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Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 50 PEIXES COMERCIAIS DO MUNICÍPIO DE CRUZEIRO DO SUL, ACRE, BRASIL Tiago Ricardo Fernandes Jacó1,4, Ronaldo Souza da Silva2, Aline Nayara Poscai3 Hericles Correia da Silva4, Flávio César Thadeo de Lima5 e André Luis da Silva Casas4 1. Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura, SEMA-RS/ Seção de Paleontologia, Programa de Pós Graduação em Sistemática e Conservação da Diversidade Biológica (PPGSCbio), Porto Alegre, Rio Grande so Sul, Brasil; 2. Universidade Federal do Pará, Programa de pós-graduação em Zoologia, Belém, Pará, Brasil; 3. Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Laboratório de Pesquisas de Elasmobrânquios, São Vicente, São Paulo, Brasil; 4. Universidade Federal do Acre, Núcleo de Ictiologia do Vale do Alto Juruá (NIVAJ), Cruzeiro do Sul, Acre, Brasil; 5. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia, Museu de História Natural Prof. Adão José Cardoso, Campinas, São Paulo, Brasil. RESUMO A pesca é uma das atividades econômicas mais importantes na Amazônia, responsável por 25% da produção brasileira de pescado. No entanto, existem relativamente poucos dados relacionados a identificação de espécies comerciais em grande parte da Amazônia brasileira. Por isso, realizamos um levantamento dos peixes comercializados no Mercado Resene de Souza Lima (MRSL), Cruzeiro do Sul, Acre. Foram identificadas 76 espécies de peixes comerciais, pertencendo à seis ordens. As espécies de Characiformes e Siluriformes foram as mais representativas, com 43,4% e 35,5% respectivamente, seguidas dos Cichliformes + Eupercaria (13,2%), Gymnotiformes (3,9%), Osteoglossiformes (2,6%) e Clupeiformes (1,3%). A pesca extrativista é a principal fonte de abastecimento do MRSL, onde 233.349 toneladas de pescado foram vendidas em 2017. O preço médio variou de R$ 8,00 a R$ 14,00 por quilogramas, totalizando R$ 2.368.248,00 de peixes comercializados. A piscicultura contribuiu com 44.154 toneladas, gerando R$ 529.848,00 de vendas. Estes resultados mostram pela primeira vez, a diversidade de peixes comerciais de uma região pouco estudada da Amazônia, destacando a importância da pesca para a economia de Cruzeiro do Sul e sua população. Palavras-chave: Ictiofauna, Vale do Alto Juruá e Mercado de Peixes. ABSTRACT Fishery is one of the most important economic activities in the Amazon, which is responsible for 25% of the Brazilian fish production. However, there are few surveys related to identification of commercial fish species in many areas of the Amazon basin. Therefore we undertook a survey of the commercial fish species at the Resene de Souza Lima Market, Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 51 Cruzeiro do Sul, Acre. A total of 76 commercial fish species were identified, belonging to six orders. Species belonging to the orders Characiformes and Siluriformes were the most representative, representing 43.4% and 35.5% of the total, respectively. The less representative orders were Cichliformes + Eupercaria (13.2%), Gymnotiformes (3.9%), Osteoglossiformes (2.6%), and Clupeiformes (1.3%). Extractive fishery is the main source of supply to the fish market, in which 233.349 tons were sold over the year of 2017. The average price of fish varied from R$8.00 to R$14.00 per kg, with a total of R$2.368.248,00 for commercial fishes. Fish farming production contributed with 44.154 tons, resulting in R$529.848,00 of fish sales. These results show for the first time, the diversity of commercial fishes in an understudied Amazon region and also highlights the importance of fishery for Cruzeiro do Sul economy and its population. Keywords: Ichthyofauna, Alto Juruá Valley e Fish Market. 1. INTRODUÇÃO A pesca é uma das atividades humanas mais importantes na Amazônia. Tradicionalmente, sua prática é relacionada às populações ribeirinhas como um complemento à outras atividades econômicas e de subsistência, tais como caça, agricultura e extrativismo. Para muitos ribeirinhos, pescar é uma ocupação permanente (BARTHEM; FABRÉ, 2004; SANTOS; SANTOS, 2005; COSTA et al., 2009; YOUN et al., 2014). Os diferentes habitats nas planícies de inundação favoreceram o desenvolvimento de uma rica ictiofauna (JUNK, 2007), e os padrões espaciais da biodiversidade de peixes na várzea do Rio Amazonas foram fortemente relacionados à cobertura vegetal, bem como às condições ambientais locais. Inúmeras espécies e grupos funcionais definidos por suas estratégias de vida, alimentação, natação e uso de micro-habitat mostraram uma correlação positiva com a cobertura vegetal da região (ARANTES et al., 2019). Essas condições permitem que a região neotropical abrigue cerca de 8.000 espécies válidas, correspondendo a aproximadamente 25% de toda a ictiofauna do mundo (VARI; MALABARBA, 1998; REIS et al., 2003) (VARI; MALABARBA, 1998; REIS et al., 2003). A Bacia Amazônica tem inúmeros corpos d’água, sendo considerada o maior sistema fluvial no mundo devido à geologia, propriedades físicas, químicas e bióticas. Estes fatores associados à microbiota, são responsáveis pela decomposição da matéria orgânica que influencia na classificação da água como branca, clara e negra. A complexidade e diversidade desse sistema aquático favoreceram a especiação da mais rica ictiofauna no mundo, representada por 2.257 espécies, sendo 1.248 endêmicas, representando 15% dos peixes de água doce conhecidos (GERRY, 1984; SIOLI, 1984; SINGER, 1984; MENEZES, Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 52 1996; BARTHEM; FABRE, 2004; BUCKUP et al., 2007; REIS et al., 2016; TEDESCO et al., 2017; ARANTES et al., 2019). O conhecimento da ictiofauna amazônica é majoritariamente evidenciado pelo esforço de amostragem nas áreas de terras baixas, ao longo dos canais dos principais rios e suas planícies de inundação. As terras altas dos Rios Solimões e Amazonas são pouco amostradas (MENEZES, 1996). Esse cenário explica porque a vasta maioria da fauna moderna de peixes ser representada por espécies de terras baixas. Na Amazônia, cerca de 6% das espécies (i.e., 129 espécies) apresentam distribuição restrita acima de 300 metros de altitude (OBERDOFF et al., 2019). A ictiofauna do Rio Juruá vem sendo documentada desde o fim do século XIX, mas estudos voltados para o inventariamento de peixes nessa bacia hidrográfica ainda são escassos, sobretudo pela lacuna temporal entre os poucos trabalhos realizados no Rio Juruá (BOULENGER, 1898; LA MONTE, 1935; SILVANO et al., 2001; SOUZA et al., 2003; GONÇALVES et al., 2008; PINHEIRO; BÜRNHEIM, 2009). Alguns autores afirmam que 3.000 espécies representam a fauna de peixes amazônicos, embora dezenas de novas espécies sejam descritas todo ano (REIS et al., 2003). Portanto, há um consenso de que a ictiofauna amazônica representa a maior diversidade de peixes do mundo, devido a influência de diferentes fatores ambientais, tais como a mistura das águas, propriedades químicas, dinâmica do rio (SIOLI, 1984) e cobertura vegetal (ARANTES et al., 2019). Ainda que os principais afluentes da Bacia Amazônica sejam amostrados, algumas lacunas ocorrem nas partes centrais e periféricas dessa bacia. Essas lacunas são constituídas por localidades de difícil acesso para o levantamento da ictiofauna, por serem muito isoladas ou por estarem em áreas protegidas. Portanto, a identificação de sub-bacias pouco amostradas é o primeiro passo para conhecer a biodiversidade nestes locais (OBERDOFF et al., 2019). Como consequência da falta de informações sobre a fauna de peixes, a efetividade de políticas públicas relacionadas à conservação dos recursos pesqueiros é comprometida (ALMEIDA et al., 2012; MELO, 2012; CUNHA, 2015). Apesar de haver alguns trabalhos de monitoramento de desembarques de pescarias realizadas em Belém (PA) e Manaus (AM) (PETRERE, 1978; ISAAC; BARTHEM, 1995; BATISTA, 1998; BARTHEM; FABRE, 2004), a falta de dados históricos na pesca de diferentes locais da Amazônia contradizem a importância dessa atividade para a região. Assim, estudos sobre espécies comercializadas são essenciais para política de preservação Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 53 e manejo de pesca, bem como a compreensão da abundância e composição de recursos pesqueiros. Costa et al. (2009) caracteriza a pesca na Amazônia como atividade extrativista, condicionada pelo nível da água dos rios com superprodução durante a seca e diminuição da mesma durante a cheia, influenciando a economia, cultura, e sobrevivência das populações humanas. Dentre as 90 espécies de peixes amazônicos que são importantes para o comércio e alimentação, 78% não são avaliadas pela Lista Vermelha da IUCN (International Union for Conservation of Nature), ou seja, suas informações biológicas são desconhecidas (BEGOSSI et al., 2017). O declínio dos recursos pesqueiros causados pela poluição, destruição de habitat, sobrepesca e barragens aumentam a insegurança alimentar e econômica de comunidades ribeirinhas dependentes da atividade pesqueira (BEGOSSI et al., 2017). Por isso, algumas espécies podem desaparecer antes mesmo que tenhamos conhecimento apropriado para sua conservação (BEGOSSI et al., 2017). Desse modo, a utilização de recursos pesqueiros pelas populações amazônicas, reforçam a necessidade de conhecimento científico sobre a biodiversidade de peixes, para contribuir com o manejo sustentável e políticas públicas relacionadas à pesca, que possam também assegurar a qualidade de vida das populações humanas. Diante desse cenário, não há dados precisos sobre a diversidade de peixes comercializados no Vale do Alto Juruá, Acre. Baseado nisso, esse estudo documenta as espécies de peixes comercializadas no Mercado Resene de Souza Lima, um importante entreposto de desembarque e comercialização de peixes provenientes da pesca artesanal e piscicultura no município de Cruzeiro do Sul, contribuindo para o conhecimento da taxonomia, pesca e biologia de peixes comercializados no extremo Ocidente da Amazônia brasileira. 2. MATERIAIS E MÉTODO 2.1 ÁREA O município de Cruzeiro do Sul localiza-se no Oeste do estado do Acre, na margem esquerda do Rio Juruá. É a segunda cidade mais populosa e desenvolvida do estado com Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 54 cerca de 80.000 habitantes, sendo 8% da população formada por comunidades ribeirinhas (Figura 1). As atividades econômicas predominantes na cidade e nos municípios vizinhos são o setor de serviços e agricultura, que juntos representam a maior parte da economia da região do Vale do Alto Juruá (ACRE, 2009). Figura 1. Rio Juruá e seus lagos marginais (A principal área de pesca extrativista utilizada pelos pescadores de Cruzeiro do Sul). 2.2 AMOSTRAGEM DOS DADOS DE DESEMBARQUE Em 2015, o município de Cruzeiro do Sul implementou um centro de distribuição e comercialização de peixes, o “Mercado Resene de Souza Lima” (MRSL), popularmente conhecido como “Mercado do Peixe”. Depois de sua inauguração, o mercado se tornou o principal centro para a venda de pescados, com 32 lojas, das quais cinco são destinadas à venda de peixes salgados. O fornecimento de peixe ao MRSL é realizado principalmente por pescadores artesanais extrativistas, como definido por Costa et al., (2009). Diariamente, os trabalhadores Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 55 levam sua produção ao mercado, onde a administração do mesmo promove o controle, triagem e redistribuição para a venda. Peixes criados em pisciculturas também são fornecidos ao mercado. 2.3 COLEÇÃO DE ESPÉCIES E CLASSIFICAÇÃO A documentação das espécies vendidas no MRSL foram realizadas três vezes por semana, no período de janeiro à dezembro de 2017, em todas as lojas de revenda de peixes frescos. Quando possível, alguns exemplares foram coletados e depositados no Núcleo de Ictiologia do Vale do Alto Juruá (NIVAJ) no Campus Cruzeiro do Sul da Universidade Federal do Acre. Peixes considerados de grande valor econômico não foram coletados, mas fotografados para identificação taxonômica. Para a identificação de espécies foram utilizadas as chaves de Géry (1977), Silvano et al. (2001), Ferreira et al. (2007), Galvis et al. (2006) e Queiroz et al. (2013). A lista de espécies (Tabela 1) seguiu a classificação de peixes ósseos de Betancur-R et al. (2017). 2.4 ANÁLISES DE DADOS A quantidade de peixes desembarcados no MRSL em 2017 e os preços de venda foram obtidos através de informações fornecidas pela administração do mercado. Foram coletados dados sobre o peso, identificação taxonômica, quantidade de espécies por quilograma e fornecedores. Os dados de desembarque (peso do peixe pelo seu tipo e preço de venda) permitiram uma análise preliminar, estimando o total de peixes pescados e encaminhados para venda no MRSL. As análises foram realizadas através de estatística descritiva no Software Microsoft Excel 2016. Os preços de vendas e a quantidade de peixes desembarcados foram calculados pela fórmula: x = x1+x2+x3+⋯+Xn N = ∑ xini=1 n e a porcentagem da frequência relativa utilizando a seguinte fórmula: fri % = fri ∗ 100% . Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 56 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A diversidade de peixes comercializados no MRSL foi representada por 78 espécies, distribuídas em 23 famílias, de sete ordens (Tabela 1). A ordem Characiformes foi a mais abundante, representada por 50% das famílias, e composta de 43.4% das espécies vendidas. Siluriformes foi a segunda ordem mais abundante, com 22.7% de famílias agrupadas em 35.5% de espécies, seguidas por Cichliformes + Eupercaria, que são a terceira assembleia mais representativa com 13.2% das espécies, nas quais 9.1% estão distribuídas em duas famílias. Gymnotiformes foi a quarta ordem, representada por 4.1% das espécies, com 3.9% das famílias. Osteoglossiformes foi representada por 9.1% das famílias, contando 2.6% das espécies comercializadas, enquanto Clupeiformes apresentou 4.5% das famílias, sendo representadas por 1.3% das espécies (Figura 4). A principal fonte de abastecimento do MRSL é a pesca extrativista, com 233 toneladas de peixes recebidos para comercialização durante o ano de 2017; seguida da piscicultura com 44.150 quilogramas de vendas de pescados (Figura 2). A pesca extrativista apresenta um pico entre abril e junho, com uma comercialização decrescente em novembro. Os peixes da piscicultura atingem o seu pico de vendas em setembro. Tabela 1. Espécies de peixes comercializados no MRSL, Cruzeiro do Sul, Acre em 2017. Taxa Nome Regional Tipo I Tipo II Tipo III Piscicultura OSTEOGLOSSIFORMES Osteoglossidae Arapaima gigas (Schinz, 1822) Pirarucu X X Osteoglossum bicirrhosum (Cuvier, 1829) Aruanã X CLUPEIFORMES Pristigasteridae Pellona castelnaeana Valenciennes, 1847 Sardinhão X CHARACIFORMES Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcatus (Bloch, 1794) Cachorra X Anostomidae Laemolyta taeniata (Kner, 1858) Piau X Leporinus fasciatus (Bloch, 1794) Piau X Leporinus friderici (Bloch, 1794) Piau X Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 57 Megaleporinus trifasciatus (Steindachner, 1876) Piau X X Schizodon fasciatus (Spix & Agassiz, 1829) Piau X Bryconidae Brycon amazonicus (Agassiz, 1829). Matrinxã X X Brycon melanopterus (Cope, 1872) Matrinxã X Chalceidae Chalceus erythrurus (Cope, 1870) Arari X Characidae Cynopotamus amazonum (Günther, 1868) Madalena X Roeboides myersii (Gill, 1870) X Ctenoluciidae Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Bicuda X Curimatidae Curimata vittata (Kner, 1858) Sabaru X Potamorhina latior (Spix & Agassiz, 1829) Branquinha X Potamorhina pristigaster (Steindachner, 1876) Branquinha X Psectrogaster amazonica (Eigenmann & Eingenmann, 1889) Casca grossa X Psectrogaster rutiloides (Kner, 1858) Cascuda X Cynodontidae Cynodon gibbus (Spix & Agassiz, 1829) Cachorra X Rhaphiodon vulpinus (Spix & Agassiz, 1829) Cachorra X Erythrinidae Hoplerythrinus unitaeniatus (Spix Agassiz, 1829) Jeju X Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Traíra X Hemiodontidae Anodus elongatus (Agassiz, 1829) Frechera X Prochilodontidae Prochilodus nigricans (Agassiz, 1829) Curimatã X Semaprochilodus insignis (Jardine, 1841) Jaraqui X Serrasalmidae Colossoma macropomum (Cuvier, 1818) Tambaqui X X Metynnissp Pacu X Myleus schomburgkii (Jardine, 1841) Pacu X Myleus sp. Pacu X Myloplus rubripinnis (Muller & Troschel, 1844) Pacu X Mylossoma albiscopum (Cope, 1872) Mafurá X Piaractus brachypomus (Cuvier, 1818) Pirapitinga X X Pygocentrus nattereri Kner, 1858 Piranha X Serrasalmus spp. Piranha X Triportheidae Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 58 Triportheus spp. Sardinha X GYMNOTIFORMES Sternopygidae Eigenmannia macrops (Boulenger, 1897) Sarapó Branco X Rhabdolichops sp. Sarapó X Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) Sarapó Preto X SILURIFORMES Auchenipteridae Ageneiosus inermis (Linnaeus, 1766) Bocão X Auchenipterus ambyiacus Fowler, 1915 Lustrosa X Trachelyopterus galeatus (Linnaeus, 1766) Cangati X Doradidae Lithodoras dorsalis (Valenciennes, 1840) Bacu X Oxydoras niger (Valenciennes, 1821) Cuiu-Cuiu X Heptapteridae Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Jundiá X Loricariidae Ancistrus sp. Bode X Loricariichthys sp. Bodó X Planiloricaria sp. Bodó X Pterygoplichthys pardalis (Castelnau, 1855) Bodó X Pimelodidae Brachyplatystoma filamentosum (Lichtenstein, 1819) Filhote X Brachyplatystoma juruense (Boulenger, 1898) Jundiá X Brachyplatystoma rousseauxii (Castelnau, 1855) Dourada X Brachyplatystoma tigrinum (Britski, 1981) Jundiá X Calophysus macropterus (Lichtenstein, 1819) Pintadinha X Hemisorubim platyrhynchos (Valenciennes, 1840) Pimpão X Hypophthalmus sp Mapará X Leiarius marmoratus (Gill, 1870) Jundiá X Phractocephalus hemioliopterus (Bloch & Schneider, 1801) Pirarara X Pimelodus blochii (Valenciennes, 1840) Mandim X Pinirampus pirinampu (Spix & Agassiz, 1829) Gororoba X Pseudoplatystoma punctifer (Castelnau, 1855) Surubim X Pseudoplatystoma tigrinum (Valenciennes, 1840) Caparari X Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 59 Sorubim lima (Bloch & Schneider, 1801) Bico de Pato X Sorubimichthys planiceps (Spix & Agassiz, 1829) Bargada X Zungaro zungaro (Humboldt & Valenciennes, 1821) Jaú X CICHLIFORMES Cichlidae Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) Acará Açú X Cichla monoculus (Spix & Agassiz, 1829) Tucunaré X Tucunaré X Cichlasoma amazonarum (Kullander, 1983) Cará X Crenicichla cincta (Regan, 1905) Olaia X Crenicichla johanna Heckel, 1840 Jacundá X Crenicichla lugubris Heckel, 1840 Jacundá X Heros sp Acará X Satanoperca jurupari (Heckel, 1840) Acará X Figura 2. Dados sobre a quantidade da biomassa de peixes de piscicultura e pesca extrativista disponível para venda no MRSL em 2017. Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 60 Durante o ano de 2017, a venda de peixes gerou um valor total de R$2.896.096,00, sendo a pesca extrativista responsável por movimentar cerca de R$2.368.248,00 e a piscicultura R$529.848,00. O preço médio do peixe varia de acordo com sua classificação de R$8,00 a R$14,00 por quilograma. Todos os peixes de cativeiro foram vendidos à R$12,00 por quilograma. Os preços geralmente são padronizados entre os vendedores do mercado para evitar concorrência. Os peixes comercializados no MRSL são capturados ao longo da bacia do Rio Juruá. Depois do desembarque, todos os peixes são classificados em categorias: Tipo I, Tipo II ou Tipo III. A categorização desses peixes leva em consideração o melhor sabor, melhor rendimento, a preferência do consumidor na escolha do pescado e a oferta do produto no mercado. Os peixes do Tipo I, considerados os melhores foram menos abundantes em termos de biomassa no referido ano em relação aos peixes dos Tipos II e III. Com isso, foi possível considerar que a ordem Siluriformes apresentou o maior número de espécies comercializadas como Tipo I, e nessa categoria também foram observados os peixes provenientes da piscicultura, sendo a maioria da ordem Characiformes, que também é a maioria das espécies comercializadas como peixes de Tipo II. Os peixes de Tipo III são representados por espécies menores e outros peixes que possuem muitas “espinhas”. Foram identificadas 30 espécies no Tipo I, sendo os Siluriformes a ordem mais representativa com (43.3%), seguida pela ordem Characiformes (33.3%), Cichliformes + Eupercaria (13.3%), Osteoglossiformes (6.6%), e Clupeiformes (3.3%). Segundo pescadores e vendedores do mercado, o pirarucu (Arapaima gigas) é considerado o melhor peixe do Tipo I. Em relação à média mensal de biomassa de peixes comercializados, os de Tipo I representam mais de 1.446 toneladas, enquanto os peixes do Tipo II representam 9.839 toneladas e do Tipo III, 8.160 toneladas. As espécies de peixes de piscicultura representam 3.680 toneladas vendidos no MRSL (Figura 3a). A produção da pesca extrativista está fortemente relacionada ao clima. As diferentes espécies e tipos de peixes disponíveis para a venda em 2017 variaram de acordo com a estação. Os Tipos I, II e III apresentam picos de captura em períodos distintos (Figura 3b). Peixes do Tipo I tiveram maior captura durante a estação chuvosa, enquanto os Tipos II e III durante a estação seca. Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 61 Figura 3. A) Biomassa vendida mensalmente de acordo com o tipo de classificação comercial; B) Tipos de classificação de peixes comercializados de acordo com vendedores e seus picos de produtividade no MRSL. Logo após sua fundação, o MRSL passou a ser administrado pela Associação de Vendedores de Pescados de Cruzeiro do Sul, Acre (ASVEPCS), que deu início ao registro da biomassa de peixes comercializados nas lojas. Os dados do pescado são coletados esporadicamente pela ASVEPCS e não há uma padronização. No entanto, esses dados estimados permitem acessar informações relevantes sobre a ictiofauna e a pesca, especialmente pois essas espécies são comercializadas no principal centro de vendas da região do Vale do Alto Juruá. A principal fonte de peixes do MRSL é a pesca extrativista, caracterizada pelo tipo de materiais utilizados na atividade, tais como redes de pescas artesanais, linhas e anzóis. Essa modalidade de pesca costuma ser praticada individualmente ou em pares, com equipamentos simples e de baixo custo (CAPELLESSO; CAZELLA, 2011). Apesar do caráter artesanal, a quantidade aproximada de pescado comercializado no MRSL em 2017 foi de cerca de 233.349 toneladas. A piscicultura contribuiu com 44.154 toneladas. De acordo com o último relatório oficial do Ministério da Pesca e Aquicultura em 2011, no estado do Acre, 2.002,8 toneladas de peixes foram capturadas pela pesca extrativista, e 5.988,3 toneladas de peixes foram produzidos na piscicultura (MPA, 2011). Desde então, esses são os últimos dados oficiais sobre as atividades de pesca na Amazônia Ocidental Brasileira. Barthem e Fabré (2004) enfatizaram a importância da coleta regular à longo prazo, para análises em séries temporais, que permitam o estudo de variação da população de peixes ao longo do tempo, e outros fatores que poderiam determinar a produtividade biológica. Portanto, a falta de relatórios regulares sobre a pesca continental e extrativista, especialmente no Norte do Brasil, dificulta a implementação de políticas públicas para a proteção dos estoques pesqueiros e, por conseguinte da ictiofauna. Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 62 A pesca extrativista é uma das principais fontes de renda para a população ribeirinha e um recurso nutricional, servindo como fonte de alimento para milhares de famílias. Cerca de 170.000 pessoas trabalham nessa indústria, resultando em um saldo de R$400.000.000,00 para a economia da Amazônia (ALMEIDA et al., 2004; ALCÂNTARA et al., 2015). Em Cruzeiro do Sul, Acre, os dados sobre a pesca comercial obtidos por meio da administração do MRSL, demonstram a importância dessa atividade para a economia. A venda estimada ao longo do ano foi de R$2.368.248,00, com preços de venda variando de R$8,00 à R$14,00 por quilograma do pescado. A piscicultura também contribui com o abastecimento do MRSL. De acordo com Gandra (2010) essa atividade complementa a pesca extrativista; mesmo que muitas vezes não haja infraestrutura, suporte técnico e logística adequadas na região amazônica (SARAH et al., 2013). No mercado foram identificadas seis espécies de peixes provenientes da piscicultura: Piau (Megaleporinus trifasciatus), Tambaqui (Colossoma macropomum), Pirapitinga (Piaractus brachypomus), Matrinxã (Brycon spp.), Curimatã-Pacu (Prochilodus argenteus) e Pirarucu (Arapaima gigas). Apesar da baixa produção quando comparada à pesca extrativista, essa atividade contribuiu com a comercialização de R$529.848,00 de peixes vendidos à R$12,00 reais o quilograma. Os peixes comercializados no mercado foram classificados em 56 espécies de acordo com seus nomes populares. Santos et al. (2006) enfatizou que a denominação popular não caracteriza espécies biológicas. Os nomes populares representam agrupamentos de espécies diferentes com a mesma denominação. Por isso, ao aplicar a identificação formal às espécies populares, foi possível reconhecer 78 espécies biológicas de valor comercial no município de Cruzeiro do Sul, corroborando Santos et al. (2006). Os Tipos de classificação (Tabela 1) descritas no presente estudo assemelham-se à classificação observada por Santos (1987) na qual o valor comercial dos peixes é estipulado pela administração do mercado local, de acordo com a demanda e importância do pescado para os consumidores. Isaac et al. (1996) enfatizou que peixes com maior biomassa são mais pescados no Baixo Rio Amazonas, predominantemente os Siluriformes. Esses peixes tornam-se mais susceptíveis à captura por apresentarem migração durante o período reprodutivo, pois alguns ribeirinhos utilizam esse conhecimento para a pesca, ressaltando, dessa forma, sua importância para a economia e alimentação para boa parte das populações na Amazônia (ANDERSON et al., 2011; BARTHEM et al., 2017) e de Cruzeiro do Sul, Acre de acordo com os resultados aqui apresentados. Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 63 Figura 4. Exemplos de espécies de peixes encontradas no MRSL. A- Pirapitinga (Piaractus brachypomus), B- Tambaqui (Colossoma macropomum), C- Jaraqui (Semaprochilodus insignis), D- Pacu (Mylossoma duriventre), E- Mandim (Pimelodus blochii), F- Mapará (Hypophthalmus fimbriatus), G- Jundiá (Brachyplatystoma juruense), H- Jundiá-lavrado (Brachyplatystoma tigrinum). Biodiversidade e Biotecnologia no Brasil 1 64 Segundo Medellín et al. (2009) a migração faz parte de um ciclo periódico, onde o animal possui a necessidade, muitas vezes hormonal, de se deslocar de um local para outro em busca de alimento, abrigo e para fins reprodutivos. Ressalta-se que o presente estudo examinou as vendas do pescado no MRSL. Os portos de desembarque não foram avaliados, o que sugere que a quantidade do pescado e divisas geradas pela atividade pesqueira no município de Cruzeiro do Sul estão subestimadas. 4. CONCLUSÃO Os resultados obtidos nesse estudo indicam que os peixes são uma importante fonte de alimento e renda para a população de Cruzeiro do Sul e outros municípios. As 78 espécies identificadas retratam uma grande riqueza e diversidade de peixes comerciais. Portanto, se necessário ampliar os estudos sobre a pesca comercial e o inventariamento e documentação da ictiofauna, para subsidiar políticas públicas de gerenciamento do estoque das espécies comercializadas no Vale do Alto Juruá. 5. AGRADECIMENTOS Gostaríamos de agradecer à Associação de Vendedores de Pescados de Cruzeiro do Sul (ASVEPCS) e à Colônia de Pescadores “Z1” por todo o valioso suporte durante essa pesquisa. Também gostaríamos de agradecer agradecer Luiz Felipe de Magalhães pelas fotografias e Sonaira Souza da Silva pela preparação do mapa. 6. REFERÊNCIAS ACRE. 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