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Doenças exantemáticas Existem algumas doenças que provocam exantemas, dentre elas: 1. Exantema maculopapular: é a mais comum das doenças infecciosas sistêmicas. Mais comumente associada a vírus mas pode ser de etiologia diversa. Pode ser sarampo, rubéola, exantema súbito, eritema infeccioso e dengue. Ele é caracterizado da seguinte forma: a. Morbiliforme: pequenas maculo-pápulas eritematosas (3 a 10 mm), avermelhadas, lenticulares ou numulares, permeadas por pele sã, podendo confluir. É o exantema típico do sarampo, porém pode estar presente na rubéola, exantema súbito, nas enteroviroses, riquetsioses, dengue, leptospirose, toxoplasmose, hepatite viral, mononucleose, síndrome de Kawazaki e reações medicamentosas. b. Escarlatiniforme: eritema difuso, puntiforme, vermelho vivo, sem solução de continuidade, poupando a região perioral e áspero (sensação de lixa). Pode ser denominado micropapular. É a erupção típica da escarlatina; porém, pode ser observada na rubéola, síndrome de Kawazaki, reações medicamentosas, miliária e em queimaduras solares c. Rubeoliforme: parecido com o morbiliforme so que de coloraçao rósea com pápulas menores. É o exantema presente na rubéola, enteroviroses, viroses respiratórias e micoplasma d. Urticariforme: erupção papuloeritematosa de contornos irregulares. É mais típico em algumas reações medicamentosas, alergias alimentares e em certas coxsackioses, mononucleose e malária. 2. Exantema papulovesiculoso: pode ser varicela-zoster e herpes simples. SARAMPO Doença infectocontagiosa, prevenível por vacina, caracterizada por quadro febril e catarral seguido de exantema maculopapular. Tem duração de cerca de duas semanas e evolução benigna. ● Agente etiológico O vírus pertence ao grupo dos paramixovírus, RNA vírus e caracteriza-se pelo seu efeito citopático em cultura de células com aparecimento de células gigantes multinucleadas com inclusões eosinofílicas. ● Epidemiologia A proteção pelos anticorpos (IgG) maternos transferida para o feto se estende por volta do sexto mês e, a partir desse período, a criança é considerada suscetível ao vírus. A transmissão ocorre por contato direto, por meio das gotículas de Pflugge que podem permanecer infectantes por horas. Basicamente todos os infectados transmitem pois não existem portadores assintomáticos. Como em quase todas as infecções de transmissão respiratória, a maioria dos casos ocorre mais frequentemente no fim do inverno e início da primavera. Nos países em desenvolvimento atinge mais crianças < 3 anos com morbidade e mortalidade elevada em < 1 ano. Porém, se não há vacinação da maneira correta, os casos podem atingir crianças maiores. ● Quadro clínico O período prodrômico dura de 4 a 7 dias e se manifesta com FEBRE e SINTOMAS CATARRAIS como tosse, coriza, conjuntivite e outras manifestações inespecíficas como cefaleia, prostração, mialgias, dores abdominais, vômitos e diarréia. A MAIOR TRANSMISSIBILIDADE OCORRE NESSE PERÍODO. O aparecimento das manchas de Koplik (pontos esbranquiçados na mucosa oral oposta aos molares) ocorre no fim desse período prodrômico, precedendo até 48hrs o aparecimento do exantema e firmando diagnóstico de sarampo. Já o exantema inicia-se primeiro em região retroauricular e se estende para face e pescoço. O exantema é maculopapular, morbiliforme e pode se encontrar em face e tronco. No terceiro dia o exantema já é de corpo todo. A vermelhidão da face + coriza + conjutivite + edema palpebral + fotofobia + coriza gera a fácies sarampenta. A febre que inicialmente é elevada tende a cair a partir do 2 dia de erupção com melhora dos sintomas gerais e o sinal de Koplik desaparece. Em torno do quinto dia o exantema tende a escurecer e descamar, com aspecto furfuráceo, regredindo em ± 7 dias. A tosse seca pode persistir por várias semanas e, se houver persistência da febre nesse período, deve-se alertar para a vigência de complicações. O contágio pelas secreções ocorre desde 4 dias antes dos primeiros sintomas até cerca de 5-7 dias após o aparecimento. A infecção pode gerar comprometimento transitório da imunidade mostrado na negativação do teste de Mantoux e reativação da tuberculose preexistente. Crianças desnutridas podem ter diarreia. E imunocomprometidos tem alta morbimortalidade. Em gestantes pode levar ao aborto. ● Complicações A mais comum é otite média e normalmente por pneumococo influenzae. O comprometimento respiratório pode ocorrer em qualquer fase da doença com padrão de pneumonite intersticial. A mais grave é a Catarina Nykiel - MedManas broncopneumonia. Pode haver meningoencefalite ou panencefalite. ● Diagnóstico laboratorial Métodos diretos: isolamento do vírus em sangue, urina e secreções respiratórias Métodos indiretos: testes sorológicos (ELISA). Na fase aguda IgM positivo e IgG permite diagnóstico de infecção prévia. ● Tratamento Terapêutica sintomática. RUBÉOLA Doença infectocontagiosa que acomete crianças e adultos com evolução benigna. Tem algo poder teratogênico. ● Agente etiológico Rubivirus da família togavírus que nem sempre mostra efeito citopático mas que apresenta efeito de interferência, bloqueando outros vírus. ● Epidemiologia A transmissão é respiratória, por meio de secreções da nasofaringe de pacientes infectados. Pode haver pacientes assintomáticos (40%) e isso a torna um problema de saúde pública. A doença atinge frequentemente crianças em idade escolar, adolescentes e adultos jovens. Possui distribuição mundial e costuma causar epidemias em locais de aglomeração constante. A notificação da síndrome da rubéola congênita é obrigatória. ● Fisiopatologia A porta de entrada do vírus é a mucosa da nasofaringe e, a partir dos linfonodos locais, onde os vírus se multiplicam, inicia-se a viremia. O período de incubação é de 14 a 21 dias, e durante a primeira semana pós exposição não há sintomas, a partir da segunda semana é que se pode notar adenomegalia occipital e retroauricular. ● Quadro clínico Sintomas prodrômicos são cefaléia, febre, mal estar, conjuntivite e adenomegalia e podem durar até 3 dias. Em crianças, o exantema pode ser a primeira manifestação da doença. Haverão exantemas em face e pescoço com aspecto segmentar - vai acometendo por partes e quando acomete um novo o anterior reduz, raramente descama e não se encontra num local. Acompanha febre não muito alta que persiste por poucos dias e adenomegalia cervical. Pode haver o sinal do Forscheimer (petéquias em palato) e adenomegalia retroauricular. Artralgia aparece mais em mulheres e pode evoluir para artrite. O período de transmissibilidade se estende desde o final do período de incubação até 2 semanas após-exantema. Nos casos da rubéola congênita, o RN pode excretar o vírus persistentemente por períodos prolongados. !!!! Indivíduos vacinados não transmitem o vírus. ● Complicações Pode haver artrite em ⅓ das mulheres jovens, trombocitopenia em crianças e encefalite. ● Diagnóstico Métodos diretos: isolamento do vírus em sangue, urina e secreções respiratórias Métodos indiretos: testes sorológicos (ELISA). Na fase aguda IgM positivo (4 dias após início do rash) e IgG permite diagnóstico de infecção prévia. VARICELA - CATAPORA Causada pelo varicella-zoster gera febre com exantema papulovesiculoso generalizado com polimorfismo regional. Compromete mais crianças e tem evolução benigna. ● Agente etiológico O vírus VZ é um alfa herpesvírus cujo único reservatório é o ser humano. Possui característica de latência e reativação. Em indivíduos suscetíveis, após contato com o vírus VZ, acontece a infecção primária, que é a varicela. Em indivíduos anteriormente infectados pode haver reativação em forma de herpes zoster, que ocorre mais em idosos e imunodeprimidos. Herpes zoster em crianças está relacionada à exposição intrauterina ao vírus da varicela ou antes dos 18 meses de idade. ● Epidemiologia A transmissão é respiratória por meio de partículas de Pflügge que podem permanecer no ambiente por longo tempo. A transmissão pode também ser por contato direto com o líquido vesicular. Atingemais crianças em idade pré-escolar e escolar e tem maior frequência no fim do inverno e início da primavera. A imunidade é duradoura após a doença, embora haja relatos de nova ocorrência de varicela em pacientes imunodeprimidos. ● Fisiopatologia A porta de entrada é o trato respiratório e a mucosa conjuntival, onde o vírus se multiplica na nasofaringe e nos linfonodos regionais. Após 4 a 6 dias ocorre a viremia primária havendo multiplicação do vírus no fígado, baço e outros órgãos do sistema fagocítico. Logo depois, vem a viremia secundária envolvendo a pele. As viremias são indeterminadas pois em cada local há vários estágios de evolução. Na pele vamos achar degeneração das células basais e elevação da camada córnea, que caracteriza a lesão vesicular da varicela. O conteúdo da vesícula é claro e Catarina Nykiel - MedManas pode tornar-se turvo, podem romper e liberar o líquido infectante ou serem absorvidos e formar crostas. ● Quadro clínico Período prodrômico com febre alta, cefaleia, mialgias e mal-estar que duram até 3 dias mas ocorrem mais em adultos, as crianças geralmente tem o exantema como primeiro sinal. Exantema inicia-se em tronco como mácula → pápula → vesícula (aspecto de gotas de água em pétala de rosa) → crosta. Possuem polimorfismo regional e distribuição CENTRÍPETA - tronco, face, pescoço. Poupa região palmo-plantar. Pode afetar mucosas e couro cabeludo. A febre decorrente dos episódios de viremia pode ser alta e acompanha o exantema no início do quadro. A persistência da febre após o quinto dia de exantema pode significar presença de complicações. Prurido frequente e as escoriações são porta para infecções secundárias. As crostas NÃO são infectantes e quando a última crosta se forma, não é mais transmissível. O período de transmissibilidade da varicela é cerca de 48 horas antes do primeiro sintoma até o aparecimento da última crosta. ● Complicações A complicação pulmonar (pneumonite intersticial pelo vírus VZ) é rara em crianças, e em adultos pode evoluir para quadro de insuficiência respiratória. Uso de aas pode aumentar o risco de síndrome de Reye, caracterizada por quadro grave de encefalopatia aguda associada à degeneração gordurosa do fígado. Quadro cerebelar é mais frequente em crianças e pode haver ataxia, alterações de fala que evoluem até 4 semanas sem deixar sequelas. ● Diagnóstico Métodos diretos: esfregaço (Tzanck) – identifica células gigantes multinucleadas com corpúsculos de inclusão, caracterizando o herpesvírus Métodos indiretos: realização de testes sorológicos por técnica de ELISA, FAMA (anticorpos fluorescentes contra antígeno de membrana) e hemaglutinação por imunoaderência. Exantema súbito Doença viral de evolução benigna causada pelo herpesvírus humano tipo 6 e 7. É conhecida como Roseola infantum. É mais comum nos mais novinhos, lactentes e pré-escolares, com pico maior de incidência dos 6 até os 15 meses de vida. ● Etiopatogenia Sabemos que uma das habilidades do herpesvírus é a de permanecer em estado latente no organismo após a primoinfecção, assim como o vírus da varicela. Tanto o HHV 6 quanto o HHV 7 são excretados pela saliva de adultos saudáveis e são transmitidos às crianças pequenas através da mucosa nasal, oral ou conjuntival. Com a infecção, após a viremia, as partículas tornam-se latentes nas células mononucleares, glândulas salivares, rins, pulmão e SNC. Temos o HHV 6 como o mais frequente aqui. Ainda, ele tem a capacidade de provocar supressão de TODAS as linhagens hematopoiéticas da medula óssea, estando muitas vezes associado à mielossupressão grave em pacientes pós-transplantes. ● Epidemiologia Sua transmissão ocorre por secreção oral do portador sadio. Normalmente atinge crianças, principalmente os menores de 4 anos. ● Quadro clínico 1. Início com sintomas prodrômicos inespecíficos, como rinorreia, hiperemia conjuntival e dor de garganta; 2. Linfadenomegalia cervical e occipital discreta pode aparecer, e algumas crianças ainda podem ter um leve edema palpebral; 3. Tem início súbito com febre alta que varia de 39 a 40° e gera extrema irritabilidade. O exantema é do tipo maculopapular, com lesões discretas de 2 a 3cm de diâmetro que não se unem. Atinge mais o tronco em seguida da face, região cervical e raíz dos membros, sendo de curta duração (24 a 72 horas) e não descama. ● Diagnóstico Diagnóstico laboratorial pode ser feito por meio de teste sorológico para HHV-6 que detecta anticorpos IgM e IgG. ● Tratamento Apenas tratamento sintomático é indicado! Temos alguns estudos sugerindo alternativas, mas nada que seja consenso. Algumas cepas de HHV parecem ter o mesmo perfil de sensibilidade a fármacos qualitativamente similares aos utilizados no tratamento do CMV, sem resposta ao aciclovir, mas com resposta in vitro ao ganciclovir, cidofovir e foscarnet. Esse ganciclovir vem sendo empregado em pacientes imunodeprimidos com doença grave pelo HHV 6. ERITEMA INFECCIOSO Doença viral de evolução benigna, causada pelo parvovírus humano B19. ● Etiopatogenia Existem vários tipos de parvovírus, mas só o B19 é capaz de infectar humanos. Os precursores eritróides na medula óssea são as células-alvo primárias da infecção por parvovírus B19. Catarina Nykiel - MedManas Isso por que elas tem como receptor os antígenos P destas células, o que faz com que elas também possam atacar células endoteliais, placentárias e miocárdicas. Esse efeito citopático não acontece na linhagem mielóide, e por isso a neutropenia e trombocitopenia que podem ocorrer em alguns casos dessa infecção não possuem um mecanismo bem compreendido. ● Epidemiologia Sua transmissão ocorre por via respiratória, principalmente em comunidades fechadas. A transmissibilidade máxima ocorre antes do exantema. Geralmente acomete crianças de 2 a 14 anos. ● Quadro clínico Geralmente sem pródromos, podendo surgir alguns sinais inespecíficos, como febrícula, mialgia, rinorreia, obstrução nasal e cefaléia. O exantema inicia-se após uns 16 dias e começa pela face sob a forma de eritema difuso, com distribuição em “vespertilho” e edema de bochechas (fácies esbofeteada). A região perioral fica pálida. As outras regiões da face são poupadas. O exantema é tipo maculopapular, com palidez central que confere rendilhado à lesão. Acomete o tronco e a face extensora dos membros, podendo regredir em até 3 semanas. Pode haver recorrência da doença pela ação de estímulos como o sol, o estresse e variação de temperatura. - Artropatia A poliartralgia ou poliartrite pode aparecer de forma isolada ou associada a outras manifestações, sendo mais comuns em meninas e adultos jovens. As articulações mais afetadas vão ser mãos, punhos, joelhos e tornozelos, apresentando curso autolimitado com média de 2 a 4 semanas, não sendo destrutivo. - Crise aplástica transitória ATENÇÃO PARA CRIANÇAS COM ANEMIA HEMOLÍTICA CRÔNICA (anemia falciforme)!!! Pela característica de efeito citopático dos precursores eritróides, essas crianças podem apresentar um agravamento da anemia (queda de ±3g/dL) com reticulocitopenia. ● Diagnóstico Sorologia para detecção de anticorpos IgM (ensaio imunoenzimatico-Elisa). ● Tratamento - Crianças: tratamento sintomático raramente é necessário; - Imunodeprimidos ou com falência medular: pode ser indicado o uso de imunoglobulina IV, a qual pode dar bons resultados, mas que podem ser transitórios; - Anemia aplásica: transfusão de hemoderivados; - Fetos: podem ser tratados com transfusão intra útero. ESCARLATINA Causada pelo Streptococcus pyogenes, uma bactéria beta hemolítica do Grupo A, produtora de toxina eritrogênica. ● Etiologia É resultado de alterações capilares (capilarite generalizada) determinadas pela ação da exotoxina pirogênica produzida por cepas lisogênicas de Streptococcus pyogenes. Há três tipos de toxina pirogênica (A, B e C), razão pela qual a mesma pessoa poderá vir a ter até três episódios de escarlatina. Já a faringotonsilite aparece quase sempre no segundo dia de doença, o exantema é generalizado e constituído por micromáculas róseas confluentes, quesurgem primeiro na parte ântero superior do tórax, daí se estendendo de forma rápida ao restante do tronco e aos membros. ● Epidemiologia Acomete principalmente crianças de 2-10 anos de idade. A transmissão ocorre através do contato com secreções respiratórias com paciente que apresenta a faringoamigdalite estreptocócica aguda. ● Quadro clínico Período de incubação de 2-5 dias. Ocorre ou ao mesmo tempo ou após uma faringoamigdalite membranosa, apresenta-se com febre alta e mal-estar, exantema eritematoso puntiforme com uma pele áspera tipo lixa. - Sinal de Filavot: palidez peribucal - Sinal de Pastia: linhas marcadas nas dobras de flexão - Língua em framboesa: papilas fungiformes A partir do 5º ao 7º dia, verifica-se uma descarnação lingual com múltiplas elevações papilares, que alguns autores denominam “língua em morango”. Normalmente não acomete palma das mãos e planta dos pés. Há uma descamação extensa em mãos e pés que inicia-se após uma semana. A transmissibilidade de 10-21 dias em pacientes não tratados e sem complicações. ● Complicações Podem ocorrer dentro de 1-5 semanas e incluem: a. Glomerulonefrite aguda b. Febre reumática aguda Complicações tardias são a coréia de Sydenham e cardiopatia reumática. ● Diagnóstico O diagnóstico laboratorial pode ser realizado através de teste rápido (aglutinação de Látex) em secreção colhida de orofaringe. ● Tratamento Fazemos o tratamento de escolha para a escarlatina com a penicilina que elimina os estreptococos, evita as complicações da fase aguda, previne a febre reumática e diminui a possibilidade de aparecimento de glomerulonefrite (lesão renal). Nos doentes alérgicos à Catarina Nykiel - MedManas penicilina o medicamento habitualmente utilizado é a eritromicina. FEBRE AMARELA A Febre Amarela é uma doença infecciosa viral febril aguda que pode ser transmitida pela picada de mosquitos infectados com o arbovírus amarílico. ● Etiopatogenia Família Flaviviridae, a mesma do vírus da dengue. O arbovírus é transmitido pelos mosquitos pertencentes às espécies Aedes e Haemogogus sendo assim, não há transmissão direta de pessoa a pessoa. Nas formas graves têm uma tríade: icterícia, hemorragias e insuficiência renal aguda, com letalidade de 20 a 50%. Os vírus da febre amarela produzem uma infecção sistêmica. Após uma replicação inicial, o vírus é liberado por células nos dutos linfáticos e, em seguida, para os vasos sanguíneos, produzindo viremia. Seguindo-se à viremia, o vírus infecta órgãos pelos quais tem tropismo, incluindo coração, timo, rim e fígado. No fígado, os hepatocitos, células de Kupffer e macrófagos são infectados, e essas células sofrem apoptose ou necrose lítica, produzindo os sinais e sintomas de doença hepática. Já nos rins, as alterações glomerulares são relativamente insignificantes comparadas à necrose tubular aguda e à degeneração tubular gordurosa. O vírus tem sido observado infectando células tubulares. Alterações da membrana basal glomerular, positivas para a coloração de Schiff, têm sido descritas, sendo associadas com alteração da permeabilidade a proteínas e albuminúria. Além disso, podemos ter alterações no cérebro, coração e nos elementos linfocíticos do baço e linfonodos apresentam-se depletados, com acúmulo de histiócitos nos folículos esplênicos. ● Quadro clínico A febre amarela começa abruptamente, com febre, calafrios, cefaleia intensa, dor lombossacral, mialgia generalizada, anorexia, náuseas e vômitos, além de hemorragias gengivais de pequena intensidade ou epistaxe. Apesar de o paciente apresentar febre alta, pode haver bradicardia relativa à temperatura (sinal de Faget). Essa síndrome dura aproximadamente três dias e corresponde ao período de infecção, durante o qual o vírus está presente na circulação. Essa fase pode ser seguida pelo período de remissão, no qual ocorre a melhora dos sintomas e que dura, em média, 24 horas. Entretanto, nos quadros graves, a febre e os sintomas reaparecem. Os vômitos tornam-se mais frequentes, e aparecem dor epigástrica, prostração e icterícia. Esses sintomas caracterizam o período de intoxicação. A viremia já não está mais presente e os anticorpos aparecem nessa fase. A diátese hemorrágica se apresenta como hematêmese (vômito negro), melena, metrorragia, petéquias, equimoses e sangramento difuso pelas membranas mucosas. O exantema é CENTRÍFUGO, surge entre o 3 e 5 dia de evolução e sua ausência pode ser sinal de gravidade, Ele surge no palato e membros inferiores e é escarlatiforme ou máculopapular e durante a remissão pode haver prurido ● Diagnóstico 1. HEMOGRAMA: aumento de 20% do valor habitual caracteriza dengue hemorrágica. É comum leucopenia e linfocitopenia. 2. TRANSAMINASES: aumento discreto 3. MAC ELISA: detecção de igM por ensaio imunoenzimático. O teste é positivo em 80% dos casos e a partir do 5° dia, mas pode permanecer positivo até 2 ou 3 meses. 4. PCR ● Tratamento Não existe droga antiviral que atue adequadamente contra o vírus e seja bem tolerada a ponto de poder ser utilizada no tratamento da febre amarela. A ribavirina e o interferon-α já foram usados sem resultados satisfatórios. Assim, o tratamento se baseia em oferecer cuidados de suporte em terapia intensiva ao paciente. Entretanto, não se sabe se a administração vigorosa de fluidos e a correção da hipotensão e dos distúrbios do equilíbrio ácido básico influenciaram na reversão do inexorável curso dos casos graves. DENGUE A Dengue é uma doença causada por qualquer um dos sorotipos dos vírus da dengue, que pertencem à família Flaviviridae, e são transmitidos ao homem pela picada de fêmeas de mosquitos do gênero Aedes. Ela é considerada a mais importante virose transmitida por artrópodes, que acomete o homem em termos de morbidade e mortalidade. ● Etiopatogenia Existem quatro sorotipos do vírus da Dengue, denominados DENV1, DENV2, DENV3, DENV4 pertencem à família Flaviviridae, gênero Flavivirus, que inclui pelo menos 70 membros e possui, como protótipo, o vírus da febre amarela. Os vírus da dengue se replicam no citoplasma celular, após um período de latência de 12 a 16 horas (células de vertebrados) e esse processo relaciona-se à proliferação de organelas no retículo endoplasmático. Os principais vetores da dengue são mosquitos Aedes das espécies aegypti e albopictus, ● Quadro clínico As manifestações clínicas observadas durante a infecção pelos vírus da dengue ocorrem após um período de incubação de 2 a 8 dias e são muito variáveis, podendo ser didaticamente classificadas em: ● As infecções assintomáticas; ● A febre da dengue, subdividida em quadros de febre indiferenciada (síndrome viral) e as manifestações clássicas da dengue (dengue clássica); a febre hemorrágica da dengue e síndrome de choque da dengue (DHF/DSS); ● Quadros menos frequentes, e manifestações clínicas menos usuais, como a hepatite e acometimento cardíaco, e do sistema nervoso central. A dengue clássica apresenta-se com início abrupto. Em temperaturas de 39 a 40°C, acompanham-se de cefaléia intensa, dor retro-ocular, mialgias, artralgias e manifestações gastrintestinais, como vômitos. Um exantema pode surgir no terceiro ou quarto dia de doença e é caracterizado por um exantema intenso em que se salientam pequenas áreas de pele sã, sendo que Catarina Nykiel - MedManas alguns autores o caracterizam por “ilhas brancas em um mar vermelho”, que é chamado de Rash da dengue. O prurido geralmente acompanha o aparecimento do exantema, sendo muitas vezes de difícil controle. Além disso, em alguns casos, fenômenos hemorrágicos discretos (epistaxe, petéquias, gengivorragias) podem ocorrer e não caracterizam um caso de dengue hemorrágica. A febre costuma ceder em até seis dias, iniciando-se a convalescença, que pode durar semanas, com astenia e depressão. A diferença para a hemorrágica pode se apresentar no exame hematológico, onde a gente observa leucopenia com linfocitopenia após o segundo dia de doença. O número de plaquetas encontra-se normal ou, em alguns casos, diminuído. Há uma elevação discreta nos níveis séricos de aminotransferases,geralmente em torno de 2 a 3 vezes superior ao limite de normalidade. SINAIS DE ALARME ★ Dor abdominal ★ Vômitos persistentes ★ Evidência clínica de acúmulo de fluidos (por exemplo, derrame pleural) ★ Letargia/irritabilidade ★ Sangramento de mucosas ★ Hepatomegalia maior do que 2 cm ★ Aumento do hematócrito associado à trombocitopenia. Os fenômenos hemorrágicos surgem no segundo ou terceiro dia de doença, com petéquias na face, véu palatino, axilas e extremidades. Podemos realizar o teste do torniquete ou prova do laço, que é aquele teste que faz a insuflação de um esfigmomanômetro até a média aritmética entre as pressões arterial sistólica e diastólica, mantendo-se essa pressão por cinco minutos e buscando-se a presença de petéquias, sob o torniquete ou abaixo (o teste é considerado positivo quando se encontram 20 petéquias ou mais). Podem ocorrer púrpuras e grandes equimoses na pele, epistaxes, gengivorragias, metrorragias e hemorragias digestivas moderadas também, tem que ficar atento. Já no exame físico observa-se fígado palpável e doloroso, 2 a 4 cm abaixo do rebordo costal. Esplenomegalia é observada em alguns casos. A presença de hepatomegalia, hematêmese e dor abdominal indica mau prognóstico, com provável evolução para o choque, essa síndrome de choque costuma surgir entre o terceiro e o sétimo dias de doença, mantendo-se esse estado crítico por 12 a 24 horas. Os pacientes mostram-se agitados e em alguns casos referem dor abdominal. Posteriormente, tornam-se letárgicos, afebris e com sinais de insuficiência circulatória: pele fria e pegajosa, cianose perioral, pulso rápido e sudorese fria. A pressão arterial mostra-se convergente, baixa ou imensurável. Instala-se acidose metabólica e coagulação intravascular disseminada (CIVD), e se não houver tratamento a pessoa morre em 4 a 6 horas. Entretanto, após a recuperação, o doente geralmente não apresenta sequelas. A classificação preconizada pela OMS é a seguinte: ● Diagnóstico Objetiva detectar a presença de anticorpos específicos. As técnicas mais utilizadas na rotina diagnóstica são o ensaio imunoenzimático para captura de IgM - MAC-ELISA e a inibição de hemaglutinação - IH e por último mas não menos importante temos a Detecção de genoma e antígenos virais, feitos nos casos de evolução fatal a imuno histoquímica tem sido indicada para detecção do antígeno viral nos tecidos. ZICA O vírus zika é uma arbovírus do gênero Flavivírus, família Flaviviridae. É transmitido primariamente pela picada de mosquitos do gênero Aedes infectados, sobretudo o Aedes aegypti e o Aedes albopictus. Além da transmissão vetorial, outras formas de transmissão até então teóricas ou anedóticas passaram a receber maior atenção. O RNA do vírus da zika já foi detectado no sangue, urina, sêmen, saliva, líquor, líquido amniótico e leite materno (importante para diagnóstico). ● Quadro clínico O período de incubação da doença varia de 3 a 12 dias, sendo em média de 4 dias. Pode manifestar-se clinicamente como uma doença febril aguda, com duração de 3-7 dias, caracterizada pelo surgimento do exantema maculopapular pruriginoso (surge no 10 dia e está presente em 90% dos pacientes). Ocorre principalmente em face, tronco, extremidades, palmas das mãos e plantas dos pés. Febre (sem febre, subfebril ou inferior a 38ºC), hiperemia conjuntival não purulenta e sem prurido, artralgia, mialgia, edema periarticular e cefaleia. A artralgia pode persistir por aproximadamente um mês. Segundo a literatura, mais de 80% das pessoas infectadas não desenvolvem manifestações clínicas. Foi observada uma correlação entre a infecção pelo ZIKAV e a ocorrência de síndrome de Guillain-Barré, além de casos de microcefalia no Brasil. ● Diagnóstico Diagnóstico feito por isolamento viral, detecção do RNA viral por RT-PCR ou sorologia IgM com o ELISA. Pode haver reações falso positivas com quem já teve dengue. Catarina Nykiel - MedManas Podemos encontrar achados inespecíficos em exames laboratoriais como discreta a moderada leucopenia e trombocitopenia, ligeira elevação da dosagem de desidrogenase lática sérica, gama glutamiltransferase e de marcadores de atividade inflamatória (proteína, fibrinogênio e ferritina). CHIKUNGUNYA A chikungunya é uma arbovirose causada pelo vírus chikungunya (CHIKV). A transmissão se dá através da picada de fêmeas dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus infectadas pelo CHIKV. Casos de transmissão vertical podem ocorrer quase que exclusivamente no intraparto de gestantes virêmicas e, muitas vezes, provoca infecção neonatal grave. ● Quadro clínico O período médio de incubação da doença é de 3 a 7 dias (podendo variar de 1 a 12 dias). A doença pode manifestar-se clinicamente de três formas:aguda, subaguda e crônica. Na fase aguda os sintomas aparecem de forma brusca e compreendem febre alta (acima de 38ºC), artralgia intensa (predominantemente nas extremidades e nas grandes articulações), cefaleia e mialgia. Também é frequente a ocorrência de exantema maculopapular, em geral de 2 a 5 dias após o início da febre em aproximadamente 50% dos doentes. Atinge o tronco e as extremidades, incluindo palmas e plantas, podendo atingir a face. O prurido está presente em 25% dos pacientes e pode ser generalizado ou apenas localizado na região palmo-plantar. Os sintomas costumam persistir por 7 a 10 dias, mas a dor nas articulações pode durar meses ou anos e, em certos casos, converter-se em uma dor crônica incapacitante. FASE SUBAGUDA: a febre desaparece, pode haver persistência ou agravamento da artralgia. Pode ocorrer a síndrome do túnel do carpo. Podem estar presentes também, nesta fase, astenia, recorrência do prurido generalizado e exantema maculopapular, além do surgimento de lesões purpúricas, vesiculares e bolhosas. Alguns pacientes podem desenvolver doença vascular periférica, fadiga e sintomas depressivos. FASE CRÔNICA: costuma atingir mulheres acima de 45 anos. Gera acometimento articular persistente ou recidivante nas mesmas articulações da fase aguda, limitação dos movimentos, deformidade e ausência de eritema. Também há relatos de dores nas regiões sacroilíaca, lombossacra e cervical. Alguns pacientes poderão evoluir com artropatia destrutiva semelhante à artrite psoriática ou reumatoide. Outras manifestações descritas durante a fase crônica são: fadiga, cefaleia, prurido, alopecia, exantema, bursite, tenossinovite, disestesias, parestesias, dor neuropática, fenômeno de Raynaud, alterações cerebelares, distúrbios do sono, alterações da memória, déficit de atenção, alterações do humor, turvação visual e depressão. Pode durar de 6 meses a 3 anos. ● Diagnóstico Para a pesquisa do RNA, podem ser usados RT-PCR e qRT-PCR. Esses proporcionam diagnóstico rápido e sensível, o qual o RNA é detectado até o oitavo dia após o aparecimento dos sintomas (1º ao 5º dia tem maior viremia). Para detectar anticorpos se usa ELISA e teste imunocromatográfico. O IgM é detectado a partir do 2º dia após sintomas e o IgG a partir do 6º dia. SEMIOTÉCNICA Doenças exantemáticas ● Anamnese - Idade: ajuda na diferenciação. O exantema súbito ocorre em crianças a partir de 6 meses até 24 anos de idade, já o eritema infeccioso acomete > 3 anos. A idade vai influenciar o período prodrômico, na rubéola, por exemplo, ele será marcado em adolescentes e adultos enquanto que nas crianças pode ser discreto ou ausente. Embora não tenhamos as estações do ano bem definidas no Brasil, é sabido que a maioria dos exantemas de origem infecciosa ocorre no inverno e primavera, tal como o eritema infeccioso, a varicela e o sarampo. - Estação do ano/situação epidemiológica - Antecedentes: Exantemas prévios; história vacinal; história de atopia; situação imunológica (asplenia, doenças hematológicas malignas, imunodeficiência); exposição de contato (pessoas doentes, campo aberto, insetos, animais); viagem recente; uso recente de medicações; período de incubação. - Período prodrômico: prodrômico O intervalo de tempo entre as primeiras manifestaçõesclínicas e o início do exantema. De-se questionar duração; febre; manifestações respiratórias, gastrointestinais, neurológicas, entre outras. - Exantema: tipo; progressão; distribuição; prurido; descamação. ● Exame físico a) Exantema: tipo; distribuição; descamação; lesões associadas, regiões afetadas/polpadas. Inicialmente deve-se observar detalhadamente a característica da lesão elementar do exantema, procurando-se identificá-la: mácula (lesão plana, não palpável e circunscrita); pápula (lesão firme e elevada, palpável, com bordas nítidas e diâmetro menor que 1 cm); placa (lesão achatada, palpável, com diâmetro maior que 1 cm); vesícula (lesão papular preenchida por líquido claro, com menos de 1 cm de diâmetro); pústula (elevação papular semelhante a vesícula com conteúdo purulento de até 1 cm de diâmetro); petéquia (lesão hemorrágica que não desaparece à pressão, não maior que poucos milímetros) e púrpura (lesão hemorrágica que não desaparece à pressão, maior que 1 cm). A presença de prurido alerta para a possibilidade de o paciente ter sido acometido por varicela, escabiose, urticária, estrófulo, reação medicamentosa ou dermatite atópica; enquanto o exantema não pruriginoso é comum no sarampo. No exantema súbito a lesão geralmente inicia no tronco enquanto na rubéola tem seu início na face seguindo caudalmente de forma rápida para o corpo. A fisiopatogenia do exantema pode ser sugerida pelo seu comportamento à manobra de digitopressão. Quando essa desencadeia o desaparecimento do eritema sugere fenômeno de vasodilatação, tipicamente Catarina Nykiel - MedManas relacionado às reações medicamentosas, doenças virais, doença de Kawasaki ou escarlatina; enquanto nas alterações hemorrágicas, geralmente ocasionadas por vasculite ou alterações da crase sanguínea, não há alteração do aspecto da lesão quando submetidas à pressão. A presença de descamação cutânea e suas características (ausente na rubéola, fina no sarampo, em grandes placas na escarlatina ou em pontas de dedos na doença de Kawasaki) podem igualmente contribuir para o diagnóstico. b) Sinais associados: adenomegalia; anemia; artrite/artralgia; hepato/esplenomegalia; meningismo; conjuntivite; faringoamigdalite. A adenomegalia consiste um achado comum na rubéola e no exantema súbito, com acometimento das cadeias cervicais posteriores, occiptais e retroauriculares. O aumento, especialmente na cadeia cervical, é visto ainda em pacientes com escarlatina, mononucleose e mais raramente por reação medicamentosa Catarina Nykiel - MedManas
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