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1 Felipe Altimari 2 – Lesões elementares e doenças exantemáticas Problema: Evolução ruim MAM, 8 anos de idade, é trazido à UPA com queixa de febre, dor de cabeça e manchas avermelhadas pelo corpo. Segundo relato da mãe, apresenta piora progressiva do quadro febril que iniciou associado à tosse e coriza. Refere que há cerca de 4 dias notou o aparecimento de manchas avermelhadas que inicialmente se apresentaram na cabeça, progredindo para tronco e por último nos membros. Moradores de uma comunidade alternativa, os pais ficaram preocupados e optaram por trazer seu filho ao atendimento médico após a morte de outra criança com evolução semelhante. A outra criança referida, de 4 anos de idade, após visitar seus avós em Roraima, iniciou quadro de vermelhidão nos olhos seguido de tosse com coriza, manchas brancas na face interna da boca que foram seguidas em cerca de 2 dias por manchas vermelhas pelo corpo. Evoluiu com agravamento do quadro febril até o óbito decorrente de uma encefalite. Questionados sobre o cartão de vacinação, os pais informaram que por convicção pessoal não realizaram nenhuma vacina em MAM acreditando que a exposição às doenças típicas da infância seja mais seguro. Ao exame a criança apresenta-se prostada, febril (39,2°C), com exantema máculo papular mobiliforme. Preocupados com a evolução do quadro de MAM, a equipe médica procedeu o encaminhamento para o hospital de referência, coleta de sorologias, assim como das providências para protocolo de notificação compulsória. Objetivos: 1- Caracterizar as lesões cutâneas 2- Caracterizar doenças exantemáticas . 2 Felipe Altimari LESÕES ELEMENTARES INTRODUÇÃO Lesões elementares são padrões de alteração na pele as quais possibilitam a construção de hipóteses diagnósticas. As alterações no tegumento que constituem as lesões elementares são desencadeadas por processos físicos, químicos, biológicos, imunológicos, psíquicos e até mesmo por razões desconhecidas, sendo que, a natureza dos mecanismos, podem ser: inflamatórios, metabólicos, circulatório, hiperplásico ou degenerativo. Para a melhor avaliação dessas lesões, o ideal é que o exame dermatológico seja realizado com uma boa iluminação (solar ou fluorescente) permitindo uma melhor inspeção e correlação clínica Podem ser divididas em primárias ou secundárias. As lesões primárias são as que ocorrem na pele que previamente não havia lesões, como as máculas/manchas, pápulas/placas, nódulos, vegetações, vesículas e bolhas. Já as secundárias são as decorrentes de alterações nas lesões primárias, como é o caso da liquenificação, do espessamento, da cicatriz e da úlcera. MODIFICAÇÕES DE COR Representam áreas circunscritas de coloração diferente da pele normal, porém sem alterações de relevo, independente da natureza da alteração. São chamadas de máculas (até 1cm) ou manchas (> 1cm). Essas alterações de cor podem ser pigmentares, vasculares, hemorrágicas ou por deposição pigmentar. MÁCULAS (até 1cm) X MANCHAS (> 1cm). Pigmentares: As alterações pigmentares são consequências de mudanças na deposição de melanina e podem ser: Hipercrômicas: Temos como exemplo de mácula ou mancha hipercrômica o melasma, hiperpigmentação que ocorre em áreas fotoexpostas e que pode estar relacionada à gestação, ao uso de contraceptivos hormonais ou uso de outros medicamentos. (excesso de melanina) Acrômicas: Do outro lado, temos o vitiligo, doença caracterizada pela ausência de melanócitos na região da lesão, como principal exemplo de mancha acrômica. Hipocrômicas Diminuição de melanina (ex. hanseníase indeterminada) Vasculares: As alterações vasculares são resultantes de distúrbios da microcirculação da pele e podem ser transitórias (de ordem funcional) ou permanentes. Lesões transitórias: são de ordem funcional e, portanto, o seu aparecimento e duração estão condicionados à natureza do processo e do elemento causador, não apresentam relevo, desaparecem com a digito ou vitropressão e se subdividem em dois tipos: eritema/enantema e cianose/cianema. Lesões permanentes Eritema, causada por um aumento no fluxo sanguíneo local (dilatação das arteríolas), que aparece como uma hiperemia Figura 3: Eritema (exantema viral). Eritema (pele), e enantema (mucosas), se caracterizam pela cor avermelhada, em intensidade moderada devido à hiperemia ativa, aumentando assim o fluxo sanguíneo arterial. Em áreas extensas, o eritema recebe o nome de exantema, e pode ser morbifiliforme ou escarlatiniforme. Telangiectasia, causada por uma dilatação permanente do calibre de pequenos vasos. Podem estar relacionadas com a constrição vascular funcional, à exemplo do nevo anêmico, o qual é caracterizado clinicamente por uma mancha hipocrômica que quando friccionada não se torna eritematosa, por conta da alteração na reatividade vascular pelas catecolaminas. Vale lembrar do diagnóstico diferencial com o nevo acrômico, que se torna eritematoso após friccionado Cianose: colocação azulada da pele que aparece principalmente nas extremidades digitais secundária ao aporte inadequado de sangue oxigenado aos tecidos. Identificadas pela coloração azulada, a cianose (pele) e cinema (mucosas) se manifestam quando a concentração de hemoglobina no sangue está reduzida, sendo melhor observada nas extremidades digitais, no leito ungueal, orelhas e conjuntivas. É considerada central quando relacionada à alterações de natureza cardiopulmonar e, periférica quando relaciona-se à circulação ou alterações na própria hemoglobina. Angioma, que é um aumento do número de vasos, em geral congênito Nevo anêmico, que é uma mancha hipoacrômica que não se torna eritematosa após friccionada (e decorre de uma reatividade local às catecolaminas). Hemorrágica: As alterações hemorrágicas são decorrentes de hemorragias dérmicas e variam do vermelho ao amarelho-acastanhado. Podem ser diferenciadas dos eritemas porque não desaparecem à digitopressão, já que é um sangue extravasado. A lesão elementar é chamada de púrpura, porém pode ser classificada em: Petéquias: lesões purpúricas puntiformes, em geral múltiplas, comuns nas vasculites por hipersensibilidade. São caracterizadas pelo acometimento de vênulas, inflamação e necrose fibrinoide. Figura 5: Púrpuras (vasculite) A púrpura de Henoch-Schonlein é uma vasculite que está associada a depósitos de IgA na pele. É a vasculite mais frequente em crianças e adolescentes, com possibilidade de acometimento articular, gastrointestinal e renal. Víbices: lesões purpúricas de aspecto linear, originária de um trauma. Equimose/Hematoma: lesão de dimensão maior que as demais. Deposição pigmentar: As alterações por deposição pigmentar são decorrentes, principalmente, de deposição de bilirrubina (icterícia), pigmento carotênico (ingesta exagerada de alimentos ricos em betacarotenos, como mamão e cenoura) e tatuagens. 3 Felipe Altimari FORMAÇÕES SÓLIDAS Decorrentes de processos inflamatórios ou neoplásicos, de modo que podem atingir isolada ou conjuntamente a epiderme, derme e hipoderme. As formações sólidas são compostas pelas pápulas/placas, nódulos, cistos e vegetações. Vegetações São lesões sólidas, salientes, que podem ter formas lobulares, filiformes ou em couve-flor, com consistência mole, que surge pela hipertrofia de algumas papilas dérmicas. Existem dois tipos de vegetação: • Verrucosa: caracteriza-se por ser seca, pois a epiderme que recobre está íntegra, com grande aumento da camada córnea; e • Condilomatosa: úmida, porque a camada córnea está normal ou diminuída, permitindo exosserose, como ocorre nas mucosas e dobras. A presença de vegetações é comum em algumas dermatoses, como sífilis, condiloma acuminado, neoplasias, dermatites medicamentosas, entre outras. Dessa forma, utiliza-se o mnemônico “PLECCT” para agrupar os principais diagnósticos diferenciais das lesões vegetantes. MNEMÔNICODIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE LESÕES VEGETANTES P Paracoccidiodomicose L Leishmaniose E Esporotricose C Cromomicose C Carcinoma espinocelular T Tuberculose Pápulas/ placas São elevações superficiais bem delimitadas da pele. As pápulas são puntiformes e < 5 mm. Já as placas medem mais que 5mm e podem coalescer entre si. A cor da lesão é muito variada, podendo ser rósea, castanha ou arroxeada, a depender da dermatose (picada de inseto, verruga, erupções medicamentosas, acne, hanseníase e outras). Podem ser: • Epidérmicas: aumento de células das camadas da epiderme; • Dérmicas: aumento de células mesenquimais ao nível da derme papilar; • Mistas: aumento concomitante das duas camadas. Tumores Os tumores são lesões elevadas maiores que 3 cm, mas que não necessariamente são malignas. Nódulos Os nódulos são formações sólidas localizadas na hipoderme ou derme profunda, mais perceptíveis na palpação do que na inspeção, diferentemente das pápulas e placas. De forma geral, os limites das lesões são imprecisos, podendo ter uma consistência firme, elástica ou mole. Nodosidade e tumoração são usados como sinônimos e descrevem lesões com tamanho > 3 cm, sendo tumor o termo preferencial quando se trata de uma neoplasia. Quando os nódulos são envoltos por células epiteliais, com superfície lisa e de consistência não endurecida, são chamados de cistos. Um tipo peculiar de nódulo é a goma, com evolução dinâmica que passa por quatro fases: ▪ 1ª fase: endurecimento, infiltração da hipoderme, formação do nódulo. ▪ 2ª fase: amolecimento, com necrose central. ▪ 3ª fase: esvaziamento, processo de fistulização. A necrose invade a epiderme e alcança o exterior por meio de úlceras ou fístulas. ▪ 4ª fase: esvaziamento, processo fibrótico que se forma para preencher o vazio deixado pela fistulização, formando uma cicatriz. Nódulos ou cistos (epidérmicos) Goma (esporotricose) Tubérculos O tubérculo é uma lesão de consistência dura, elevada, que mede na maior parte das vezes mais que 5mm. Surge devido à infiltração de células mesenquimais ao nível de toda a derme, podendo deixar cicatrizes após involução. É resultante do processo de infiltração de células mesenquimais na derme. Existe a conotação de que na doença costuma-se encontrar uma causa de natureza granulomatosa COLEÇÕES LÍQUIDAS As coleções líquidas caracterizam-se por possuir conteúdo líquido em seu interior e podem ser classificadas em vesículas/ bolhas, pústulas, abscessos e hematomas. Abscessos Os abscessos também são coleções purulentas, maiores que as pústulas, que se localizam na derme e hipoderme. Figura 15: Abscesso (furúnculo). Hematomas Os hematomas são formações líquidas resultantes do derramamento de sangue na pele ou nos tecidos adjacentes. Cistos O cisto epidermoide (ou cisto sebáceo) é o mais comum dos cistos e é derivado da pele ou do folículo piloso, preenchido por ceratinas ou resíduos de lipídeos. Ocorre mais em adultos jovens e de meia-idade, acometendo a face, pescoço, tronco e escroto. A abertura na qual é drenado o material ceratinoso pode não ser visível. O milium é um cisto epidérmico superficial, branco a amarelado, que contém também ceratina. No geral são múltiplos, acometendo as pálpebras, regiões malares e fronte. Seu tratamento consiste na incisão com expressão do conteúdo. Pústulas As pústulas são vesículas de conteúdo purulento presentes em situações de inflamação. Vesículas/ bolhas As vesículas/bolhas são elevações que contêm líquido claro em seu interior e são diferenciadas pelo tamanho (<1 e >1cm, respectivamente). Estão presentes nos quadros de varicela, herpes-zóster, queimaduras e no pênfigo foliáceo. Figura 11: Vesículas em região perioral/ Bolha em região maleolar. O pênfigo é uma doença bolhosa autoimune grave, que pode ser aguda ou crônica, atingindo pele e mucosa, sendo os tipos principais o pênfigo vulgar e o foliáceo. O pênfigo vulgar apresenta bolhas flácidas na pele e erosões nas mucosas; já o foliáceo apresenta lesões cutâneas descamativas e crostosas. Figura 12: Pênfigo vulgar (bolhas flácidas confluentes) Figura 1: Pápulas eritematosas Figura 2: Tubérculo (hanseníase virchowiana) 4 Felipe Altimari ALTERAÇÕES DA ESPESSURA As lesões por alterações da espessura da pele são representadas pela queratose, espessamento, liquenificação, esclerose, edema e atrofias. CERATOSE/ QUERATOSE A ceratose ou queratose é um espessamento da epiderme, onde ocorre a proliferação apenas da camada córnea. Podem ser pequenas, como as ceratoses senis, ou extensas, como é o caso das ceratodermias palmares e plantares. A superfície da lesão é áspera e esbranquiçada na maioria das vezes. Figura 16: Ceratodermia plantar. As ceratoses actínicas (ou ceratose solar) são lesões descamativas, secas e ásperas, que podem ser única ou múltiplas. Surgem em adultos expostos ao sol, principalmente de mais idade, e idosos. São lesões consideradas pré-cancerosas, porque podem evoluir para o CEC invasivo. Figura 17: Ceratose (ceratose actínica) ESPESSAMENTO No espessamento, há um aumento da consistência e espessura, porém a pele se mantém depressível. Se diferencia da queratose por ter menor evidência dos sulcos dermatológicos e ter limites imprecisos. LIQUENIFICAÇÃO Já na liquenificação, ocorre um espessamento da pele com aumento dos sulcos, formando um quadriculado em rede. Essa lesão surge com o ato crônico e frequente de coçar, como ocorre na dermatite atópica. Figura 18: Liquenificação em região de joelho. PERDAS E REPARAÇÕES TECIDUAIS São lesões decorrentes da eliminação ou destruição patológica da pele, ou por reparação dos tecidos cutâneos. São elas: escama, erosão, úlceras, fissuras, crostas e cicatrizes. ESCAMAS As escamas são lâminas epidérmicas secas, que tendem a se desprender. Ao se desprenderem, podem apresentar um aspecto de farelo (furfuráceas) ou podem se desprender em tiras (laminares ou foliáceas). Figura 19: Escamas (escabiose crostosa) A escabiose é uma infestação da epiderme pelo ácaro S. Scabiei, que é transmitida através de contato pele a pele e fômites. Caracteriza-se por prurido intenso, que pode persistir por semanas após o tratamento. A escabiose crostosa, na qual pode-se observar escamas, ocorre na hiperinfestação. O tratamento adequado da infecção deve ser feito com o paciente e contactantes próximos, mesmo se estes não apresentarem sintomas. EROSÃO A erosão é a eliminação da epiderme, podendo ser traumática (escoriação) ou não traumática (pós-ruptura de vesículas, bolhas e pústulas, por exemplo). ÚLCERA A úlcera é a perda das estruturas da pele, que atinge pelo menos a derme (o que a diferencia da erosão). Figura 20: Úlcera em fronte (carcinoma basocelular). FISSURAS As fissuras são caracterizadas pela perda da continuidade da pele de forma linear (superficial ou profunda), que não é causada por instrumento cortante. Figura 21: Fissuras em calcanhar. CROSTAS As crostas representam um aspecto secundário ao ressecamento de secreções existentes em uma pele previamente lesada; estão presentes muitas vezes na fase final da cicatrização de lesões como impetigo. CICATRIZ A cicatriz é uma proliferação de tecido fibroso que ocorre após lesão cutânea onde há tecido destruído. Podem ser róseo-claras, avermelhadas ou com um pigmento mais escuro do que a pele ao redor e podem ser classificadas em: • Cicatriz hipertrófica: permanece limitada à área da lesão original e tende a regredir com o tempo, tornando-se mais plana e macia; • Queloide: se estende além da área da lesão original e pode continuar a crescer ao longo do tempo. A gestão das cicatrizes hipertróficas e queloides é um desafio, pois ainda não existe nenhum tratamento definitivo. A infiltração de corticoide local pode reduzir o prurido e diminuir o volume, mas é poucoefetivo para os queloides. A excisão cirúrgica muitas vezes acarreta em recidiva ainda maior que a lesão original. Por isso, os pacientes propensos a desenvolver essas lesões devem ser desaconselhados a realizar procedimentos estéticos. Figura 22: Queloide. 5 Felipe Altimari Exantemas- manifestação cutânea de uma doença sistêmica aguda e infecciosa. Maculopapular: manifestação cutânea mais comum nas doenças infecciosas, mais comumente associada aos vírus Morbiliforme Pequenas maculo-pápulas eritematosas (3 a 10 mm), avermelhadas, lenticulares ou numulares, permeadas por pele sã, podendo confluir. É o exantema típico do sarampo, porém pode estar presente na rubéola, exantema súbito, nas enteroviroses, riquetsioses, dengue e Sd de Kawasaki e mononucleose. Escarlatiniforme Eritema difuso, puntiforme, vermelho vivo, sem solução de continuidade, poupando a região perioral e áspero (sensação de lixa). Pode ser denominado micropapular. É a erupção típica da escarlatina Rubeoliforme Semelhante ao morbiliforme, porém de coloração rósea, com pápulas um pouco menores. É o exantema presente na rubéola, enteroviroses, viroses respiratórias e micoplasma Urticariforme Eerupção papuloeritematosa de contornos irregulares. É mais típico em algumas reações medicamentosas, alergias alimentares e em certas coxsackioses, mononucleose e malária. Papulovesicular Presença de pápulas e de lesões elementares de conteúdo líquido (vesicular). Pode ser localizado (herpes simples e zoster) ou generalizado (varicela, varíola, enteroviroses, escarlatina e impetigo) Petequial ou purpúrico: Alterações vasculares com ou sem distúrbios de plaquetas e de coagulação. Pode estar associado a infecções graves como meningococcemia, septicemias bacterianas, mas também pode estar presentes em doenças como CMV, enteroviroses e dengue. . 6 Felipe Altimari DOENÇAS EXANTEMÁTICAS (PEDIATRIA) DEFINIÇÃO Doença infecciosa nas quais a erupção cutânea é a característica dominante, mas geralmente também apresentam manifestações sistêmicas. Na maioria das vezes o diagnóstico é apenas clínico. A análise do tipo de lesão, dos sinais e sintomas concomitantes e a epidemiologia permite inferir o diagnóstico etiológico sem a necessidade de exames laboratoriais. A grande maioria das doenças são viroses, mas também podem ser causadas por bactérias, outros agentes infecciosos ou não, como doenças reumatologicas. Os eritemas são alterações vasculares transitórias avermelhadas/róseas com duração e apresentação variada a depender do elemento causal e, quando presente nas mucosas, essa alteração vascular é chamada de enantema. Na infância é recorrente o acometimento por patologias que levam ao surgimento de erupções cutâneas eritematosas disseminadas, também conhecidas como exantema (quando o eritema se estende por áreas extensas) ou rash cutâneo. A maioria das doenças exantemáticas são causas por vírus mas também podem ter acometimento bacteriano. CONCEITO! Eritema é uma lesão de pele com coloração avermelhada-róseo decorrente de alteração vascular. Quando é disseminada pelo corpo, chama-se eritema e, quando presente em mucosas, chama-se enantema. A análise do tipo de lesão, sinais e sintomas associados, bem como a forma de progressão dos mesmos e a epidemiologia permitem inferir o diagnóstico etiológico sem necessariamente recorrer a exames complementares, no entanto, para algumas patologias, a realização de sorologias ou testes específicos auxiliam a fechar o diagnóstico e estabelecer cuidados direcionados. De antemão, reconhecer as lesões elementares de pele que podem estar presentes é de extrema importância que permitirão identificar os dois principais tipos de exantema (maculopapular e o papulovesicular) e suas peculiaridades em cada doença. Os principais tipos de lesões elementares dentro do contexto das doenças exantemáticas são: Mácula: toda e qualquer alteração da cor da pele sem relevo Pápula: lesão sólida, elevada, < 1 cm, a confluência destas origina a placa Vesícula: lesões elevadas de conteúdo líquido claro Pústula: lesões elevadas contendo pus Crostas: concreção que se forma em área de perda tecidual Os microrganismos podem causar erupção cutânea por diversos mecanismos: Por invasão e multiplicação direta na pele (varicela, herpes simples), Por ação de toxinas (escarlatina e infecção estafilocócica), Por ação imunoalérgica (maioria das viroses exantemáticas) ou por dano vascular causando obstrução e; Necrose da pele (meningococemia). Com isso, pode-se dividir as apresentações exantemáticas em dois tipos básicos de exantema: o maculopapular e papulovesicular. Com as características próprias em cada doença, mas é possível agrupar qual está mais relacionado a determinada etiologia: Padrão de exantema e etiologias das doenças exantemáticas MACULOPAPULAR Sarampo, Rubéola, Eritema infeccioso, exantema súbito, escarlatina, Sd, pele escaldada, Doença Kawasaki PAPULOVESICULAR Varicela, Doença mão-pé- boca Vale ressaltar que, sarampo, rubéola e varicela são preveníveis por vacina o que mudou o panorama quanto à incidência destas doenças no Brasil já que tais vacinas fazem parte do esquema de imunizações preconizadas pela Sociedade Brasileira de Imunizações. A vacina quádrupla viral protege a criança contra os vírus do sarampo + rubéola + caxumba + - varicela e 1ª dose deve ser dada aos 12 meses e a 2ª dose aos 15 meses, não havendo esta vacina, pode ser dada a tríplice viral (sarampo + rubéola + caxumba) e, em administração separada, no mesmo dia, ser aplicada a dose da varicela. Recomenda-se ainda um reforço da varicela aos 4 anos de idade. Em caso de surto ou exposição domiciliar ao sarampo antes dos 12 meses de vida, a 1ª dose pode ser aplicada a partir dos 6 meses de idade, em seguida, deve ser administrada aos 12 e 15 meses as doses previamente preconizadas. Não há evidência que justifique a 3ª dose da tríplice viral como rotina. Esta pode ser considerada em caso de surto de caxumba e risco para a doença. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Apesar da similaridade de alguns quadros nas doenças exantemáticas, outros possuem quadro clínico típico ou alguma peculiaridade que já permite um direcionamento diagnóstico. Para identificar os quadros 7 Felipe Altimari clínicos típicos e peculiaridades é preciso realizar uma boa anamnese que englobe: Faixa etária da criança, calendário vacinal, tempo início e progressão do exantema, presença de sinais/sintomas prodrômicos e manifestações clínicas associadas. Além disso, um bom exame físico deve ser capaz de caracterizar bem o exantema e outras lesões em pele e mucosas associadas, bem como outros sinais clínicos que ajudam a fechar o diagnóstico. Clínica Os períodos evolutivos são geralmente características comuns nas doenças exantemáticas. • Incubação: já houve o contato com o agente infeccioso, houve a infecção mas não apresentou manifestações clínica. Mas o agente está replicando. Varia entre 1 e 3 semanas. Na maioria das vezes não está transmitindo (ha exceções) • Pródromos: são inespecíficos, como uma síndrome gripal. Muitas podem apresentar manifestações inicialmente respiratórias. A maioria das transmissões são respiratórias. Obs.: Algumas doenças têm manifestações especificas. • Exantema: características próprias, ajudam no diagnostico • Convalescência: geralmente não tem manifestações clinicas exuberantes. A maioria guarda relação com o exantema (descamação ou escamação). Obs.: A maioria das doenças exantemáticas surgem no sentido craniocaudal, Importante identificar como começou o exantema: começou pela cabeça, disseminou, em quanto tempo (24, 48h), é mais intensa centrífuga ou centrípeta. Depois pode ocorrer descamação furfurácea, são poucas as doenças que vão apresentar essa descamação.Anamnese Idade: prevalência varia de acordo com a idade. Ex.: roséola é característica de crianças < 2 anos; a probabilidade do estreptococos pyogenes causar uma infecção em uma criança abaixo de 3 anos é muito pequena, evitar antibioticoterapia desnecessária. Antecedentes de imunização: olhar o calendário vacinal. Histórico de doenças prévias Uso de medicações ou história de alergias Dados epidemiológicos: viagem recente, exemplo paciente oriundo de fortaleza ou recife com febre, conjuntivite, placa no corpo, pensar em sarampo. Exame físico Tipos de Exantemas Exantema maculopapular: maioria das doenças exantemáticas a. Morbiliforme (característico do sarampo, rubéola): formado por pequenas máculas e pápulas de diversos tamanhos, avermelhadas, entremeadas com pele sã. b. Escalartiniforme: exantema difuso, eritematoso, puntiforme, vermelho vivo, sem solução de continuidade. Pode ocorrer na doença escarlatina, farmacodermia, doença de Kawasaki, mononucleose. c. Urticariforme: lembra muito a urticária aguda, erupção papulo-eritematosa de contornos irregulares (Ex: dengue, chikunguya, zicavírus) Exantema vesicular ou bolhoso Ex.: varicela (catapora), herpes zoster, herpes simples. Exantema purpúrico: apresentação na forma de púrpura ou petéquias. Tuberculose e neoplasia são mais relacionadas a presença de derrame pericárdico. 8 Felipe Altimari Tabela 1. Diagnóstico diferencial das principais doenças exantemáticas na infância (*: lactente=29 dias a 2 anos de idade, pré-escolar=2-7 anos de idade, escolar= 7-10 anos de idade, adolescente= 10 a 20 anos incompletos). DOENÇA/ ETIOLOGIA FAIXA ETÁRIA MAIS COMUM* PRÓDROMO CARACTERÍSTICA DISTRIBUIÇÃO SINAIS ASSOCIADOS Sarampo Lactentes. Febre, tosse, conjuntivite, enantema. Morbiliforme. Cefalocaudal: retro auricular, pescoço, face, tronco, extremidades Manchas de Koplik: manchas brancas na mucosa oral na altura do 3º molar. Rubéola Crianças e adultos jovens. Febre baixa, linfadenopatia retroauricular e cervical. Puntiforme róseo de curta duração, vai sumindo conforme progressão. Cefalocaudal: face, couro, cabeludo, pescoço, tronco, extremidades Sinal de Forschhemeir: petéquias em palato mole. Eritema infeccioso Pré-escolares e escolares. Em alguns casos: coriza, febre, mialgia e cefaleia. Róseo em região malar (“face es bofeteada”) e em membros tem aspecto rendilhado. Face e depois de 4 dias evolui para membros. Recorrência se: exposição ao sol, exercícios ou estresse. Sinal de Filatov: palidez perioral. Exantema súbito Lactentes. Febre alta (39- 40ºC) contínua, convulsão febril. Surge após a melhora da febre, aspecto maculopapular. Tronco – face – cervical – membros - Varicela Escolares Inexistente ou inespecíficos: febre baixa/moderada, cefaleia, mialgia. Papulovesicular polimórfico pruriginoso (máculas – pápulas – vesículas – pústulas – crostas). Locais pouco expostos (couro cabelo, axilas, cavidade oral), em seguida para tronco - Mão-pé- boca Lactentes. Febre baixa, irritabilidade e anorexia. Papulovesicular não pruriginoso. Exantema em extremidades associado a úlceras em cavidade oral. - Escarlatina Pré-escolares e escolares. Sinais e sintomas de faringoamigdalite. Micropapular áspero (em lixa). Peitoral – tronco – membros – extremidades (poupa mãos e pés). Sinal de Pastia: linhas hiperpigmentadas em dobras cutâneas. Língua em framboesa: vesículas em cavidade oral. Sinal de Filatov. S. pele escaldada Lactentes. Febre, irritabilidade e mal-estar. Maculopapular doloroso. Face – todo corpo. Sinal de Nikolsky: descamação laminar da pele como se fosse bolhas. Kawasaki Lactentes. Febre alta que não cessa com medicamento há + 5 dias. Maculopapular polimórfico. - Descamação laminar em região periungueal. 9 Felipe Altimari SARAMPO (PARAMOXIVÍRUS; GÊNERO MOBILLIVIRUS; FAMÍLIA PARAMYXOVIRIDAE) Doença infecciosa, contagiosa, causada por vírus, é rara nos primeiros anos de vida. Apresenta um quadro mais grave quando há mal estado nutricional, imunológico, tipo de exposição, condições socioeconômicas. Vírus infecta via aérea, tecido pulmonar, linfócitos T e B O sarampo é uma doença exantemática viral extremamente contagiosa que pode evoluir para óbitos em crianças < 1 ano e desnutridas. No Brasil, inúmeras são as medidas de controle do sarampo inseridas desde a introdução da vacina em 1968 até o momento atual, oscilando entre períodos de casos suspeitos e confirmados no território nacional. O sarampo é uma doença de notificação compulsória, devendo ser preenchida a respectiva ficha de Notificação/Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola mesmo que o caso seja suspeito. Além disso, a respectiva Secretaria Municipal e Estadual devem ser informadas no máximo em 24h do caso. Fonte: GUIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, 2019. Mecanismo de transmissão Através de secreções nasofaríngeas expelidas ao tossir, falar, espirrar por meio de aerossóis com partículas virais que ficam no ar. Período de incubação e de transmissão O período de incubação varia de 7-21 dias da data de exposição ao início do quadro exantemático. O período de transmissibilidade ocorre 6 dias antes e 4 dias após o exantema, sendo o pico de transmissão 2 dias antes e 2 dias depois do início do exantema. Quadro clínico No período prodrômico (3 dias antes do exantema aparecer) ocorre febre > 38,5ºC, tosse inicialmente seca, coriza, conjuntivite não purulenta, fotofobia, na região da orofaringe é possível notar enantema e, na altura do terceiro molar surgem as manchas de Koplik: manchas brancas/amareladas na mucosa oral. Cerca de 2-4 dias após o início do quadro intensifica- se aquele quadro inicial, o paciente fica prostrado e surge o exantema maculopapular morbiliforme (com as máculas e pápulas, confluente, centrífugo, alterando com pele intacta), ou seja, existem áreas de pele livre de lesão entre as lesões. Este exantema tem progressão cefalocaudal (região retro auricular – pescoço – face – tronco – extremidades). A mancha de Koplik é um sinal patognomônico de sarampo. Elas surgem 1-2 dias antes do exantema e desaparecem 2-3 dias após. Exantema morbiliforme Manchas de Koplik Diagnóstico O diagnóstico é clinico, mas todos os casos suspeitos de sarampo devem ser submetidos a exames sorológicos para identificação de IgM e IgG do vírus em amostras de soro, urina e swabs de naso e orofaringe. A identificação do vírus tem como objetivo conhecer o genótipo do mesmo para diferenciar um caso autóctone de um importado e diferenciar o vírus selvagem do vacinal, já que a vacina é feita com vírus atenuado. Para conseguir realizar essas análises, o Ministério da Saúde recomenda coleta das amostras até o 7º dia após início do exantema, sendo que o IgM é possível ser identificado desde o início da doença até 1 mês após a mesma. Importante ressaltar que, o material coletado deve ser enviado para o laboratório acompanhado da Ficha de Notificação Tratamento Não há tratamento específico, mas é possível realizar medidas de suporte com sintomáticos. Recomenda- se a administração de vitamina A (palmitato de retinol) em menores de 2 anos de idade (< 6 meses: 50.000 UI, 6-12 meses: 100.000 UI e > 12 meses: 200.000 UI), 1 vez ao dia, por 2 dias. Cuidado com os contactantes e prevenção Até 4 dias após o início do exantema deve ser realizado precaução respiratória com uso de máscara N95 e isolamento domiciliar do paciente. Deve-se aplicar vacina contra o sarampo até 72h após contágio e após este período, em até 6 dias, aplicar imunoglobulina. Crianças a partir de 6 meses podem receber a vacina, mas, independentemente disto, devem receber as doses usuais programadas aos 12 e 15 meses. Para gestantes, imunocomprometidose crianças menores de 6 meses deve-se aplicar somente a imunoglobulina. Na suspeita de um paciente com sarampo, colhe-se o exame, faz a notificação e deve fazer o bloqueio vacinal seletivo (em vizinhos e familiares nas primeiras 72h após o contágio), aqueles pacientes que comprovadamente têm duas doses de vacina não precisam ser vacinados. Em gestantes e imunossuprimidos deve-se usar imunoglobulina humana até 6 dias após o contágio. Todo paciente internado deve ficar em isolamento respiratório até o 5º dia do início do exantema. Complicações O sarampo pode apresentar complicações sobretudo em menores de 1 ano, adultos maiores de 20 anos e pessoas com comorbidades. A persistência da febre por mais de 3 dias após o início do exantema deve ser um sinal de alerta. Dentre as complicações a mais comum é a otite média aguda, mas a pneumonia é a complicação responsável por maior morbi/ mortalidade nas crianças. 10 Felipe Altimari Febre por mais de 3 dias após o início do Sarampo é um sinal de alerta! Importante se atentar para complicações (otite média, pneumonia, (principalmente por S. aureus), laringotraqueobronquite, a encefalite e a pancefalite esclerosante subaguda). Além disso, algumas crianças apresentam convulsão febril acompanhada ou não de sinais de irritação meníngea e hipertensão intracraniana como sinais de encefalite após o sarampo, causada por um processo imunológico após a respectiva infecção. Ocorre também uma encefalite causada pelo sarampo onde o vírus ao atingir o SNC, meses após o sarampo, pode acarretar epilepsia focal, perda auditiva, progressão para coma e até mesmo óbito. Outra complicação é a panencefalite esclerosante subaguda (PEES) a qual pode ocorrer meses e até 10 anos após o quadro inicial do sarampo, com piora progressiva das funções motoras e cognitivas, convulsões e até morte. ROSÉOLA ou EXANTEMA SÚBITO (HERPES VÍRUS HUMANO 6 OU 7) Esta doença viral de evolução benigna, também chamada de roséola infantum, é causada pelo herpes vírus 6 e 7, sobretudo, o tipo 6 que é o mais frequente. A doença acomete apenas crianças entre 6 meses e 6 anos de idade, sugerindo que haja uma proteção por meio de anticorpos maternos e que o vírus seja bastante prevalente na comunidade já que na idade pré-escolar quase todas as crianças já estão imunes. É mais prevalente em menores de 2 anos. Mecanismo de transmissão: secreção oral Período de transmissão: A transmissão ocorre na fase de viremia que acontece principalmente no período febril. Período de incubação: 5-15 dias Quadro clínico Assim como sugere o nome da doença, o início do quadro clínico é súbito e sem pródromos, caracterizando-se por uma febre alta (39-40ºC) e contínua que resulta em irritabilidade da criança e convulsão febril. Pode haver linfonodomegalia associado. Após 3-4 dias de febre esta cessa bruscamente e aparece o exantema de modo também súbito de aspecto maculopapular róseo com lesões que não coalescem com evolução de tronco – face – membros, de curta duração e sem descamação. Pacientes apresentam febre alta >39,5°C de início súbito que dura por 3 dias, seguido de exantema, a criança se apresenta clinicamente estável durante o curso da doença, ela não apresenta outros sintomas. O exantema é leve, maculopapular, róseo, discreto, que dura de 2 a 3 dias. Se inicia na face, pescoço e no mesmo dia se dissemina, predominando no tronco. Raramente vai ter linfadenopatia, pode ter sintomas respiratórios, gastrointestinais. Deve se pedir hemograma para descartar outras doenças, como dengue. No exantema súbito as lesões maculopapulares surgem, subitamente, após o desaparecimento da febre alta. Figura 9. Exantema súbito Diagnóstico Clínico e laboratorialmente pode ser realizada sorologia na busca de anticorpos IgM e IgG dos herpes vírus 6 ou 7. Tratamento O tratamento de suporte é realizado principalmente com antitérmicos por conta da febre alta. Em caso de imunodeprimidos pode-se usar Ganciclovir pelo risco de acometimento do SNC. Cuidado com os contactantes e prevenção O isolamento é desnecessário uma vez que a maioria das pessoas já terá entrado em contato com o vírus e, não existem medidas de prevenção a serem adotas. . 11 Felipe Altimari RUBÉOLA (TOGAVÍRUS; GÊNERO RUBIVIRUS; FAMÍLIA TAGAVIRIDAE) Assim como o sarampo, a rubéola é uma doença de etiologia viral altamente contagiosa e, sua importância epidemiológica está relacionada ao risco de abortos, natimortos e à síndrome da rubéola congênita (SRC). Após diversas campanhas e ações de vigilância epidemiológica, no ano de 2010, o Brasil cumpriu a meta de eliminação da rubéola e da síndrome da rubéola congênita (SRC) e, em 2015 a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) declarou as Américas livre da rubéola e SRC. A Rubéola também é uma doença de notificação compulsória (deve ser preenchida a respectiva ficha de Notificação/Investigação de Doenças Exantemáticas Febris Sarampo/Rubéola) e prevenida por vacina (tríplice viral)! Mecanismo de transmissão A transmissão ocorro por gotículas de secreções nasofaríngeas e contato direto com pessoas infectadas. Período de incubação e de transmissão O período de incubação é entre 12 e 23 dias, sendo o período de transmissibilidade 7 dias antes e 7 dias após o início do quadro exantemático. Quadro clínico Febre baixa e linfoadenopatia retroauricular e/ou occipital e/ou cervical podem ocorrer 5-10 dias antes do exantema, no entanto, em crianças pode não ocorrer tais pródromos. O exantema é maculopapular puntiforme róseo difuso com início na face – couro cabeludo – pescoço – tronco – extremidades, tais lesões têm curta duração (3 dias ou menos) – crânio caudal e, conforme o exantema progride para um novo local, as manchas presentes no local anterior vão desaparecendo. Em alguns casos, nota-se petéquias no palato mole conhecidas como sinal de Forschemeir que não é patognomônico. Eritema maculopapular da rubéola Sinal de Forschemeir Diagnóstico É clínico, mas devido a dúvida diagnóstica frequentemente causada, recomenda-se a testagem sorológica de todos os pacientes em que há suspeita clínica de rubéola por meio de coleta sanguínea onde será testado IgM e IgG desta patologia. Assim como no sarampo, o Ministério da Saúde recomenda a detecção do vírus em urina e secreção de nasofaringe como forma de conhecer o genótipo do vírus, diferenciando-o os casos autóctones dos importados e os vírus selvagens do vacinal. Tratamento O tratamento é realizado com base em sintomáticos, não havendo tratamento específico direcionado ao vírus. Cuidado com os contactantes e prevenção O isolamento domiciliar por até 7 dias após o início do exantema diminui a intensidade dos contágios. A vacina é a única forma de prevenir a ocorrência de casos, não havendo evidências suficientes para realização de profilaxia pós-exposição. Após contato com caso suspeito, deve ser realizada a vacinação daqueles que ainda não foram vacinados ou maiores de 50 anos que não comprovem ter recebido alguma dose da tríplice viral. Gestantes suscetíveis e crianças menores de 6 meses (com imunoglobulina) devem ser afastadas do contato com casos suspeitos/confirmados e seus respectivos contatos. A profilaxia pós-exposição, com imunoglobulina, só está indicada para as gestantes susceptíveis e expostas. A vacinação de bloqueio, envolvendo o grupo de 6 meses até 39 anos de idade. Prevenção com tríplice viral 1 ano e reforço 4-6 anos Complicações As complicações na criança são raras podendo ocorrer trombocitopenia que costuma ocorrer 2 semanas do início do exantema, no entanto, é autolimitada logo não é necessário nenhum tratamento específico. De modo mais grave, podem ocorrer a encefalite pós-infecciosa e panencefalite por rubéola. A primeira é decorrente do efeito viral direto, ocorre 7 dias após o início do exantemaprovocando convulsões, cefaleia e sinais neurológicos focais e levando ao óbito em 20% dos casos. Já a panencefalite progressiva da rubéola que pode ocorrer anos após o quadro clínico da doença havendo um distúrbio neurodegenerativo evoluindo com óbito em 2-5 anos. SARAMPO X RUBEOLA Pródromo: febre alta, tosse, conjuntivite e enantema. Pródromo: febre baixa e linfadenopatia Exantema: 2-4 dias após o início, aspecto morbiliforme. Progressão: cefalocaudal (retroauricular) Exantema: puntiforme róseo cefalocaudal, curta duração desaparecendo conforme progressão. Sinais associados: manchas de Koplik em mucosa oral é patognomônica. Sinais associados: sinal de Forscheimer (petéquias em palato mole). Diagnóstico: clínico + IgM e IgG + identificação do vírus em soro/urina/swab de orofaringe. Diagnóstico: clínico + IgM e IgG + identificação do vírus em soro/urina/swab de orofaringe. Tratamento: suporte + Vitamina A Tratamento: suporte. Complicações: otite média, pneumonia, encefalites e PEES (panencefalite esclerosante subaguda). Complicações: trombocitopenia, encefalite pós infecciosa e panencefalite progressiva. Preveníeis por vacina e Notificação compulsória . 12 Felipe Altimari ERITEMA INFECCIOSO (ERITROVÍRUS – PARVOVÍRUS HUMANO B19) O eritrovírus B19 é um vírus de DNA com tropismo por células eritropoiéticas, replicando-se em células eritroides da medula óssea. Boa parte dos infectados é assintomático, no entanto, devido a estas características do vírus, indivíduos saudáveis podem desenvolver aplasia eritroide acompanhada do quadro exantemático que veremos a seguir, enquanto que, pacientes com doenças hematológicas (síndromes falcêmicas, talassemias...) e imunodeprimidos podem desenvolver quadro importante de anemia e até crise aplástica. Mecanismo de transmissão Transmitido por via respiratória, sobretudo, em comunidades fechadas. Também pode ser transmitido por via placentária em caso de mães infectadas, o que pode levar a hidropsia fetal. Período de incubação e de transmissão Estima-se que o tempo de incubação seja entre 14- 21 dias. A transmissão ocorre antes do exantema, porém não se sabe ao certo quantos durante quantos dias antes do surgimento do mesmo. Logo, quando há o surgimento do exantema o paciente não elimina mais o vírus, portanto, não há necessidade de isolamento. Quadro clínico Geralmente não costuma ter pródromos, mas alguns casos surgem sintomas prodrômico leves como mialgia, febre, coriza, IVAS, linfadenopatia e cefaleia. O exantema maculopapular se inicia em face em região malar, dando o aspecto que alguns autores chamam de “face esbofeteada” associado a palidez perioral ou sinal de Filatov. Cerca de 4 dias depois o exantema evolui para membros superiores e inferiores, a mácula aumenta de tamanho deixando uma palidez central conferindo o aspecto rendilhado do exantema que pode durar até 3 semanas. Importante ressaltar que após desaparecimento pode haver recorrência do eritema após exposição ao sol, variação da temperatura, exercícios e estresse devendo-se, portanto, explicar à família que tal fenômeno pode ocorrer não significando recorrência da doença em si. Fase 1, ocorre 3 dias após os sintomas iniciais e se caracteriza por exantema em face, em regiões maxilares (bochecha esbofeteada); Fase 2, após 2 dias, ocorre pela disseminação para o tronco, extremidades proximais, e do aspecto rendilhado; Fase 3, 2 semanas após o desaparecimento do exantema, quando ocorre o surgimento da recidiva discreta em tronco e membros, principalmente com sol, calor e estresse. Exantema maculopapular em região malar (“face esbofeteada”) e palidez perioral (sinal de Filatov) Exantema maculopapular rendilhado Diagnóstico O diagnóstico além de clínico, deve ser feito através da sorologia com detecção de anticorpos IgM para Parvovírus humano B19. Tratamento O eritema infecioso em geral é autolimitado e não há tratamento específico. Deve ser realizado tratamento de suporte com sintomáticos. Raramente imunoglobulina EV. Cuidado com os contactantes e prevenção Como já foi dito, não é necessário realizar o isolamento do paciente, no entanto, deve-se tomar cuidados com contactantes caso algum possua hemoglobinopatias (pode haver complicações para pacientes com este diagnóstico). Não existem medidas de prevenção a serem tomadas, pois não há vacina que garanta imunidade contra tal vírus. Complicações A artropatia é uma complicação presente em cerca de 8% das crianças infectadas pelo eritrovírus B19, mas é mais comum em mulheres adolescentes e adultas infectadas por tal vírus. Em pessoas com doenças hematológicas como doença falciforme, talassemias, anemias hemolíticas e aqueles que possuem algum tipo de imunodeficiência, podem desenvolver uma crise aplástica transitória (CAT) decorrente da infecção viral direta pelo parvovírus B19 que bloqueia transitoriamente a produção de eritrócitos. Com isso, ocorre redução abrupta da hemoglobina, dos reticulócitos e dos percussores eritroides na medula óssea havendo ou não plaquetopenia e leucopenia. A maior parte dos casos apresenta resolução do quadro com 2 semanas, porém alguns podem evoluir com óbito. Estes pacientes com CAT podem necessitar de transfusão de hemácias durante o período de recuperação medular, porém alguns não possuem boa resposta ou não têm anticorpos suficientes, sendo necessário o tratamento com imunoglobulina humana. A crise aplástica transitória é resultado da infecção direta pelo parvovírus B19, mais frequente em pacientes com hemoglobinopatias e imunodeficiência. Há queda abrupta da hemoglobina associada a queda dos reticulócitos, o que difere do quadro das doenças hemolíticas onde há aumento de reticulócitos. . 13 Felipe Altimari VARICELA (VARICELAZOSTER; FAMÍLIA HERPETOVIRIDAE) Também conhecida por catapora, esta doença atualmente é prevenida por vacina na tetra viral o que levou a redução da sua incidência (1º dose com 15 meses e reforço aos 4 anos de idade). A infecção confere imunidade permanente, embora, raramente possa ocorrer um segundo episódio de varicela. É uma doença de notificação compulsória apenas se caso grave, ou seja, que necessite internação. Apesar do maior número absoluto de internações ser entre crianças, os adultos têm mais risco de evoluir com complicações e óbito. Em crianças imunocompetentes a varicela tem curso benigno, repentino e autolimitado. Mecanismo de transmissão Pessoa a pessoa por meio de secreções respiratórias ou contato direto e, de modo indireto, ocorre por meio do contato com objetos contaminados com a secreção das lesões de pele (vesículas). Período de incubação e de transmissão O período de incubação é de 10-21 dias e a transmissão se inicia 1-2 dias antes do surgimento do exantema e permanece até que as lesões estejam em fase de crosta. Quadro clínico Apesar de na infância não costumar ocorrer pródromos, os mesmos podem aparecer como febre moderada/ baixa, cefaleia, anorexia e vômito por 2-3 dias. O exantema de característica papulovesicular polimórfico pruriginoso costuma surgir nas partes cobertas do corpo, como couro cabeludo, axilas e mucosas oral e das vias aéreas superiores. Tais lesões surgem em surtos de evolução rápida coexistindo, em uma mesma região do corpo, diferentes estágios: máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Figura 10. Exantema papulovesicular polimórfico da varicela Diagnóstico O diagnóstico da varicela é clínico e costuma ser típico não necessitando a realização de testes comprobatórios, no entanto, é possível em casos graves quando é necessário realizar diagnóstico diferencial pode-se realizar coleta do líquido das lesões vesiculares nos primeiros 3-4 dias de erupção. Também está disponível a sorologia com IgM e IgG. Tratamento O tratamento envolve o uso de sintomáticos como anti-histamínicospara atenuar o prurido, antitérmico e analgésicos (estes, não salicilatos). O tratamento específico é com Aciclovir para menores de 12 anos ou pessoas com imunocomprometimento, comorbidades ou risco para agravamento do quadro. Além disso, deve-se recomendar a lavagem das lesões de pele com água e sabão, bem como é fundamental cortar as unhas da criança como forma de prevenir lesões de pele secundárias em decorrência o intenso prurido. A varicela está associada à síndrome de Reye, que ocorre especialmente em crianças e adolescentes que fazem uso do ácido acetilsalisílico (AAS) durante a fase aguda. Essa síndrome se caracteriza por um quadro de vômitos após o pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva do nível da consciência, com edema cerebral progressivo. A síndrome de Reye é resultado do comprometimento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral. Portanto, está contraindicado o uso de AAS por pacientes com varicela. Fonte: Guia de Vigilância Epidemiológica, 2019. TRATAMENTO ESPECÍFICO DE VARICELA PARA CRIANÇAS Crianças sem comprometimento imunológico 20mg/kg/dose, via oral, 5 vezes ao dia, dose máxima de 800mg/dia, durante 5 dias. Crianças com comprometimento imunológico ou casos graves 10mg/kg, endovenoso a cada 8 horas, infundido durante uma hora, durante 7 a 14 dias. Cuidado com os contactantes e prevenção Em situações de surto deve-se identificar as pessoas que entraram em contato com o caso da doença para realização do bloqueio com vacina e imunoglobulina antivaricela. A vacina deve seguir as indicações do calendário nacional de imunizações e deve ser administrada no período de 120h após contato com caso, podendo ser realizada em crianças a partir dos 9 meses, devendo manter neste caso, posteriormente, o esquema vacinal de rotina. Crianças < 9 meses, gestantes ou pessoas imunodeprimidas devem receber a imunoglobulina antivaricela na dose de 125UI para cada 10kg. A criança com varicela deve permanecer em isolamento respiratório e de contato até que todas as lesões fiquem em forma de crosta. A prevenção deve ser feita através da vacina. Complicações A principal complicação é a infecção bacteriana secundária das lesões de pele, causadas por estreptococos e estafilococos, em decorrência do prurido que abre porta de entrada para estes patógenos presentes na pele e que podem causar piodermites, erisipela e celulite. A pneumonia intersticial também é uma complicação comum, sobretudo, em crianças imucomprometidas sendo importante causa de óbito neste grupo. Além disso, podem ocorrer manifestações hemorrágicas, hepatites e complicações no SNC, esta última 14 Felipe Altimari é mais frequente em crianças < 5 anos e pode tanto atingir o cerebelo causando ataxia, quanto pode levar ao quadro de encefalite responsável por sonolência, coma e hemiplegia. Obs.: Pacientes com neoplasia, transplantados, grávida, imunossupressos, pacientes portadores de colagenoses, RN de 5- 10dias, prematuros <32s, desnutrição severa, fibrose cística, adultos são suscetíveis a um quadro mais grave. Herpes zoster Apesar deste quadro ocorrer tipicamente na fase adulta, ou seja, não ser classicamente uma doença exantemática da infância, mas é importante citá-la para acrescentar mais elementos para o diagnóstico diferencial entre ambas condições que podem estar eventualmente presente na infância. A herpes zoster é decorrente da reativação do vírus da varicela, pois este após a infecção fica latente nos gânglios nervosos podendo ser reativado em pessoas adultas (mais comum) ou em crianças/adolescentes que possuam um comprometimento da sua imunidade – portadoras de doenças crônicas, neoplasias, AIDS, etc. O quadro clínico é típico apresentando como pródromo: neurites, parestesias, ardência e prurido local, acompanhado de febre, cefaleia e mal-estar. As lesões de pele surgem gradualmente após 2-4 dias e seguem o trajeto de um dermátomo, tais lesões também são polimórficas compreendendo um eritema papulovesicular localizado que evolui para crostas e, não havendo infecção de pele secundária associada, cura em 4 semanas. Figura 12. Eritema da herpes zoster CONCEITO! Diferente da varicela, as lesões papulovesiculares do herpes zoster são localizadas, seguem o trajeto de um nervo. Além das complicações já mencionadas na varicela, no caso da herpes zoster há uma complicação mais prevalente em mulheres idosas, em que há comprometimento do nervo trigêmeo, chamada nevralgia pós-herpética (NPH) caracterizada por dor persistente por 4-6 semanas após surgimento das lesões cutâneas sendo esta dor refratária ao tratamento. O tratamento do herpes zoster é de suporte com sintomáticos e Aciclovir deve ser prescrito em casos em que há risco para agravamento, além disso, o uso do Aciclovir nas primeiras 72h após surgimento das lesões de pele, reduz a ocorrência da NPH. 15 Felipe Altimari DOENÇA MÃO-PÉ-BOCA (ENTEROVÍRUS COXSACKIE E ENTEROVÍRUS 71) Síndrome mão-pé-boca (SMPB) ou doença-mão-pé- boca é causada por não-pólio-enterovírus principalmente o coxsackie A16 e o enterovírus 71. E, a infecção ocorre na forma de surtos. Mecanismo de transmissão: via fecal-oral. Período de incubação: 3-6 dias Período de transmissão: o tempo de contágio é variável. Quadro clínico O período prodrômico consiste em febre baixa que melhora em 48h, irritabilidade e anorexia. Cerca de 1-2 dias após início da febre surgem vesículas na cavidade oral que rapidamente se rompem formando úlceras dolorosas que causam desconforto na alimentação. Em seguida, surge o exantema papulovesicular principalmente em extremidades (mãos e pés), não pruriginosas, mas as vezes dolorosas. Diferente das lesões papulovesiculares da varicela, na SMPB as lesões não são pruriginosas, mas sim dolorosas. Figura 13. Vesículas em cavidade língua e ao redor da boca em paciente com doença mão-pé-boca. Figura 14. Lesões características de síndrome mão-pé-boca Diagnóstico É clínico e tipicamente característico. Tratamento A SMPB tem curso autolimitada, de modo que as lesões de pele costumam se resolver em 7-10 dias. O tratamento deve ser com sintomáticos para o quadro febril e álgico, deve-se também dar suporte hídrico e nutricional, pois muitas crianças chegam a desidratar pela dificuldade de ingerir em decorrência das úlceras orais. Em caso de baixa adesão da dieta e hidratação deve-se internar a criança e considerar a realização de hidratação venosa. Cuidado com os contactantes e prevenção Deve ser realizada precaução de contato durante o período da doença, assim como realizar medidas de higiene frequente das mãos, sobretudo, após troca de fraldas. Não há vacina disponível para tal patologia no momento. Herpangina Um importante diagnóstico diferencial da SMPB, também pelos coxsackie vírus A16 e enterovírus 71. Tal patologia, frequente em crianças, não causa exantema, mas assim como a SMPB causa enantema e lesões vesiculares em região oral, mais especificamente em palato mole, úvula e pilares amigdalianos (orofaringe posterior diferente da SMPB) que evoluem para úlceras esbranquiçadas de halo eritematoso. Este quadro possui como pródromo uma febre alta súbita, cefaleia, disfagia, vômitos e linfadenopatia cervical. O tratamento é de suporte com sintomático e o quadro resolve-se espontaneamente em 5-10 dias. Figura 15. Herpangina CONCEITO! As lesões vesiculares da herpangina localizam-se em orofaringe posterior, diferente das lesões da SMPB em que as mesmas ficam na região anterior da cavidade oral. VARICELA (Vacina) X MAO-PE-BOCA Pródromo: febre baixa, cefaleia, anorexia, vômitos. Pródromo: febre baixa, irritabilidade e anorexia. Exantema: polimórfico pruriginoso de evolução rápida (máculas/vesículas/crostas).Exantema: papulovesicular em mãos e pés + vesículas em cavidade oral que evoluem para úlceras. Diagnóstico: clínico típico + IgM e IgG + cultura do líquido das lesões vesiculares. Diagnóstico: clínico característico. Tratamento: suporte + Aciclovir se < 12 anos ou imunodeprimido. Tratamento: sintomáticos + suporte hídrico e nutricional. Complicações: infecção bacteriana de pele secundária é a mais comum. Complicações: atentar para desidratação pela dificuldade de ingerir alimentos e água. Atenção: Herpes zoster: reativação do vírus latente, exantema localizado no dermátomo! Atenção: Herpangina: mesmo vírus causando enantema e vesículas em orofaringe posterior. 16 Felipe Altimari ESCARLATINA (ESTREPTOCOCOS PYOGENES) A escarlatina é uma doença infecciosa aguda causada pelo Estreptococos pyogenes ou estreptococos beta hemolítico do grupo A, mais especificamente, pelas toxinas pirogênicas que este libera quando está infectado por um bacteriófago produtor de exotoxinas pirogênicas, ou seja, a escarlatina não é fruto da infecção direta pela bactéria, mas sim pelo efeito das toxinas produzidas quando a bactéria é infectada por um bacteriófago. As toxinas produzidas podem ser tipo A, B ou C e, o quadro desenvolvido por um toxina não oferece imunidade às infecções pelas outras, logo, é possível que um indivíduo tenha o mesmo quadro de escarlatina até 3 vezes. Tal patologia está mais frequentemente associada a faringite e, ocasionalmente aos impetigos. É muito mais comum no paciente entre 3 e 15 anos, muito raro em lactentes por persistência de anticorpos maternos protetores. Cerca de 20% dos pacientes são portador assintomáticos Mecanismo de transmissão A transmissão ocorre por contato com gotículas e secreção de nasofaringe de indivíduos com faringoamigdalite estreptocócica aguda. Período de incubação e de transmissão O período de incubação é de 2-5 dias e a transmissão se inicia tão logo iniciem os sintomas, caso o tratamento seja realizado adequadamente a transmissão só persiste por 24h do início do mesmo. Quadro clínico O período prodrômico ocorre durante 12-24h com febre alta, dor à deglutição, mal-estar geral, náuseas e vômitos. Após este período o paciente apresenta o quadro de faringoamigdalite com exsudato purulento, adenomegalia cervical e enantema na mucosa oral. Em seguida, cerca de 12-48h após o início do quadro, surge um exantema micropapular àspero (aspecto de lixa) em peitoral que se expande para tronco – pescoço – membros, poupando palma das mãos e pés. Este exantema apresenta-se mais intenso nas dobras cutâneas formando locais com linhas hiperpigmentadas chamadas linhas de Pastia. Na face, o eritema malar confere o aspecto chamado de “face esbofeteada” associado ao sinal de Filatov, além disso, ocorre hipertrofia das papilas da língua dando a esta o aspecto de framboesa o que é chamado de “língua em framboesa”. Figura 16. Linha em framboesa Figura 17. A: Exantema da escarlatina. B: Sinal de Pastia Cerca de 1 semana após o início do quadro as manifestações clínicas citadas acima desaparecem e se inicia um período de descamação furfurácea em face – pescoço – tronco – membros – extremidades. Figura 18. Descamação laminada Sinais mais clássicos: sinal de Filatow (palidez perioral); sinal de Pastia (intensificação desse exantema nas regiões de dobras); língua de framboesa (bem característico, mas também pode ocorrer na doença de Kawasaki). Escarlatina é causada por bactéria, o Estreptococos pyogenes ou betahemolítico, que causa febre reumática, glomerulonefrite. Os sintoma são causados pela toxina produzida pela bactéria. Geralmente a transmissão ocorre por via aérea, o período que se transição é do início dos sintomas até 24 a 48h do início de atibioticoterapia Diagnóstico Além de clínico o diagnóstico pode ser feito pela cultura de secreção da orofaringe coletada com swabs para identificação do estreptococo β-hemolítico do grupo A, este, é o padrão-ouro para o diagnóstico. No entanto, é possível também fazer dosagem de anticorpo antiestreptolisina O (ASLO) que auxilia a presumir infecção pelo estreptococo em questão. E ainda, é possível realizar teste rápido para identificação do pyogenes. Tratamento O exantema tem curso autolimitada, porém, indica- se o tratamento com antibiótico para eliminar a bactéria, de modo a reduzir as possibilidades de transmissão, além de prevenir febre reumática e complicações supurativas. O tratamento de escolha é com Penicilina G benzatina, intramuscular, dose única: 600.000 UI para crianças < 25kg e 1.200.000UI para > 25kg e adultos. Benzetacil (penicilina benzatina) ou amoxicilina, via oral. Macrolídeos e azitromicina só são indicados em pacientes alérgicos. O objetivo de se tratar é evitar as complicações tanto infecciosas, abscesso periamidagliano, choque tóxico e a febre reumática 17 Felipe Altimari SÍNDROME DA PELE ESCALDADA ESTAFILOCÓCICA (ESTAFILOCOCOS AUREUS) A síndrome da pele escaldada estafilocócica (SPEE) antigamente chamada de doença de Filatov-Dukes ou Síndrome de Ritter, é uma doença exantemática associada a quadro bolhoso importante. A síndrome da pele escaldada estafilocócica (SPEE) ocorre quando há quebra das barreiras protetoras da pele, permitindo a infecção pelo S. aureus, como por exemplo, infecções de coto umbilical de recém-nascidos ou infecção bacteriana secundária associada ao quadro de varicela. Costuma acometer mais crianças antes dos 5 anos de idade, mas pode acometer adultos, sobretudo, aqueles que têm doença renal crônica ou doenças que causa uma depressão do sistema imunológico. As toxinas produzidas por cepas 55 e 71 do S. aureus clivam a desmogleína, proteína constituinte dos desmossomos responsáveis por manter as células epidérmicas unidas. Com isso, há um desprendimento da epiderme da camada granulosa, o que acarreta na descamação superficial da pele típica da doença. Quadro clínico Sintomas prodrômicos incluem febre, irritabilidade, mal-estar, em seguida inicia-se a fase exantemática com exantema maculopapular doloroso que inicia em face e se expande por todo corpo. A pele começa a exsudar criando crostas melisséricas ao redor de boca e nariz, além de formar descamações laminares como se fossem bolhas decorrentes do deslocamento da epiderme superficial (sinal de Nikolsky). Figura 19. Exantema da Síndrome da pele escaldada estaafilocócica Figura 20. Crostas melisséricas em região perioral e nasal. Diagnóstico O diagnóstico além de clínico pressupõe o isolamento do S.aureus com coleta de do sítio suspeito e posterior cultura do material. Tratamento Consiste em limpeza e curativo da pele, sem a administração de antibióticos tópicos, além de medidas de suporte. A doença continua a progredir até que a toxina seja eliminada pelos rins ou neutralizada por anticorpos, mas em crianças tem um prognóstico excelente havendo regressão do quadro em 2-3 semanas. No entanto, o tratamento específico pode ser feito usando antibiótico endovenoso para eliminar o patógeno do organismo, sendo o medicamento de escolha a Oxacilina. ESCARLATINA X SD. PELE ESCALDADA Pródromo: faringoamigdalite com exsudato purulento Pródromo: febre, irritabilidade, mal-estar. Exantema: micropapular áspero (em lixa) em peitoral – tronco – membros e eritema malar (“face ebofeteada”) Exantema: doloroso com descamações, presença de crostas melisséricas em região perioral e nasal. Sinais associados: linhas de pastia (hiperpigmentação nas dobras); língua em framboesa; sinal de filatov. Sinais associados: sinal de Nikolsky: fricção da pele ocorre deslocamento da epiderme (parece bolha) Diagnóstico: cultura de orofaringe ou dosar ASLO ou teste rápido para estrepto. Diagnóstico: clínico + coleta de secreção do sítio suspeito para isolamento do S. aureus. Tratamento: penicilinaG benzatina, dose única. Tratamento: limpeza e curativo da pele + Oxacilina endovenosa Atenção: descamação furfurácea da pele após desaparecimento das manifestações clínicas. 18 Felipe Altimari DOENÇA KAWASAKI (ETIOLOGIA DESCONHECIDA) A doença de Kawasaki (DK) é importante causa de vasculite na faixa etária pediátrica, sendo causa importante de cardiopatia e infarto agudo do miocárdio. Sua etiologia é desconhecida, mas acredita-se que seja decorrente de uma resposta imune patológica a agentes ambientais ou infecciosos em indivíduos com predisposição. CONCEITO! A descamação da pele na DK é em região periungueal, o que difere das descamações da Escarlatina (onde havia o exantema) e da fragilidade da epiderme da SPEE (síndrome da pele escaldada estafilocócica). O diagnóstico e tratamento precoce até o 10º dia da doença é fundamental para a redução das complicações mais temidas que é o aneurisma de coronárias. Diagnóstico e quadro clínico: O diagnóstico da DK é eminentemente clínico, sendo baseado nos seguintes critérios: Tabela 3. Critérios diagnósticos Doença Kawasaki FEBRE HÁ MAIS DE 5 DIAS + 4 DOS SEGUINTES SINAIS: Hiperemia conjutival bilateral. Alterações orais: eritema labial e/ou em orofaringe e/ou fissura labial e/ou língua em framboesa. Alterações de extremidades: edemas de mãos e pés e/ou eritema palmo- plantar e/ou descamação periungueal. Exantema polimórfico. Adenomegalia cervical > 1,5cm. A febre costuma ser abrupta com duração de 10-12 dias, podendo durar até 4 semanas, uma vez que não responde aos antitérmicos. O exantema ocorre em 90% dos casos e é maculopapular polimórfico. Nas extremidades, em 80% dos casos nota-se edemas, eritema palmo-plantar e descamação laminar em região periungueal. Figura 21. Doença de Kawasaki Outros achados clínicos podem estar presentes como artralgia, diarreia, dor abdominal de modo que a diferenciação inicial entre a DK e as outras doenças exantemáticas da infância é difícil, sobretudo, nos primeiros dias de doença. Boa parte das crianças não preencherá 4 ou mais critérios diagnósticos acima, tendo o que é chamada de “DK incompleta”, no entanto, naquelas que forem menores de 6 meses e tiverem febre com mais de 1 semana de duração com evidência laboratorial de inflamação (elevação e VHS e PCR) sem outra causa conhecida, recomenda-se a realização de um Ecocardiograma (ECO). Vale ressaltar que, caso haja doença coronariana comprovada por um ECO, não são necessários 5 dias de febre para estabelecer o diagnóstico. Tratamento Apesar da incerteza quanto a etiologia, o tratamento deve ser instituído precocemente (antes de completar 10 dias do início quadro) como forma de evitar complicações cardiovasculares e, consiste em administrar imunoglobulina 2g/kg em infusão contínua de 10 horas. Associado a isto, inicia-se o ácido acetilsalicílico (AAS) em dose anti-inflamatória de 80-100mg/kg/dia até que o paciente esteja afebril. AAS - dose anti-inflamatória 80 a 100mg/kg 6/6h; AAS, dose antiagrenfante 3 a 5 mg/kg 1x dia 15 dias de início do tratamento 48h afebril; imunoglobulina venosa 2g/kg por 12h (resposta rápida) A falha terapêutica ocorre naqueles pacientes que mantêm ou têm recorrência da febre após 36h do início do tratamento. Nestes casos, pode-se repetir a imunoglobulina até 2 vezes. Caso a mesma não seja eficaz pode ser feito pulsoterapia com metilprednisolona 30 mg/kg/dia. Complicações Os aneurismas coronarianos são complicações que ocorrem precocemente, sendo os de tamanho >8mm de diâmetro os mais temidos pelo risco aumentado de obstrução e isquemia. Como forma de monitorar o surgimento desta complicação e prognóstico ruim de alguns pacientes, recomenda-se a realização de ECO em 2 momentos: Na fase aguda (2-3 semanas após o caso) e com 6-8 semanas. Caso em alguns desses resultados apareça o resultado de aneurisma de coronárias deve-se proceder um acompanhamento mais frequente do caso. KAWASAKI Exantema: polimórfico, palmo-plantar e descamação periungueal. Tratamento: Imunoglobulina + AAS, se febre não melhora em 36h: repete imunoglobulina Complicações: aneurisma coronarianos. Fazer ECO em 2-3 semanas do quadro e outro após 6-8 semanas. Diagnóstico: com base em CRITÉRIOS: Febre > 5 dias + 4 sinais: hiperemia conjuntival, alterações orais, alterações de extremidades, exantema polimórfico, adenomegalia> 1,5cm Se < 6 meses: febre > 1 semana + elevação VHS/PCR + não sabe a causa: FAZER ECO! Atenção: Se doença coronariana em ECO prévio, não precisa 5 dias de febre para diagnosticar. 19 Felipe Altimari SARAMPO RUBEOLA ERITEMA INFECCIOSO EXANTEMA SÚBITO VARICELA (Vacina) MAO-PE-BOCA ESCARLATINA SD. PELE ESCALDADA KAWASAKI Morbilivírus (família Paramixoviridae). Rubivírus (família Togaviridae) parvovírus humano B19 (família Parvoviridae). Vírus Varicela-zóster; Enterovírus Coxsackie A16 Outros: Coxsackie A5, A7, A9, A10, B 2 e B5 e enterovírus 71 Streptococcus pyogenes, uma bactéria b- hemolítica do Grupo A, produtora de toxina eritrogênica Toxinas produzidas por cepas 55 e 71 do S. aureus Vasculite na faixa etária pediátrica A descamação da pele na DK é em região periungueal Transmissão: aerossóis respiratórios Transmissão: secreções nasofaríngeas de pessoas infectadas. Na gestação pode ser transmitida ao feto, podendo causar a Síndrome da Rubéola Congênita. Transmissão: contato com secreções respiratórias, ou através da placenta de mães infectadas. Transmissão: contato com secreções de um portador assintomático a um contato próximo Transmissão: aerossol, contágio direto e transmissão vertical Transmissão: Na maioria dos casos a transmissão é fecal-oral. Menos frequentemente por via respiratória Transmissão: contato com secreções respiratórias Tempo de incubação: de 8-12 dias desde a exposição até início dos sintomas Tempo de incubação De 14 - 23 dias. Tempo de incubação: variável (4-20 dias). Tempo de incubação: média de 9-10 dias Tempo de incubação: 10 a 21 dias. Tempo de incubação: 3-6 dias Tempo de incubação: 2-5 dias Pródromo: febre alta, tosse, conjuntivite e enantema. Pródromo: febre baixa e linfadenopatia Pródromo: mialgia, febre, coriza, cefaleia. Pródromo: não ocorre. Pródromo: febre baixa, cefaleia, anorexia, vômitos. Pródromo: febre baixa, irritabilidade e anorexia. Pródromo: faringoamigdalite com exsudato purulento Pródromo: febre, irritabilidade, mal- estar. Exantema: 2-4 dias após o início, aspecto morbiliforme. Progressão: cefalocaudal (retroauricular) Exantema: puntiforme róseo cefalocaudal, curta duração desaparecendo conforme progressão. Exantema: em região malar (“face esbofeteada”), depois de 4 dias para membros com aspecto rendilhado. Exantema: surge subitamente após cessar febre alta; aspecto róseo, de curta duração. Exantema: polimórfico pruriginoso de evolução rápida (máculas/vesículas/crostas). Exantema: papulovesicular em mãos e pés + vesículas em cavidade oral que evoluem para úlceras. Exantema: micropapular áspero (em lixa) em peitoral – tronco – membros e eritema malar (“face ebofeteada”) Exantema: doloroso com descamações, presença de crostas melisséricas em região perioral e nasal. Exantema: polimórfico, palmo-plantar e descamação periungueal. Sinais associados: manchas de Koplik em mucosa oral é patognomônica. Sinais associados: sinal de Forscheimer (petéquias em palato mole). Sinais associados: sinal de filatov (palidez perioral). Pode haver recorrência do exantema!! Sinais associados: linhas de pastia (hiperpigmentação nas dobras); língua em framboesa; sinal de filatov. Sinais associados: sinal de Nikolsky: fricção da pele ocorre deslocamento da epiderme (parecebolha) Diagnóstico: com base em CRITÉRIOS: Febre > 5 dias + 4 sinais: hiperemia conjuntival, alterações orais, alterações de extremidades, exantema polimórfico, adenomegalia> 1,5cm Se < 6 meses: febre > 1 semana + elevação VHS/PCR + não sabe a causa: FAZER ECO! Atenção: Se doença coronariana em ECO prévio, não precisa 5 dias de febre para diagnosticar. Diagnóstico: clínico + IgM e IgG + identificação do vírus em soro/urina/swab de orofaringe. Diagnóstico: clínico + IgM e IgG + identificação do vírus em soro/urina/swab de orofaringe. Diagnóstico: clínico + sorologia IgM e IgG. Diagnóstico: clínico + IgM e IgG. Diagnóstico: clínico típico + IgM e IgG + cultura do líquido das lesões vesiculares. Diagnóstico: clínico característico. Diagnóstico: cultura de orofaringe ou dosar ASLO ou teste rápido para estrepto. Diagnóstico: clínico + coleta de secreção do sítio suspeito para isolamento do S. aureus. Tratamento: suporte + Vitamina A Tratamento: suporte. Tratamento: suporte. Tratamento: suporte. Se imunodeprimido usar Gsnciclovir. Tratamento: suporte + Aciclovir se < 12 anos ou imunodeprimido. Tratamento: sintomáticos + suporte hídrico e nutricional. Tratamento: penicilina G benzatina, dose única. Tratamento: limpeza e curativo da pele + Oxacilina endovenosa Tratamento: Imunoglobulina + AAS, se febre não melhora em 36h: repete imunoglobulina Complicações: otite média, pneumonia, encefalites e PEES (panencefalite esclerosante subaguda). Complicações: trombocitopenia, encefalite pós infecciosa e panencefalite progressiva. Complicações: artropatia; crise aplástica transitória: queda hemoglobina e reticulócitos. Complicações: infecção bacteriana de pele secundária é a mais comum. Complicações: atentar para desidratação pela dificuldade de ingerir alimentos e água. Complicações: aneurisma coronarianos. Fazer ECO em 2-3 semanas do quadro e outro após 6-8 semanas. Atenção: Herpes zoster: reativação do vírus latente, exantema localizado no dermátomo! Atenção: Herpangina: mesmo vírus causando enantema e vesículas em orofaringe posterior. Atenção: descamação furfurácea da pele após desaparecimento das manifestações clínicas. Preveníeis por vacina e Notificação compulsória 20 Felipe Altimari 21 Felipe Altimari
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