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A PRÁXIS PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br Curso sobre Serviço Social Centro Universitário Leonardo da Vinci Organização Vera Lúcia Hoffmann Pieritz Autora Cristiana Montibeller Denise da Silva Vieira Joelma Crista Sandri Bonetti Marines Selau Lopes Silvana Braz Wegrzynovski Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitoria de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Diagramação e Capa Letícia Vitorino Jorge Revisão Harry Wiese APRESENTAÇÃO DO CURSO Teceremos neste curso um debate acerca dos principais conceitos e fundamentos da práxis profissional do assistente social, além de apresentar novidades relativas ao Serviço Social contemporâneo. O conjunto de temas debaterá as concepções sócio-históricas, econômicas, políticas e culturais associadas à identidade profissional do assistente social, oferecendo reflexões sobre as principais teorias clássicas do pensamento social e do pensamento político, perpassando pelas correntes filosóficas e econômicas dos séculos XX e XXI. Igualmente, este debate proporcionará a você momentos de reflexão no que tange às concepções do capitalismo e do Estado, sem esquecer fatos relevantes ao desenvolvimento da história política do Brasil contemporâneo. Vale ressaltar que serão abordadas ponderações a respeito da concepção de desenvolvimento e do neodesenvolvimentismo, além de abordar alguns aspectos relativos ao trabalho alienado e sociabilidade no capitalismo, entre outros aspectos norteadores da construção da subjetividade e dos movimentos sociais. Por conseguinte, tratar-se-á de um assunto muito importante para a a atuação profissional do assistente social, pois enfatiza-se a questão da ética, da legislação, das atribuições, das competências e da instrumentalização profissional teórico-técnico- operativa do Serviço Social, alimentando reflexões sobre a legislação que regulamenta o nosso fazer profissional, os dilemas éticos contemporâneos, como a questão do sigilo profissional, além das diferenças entre as atribuições e as competências do assistente social nos dias de hoje. Adentraremos também nas questões que são objetos norteadores da profissão do assistente social, que são as expressões da questão social. E, para tanto, neste curso procuraremos revisitar as implicações das expressões sociais da questão social e a formulação, implementação, execução e avaliação de projetos, serviços, programas e políticas sociais. Para, assim, compreender a amplitude da terminologia do termo da questão social e seu acirramento e globalização. Ao mesmo tempo, também trabalharemos questões da atualidade, tais como: as novas configurações sociais para o serviço social, a profissão do serviço social mediante uma trajetória das funções tradicionais às provocações perante as novas configurações de regulação sociopolíticas. Assim, faz-se necessário abordarmos também as questões pertinentes da aplicação e importância da estatística para o serviço social, em que será realizada uma análise dos 2 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. principais indicadores sociais da realidade brasileira. Para finalizar este arcabouço de informações relativas à atuação profissional do assistente social, abordar-se-á um assunto novo, que está nas mídias, que é a questão da guarda compartilhada. Neste sentido, desvelaremos como se dá a atuação do serviço social na implementação e garantia dos direitos que estão prescritos na Lei nº 13.058/2014, que regula a guarda compartilhada no Brasil. Vale salientar que os assuntos abordados neste curso são frutos das problematizações e estudos realizados pela equipe de professores, e organizada pela Coordenadora do Curso de Bacharelado em Serviço Social da UNIASSELVI, pois o mesmo reflete a base conceitual da profissão e sua práxis profissional. Prof.ª VERA LÚCIA HOFFMANN PIERITZ CRESS Nº 4016 DA 12ª REGIÃO COORDENADORA DO CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL UNIASSELVI – NEAD 3SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. EMENTA GERAL: Conceitos sócio-históricos, econômicos, políticos e culturais associados à identidade profissional. Teorias clássicas do pensamento social e do pensamento político. Principais correntes filosóficas do século XX: marxismo, neotomismo, fenomenologia e neopositivismo. Concepções e análises do capitalismo e caracterização do estado. Desenvolvimento da história política brasileira: república velha e estado novo. Concepção de desenvolvimento e do neoliberalismo: trabalho alienado e sociabilidade no capitalismo. Objetivações humanas e a construção da subjetividade. A cultura e as identidades coletivas: uma análise das diferentes dimensões culturais e suas correlações com o estado e o mercado. Dimensões da ética profissional e a instrumentalização profissional teórico-técnico-operativa. O serviço social e a legislação que o regulamenta. A evolução histórica no serviço social e a compreensão da moral e da ética. Dilemas éticos contemporâneos: o sigilo profissional. Evolução e atribuições profissionais do serviço social. As diferenças entre as atribuições e as competências do assistente social. A associação da instrumentalidade e da comunicação no serviço social. Os termos técnicos e a atuação profissional do assistente social. Implicações das expressões sociais da questão social e a formulação, implementação, execução e avaliação de projetos, serviços, programas e políticas sociais. A amplitude da terminologia do termo da questão social. A globalização e o acirramento das expressões da questão social. Espaços ocupacionais do assistente social no primeiro, segundo e terceiro setores. Projetos de pesquisa e projetos de intervenção profissional a partir da elaboração, execução, avaliação e comunicação (publicação de resultados). Atualidades: novas configurações sociais para o serviço social. A profissão do serviço social mediante uma trajetória das funções tradicionais às provocações perante as novas configurações de regulação sociopolítica. A importância da estatística para o serviço social. O serviço social: analisando os principais indicadores sociais da realidade brasileira. O serviço social e a lei nº 13.058/2014 – guarda compartilhada. CONCEITOS SÓCIO-HISTÓRICOS, ECONÔMICOS, POLÍTICOS E CULTURAIS ASSOCIADOS À IDENTIDADE PROFISSIONAL ETAPA 1 5SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. CONCEITOS SÓCIO-HISTÓRICOS, ECONÔMICOS, POLÍTICOS E CULTURAIS ASSOCIADOS À IDENTIDADE PROFISSIONAL Profª. Denise da Silva Vieira Profª. Marines Selau Lopes APRESENTAÇÃO DA ETAPA Nesta unidade serão abordadas as teorias clássicas do pensamento social: Émile Durkheim, Karl Max e Weber, e alguns clássicos do pensamento político, tais como: Adam Smith; Aristóteles; Jean-Jacques Rousseau; John Locke; Nicolau Maquiavel; Platão e Thomas Hobbes. As correntes filosóficas e econômicas do século XX e XXI, o desenvolvimento da história política brasileira: República Velha e Estado Novo. Caro(a) acadêmico(a)! Vamos iniciar nossos estudos procurando compreender o sistema capitalista. Assim, constataremos que o mercado é um organismo utilizado no capitalismo para concentrar a riqueza nas mãos de poucos. E que, para impedir que o mercado destrua a si próprio, o Estado intervém quando o mercado apresenta sinais de perigo, pois o crescimento e a riqueza centralizada agravam ainda mais as desigualdades sociais. Em seguida, veremos como se gerou a discussão sobre o desenvolvimento e o neoliberalismo. Neste sentido, como profissionais do ServiçoSocial, se faz necessário seguir o processo de reflexão e amadurecimento profissional, bem como a inserção nas lutas sociais recentes, lutas estas de ampliação de direitos, de democracia, de participação social e na ação coletiva do trabalho. Posteriormente estudaremos as objetivações humanas e a construção da subjetividade. Desta forma, concluiremos que a subjetividade, portanto, não é refém do processo social, mas componente integrante, tanto pode ser resultado como criadora do próprio processo. Para finalizar, faremos uma análise das diferentes dimensões culturais e suas correlações com o Estado e o mercado. Assim, veremos que a cultura é uma extensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não pertence apenas a um conjunto de técnicas e visões. Profª. Denise da Silva Vieira Profª. Marines Selau Lopes 6 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. TÓPICO 1: TEORIAS CLÁSSICAS DO PENSAMENTO SOCIAL E DO PENSAMENTO POLÍTICO Apresentaremos uma breve explanação dos clássicos da sociologia, tais como: Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber. 1.1 ÉMILE DURKHEIM David Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1858, em Paris. Foi sociólogo, psicólogo social e filósofo francês. Designou a disciplina acadêmica e, com Karl Marx e Max Weber, é comumente citado como o principal arquiteto da ciência social moderna e considerado um dos pais da sociologia. Émile Durkheim destaca que na vida em sociedade o homem defronta-se com regras de conduta que não foram diretamente criadas por ele, mas que existem e devem ser seguidas. Afirma que os fatos sociais são objetos de estudo da sociologia, sendo estas regras e normas coletivas que norteiam a vida dos indivíduos em sociedade. Preocupava-se, em seu trabalho, como a sociedade poderia conservar sua integridade e coerência na modernidade. Teve várias publicações, destacamos o seu primeiro trabalho sociológico relevante, “Da divisão do Trabalho Social” (1893), entre outros de grande importância. Durkheim também estava intensamente preocupado com a aceitação da sociologia como ciência legítima. Aprimorou o positivismo originalmente estabelecido por Auguste Comte, solicitando o que poderia ser considerado como figura de realismo epistemológico, bem como a utilização do método hipotéticodedutivo na ciência social. A sociologia, na sua visão, era a ciência das criações, entendida em seu sentido mais amplo como as “crenças e modos de comportamento instituídos pela coletividade”, tendo como objetivo descobrir fatos sociais estruturais. Foi um amplo defensor do funcionalismo estrutural, uma perspectiva fundamental tanto em sociologia como em antropologia. Para Durkheim, a ciência social deve ser puramente holística, na qual a sociologia precisa estudar os fenômenos atribuídos à sociedade em geral, em vez de se limitar às ações específicas dos indivíduos. 1.2 KARL MARX Karl Heinrich Marx nasceu em 5 de maio de 1818, em Londres. É considerado um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna. Atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. Seu pensamento tem influências em várias áreas, tais como: Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência Política, Antropologia, Economia e Teologia, e também 7SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Biologia, Psicologia, Comunicação, Administração, Física, Cosmologia, Arquitetura e Ecologia. Suas teorias sobre a sociedade, economia e política, também conhecidas como marxismo, destacam que as sociedades humanas avançam através da luta de classes, na qual, de um lado, há conflito entre a classe burguesa que controla a produção e, de outro, o proletariado que fornece a mão de obra para a produção. Foi eleito o maior filósofo de todos os tempos, juntamente com Durkheim e Max Weber. Em sua principal obra sobre a economia foram ressaltadas as bases e compreensão atual do trabalho e sua relação com o capital, influenciando o pensamento econômico. Marx destaca o capitalismo como a “ditadura burguesa”, ou seja, somente a classe rica tem seu próprio benefício, em que o capitalismo causa conflitos internos que dirigiriam à sua autodestruição e substituição por um novo sistema, o socialismo. Ressalta que a sociedade socialista seria governada pela classe trabalhadora, sendo chamada de "ditadura do proletariado", o "Estado dos trabalhadores" ou "democracia dos trabalhadores". Acreditava que o socialismo seria uma estratégia revolucionária para derrubar o capitalismo e ocasionar mudanças socioeconômicas para o país. 1.3 MAX WEBER Karl Emil Maximilian Weber nasceu em 21 de abril de 1864, em Munique, Alemanha. Era um intelectual, jurista e economista alemão e foi um dos fundadores da Sociologia. Também foi considerado um dos fundadores do estudo moderno da sociologia, com influência na economia, filosofia, no direito, na ciência política e na administração. Iniciou sua carreira acadêmica na Universidade Humboldt, de Berlim, posteriormente veio a trabalhar nas universidades de Munique. Publicou várias obras, entre elas destacamos “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, onde traz uma discussão e reflexões sobre a sociologia da religião. Para Weber a religião era uma das razões não exclusivas do porquê as culturas do Ocidente e do Oriente, desenvolvendo-se de formas variadas, salientando a importância de algumas qualidades específicas do protestantismo ascético, que levou ao surgimento do capitalismo, da burocracia, do estado racional e legal nos países ocidentais. Destaca 8 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. outro trabalho importante, “a política como vocação”. Segundo Weber, o Estado estava definido como "uma entidade que reivindica o monopólio do uso legítimo da força física", um significado que se tornou central no estudo contemporâneo da ciência política no Ocidente. Em suas contribuições mais apreciadas são muitas vezes mencionadas como a "Tese de Weber". 1.4 PENSAMENTO POLÍTICO Faremos uma breve explanação sobre os clássicos do pensamento político, na visão de alguns pensadores, tais como: Adam Smith, Aristóteles, Jean- Jacques Rousseau, John Locke, Nicolau Maquiavel, Platão e Thomas Hobbes. Primeiramente, vamos compreender o termo política: “deriva do grego polis (polis-cidade, urbe) e polités (polités – cidadão, civil), guardando, portanto, em seu significado etimológico, o segredo de sua identidade”. (BITTAR, 2002, p. 28). Entende-se por política a ciência da direção de um Estado ou Nação, ou seja, é também um método de negociação para compatibilizar interesses. Conforme Bittar (2002, p. 27): “Política tem relação com os modos de organização do espaço público, objetivando o convívio social”. O termo "ciência política", segundo Cicco e Gonzaga (2011, p. 178), “é o estudo de teorias e casos práticos da política, bem como a análise e a descrição dos sistemas políticos e seu comportamento”, ou seja, é a teoria e prática da política, que consiste no estudo por parte do governo com o intuito de analisar e compreender a realidade social, histórica e seu funcionamento. A política engloba tudo o que trata da cidade e de direitos do cidadão. Sendo através das decisões comuns consensuais ou não e de votação, também das discussões e deliberações realizadas no espaço público com propostas comuns a todos. 9SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. 1.5 ADAM SMITH Nasceu em 5 de junho de 1723, em Kirkcaldy. Foi um filósofo e economista escocês. Teve como cenário para a sua vida o atribulado Século das Luzes, o século XVIII. Considerado o pai da economia moderna, foi o mais importante teórico do liberalismo econômico. Autor de "Uma investigaçãosobre a natureza e a causa da riqueza das nações", a sua obra mais conhecida, a qual é usada como referência para gerações de economistas, procurando sempre demonstrar que a riqueza das nações resulta do desempenho dos sujeitos que, movidos até mesmo pelo seu próprio interesse, provocavam o crescimento econômico e a inovação tecnológica. Esperava que a iniciativa privada devesse atuar livremente, com pouca ou nenhuma influência do governo. Sendo que a concorrência livre entre os diferentes fornecedores alteraria não só a queda do preço dos produtos, como também as constantes inovações tecnológicas, com o intuito de amortecer o custo de fabricação e abater os concorrentes. A divisão do trabalho foi um fator evolucionário influente a propulsionar a economia. Neste sentido, os ensinamentos de Adam Smith exerceram uma rápida e intensa abrangência na burguesia (negociantes, industriais e financistas), uma vez que almejavam abolir com os direitos feudais e com o mercantilismo. 1.6 ARISTÓTELES Aristóteles nasceu em 384 a.C., na cidade antiga de Estagira, na Grécia. Grande filósofo grego, astrônomo e matemático, fixou residência em Atenas aos 17 anos, onde conheceu Platão e se tornou seu discípulo. Direcionou as suas diversas obras, principalmente “A Política”, ao campo político. Apresentou uma visão realista do Estado, abordando também a cidade, a família, as riquezas, os regimes políticos e fez crítica a Platão. Seus escritos abrangem os mais variados assuntos, tais como física, metafísica, as leis da poesia e do drama, o governo, entre outros. É visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Aristóteles destaca três formas de governo: a monarquia, a aristocracia e a democracia. Conforme Cicco e Gonzaga, (2011, p. 192) “todas devem buscar o bem comum da polis (espécie de comunidade que possui seus próprios fins), sob pena de se tornarem formas corruptas ou desvirtuadas, degenerando-se então sob a forma de tirania, oligarquia e demagogia”. 10 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Classificou as formas de governo como três boas e três desvirtuadas. Na sua visão, as boas são consideradas aquelas que visam ao bem comum, ou seja, que visam favorecer aos governados e não apenas aos governantes. E as que não visam o bem comum são formas desvirtuadas de governo. QUADRO 1 – CONSIDERAÇÕES BOAS E DESVIRTUADAS CONSIDERADAS BOAS CONSIDERADAS DESVIRTUADAS Monarquia: Poder centrado em uma pessoa física, ou seja, governo de um. Aristocracia: Poder no qual o Estado é governado por um grupo de pessoas. Democracia ou Politeia: Governo de uma maioria, do povo. Tirania: Forma distorcida, contrária de Monarquia. Oligarquia: Forma impura, degenerada de Aristocracia. Demagogia ou Olocracia: a corrupção da Democracia. FONTE: A autora 1.7 JEAN-JACQUES ROSSEAU Nasceu em Genebra em 28 de junho de 1712, foi um admirável filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata suíço. Respeitado como um dos principais filósofos do Iluminismo e um precursor do Romantismo. Rousseau pondera que as instituições educativas corrompem o indivíduo e tiram- lhe a liberdade. Contudo, destaca que para a criação de um novo indivíduo e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a natureza, ampliando progressivamente seus sentidos e razão com vistas ao livre-arbítrio e à capacidade de avaliar. Autor de várias obras. A terceira análise rousseauniana corresponde ao livro terceiro, se refere às possíveis formas de governo, que são a democracia, a aristocracia e a monarquia, e suas características e princípios. A partir do oitavo capítulo, que vai se destacando o tipo de Estado, ou seja, que forma de governo funciona melhor, se a democracia é boa em cidades pequenas, a aristocracia em Estados médios e a monarquia em Estados grandes. No décimo capítulo, Rousseau expõe como o excesso dos governos pode degenerar o Estado. Destacando ainda, no nono capítulo que o principal objetivo de uma sociedade política é a prevenção e prosperidade dos seus membros. Em sua obra “O contrato social”, destaca a preocupação filosófica e política de 11SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Rousseau. “O contrato social possui existência na teoria de Rousseau, e não corresponde a uma realidade aferível empiricamente”. (BITTAR, 2002, p. 185). O contrato social trata de um acordo instituído entre as pessoas com vistas à fundação da sociedade, sendo divisor de águas entre o estado de natureza e o estado cívico. 1.8 JOHN LOCKE John Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, em Wrington, na Inglaterra. Foi um filósofo inglês, estudou em Oxford, onde se formou em Medicina, posteriormente se tornou professor daquela universidade. Suas principais obras foram: Cartas sobre a tolerância, Ensaios sobre o entendimento humano e os Dois tratados sobre o governo civil. Conhecido como defensor da liberdade e da tolerância religiosa, foi considerado o fundador do empirismo, “doutrina segundo a qual todo o conhecimento deriva da experiência” (WEFFORT, 2006, p. 83). O mesmo autor diz ainda que “como filósofo, Locke é conhecido pela teoria da tábula rasa do conhecimento, desenvolvida no ensaio sobre o entendimento humano”. (WEFFORT, 2006, p. 83). A partir do conhecimento adquirido é que se desenvolve essencialmente o próprio conhecimento. Segundo Weffort (2006, p. 83), A teoria da tábula rasa é, portanto, uma crítica à doutrina das ideias inatas, formulada por Platão e retomada por Descartes, segundo a qual determinadas ideias, princípios e noções são inerentes ao conhecimento humano e existem independentemente da experiência. Na busca do conhecimento, através das experiências, o ser humano vai estabelecendo novas formas de trabalho, o livre consentimento da sociedade para a formação de governos, sendo estes, para Locke, os principais fundamentos do estado civil. Pontua o “Estado de natureza” e o “Estado Político”, sendo que, no Estado de natureza todos têm que fazer valer a lei natural. Acreditava que o trabalho era o que dava direito à propriedade, desde que não prejudicasse ninguém, assim ficaria assegurado o direito ao fruto do trabalho. John Locke define as formas de governo como “a comunidade pode ser governada por um, por poucos ou por muitos, conforme a escolha a monarquia, oligarquia ou democracia”. (WEFFORT, 2006, p. 87). Pontua que esta escolha poderá incidir sobre o governo misto. Defende como forma de governo a monarquia absoluta, “desconhecendo limitações de qualquer natureza, é incompatível com os justos fundamentos da sociedade 12 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. civil”. (MALUF, 1995, p. 121). A adaptação da sociedade e organização do Estado foi estabelecida em benefícios próprios, não sendo possível neste segmento a afirmação do poder com amplitude, ao contrário do que o bem público estabelece. Conforme Weffort (2006, p. 88), “Os direitos naturais inalienáveis do indivíduo à vida, à liberdade e à propriedade constituem para Locke o cerne do estado civil e ele é considerado por isso o pai do individualismo liberal”. Locke pontua que os princípios de um direito natural do Estado, baseado na concordância e submissão dos poderes Executivo e Legislativo, de direito de resistência, são garantidas com as diretrizes fundamentais do Estado Liberal. Com os princípios de um direito natural do Estado, baseado na concordância e submissão dos poderes Executivo e Legislativo, de direito de resistência, Locke pontua as diretrizes fundamentais do Estado Liberal. “Locke assinala que ‘a liberdade não é licença, mas obediência à lei natural’”. (BITTAR, 2002, p. 166). 1.9 NICOLAU MAQUIAVEL Nicolau Maquiavel nasceu em Florença, na Itália, no dia 3 de maiode 1469. Foi historiador, poeta, diplomata e músico italiano. Foi reconhecido como fundador do pensamento e da ciência política moderna. Escreveu diversas obras, sendo a mais reconhecida “O Príncipe”. Com 29 anos de idade, ingressa na vida pública exercendo um cargo de destaque, sendo interrompida quando os Médici recuperaram o poder. Afastado da vida pública, Maquiavel inicia uma nova fase estudando os clássicos, posteriormente dando vida às suas obras, tais como: O Príncipe (1512 a 1513), A arte e a guerra (1513 a 1519) e outras. Era reconhecido como o fundador do pensamento e da ciência política moderna, pelo fato de escrever sobre Estado e governo. Maquiavel classifica as formas de governo em termos dualistas: de uma parte, a monarquia e poder singular, e de outra, a República ou poder plural. Acredita em três formas boas de governo: são ideais a monarquia, a aristocracia e a democracia. Segundo Cicco e Gonzaga (2011, p. 80), “afirma que todos os governos que existem ou já existiram apresentam-se sempre como repúblicas ou principados (monarquias)”. Repúblicas não apresentam características de vitaliciedade e nem hereditariedade do governo. Sua forma pode manifestar-se por meio da democracia, aristocracia e timocracia (sistema de governo em que preponderam os ricos) ou oligarquia. O Principado pode ser hereditário dos governos, podendo se manifestar como monarquia ou tirania. Salientamos que para Maquiavel a forma de governo tem que ser eficaz, atingindo a paz social, que seria o objetivo maior a ser alcançado pelo governante. 13SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Para Maquiavel, o Estado real é capaz de impor a ordem, tendo como ponto de partida e chegada a realidade concreta. Conforme Weffort (2006, p. 17), “esta é a sua regra metodológica: ver e examinar a realidade tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse”. Maquiavel apresenta duas forças opostas quanto ao fator social de instabilidade, “uma das quais provém de não desejar o povo ser dominado nem oprimido pelos grandes, e a outra de quererem os grandes dominar e oprimir o povo” (O Príncipe, cap. IX). Salienta que “se todos quisessem o comando, a oposição seria resolvida pelo governo dos vitoriosos”. (WEFFORT, 2006, p. 20). O problema político é encontrar estratégias que atribuem equilíbrio às relações, que sustentem uma determinada correlação de forças. Maquiavel coloca que há duas respostas à anarquia decorrente da natureza humana e ao confronto entre grupos sociais: “o Principado e a República”. (WEFFORT, 2006, p. 20) O mesmo autor diz que “A escolha de uma ou de outra forma institucional não depende de um mero ato de vontade ou de considerações abstratas e idealistas sobre o regime, mas da situação concreta”. (WEFFORT, 2006, p. 20). Acreditava que quando a nação se encontra ameaçada seria necessário um governo forte, com estratégias e com instrumentos de poder capazes de inibir as forças fragmentadas. Maquiavel descrevia a política como sendo uma prática de homem livre de freios extraterrenos, sujeito da história, prática esta que exigia virtú (equivalente a virtude), o domínio sobre a fortuna, ou seja, agir de maneira correta diante das situações. Para Maquiavel, a política tem uma ética e lógica próprias, para se pensar e fazer política que não se enquadra no tradicional moralismo piedoso “a resistência à aceitação da radicalidade de suas proposições é seguramente o que dá origem ao ‘maquiavélico’”. (WEFFORT, 2006, p. 24). Para Maquiavel, o governo ideal é aquele que consegue consolidar as forças desfavoráveis presentes na sociedade, equilibrando o anseio daqueles que impõem o domínio e a resistência dos que não aceitam ser dominados. 1.10 PLATÃO Nasceu em 428/427 a.C., em Atenas, Grécia antiga, e foi um filósofo matemático. Escreveu diversos diálogos filosóficos, foi o fundador da Academia em Atenas, a primeira Instituição de Ensino Superior, contribuiu na construção dos alicerces naturais da ciência filosófica. Suas principais obras foram: O Banquete, A República. Nesta última descreve sobre a importância da arte de governar. Afirma que os governantes devem ser filósofos; 14 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. classifica a política como defensora da justiça, onde o bem deveria sempre prevalecer, com diálogos entre os governantes e os governados; toma como base as frases de seu mestre Sócrates, para as proposições de modelos de cidade, estado, nação, justiça e cidadania. Platão classifica as formas de governo em graus de degenerescência, ou seja, degenerando de aristocracia passando para a timocracia, oligarquia, democracia, até resultar na forma de tirania, que para ele é a pior forma de governo. Presenciou as primeiras discussões sobre a democracia, queda das aristocracias, tiranias, após guerras. Acreditava que a aristocracia e a monarquia são formas boas de governo. Segundo Cicco e Gonzaga (2009, p. 77), “o governo aristocrático é aquele dos que possuem [...] virtudes, o governo monárquico seria bom, pois o governo pensaria nos seus súditos. Nos bons governos imperam o logos, a sabedoria e a virtude”. Segundo Bittar (2002, p. 47), “A política depende das leis para realizar-se, efetivar-se e ser praticada. Contudo, a missão das leis não se exaure em apenas proibir e coibir, devendo também estimular, incentivar, educar”. Para Platão, o Estado ideal é completamente baseado na justiça, as responsabilidades políticas deveriam ser para o governo um preparado para administrar a cidade. Destacava a possibilidade de filósofos assumirem o governo, tendo em vista que estavam preparados para representar a sociedade, com alto grau de formação e conhecimento. 1.11 THOMAS HOBBES Thomas Hobbes nasceu em 5 de abril de 1588, na Inglaterra, e foi um filósofo inglês, matemático, teórico político, autor de várias obras. Entre elas estão: “Leviatã”, onde expõe seu ponto de vista sobre a natureza humana, e “Do cidadão”, onde descreve as necessidades de governos e sociedades. Na obra Leviatã, Hobbes dispôs o poder de um Estado eclesiástico e civil. Conforme Cicco (2011, p. 215), “Estado de natureza e Estado Político civil, que podem ser definidos pela oposição. O Estado de natureza é uma construção ficcional que se apresenta de modo conflituoso, beligerante, um verdadeiro estado de guerra”. Segundo Bittar (2002, p. 142), “O Estado, o homem artificial, ganharam grande repercussão no universo da teoria política, e é um dos grandes predecessores da era dos monarcas”. A sociedade se incorporava conforme suas necessidades e sobre o medo, sendo estas situações sanadas com o aparecimento do Estado político e organizado, trazendo recursos e estratégias para impedir o fim da espécie humana. “A drástica solução é a organização do Estado Político, de modo que a força de todos se opusesse ao egoísmo de cada um e com isso fossem garantidas a vida, a segurança e a organização”. (CICCO & GONZAGA, 2011, p. 216). 15SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Em seu entrosamento, na circunstância da natureza, os indivíduos, na batalha pela sobrevivência, promovem a guerra, porém pelo clima do medo e da consciência de que é melhor viver em paz, os indivíduos, em comum acordo, submetem-se a um poder soberano. Para Hobbes, esta teoria pessimista considerava que o homem é o lobo do homem e esta luta de todos contra todos tem como consequência o desaparecimento da sociedade. O mesmo autor diz que “para que haja paz, o indivíduo abre mão de suas liberdades naturais em troca de uma liberdade civil que garante sua vida” (CICCO, 2011, p. 216). Contudo, este princípio apresenta como um favor do poder absoluto do governante. Sendo Hobbes um defensor do Estado absoluto, ao qual o indivíduo, em última análise, devese dominar, a fim de afiançar sua própria característica de sobrevivência, visto que o estado de natureza já não é mais aceitável no contexto social. 16 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. TÓPICO 2 – PRINCIPAIS CORRENTES FILOSÓFICAS DO SÉCULO XX: MARXISMO, NEOTOMISMO, FENOMENOLOGIA E NEOPOSITIVISMO. Denise da Silva Vieira Apresentaremos uma breve explanação acerca das principais correntes filosóficas do século XX, tais como: Marxismo, Neotomismo, Fenomenologia e Neopositivismo, proporcionando uma base de entendimento destas correntes ocorridas no século XX. 2.1 MARXISMO Elaboradas por Karl Marx e Friedrich Engels, Marxismo é considerado um conjunto de ideias filosóficas, econômicas, políticas e sociais e que foram desenvolvidas mais tarde por outros seguidores. Fundamentado na concepção materialista e dialética da história, explica a vida social conforme a dinâmica da base produtiva das sociedades e das lutas de classes daí consequentes. O marxismo abrange o indivíduo como um ser social histórico, possuindo a competência de trabalho e desenvolvendo a produtividade, diferenciando o indivíduo dos outros animais, sendo que possibilita o avanço de sua emancipação da escassez da natureza, proporcionando a ampliação das potencialidades humanas. Conforme Sciacca (1966, p. 289), O marxismo leninista-stalinista não se satisfaz com tornar o homem uma deter- minação da natureza, da qual faz parte aparentemente o dominador, fazendo-o uma “célula” da sociedade: a “assimilação” do homem e dos seus fins à na- tureza é acompanhada com a assimilação do indivíduo à sociedade, dado que esta é todo o homem e é todo do homem. O homem como pessoa não tem sua “dignidade ontológica”: a sua “existência social”. A emancipação do proletariado se resume por meio da liberação da classe operária, para os trabalhadores da cidade e do campo, rompendo na origem a propriedade privada, empregadora do proletariado, transformando a base produtiva no sentido de socialização dos meios de produção, sobre o controle social dos próprios produtores de acordo com os interesses humanos adequados. Entusiasmando os mais distintos setores da atividade humana ao longo do século XX, tais como na política, análise e interpretação dos fatos sociais, morais, artísticos, históricos e econômicos e também a prática sindical. O marxismo foi utilizado desvirtuadamente, tendo como embasamento para as doutrinas oficiais, aproveitadas nos países socialistas e nas sociedades pós-revolucionárias. 17SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Ainda segundo Sciacca (1966, p. 290). Também a moral e a arte devem “engajar-se” na luta de classe, contribuir para a destruição da classe burguesa ou capitalista, exaltar (a arte) os esforços he- roicos do proletariado na luta que se empenhou por esta destruição e para a construção de novo mundo socialista. O marxismo superou as ideias dos seus antecessores, passando a ser considerado uma corrente político-teórica com envolvimento de uma extensa gama de pensadores e militantes, tornando-se necessário observar as diversas tendências e definições do marxismo. 2.2 NEOTOMISMO Surgiu no século XIX, com o intuito de reviver a filosofia de São Tomás de Aquilo (pensador político). O Neotomismo é uma corrente filosófica, a fim de atender aos problemas contemporâneos. No final do século XIX, decorrente da industrialização e do desenvolvimento do capitalismo, surge a condição de exploração e miséria na vida dos operários na Europa, levando a Igreja a se posicionar e visando à crise e decadência da moral e dos costumes cristãos. Através das ideias de Tomás de Aquino, a Igreja usa estratégias para o enfrentamento desta situação. A ideia de Tomás de Aquino é conhecida como o tomismo, doutrina filosófica cristã, destinada às explicações das relações entre a verdade revelada e a filosofia, ou seja, entre a fé e a razão. Tais conceitos não se chocam, são distintos e harmônicos. O tomismo marca a história da filosofia e do homem até o século XVIII, estendendo-se até o início do século XX. A retomada da ideia de Tomás de Aquino faz unir os pensadores católicos para a conquista do pensamento contemporâneo, ou seja, a Igreja ressuscitando o tomismo, levando a filosofia escolástica para as cátedras universitárias. O Neotomismo, segundo o pensamento de Descartes (filósofo francês) é toda a filosofia moderna que se organizava com falhas e equívocos, sendo responsáveis pela crise do mundo contemporâneo. Notada como um desvio metafísico e espiritual, sendo superada somente com a retomada do tomismo. Sendo que o retorno desta filosofia se estenderá a todos. Contudo, no campo social, segue a filosofia de Tomás de Aquino. Far-se-á intensamente presente e marcando intensamente o serviço social. A repercussão do Neotomismo na teoria/prática profissional dos assistentes sociais pode ser percebida até os dias atuais. Neste sentido, o trabalho dos primeiros assistentes sociais estava voltado à classe trabalhadora, na perspectiva da conciliação das classes sociais, com o objetivo de “moldar” o homem e integrálo à sociedade, aos valores, à moral e aos bons costumes. A partir da década de 60 estas ideias vêm sendo questionadas, porém nos dias atuais ainda se pode perceber a presença de princípios cristãos. 18 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Conclui-se que há uma influência teórica na formação histórica do serviço social, pois o Neotomismo marca fortemente o início da profissão, sendo que o pensamento de Tomás de Aquino acaba influenciando os embasamentos teóricos do serviço social desde seu início, e a Igreja Católica tem uma importante participação neste processo. 2.3 FENOMENOLOGIA O termo Fenomenologia vem do grego phainesthai – aquilo que se apresenta ou que se mostra – e logos – explicação, estudo. Assegura a importância dos fenômenos da consciência, com o objetivo de serem estudados em si mesmos, ou seja, tudo o que poderemos conhecer do mundo resume-se a esses fenômenos, a elementos e ideais que existem na mente, denominados por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação". O método científico está na afirmação de uma "verdade provisória" útil, verdade esta até que um novo acontecimento manifeste outra realidade. Segundo Sciacca (1966, p. 298), “A fenomenologia é ciência eidética, isto é, capta a presença imediata das essências antes de quaisquer mediações. É ela intuição das essências, diversas da ciência dos fatos que se funda sobre a experiência sensível”. Fenomenologia é conhecida como o estudo da consciência e dos elementos da consciência. A redução fenomenológica, "epoche", processo informado pelos sentidos e mudado em um conhecimento de consciência, ou seja, estar consciente de alguma coisa. Sejam imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, memórias, sentimentos, entre outros, fazem parte das nossas experiências já vivenciadas. O conceito foi criado pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938), ele atuava como matemático, cientista, pesquisador e professor das faculdades de Göttingen e Freiburg im Breisgau, na Alemanha. Segundo Sciacca (1966, p. 299), “Em todos os problemas metafísicos existe um “insuprimível” elemento irracional que é tal para nós e não em si. A ontologia (fundamento da metafísica) é o ser na sua pureza, purificado de qualquer determinação”. As regras metafísicas abordam os problemas centrais da filosofia teórica, ou seja, são experiências em descrever os fundamentos, condições, leis, estrutura básica, causas ou princípios, bem como o sentido e a intenção da realidade como um todo ou dos indivíduos em geral. A ontologia é um ramo central da metafisica, tendo como objetivo a investigação 19SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016.Todos os direitos reservados. referente às categorias básicas do indivíduo e como se relacionam uns com os outros. Outro ramo é a cosmologia, que se preocupa em estudar a totalidade de todos os fenômenos no universo. Não podemos confundir fenomenologia com fenomenalismo. Este não expõe a complexidade da estrutura intencional da consciência que o indivíduo tem dos acontecimentos, ou seja, tudo o que permanece são as percepções ou probabilidades permanentes das sensações, chamado de fenômeno. Já a fenomenologia analisa a semelhança entre a consciência e o indivíduo. A influência da fenomenologia no serviço social iniciou com os programas de pós-graduação, principalmente na PUC/São Paulo e Porto Alegre e do Rio de Janeiro. Com objetivo de renovação dos projetos operativos do serviço social, seguindo como orientação metodológica um modo fenomenológico. Contudo, a fenomenologia surge como uma nova sugestão teórica para o serviço social, analisando o movimento dos profissionais, que procuravam aplicar mais qualidade à prática profissional. 2.4 NEOPOSITIVISMO Neopositivismo, também conhecido por Positivismo lógico, é um modelo filosófico geral, desenvolvido por membros do Círculo de Viena, com base no pensamento empírico tradicional e no desenvolvimento da lógica moderna. Surgiu no início do século XX com o Círculo de Viena e foi liderado por Moritz Schlick, um grupo de discussão composto por cientistas e filósofos com o intuito de instituir uma nova filosofia da ciência, com rigorosa demarcação do científico e do não científico. Segundo Sciacca (1966, p. 299), O Círculo de Viena ou empirismo lógico. A filosofia como análise da linguagem científica, de modo a adiantar prognósticos e a formular as condições do seu controle por meio dos dados de observação. Tudo o que não é dado de expe- riência ou verificável fisicamente é sem sentido (fisicalismo); os problemas da metafísica são sem sentido. O neopositivismo reduziu o conhecimento à ciência e empregou o verificacionismo, para abandonar a metafísica não como falsa, mas como derrubada de significado. A importância da ciência levou positivistas lógicos acentuados a estudar o método científico para descobrir a lógica da teoria da confirmação, “a análise da linguagem como exame da estrutura lógica das categorias científicas”. (SCIACCA, 1966, p. 299). Nos dias atuais, o neopositivismo é desconsiderado pela maioria dos filósofos. Mas as correntes filosóficas distendidas de Kuhn (estabelecendo o caráter paradigmático da ciência) e Paul Feyerabend (demonstrando que na prática científica a ciência não 20 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. evolui segundo normas preestabelecidas) causaram graves problematizações de suas ideias. Já no fim dos anos 30, os membros do Círculo de Viena se espalharam devido à morte de Schlick, ocorrida na Alemanha; o grupo também se rompeu devido aos avanços do nazismo. O neopositivismo foi conquistado por Alfred Jules Ayer, na Inglaterra. Entretanto, após receber diversas críticas de alguns filósofos, o neopositivismo foi cada vez mais "abandonado" pelos seus defensores. E no final dos anos 60, o movimento já apresentava praticamente seu fim. Através de um movimento em semelhança, a filosofia idealista que rondava as universidades alemãs da época, o neopositivismo apresentou como características marcantes a busca por uma ciência integrada, a antimetafísica, através do verificacionismo, obtendo significado de conhecimentos analítico (pode ser explicado por ele mesmo) e sintético (afirmações sobre o mundo real, pela observação). 21SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. TÓPICO 3 – CONCEPÇÕES E ANÁLISES DO CAPITALISMO E CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO Marines Selau Lopes O capitalismo é um sistema socioeconômico que se instalou inteiramente após o século XVIII. Nele, os elementos utilizados para produzir e distribuir as mercadorias são de domínio privado com fins lucrativos, investimentos estes que são considerados indispensáveis para a expansão econômica. Esse sistema intensifica a luta de classes, ou seja, a exploração do proletariado pela burguesia. FIGURA 1 – LUTA DE CLASSES FONTE: Disponível em: <http://www.blogdozebrao.com.br/v1/category/charges/page/22/>. Acesso em: 20 maio 2015. Desta forma, podemos afirmar que o mercado é um organismo utilizado no capitalismo, por indivíduos para concentrar a riqueza nas mãos de poucos. Assim, para impedir que o mercado destrua a si próprio, o Estado intervém quando o mercado apresenta sinais de perigo, pois o crescimento centralizado da riqueza arquiteta e agrava as desigualdades sociais. Desta forma, a intervenção do Estado se mostra necessária para instituir um mínimo de igualdade entre os indivíduos, pois, sem este equilíbrio, a vida em sociedade, no sistema capitalista, seria drasticamente afetada. Ao fazer referência ao Estado, estamos tratando de uma organização que possui poder legítimo sobre um determinado território e os indivíduos que nele habitam. Neste sentido, a população acolhe a determinação do Estado que dita regras, cobra impostos, julga e pune os transgressores. Assim, considerando a legitimidade, podemos dizer que o Estado não possui concorrência e desempenha de maneira monopolista o sumo poder nas sociedades atuais. 22 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. O Estado possui outras duas características, para além do caráter monopolista, estas se referem à universalidade e à inclusividade. A universalidade significa que as decisões do Estado representam a todos. Na questão da inclusividade, significa dizer que o Estado poderá intervir conforme as circunstâncias exigirem, para atender ao interesse público. Referente às funções de poder do Estado, três são consideradas funções imprescindíveis. Sendo que na contemporaneidade, estas três funções passaram a ser exercidas por órgãos correspondentes de forma harmônica e interdependente: Legislativa: elaborar as leis necessárias para a manutenção da vida em sociedade. Executiva: administrar a coisa pública, ou seja, assegurar de fato o cumprimento das leis. Judiciária: julgar os atos praticados, conforme as leis existentes. FIGURA 2 – AS TRÊS FUNÇÕES INDISPENSÁVEIS DO ESTADO FONTE: Disponível em: <http://summaria.blogspot.com.br/2013/03/o-que-sao-instituicoes-sociais. html>. Acesso em: 29 maio 2015. No Brasil, como também na maioria dos países, o poder do Estado se dá através de três entes federativos: federal, estadual e municipal. Mas também existem outros países com variações na organização formal dos Estados. Independente da organização, o Poder Executivo é preponderante e ascendente aos demais poderes. Isso se justifica, porque o governo e as instituições que desempenham as funções executivas são os órgãos que dispõem dos meios para cumprir as decisões dos outros poderes, ou seja, executam as políticas do Estado. Ao Poder Executivo, também conhecido por governo, compete cobrar impostos que custeiam o funcionamento dos demais poderes do Estado. Também cabe ao governo transformar as pretensões do Estado em atos; assim, essa atribuição faz dele o poder preponderante sobre os demais. O governo ainda exige dos legisladores um constante aprimoramento nas leis que conduzem o funcionamento do Estado, que por sua vez demanda atenção das ações do governo. Mas isso não significa que as funções de um poder têm mais relevância que as de outro, e sim, que o governo e o conjunto 23SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. das instituições que executam as funções possuem maior peso que o Legislativo e o Judiciário, pois são as instituições do governo que possibilitam ou deveriam possibilitar, no sentido amplo, a integridade, liberdade e bensdos cidadãos. Da mesma forma que a essência do poder do Estado não se altera com as variações de sua organização formal (União, Estado e Município), como é o caso do Brasil desde a Constituição de 1988, ou como a França, em que o poder do Estado se dá por esferas nacionais e as autoridades locais não possuem autonomia normativa, também a forma de seu regime (presidencialismo ou parlamentarismo) não interfere para a maior ou menor força do governo (Executivo). FIGURA 3 – SISTEMA DE GOVERNO NO BRASIL FONTE: Disponível em: <http://www.debatesculturais.com.br/o-brasil-e-presidencialista/>. Acesso em: 29 maio 2015. Segundo Coelho (2009, p. 21), [...] a força de um governo depende, em grande parte, do apoio que suas propostas políticas e proposições legislativas encontrarem no parlamento; da sintonia entre suas ações e as expectativas dos eleitores; e da relação mantida com os diferentes grupos organizados da sociedade [...]. Desta forma, independente do regime, a legitimidade só é reconhecida pela sociedade se a resposta que dá atende à expectativa. Assim, o governo depende também de uma estrutura administrativa suficiente para transformar as diretrizes em ações concretas para o bem da sociedade. A capacidade de intervenção do Estado na sociedade, ou seja, governar um país, Estado ou município, empregando esforços para produzir benefícios de interesse coletivo, vem sendo reconhecida na sociedade contemporânea através do termo governança. A governança é reconhecida quando o Estado passa a se concentrar na sua função de coordenador dos vários esforços públicos e privados para produzir bens coletivos. Assim sendo, a boa governança é a habilidade do Estado de também saber lidar com o mercado. Segundo Coelho (2009, p. 22), “o mercado pode ser definido como um sistema de trocas do qual participam agentes e instituições interessadas em vender ou comprar um bem ou prestar ou receber um serviço”. 24 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. O mercado também é administrado tendo que cumprir determinadas leis, mas estas nem sempre são justas com a sociedade. Pois, os indivíduos que possuem poder de decisão no nível econômico, também possuem o anseio de elevar ao máximo o lucro. Assim, a adequada relação entre o Estado e o mercado que se daria através da oferta e da demanda não passa de um mero devaneio. Desta forma, o mercado, principalmente na era do sistema capitalista, não consegue atingir o objetivo de ser autorregulável, tendo que se equilibrar entre o liberalismo econômico (liberdade do mercado de produzir e comercializar bens e serviços sem interferência estatal) e a intervenção do Estado (ação com vistas a obter objetivos que irão fomentar o crescimento da economia e a diminuição das desigualdades, o crescimento do nível de emprego e dos salários, ou a correção das imperfeições do mercado). FIGURA 4 – ALTERNÂNCIA DA INTERVENÇÃO DO ESTADO E DO MERCADO FONTE: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/slide/1267268/>. Acesso em: 15 maio 2015. Assim, a relação entre o Estado e o mercado não é linear, pois ela oscila de forma alternada. Há momentos em que precisa haver a intervenção do Estado, pois a economia do mercado ameaça o bem-estar da sociedade civil. Para Campa (1985, p. 12), “O dualismo entre Estado e sociedade civil explicita-se na impossibilidade de se propor, quanto ao Estado, um princípio tutelar, e quanto à sociedade, uma multiplicidade de posições de poder que comporta o plano econômico, bem como o plano conjetural”. Assim, existem momentos em que a intervenção do Estado já não se apresenta adequada e a falta de crescimento econômico também passa a ameaçar o bem-estar da sociedade civil. Para concluir, salientamos que o mercado é um organismo utilizado no capitalismo para concentrar a riqueza nas mãos de poucos. Mas, para impedir que o mercado destrua a si próprio, o Estado intervém quando o mercado apresenta sinais de perigo, pois o crescimento centralizado da riqueza arquiteta e agrava as desigualdades sociais. Desta forma, a intervenção do Estado se mostra necessária para instituir um mínimo de igualdade entre os indivíduos, pois sem este equilíbrio a vida na sociedade capitalista seria drasticamente comprometida no seu cerne. 25SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. TÓPICO 4 – DESENVOLVIMENTO DA HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA: REPÚBLICA VELHA E ESTADO NOVO Denise da Silva Vieira 4.1 REPÚBLICA VELHA A República Velha iniciou no governo de Getúlio Vargas, estendendo-se até a Revolução de 30 (golpe na oligarquia). Através de um movimento militar com apoio variado da economia cafeeira, pois o Império deixou a desejar referente à proteção dos barões do café, entre outros grupos regionais. Consequentemente, ocorreu a adoção do trabalho assalariado, entre outros, chegando ao fim o regime escravocrata. A República Velha foi dividida pelos historiadores em dois períodos. O primeiro foi chamado de República da Espada, dominado pelos setores mobilizados do exército, com apoio dos republicanos, com o objetivo de centralizar o poder por receio da volta da monarquia e evitar uma possível divisão do Brasil. Foi consequência das contradições do Império, do crescimento urbano, da substituição do trabalho escravo pelo assalariado. Em 1870, após o fim da guerra do Paraguai, o exército representava os anseios de elevação econômica e política das classes médias urbanas. Também nesta década formou-se o Partido Republicano, dividindo-se em dois grupos políticos: históricos ou evolucionistas e os revolucionários ou idealistas. Os evolucionistas pregavam uma organização republicana baseada nas teorias positivistas de Augusto Comte, legitimando o modelo federalista (cada estado teria sua autonomia própria). Os idealistas defendiam maior participação da sociedade nas decisões políticas do governo. Este período iniciou na Proclamação da República até a eleição de Prudente de Moraes, conhecido como o primeiro presidente civil. A República Oligárquica, no segundo período, iniciou em 1894 até a Revolução de 1930. Destacou-se por ter maior poder por parte das elites regionais, especialmente no sul e sudeste do país. Portanto, as oligarquias eram dominadas por forças políticas republicanas de São Paulo e Minas Gerais, estas se denominavam políticas do café com leite, por conta da importância econômica de produção de café e leite para a contribuição na economia brasileira da época. Prudente de Moraes foi eleito graças às articulações do Partido Republicano Federal (1894-1898), sendo o primeiro presidente civil. Predominando uma política baseada na agroexportação. A revolta popular de maior expressão neste período foi a Guerra de Canudos. 26 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Prudente também resolveu os problemas de fronteiras com a Guiana Francesa e anexou ao país a Ilha de Trindade (litoral do ES). FIGURA 5 - O BRASIL NO ANO DO CENTENÁRIO DE SUA INDEPENDÊNCIA EM 1922 FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_Velha>. Acesso em: 12 maio 2015. 4.2 ESTADO NOVO O Estado Novo ocorreu no governo de Getúlio Vargas, em 10/11/1937, com duração até 29/10/1945. Teve este nome devido ao regime político brasileiro. Tendo como característica a centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e autoritarismo. Considerado regime autoritário, por conta disso alinhava-se com outros regimes autoritários no mundo. Naquele tempo, considerava-se a Alemanha e a Itália como os dois países que mais representavam o autoritarismo na Europa. Aguardando as eleições de janeiro de 1938, disputadas por José Américo de Almeida (situacionista) e Armando de Sales Oliveira (oposicionista), houve uma denúncia pelo governo de Getúlio Vargas, referente à existênciade um suposto plano comunista para a tomada do poder, conhecido como Plano Cohen. Este foi um documento escrito por Olímpio Mourão Filho (capitão integralista), membro do serviço secreto, e teve a intenção de simular uma revolução comunista no Brasil. Posteriormente, descobriu-se ter sido forjado pelo capitão, dando início ao Golpe Militar de 1964. 27SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. FIGURA 6 – ESTADO NOVO: PERÍODO DE CONTROLE E CONCESSÃO AOS TRABALHADORES FONTE: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/historiab/vargas.htm>. Acesso em: 18 maio 2015. O Plano Cohen foi um documento revelado pelo governo brasileiro que abordava um suposto plano para a tomada do poder pelos comunistas. Teve como consequência uma instabilidade política gerada por ataques comunistas, preocupados com novas revoluções comunistas, sendo que várias vezes foi decretado o estado de sítio no Brasil (medida provisória de proteção do Estado). Sem oposição, Getúlio Vargas promoveu um golpe no Estado, instaurando uma ditadura militar, com pronunciamento transmitido em rádio por todo o país. Alguns anos mais tarde foi confirmado que o documento foi forjado, com o objetivo de justificar a instauração da ditadura do Estado Novo, em 1937. FIGURA 7 - PLANO COHEN FONTE: Disponível em: <http://www.historiabrasileira.com/files/2010/01/plano-cohen.jpg>. Acesso em: 18 maio 2015. Segundo Ghiraldelli (2003, p. 82), No campo da política educacional, o Estado Novo pode ser apresentado como o criador de uma legislação dada pela nova Constituição e por uma série de leis definidas pelo ministro da Educação Gustavo Capanema – as chamadas “leis orgânicas de ensino”. 28 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. A partir da legislação máxima, o Estado Novo praticamente abriu mão de sua responsabilidade referente à educação pública, admitindo assim apenas um papel subsidiário em relação ao ensino. Com o ordenamento alcançado em 1934, determinando a educação como um direito de todos e responsabilidade dos poderes públicos, desobrigando assim o Estado de conservar e ampliar o ensino público. Já a Carta de 1937 (Constituição Brasileira de 1937) não se preocupava em deliberar ao Estado uma educação geral através de uma organização de ensino público e gratuito. Segundo Ghiraldelli (2003, p. 83), Os ricos proveriam seus estudos através do sistema público ou particular e os pobres, sem usufruir desse sistema, deveriam ter como destino as escolas propedêuticas a um grau mais elevado, teriam de contar com a boa vontade dos ricos para com as caixas escolares. Contudo, o artigo 129 (CF de 1937) determinou como sendo o primeiro dever do Estado a conservação do ensino pré-vocacional e profissional, destinados às classes menos favorecidas, ou seja, não tendo que esperar a boa vontade dos ricos para ter garantia ao estudo. Para tanto, com a decretação das leis orgânicas entre 1942 e 1946, chamadas de “Reforma Capanema”, esta ordenava os ensinos primários, secundários, industrial, comercial, normal e agrícola, considerando como sendo uma reforma elitista e conservadora, vingando já nos anos de liberação do regime, no final do Estado Novo, Este período foi conhecido como ditadura, um regime sem o funcionamento do Congresso Nacional, sem partidos legais e sem eleições, com intuito de melhor servir aos interesses do regime econômico colocando em prática a sua política de domínio do poder. 29SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. TÓPICO 5 – CONCEPÇÃO DE DESENVOLVIMENTO E DO NEOLIBERALISMO: TRABALHO ALIENADO E SOCIABILIDADE NO CAPITALISMO Marines Selau Lopes Ainda no século XIX, um filósofo chamado Karl Marx já salientava que no processo de produção capitalista, o trabalhador era uma simples peça da cadeia produtiva. Neste sentido, o trabalhador se alienava, pois não era mais proprietário dos objetos que possibilitavam seu desenvolvimento e de seu trabalho. Assim, o homem desconhecia a totalidade do processo produtivo, como também perdia até mesmo o controle sobre o ritmo da produção. FIGURA 8 – TRABALHO ALIENADO FONTE: Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe. php?foto=371&evento=4>. Acesso em: 9 maio 2015. Mas, na perspectiva do referido filósofo, ainda chegaria o momento em que o capitalismo atingiria seu ponto máximo em relação ao desenvolvimento. Assim, esse não traria mais qualquer progresso à humanidade. Desta forma, o proletariado tomaria o poder e acabaria com a sociedade de classes. Sendo que haveria igualdade entre os homens, todos poderiam desenvolver totalmente seu potencial, pois viveriam em abundância. Ao final do século XIX, profundas mudanças ocorreriam na sociedade e na economia capitalista. Estas não confirmaram a expectativa de Marx. Na atualidade, os proprietários dos meios de produção são a minoria na sociedade, mas possuem os meios para explorar a classe dos proletários, que, em resumo, são os trabalhadores. Ou seja, no capitalismo, o proletariado é detentor da força de trabalho, mas não é proprietário dos meios de produção. Sendo que o tempo gasto para produzir uma determinada mercadoria define o valor da mesma. Assim, o trabalhador, para viver, vende a única mercadoria de que é dono, ou seja, sua força de trabalho. 30 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. No capitalismo, o salário que é pago ao trabalhador é apenas uma mísera parte do que ele produziu, pois o valor maior do tempo trabalhado é destinado aos proprietários dos meios de produção, meios estes que, em geral, são as máquinas, fábricas e outras ferramentas. Esse valor é a mais-valia, termo que foi empregado por Karl Marx para definir a diferença entre o valor final da mercadoria produzida e a soma do valor dos meios de produção. A mais-valia representa o grau de exploração do trabalho assalariado no sistema capitalista. Nas últimas décadas, o tema “Desenvolvimentismo” volta a ser vastamente discutido. Agora não mais sob o prisma da necessidade de mudanças estruturais, como previa Marx. Na atualidade, o tema gera debates em torno do desenvolvimento econômico e social. O tema é de grande relevância, considerando a atual circunstância advinda da crise do capitalismo. São aparentes os impactos nas condições de vida da classe trabalhadora, causando o aprofundamento das expressões das questões sociais, como o desemprego ou emprego precário, o aumento da pobreza, a falta de moradia, a fome e as diversas violências que vivenciamos diariamente. Na década passada o presidente eleito unificou os programas de proteção social, do governo anterior. O programa Bolsa Família foi ampliado, a grandeza do programa trouxe importante contribuição para o crescimento do mercado consumidor do interior do país, em especial da região Nordeste. No atual governo, é requerido que o Estado continue com a responsabilidade pelo “bem-estar social”. Na tentativa de promover o desenvolvimento social, é cada vez maior a injeção de transferências financeiras através de programas: [...] Programa Bolsa Família, complementado por outros, como: Minha Casa Minha Vida, Benefício de Prestação Continuada; Programa de Erradicação do Trabalho Infantil; Programa Brasil Carinhoso; Programa Brasil para Todos; Programa Nacional de Inclusão de Jovens (urbano; campo e trabalho); Política Nacional de Assistência Estudantil; Programa Universidade para Todos (PROU- NI); Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), todos articulados sob a lógica de acesso ao consumo, a busca de equidade social. (SIMIONATTO, 2013, p. 8). Mesmo que as citadas alternativas sejam válidas, são apenas atenuantes das consequências do Neoliberalismo – que tem como objetivo principal promover o aumentoda circulação de mercadoria no mundo. Na economia, a interferência do Estado vem sendo ínfima, geralmente opera apenas como regulador, também defende políticas de privatizações e abertura econômica. Assim, não se vislumbram no cenário estatal propostas de mudanças direcionadas a alterações concretas na superação das disparidades sociais. 31SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. FIGURA 9 - SÁTIRA À DESIGUALDADE SOCIAL QUE DIFERENCIA AS PESSOAS NAS CONDIÇÕES DE ACESSO A NOVAS OPORTUNIDADES FONTE: Disponível em: <http://www.alunosonline.com.br/upload/conteudo_legenda/760d02d8490a71 8aad29cf3c33bfc51b.jpg>. Acesso em: 9 abr. 2015. Na prática também se vislumbram alternativas assumidas pela classe dominante. Estas buscam enfrentar a questão social com ações filantrópicas, na tentativa de atrelar as ações sociais ao plano neoliberal. Mas, acredito que, como Lemos (2014, p. 9), A realidade impõe a necessidade de cotidianamente revisitarmos e adensarmos as pesquisas sobre a profissão, não apenas para ampliarmos o conhecimento, mas como estratégia ético-política de enfrentamento das contradições da “questão social” no capitalismo contemporâneo. Das perspectivas de Marx, a transformação ocorrida no plano político pode ser considerada a mais importante, pois a democratização das sociedades liberais foi consagrada com o direito ao voto às mulheres na maioria dos países democráticos. Contestando quem apostava que democracia e capitalismo fossem incompatíveis, a concretude vivenciada pelo século XX mostrou que ambos poderiam conviver numa mesma sociedade. A respeito da economia, o século XX ficou conhecido como a era tecnológica e organizacional. As mudanças que aconteceram nos processos de todos os setores produtivos transformaram o panorama econômico do ponto de vista da classe operária. No decorrer do século XX, a propagação das grandes empresas dominara a produção, assim, houve uma concorrência desigual com as pequenas empresas, conhecidas como familiares. Desta forma, de pequenos proprietários de meios de produção, passaram para a classe de trabalhadores subordinados, detentores apenas de sua força de trabalho. Desta forma, um grande contingente teve que se profissionalizar, mesmo assim, passaram a ser superexplorados. Na contemporaneidade, observa-se que as mudanças ocorridas nas últimas décadas, advindas do desenvolvimento do sistema capitalista, afetaram profundamente o mercado de trabalho. Desta forma, além do desemprego, as novas formas de 32 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. organização e gestão do trabalho resultaram na redução da classe operária industrial, como também na precarização do trabalho. FIGURA 10 – SÁTIRA SOBRE A PRECARIZAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO CAPITALISTA FONTE: Disponível em: <http://www.bancarios.com.br/blog/?p=1758>. Acesso em: 25 maio 2015. Os processos flexíveis exigiram do trabalhador condições para realizar várias atividades, como também trabalhar em equipe com produtos diferenciados. Entretanto, estas novas exigências não vieram acompanhadas de retorno positivo para o trabalhador, ao contrário, enfraqueceram a identidade coletiva, reduziram o número necessário de trabalhadores. Como também, as relações de trabalho deixaram de ser institucionalizadas para permitirem acordos trabalhistas flexíveis. Diante disso, emergiu a temática da flexibilização das relações de trabalho, trazendo para a pauta a discussão referente ao retrocesso dos direitos trabalhistas. Mas o que se observou foi o aprofundamento do trabalho precário, ou seja, aumento de postos de trabalho de caráter temporário, sem proteção, com baixa remuneração e redução de benefícios trabalhistas. No Brasil, essas mudanças convergiram com as reformas estruturais previstas para o ajuste da economia brasileira, por volta de 1995, no governo de Fernando Henrique Cardoso. As referidas reformas intensificaram ainda mais o desemprego, como também a informalidade, pois não beneficiaram a “mobilidade dos trabalhadores entre ocupações e setores de atividade”. (SANTOS, 2009, p. 116). 33SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. FONTE: Disponível em: <https://antesdofimwebjor.files.wordpress.com/2013/04/charge_carne.jpg>. Acesso em: 30 maio 2015. Também existe certo consenso entre pesquisadores do assunto a respeito de que o mercado de trabalho brasileiro não apresenta grandes barreiras para se fazer demissões e contratações, sendo que apesar da legislação impor alguns custos, estes não seriam elevados. Ainda em relação ao emprego no Brasil, há quem entenda que nosso mercado de trabalho apresentaria, ainda, uma ampla variedade de relações contratuais, como, por exemplo, trabalhadores com ou sem carteira assinada, terceirizados, funcionários públicos civis e militares. Como também, uma multiplicidade de rendimentos adquiridos através de atividades de pessoas que não se configuram como trabalhadores assalariados, ou seja, empregadores, trabalhadores autônomos e empregados domésticos. Quanto ao aspecto da estrutura das ocupações, percebe-se que há uma grande diversidade de formas de aparelhamento do setor produtivo, como também no que diz respeito aos níveis de vencimento muito diferenciados. Segundo Santos (2009, p. 119), [...] estudiosos têm distinguido o mercado de trabalho brasileiro em dois grandes segmentos [...]: estruturado – onde se dão as relações empregatícias baseadas em contratos legais, e cobertas pela legislação trabalhista social – ou seja, o “setor formal”; pouco estruturado – prevalecem relações trabalhistas informais e precárias, além de boa parte das ocupações autônomas. É chamado também de segmento “informal” do mercado de trabalho. O segmento identificado como estruturado contém trabalhadores com carteira assinada. Estes podem ser domésticos, servidores públicos, civis e militares, mas todos são regidos pela CLT ou possuem outro regime de previdência social. FIGURA 11 – CHARGE SOBRE O DESEMPREGO 34 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Já os trabalhadores do segmento pouco estruturado correspondem aos trabalhadores sem carteira assinada, autônomos de várias atividades, os domésticos e não remunerados. Os trabalhadores do segundo segmento ocupam uma variedade de postos de trabalho, geralmente no comércio e serviços, na agricultura e, geralmente, não são sindicalizados. Na maioria das vezes, não possuem perspectiva de promoção, mas constituem a grande base do mercado de trabalho no Brasil, ou seja, numericamente superam a quantidade de trabalhadores do segmento estruturado. Estatisticamente ao que se refere à remuneração, o segmento estruturado recebe salários muito superiores ao segmento pouco estruturado. Sendo que essa diferenciação chega a ser de 50%. Diante do exposto, aproveitamos a expressão sociabilidade, que vem sendo utilizada para analisar as maneiras de viver e de ser na coletividade, comunidade ou pequenos grupos. Diferentes correntes de pensamento vêm disputando o conceito, há quem o defina como [...] padrão predominante de percepções, pensamentos e comportamentos que deve ser seguido por todos que desejam ser considerados bons cidadãos e bons trabalhadores [...]. A sociabilidade neoliberal do século XXI vem per- mitindo que os sujeitos históricos entendam a exploração do capital sobre o trabalho como algo naturalmente constituído, que seu sucesso ou fracasso é unicamente decorrente do seu esforço (de sua capacidade empreendedora e competitiva) e que é possível promover o bem-comum com ações voluntárias, independentemente das condições socioeconômicas e das relações de poder existentes. (MARTINS, 2009). Analisando os elementos acima apontados, saliento que não compartilhodo pensamento do autor, prefiro contribuir na discussão com o intuito de somar esforços para uma análise cada vez mais rica e, evidentemente, socialmente referenciada no âmbito dos fundamentos do Serviço Social. Desta forma, como assistente social e defensora e uma sociedade mais justa, prossigo acreditando que: Silenciar-se é uma forma de submissão aos ditames do capital, que em tempos de crise aprofunda a barbárie social. A realidade concreta exige, de cada um e cada uma, coragem para fazer a luta e resistência coletiva para efetivação do projeto ético-político do Serviço Social brasileiro. Ousemos na construção da resistência coletiva de uma sociabilidade anticapitalista. (LEMOS, 2014, p. 9). O entendimento de que, como assistentes sociais, consistimos também em sermos trabalhadores no campo da reprodução social, na particularidade das camadas da sociedade de classes no Brasil, faz emergir a possibilidade de nossa inserção, individual 35SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. ou coletiva, na luta mais ampla da classe trabalhadora. É de extrema importância reafirmar sempre o compromisso ético-político, na construção de uma sociedade mais justa, com menos desigualdade e injustiça social. Nosso compromisso deve estar voltado na busca da emancipação humana. É pelo seu trabalho que o assistente social consegue projetar sua atividade profissional, tornando-se um ser produtivo e alcançando crescimento pessoal. Para Iamamoto (2004, p. 60), “o trabalho é, pois, o selo distintivo da atividade humana”. A atividade do assistente social deve estar envolvida com o conhecimento da realidade, para que ele possa apreender as mais variadas expressões da sociedade e realizar intervenções e mediações de acordo com as demandas apresentadas que, muitas vezes, são ações pontuais e emergenciais, e não apenas se reduzir a uma atividade rotineira. [...] o exercício da profissão é mais do que isso. É uma ação de um sujeito profissional que tem competência para propor, para negociar com a instituição os seus projetos, para defender o seu campo de trabalho, suas qualificações e funções profissionais. Requer, pois, ir além das rotinas institucionais e buscar apreender o movimento da realidade para detectar tendências e possibilidades nela presentes passíveis de serem impulsionadas pelo profissional. (IAMAMOTO, 2004, p. 21). De um modo geral, a prática profissional se dá no âmbito das relações que se estabelecem entre o poder do Estado e a sociedade. Para Iamamoto (2004, p. 151), “desvendar a prática profissional cotidiana supõe inseri-la no quadro das relações sociais fundamentais da sociedade, ou seja, entendê-la no jogo tenso das relações entre as classes sociais, suas frações e das relações destas com o Estado brasileiro”. Como vimos anteriormente, relações estabelecidas pelo sistema capitalista são pautadas na dominação, exploração, exclusão social e dos bens de consumo. O assistente social atua nessa realidade do mundo capitalista. Por isso, ele deve compreender os processos de transformação da sociedade e privilegiar todos os movimentos históricos e sociais, para que possa desempenhar com qualidade sua profissão. Atualmente, a demanda profissional que se apresenta no campo de atuação do assistente social é uma população pauperizada em virtude do sistema socioeconômico do país, assim os profissionais assumem o compromisso de atuar em prol dessas classes menos favorecidas. É pelo seu trabalho que o profissional de Serviço Social realiza a mediação com o outro e é no outro que se reconhece como ser social. Articula o saber ao fazer e compartilha a realidade social dos indivíduos, com seus anseios, necessidades, desejos 36 SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. e expectativas. No contexto da crise do capitalismo, o trabalho dos assistentes sociais deve transcender o atendimento rotineiro, pois no cotidiano se deve prezar pela resolução dos problemas. Os assistentes sociais, em seus locais de atuação profissional, devem, em primeiro lugar, zelar pelos direitos dos cidadãos. Respeitar as formas de organização das instituições em que estão inseridos também é necessário. Assim, torna-se um desafio trabalhar na mediação de questões e demandas que devem ser superadas a partir de uma construção coletiva, almejando alcançar o processo emancipatório dos sujeitos. Sabemos que os assistentes sociais, como outras categorias, enfrentam limites em seu cotidiano profissional, pois se deparam com as contradições das relações sociais impostas pela sociedade capitalista. Os profissionais precisam identificar como se dão as relações de produção e reprodução social e que geram tantas desigualdades sociais que se expressam na questão social – objeto de trabalho do assistente social. O Serviço Social, então, se vê na condição de levantar propostas que possam mediar essas relações em busca de novas possibilidades e perspectivas em prol do desenvolvimento integral dos sujeitos envolvidos no processo. Um dos maiores desafios que o assistente social vive no presente é desenvol- ver sua capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir de demandas emer- gentes no cotidiano. Enfim, ser um profissional propositivo e não só executivo. (IAMAMOTO, 2004, p. 20). Desenvolver novas ações, destacar estratégias voltadas ao atendimento das demandas sociais da população, trata-se de um desafio cada vez maior, desenvolver a atividade profissional frente às transformações que vêm ocorrendo na sociedade, pois a sociabilidade nas relações sociais está baseada na condição de exploração e dominação, o que coloca alguns indivíduos subjugados ao poder de quem detém os meios de produção da vida material. No Brasil, devido à grande concentração de renda por uma parcela reduzida da sociedade, aumenta significativamente o número de pessoas desprovidas do acesso aos direitos básicos de sobrevivência. Muitas vezes, para atendermos a essas necessidades primordiais, esbarramos em limites de ordem social, cultural, econômica e política. Diante disso, reportarmo-nos ao importante subsídio de Iamamoto e Carvalho (1988), que assegura a necessidade de apreensão das demandas profissionais na esfera 37SERVIÇO SOCIAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. das relações sociais capitalistas, ou seja, na relação entre as categorias sociais, entre o Estado e a sociedade, pois o aprendizado profissional não se descobre olhando-se para dentro de si mesmo. Deste modo, há a necessidade de contextualizar a carreira conjuntural e estrutural e entender o potencial da produção social. Um dos progressos da década de 1988 foi a leitura da profissão inserida na categoria sociotécnica do trabalho. Uma das particularidades do atual momento do capitalismo é o acometimento ao trabalho, mira principal das políticas neoliberais. Estudiosos afirmam que a política geradora de desemprego, tanto nos países ascendentes como nos demais, foi culpada pela aversão do trabalho, além da privatização dos serviços públicos e a revolução tecnológica. Como sabemos, a partir das mudanças operadas no sistema capitalista, pós anos de 1970, o exercício profissional sofre alterações, e as consequências das relações sociais mediadas pela dialética do mercado são: alterações nos serviços sociais, aprofundamento nas expressões da questão social, nas condições e relações de trabalho, na sociabilidade, nas condições do exercício profissional. Também pode-se destacar: o achatamento salarial, a precariedade das condições de trabalho, as mudanças no aparelhamento jurídico e institucional que orientam as relações trabalhistas, a precarização dos contratos trabalhistas, a desprofissionalização e a alienação
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