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CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Inicialmente, cumpre ressaltar que não existe um diploma legal específico que discipline o controle da atuação administrativa. A matéria tem origem na Constituição da República e é regulamentada por diversas leis infraconstitucionais que visam a garantir que o Estado não atuará livremente, diante do ordenamento jurídico posto. Com efeito, a sujeição da atividade administrativa do Poder Público ao amplo controle decorre da formação do Estado democrático de Direito, no qual todas as pessoas da sociedade, incluindo o próprio Poder Público, se submetem às normas estipuladas mediante lei. Neste sentido, somente a lei deve pautar a atividade do ente estatal, atividade cujo fim imediato deve ser sempre a satisfação das necessidades públicas. Não se pode esquecer que a noção de República, no latim res publica, transmite a ideia de que o titular do patrimônio público é o povo e não a Administração Pública, sendo submissa, esta entidade, ao princípio da indisponibilidade do interesse público. Dessa forma, o decreto lei n. 200/1967, em seu art. 6º, V, dispõe que as atividades da Administração Federal obedecerão como princípio fundamental ao controle exercido pelos cidadãos e pelos próprios órgãos internos desta entidade, abrangendo, inclusive, aqueles que integram a estrutura dos Poderes Legislativo e Judiciário. Inclusive, neste ínterim, a Constituição Federal, mediante alteração sofrida pela Emenda Constitucional n. 45/2004, definiu a criação de dois órgãos com a atribuição de controle da atuação do Estado, quais sejam, o Conselho Nacional de Justiça e o Conselho Nacional do Ministério Público, em seus artigos 103-B e 130-A, respectivamente. Quanto ao seu conceito, o controle administrativo representa um conjunto de instrumentos definidos pelo ordenamento jurídico a fim de permitir a fiscalização da atuação estatal por órgãos e entidades da própria Administração Pública, dos Poderes legislativo e Judiciário, assim como pelo povo diretamente, compreendendo ainda a possibilidade de orientação e revisão da atuação administrativa de todas as entidades e agentes públicos em todas as esferas de poder. José dos Santos Carvalho Filho dispõe que “podemos denominar de controle da Administração Pública o conjunto de mecanismos jurídicos e administrativos por meio dos quais se exerce o poder de fiscalização e de revisão da atividade administrativa em qualquer das esferas de Poder”. Com efeito, pode-se verificar que o controle da atuação estatal deve-se dividir em dois aspectos distintos. Primeiramente, deve-se controlar a atuação estatal em relação à sua adequação com o ordenamento jurídico. Nestes casos, trata-se de controle de legalidade dos atos, que decorre do fato de que toda atuação administrativa deve estar previamente estipulada em lei. Não se pode esquecer ser ilícita qualquer conduta praticada, ainda que para satisfação do interesse público, se não estiver previamente delineada por normas jurídicas anteriores. Por sua vez, também se verifica a possibilidade de controle do mérito da atuação estatal, situações em que não se discute a legalidade da conduta – que será lícita – mas sim a oportunidade e conveniência de sua manutenção, diante de situações supervenientes que alterem o cenário no qual se deu o exercício da atividade. ATENÇÃO! Não confundir com controle da atividade política de Estado, que só se efetiva nas hipóteses previstas na CF/88 e visa adequar as políticas estatais à legislação aplicável. Este controle é exercido sobre os atos políticos (declaração de guerra, a concessão de anistia, a declaração de estado de defesa ou estado de sítio). CLASSIFICAÇÕES Vejamos no quadro abaixo as principais classificações definidas pela doutrina majoritária. Quanto à natureza do órgão controlador Controle legislativo Executado pelo Poder Legislativo diretamente ou mediante auxílio do Tribunal de Contas. Controle Administrativo Decorre do poder de autotutela conferido à Administração Pública Controle Judicial Realizado pelo Poder Judiciário, mediante provocação de qualquer interessado que esteja sofrendo lesão ou ameaça de lesão em virtude de conduta ou omissão administrativa que o atinja direta ou indiretamente. Quanto à extensão do controle Controle Interno Exercido dentro de um mesmo Poder, por meio de órgãos especializados (art. 74, da CF/88). Controle Externo Entre entidades diversas. Como também exercido por um poder em relação aos atos administrativos praticados por outro poder do estado. Também aquele exercido diretamente pelos cidadãos, o chamado, controle popular (art. 31, §3°, da CF/88). ATENÇÃO! Somente pode ser exercido se tiver base constitucional (mitigação ao princípio da tripartição de poderes). Quanto ao âmbito de atuação Controle por subordinação Realizado por autoridade hierarquicamente superior a quem praticou o ato, ou seja, entre órgãos e agentes de uma mesma pessoa jurídica da Administração Pública. Controle vinculação por Exercido pela administração direta sobre as entidades descentralizadas, não se caracterizando como subordinação hierárquica, mas tão somente uma espécie de supervisão (controle finalístico, art. 19, Decreto lei n. 200/1967). Quanto à natureza Controle legalidade de Analisa se o ato administrativo foi praticado em conformidade com o ordenamento jurídico. Controle mérito de Verifica a oportunidade e conveniência administrativas do ato controlado. ATENÇÃO! De regra, compete exclusivamente ao próprio Poder que, atuando na função de Administração Pública, praticou a conduta. Excepcionalmente o Poder Legislativo tem competência para exercer o controle de mérito sobre atos praticados pela Administração. O controle exercido pelo Judiciário é sempre vinculado à legalidade da conduta estatal. Quanto ao momento de exercício Controle Prévio Pode ser feito quando o ato administrativo está na iminência de ser praticado ou quando ainda se encontra em formação. Controle Concomitante Exercido durante a execução da atividade controlada. Controle Posterior Verifica a regularidade e conveniência diante de atos administrativos já praticados em sua inteireza. Quanto à iniciativa Controle de ofício Realizado sem a provocação da parte interessada (o exercido pela própria Administração Pública e pelo Poder Legislativo pode ser de ofício). Controle provocado Aquele que depende da iniciativa da parte interessada (o controle jurisdicional depende de provocação). CONTROLE ADMINISTRATIVO Controle exercido pela própria Administração Pública em relação a suas condutas, em decorrência do poder da autotutela. Visa a confirmação, correção ou alteração de comportamentos administrativos. O controle administrativo pode ser realizado de forma prévia, concomitante ou posterior ao ato controlado e deve pautar-se na análise de legalidade dos atos controlados, assim como nos aspectos de oportunidade e conveniência destas condutas. Ademais, trata-se de controle que pode ser exercido mediante provocação, ou de ofício por iniciativa do órgão controlador, uma vez que essa prerrogativa configura poderdever atribuído à Administração Pública. É exercido pelo Poder Legislativo e Judiciário, quando exercem a função administrativa atipicamente. O texto da Carta Magna define que o controle administrativo deve ser exercido, visando algumas finalidades específicas, quais sejam: a) Avaliar o cumprimento das metas e projeções definidas na lei do plano plurianual, assim como a execução dos programas definidos pelo governo e dos orçamentos da União Federal; b) Comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária,financeira e patrimonial nos órgãos públicos e nas entidades da administração pública federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; c) Exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como dos direitos e haveres da União; d) Apoiar o controle externo no exercício de sua missão institucional. ATENÇÃO! Os agentes responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, dela darão ciência ao Tribunal de Contas da União, sob pena de responsabilidade solidária. Meios de controle. Os meios de controle administrativo são a supervisão ministerial sobre as entidades personalizadas que integram a Administração Indireta e o controle hierárquico típico dos órgãos da administração direta. Com efeito, a fiscalização hierárquica é exercida, no âmbito de uma mesma pessoa jurídica administrativa, entre seus órgãos e agentes, com o intuito de ordenar e coordenar atividades, além de atuar na orientação e revisão de atos administrativos viciados ou inoportunos e inconvenientes ao interesse público. É importante ressaltar que a organização hierárquica dispõe os órgãos públicos em níveis de subordinação, concedendo aos órgãos de hierarquia mais elevada a possibilidade de rever as condutas daqueles que lhe são inferiores. Ademais, a supervisão ministerial se manifesta entre entidades diferentes, sendo também designado como controle finalístico, ou tutela administrativa. Em razão da autonomia administrativa existente nos entes da Administração descentralizada, este controle é diverso daquele apresentado em decorrência da hierarquia. Dessa forma, o controle finalístico depende de norma legal que o estabeleça, delimitando os limites e forma de exercício desta atividade controladora, definindo os aspectos a serem controlados e as hipóteses em que se admite a realização de controle. Deve ainda ser indicada a autoridade controladora e as finalidades desta ingerência. Provocação da Administração Pública. O controle administrativo pode ser exercido por iniciativa direta do órgão controlador, sem a necessidade de provocação de qualquer interessado. Inclusive, o controle da Administração Pública não substitui ou impede o exercício do controle pelo Poder Judiciário posteriormente. Saliente-se, ainda, que não se faz necessário o esgotamento da via administrativa para que se possa recorrer ao Poder Judiciário, salvo nos casos definidos na CF, mais especificamente em relação à Justiça Desportiva. A possibilidade de provocação da Administração Pública para efetivação do controle decorre do direito de petição (art. 5º, XXXIV, da CF), que é uma garantia de obter resposta aos pedidos efetivados, não produzindo qualquer efeito o silêncio administrativo, salvo disposição legal em contrário. A provocação aos entes da Administração pode-se dar por meio de: a) representação: ato por meio do qual o particular requer a anulação de ato lesivo ao interesse público. Neste caso, o peticionante não é diretamente prejudicado pela conduta impugnada; b) reclamação: ato de impugnação que visa à retirada de conduta administrativa que viola direito preexistente do peticionante; c) pedido de reconsideração: ato por meio do qual se peticiona requerendo a retratação da autoridade pública de uma conduta previamente praticada. Recursos administrativos. Inicialmente, cumpre ressaltar que o Supremo Tribunal Federal, acompanhando a tendência doutrinária, entende ser inerente à garantia da ampla defesa, constitucionalmente definida, o direito ao duplo grau de julgamento na esfera administrativa. Tal entendimento é decorrência lógica da leitura da Súmula Vinculante n. 21 da Suprema Corte, que considera inconstitucional qualquer lei que exija depósito prévio ou caução para interposição de recursos administrativos. Além disso, o art. 56, da lei 9784/99, garante o direito à interposição de recursos administrativos, seja para combater uma decisão por motivo de ilegalidade, seja por motivo de mérito. Por disposição legal, se entende que são legitimados à interposição de recursos os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo; aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela decisão recorrida; as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e interesses coletivos e também todos os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses difusos. Ademais, o recurso será interposto por meio de requerimento no qual o recorrente deverá expor os fundamentos do pedido de reexame, podendo ainda juntar os documentos que julgar convenientes, sendo imprescindível salientar que os recursos interpostos, salvo disposição legal em contrário, terão efeito meramente devolutivo, não suspendendo a eficácia da decisão impugnada. Na seara administrativa, não há vedação da reformatio in pejus. Nestes casos, se, do julgamento do recurso, puder decorrer gravame à situação do recorrente, este deverá ser cientificado para que formule suas alegações antes da decisão, em obediência à garantia do contraditório e da ampla defesa. Após a tramitação do processo em todas as instâncias, legalmente permitidas, estará formada a coisa julgada administrativa, não podendo mais ser objeto de discussão na esfera administrativa. Ao tratar de recursos hierárquicos, a doutrina identifica o recurso próprio e o impróprio. Analisemos as expressões. Recurso hierárquico próprio é endereçado à autoridade hierárquica superior à que praticou o ato recorrido, dentro da estrutura orgânica de uma mesma pessoa jurídica. Pode ser interposto sem necessidade de previsão legal. Recurso hierárquico impróprio é dirigido à autoridade que não possui posição de superioridade hierárquica em relação a quem praticou o ato recorrido, mas tão somente a possibilidade de controle em decorrência de vinculação (depende de expressa previsão legal). CONTROLE LEGISLATIVO É realizado no âmbito do parlamento e dos órgãos auxiliares do poder Legislativo, sobre os atos praticados pela Administração Pública, nos limites definidos pela Constituição. Em verdade, sua abrangência inclui o controle político sobre o próprio exercício da função administrativa e o controle financeiro sobre a gestão dos gastos públicos dos três poderes. A doutrina costuma explicitar que o controle legislativo poderá ser exercido de ofício ou mediante provocação de particulares interessados que terão o poder de representar aos órgãos controladores com denúncias de irregularidades. Ademais, este controle poderá ser prévio, concomitante ou posterior à prática do ato controlado e pode ser exercido no que tange aos aspectos de legalidade e de mérito. Neste sentido, aponta-se que a aprovação efetivada pelo senado para a nomeação de um Ministro do Supremo Tribunal Federal, por exemplo, configura ato discricionário, extrapolando a simples análise de legalidade. Outrossim, divide-se o controle legislativo em controle parlamentar direto e controle exercido com o auxílio do Tribunal de Contas. Controle Parlamentar Direto – É o controle efetivado pelo próprio parlamento diretamente, mediante manifestação do Congresso Nacional, ou por meio de uma de suas casas. As hipóteses estão espraiadas no texto constitucional e podem ser exemplificadas, a saber. • Compete ao Congresso Nacional autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar. • Somente o Congresso poderá autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País, quando a ausência exceder a quinze dias. • É competência do Congresso sustar os atos normativos do Chefe do Executivo que extrapolem o poder regulamentar, invadindoseara de lei. Convém relembrar que o controle legislativo sobre as atividades da administração somente pode ser realizado nas hipóteses taxativamente previstas na Constituição da República, sob pena de violação ao princípio da Tripartição dos Poderes. Controle exercido pelos Tribunais de Contas – O Tribunal de Contas é órgão auxiliar do Poder legislativo no controle externo. Tem competência para fiscalização de quaisquer entidades públicas, incluindo as contas do Ministério Público, Legislativo e Judiciário, assim como para efetivar seu controle sobre entidades privadas que utilizem dinheiro público para execução de suas atividades. Há a previsão de Tribunal de Contas no âmbito estadual e federal, assim como a possibilidade de criação de Tribunal de Contas dos Municípios. O TCU é integrado por nove Ministros, tem sede no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território nacional, sendo os seus membros nomeados dentre brasileiros que tenham mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, idoneidade moral e reputação ilibada, notórios conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração pública, além de possuir mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija estes conhecimentos. Atribuições do Tribunal de Contas da União – O texto constitucional define as atribuições do TCU. Vejamos abaixo algumas destas atribuições: • Apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento (não julga as contas). • Julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público Federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário (o TCU poderá declarar, incidenter tantum, a inconstitucionalidade de leis e normas, Súmula n. 347, do STF). A lei 13848/19 reitera a legitimação do Tribunal de Contas para controle das Agências Reguladoras (autarquias em regime especial), ao dispor, em seu artigo 14 que “O controle externo das agências reguladoras será exercido pelo Congresso Nacional, com auxílio do Tribunal de Contas da União”. • Apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório. • Realizar, por iniciativa própria, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Comissão técnica ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, e demais entidades privadas que atuem na prestação de serviços por meio da transferência de verbas públicas. CONTROLE JUDICIAL Inicialmente, vale esclarecer que o direito brasileiro adotou o sistema de jurisdição única ou sistema inglês que estabelece que todos os litígios, sejam eles administrativos ou privados, podem ser levados à justiça comum, ou seja, ao Poder Judiciário, único com competência para dizer o direito aplicável aos casos litigiosos, de forma definitiva, com força de coisa julgada material. É possível a provocação do judiciário para análise de controvérsias ainda que já se tenham esgotado as instâncias administrativas e independentemente disso. Contudo, “O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei” (art. 217, §1°, da CF/88). Esse controle só pode se realizar mediante provocação do interessado e somente no que tange aos aspectos de legalidade. A atividade política de Estado não se submete a controle judicial in abstratum, dada a ampla discricionariedade atribuída a esta função estatal e os atos interna corporis. Prescrição administrativa O art. 1°, do Decreto n. 20.910/32, define que todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescreve em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem Por sua vez, o art. 1º-C, da lei 9.494/97, dispõe que “Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos”. A matéria foi alvo de algumas controvérsias após a edição do Código Civil de 2002, não obstante o prazo prescricional previsto neste diploma para ações de reparação civil seja de três anos, somente. Contudo, a jurisprudência majoritária aponta no sentido de que o Código Civil, dada sua qualidade de norma geral, não tem o poder de revogar as disposições de lei especial, mantendo-se a aplicação da lei 9.494/97, com a prescrição quinquenal destas ações. Coisa julgada administrativa É comum encontrar na doutrina e na jurisprudência referências à denominada coisa julgada administrativa, característica inerente à decisão tida como imutável após o esgotamento de todos os prazos para a interposição de recursos administrativos. Contudo, vale destacar que o impedimento de que uma matéria volte a ser discutida administrativamente não afasta o Poder Judiciário da controvérsia, mesmo porque, no ordenamento jurídico brasileiro, o exercício da jurisdição é inafastável, nos moldes do art. 5º, XXXV, da CF/88. Ações judiciais Consoante explicitado, a atuação judicial depende de provocação do particular interessado no sentido de requerer a manifestação deste poder, anulando ato administrativo viciado ou impedindo a prática de ato a ser realizado, ou ainda, determinando a atuação do ente público em determinadas situações nas quais a omissão configura ilicitude. Atualmente, existem vários instrumentos para efetivação do controle jurisdicional. As mais importantes ações judiciais de controle da administração pública são: a) mandado de segurança; b) habeas data, c) mandado de injunção; d) ação popular; e) ação civil pública; f) ação de improbidade e g) ações ordinárias que visam a anulação de atos administrativos ou a imposição de obrigação de fazer. Analisemos sucintamente cada uma destas ações. a) Mandado de Segurança; Ação mandamental de rito especial, previsto no art. 5º, LXIX e LXX da Carta Magna e regulamentada pela lei 12.016/09, para proteção de direitos individuais ou coletivos, violados ou ameaçados por ato administrativo ilegal, aplicando-se também em casos de atos omissivos. O preventivo admitido sempre que o particular estiver se sentindo ameaçado da prática de ato administrativo ilícito que lhe causa danos, que pode ser convertido em repressivo se o ato se efetivar. Mandado de Segurança Coletivo e Individual O individual será proposto por qualquer particular que se sinta lesado por ato administrativo ilícito que viole seu direito líquido e certo. O coletivo é remédio especial utilizado para a proteção de direitos coletivos (transindividuais de natureza indivisível; individuais homogêneos). Legitimidade passiva e autoridade coatora O Réu é a entidade pública em cujos quadros esteja lotado o agente que praticou o ato lesivo ao interesse do particular. A autoridade coatora atua como informante no processo (Lei n. 12.016/09). Nas hipóteses de ato praticado por delegação, a autoridade coatora do Mandado de Segurança será a autoridade delegada, que praticou o ato impugnado,conforme a Súmula 510 do STF. Direito líquido e certo Entende-se por direito líquido e certo o direito cuja prova está pré-constituída, não se admitindo a produção de provas durante o processo. Súmula 625, do STF. Se os documentos estiverem em poder da Administração, que se negou a fornecê-los, o impetrante pode narrar essa situação, determinando o magistrado que a autoridade coatora apresente os documentos em prazo estipulado de dez dias (§1°, do art. 6°, da lei 12.016/09). ATENÇÃO! O Mandado de Segurança impetrado para defesa de direitos individuais não pode ser manejado para anulação de atos normativos. Hipóteses de cabimento Deve ser proposta em, no máximo 120 (cento e vinte) dias, contados da data do ato impugnado, sob pena de decadência do direito. “O Mandado de Segurança não é substitutivo de ação de cobrança” (súmula 269, do STF). Não cabe contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público. ATENÇÃO! Cabe Mandado de Segurança dos atos praticados pelas empresas estatais, na execução de atividades de interesse público, só não sendo possível quando se tratar de ato praticado na exploração de atividade econômica, de cunho comercial, de acordo com a Súmula 333 do STJ. Não cabe quando se tratar de ato do qual caiba recurso administrativo ou judicial com efeito suspensivo e de decisão judicial transitada em julgado (art. 5º da Lei 12.016/09) Competência para julgamento A competência varia de acordo com a autoridade coatora, havendo prerrogativa de foro, determinada pela Carta Magna, sempre que se tratar de agente de alto escalão. Neste sentido, pode-se definir as seguintes regras de competência para julgamento originário do mandamus. Supremo Tribunal Federal (art. 102 da CF) Contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal. Superior Tribunal de Justiça (art. 105 da CF) Contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal Tribunal Regional Federal (art. 108 da CF) Contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal Tribunal de Justiça Definido nas Constituições estaduais, normalmente para julgamento de governador, secretário estadual e prefeitos Justiça federal (art. 109 da CF) Outras autoridades federais Justiça estadual Outras autoridades estaduais ou municipais Teoria da encampação A doutrina e a jurisprudência em direito administrativo passaram a admitir que o mandado de segurança impetrado em face de autoridade coatora errada siga o seu curso, inclusive com a análise de mérito e decisão final. Nesse caso, se defende que o erro em relação à autoridade coatora (que não é ré nessa ação) decorre de desconhecimento da estrutura organizacional da Administração Pública e isso não pode impedir a defesa dos seus direitos e justificar ilegalidades. A súmula 628 do STJ trata do tema, deixando claros os requisitos e a possibilidade de ser utilizada a teoria da encampaão em benefício do impetrante do mandamus. b) Ação Popular. Remédio constitucional, regulamentado no art. 5º, LXXIII da Constituição Federal proposta por qualquer cidadão que, embora não tenha sido diretamente lesado pelo ato que ele pretende anular, considere o ato lesivo ao interesse coletivo. Legitimidade ativa e passiva É sempre de um cidadão e a comprovação da cidadania é sempre realizada pela juntada do título de eleitor (art. 1º, §3º da lei 4.717/65). Os réus são o agente público, o ente estatal que esse agente representa e o beneficiado (ou os beneficiados) pelo ato impugnado. Competência e julgamento A ação tramitará, necessariamente, perante juiz singular, competindo à justiça federal a análise do feito, nas hipóteses previstas no art. 109 da Constituição Federal, caso contrário, a ação será proposta perante juiz estadual. “Na defesa do patrimônio público caberá a suspensão liminar do ato lesivo impugnado” (art. 5°, §4°, da lei 4.717/65). O autor pode requerer a anulação do ato lesivo. Caso haja antecipação de tutela, requer primeiramente a suspensão do ato em sede de liminar, para que se determine a sua anulação em julgamento final. Por fim, pode-se requerer, ainda, o ressarcimento ao erário por qualquer prejuízo causado. O autor não pleiteia indenização para si, requer ressarcimento ao erário. O MP atua como fiscal da lei. “A ação prevista nesta lei prescreve em 5 (cinco) anos” (art. 21 da Lei 4.717/65). c) Habeas Data Ação constitucional, prevista no art. 5º, LXXII, da Carta Magna que visa à garantia do direito fundamental à informação acerca da pessoa do impetrante. Cabível Para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público. Para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo Para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro, mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável. ATENÇÃO! A jurisprudência e doutrina vêm firmando a ideia no sentido de admitir a impetração por sucessores, em defesa do direito do de cujus. Não é vedado a impetração do habeas data por uma pessoa jurídica que pretenda ver satisfeita a pretensão de obter informações constantes em registro público em relação a si. A petição deve conter prova de que o agente público se recusou a prestar as informações, ou não o fez no prazo de dez dias (recusa tácita). Em casos de acréscimo e retificação de informações, a recusa tácita ocorre após quinze dias sem manifestação do poder público. Tal prova é considerada requisito específico, sem o qual, considera-se que não há legitimidade de agir do impetrante. A Lei 9.507/97 prevê, em seu art. 18, que “o pedido de habeas data poderá ser renovado se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito”. O quadro utilizado para definição da competência jurisdicional do Mandado de Segurança poderá ser utilizado pelo leitor, haja vista a similaridade com o habeas data. O MP também atua aqui como fiscal da lei. d) Ação civil pública. Sempre que o legitimado tiver a intenção de garantir a proteção a interesses difusos e coletivos, assim como de direitos individuais homogêneos, com regulamentação na lei 7.347/85. É vedada a sua propositura para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determi- nados. É possível o ajuizamento de ação cautelar para defesa dos direitos coletivos. Legitimidade ativa e passiva Autor: o Ministério Público, sendo que, caso não seja o Autor da ação, o parquet deverá atuar como fiscal da lei; a Defensoria Pública; a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; a autarquia, inclusive a associação pública, empresa pública, fundação pública ou sociedade de economia mista; a associação que esteja constituída há pelo menos 1 ano nos termos da lei civil e inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. ATENÇÃO! Poder Público e a outras associações legitimadas podem habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes. Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. Réu: aquele que, sendo pessoa física ou jurídica, deu causaa qualquer conduta que ensejar prejuízos ao meio ambiente, ao direito do consumidor, à ordem econômica ou urbanística, a bens e direitos de valor estético, histórico, turístico e paisagístico ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. “A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer” (art. 3°, da Lei n.7.347/85). e) Mandado de Injunção. “Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania” (LXXI, art. 5°, da CF/88). É necessário quando se está diante de uma norma de eficácia limitada, normas constitucionais que dependem de regulamentação para a sua aplicabilidade, ensejando um dever de agir do legislador. A omissão legislativa se torna vício sanável por meio da impetração do Mandado de Injunção. O art. 14 da Lei 13.300/16, determina que deverá ser utilizada a Lei 12.016/09 de forma subsidiária, sempre que houver omissão acerca de pontos relevantes do procedimento judicial de mandado de injunção. Mandado de Injunção Coletivo O Supremo Tribunal Federal já pacificou a impossibilidade de concessão da tutela de urgência. Efeitos das decisões No julgamento do Mandado de Injunção, não pode substituir-se ao legislador, editando normas para regulamentação da matéria constitucional, no entanto, poderá se valer de analogia em relação a leis existentes, como forma de suprir a omissão legislativa, no caso concreto, com efeitos inter partes ou erga omnes, dependendo da amplitude da matéria. Demais ações. É possível a propositura de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), seja ela por ação ou omissão, da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), além da Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). ATENÇÃO! Atos interna corporis são aqueles atos praticados, na estrutura interna do tribunais ou das casas do Poder Legislativo, dentro dos limites de sua competência definida por lei, para a instituição de normas internas. São amplamente discricionários, sendo possível sua análise por decisão judicial apenas em casos de lesão direta ou ameaça de lesão a direitos individuais. A jurisprudência brasileira reconhece a impossibilidade de serem analisados estes atos que ostentam qualidade de manifestação interna dos órgãos públicos. Em se tratando de ato praticado ilicitamente, afrontando direitos e garantias de particulares, compete ao judiciário a sua correção, ainda que decorram de normas internas da entidade.
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