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1 Clara dos anjos lima Barreto OBRA literÁria Lima Barreto Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1881, foi escritor e jornalista. Filho de Joaquim Henriques e Amália Augusta, ambos pobres e mestiços, sofreu esse preconceito em toda sua vida. Seu pai era tipógrafo e sua mãe, professora primária. Logo cedo, ficou órfão de mãe. Estudou no Liceu Popular Niteroiense, concluiu o curso se- cundário no Colégio Pedro II e fez faculdade de Engenharia na Escola Politécnica. Seu pai enlouqueceu e foi interna- do, por isso, em 1904, foi obrigado a abandonar o curso de Engenharia. Para sustentar a família, empregou-se na Secretaria de Guerra e, concomitantemente, escrevia para alguns jornais do Rio de Janeiro. Ainda estudante, já colaborava para a Revista da Época e para a Quinzena Alegre. Em 1905, passou a escrever para o Correio da Manhã, que era um jornal de grande prestígio na época. Lima Barreto publicou o romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, em 1909. O texto acompanha a trajetória de um jovem mulato que, vindo do interior, sofre sérios pre- conceitos raciais. Em 1915, escreveu Triste fim de Policarpo Quaresma e, em 1919, escreveu Vida e morte de M.J. Gon- zaga de Sá. Esses três romances apresentam nítidos traços autobiográficos. A obra-prima de Lima Barreto, não perturbada pela carica- tura, foi Triste fim de Policarpo Quaresma, na qual o autor conta o drama de um velho aposentado, Policarpo, em sua luta pela salvação do Brasil. AN N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 2 Com seu espírito inquieto e rebelde, seu inconformismo com a mediocridade reinante, Lima Barreto se entrega ao álcool. Suas constantes depressões o levam duas vezes para o hospício. Em 1° de novembro de 1922, morreu de- vido a um ataque cardíaco. CLara dos anjos Concluído em 1922, ano da morte de Lima Barreto, o ro- mance Clara dos Anjos é uma denúncia áspera do precon- ceito racial e social, vivenciado por Clara, uma jovem mu- lata de 17 anos. Ela é filha de Joaquim dos Anjos, carteiro, flautista e casado com Engrácia, dona de casa. Eles moram em um casebre simples e humilde que possui dois quartos, sala de jantar e de visitas, cozinha, despensa e quintal, si- tuada no subúrbio do Rio de Janeiro. A família não frequenta a casa dos outros, apenas a de Antônio da Silva Marramaque, padrinho de Clara. Possui poucos vizinhos, inclusive alguns deles eram estrangeiros. Em seu aniversário, Clara conhece o violeiro que fora con- vidado para tocar na festa... Seu nome é Cassi Jones de Azevedo. Cassi Jones é branco (a questão racial é preponderante para o enredo, sobretudo no conjunto da obra de Lima Bar- reto), tem vinte e poucos anos e possui fama de sedutor. De classe mais abastada, sempre envia cartas de amor a Clara para que ela se apaixone. Clara acredita na pureza do amor, é ingênua e frágil e não possui grandes ambições. O plano do rapaz dá certo e ela resolve se entregar a ele. O padrinho de Clara intercede pela afilhada, mas é assassinado por Cassi e uns capangas. Passa o tempo, descobre-se que a moça está grávida e, logo, Cassi desaparece em fuga. Clara pensa em interrom- per a gravidez, todavia segue o conselho de sua mãe e vai à casa de Cassi esperando “reparação”, mas é maltratada pela mãe do rapaz, que a humilha por ser mulata e pobre. Portanto, tudo isso faz com que Clara se dê conta de sua posição na sociedade, do lugar da mulher, que é pobre e negra do subúrbio carioca. Estética O Realismo/Naturalismo, que tanto influenciou Lima Barre- to na composição de Clara dos Anjos, é cientificista e deter- minista, considerando que as ações humanas são produtos de leis naturais: do meio, das características hereditárias e do momento histórico. Portanto, os romances naturalistas procuravam, através da representação literária, demonstrar teses extraídas de teorias científicas. Para isso, o Naturalis- mo buscou compor um registro implacável da realidade, incluindo seus aspectos repugnantes e grotescos. São exa- tamente esses os aspectos que mais chamam a atenção na narrativa exagerada de Clara dos Anjos. Temática Em Clara dos Anjos, relata-se a estória de uma pobre mula- ta, filha de um carteiro de subúrbio, que apesar das caute- las excessivas da família, é iludida, seduzida e, como tantas outras, desprezada, enfim, por um rapaz de condição social menos humilde que a sua. É uma estória na qual se tenta pintar em cores ásperas o drama de tantas outras moças da mesma cor e do mesmo ambiente. O romancista procu- rou fazer de sua personagem uma figura apagada, de na- tureza “amorfa e pastosa“, como se nela quisesse resumir a fatalidade que persegue tantas criaturas de sua casta. Linguagem Com uma linguagem descuidada, suas obras são impreg- nadas da justa preocupação com os fatos históricos e com os costumes sociais. Lima Barreto torna-se uma espécie de cronista e um caricaturista, vingando-se da hostilidade dos escritores e do público burguês. Poucos aceitam aqueles contos e romances que revelavam a vida cotidiana das classes populares, sem qualquer idealização. Produz um tipo de literatura que se distancia dos padrões e, por isso, foi muito criticado pelos beletristas tradicionais. AN N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 3 As injustiças sociais e as dificuldades das primeiras décadas da república são as temáticas primordiais de suas obras. Espaço O romance se passa no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas, casebres, barra- cões, choças”, e a vida das pessoas que ali vivem. Ao descrever o subúrbio, aborda o advento dos “bíblias”, os protestantes que alugam uma antiga chácara e passam a conquistar novos fiéis para seu culto: Joaquim dos Anjos ainda conhecera a “chácara“ ha- bitada pelos proprietários respectivos; mas, ultima- mente, eles se tinham retirado para fora e alugado aos “bíblias“... O povo não os via com hostilidade, mesmo alguns humildes homens e pobres raparigas dos arredores frequentavam-nos, já por encontrar nisso um sinal de superioridade intelectual sobre os seus iguais, já por procurarem, em outra casa religiosa que não a tradicional, lenitivo para suas pobres almas alanceadas, além das dores que seguem toda e qual- quer existência humana. E reflete sobre a nova seita: Era Shays Quick ou Quick Shays daquela raça curio- sa de yankeesfundadores de novas seitas cristãs. De quando em quando, um cidadão protestante dessa raça que deseja a felicidade de nós outros, na terra e no céu, à luz de uma sua interpretação de um ou mais versículos da Bíblia, funda uma novíssima seita, põe- -se a propagá-la e logo encontra dedicados adeptos, os quais não sabem muito bem por que foram para tal novíssima religiãozinha e qual a diferença que há entre esta e a de que vieram. Personagens principais § Clara, a “natureza elementar”: tem 17 anos, é ingênua e fora criada “com muito desvelo, reca- to e carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só sai com dona Margarida, uma viúva muito séria, que mora nas vizinhanças e ensina à Clara bor- dados e costuras”. Clara é a segunda filha do casal, “o único filho sobrevivente... Os demais... Haviam morrido”. § Cassi, o corruptor: por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber em casa o pre- tendente de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertence a uma posição social melhor. § Joaquim dos Anjos: é um carteiro que se acha ser músico. Escreveu algumas valsas, tangos e polcas. § Dona Engrácia: é católica romana e traz seus filhos para a mesma religião. Caracteriza-se por ser caseira, com uma boa dose de insegurança e rudeza. § Eduardo Lafões: é um homem simplório, que vive em círculos limitados, habituado a ver o valor dos homens nas roupas e no parentesco, gosta de assuntos de comércio. Frequenta, aos domingos, a casa de Joaquim para jogar o solo. AN N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 4 A crítica Lima Barreto claramente não gostava da influência dos EUA no Brasil, especialmente critica as “novas seitas cristãs”. Como colocou Antônio Arnoni Prado sobre o tom profético: O autor de Clara dos Anjos interessou-se pelos Esta- dos Unidos, em virtude do tratamento desumano que este país dispensava aos seus cidadãos de cor. (...) Censurou duramente a discriminação racial estaduni- dense, assim como o expansionismo imperialista dos yankees, que, através da diplomacia do dólar, ia, a seu ver, convertendo o Brasil num autêntico protetorado. Clara é uma mulata pobre, que vive no subúrbio carioca com seus pais, Joaquim e Engrácia, mulher “sedentária e caseira”. Joaquim era carteiro, “gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta, instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atu- almente como outrora”. Também “compunha valsas, tan- gos e acompanhamentos de modinhas”. Além da música, a outra diversão do pai de Clara era passar as tardes de domingo jogando solo com seus dois amigos: o compadre Marramaque e o português Eduardo Lafões, um guarda de obras públicas. Clara engravida e Cassi Jones desaparece. Convencida pela vizinha, dona Margarida, que procurara na tentativa de conseguir um empréstimo e fazer um aborto, ela confessa o que está acontecendo à sua mãe. É levada a procurar a família de Cassi e pedir “reparação do dano”. A mãe do rapaz humilha Clara, mostrando-se profundamente ofen- dida porque uma negra quer se casar com seu filho. Clara “agora é que tinha a noção exata da sua situação na so- ciedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos”. O autor representa, na figura de Clara e no seu drama, a condição social da mulher, pobre e negra, geração após geração. No final do romance, consciente e lúcida, Clara reflete sobre a sua situação: O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como pos- suía essa varonil dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a eleva- ção dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam... No final do livro, especialmente na cena final, ao relatar o que se passara na casa da família de Cassi Jones para a sua mãe, conclui, em desespero, como se falasse em nome dela, da mãe e de todas as mulheres em iguais condições: “— Nós não somos nada nesta vida”. AN N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 5 AplicAndo pArA Aprender 1. (UFU) Texto I O único personagem feminino que escapa ao estereótipo de “coisa amorfa e pastosa” nesse romance (Clara dos Anjos) é dona Margarida, uma forte e voluntariosa senhora alemã, de olhos azuis e “traços enérgicos”. MICHELETTI, Guaraciaba. Contra o racismo e a injustiça. In: BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Ática, 2011, p. 10. Texto II A mórbida ternura da mãe por ele, a que não eram estranhas as suas vaidades pessoais, junto à indiferença desdenhosa do pai, com o tempo, fizeram de Cassi o tipo mais completo de vagabundo doméstico que se pode imagi- nar. É um tipo bem brasileiro. Se já era egoís- ta, triplicou de egoísmo. Na vida, ele só via o seu prazer, se esse prazer era o mais imediato possível. Nenhuma consideração de amizade, de respeito pela dor dos outros, pela desgraça dos semelhantes, de ditame moral o detinha, quando procurava uma satisfação qualquer. Só se detinha diante da força, da decisão de um revólver empunhado com decisão. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Ática, 2011, p. 35. Com base nos textos, faça o que se pede. a) Dona Engrácia, esposa de Joaquim dos Anjos e mãe de Clara, encaixa-se na definição do texto I. Apresente, em um parágrafo, as ca- racterísticas de dona Engrácia que revelam, no contexto da obra, que ela é “coisa amorfa e pastosa”. b) Para além da condição de progenitora, dona Salustiana, mãe de Cassi Jones, protegia-o de forma desmesurada, com grande intensidade. A partir da leitura do texto II, explique, em um parágrafo, os planos e objetivos de dona Salustiana para defender o filho dos crimes que este cometia. 2. (UFU) Uma dúvida lhe veio, ele era branco; ela mulata. Mas, que tinha isto? Havia tantos casos... Lembra-se de alguns... E ela estava tão convencida de haver uma paixão sincera no valdevinos, que, ao fazer esse inquérito, já recolhida, ofegava, chorava, e os seus seios duros quase estouravam de virgindade e an- siedade de amar. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. São Paulo: Tecnoprint/Ediouro, s/d, p. 100. a) Elabore um texto explicando quais as conse- quências advindas do rápidoromance entre a ingênua Clara dos Anjos e o conquistador Cassi Jones, em pleno Rio de Janeiro do século XIX. b) Elabore um texto explicando os motivos da reação negativa de dona Salustiana, mãe de Cassi Jones, quando Clara dos Anjos a visitou acompanhada de dona Margarida. 3. (UFU) — Mamãe, Mamãe! — Que é minha filha? — Nós não somos nada nesta vida. Todos os Santos – Rio de Janeiro – Dezembro de 1921-janeiro de 1922. BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Tecnoprint/Ediouro, s/d, p. 77. De acordo com o trecho acima, assinale a al- ternativa correta. a) O diálogo entre dona Engrácia e sua filha Cla- ra simboliza de forma alegórica a desumani- zação da mulher negra e pobre, numa socie- dade regida por D. Pedro I, mas manipulada por uma elite branca preconceituosa. b) Este pequeno diálogo pode ser considerado uma metáfora de uma classe social típica da primeira república: indivíduos escravos, sem perspectiva de ascensão econômica, os quais lutavam pela assinatura da lei Áurea. c) O diálogo entre Clara e sua mãe, Engrácia, que aparece ao final do romance Clara dos Anjos, publicado em plena monarquia, sim- boliza a falta de perspectiva da mulher negra, analfabeta e pobre. d) Este pequeno diálogo, que fecha o final do romance Clara dos Anjos, pode ser conside- rado uma metáfora do sofrimento de uma classe social que, mesmo com a assinatura da lei Áurea, continuava estigmatizada etnicamente. 4. (UEPB) Considere as afirmações: I. Os pensamentos de Clara revelam as difi- culdades da mulher em geral, negra em particular, nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX, em ter seus direitos assegurados num país que se transforma mas ainda mantém ve- lhas estruturas oligárquicas de exclusão: “Ela devia ter aprendido da boca dos seus pais que a sua honestidade de moça e de mulher tinha todos por inimigos”. II. As trajetórias de Cassi e Clara demonstram ao longo do romance como, a despeito de serem ambos da pequena burgue- sia sem posses, as relações sociais não deixaram de ser ainda fortemente raciali- zadas: “Ora, uma mulatinha, filha de um carteiro!”. III. Em Clara dos Anjos, em meio a seus mui- tos tipos humanos, aparecem na narrativa AN N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 6 personagens nos quais sobressai uma espé- cie de força moral incorruptível, humana e solidária, como dona Margarida: “O que era preciso, tanto a ela como as suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente”. a) Nenhuma está correta. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas I e II estão corretas. d) Apenas I está correta. e) Todas estão corretas. 5. (UEPB) Considere o fragmento de Clara dos Anjos para responder à questão. A educação que recebera, de mimos e vigilân- cias, era errônea. Ela devia ter aprendido da boca dos seus pais que a sua honestidade de moça e de mulher tinha todos por inimigo, mas isto ao vivo, com exemplos, claramente... O bonde vinha cheio. Olhou todos aqueles ho- mens e mulheres... Não haveria um talvez, en- tre toda aquela gente de ambos os sexos, que não fosse indiferente à sua desgraça... Ora, uma mulatinha, filha de um carteiro! O que era preciso, tanto a ela como as suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil D. Margarida, para se defender de Cassis e semelhantes, e ba- ter-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam... Chegaram em casa; Joaquim ainda não tinha vindo. D. Margarida relatou a entrevista, por entre o choro e os soluços da filha e da mãe. Num dado momento, Clara ergueu-se da ca- deira em que se sentara e abraçou muito fortemente a mãe, dizendo, com um grande acento de desespero: — Mamãe! Mamãe! — Que é minha filha? — Nós não somos nada nesta vida. Assinale a alternativa correia. a) Clara dos Anjos é ambientado em uma cida- de imaginária, na qual a estrutura agrária do Brasil colonial e de suas relações sociais tradicionais não permitia casamentos entre brancos e negros. b) Em Clara dos Anjos e em suas principais obras, a linguagem de Lima Barreto é o portu- guês parnasiano, no qual o trabalho retórico com a linguagem tinha prioridade sobre sua comunicabilidade. c) O romance Clara dos Anjos é narrado em terceira pessoa por um narrador que emite opiniões e juízos de valor sobre as persona- gens e as cenas que narra. d) Os personagens de Clara dos Anjos são pobres que, à força de viverem em uma sociedade de privilégios, sucumbem, sem exceção, à cor- rupção e à miséria. e) Clara dos Anjos é um romance de resignação, que nos ensina a nos conformarmos com o lugar que nos é previamente reservado em nossa sociedade, sem lutar por condições hu- manas mais dignas nem por cidadania plena. 6. (Enem) Texto I Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exage- rado e partilhado por todos vos. Nós somos ir- mãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. E este mesmo o sentimento im- perturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste as idades e as épocas. RIO. J. A rua. In: A alma encantadora das ruas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento). Texto II A rua dava-lhe uma forca de fisionomia, mais consciência dela. Como se sentia estar no seu reino, na região em que era rainha e impe- ratriz. O olhar cobiçoso dos homens e o de inveja das mulheres acabavam o sentimento de sua personalidade, exaltavam-no ate. Diri- giu-se para a rua do Catete com o seu passo miúdo e solido. [...] No caminho trocou cum- primento com as raparigas pobres de uma casa de cômodos da vizinhança. [...] E debaixo dos olhares maravilhados das pobres raparigas, ela continuou o seu cami- nho, arrepanhando a saia, satisfeita que nem uma duquesa atravessando os seus domínios. BARRETO, L. Um e outro. In: Clara dos Anjos. Rio de Janeiro: Mérito (fragmento). A experiência urbana e um tema recorrente em crônicas, contos e romances do final do século XIX e início do XX, muitos dos quais elegem a rua para explorar essa experiência. Nos fragmentos I e II, a rua é vista, respecti- vamente, como lugar que: a) desperta sensações contraditórias e desejo de reconhecimento. b) favorece o cultivo da intimidade e a exposi- ção dos dotes físicos. c) possibilita vínculos pessoais duradouros e en- contros casuais. d) propicia o sentido de comunidade e a exibi- ção pessoal. e) promove o anonimato e a segregação social. AN N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ETTI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 7 Gabarito 1. a) Dona Engrácia é uma “coisa amorfa e pas- tosa”, pois representa o estereótipo da tradicional mulher brasileira do início do século XX: sua submissão às vontades do marido, sua religiosidade e seu descaso com os reais sentimentos da filha ilustram um panorama do Brasil patriarcal. b) Dona Salustiana temia aparentar ser uma mulher que era, de classe média; por esse motivo, temia que seu filho se envolvesse com mulheres mais pobres ou mesmo tra- balhasse. Para tanto, usa de sua influência e contrata advogados para que seu filho saia impune, mesmo que tal comporta- mento fosse antiético ou prejudicial para a formação do caráter do próprio filho. 2. a) Do breve romance entre Clara dos An- jos e Cassi Jones, ocorreram a gravidez dela, a qual se tornaria mãe solteira em um contexto social que não aceitava esse fato, colocando-a em situação desonrosa; o assassinato do padrinho dela, Marrama- que, personagem que tentava alertá-la a respeito de Cassi Jones; processo de ama- durecimento de Clara, percebendo que sua condição depende da visão da sociedade em que vive – nitidamente vítima do de- terminismo de meio. b) Dona Salustiana não aceita Clara dos An- jos, pois a protagonista representa o opos- to de Cassi Jones: ela é afrodescendente, pertence à classe baixa da sociedade, resi- de em áreas marginais. Por esses motivos, dona Salustiana não aceita que Clara sin- ta-se em condições de ser reparada pela situação de desonra ocasionada por Cassi Jones. 3. D 4. E 5. C 6. D AN N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76 A N N A C AR O LI N A FE R R ET TI W IS EN FA D 1 33 10 75 29 76
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