Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A EDUCAÇÃO NO MUNDO ANTIGO Diante disso, dando continuidade ao estudo sobre A EDUCAÇÃO NO MUNDO ANTIGO leia o Capítulo III do TEXTO 6 - de Franco Cambi – que trata sobre A EDUCAÇÃO NA GRÉCIA - e, com base na leitura e na reflexão acerca do conteúdo, caracterize os modelos educacionais que se desenvolveram na Grécia Antiga conforme os seguintes aspectos históricos destacados pelo autor: 1- A IDADE ARCAICA E O MODELO HOMÉRICO: R= Os gregos não foram um povo unitário, étnica e culturalmente, mas uma mescla de etnias e de culturas que foram se espalhando em ondas sucessivas na Hélade, a península acidentada e pedregosa que, abaixo da Macedônia, se projeta no Mar Egeu, contornada por ilhas e arquipélagos. Sobre esse terreno estéril, mas aberto para o mar, tomou corpo por volta do III milênio a. C. - a civilização cretense na ilha de Creta, tecnicamente evoluída (na arquitetura, na escrita), ligada aos cultos religiosos mediterrâneos, governada por reis-sacerdotes; depois - por volta de 1600 a. C. -, a esplêndida civilização cretense foi subjugada por Micene, cidade da Argólida que vinha exercendo uma supremacia sobre a região e cujos traços aparecem nos poemas homéricos; a estirpe dos aqueus, ligados a Micene, foi depois - entre 1200 e 1100 a. C. - superada pelos frígios e pelos dórios, povos invasores que se instalaram na península. Neste processo, a própria estrutura geográfica da Grécia - como se disse, "topografia montanhosa" e "fracionamento geográfico natural" - favoreceu a formação de reinos isolados e independentes, que só se aliavam momentaneamente, para depois tornar a separar-se, mas vindo assim a construir, por intercâmbios comerciais e culturais, uma profunda unidade espiritual, que deu vida a uma "civilização comum", ligada à mesma língua, ao mesmo alfabeto, a uma atividade mitopoiética comum. UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO “PROF. MARIANO DA SILVA NETO” DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO AREA: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS E CULTURAIS DA EDUCAÇÃO CAMPUS UNIVERSITÁRIO “MINISTRO PETRÔNIO PORTELA” DISCIPLINA: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Aluna: Lorenna dos Santos Abreu 2- A PÓLIS E A FORMAÇÃO DO CIDADÃO: R= A organização política do Estado típica da Grécia arcaica - reinos independentes e territoriais - tende gradativamente, mas de modo profundo, a mudar com a afirmação da pólis: uma cidade-estado com forte unidade espiritual (religiosa e mitopoiética) que organiza um território, mas que sobretudo é aberta para o exterior (comércio, emigração, colonização) e administrada por regime ora monárquico, ora oligárquico, ora democrático, ora tirânico, mas no qual o poder é regulado por meio da ação de assembleias e de cargos eletivos. Se a pólis é "um Estado que se autogoverna", as cidades-Estado grego eram independentes entre si, viviam em luta e davam vigor - dentro da cidade - a uma intensa vida comunitária, organizada em torno de valores e de fins comuns, embora separada por grupos e por funções, e regulada por leis estabelecidas pela própria comunidade; externamente, porém, alimentavam oposições radicais e alianças frágeis, que condenaram a Grécia a sofrer a hegemonia primeira dos persas, depois dos reis da Macedônia, que a subjugaram, extinguindo sua autonomia e criatividade política. Mas o que faz da pólis uma comunidade de vida espiritual são sobretudo as leis e os ritos, que formam a consciência do cidadão e inspiram seus comportamentos por meio de normas que fixam ações e proibições. Até os deuses são cidadãos (ainda que depois todos os deuses do Olimpo fossem cultuados); são deuses que protegem e inspiram a vida da comunidade, que são exaltados nas grandes festas urbanas por sacerdotes que não formam uma casta, mas são "leigos" ou oficiais de Estado "no mesmo sentido que generais, tesoureiros ou comissários de mercadores, com a mesma base de família , de riqueza, de experiência", como ocorria em Atenas (Finley). E são "semelhantes aos homens" cujas histórias ou mitos "explicavam" o ritual e davam uma interpretação complexa do mundo. A religião era também "um assunto do Estado ou da comunidade" cuja vida ela regulava, embora se caracterizasse em sentido local, com poucos vínculos com os cultos das outras cidades, à parte a sacralidade do santuário de Delfos e seu or:\culo (além de Elêusis e seus cultos iniciáticos) ou os rituais de Olímpia, os Jogos, inaugurados em 776 a. C. Desse modo, os jogos agonísticos - ou ginásticos, masculinos e femininos - e a atividade teatral, ambos ligados a festividades religiosas e momentos eminentemente comunitários, vinham desenvolver uma função educativa no âmbito da pólis, acompanhando a ação das leis e sublinhando seus fundamentos ético-antropológicos, como ainda o caráter de livre vínculo coletivo. Um dos instrumentos fundamentais dessa educação comunitária são o teatro, a tragédia e a comédia, que é um espelho da comunidade e que enfrenta seus problemas de legitimação das normas e de descrição/ avaliação dos costumes. Assim, o teatro, em Atenas, é "também e sobretudo um lugar de representação das contradições que laceram o corpo da cidade e as consciências de seus membros", referentes a escolhas políticas, éticas, psicológicas. No teatro, a comunidade educa a si mesma; com a comédia que fustiga costumes, ridiculariza comportamentos, castigat ridendo mores, como dirão os latinos. Os jogos agonísticos também educam: pelo desafio de enfrentar os outros nas corridas, pelo uso da inteligência como metis ("razão astuta"), pela comunicação e pela Imaginação. 3- A EDUCAÇÃO FAMILIAR, A MULHER, A INFÂNCIA: R= A família, em qualquer sociedade, é o primeiro lugar de socialização do indivíduo, onde ele aprende a reconhecer a si e aos outros, a comunicar e a falar, onde depois aprende comportamentos, regras, sistemas de valores, concepções do mundo. Esse era também o papel da família na Antiguidade, na qual se caracterizava ora como família patriarcal, ampliada, coincidente com a gens ou genas (estirpe), como a definiram os latinos e os gregos, ora como relação pais- filhos, mas sempre segundo um modelo autoritário que vê o pai quase como um deus ex machina da vida familiar. É da união das famílias, portanto, que nasce a comunidade social que dará vida à própria pólis. No interior do òikos (espaço familiar) reina a mulher - como esposa e como mãe-, mas socialmente invisível e subalterna, dedicada aos trabalhos domésticos e à criação dos filhos. Na família, a mulher é submissa, primeiro ao pai depois ao marido, ao qual deve fidelidade e amor absolutos. Suas funções públicas são apenas para funerais (são suas atribuições a toalete dos mortos e os lamentos fúnebres), para o retorno ou a partida do guerreiro, para coros e danças nas festividades, para sacrifícios, quando aparece como canéfora, portadora do kanòun ou cesto sacrificial, para festas como as de Adônis e de Ártemis ou os ritos dionisíacos. Existem, porém, já no mito, modelos femininos que se opõem a essa domesticidade e submissão da mulher: as Amazonas, mulheres guerreiras, com características masculinas de coragem e de força; as Mênades, sequazes de Dioniso, possuídas e selvagens, que rompem toda regra moral no transe e se carregam de violência. Mulheres assassinas que inquietam um cosmo ordenado segundo os modelos masculinos de autoridade e de submissão. A infância não é valorizada em toda a cultura antiga: é uma idade de passagem, ameaçada por doenças, incerta nos seus sucessos; sobre ela, portanto, se faz um mínimo investimento afetivo, como salientou Aries para as sociedades tradicionais em geral. A infância cresce em casa, controlada pelo "medo do pai", atemorizada por figuras míticas semelhantes às bruxas (as Lâmias, em Roma), gratificada com brinquedos (pense-se nas bonecas) e entretida com jogos (bolas, aros, armas rudimentares), mas semprecolocada à margem da vida social. Ou então por esta brutalmente corrompida, submetida a violência, a estupro, a trabalho, até a sacrifícios rituais. 4- ATENAS E ESPARTA: DOIS MODELOS EDUCATIVOS: R= Esparta e Atenas deram vida a dois ideais de educação: um baseado no conformismo e no estatismo, outro na concepção de paidéia, de formação humana livre e nutrida de experiências diversas, sociais, mas também culturais e antropológicas. Os dois ideais, depois, alimentaram durante séculos o debate pedagógico, sublinhando a riqueza e fecundidade ora de um, ora de outro modelo. 5- A PAIDÉIA: R= No curso dos séculos V-IV a. c., a cultura grega - caracterizada agora pelo papel hegemônico de Atenas - entra numa fase de crise e de transformação, em paralelo com uma profunda mudança da sociedade em seu conjunto. Novos grupos sociais, ligados ao comércio e de riqueza recente, reclamam uma presença política e apontam para uma democracia que favoreça a troca de classes na gestão do poder. 6- OS GRANDES MODELOS TEÓRICOS: SÓCRATES, PLATÃO, ISÓCRATES, ARISTÓTELES. R= Entre Sócrates e Aristóteles, no breve arco de tempo que vê a filosofia afirmar-se como "ciência régia" (conexa com a metafísica, a ética e a lógica em particular) e que a vê organizar-se em amplos e complexos sistemas especulativos, oferecendo uma imagem completa e rigorosa docosmo e dos problemas que o animam, mas também do homem e de suas características éticas e cognitivas, a paidéia recebe um desenvolvimento extremamente complexo, articulando-se numa série de modelos que ref1etem tanto a intensa problemática da noçáo quanto as diversas perspectivas segundo as quais pode desenvolver-se. O pluralismo dos modelos vem enfatizar o papel da paidéia e a riqueza da noção, confirmando-a como o centro teórico da elaboração pedagógica da Antiguidade, que tem no seu centro a experiência grega, e no centro desta está o período dos séculos V e IV. Estamos diante da paidéia dos filósofos que, entretanto, náo elimina a dos médicos, como antes a dos trágicos, dando lugar a um leque bastante complexo e variado de modelos, os quais sublinham este aspecto de acmé atingido nos dois séculos da maturidade grega. Com Sócrates (470-399 a. c.) - o filósofo ateniense que se torna mestre de todos, desinteressado e impelido por uma forte motivação éticoantropológica, que libera as consciências com seu diálogo e que depois universaliza e radicaliza seu pensamento, que nesta época de despertar interior e de liberação do indivíduo se choca com o poder político e religioso da pólis, até que esta o condena à morte por corromper as consciências e os jovens, sobretudo (condenação que o filósofo aceita com absoluta serenidade) -, estamos diante de uma paidéia como problematização e como pesquisa, que visa a um indivíduo em constante amadurecimento de si próprio, acolhendo em seu interior a voz do mestre e fazendo-se mestre de si mesmo. A ação educativa de Sócrates consiste em favorecer tal diálogo e a sua radicalização, em solicitar um aprofundamento cada vez maior dos conceitos para chegar a uma formulação mais universal e mais crítica; desse modo se realiza o "trazer para fora" da personalidade de cada indivíduo que tem como objetivo o "conhece-te a ti mesmo" e a sua realização segundo o princípio da liberdade e da universalidade. N'A República e n'As leis, Platão desenvolve sua visão política da educação e rearticula o modelo de formação em relação às diversas classes sociais. A "cidade humorosa" (rica e desenvolvida) teorizada por Platão vê presentes três classes social: os governantes, os guardiões e os produtores, aos quais correspondem tipos humanos e morais bastante diferentes (áureos e racionais; argênteos e corajosos; férreos e ativos, produtivos, obedientes); são classes separadas que desenvolvem diferentes funções, das quais a cidade necessita para ser realmente "humorosa" (trufôsa). Pela divisão do trabalho, delineiam-se também três tipos de educação: a dos produtores, que ocorre no local de trabalho como aprendizado técnico; a do guardiães-guerreiros (Phylakes-pulernilwi) , destinada a favorecer a formação da coragem e da moderação ; a dos governantes-filósofos, que é formação especulativa através da dialética. Na educação dos guardiães, indivíduos escolhidos pelo seu valor e treinados em institutos do Estado, Platão se refere à educação "musaica" (ginástica mais poesia-música) ou uma "educação literária e musical" que exclua, porém, os discursos falsos (como as "fábulas" de deuses e heróis contadas por Homero), favoreça a narração simples, sem imitação, e valorize as harmonias sóbrias (de guerra e de oração) pela música. A paidéia de Platão, herdeira de Sócrates, de um lado, e inserida num amplo projeto político, de outro , permanecerá na cultura ocidental como um modelo-máximo marcado por fortes implicações utópicas. O modelo alternativo/complementar ao platônico e que resultará dominante no mundo antigo' foi, todavia, O' de Isócrates (436-338 a. C.), de inspiração retórico-oratória e gramático-literária. Aluno' dos sofistas, entrou em contato também com Sócrates, "dedicou-se à profissão de logógrafo, escritor de discursos pronunciados depois no tribunal pelos interessados" (Bowen) e fundou em Atenas uma escola de retórica. De Isócrates nos restam diversas orações, políticas e forenses, que bem caracterizam sua concepção' de Oratória, bem próxima à dos sofistas. A paidéia isocrática tem seu centro na palavra, é uma paidéia do Logos como "palavra criadora de cultura", colocando o sujeito em posição de autonomia, mas sempre como interlocutor da cidade, na qual e pela qual desenvolve uma subjetividade mais rica de humanidade. Assim, "a organização estética das palavras e das ideias torna-se uma filosofia, um ideal que coloca, em toda a Antiguidade clássica, no vértice da educação, a cultura oratória" (Mialaret & Vial), e o modelo formativo de Isócrates será vitorioso no helenismo, chegando a Cícero e a Quintiliano, e daí se irradiará para o cristianismo, a Idade Média e até a Modernidade. 7- O HELENISMO E A EDUCAÇÃO: AS TEORIAS E A PRÁXIS: R= O helenismo coincide com o período em que se desenvolve a hegemonia da cultura grega no Mediterrâneo, em que se chega a constituir uma verdadeira e própria koiné grega (uma língua comum) e a afirmar um modelo de cultura baseado na hurnanitas; isto é, na valorização da humanidade mais própria do homem posta em exercício pela assimilação da cultura que exalta seu caráter de universalidade; mas se trata também de uma época em que se delineia uma cultura cada vez mais científica, mais especializada, mais articulada em formas diferenciadas entre si tanto pelos objetos quanto pelos métodos: é a época em que se desenvolve a ciência física em formas quase experimentais, em que se delineiam a filosofia e a historiografia em formas amadurecidas, em que cresce a astronomia tanto quanto a geometria e matemática, como também a botânica, a zoologia, a gramática, dando vida a uma enciclopédia bastante complexa do saber. No campo filosófico, depois dos grandes sistemas metafísicos, científicos e políticos de Platão e Aristóteles, delineia-se um novo período que elabora um pensamento de fundamento antropológico dividido em lógica, física e ética, mas mais ligado aos problemas da ética e da busca da "vida boa" que é indicada na figura do "sábio”: aquele que limita suas próprias necessidades, pratica uma meditação constante, procura a felicidade individual pela ascese. Entre Epicuro de Samos (342-270 a. C.) e Zenão de Cítio (335 -264 a. C.), com o epicurismo e o estoicismo se fixa como primária e central esta tarefa ético-antropológica da filosofia e se indica na ataraxia (indiferença) ou na apatia (imperturbabilidade) a virtude mais própria do homem como sábio. Estamos diante de um novo clima filosófico e cultural: mais individualista,que olha o homem e o mundo com maior desencanto e com comportamentos mais laicos, mas que se interroga com decisão sobre as "vias de salvação" do homem, reconhecendo-as apenas na requalificação interior. Um papel decisivo nesta unificação espiritual do Mediterrâneo foi exercido por Roma, que, conquistando o Oriente, foi por sua vez conquistada pela cultura grecohelenística e a difundiu amplamente por todo o império. Tal cultura levava à maturidade a rica tradição da Grécia, desenvolvida em todas as suas articulações, construída em formas grandiosas em todos os setores (da arquitetura à poesia, à filosofia e às ciências), marcada agora de um forte individualismo apolítico e orientado para o "cuidado de si" que implica uma rica elaboração de "exercícios espirituais" capazes de favorecer a ascese. Se "o homem clássico não acreditava poder viver fora da pólis e da respectiva estrutura social, o homem helenístico quer demonstrar, ao contrário, que o homem pode bastar a si mesmo como indivíduo, pode ser totalmente auto-suficiente"; "é o homem que se convenceu profundamente de que o verdadeiro bem e o verdadeiro mal não derivam das coisas mas unicamente da opinião que ele forma das coisas"; assim, "a justa avaliação das coisas nos torna invulneráveis" (Reale) . A ideia de Alexandre de uma ecu1ltene grega realizou-se, portanto, com Roma, mas mantendo no centro a cultura grega, do modo como vinha se definindo e se organizando, sobretudo em Alexandria: como cultura científica e como cultura da hurnanitas. De um lado, estavam a erudição e a especialização, o aparato organizativo verdadeiramente grandioso e tecnicamente articulado, a presença de doutos de cada disciplina e a estrutura da Biblioteca realmente universal e completa de todo o patrimônio antigo marcando a cultura alexandrina, com o seu filologismo, seu refinamento, seu formalismo também; de outro, estava a forte consciência ética que atravessava tal cultura dando-lhe uma conotação profundamente pedagógica, da qual a enkyklios paidéia será o produto mais maduro, tal como se apresenta nas anotações de um Luciano ou de um Plutarco e como se vem realizando na escola helenística. Tais princípios ideais encontram uma elaboração precisa tanto nos teóricos da pedagogia helenística quanto na escola do helenismo. Mesmo sem apresentar autores com modelos comparáveis em riqueza e articulação aos do período clássico, a pedagogia helenística encontrou no âmbito grego algumas vozes representativas: o comediógrafo Luciano, o moralista Plutarco, depois, Hum período sucessivo, o filósofo Sexto Empírico e Plotino, que dão voz àquela desorientação espiritual do homem helenístico e o fazem confiar, depois que "desmoronaram os muros de sua cidade" e "os deuses os abandonaram", apenas em si mesmo, procurando em si própria salvação e “realização” (Marrou). E são pedagogias que se ligam direta e estreitamente à formação moral, a qual encontra seu próprio vértice no "cuidado de si". Com Luciano, estamos já no século II (120-180) e se fixa uma crítica ao gymnasion e à oratória: os dois modelos/instrumentos formativos da escola helenística. A sátira de Luciano é cortante e, tanto em Anacarsi ou dos ginásios como em O mestre dos oradores, toca nos pontos salientes ele uma práxis educativa formalista e corruptora, porquanto insincera e impositiva. Com Plutarco de Queronéia (50-120), estamos numa fase anterior, em que é central a formação do caráter segundo o modelo helenístico de equilíbrio e de racionalidade, de autodomínio e de brandura. Em todas as obras de Plutarco - desde as Obras morais até as Vidas paralelas e o texto, que é pseudoplutárquico. Sobre a educação das crianças - circula o modelo da formação do caráter que faz convergir de modo harmônico “natureza”, "discurso", "hábito", que valoriza a obra do mestre (que aconselha e orienta), que sublinha o papel do meio na educação e, por fim, o objetivo ético-filosófico deste processo. O Pseudo- Plutarco: sobretudo, sublinha que "a educação das crianças" é considerada uma "tarefa ela máxima importância" e que o seu '''resultado é a excelência moral". Sexto Empírico (entre os séculos II e III) escreve duas obras: Contra os dogmáticos e Contra os docentes, os quais são criticados segundo as perspectivas do ceticismo, que favorece, exclusivamente, o conhecimento sensorial. Portanto, os "dogmáticos" (os lógicos, os meta físicos etc.) erram ao partir de princípios especulativos, ao passo que os docentes são completamente inúteis e corruptores, já que se desviam do conhecimento sensível. Mas é talvez com Plotino (203-270) que a formação como ascese e passagem da beleza ao Uno, segundo um processo quase místico, vem a delinear-se como um itinerário educativo espiritual, de caráter ético-religioso. Nas Enéadas fixa-se a ascensão da alma até a ideia e a unidade, seguindo o percurso do Platão socrático e o valor religioso desta ascensão a qual não é apenas interior e ética, mas também metafísica: vínculo com aquele Uno que constitui o princípio animador e a regra de todo o real, o seu centro-motor e o seu ponto de aspiração. Nesse itinerário, é atribuído à beleza um papel de unificação e de sublimação educativamente bastante significativo.
Compartilhar