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Aula 1: Conceitos em ortodontia Ortodontia (Orto=correção/Dontia = dente): é a especialidade da odontologia responsável pela correção de más posições dentárias, supervisão da biogênese dentária e a correção dos desvios do crescimento craniofacial, por meio de tratamento ortodôntico, ortopédico e/ou cirúrgico. Temos duas partes do tratamento: preventiva (interceptativa) e corretiva. Má oclusão: qualquer desvio das posições dentárias, da morfologia e/ou da função do sistema estomatognático. Angle (1899) classificou a má oclusão em classe I, II e III, essa classificação foi baseada em acreditar que o primeiro molar superior era estável no sentido mésio-distal na arcada e ela continua sendo utilizada até os dias de hoje, porque favorece os estudos, a comunicação e define uma relação dentária importante para os tratamento e, consequentemente, para os diagnósticos. Classificação de Angle: - Classe I: relação da cúspide mésio vestibular do 1M superior ocluindo no sulco central do 1M inferior. - Classe II: relação da cúspide mésio vestibular do 1M superior está a frente do sulco central do 1M inferior, formando um degrau distal. - Classe II: relação da cúspide mésio-vestibular do 1M superior atrás do sulco central do 1M inferior. Existem outras características complementando a classificação. Classificação de Lischer (1912): o autor acrescentou o sufixo versão às posições dentárias (distoversão, mesioversão , vestibuloversão,...). Etiologia: pode estar relacionado a: - Problemas dentários: sentido ântero-posterior (horizontal), vertical e transversal. - Problema esquelético: também pode ser no sentido ântero-posterior, vertical e transversal. Eles se diferem pela gravidade do problema. Se tem uma mordida cruzada de etiologia dentária, por exemplo, é muito mais simples de ser resolvida do que estivesse associada a fatores esqueléticos. Modalidades de tratamento: ortopedia, ortodontia e cirurgia ortognática. A ortodontia também está relacionada à ortopedia e à cirurgia ortognática, porque a ortodontia trata no período de crescimento e após o período de crescimento também. Um problema esquelético não tratado no período de crescimento, na fase adulta vai estar relacionado a procedimentos cirúrgicos para obter a correção. As modalidades de tratamento estão relacionadas à época de tratamento. Ortopedia: se propõe a tratar/melhorar a etiologia dos problemas associados à parte esquelética. Esse aparelho ao lado foi proposto por Balters em 1952 com objetivo de remodelação ósseo no sentido anteroposterior, consequentemente uma adequação funcional associado a melhorar na respiração e fonação. Aparelho normalmente pensado para resolver problemas esqueléticos de classe II. O aparelho vai promover o avanço da mandíbula e, consequentemente, cria a possibilidade de um crescimento maior na cabeça da mandíbula e então ela se posiciona mais anteriormente, melhorando não apenas o posicionamento dentário, como também a parte da orofaringe, melhorando a respiração. Aparelho de Frankel: mais voltado para tratamento de problemas esqueléticos de classe III (com falta de crescimento maxilar), cria condições para esse crescimento maxilar e restringe o crescimento mandibular, e, ao mesmo tempo, aumenta a dimensão vertical e há uma rotação da mandíbula no sentido horário. Aparelho de Schwarz: aparelho removível que promove expansão transversal da arcada superior e da arcada inferior. A expansão quando feita no período de crescimento aumenta o perímetro do arco, aumentando a quantidade de osso presente e cria condições de uma melhor alinhamento dentário. A ortopedia então trabalha mais osso, perímetro de arco, controle de crescimento vertical, ou seja, etiologia relacionada a parte esquelética. Já a ortodontia: dentes. Ortodontia: mais frequentemente quando já tem todos os dentes permanentes na boca ou na fase final da dentição mista, sempre com o objetivo de movimentar dentes ou criar espaços para que os dentes erupcionem. Além dos conhecidos aparelhos ortodônticos convencionais, hoje temos à disposição os aparelhos removíveis/alinhadores. Cirurgia ortognática: após a fase de crescimento, a possibilidade que temos de corrigir desvios ou desequilíbrios esqueléticos que aconteceram durante o crescimento é a cirurgia ortognática. Muitas vezes pode ser evitada se na fase de crescimento o paciente foi diagnosticado corretamente com etiologia esquelética e tratado. Em algumas situações isso não é possível, mesmo tendo passado pelo tratamento durante a fase de crescimento, em função das características etiológicas, por exemplo: prognatismo mandibular severo com 8/9/10 anos de idade, dificilmente terá um equilíbrio dessa face mesmo que as posições dentárias sejam corrigidas. A ortognática tem o objetivo de avançar a mandíbula (região do mento), que poderia ser resolvido com aparelho de propulsão mandibular. Essa cirurgia vai ser feita no indivíduo adulto se o diagnóstico e o plano fizerem a previsão para melhorar o perfil. Nessa imagem da direita: avanço de mandíbula e impactação ou até avanço da maxila, por exemplo num sorriso gengival: é feito uma Le Fort, remove uma quantidade de 3mm, mais ou menos, essa maxila sobe e melhora o sorriso gengival. Elementos básicos para o diagnóstico: O diagnóstico é o ponto de partida para qualquer tratamento ou plano de tratamento. Iniciamos com anamnese e exame clínico e, a partir desses dois tópicos, faremos um registro de diagnóstico (fotografias, modelos, radiografias e tomografias). Tratamento: Tratamento preventivo: reservado à fase de crescimento - Odontologia conservadora da dentadura decídua - Má oclusões nos estágios iniciais - Hábitos de sucção/deglutição podem ser melhor trabalhados. - Desenvolvimento da dentição pode ser orientado - Prevenção de impactação de dentes permanentes - Remoção de dentes decíduos com retenção prolongada - Descruzamento da mordida anterior e posterior, com maior facilidade e previsibilidade - Manutenção de espaços provenientes de perdas dentárias precoces (recuperação desses espaços) - Tratamentos realizados sem extrações dentárias - Redirecionamento do crescimento facial - Corrigir sobremordida - Colaboração do paciente é maior (depende de cada paciente) Tratamento corretivo: - Extrações dentárias (dentes permanentes) - Integração entre áreas da odontologia (prótese, implante, periodontia, cirurgia ortognática) Objetivos do tratamento ortodôntico: - Equilíbrio da estética facial (lábio superior, inferior e ponta de queixo) - Função mastigatória eficiente (oclusão e ATM) - Longevidade dos tecidos dentários e periodontais - Estabilidade da oclusão - Satisfação do paciente (queixa principal) - Manutenção ou aumento da área respiratória Época de tratamento: Após o nascimento, há todo um crescimento e desenvolvimento no indivíduo e qualquer procedimento causará um impacto para a vida toda desse indivíduo, muitas vezes pode ser desfavorável se condutas incorretas associadas a diagnósticos imprecisos forem praticadas. Para entender o estágio de crescimento e a época de tratamento, podemos lançar mão de radiografia de mão e punho, que nos auxilia a entender a curva e o estágio de crescimento desse indivíduo e, a partir disso, colocar um aparelho ortopédico funcional que tenha mais previsibilidade de resultado ou, se tivermos na parte de baixo da curva, talvez o aparelho ortopédico funcional terá pouco impacto para que o objetivo do tratamento seja alcançado. Tipo facial: 3 tipos Braquifacial: face mais achatada Mesofacial: mais equilibrada entre o vetor esquelético de crescimento horizontal e vertical. Dolicofacial: face longa, predomínio do vetor vertical e está mais associado à classe II esquelética e problemas respiratórios. Perfil facial: o mais importante no exame clínico, determina se a mandíbula está muito para frente ou para trás e maxila deve vir para frente, ou a combinação desses fatores. Reto: equilibrado o lábio superior, lábio inferior e ponta de queixo. Convexo: perfil com ponta de queixo bem atrás, associado à classe II. Côncavo:queixo bem a frente, ⅔ inferiores da face bem a frente do terço superior, é um paciente ortodôntico e precisa de um equilíbrio facial, além do equilíbrio da oclusão. Perfil de indicação para cirurgia ortognática, associado a classe III. Tratamento preventivo: acontece durante a fase de crescimento, especialmente na dentição mista (6-12 anos). Algumas vezes, tratamos pacientes fora desse intervalo com esse tratamento preventivo/aparelho removível. Antes dessa idade temos que ter a sensibilidade de observar tem a capacidade de utilizar esse aparelho removível, porque temos que ter a colaboração desse paciente para ser efetivo. Caso clínico para ilustra a má oclusão nos estágios iniciais (não é precoce e sim inicial, porque precoce significa que é um tratamento antes do momento oportuno): Paciente com dentição totalmente decídua (não há ainda a erupção do primeiro molar permanente) e apresenta mordida cruzada anterior. Nesse momento, dependendo da etiologia do problema e do diagnóstico, podemos realizar o descruzamento da mordida com aparelho removível. O aparelho removível possui um parafuso diferentemente colocado para ter sua resultante de ativação de força na região da pré maxila. Ao ativar o parafuso, ele vai aplicar uma força que vai remodelar essa região anterior para descruzar essa mordida. É importante que na mordida cruzada, os aparelhos sejam encapsulados (com recobrimento oclusal que permite o levantamento da mordida, favorecendo os movimentos horizontais e, quando for indicado, para movimentos transversais). Caso clínico ilustrando prevenção de impactação dos permanentes: Observamos uma impactação do primeiro molar permanente superior no colo do segundo molar decíduo bilateralmente, havendo assim uma extrusão do segundo molar decíduo, causando um trauma oclusal, que vai potencializar a rizólise desse dente e ele vai esfoliar mais cedo. Isso acontecendo, vai mesializar o primeiro molar permanente, impedindo futuramente a erupção do segundo pré-molar permanente. Importante que o atendimento seja realizado para desimpactar o permanente e manter o espaço para a erupção do segundo pré. Essa é a situação clínica demonstrada acima: foi feita uma banda alça estendendo até a distal do primeiro molar permanente, onde será colocado um elástico no botão colado na face oclusal e esse elástico é ativado para posterior no gancho dessa alça colado nessa banda, fazendo movimento distal, realizando assim uma desimpactação do primeiro molar com o segundo decíduo. O elástico pode ser retirado com o primeiro molar permanente ficar desinclinado e voltar a sua posição encostada apenas na distal do segundo molar decíduo e não no colo, como mostra na segunda imagem. Com isso estamos preservando o espaço do segundo pré-molar permanente e melhorando o movimento eruptivo desse dente. Além disso, essa impactação pode causar reabsorção na região cervical do dente decíduo, comprometendo assim a longevidade desse dente. Caso clínico de hábitos de sucção: Nesse caso temos: mordida aberta anterior, atresia da maxila, excesso vertical do processo alveolar, influenciando no tipo facial (paciente dolicofacial). A arcada é triangular, principalmente a superior, podendo apresentar mordida cruzada ou não (não vai ser cruzada quando a maxila e mandíbula estiverem atrésicas). Nessa telerradiografia percebemos que a face é bem alongada, é com esse exame que classificamos o tipo facial, tem as medidas específicas que delimitamos para essa classificação. O que define esses padrões faciais são os fatores genéticos e ambientais (respiração, deglutição, fonação), não é todo indivíduo que chupa dedo que vai apresentar domínio vertical, tem que estar associado a padrões genéticos. Também foi pedido uma radiografia panorâmica, importante para analisarmos o panorama geral da arcada superior e inferior e, especificamente nessa faixa etária, se existe a agenesia de algum germe, supranumerários ou se existe algum processo patológico. Aqui observamos duas telerradiografias em dois momentos distintos: Iniciou-se o tratamento de expansão num primeiro momento da arcada superior associado a dispositivos de impedimento do arco deletério, mas a colaboração desse paciente não era adequada. Percebemos uma melhora na mordida aberta anterior, mas ainda permanece aberta. Na panorâmica devemos analisar a direção de erupção dos caninos permanentes superiores, porque frequentemente apresentam alteração na direção e dependendo do grau de alteração, pode interferir no dente adjacente (incisivo lateral superior). O aparelho removível vai dificultar o hábito de sucção, vai permitir a expansão da arcada superior para ficar mais compatível com a arcada inferior, mas o paciente precisa usar o aparelho!!! Esse foi o caso finalizado após o tratamento preventivo (aparelho removível com expansor de arcada e grade impedidora) e posteriormente tratamento corretivo (colagem dos braquetes). Sempre é desejável que a classe I de canino e de molar sejam alcançadas nos pacientes que apresentam o mesmo número de dentes. Há situações de extrações de pré-molares superiores, em que há finalização em classe II, e algumas situações de extração de pré inferior, terminando em classe III. Mas caninos SEMPRE em classe I. Com os dispositivos de ancoragem hoje em dia as extrações ficaram mais raras. Tratamento corretivo: a partir do momento em que há todos os permanentes em boca, exceto 3ºs molares. Há situações que começam antes, no final da dentição mista. Integração entre as áreas da odontologia: prótese, implante, periodontia, cirurgia ortognática. - Caso de ortodontia-prótese: paciente com ausência do 12 e 22, observa-se uma prótese na região do 22 e na região do 12 uma tentativa de fechar o espaço com resina (na mesial e distal), desvio da linha média para direita, tornando o espaço do 12 menor do que originalmente era. Plano de tratamento: correção da linha média com movimento para a esquerda corrigindo esse espaço para que os elementos 12 e 22 sejam substituídos por meio de implantes. Esse é o registro inicial e o resultado final: restabeleceu a linha média, corrigiu a posição dos caninos, alterou o contorno do arco e deu mais harmonia ao sorriso. Então em situações que teremos que extrair algum dente permanente, havendo a necessidade de movimentação ortodôntica realizá-la antes e postergar a colocação de implantes, para que o resultado do tratamento seja melhorado em estética e em função. - Caso de ortodontia-implante: condenação dos 4 incisivos superiores pela falta de suporte ósseo. Plano de tratamento: promover a extrusão dos incisivos para esse movimento potencializasse a neoformação óssea, tendo assim um ganho vertical esquelético para que os implantes sejam inseridos num osso natural. Foi feita então essa movimentação ortodôntica extrusiva, trazendo a parte esquelética e também a parte gengival. Durante esse movimento foram feitos ajuste, desgastes e cortes nos dentes para que o trauma fosse minimizado. Em seguida foram feitas as extrações, a colocação dos implantes e confecção das coroas. Sem a necessidade de enxertos ósseos. A partir dessa marcação conseguimos observar o quanto ganhamos em osso e em gengiva também com essa movimentação. - Caso de ortodontia-periodontia: podemos observar uma grande retração na região do 41, essa situação pode estar presente no início do tratamento ortodôntico ou surgir durante, que foi o caso dessa paciente. Foi encaminhada para periodontista e foi feita a cirurgia plástica de recobrimento radicular. Então há casos em que essa cirurgia pode ser feita antes ou durante o tratamento de orto, o periodontista vai determinar qual o momento mais oportuno para realizar esse procedimento. Após a cirurgia, esperar um tempo para recuperação (60-90 dias) e depois continuar com a movimentação ortodôntica, evitando movimentar esse dente (depois de um certo período ele pode ser movimentado, mas com cuidado). - Caso de ortodontia-cirurgia ortognática: paciente com perfil côncavo, com aparelhos montados, mas percebemos que nãoé uma paciente para tratamento ortodôntico simples, mas sim ortodôntico-cirúrgico. Para realizar o equilíbrio facial que é um dos primeiros objetivos que citamos. Há necessidade então de iniciar com tratamento ortodôntico para preparar esses dentes para que a movimentação sagital possa acontecer. A relação dos caninos está próxima do que deveria no sentido horizontal, quando realizarmos esse avanço de maxila, ficaria em classe II. Para que isso não ocorra, vamos movimentar os incisivos e caninos para posterior, estabelecendo uma relação de classe III e, a partir disso, realizar o movimento cirúrgico (imagem abaixo da esquerda mostra como ficou após a movimentação e da direita mostra como ficou após a cirurgia). Final: relação de canino classe I e relação de molar classe II, por ter dois pré-molares superiores a menos (um de cada lado). Houve restabelecimento do equilíbrio facial, mas na fase intermediária infelizmente temos que fazer essa “piora”. Em alguns casos isso não é necessário, vai depender da oclusão do paciente.