Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO REDENTOR Afya Educacional CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA NOME: Matrícula: Período: DISCIPLINA: UNIDADE CURRICULAR DE ÊNFASE EM PROCESSOS CLÍNICOS EM PSICOLOGIA PROFESSORA: APS: CONSTRUIR UM RESUMO CRÍTICO DO ARTIGO “O SURGIMENTO DA CLÍNICA PSICOLÓGICA: DA PRÁTICA CURATIVA AOS DISPOSITIVOS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE” RESUMO CRÍTICO DO ARTIGO: O SURGIMENTO DA CLÍNICA PSICOLÓGICA: DA PRÁTICA CURATIVA AOS DISPOSITIVOS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE A clínica psicológica se constitui no atendimento profissional pelo psicólogo ao outro em sua singularidade, utilizando como ferramentas a escuta, pontuações e orientações pertinentes a fim de auxiliar no alívio emocional e no autoconhecimento. Assim, na clínica, o psicólogo é quem propicia o encontro do sujeito consigo mesmo a partir da fala. A clínica psicológica é herdeira de um modelo da medicina (biomédico), onde o profissional observa e compreende para intervir posteriormente, de moda a remediar, tratar e curar, ou seja, evidencia-se uma prática higienista. Ainda usamos na nossa prática ferramentas como a anamnese, o primeiro passo do exame médico no âmbito clínico, criada por Hipócrates. É certo que a clínica psicológica tinha que começar de algum lugar. No entanto, o modelo biomédico que ela nasce é cartesiano com foco na cura da doença e não na pessoa enquanto um ser biopsicossocial e espiritual. No entanto, não podemos criticar esse início, pois foi a partir dele que hoje trilhamos no caminho de novas percepções e novas formas de promover o cuidado. Ainda, é preciso mencionar que a clínica psicológica provavelmente tenha nascido da psicanálise, pelas intervenções clínicas feitas por Freud (médico) e seus amigos/discípulos/seguidores (que também eram médicos em sua maioria). Rapidamente, resumindo o início do artigo, vimos que desde os primórdios, quando Hipocrátes fazia a observação clínica - final do século XVIII e o início do XIX- foram feitas muitas descobertas biológicas e invenções no ramo da instrumentalização médica, levando ao avanço dos recursos técnicos para os diagnósticos. Dando continuidade a perspectiva histórica da clínica, fala-se sobre as novas tecnologias que foram aliadas ao conhecimento médico no século XX, o que revoluciona a clínica medica, pois ela passa a se “perder” entre inúmeras fragmentações, tendo como consequência disso a delegação ao paciente, a partir dos seus sintomas, a escolha sobre que especialista deve recorrer. O saber médico conferia cada vez mais poder à classe, surgindo sistemas de vigilância da subjetividade e controle social. O texto evidencia uma questão interessante provocada por Focault (1999). A partir da modernidade - século XIX - instaurou o poder sobre o homem como ser vivo, denominando esse fato de biopoder (poder sobre a vida). Assim fica mais nítido a partir desse momento, o poder do humano sobre os humanos - disciplinandoo corpo, a alma e a vidaem geral, caracterizado como um sistema racional e científico da sociedade moderna. Ainda, Focault, evidencia outra questão: a biopolítica, mecanismos de regulamentação da natalidade, da mortalidade, das capacidades biológicas e dos efeitos do meio. Ao final, conclui-se que biopolítica modifica parcialmente o biopoder e utiliza-o. Entretanto, sua tecnologia não suprime a tecnologia disciplinar. O que o parágrafo anterior nos faz refletir? Que a clínica psicológica herda também essa cultura exposta por Focault, de forma que ainda há a tentativa de exercer o poder disciplinar sobre o psíquico, ou seja, os psicólogos “podem estar adequando” os sujeitos para seu enquadramento funcional dentro da sociedade ao invés de promover saúde (orientá-los para terem primeiramente um bem-estar próprio, de forma a se autoconhecerem, de aceitarem suas subjetividades, em prol de ter uma vida mais prazerosa). O texto ainda apresenta que no decorrer do tempo a medicina foi se dividindo, em outras palavras, se especializando. Assim, mais uma vez fica evidente a proposta cartesiana. Nessa especialização, o psíquico (a mente) também absorveu sua parte. Especialistas em mentes, inicialmente, não consideravam além dos elementos orgânicos. Mas essas propostas incomodaram alguns personagens, como Freud por exemplo. Para clínica psicanalítica de Freud, houve um deslocamento do saber. Não mais o médico o detém, mas o cliente. Contudo, é um saber inconsciente. Nesse processo, o analista é um mero facilitador, já que, na condução do tratamento, ele apenas aponta o caminho e o paciente não apenas ouve, como se fosse uma prescrição médica, mas elabora e encontra sua verdade no próprio inconsciente. Freud ainda revela que as doenças não são curadas pelo medicamento, mas pelo médico, ou seja, pela personalidade do médico, na medida em que, através dela, ele exerce uma influência psíquica. Freud também colaborou para os avanços da clínica psicológica, tais como: a mudança do paradigma da observação para o da escuta, a importância da resistência e, em última instância, a perspectiva de tratar o cliente como um sujeito de sua história de adoecimento, e não como mero objeto. Atualmente, a psicologia é assim, buscando compreender o sujeito a partir de sua inserção na sociedade. Este só pode ser realmente compreendido quando se considera sua totalidade social e histórica, que o determina e dá sentido a sua singularidade. Hoje, embora seja plural em sua heterogeneidade de abordagens, a psicologia se une ao cuidado com o ser humano. Fica evidente que toda clínica pode e deve ser um espaço para efetivação de um cuidar direcionado através da teoria e técnica de forma ética, considerando o ser humano em sua dignidade de sujeito e cidadão. A prática da clínica psicológica deve-se vincular às demandas dos sujeitos, e não fundamentalmente a uma patologia, como no modelo biomédico. O artigo dá destaque para diferença entre a clínica médica, que observa, examina e aperfeiçoa os seus métodos diagnósticos com objetivo da cura orgânica, e a clínica freudiana que foca mais na escuta do sofrimento e tem como método de intervenção a terapia analítica, que não pretende acrescentar/introduzir nada, mas sim tirar, trazendo à tona a origem dos elementos formadores do sintoma patológico. Assim, a prática clínica psicológica passa a vincular-se a uma demanda do sujeito, e não necessariamente a uma patologia, como no modelo médico. Mas a vinculação da Psicologia ao individualismo não será superada pelo freudismo, pois a Psicologia, em sua origem, inclusive a Psicologia clínica, está atrelada, infelizmente, a uma perspectiva individualista. A essa nova prática da clínica psicológica, muito se deve para atender às demandas oriundas dos acontecimentos históricos vividos pela humanidade. Exemplo disso é que as mudanças introduzidas pela revolução industrial na produção de bens influenciaram profundamente a sociedade e os indivíduos. A partir desta revolução, a sociedade alterou bruscamente o modo de vida, imprimindo ao currículo elementos como: isolamento, individualismo, ansiedade, fobias e outros transtornos oriundos da “pressão psicológica” disparada pelo capitalismo. Assim, a partir da revolução industrial surgiram as ciências humanas com o objetivo de compreender e intervir na ordem social. Novamente fica visível o biopoder e a biopolítica evidenciada por Foucault. Comprova-se assim que o surgimento das ciências humanas, inclusive o da Psicologia, esteve ligado aos interesses da nova detentora dos poderes político, econômico e social. Segundo Guerra (2002), "(...) a história da Psicologia nos evidencia uma tradição de trabalho associada ao controle, à higienização e à diferenciação, que, desde os primórdios de seu nascimento, associaram às práticas sociais e políticas a manutenção do status quo" (p. 29). A prática clínica era, portanto, descomprometida como contexto social, ou, ao contrário, comprometida com apenas parte dele. A modernidade é marcada pelo surgimento do “sujeito/individual”, gerando novos problemas que exigiram a criação de uma nova ciência para pensar sobre eles e, assim, a prática clínica voltou-se para as demandas do sujeito e não, necessariamente, a uma patologia. O sujeito moderno se percebe como um ser singular, um ser que conquistou o direito de exercer a individualidade de maneira sigilosa, em segredo, de forma a resguardar-se da exposição pública. Esse pensamento moderno, que valoriza a individualidade, faz com que o sujeito não se preocupe mais com as estruturas holísticas, que estão diretamente ligadas a organização e ao sentido da existência, e sim foque na sua subjetividade. Contudo, não demorou para que a ambiguidade nessa relação, psicologia e individualismo, viesse a tona com o questionamento de que não é possível dar conta de todas as mazelas através desse modelo, pois apesar da clínica individual ser importante, os psicólogos não podem se prender somente neste modelo. A psicologia tem compromisso social, pois o “eu” só consegue se constituir através do “outro”, ou seja, o individualismo se sustenta nas relações sociais. O contexto social passou a adentrar os consultórios de forma a convocar os psicólogos a saírem dele, ou seja, para responder às novas formas de subjetivação e de adoecimento psíquico, o psicólogo deveria compreender a realidade local. A Psicologia "tradicional" é "obrigada" a se redesenhar, tornando-se mais crítica e engajada socialmente. À medida que o psicólogo saiu da clausura dos consultórios e gabinetes e passou a circular socialmente, nos diversos espaços de trabalho, nos novos territórios na educação, na saúde, na indústria, nas novas tecnologias e também na área bioética, a complexidade do seu trabalho aumentou e com isso surgiram novas exigências de atuação. Vale lembrar que o surgimento de uma psicologia clínica socialnão se refere somente ao atendimento das camadas pobres da população nem diz respeito apenas aos novos espaços de atuação em que os psicólogos estão se inserindo. É, antes de tudo, a clínica de qualquer lugar, de qualquer público, que insiste em combater a massificação, cada vez mais presente, e buscar cada vez mais a invenção, na singularidade de cada cliente, na particularidade de cada inserção profissional. Um ponto importante a destacar é que a Psicoterapia é um campo privilegiado da clínica psicológica, no entanto é só uma modalidade dentro do universo da psicologia. Acreditamos que existam outras intervenções psicológicas, de efeitos terapêuticos, resultantes de uma escuta clínica. A Psicologia, ou melhor, as psicologias, devem encontrar seu compromisso social, pois o eu não se constitui sem o outro, ou seja, não há individualismo que se sustente na ausência do social. Se o paradigma moderno é o da consciência que propicia o individualismo, o paradigma contemporâneo é o da linguagem que pressupõe o encontro intersubjetivo. Toda prática clínica, seja ela no campo individual, coletivo e social, independentemente do seu enfoque teórico e prático, exige inquestionavelmente uma postura ética por parte do profissional. O que define a clínica psicológica como clínica é sua ética: ela está comprometida com a escuta do sujeito e com a sustentação das tensões e dos conflitos. Melhor dizendo, o ato clínico se pautará muito mais por uma questão ética do que por referenciais teóricos fechados. O que se define como psicologia clínica na atualidade está vinculada a sua história e surgimento, porém, com algumas especificidades. No que tange à compreensão dos problemas do homem, do seu bem-estar, busca-se uma não patologização, pautando-se em um acolhimento e escuta ativos para bem ajudar o outro que se encontra em sofrimento psíquico através de um processo psicoterapêutico. É indispensável o comprometimento dos profissionais em deslocar o paradigma da modalidade de uma clínica individualizada e curativa para uma clínica aplicada e implicada nos processos de promoção da saúde também no social. REFERÊNCIA MOREIRA, Jacqueline de Oliveira; ROMAGNOLI, Roberta Carvalho; NEVES, Edwiges de Oliveira. O surgimento da clínica psicológica: da prática curativa aos dispositivos de promoção da saúde. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 27, n. 4, p. 608-621, dez. 2007 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 98932007001200004&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 04 abr. 2020.
Compartilhar