemácias mordidas: característ icas da deficiência de G6PD. Inclusões citoplasmáticas: • Corpúsculo de Howell-Jolly (fragmentos nucleares não removidos pelo baço): hipoesplenismo. • Corpúsculo de Heinz (hemoglobina precipitada): hemoglobinopatias, deficiência G6PD. • Corpúsculo de Pappenheimer (depósitos de ferro): anemia sideroblástica, hemoglobinopatia. Achados diversos: • Neutrófilos hipersegmentados: encontrados nas anemia megaloblásticas. • Policromatofilia: caracteriza-se pelo número aumentado de eritrócitos recém-saídos da medula óssea, que se coram num tom azulado, refletindo a presença de reticulocitose, característica da hemólise e perda sanguínea aguda. • Leucoeritroblastose (eritroblastos e formas imaturas de leucócitos:invasão medular, fibrose. COMO DEVEM SER CLASSIFICADAS AS ANEMIAS? A partir dos dados morfológicos (índices hematimétricos) e funcionais (contagem de reticulócitos). Gabriela Reis Viol 9 C O M O I N V E S T I G A R A S A N E M I A S NORMOCÍTICAS HIPOPROLIFERATIVAS? Na presença de contagem de reticulócitos normais ou diminuídos estamos frente a uma situação de hipoproliferação e a pesquisa etiológica deve ser baseada nos achados clínicos do paciente. Gabriela Reis Viol 10 COMO PROCEDER A INVESTIGAÇÃO DAS ANEMIAS MICROCÍTICAS? A maioria das anemias microcíticas (VCM<80fl) é devido à deficiência de ferro ou distúrbios de sua utilização. Elas podem cursar com reticulócitos elevados, diminuídos ou normais. C O M O I N V E S T I G A R A S A N E M I A S MACROCÍTICAS? A pesquisa deve ser dirigida principalmente para as deficiências de folato e vitamina B12. O QUE FAZER APÓS A CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DAS ANEMIAS MICROCÍTICAS? Realizar o estudo da cinética do ferro para avaliar a sua disponibilidade para a síntese da hemoglobina. Este estudo inclui: • Ferro sérico. • Transferrina sérica. • Capacidade de Ligação da Transferrina ao ferro (TBIC). • Índice de Saturação da Transferrina (IST). • Ferritina sérica. Gabriela Reis Viol 11 ANEMIA FERROPRIVA: Anemia secundária à depleção dos estoques de ferro do organismo. É a causa mais comum de anemia. PRINCIPAIS CAUSAS DE DEFICIÊNCIA DE FERRO: AUMENTO NA DEMANDA POR FERRO • Perda sanguínea: trato gastrointestinal, trato genitourinário, trato respiratório, doação de sangue, hemodiálise, menstruação (fluxo intenso, prolongado). • Crescimento. • Hemólise intravascular com hemoglobinúria: hemoglobinúria paroxística noturna, próteses cardíaca. • Terapia com eritropoetina. SUPRIMENTO INADEQUADO DE FERRO • Dieta inadequada. • Má absorção: cirurgia de by-pass gástrico, doenças gástricas/duodenais (ex. D. Crohn), acloridria, doença celíaca. FUNÇÃO ANORMAL DA TRANSFERRINA • Atransferrinemia congênita. • Autoanticorpos contra receptores de transferrina. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA ANEMIA FERROPRIVA Os sinais e sintomas do estado ferropênico podem ser divididos em: relacionados à anemia e relacionados à ferropenia em si. Sinais e sintomas da anemia: a anemia ferropriva é de instalação insidiosa, os sintomas demoram a se tornar pronunciados. São eles: astenia, insônia, palpitações, cefaleia, palidez cutâneo mucosa, sopro sistólico, insuficiência cardíaca. Sinais e sintomas de ferropenia (independentes de anemia): glossite, queilite angular, unhas quebradiças,coiloniquia, escleras azuladas, esplenomegalia (15%), síndrome das pernas inquietas, perversão do apetite (pica) - desejo de comer alimentos de baixo valor nutricional, síndrome de Plummer-Vinson ou paterson-Kelly gera disfagia pela formação de uma membrana fibrosa na junção entre a hipofaringe e o esôfago. Irritabilidade e anorexia são mais comuns nas crianças. ESTÁGIOS DE DEFICIÊNCIA DE FERRO Depleção dos estoques de ferro: FERRITINA BAIXA, sem anemia. Eritropoiese deficiente em ferro: ferritina sérica baixa; ferro sérico baixo; IST baixo; aumento TIBC, sem anemia. ANEMIA FERROPRIVA: ferritina sérica baixa, ferro sérico baixo; IST baixo; aumento TIBC; Hb baixa. Microcitose e hipocromia + anemia TRATAMENTO ANEMIA FERROPRIVA Reposição de sulfato ferroso oral, antes das refeições (300 mg 3x ao dia). Deve ser mantido seis meses depois da normal ização do hemograma ou ferritina >50 ng/dL, para restaurar os estoques. A reposição parenteral pode ser a opção em pacientes que não toleram a reposição oral, não aderem a ela ou tenham doença gastrintestinal que impeça a absorção. C O M O A V A L I A R A R E S P O S T A A O TRATAMENTO DA ANEMIA FERROPRIVA? 1. Melhora dos sintomas de fadiga na primeira semana. 2. Reticulocitose – aumenta com 4-5 dias e faz pico reticulocitário por volta de 7-10 dias. 3. Hemoglobina – aumenta em uma semana e normaliza em 4 a 6 semanas ANEMIAS MEGALOBLÁSTICAS Anemia causada por defeitos na síntese de DNA, lentificando a divisão celular com desenvolvimento citoplasmático normal – resulta em células grandes, com dissociação núcleo citoplasma (MEGALOBLASTOSE). PRINCIPAIS CAUSAS DE DEFICIÊNCIA DE VITAMINA B12: • Dietética: rara, exceto em vegetarianos estritos (não comem inclusive peixe). • Prejuizo à liberação da vitamina do alimento: acloridria (inibidor de bomba de prótons) e gatrectomia parcial. • Redução da produção do fator intrínseco: anemia perniciosa — doença auto-imune com Gabriela Reis Viol 12 produção de anticorpos anti-fator intrínseco e anti-células parietais gástricas. Ocorre gastrite atrófica e não há produção do fator intrínseco pelas células parietais gástricas, indispensável pela absorção da vitamina B12; Gastrectomia total; Ausência congênita do fator intrínseco. • Consumo de vitamina B12 na luz intestinal: gastrectomia e infestação por Diphyllobothrium latum. • Desordens do íleo terminal/pâncreas: ressecção ileal, doença de Crohn, outras ileopatias (actínica, celíaca), insuficiência pancreática. • Drogas: colchicina, neomicina, metformina PRINCIPAIS CAUSAS DE DEFICIÊNCIA DE FOLATO? • Deficiência de ingestão : a lcóolat ras, adolescentes, anoréticos, não ingerem frutas ou vegetais frescos. • Defeitos de absorção: fenitoína, barbituratos, Espru Tropical, doença celíaca. • Aumento das necessidades: gravidez, anemias hemolíticas, doenças cutâneas esfoliativas. • Diálise: elimina folato • Prejuízo no metabolismo. • Inibidores da Dihidrofolato redutase: metotrexato, pirimetamina, pentamidina e trimetropima. • Álcool. • Deficiências enzimáticas S I N T O M A S D A S A N E M I A S MEGALOBLÁSTICAS As anemias megaloblásticas cursam, além dos sintomas habituais de anemia, com alterações na língua (glossite atrófica). Pode haver anorexia, perda de peso e febre. Na deficiência de vitamina B12 é comum o surgimento de sintomas neurológicos (neuropatia, com parestesias em mãos e pés; alterações do equilíbrio, alterações mentais, com confusão e demência). ACHADOS LABORATORIAIS DAS ANEMIAS MEGALOBLÁSTICAS? A anemia megaloblástica pode ser de intensidade variável, mas sempre com VCM elevado, entre 100-140 fl. O esfregaço com macro-ovalócitos e neutrófilos hipersegmentados é importante para o diagnóstico. O VCM eleva-se precocemente, às vezes antes da queda do hematócrito. A eritropoese ineficaz, com destruição de precursoresde eritrócitos pode levar a falsa anemia hemolítica, com elevação de bilirrubinas indireta e LDH, mas os reticulócitos não se elevam. Quando a medula óssea é avaliada ela se mostra com hiperplasia eritróide e alterações megaloblástica nas três séries mielóides. • VCM elevado (caracteristicamente > 110fl). • Reticulócitos diminuídos. • Marcadores de hemólise (secundários a eritropoiese ineficaz). • Hiperhomocisteinemia (na deficiência de B12 e folato). • Ácido metilmalônico elevado (só na deficiência de vitamina B12). Sangue periférico: • Neutrófilos hipersegmentados. • Macrovalocitos. Medula óssea: • Hipercelularidade. • Megabastão. • Megametamielocito. • Hipersegmentação de neutrófilos T R A T A M E N T O D A S A N E M I A S MEGALOBLÁSTICAS Deficiência de B12 Vitamina B12 1000 mcg intramuscular: diariamente, por duas semanas, depois semanal até normalização do hematócrito e depois mensalmente,pelo resto da vida na anemia perniciosa ou enquanto persistir a causa nas outras etiologias. Deficiência de folato Ácido fólico 1 mg/dia por via oral por quatro a oito semanas ou enquanto persistir a causa. Gabriela Reis Viol 13 Resposta ao tratamento: • Pico reticulocitário em 7 a 10 dias. • Melhora da anemia com 2 meses. Gabriela Reis Viol
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