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Esposa Errada

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Todos os personagens desta obra são fictícios e qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas
terá sido mera coincidência. Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados a autora.
É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra sem a autorização prévia da autora.
Copyright © Chloe Reymond, 2021
 
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Epilogo
Nota da autora
 
 
 
 
 
 
Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso
nos lábios.
Martin Luther King
 
 
 
 
 “Vez ou outra Fred encarava o fim do vestido, com a nítida impressão de que
ele subiria e a calcinha — ou a falta dela — se mostraria. Não aconteceu.”
Prólogo
 
— Que lugar é esse? — Fred aumentou o tom de voz para que o amigo escutasse. A música
estava muito alta. Um melodia desagradável aos seus ouvidos. Ele detestava música em balada.
Preferia algo com letra que pudesse ouvir sozinho ou com uma bela mulher em seus braços, de
preferência na horizontal.
— Uma boate secreta. — Guto respondeu cheio de mistério.
— Não tem nada de secreta. A placa em neon faz com que as pessoas a vejam de muito longe
— debochou.
— Me expressei mal. Quis dizer que é uma boate cheia de segredos.
Quando Fred ia zoar o amigo, uma mulher estonteante se aproximou do balcão e disse
olhando para Guto:
— Vocês foram autorizados. Me acompanhem.
A mulher era loira, com curvas nada suaves e usava um vestido preto colado ao corpo e que
mal chegava abaixo da bunda. Vez ou outra Fred encarava o fim do vestido, com a nítida impressão
de que ele subiria e a calcinha — ou a falta dela — se mostraria. Não aconteceu.
— Esse aniversário vai ser divertido — comentou enquanto seguia os dois até uma escada
que levava ao subterrâneo.
Antes de chegar no último degrau, percebeu que se tratava de uma extensão do que acontecia
na parte de cima, só que com mais glamour. A música era mais suave, com som e letras sugestivas.
A mulher os levou até uma mesa em um canto. A mesa ficava em frente a um sofá e em frente a
ela havia um poste onde poderiam assistir a uma dança sensual particular.
— Desejam algo para beber? — questionou.
— Absinto. — Guto se apressou a dizer.
Fred o olhou reprovando. Sabia bem que o motivo para ele querer beber até perder a
consciência era Samantha.
— Nem vem, amigo. É o seu aniversário e a minha fossa, então vamos entornar — disse e
virou-se para a mulher. — Traga a garrafa.
— Com licença. — Ela saiu rebolando, deixando os dois ainda discutindo sobre a bebida.
— Vou te dar um desconto só porque foi rejeitado no pedido de casamento, mas pode
esquecer se acha que vou carregar homem bêbado no meu aniversário. — Apesar de seu tom
brincalhão, Guto sabia que o amigo o entendia. Afinal, cresceram juntos e ele nunca escondeu que era
apaixonado por Samantha. E achavam que era reciproco, mas Samantha chorou, disse não e saiu
correndo quando ele preparou um jantar romântico na casa que havia comprado para viver com ela o
resto de sua vida. Foi um baque muito grande na vida de Guto. Ele passava seu tempo livre bêbado.
Ainda que mantenha suas responsabilidades profissionais em dia como advogado na empresa da
família Castro.
Alheio aos pensamentos pesarosos do amigo, Guto comentou:
— Só espera! Seu presente já está chegando. Quando o vir vai me carregar no colo.
Riram. Guto não queria acabar com a festa por causa de problemas românticos. O clima
voltou a ser de conversa sobre o ambiente.
Fred olhou ao redor analisando o lugar. Foi quando a viu. A mulher mais perfeita que já viu
na vida.
Ela vinha com a mulher que os acompanhou até o lugar e com uma outra loira muito bonita.
Mas podia haver milhões de mulheres lindas ali que nenhuma a ofuscaria.
Por um instante Fred até esqueceu onde estava. Seus olhos seguiram os passos sensuais
daquelas belas pernas bronzeadas. O micro vestido vermelho deixava pouco espaço para a
imaginação e muito para o desejo. Os cabelos longos e cacheados que chegavam quase até a bunda
eram de um castanho tão claro que alguns fios se assemelhavam a dourado. Os seios, apesar de não
serem avantajados, se destacavam por causa do decote.
Tudo isso deixava Fred sem reação, mas o sorriso dela era a arma que podia levá-lo a
cometer uma loucura. Um sorriso cheio de segundas intenções.
— Essas são Susan e Bella, elas vão fazer companhia para vocês esta noite. A Bella será
responsável pela diversão do aniversariante. — As palavras da anfitriã o trouxe de volta a realidade.
— Gostou do meu presente? — Guto disse alto.
O olhar de Fred na direção do amigo deixou claro que não teria como escolher melhor
presente.
A mulher caminhou até ele e se sentou em seu colo sem pedir permissão, a outra fez o mesmo
com Guto e passaram a servir bebida e petiscos para eles.
Depois da segunda garrafa de absinto que os quatro dividiram, eles decidiram ir para os
quartos.
Fred estava faminto por aquela mulher, mal conseguia esconder a ereção. Ele a puxou pela
cintura, beijando-a com voracidade. Queria estar dentro dela, metendo vorazmente, mas também
queria vê-la por completo.
Se afastou dela e sentou na cama, onde haviam caído durante o beijo.
— Vá até aquela parede — exigiu.
Sem nenhum pudor, ela se levantou e caminhou lenta e sensualmente até a parede.
— Estava louco para te ver por trás desde o momento em que coloquei os olhos em você.
— Só queria ver mesmo? — o provocou.
Usando o próprio corpo para pressioná-la contra a parede, Fred mordeu sua orelha.
— De jeito nenhum.
 
 
 
 “Sempre achou que ela fosse uma mulher forte, vê-la apanhando do marido
quando tinha saúde, um trabalho... toda uma chance de uma vida melhor, enchia seu coração de
revolta.”
Capítulo I
 
São Paulo, dois anos antes...
 
— Onde está? Onde está? — Bella deixou de lado a muleta para se apoiar no imenso armário
no quarto dos pais. Suas pernas engessadas atrapalhavam muito o movimento, mas ela queria
encontrar o álbum de fotografias da família para incluir sua foto com o gesso cheio de assinaturas
dos seus colegas. Como era de se esperar, sua tentativa ocasionou em uma queda que lhe arrancou
lágrimas abundantes de dor.
Na tentativa de se levantar, ela puxou a porta que acabou se fechando. Por alguns instantes,
Bella apenas ficou no chão acompanhada pelo choro silencioso, pois seu pai odiava ouvir as filhas
chorando, de tal forma que elas aprenderam a serem silenciosas em suas dores. Seu cabelos
cacheados se soltaram do coque mal feito e grudavam no seu rosto molhado.
Quando finalmente decidiu se levantar, Bella ouviu a porta sendo fechada bruscamente e a
voz grave do seu pai.
— Que merda foi aquela, Francine? De risadinhas com o vizinho? Perdão a noção?
Bella decidiu olhar por uma fresta no exato momento em que sua mãe era jogada contra o
chão.
— Nem que precise de uma surra diária, vai aprender a respeitar o homem que tem em casa.
Um urro de dor escapou da boca de Francine quando sentiu o impacto do pé dele em sua
barriga. Ele a chutou algumas vezes antes de arrancar as suas roupas e possui-la.
De dentro do armário, Bella chorava e tentava em vão não olhar pela fresta ou tapar os
ouvidos para não ouvir os lamentos da mãe ou os gemidos insanos misturados com insultos do pai.
Estava tão presa na cena macabra que continuou vendo-a mesmo depois que seu pai saiu do quarto
resmungando sobre o jantar ainda não estar pronto.
Ela estava paralisada e acabou deixando seus soluços ganharem vida, já não conseguia
controlar.
O barulho fez Francine ir até o armário e escancarar a porta. Seu coração se partiu ao ver o
estado da filha. E soube que ela no mínimo ouviu o que aconteceu, ao que foi submetida por um
ciúmessem motivo. Ao que era submetida sempre que Marcos tinha uma de suas crises de ciúmes ou
raiva.
Notando o desespero da filha, ela a abraçou.
— Está tudo bem, meu amor!
— A porta não fechava. Eu não tive culpa. — Bella tentava justificar em meio ao pranto. Se
sentia envergonhada por presenciar tal ato, se sentia irada.
— Está tudo bem. — Francine disse enquanto acariciava o rosto da filha e tirava os fios de
cabelo colocando atrás da orelha.
— Mamãe, ele a forçou, ele a machucou. Não pareceu a primeira vez. Por que a senhora
ainda está com esse monstro? — Tinha dificuldades em aceitar que sua mãe vivesse aquilo. Sempre
achou que ela fosse uma mulher forte, vê-la apanhando do marido quando tinha saúde, um trabalho...
toda uma chance de uma vida melhor, enchia seu coração de revolta.
— Ele é seu pai...
— O que o torna mais monstruoso. A senhora sabe que eu me guardei com o sonho bobo de
ser só de um homem; o meu marido. Agora vejo que nem os maridos merecem confiança.
— Seu marido vai amá-la. Eu prometo — disse temendo que a filha abandonasse o sonho de
ser esposa e mãe, sonho que tinha desde menina.
— Não vou me casar jamais. Nunca vou deixar nenhum homem me tocar. — Bella tremia. —
E nós vamos embora dessa casa porque se eu me encontrar com aquele monstro vou matá-lo com
minhas mãos.
Francine a olhou com ternura. Sua amada filha falava em defendê-la mesmo estando
amparada por duas muletas.
— Quero que me prometa que vai confiar em seu coração e amar. Não existe nada mais belo
que o amor. Prometa — pediu. Sabia que a filha seria uma mulher sozinha e amargurada se passasse
a acreditar que todos os homens eram iguais. E ela sabia bem que não era assim. Teve alguém antes
de Marcos que a amava acima de tudo, mas o câncer o levou.
— Eu prometo, mas só se a senhora prometer que vai se amar e sair dessa casa. A senhora
não precisa passar por isso, mamãe — exigiu.
— Oh, minha filha! Eu amo tanto você e sua irmã. Vou sair sim. Já estava pensando nisso, mas
primeiro vou juntar um dinheiro para não ter o perigo de precisar voltar implorando.
— Quanto tempo?
— Uns dois meses, no máximo. Já tenho um pouco. Com mais dois meses vou ter o dinheiro
das minhas férias. Não é muito, mas vai ser suficiente para nos manter em alguma cidadezinha até eu
conseguir algum emprego. — Acariciou o rosto molhado da filha em busca de passar confiança.
— E a Graça?
— Só vamos contar para ela depois que tivermos certeza de tudo. Ela é muito apegada ao pai.
Pode contar para ele e colocar tudo a perder.
— Tudo bem, mamãe. Também tenho um pouco de dinheiro que poupei na lanchonete. E vou
fazer mais trabalhos para os meus colegas de escola. Estão todos desesperados por ser o último ano.
— Você e sua irmã são meus tesouros — disse emocionada.
Se abraçaram e, depois dessa troca de carinho, Francine ajudou a filha a se colocar de pé e a
ir para o quarto que dividia com a irmã.
No dia seguinte, ao retornar da escola, Bella descobriu uma nova dor, a dor da perda. Sua
mãe havia sido atropelada por um motorista bêbado quando voltava da padaria, na mesma rua em que
ela se acidentou. Ninguém sabe quem foi, pois não foi possível anotar placa e o bairro não tinha
câmeras de segurança nas ruas. Seria só mais um crime que seria tratado como “acidente”.
Mas não para Bella, que teve o seu coração destroçado, que nunca mais poderia ouvir a voz
doce de sua mãe, que nunca mais a abraçaria novamente.
Para ela, as cores do mundo se tornaram apenas tons de cinza.
 “Faltava poucos dias para ela deixar tudo para trás e começar uma nova
vida.”
Capítulo II
 
Dias atuais
 
Bella acordou assustada. Não estava no armário. Foi apenas um sonho. Mas também não
estava longe do que mais a atormentava e sua mãe se foi para nunca mais voltar.
Ela olhou para o lado e viu que suas lágrimas molharam a foto da mãe, com a qual dormia
todas as noites. Lembrar da última conversa, do último abraço; era muito doloroso.
Sem conseguir voltar a dormir, ela se enrolou na manta e foi até a cômoda onde guardava seus
poucos pertences. Antes olhou para a cama da sua irmã e constatou que ela novamente havia saído.
Ela fazia isso quase todas as noites depois que começaram a faculdade, saia dizendo que ia estudar
com amigos e só voltava quase amanhecendo. Graça, apesar de serem idênticas fisicamente, era o
oposto de Bella. Ela andava com roupas estravagantes e ousadas, enquanto Bella cada vez mais se
escondia em roupas sóbrias e longas, pois não queria que nenhum homem a olhasse com segundas
intenções, depois que sua mãe se foi ela desistiu de cumprir a promessa de dar uma chance ao amor.
Outra diferença entre as duas era que o pai preferia Graça, descaradamente. E ela sempre foi
apegada a ele. Mas isso era algo que Bella só desejou até aquele maldito dia em que viu quem
Marcos realmente era.
Seus pensamentos e lembranças faziam seu coração doer.
Depois de sentar no chão, ela puxou a última gaveta e tirou um envelope que estava preso
com fita adesiva.
— Em breve vou sair dessa casa, mamãe — prometeu olhando a foto e as notas que tirou do
envelope.
Havia passado quase dois anos desde a morte de sua mãe. E durante esse período ela passou
longas tardes e noites trancada no quarto fazendo trabalho de colegas para ganhar um dinheiro. A
faculdade de Administração, para a qual ganhou uma bolsa integral, era repleta de pessoas
precisando desse tipo de serviço. Depois que suas pernas sararam ela também voltou para a
lanchonete para conseguir mais dinheiro, pois seu pai havia se apossado de cada centavo que sua
mãe deixou.
Ela planejou tudo direitinho para fugir logo após conseguir uma transferência da
universidade. Usou a biblioteca da escola para pesquisar as cidades onde havia campus, e escolheu
uma boa para empregos e com alugueis baratos. Por sorte o seu pai não cobrava parte do seu salário.
Podia guardar cada moeda. E ele nem desconfiava dos seus planos.
Faltava poucos dias para ela deixar tudo para trás e começar uma nova vida.
 “Estava tão obcecado que passou a desejar tê-la só para si. Imaginar que
outros homens podiam pagar e desfrutar do corpo dela o incomodava.”
Capítulo III
 
Depois da noite do seu aniversário, Fred não conseguia parar de pensar na bela mulher com
quem esteve. Se pegava lembrando a intensidade da transa e desejava repetir a dose várias vezes.
Nenhuma mulher nunca havia se mostrado para ele daquela forma. O jeito como ela se entregava ao
prazer era alucinante.
Estava tão obcecado que passou a desejar tê-la só para si. Imaginar que outros homens
podiam pagar e desfrutar do corpo dela o incomodava.
Foram vários dias tentando decidir como resolver sua paixão até que ele teve uma ideia louca
e chamou seu amigo Guto para compartilhar.
— Olá, amigo! O que surgiu que o fez me chamar com urgência? Não me diga que é sobre a
garota da boate outra vez? — Guto o cumprimentou e sentou à sua frente. Já havia recebido várias
ligações do amigo lamentando sua paixão pela garota de programa e insistindo para que voltassem ao
local, mas Guto tinha outros planos. Depois que descobriu que Samantha recusou seu pedido de
casamento por exigência do pai, que queria que ela se casasse com um sócio da empresa da família
— por questões comerciais —, eles fugiram e se casaram em Las Vegas. Tudo que ele queria era
passar o máximo de tempo com sua esposa.
Fred chamou o garçom, pediu a cerveja favorita do amigo e, depois que foram servidos,
respondeu:
— É sobre ela sim.
— Quer mesmo ir lá outra vez?
— Não. Quero que descubra com seus contatos o endereço dela ou telefone. Vou pedi-la em
casamento.
Houve longos segundos de silêncio.
— Enlouqueceu de vez! Agora vi. — Guto riu, imaginando se tratar de uma piada.
— Guto, você é o meu melhor amigo. Sabe bem que eu não estaria falando sobre isso se não
fosse sério. Se ela aceitar, me casarei com ela sem pensar duas vezes.
— Você tem noção do que isso vai significar para o seu pai? Pode ser um escândalo que pode
destruir a reputação dele de tabela.
— Ninguém precisa saber onde a conheci. Nos casaremose se alguém questionar depois
podemos muito bem dizer que essa era a profissão dela por necessidade. Ninguém se prostitui por
prazer — argumentou. Mas seu pensamento o levava aquela noite e nada o fazia crer que ela fazia
aquilo por obrigação. Em sua memória afetada pelo álcool, aquela mulher era uma deusa do sexo.
— Você nem sabe se a mulher vai querer casar com você. — Ele balançou a cabeça como se
um pensamento o incomodasse. — Vai sim. Basta ela saber que você é filho de Fernando Castro.
Cara, pensa bem, seu pai é um dos poucos políticos que prestam, não ferra com ele.
— Não vou contar para ela. Quando fizer o pedido vai ser como motorista, não filho. Posso
estar louco por aquela mulher, mas ainda quero saber dos seus princípios, pois se ela me recusar
como motorista irei apenas ir atrás de sexo pagando. — Bufou. — Eu não sou tão louco assim, Guto.
— Pelo menos acho que nessa parte você está sendo sensato. Se ela for interesseira vai te
mandar plantar batata.
— É isso que quero descobrir ao usar essa mentira. Só que de uma forma ou de outra eu
quero aquela mulher rebolando no meu pau até cansar.
Guto gargalhou.
— Vai falar com seu pai antes de qualquer coisa, né?
— Irei. Além de ser meu amigo, ele vai ser peça fundamental no que pretendo.
Continuaram falando sobre os planos de Fred até que Guto recebeu uma mensagem de
Samantha e voltou correndo para os braços da esposa.
Fred ainda ficou no bar por mais alguns minutos.
Para surpresa de Fred, seu pai foi bem mais compreensivo que Guto.
— Desde que me dê netos, não ligo para quem sua esposa era antes do casamento. As pessoas
têm direito a uma segunda chance — respondeu quando Fred perguntou o que ele achava do filho
estar apaixonado por uma mulher que conheceu em circunstâncias tão estranhas. — Quanto a sua
ideia de se passar por motorista quando for conhecê-la, devo dizer que concordo e até acho que vai
ser divertido. Até hoje as pessoas se perguntam quem é o misterioso filho do senador Castro...
— E nem imaginam que é um dos seus motoristas. — Fred completou.
Com a aprovação e a empolgação do pai, ele se animou ainda mais. Cheios de expectativas,
passaram a fazer planos sobre como abordar a garota e a família. Fernando Castro era um homem
animado, que passava carisma as pessoas. Um viúvo que tinha o filho como seu bem mais precioso.
Claro que ele pretendia investigar a vida da tal mulher que o filho se dizia apaixonado. E também
ficaria de olho, pois poderia ser apenas “fogo de palha”, não seria a primeira vez. Fred tem a mania
de se empolgar demais com os sentimentos. Na mesma rapidez que sentia muito, deixava de sentir.
”— Eu não vou casar com um motorista, mesmo que seja do senador. Soube
que ele tem um filho que ninguém nunca viu, por que não me pede para casar com ele?”
Capítulo IV
 
Fernando Castro entrou na casa de classe média curioso para conhecer a mulher que fez seu
filho se apaixonar e pedir algo tão esdrúxulo. Eles haviam combinado que Fred só entraria em cena
após o primeiro contato que ele faria.
— Boa tarde! O que posso fazer pelo senhor? — Marcos perguntou desconfiado diante do
homem que podia jurar ser o senador Castro.
— Não quero parecer presunçoso, mas o senhor sabe quem sou? — Fernando perguntou, o
que o fez ter certeza que realmente estava ao lado do senador.
Ele olhou para a entrada da casa e viu um carro popular estacionado, com dois homens
vestidos casualmente dentro dele.
— Sim. É o senador Castro — arriscou.
O homem sorriu e disse:
— Gostaria que essa visita ficasse entre nós. Posso entrar?
— Claro, senador. Desculpe. Em que posso ser útil? Aceita um café? — se atropelou nas
palavras.
— Pode me chamar de Fernando — respondeu seguindo o homem para dentro da casa. — A
conversa vai ser longa, então aceito.
— Se importa de sentar na cozinha enquanto preparo? Nossa empregada foi fazer algumas
compras.
Seguiram até a cozinha, o senador sentou e começou a contar:
— Eu vim pessoalmente aqui a pedido do meu motorista.
— Seu motorista? — levantou uma sobrancelha, intrigado.
— Sim. Nenhum daqueles lá fora. É o meu motorista particular. Filho de alguém que prezo
muito. Alguns acham estranho, mas trato meu motorista como filho e ele me confessou que está
apaixonado pela sua filha Bella. A conheceu em uma boate...
— Bella? — Marcos o interrompeu, achou estranho, mas logo se lembrou do trabalho de
Graça. Ele sabia, não tinham segredos, e aprovava suas ambições.
— Acontece que ele quer se casar com sua filha. — Fernando foi direto.
— Somos uma família pobre e o senhor disse que considera esse motorista como um filho...
— Marcos já pensava em formas de ter vantagem com essa história.
— Dinheiro não define caráter, prova disso é que o garoto trabalha como meu motorista
quando pode ter o cargo que quiser, fora da política, claro. — Riu. — Ele não tem esse tipo de
ambição. Mas de qualquer forma gostaria de ajudá-los financeiramente. Se não o ofender, gostaria de
oferecê-lo quinhentos mil para ajudar na festa e no que for necessário para sua filha nesse início de
uma nova vida.
Marcos até sentiu tontura ao ouvir o valor oferecido.
Engolindo em seco e se controlando para não demonstrar o quanto aquele dinheiro lhe
interessava, ele se virou para o senador:
— Sugiro que o seu motorista fale diretamente com a minha filha. Sua atitude em falar por ele
é bastante louvável, mas acho que em questões de sentimentos só podemos aconselhar, os jovens que
decidem. E por falar nisso, ainda nem sei o nome dele.
— Falha minha. — Riu sem muita vontade, sentia a ambição emanar do homem a sua frente.
Esperava que com a filha fosse diferente. — O nome dele é Frederico. E sobre o que falou, é
exatamente por isso que fiz essa visita. Gostaria que conversasse com sua filha e a aconselhasse. Da
minha parte garanto que ela terá uma vida confortável, pois nunca faltará emprego para o Frederico.
Não prometo luxo, mas sempre haverá comida na mesa.
— Conversarei com ela.
Com a promessa de que conversaria com a filha, Marcos começou a fazer perguntas sobre o
motorista e responder perguntas sobre sua família. Ele estava adorando a oportunidade e estaria
disposto a qualquer coisa para garantir uma amizade com alguém tão poderoso.
Ficaram quase uma hora conversando. Até que o senador olhou o relógio e anunciou que
precisava partir para uma reunião inadiável.
Marcos o levou até a porta e se despediram com a promessa que em breve se reencontrariam.
— Eu não vou casar com um motorista, mesmo que seja do senador. Soube que ele tem um
filho que ninguém nunca viu, por que não me pede para casar com ele? — Graça chegou em casa
depois de uma manhã no shopping e revoltou quando ouviu parte da proposta do seu pai.
— É mesmo. Soube que tem até bolão de quem adivinha coisas sobre o rapaz. Tem aposta
para idade, nome, e um monte de coisas. Pois eu acho que ele usa isso é para chamar a atenção dos
eleitores. Não caio nessa de que não quer que o filho se envolva com política. Se é tão ruim, por que
se envolveu?
— Não estou nem ai para o que passa na cabeça desse velho. Não vou casar com um
motorista...
— Nem por quinhentos mil para os gastos com o casamento? — disse com um sorriso cínico.
Ela o havia interrompido antes que pudesse mencionar o dinheiro.
— Quinhentos mil? Uau!
Assim que ela terminou de dizer “uau”, Bella entrou na casa ao lado da empregada. As duas
carregavam sacolas com alimentos para a semana.
Elas só disseram “boa tarde” e foram para a cozinha.
— Por que tanto dinheiro? Quantos casamentos ele quer pagar?
— O homem era bilionário muito antes de se tornar senador, acha mesmo que essa quantia faz
alguma diferença para alguém assim?
— Realmente. Que inveja!
— Nem fale.
— Eu lembro desse rapaz na boate, um gato, mas nem foi ele que pagou a conta naquela noite,
foi o amigo. Parece que era seu aniversário, se não me engano — disse forçando a memória.
— Então, o que acha disso tudo?
Depois de alguns segundos em silêncio, ela se levantou de repente.
— Pai, acabo de ter uma ideia que vai nos privilegiar muito.— Sorriu de canto, animada
com seu pensamento.
— Adoro essa expressão. Sempre vem ideia boa.
— O tal motorista quer casar com uma Bella. Acho que podemos ficar com o dinheiro e dar
outra noiva. O que acha?
Ele nem precisou de maiores explicações para saber que ela pretendia passar a perna na
irmã.
— E se ele descobrir? Pensei que essa seria uma oportunidade de nos aproximar de pessoas
do nível do senador.
— Independente da consideração, o cara é só um motorista. Não aparece nos almoços de
domingo, nem entra nos lugares onde leva o senador e sua família. Esses quinhentos mil vão acabar
comprando uma casinha de merda, pagando o casamento e indo para uma poupança para filhos. —
Fez uma careta ao dizer filhos.
— Acho que tem razão. É melhor pegarmos esse dinheiro. Com ele vamos poder comparecer
a muitas festas da alta sociedade e você pode conquistar alguém do nível do presidente. — Riram
com o pensamento ambicioso. — E de quebra mandamos sua irmã para o motorista. Desde que sua
mãe morreu mal consigo olhar na cara dessa ... — não conseguiu completar.
— Com isso entendo que o senhor concorda.
— Concordo, mas vamos dar um jeito desses quinhentos mil virar um milhão.
Os dois riram. E começaram a planejar que ele iria dizer que a filha tem vergonha do trabalho
e que acha que ele não sabe. Iriam pedir para o tal motorista fingir que viu a Bella em uma visita à
casa e que se apaixonou. Era um plano confuso e complicado, mas fariam tudo pelos 500 mil que
poderia virar um milhão.
 “Por um instante se imaginou na cama com as duas. Era um pensamento
permitido, afinal ainda não estava casado.”
Capítulo V
 
— Como foi, pai? — Fred estava esperando na porta da mansão.
— Nada fora do comum. Falei sobre as intenções e sobre o dinheiro e ele disse que
conversaria com a filha e entraria em contato.
— O senhor a viu?
— Não. Ela não estava em casa. Passamos alguns momentos exaltando as qualidades dos
nossos filhos. — Sorriu e segurou o filho pelos ombros, o conduzindo para dentro da residência. —
Ela tem uma irmã gêmea, sabia disso?
— Não. Gêmea idêntica? — perguntou surpreso com a descoberta.
— Foi o que ele disse. Se tudo der certo, em breve irá conhecer sua cunhada.
— Uau! Não esperava. — Se empolgou ao imaginar duas mulheres igualmente lindas.
Por um instante se imaginou na cama com as duas. Era um pensamento permitido, afinal
ainda não estava casado.
— Fique para o jantar. Vou te contar tudo que descobri sobre sua Bella.
— Vou ficar por dois motivos. Primeiro porque estou muito curioso. Segundo porque a
lasanha está com um cheiro delicioso.
— Que filho ingrato! Devia ficar pela companhia do seu pai.
— Isso também, Vossa Excelência — brincou fazendo uma reverência exagerada.
Depois de uma conversa por telefone, onde Marcos fez de tudo para ser convidado a casa do
senador, ele estava parado no portão, esperando ser atendido.
Enquanto o mordomo o conduzia até a sala na mansão, ele observava tudo ao redor imaginando
como poderia fazer para ter tudo aquilo para si.
— Bem vindo, Marcos! Vou levá-lo até o quarto do Fred para que possam se conhecer. —
Ele fez um gesto com as mãos indicando o caminho, e Marcos se irritou por não ser recebido na sala
como um convidado comum. Ficou claro para ele que o tal Fred tinha a consideração do senador,
mas não era tratado como da família.
O que o senador chamava de quarto do motorista era algo parecido com uma quitinete. Havia
um espaço com mesa e cadeira, um pequeno sofá e uma cama, depois de um balcão havia uma
cozinha com fogão, geladeira, e um pequeno armário sobre a pia.
— Fred, trouxe o senhor Marcos para conversarem.
— É um prazer conhecê-lo. Sente-se, por favor. — Fred pediu indicando o sofá.
Depois dos cumprimentos, Marcos disse:
— Como disse ao senhor senador, eu precisava vir até aqui antes do seu encontro com minha
filha.
— Algum problema?
— Acredito que não. Só um favor que preciso.
— Diga, se estiver ao meu alcance.
— Eu sei que a boate em que o senhor conheceu a minha filha não é um lugar só para beber e
dançar... — passou as mãos nos cabelos, realmente nervoso, por temer que seu plano desse errado.
— Ela acha que não sei, mas uma vez a ouvi conversando com a irmã e soube de tudo. Quase perdi a
cabeça e a coloquei contra a parede, mas meu amigo é psicólogo e me aconselhou a mostrar a ela que
não precisa daquilo para cuidar da família. — Fred e seu pai ouviam atentamente. — Ele me
confidenciou que ela o havia procurado para consultas e que o que faz é consequência do trauma de
perder sua mãe. Parece que se sente no dever de cuidar da família, custe o que custar.
— Entendo.
— Ele quebrou a regra de confiança porque sabia que não me contar poderia ser pior.
— E qual seria o favor?
— Ela com certeza deve fingir que não te conhece. Se não for pedir demais gostaria que
entrasse no jogo, que mostrasse que se interessou por ela e que pretende cuidar dela.
Mesmo incomodado com a proposta, Fred decidiu aceitar. Não sabia como estava o coração
da garota, saber pelo que ela passava era um indicio de que precisava conhecê-la em todos os
aspectos.
— Tudo bem! Se ela realmente não quiser falar sobre o passado agora, eu espero.
— Ela é uma boa moça, vocês vão ver. — Se levantou. — Preciso voltar para casa, só
precisava falar isso com vocês pessoalmente. Espero que tudo der certo entre vocês porque acho que
também é um bom rapaz. Por tudo que o senador me contou, minha filha terá sorte de se apaixonar
por alguém tão responsável.
— Agradeço por suas palavras. Saiba que farei de tudo para que ela seja feliz.
— A gente fica falando como se ela já tivesse aceitado. — Marcos riu. — Enfim, aguardo
vocês para conversarem com a Bella.
— Nos aguarde. — Fernando quem respondeu.
Marcos saiu da mansão com a certeza que fez a escolha certa ao decidir ficar com o dinheiro
e entregar a mulher errada. Para ele Graça tinha potencial para conseguir um marido rico. O lugar
onde o motorista vivia mostrava que ele nunca seria mais que isso, mesmo sendo querido pelo
patrão.
Ele não tinha certeza se Bella aceitaria, porém estava disposto a qualquer coisa.
“É melhor que aceite, filha querida!”
 
”— Parece um sonho estranho. Como pode alguém desconhecido para mim
vir até a minha casa me pedir em casamento?”
Capítulo VI
 
Dias depois
 
— Nana, encontrei um bom lugar. Vou embora na próxima semana. — Bella anunciou
animada.
— Ah, minha menina, vou sentir tanto a sua falta. Promete que virá me visitar sempre? —
Nana, que cuidava dela e da irmã desde que nasceram e depois se tornou empregada na casa, pediu
com uma expressão triste.
— Claro! — colocou as sacolas do supermercado no chão e a abraçou. — Depois que mamãe
se foi só tenho você.
— Apesar de serem como são, seu pai e sua irmã são sua família.
— Não, Nana. Ela pode ser igual a mim, mas só na aparência. Ela nunca gostou de mim.
Sempre afastava quem queria ser meu amigo. Você sabe de todas as vezes em que ela fingiu ser eu
para me prejudicar. Tudo gratuitamente. Faz tempo que desisti de tentar conquistar algum carinho. E
aquele homem só foi um doador de esperma. Ele não é meu pai.
Os olhos de Bella se encheram de lágrimas com as lembranças da mãe sendo violentada pelo
próprio marido.
— Perdão. Não pense mais nisso. Vamos para casa que quero aproveitar ao máximo a sua
presença.
— Vamos! — pegou as sacolas. — Também quero aproveitar porque provavelmente vão ser
raros os momentos em que vamos cozinhar juntas.
— A senhorita não pode viver de lanches — aconselhou séria.
— Vou tentar.
Falando sobre o futuro, Bella e Nana andaram os poucos quarteirões até sua casa.
Quando entraram, ela encontrou a casa com visitas.
Ela e Nana olharam o senhor distinto e o belo rapaz em uma roupa descontraída. Por um
instante ela reparou no rapaz; alto, com um físico bem definido que era realçado pela roupa, lábios
finos que pareciam lhe sorrir de canto e olhos negros dos quais ela teve dificuldade de desviar. O
homem mais velho era grisalho, um pouco mais baixo e tinha olhos castanhos que expressavambondade. Eles não se pareciam muito, só mesmo o sorriso em sua direção que a fez questionar se
havia algum grau de parentesco.
Espantando os pensamentos, ela olhou para todos e desejou bom dia. Graça não estava.
Apenas Marcos e suas visitas.
Como orientado, Fred fingiu que era a primeira vez que ela o via.
— Bella, esses senhores vieram vê-la.
— A mim? — encarou os homens tentando recordar se os vira anteriormente. Um medo se
apossou do seu peito ao pensar que poderia ser alguém da faculdade para avisar sobre a
transferência, que seus planos foram descobertos.
— Podemos conversar em particular? — Fred pediu se levantando. Ao vê-la a achou mais
tímida. Talvez fosse o ambiente. Ainda assim ele se excitou ao lembrar daquela noite.
Bella abriu a boca para questionar, mas seu pai foi mais rápido.
— Prefiro que conversem aqui. — Marcos segurou a mão do rapaz. — Sente-se, Bella. —
Ele temia deixar os dois sozinhos nesse primeiro momento e ela estragar todo o seu plano.
Confusa, Bella se sentou. Nana ficou em um canto observando tudo com curiosidade e
disfarçadamente.
— Por que querem conversar comigo? — perguntou olhando diretamente para Fred.
Analisava o quanto ele era belo, o homem mais belo que já virá. Ele estava com uma camisa branca e
jeans, a camisa moldava seus músculos definidos enquanto a calça também moldavam suas pernas.
Apesar disso o que mais a deixava admirada eram os olhos tão escuros como duas jaboticabas
maduras e os lábios vermelhos demais como se ele tivesse acabado de mordê-los. Instintivamente,
Bella mordeu o lábio inferior, conduzindo o olhar de Fred para aquele ato.
“Deus, como quero beijá-la.” Ele pensou antes de se esforçar para espantar os pensamentos e
responder:
— Sei que é muito repentino, mas vi a senhorita na saída do seu curso de administração
alguns dias atrás e não consigo esquecê-la...
— O que quer dizer? — ela o interrompeu, sem acreditar no que ouvia.
— Eu gostaria de pedi-la em casamento.
— O que? — Bella levantou abruptamente, pensou não ter ouvido direito.
— Desculpe o meu jeito intempestivo. Sei que o normal seria eu cortejá-la e depois me
declarar, mas nada do que sinto me parece comum, então decidi me jogar sem medo.
Bella via sinceridade no olhar daquele rapaz, só que nunca quis se casar, muito menos com
um homem desconhecido.
— Olha, eu...
— Pense com carinho na minha proposta. Prometo que serei o melhor marido que existe. E no
início você pode levar sua família para morar com a gente para que se sinta segura. Apesar da minha
proposta, eu não sou muito maluco. — Sorriu para amenizar o clima.
Bella passou as mãos nos cabelos que estavam soltos, incomodada. Sentia como se estivesse
vivendo um sonho estranho.
— Talvez realmente seja melhor que conversem sozinhos. Essa cena está parecendo quando
os pais arranjavam casamento para as filhas antigamente. — Ver como Fred olhava para sua filha fez
Marcos ter certeza que ele insistiria até conseguir um sim. — Podem conversar com mais
tranquilidade no jardim nos fundos.
— Pai, eu... — Tão confusa estava que esqueceu de chamá-lo de senhor, como fazia desde
que descobriu sua verdadeira face.
— Minha filha, escute o rapaz. Não custa nada.
Experiente em conquistas, Fred segurou a mão de Bella suavemente.
— Prometo te trazer sã e salva. — Sorriu de um jeito sedutor.
Desacostumada a ficar tão perto de um homem, ela se deixou levar até o tronco que usavam
como banco no pequeno jardim que sempre foi a paixão de Francine.
— Você deve estar confusa com tudo isso. — Fred começou. Ele queria mesmo que ela
confessasse que lembrava dele e de como se conheceram. Achava essa mentira algo ridículo, mas
temia que forçá-la a confessar fosse um tiro no pé, que ela se recusasse e ainda o dispensasse.
— Parece um sonho estranho. Como pode alguém desconhecido para mim vir até a minha
casa me pedir em casamento?
— Eu te devo desculpas. Depois que comecei a falar foi que percebi a loucura, mas agora
não quero mais desistir. — Segurou a mão dela e a fez encará-lo. — Não me acha nem um pouco
“bom partido”?
— O problema é que nem nos conhecemos. E eu nunca pensei em me casar. O meu futuro
seria estudar e trabalhar. Talvez ter alguns gatos. — Sorriu com o pensamento dos seus planos para o
futuro.
— Não quer casar? Ter filhos?
— Acho que isso não é para mim — confessou.
— Pois discordo. Me dê um mês. Vamos conversar, nos conhecer do jeito certo e depois faço
o pedido novamente, o que acha? Pode me dar essa chance?
Bella o encarou. Se sentia estranha perto dele. Era como se seu corpo estivesse adormecido e
acordasse desesperado para viver tudo do que ela o privou.
Recordou sua mãe dizendo: “Quero que me prometa que vai confiar em seu coração e amar.
Não existe nada mais belo que o amor. Prometa.”
“Talvez eu deva realmente dar uma chance ao amor. O marido de Nana é o melhor homem do
mundo. Se ele podia ser bom significava que outros também poderiam.” E com esse pensamento, foi
embora toda a sua convicção de que nunca entregaria o seu coração.
— Tudo bem, podemos tentar.
Depois que Bella foi até o jardim com Fred, e Nana aproveitou para guardar as compras, o
senador comentou:
— Acho que vamos ter um casamento em breve. Assim que sua filha confirmar a data vou
providenciar o cheque para que possam fazer uma bela festa.
Marcos viu a chance e aproveitou para pedir mais dinheiro.
— Senhor senador, vou ser muito sincero. Por causa da morte da minha mulher eu fiz muitas
dívidas. Por isso não negarei sua oferta.
O senador o encarou por alguns instantes. Duvidava muito que ele fosse sincero, mas
ponderou e decidiu que o homem poderia por fim a felicidade do seu filho, por isso precisava ser
cauteloso.
— De quanto é essa dívida? — perguntou. Precisava saber até onde ia a ambição do pai de
sua nora.
— Mais do que posso pagar mesmo trabalhando como louco por anos. — Balançou a cabeça
simulando estar envergonhado com a revelação. — O senhor não precisa se preocupar. Só queria ser
sincero com quem o seu amigo irá se casar.
— Fred é um rapaz humilde que não liga para bens materiais. Claro que busca ter uma vida
confortável, mas é só. E se sua filha não tiver ambições muito maiores, creio que serão felizes.
— Fico feliz em saber. Não quero que no futuro eles se desentendam por minha causa.
— Com mais quinhentos mil você resolve essas dívidas? — sabia que o homem só queria
mais dinheiro, decidiu dar corda. Tinha esperança que a filha não fosse tão ambiciosa quanto o pai.
Mas ainda assim usaria o disfarce do filho para saber.
Marcos já tinha tudo planejado para provar suas falsas dividas. Começou a relatar tudo. E
quando Bella e Fred retornaram do jardim ele já tinha conseguido a promessa do senador de ver o
que poderia fazer.
Os jovens se despediram dizendo que em breve voltariam a se ver.
Mesmo sem vontade alguma de conversar com o pai, Bella sentou com ele e ouviu toda a
história sobre o motorista do senador e seu pedido de casamento. Só que na sua história não havia
500 mil, muito menos um milhão.
 “A mente de Bella estava nublada demais. A consciência tentava acordá-la
dizendo que cederia mais que o primeiro beijo se continuasse tão entregue.”
 
Capítulo VII
 
— Você ficou abalada, não foi? — Nana perguntou assim que teve a chance de ficar sozinha
com Bella.
— Confesso que ele mexeu comigo, Nana. Pareceu tão sincero. E é tão lindo! — cobriu o
rosto com as mãos, envergonhada pelos pensamentos que teve sobre a vida de casados com ele.
— Também achei. — Nana comentou depois de balançar a cabeça negando por causa do
gesto da sua protegida. — Quando ele estava falando lembrei do que sua mãe disse sobre o homem
que estava destinado a te fazer feliz.
— Quando ele estava falando eu me imaginei em uma casinha de cerca branca com flores no
jardim e com ele ao meu lado. Me sinto uma tola.
— Não deixe o medo te parar. E saiba que se precisar irei com você nessa sua casinha de
cerca branca e flores no jardim. Se não for em outra cidade, claro. Meu marido me mata.
— Obrigada, Nana!
Naquela mesma noite, Fredvisitou seu melhor amigo.
— E ai, cara, como foi? — Guto perguntou assim que Samantha pediu licença para continuar
sua pintura. Desde que casou, ela retomou seu sonho de expor suas pinturas que o pai a obrigava a
ver apenas como passatempo.
— Um teatro só. Mas confesso que gostei desse lado menina tímida da Bella.
— Então ela teve mesmo coragem de fingir que não te conhecia? Uau!
— Talvez realmente nem lembre. Você tem consciência que bebemos além da conta naquele
dia. Nem todo mundo é alcoólatra como nós.
Fred riu. Estava muito animado com tudo.
— Verdade. Absinto é muito forte.
— De qualquer forma, ela aceitou nos conhecermos. Vamos ver no que dá.
— Você é o cara mais maluco que já conheci.
— Pois vamos ver aonde a minha loucura me leva dessa vez.
No dia seguinte, Fred enviou uma dúzia de rosas azuis para Bella. Com um bilhete: Já sinto
sua falta. Aceita um cinema comigo?
No bilhete tinha o número do celular dele, para o qual ela mandou sua resposta.
As flores são lindas. Obrigada! Aceito.
Por mensagens, combinaram um horário e um filme de comedia romântica que estava em
cartaz no próximo sábado.
Bella esperou ansiosa e animada. Seria o seu primeiro encontro.
No sábado ela se arrumou com cuidado para não exagerar na empolgação. Colocou um
vestido floral com saia rodada na altura do joelho, deixou os cabelos soltos e colocou um pouco de
maquiagem.
Logo Fred chegou em um carro popular que ele comprou de segunda mão alguns anos atrás,
para o seu papel de motorista, que executava muito antes de Bella aparecer em sua vida, como um
disfarce para acompanhar seu pai e saber o que as pessoas falavam por suas costas. Ele novamente
usava jeans e uma camiseta, só que dessa vez era preta.
— Você está linda! — elogiou assim que ela veio ao seu encontro no portão.
— Obrigada! Você também.
Como resposta ele piscou para ela e abriu a porta do carro para que entrasse.
— Desculpe por não poder te levar a restaurantes chiques. Sou apenas um motorista, mas se
você me der uma chance prometo fazê-la feliz.
— Não me importo com essas coisas. Na verdade, eu me sentiria perdida em um restaurante
chique. Mas eu sou quase canibal então é melhor me levar em churrascarias pelo menos uma vez por
mês — comentou sorrindo. Estava realmente feliz em dar essa chance a ele.
— Bom saber que terei companhia nos rodízios. Quero ver se consegue me acompanhar.
— Garanto que vai se arrepender. — Bella se sentia leve perto dele, era como se não fosse
apenas um desconhecido.
Conversando sobre carne, eles seguiram até o cinema.
Depois de comprar pipoca e os ingressos, e Fred insistir para pagar tudo, foram para a fila e
entraram na sala.
Nenhum dos dois prestava muita atenção no filme. Bella estava tensa com o braço de Fred ao
redor do seu pescoço enquanto ele somava se seria ousadia demais uns amassos no cinema lotado.
— Pensei que estaria mais vazio. Parece que as pessoas curtem mesmo comedia romântica —
comentou enquanto enrolava o cabelo dela na ponta dos dedos.
— Verdade. — Foi a única coisa que conseguiu pensar para responder. O simples toque dele
em seu cabelo a afetava muito.
Ao fim do filme, eles deram uma volta pelo shopping e seguiram para o carro.
Minutos depois estacionaram na frente da casa dela.
— Boa noite, Fred! — disse tirando o cinto de segurança.
— Não mereço um beijo de despedida? — ele segurou o seu braço impedindo o movimento.
Bella olhou para os lábios dele, a poucos centímetros do seu. Queria muito beijá-lo. “Será
que faria direito? Devo contar que nunca beijei alguém?” Esse era o seu pensamento.
Mulher, você tem quase vinte anos, coragem!
Antes que o medo do fracasso impedisse a tentativa, ela levou a mão ao rosto dele e
acariciou.
Fred segurou sua mão e aproximou seus rostos, até que seus lábios se tocaram causando uma
explosão de sensações para ambos. Bella nunca imaginou que um beijo poderia ser tão perfeito,
muito menos que seu corpo todos se acenderia, que sua pele ardesse para fazer parte do toque intimo
como seus lábios. E Fred se perguntava se foi assim que se sentiu naquela noite. Ele sabia do prazer,
da obsessão, mas talvez o álcool tenha apagado a ternura, o desejo de proteção misturado com a
loucura de a querer conectada ao seu corpo, gemendo, gritando pelo seu nome.
Suas mãos foram parar na cintura de Bella, apertando-a contra si o máximo que conseguia no
espaço limitado do carro. Seus lábios desceram pelo pescoço dela, um gemido escapou dos lábios
feminino, como uma permissão para que continuasse. Sem parar de espalhar beijos por sua pele, ele
desceu uma alça do vestido e passou a beijar o ombro.
Uma mão foi parar entre as pernas dela, e com o polegar começou a massagear por cima da
calcinha.
A mente de Bella estava nublada demais. A consciência tentava acordá-la dizendo que
cederia mais que o primeiro beijo se continuasse tão entregue.
 No exato momento em que a mão dele insinuou para dentro da sua calcinha, um carro passou
buzinando com alguns jovens bêbados.
— Vamos para algum lugar mais reservado. — Fred sugeriu com voz rouca.
— É melhor eu entrar. Isso foi rápido demais. — Bella colocou o seu vestido no lugar.
— Rápido demais? Foi só um beijo. — Ele estava excitado demais para continuar fingindo
que não sabia quem ela era. — Não precisa agir como uma virgem assustada, não vou te julgar. Tudo
que quero é fodê-la a noite toda. A gente já pode treinar como vai ser acordarmos juntos.
Eu sou a porra de uma virgem assustada!
Bella se afastou em direção a porta. E tentou abri-la.
— Destrava, por favor.
— Bella, calma. Está agindo como se eu fosse forçá-la a algo quando meu toque deixou sua
calcinha encharcada. Você quer tanto quanto eu. É bobagem negar.
— Apenas me deixa ir, por favor. — Bella começou a ficar apavorada. Sabia que estava
exagerando... Mas e se ele me forçar? Ele pode me levar para qualquer lugar e fazer o que quiser
comigo, não sei nada sobre ele.
Frustrado com a rejeição, Fred destravou a porta e ela saiu como um furacão, correndo para
dentro da casa.
De pau duro, ele socou o volante e segurou a vontade de ir atrás de Bella e exigir que parasse
de fingir.
Estava ligando o carro para ir embora antes de fazer uma loucura, quando seu celular
anunciou uma mensagem dela.
Fred, desculpe se me mostrei infantil. Eu realmente gostei de beijá-la e sei que não
pararia nisso. Mas ainda não estou pronta. A gente não se conhece direito, espero um dia poder
contar as minhas dores e ouvir as suas. Boa noite! Não desista de mim.
Qual será o problema dela? Por que se prostitui? Por que é tão desinibida com seus
clientes e acanhada com alguém que a quer como esposa? Com esses pensamentos ele se foi. Só
respondeu a mensagem quando estava na sua casa, que ao contrário do que Marcos pensava, era uma
mansão no mesmo bairro que a de seu pai.
Bella só foi dormir depois que recebeu a resposta de Fred.
Não se desculpe. Esperarei o seu tempo. Só não brigue comigo se em alguns momentos
cair na tentação. Te desejo demais, porém isso não diminui meu respeito. Boa noite!
Ele não é como o seu pai, idiota.
Bella dormiu com esse pensamento. E sorrindo pela travessura no carro. Sim, ela gostou
muito e queria mais.
”— Não ligo de termos nos conhecido daquela forma. Eu mal me lembro o
que aconteceu naquela noite. Depois que a conheci de verdade tudo aquilo foi ofuscado, como se
fosse apenas uma porta por onde passei para conhecer uma mulher incrível.”
 
Capítulo VIII
 
O mês estava quase no fim e Fred estava mais apaixonado do que jamais supôs. A obsessão
pela noite da boate sumiu por completo diante de tudo que conhecia de Bella. Ela ainda não havia
mencionado o primeiro encontro, mas isso não importava mais para ele. Era essa a Bella que deseja
ter ao seu lado. A deliciosa mistura de timidez e luxúria que o deixava louco.
Durante o tempo em que passaram juntos eles conversaram bastante, Bella contou sobre seus
sonhos, medos, desejos, contou que a irmã, que havia literalmente sumido do mapa, e ela não eram
tão unidas como ela queria. Assim como eracom o pai. Bella era mais apegada a mãe que morreu e a
empregada Nana. Contou sobre o quanto trabalhava para ter sua própria vida, sem contar que era uma
fuga da casa onde passava tempo demais lembrando dos bons momentos com sua mãe e sentindo
saudade.
Ele por fim entendeu que esse devia ser o motivo para ela se vender, sem contar que estudava
através de bolsa que não cobria todos os gastos.
— Você vai continuar trabalhando tanto assim depois que estabilizar e se formar?
— Não. Um salário que pague minha alimentação e moradia, e algum lazer de vez em quando,
porque não sou de ferro, é mais que suficiente. — Ela sorriu um pouco envergonhada. — Nem todos
os meus trabalhos são, digamos, “decentes”. — Fez aspas com os dedos. — Foi a primeira coisa que
parei de fazer. Se você não tivesse aparecido eu já estaria em uma pequena cidade, cuidando da
minha vidinha — brincou.
— Que bom que apareci.
Satisfeito por saber que ela não se vendia mais e por ter começado a se abrir sobre o
passado, Fred também contou sobre sua vida e seus sonhos, sem comprometer seu disfarce. Menos de
um mês foi o suficiente para ele saber que ela não era ambiciosa. E ele estava disposto a fazer uma
surpresa quando a levasse para sua casa como sua esposa.
— Sabe, Fred, eu acho que já te amo. Esse pouco tempo em que estivemos nos conhecendo
foram suficientes para te enraizar em meu coração. — Bella segurou sua mão. E Fred a levou aos
lábios beijando suavemente.
— Eu também te amo — disse depois de um beijo. Ele sentia que em algum momento
enquanto se conheciam, a obsessão virou amor.
A emoção do momento levou a outro e outro beijo, quando se deram conta já estavam jogados
no sofá da casa de Bella, com roupas fora do lugar e excitados.
— É melhor pararmos. Meu pai pode chegar a qualquer momento e seria péssimo sermos
pegos nos pegando no sofá. — Bella falou com dificuldade.
Fred respirou fundo no seu pescoço. A falta de sexo o estava deixando maluco, então decidiu
que era hora de chamar seu pai para uma conversa definitiva, pois Bella já havia confessado que o
amava, que ele havia roubado o seu coração logo nos primeiros dias, então não fazia mais sentido
esperar.
— Vou enlouquecer de desejo por você — disse se afastando relutante.
— Quais são as novidades? — Fernando perguntou ao filho.
— Providenciei tudo para o casamento no civil. Como quero que fazer surpresa com a
revelação de quem sou, deixaremos a festa para depois.
— Perfeito. E o pai dela? Ele quando me vê só fala em suas dívidas. — Revirou os olhos
para a lembrança de seus poucos encontros com Marcos.
— Dê a ele os 500 mil e que se der por satisfeito. Bella não se importa com dinheiro. Na
verdade nunca falou de dividas ou sobre o que queria fazer com os quinhentos mil. Se bem que
também me esqueci de comentar.
— Ela me parece uma ótima garota. Você fez muito bem em não se deixar levar por
preconceitos.
— Não ligo de termos nos conhecido daquela forma. Eu mal me lembro o que aconteceu
naquela noite. Depois que a conheci de verdade tudo aquilo foi ofuscado, como se fosse apenas uma
porta por onde passei para conhecer uma mulher incrível.
— Está mesmo apaixonado, hein!
— Queria que a mamãe estivesse aqui. Que pudesse conhecer a Bella. — Suspirou com
saudades.
— Ela o está vendo e torcendo pela sua felicidade. — Fernando levantou e tocou o ombro de
seu filho. — Precisamos de um joguinho para comemorar esse seu passo importante. Que tal perder
para o seu pai?
— Que tal perder para o seu filho? — se levantou pronto para uma partida de basquete.
 “Depois de dizer sim e se tornar marido de uma mulher com a qual mal
conviveu um mês, Fred começou a duvidar se estava fazendo a coisa certa.”
Capítulo IX
 
Para Bella o casamento no cartório parecia uma festa. Tinha gente demais. O senador, seu pai,
um amigo de Fred chamado Guto com sua esposa, e ela. Fred que havia dado a ideia de fazerem a
festa depois e se casarem no civil primeiro. Como estava cada dia mais dificil para ela resistir aos
encantos do namorado, ela aceitou, assim seria mais rápido e conseguiria se guardar até estarem
casados, como no sonho tolo de menina que havia enterrado junto com o corpo de sua mãe.
Para a ocasião, ela fez um penteado prendendo parcilmente os cabelos e usava um vestido
longo, branco, de renda e com mangas longas, que comprou com parte do dinheiro que havia juntado,
afinal, não precisaria mais fugir.
Depois que os procedimentos terminaram, o casal recebeu os cumprimentos e se despediram
de todos. Era hora de irem para casa como marido e mulher.
Bella não conhecia a casa onde moraria, mas não se importava. Poderia ser um barraco que
seria feliz se Fred continuasse demonstrando tanto carinho e consideração.
Sim, era um casamento quase às cegas, mas nenhum dos dois se arrependia, pois se amavam.
Pelo menos Bella se sentia assim. Já Fred...
Depois de dizer sim e se tornar marido de uma mulher com a qual mal conviveu um mês, Fred
começou a duvidar se estava fazendo a coisa certa. Começou a duvidar do que sentia por Bella. Se
casou às cegas quando deveria ter buscado saber mais.
O que eu fiz? Se perguntava.
Bella, olhava pela janela do carro em silêncio, estava nervosa com o que viria. Confiava nos
seus sentimentos e no amor do homem ao seu lado, ainda assim se perguntava se seria uma boa
esposa, se adaptaria a vida de casado quando nem sequer conhecia onde moraria.
— Esse é o caminho certo? — se virou para Fred ao perceber que a maioria das casas pelas
quais passavam eram mansões.
— Aham! — respondeu sem olhar para ela, mesmo parado no sinal. Bella percebeu a frieza
nessa simples palavras, mas preferiu acreditar que ele estava cansado. Preferiu não se assustar,
talvez ele estivesse incomodado por morar nos fundos da casa do patrão ou algo assim. Ela continuou
olhando os belos cenários pela janela.
Passaram pelo imenso portão de uma mansão imponente.
Bella não se importou, até que o carro estacionou na entrada da casa principal.
— Desça. — Ele indicou e saiu do carro rapidamente. Bella o obedeceu e parou na sua frente
sem saber para onde ir. — Eu vou te perguntar uma única vez e espero que seja sincera... — A
segurou pelos ombros fazendo com que o encarasse.
Ele estava tomado pelo arrependimento, mas ainda sentia amor por ela, e estaria disposto a
engolir o medo e seguir adiante se ela confessasse.
Ela olhou assustada para as mãos que seguravam seus ombros, e ele a soltou.
— Está me deixando nervosa com todo esse suspense e essa expressão, pergunte.
— Qual era o tal trabalho vergonhoso que você fazia?
— Ah! — suspirou aliviada. — Você me assustou. Eu fazia trabalhos acadêmicos para outros
alunos, cheguei até a fazer provas para alguns quando não havia a presença de professores que nos
diferenciava. Está preocupado com isso por que? Já disse que parei.
— Bella, tem certeza que é essa sua resposta? — insistiu.
— Qual mais seria? — Ela tentou segurar o seu braço, mas ele se afastou. — Fred, qual o
problema?
— Eu te dei uma chance, lembre-se disso. — Ele mal terminou de falar e virou as costas para
ela, entrando na casa.
Dividida entre o nervosismo e a ansiedade, ela o seguiu. Não fazia ideia do que faziam ali ou
o que significava suas palavras. Rezava intimamente para que sua mãe tivesse razão. Para que o
homem que lhe foi destinado pudesse ajudá-la a desabrochar e esquecer as terríveis imagens que a
perseguiam, que ele não fosse apenas mais uma mágoa para carregar.
A casa era imensa, eles entraram em uma sala onde havia sofás confortáveis e um bar. Para
sua surpresa, Fred passou por ela, foi direto para o bar e começou a se servir de rum.
— Quantos dias podemos ficar nessa casa? Vamos passar a lua de mel aqui? — tentava
entender situação.
— Quantos dias eu quiser. Essa casa é minha — respondeu brusco.
— Como? — Bella olhou ao redor, se perguntando como poderia ser.
— Não sabia mesmo que eu era o filho do senador, não é? Claro, se soubesse estaríamos
casados há tempos e no mínimo estaria grávida para não perder a chance de dinheiro fácil. — Cuspiuas palavras com raiva.
— Fred, você está me assustando e confundindo.
— Eu não estou com cabeça para discutir agora. Por favor, me deixe sozinho.
Percebendo que não teriam uma conversa saudável naquele momento, ela desistiu.
— Gostaria de me trocar. Pode me dizer onde é o quarto?
— Você vai ficar no quarto de hóspedes. Vou mandar um empregado te levar lá.
— Quarto de hóspedes?
— Sim. Algum problema?
— Tem algum problema com o nosso quarto? Você vai ficar no de hóspedes também? — Se
sentia cada vez mais confusa.
— Quantas perguntas irritantes! Vamos lá; eu vou dormir no meu quarto. E não vamos transar.
Vai ter que acalmar sua boceta sozinha. — Estava irado por ela inventar uma história de ganhar
dinheiro fazendo trabalhos acadêmicos. Sentia-se feito de idiota.
Bella colocou as duas mãos na boca ao ouvi-lo. Não que fosse um tipo de puritana que não
falava boceta ou pau, apenas sabia quando o contexto era para ofender, e foi assim que o tom dele
soou. O homem a sua frente não parecia o mesmo que foi até sua casa dizer ao seu pai que queria se
casar com ela.
— Fiz algo errado? — tentou ignorar a palavra chula que ele usou.
— Se casou comigo.
Sem maiores explicações, ele pegou a garrafa e sumiu atrás de uma porta que dava na área da
piscina. Deixou para trás uma confusa e boquiaberta Bella.
Fred passou a noite inteira bebendo e se perguntando o que valia mais, o amor que sentia por
aquela mulher ou a sensação ruim que era estar com alguém tão dissimulado.
Ela deve ser profissional, só pode. Ou não mentiria tão bem. Resmungava em pensamento.
Sentia-se traido, deu uma chance e ela escolheu continuar mentindo, isso expandiu ainda mais
o sentimento de erro que nasceu depois do “sim”.
 
 “Foi quando Bella teve certeza que precisava provar para ele que não era o
monstro que ele imaginava. Era isso ou desistir de vez da pessoa que tinha o seu coração inteiro para
si.”
Capítulo X
 
No dia seguinte Bella desceu para o café da manhã sem saber o que a aguardava. Em sua
mente planejava esclarecer tudo com Fred. Tinha algo errado e ela precisava saber o que era para
resolver.
Ele não estava à mesa. Ela se sentou e começou a se alimentar com o que os empregados
serviram. Não tinha fome, mas precisava de força para entender a mudança brusca na atitude do
marido.
Quando Fred chegou e se sentou sem sequer dizer bom dia, ela não suportou.
— O que está acontecendo? Eu fiz algo errado?
Ele passou as mãos nos cabelos antes de responder:
— Mal consigo olhar para você. Pode, por favor, não comer na minha frente? Você me faz
perder o apetite — disse sem olhá-la. Sentia vergonha por estar casado com alguém que conheceu em
uma noite paga. Não era antiquado e julgava esse tipo de coisa, mas se culpava por ser precipitado e
isso se agravava por ela não dizer a verdade. Afinal, era o que fazia pensar que havia muito mais que
escondia. Talvez seu pai não fosse o único ambicioso e ela já tivesse descoberto sua identidade antes
de se casarem. Pensar nisso o corroía.
Bella estava levando um pedaço de bolo a boca, mas ao ouvir as palavras dele ela deixou
cair no prato e depois de olhá-lo como se o visse pela primeira vez, saiu correndo e se trancou no
quarto onde ficou por mais de vinte e quatro horas.
É isso. Realmente os homens são todos cruéis. — Foram seus pensamentos enquanto chorava
sozinha no quarto de hóspedes da casa do seu marido.
Só quando não aguentava mais de sede desceu até a cozinha. Era mais de meio dia do dia
seguinte.
Ela espiou para ver se Fred estava antes de entrar e o que viu a deixou surpresa e feliz.
— Nana? — perguntou ao ver a mulher preparando algumas guloseimas em uma bandeja.
A mulher abriu os braços e esperou ela correr para abraçá-la.
— Oh, Nana! Senti tanto a sua falta. — As lágrimas já desciam livremente.
— Oh, minha criança! Vejo que aconteceu o que eu previa. — Nana acariciou os seus cabelos
com carinho.
— Nana, o Frederico me odeia e nem me diz o que fiz de errado. Eu estou com medo, com
raiva. Será que fui tão errada assim em aceitar me casar com ele. Eu só queria uma chance de me
sentir amada, de me sentir mulher — desabafou.
— Calma, venha sentar-se e comer um pouco. Perguntei ao seu marido quando cheguei e ele
disse que você ficou no quarto e não comeu nada. Só vamos conversar quando tiver comido tudo que
preparei.
— É muita coisa. — Bella olhou a bandeja onde havia uma mistura de café da manhã, jantar e
almoço.
— Sem negociações. — Nana insistiu colocando as mãos na cintura, exatamente como fazia
quando ela era uma garotinha.
Bella sentou e começou a comer as torradas e beber o suco de laranja.
— Você ainda me trata como se eu fosse uma menina de cinco anos.
— Você será sempre a minha garotinha.
— Ainda bem que tenho você, Nana. Depois que mamãe se foi você foi meu porto seguro.
Obrigada por me amar tanto quanto te amo.
Nana sorriu. Amava demais a mulher a sua frente.
— Você falou algo sobre ter previsto que algo ruim aconteceria? — Bella recordou.
— Infelizmente eu sei porque seu marido está agindo como um canalha.
Bella a encarou esperando a revelação.
— Seu pai praticamente vendeu você. O senador deu a ele quinhentos mil. O cheque era para
o casamento, mas acredito que o senador queria mesmo era testar a honestidade da mulher que se
casaria com seu filho ou teria deixado o cheque com o seu marido, pois seu pai não tem nada a ver
com a organização do casamento. O senhor Frederico deve achar que você se vendeu.
— Meu Deus! Como você soube disso? — Bella sentiu como se o chão estivesse se abrindo
sob seus pés. Esperava qualquer coisa do seu pai, só não previa que algo assim pudesse acontecer.
Claro que se o senador deu tanto dinheiro e fingiu que seu filho era um simples motorista foi
para testá-los... e o monstro do meu pai me fez cair na armadilha sem sequer ter culpa.
— Fui até a sua casa e quando cheguei lá, Graça e o seu pai estavam fazendo as malas para
uma viagem. A porta estava aberta e eles não me ouviram. Estavam se gabando de como venderam
você para um motorista.
— Um motorista? Então eles não sabem que Fred é rico.
— Se soubessem tenho certeza que sua irmã teria dado um jeitinho de pegar o seu lugar. —
Nana sorriu maldosa. Ao menos isso a deixava feliz, saber que eles enganaram sua protegida, mas
acabaram se dando mal.
— É bem a cara dela. Eu vou até lá. Eles precisam devolver esse dinheiro. — Bella levantou
indignada.
— Sabia que diria isso. A minha menina corajosa e bondosa como sempre.
— Vamos agora! No caminho pensamos em uma forma de obrigá-los a devolver o dinheiro. E
a senhora me conta como me encontrou se nem eu sabia que estava vindo para essa casa.
Saíram rapidamente e, enquanto esperavam um táxi, Nana contou:
— O senhor Frederico que foi atrás de mim e me pediu para trabalhar como sua assistente.
Pela conversa que ouvi, eu já sabia quem ele era então imaginei que estivesse precisando de mim.
— Ele disse por que foi buscá-la?
— Não. Foi bastante frio, mas sou uma mulher vivida. Ele não me engana. Está magoado e
com raiva por você não ter devolvido o dinheiro ou pelo menos dado uma explicação de como ou
porque o usou. Deve achar que não o ama de verdade.
— Mas eu o amo. Nesse momento queria não o amar tanto — lamentou.
— Exatamente algo assim que ele deve estar sentindo; acho que raiva por te amar. Só que não
consegue se afastar ou te ferir, por isso me trouxe.
— A vida seria mais simples se eu tivesse seguido meus planos?
Antes que Nana respondesse a sua pergunta retórica, o taxi chegou e elas seguiram em
silêncio.
Depois de alguns minutos chegaram na casa de Marcos.
A porta estava trancada, mas Bella ainda tinha uma cópia da chave.
— Já viajaram. — Nana comentou após vasculharem a casa.
Desesperada, Bella pegou o celular e ligou para o pai.
— Alô! — Marcos atendeu depois do segundo toque.
— Onde o senhor está? Precisamos conversar.
— Estou no aeroporto. Estamos saindo de férias. Pensei em te ligar para despedir, mas não
quis atrapalhar a sua lua de mel — respondeu cinicamente.
— Você realmenteme vendeu? — perguntou ainda que soubesse a resposta. A angustia em seu
peito a deixava fraca. Precisou se apoiar na parede.
— Que exagero! O rapaz queria casar com você e você quis, o fato de eu ganhar algo com
isso não muda nada.
— Mas ele acha que eu me vendi. — Ela estava chorando novamente. — E o dinheiro era
para o casamento. O senhor mentiu. Isso é roubo.
— Se ele acha que se vendeu já é problema seu. Olha, já está casada, então não preciso mais
te suportar. Não me ligue mais.
Sem esperar uma resposta, ele desligou.
Bella caiu de joelhos, em prantos. Não conseguia acreditar que estava passando por isso.
— Nana, eu estou perdida. Como vou fazer Fred acreditar que não me vendi? Ele vai
acreditar que minha própria família roubou de mim?
— Calma, minha menina, vamos resolver isso. Tenha fé. — Nana a abraçou e ficaram longos
minutos no chão da sala.
Elas voltaram para a casa de Fred e Bella se deitou, mentalmente exausta demais para pensar
em como resolver sua situação com o marido. Só acordou quando Nana a chamou para comer algo e
se despedir, alegando que voltaria no dia seguinte. O motorista a levaria e buscaria todos os dias.
Depois que Nana foi embora, Bella passou um longo tempo pensando e decidiu conversar
com Fred. Era a única coisa que poderia fazer, não conseguiu pensar em nenhuma solução
mirabolante e não pretendia deixar que o amor dele fosse cada dia mais ofuscado pela mágoa.
Esperou até tarde da noite.
Assim que ele passou pela porta, a viu quase dormindo no sofá da sala.
— Boa noite, esposa! Me esperando? — disse com sarcasmo, se sentou ao lado dela e
começou a desabotoar o terno.
Incomodada com o cheiro de bebida, ela se afastou um pouco.
— Eu queria conversar com você, mas posso esperar até amanhã. — Se levantou. Conversar
com um homem bêbado também não resolveria nada.
Levado pela leve embriaguez, ele a puxou de volta, fazendo com que caísse sentada em seu
colo.
— Só vou conseguir olhar para você se estiver bêbado, então aproveite a chance — disse
antes de começar a distribuir beijos pelo seu pescoço e ombros.
Mesmo embriagado, seu toque foi o suficiente para despertá-la para o desejo. Já não pensava
com clareza quando disse:
— Eu queria que você soubesse que eu nunca soube que meu pai recebeu dinheiro por mim.
— Você se apaixonou por mim à primeira vista e quis casar? — debochou afastando para
encará-la. — Não me chame de idiota.
— Eu me apaixonei pelas suas palavras, pelos seus beijos, pelos momentos que tivemos. Sei
que devia ter pedido um tempo maior para nos conhecermos, mas eu quis arriscar. Você me pareceu
tão sincero. Mexeu comigo.
— Não se faça de sonsa. Sei bem o tipo de vadia que você é. — Levantou bruscamente
ocasionando na queda de Bella de bunda no chão.
— Pode não usar termos tão vulgares? — disse sem se importar em levantar.
— Posso, mas não quero. Você deve estar acostumada com isso.
— Olha, eu não pedi ao seu chefe...
Ele a interrompeu bufando e dizendo:
— Ele é meu pai, não meu chefe. Para de agir como sonsa, por favor. Acha mesmo que um
patrão ia dar meio milhão para um motorista ter uma mulher?
— Independente de quem ele seja, se quiser o divórcio não vou me opor.
Fred riu alto assustando-a.
— Divórcio? — Estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, causando uma fagulha de
esperança no coração de Bella. Apenas uma fagulha que se apagou quando a mão dele afastou seus
cabelos do rosto e o polegar brincou com seus lábios, tudo isso a excitaria se não fosse o olhar frio
como gelo. — Sabe quando vou me divorciar de você? — sussurrou no ouvido dela. — Só depois
que me pagar o que meu pai gastou. Seja em dinheiro ou com o corpo.
Ela se afastou bruscamente fazendo ele rir.
— É ridículo a forma como age como se não estivesse acostumada a se vender.
— Eu...
Ele levantou a mão a interrompendo.
— Não vai começar hoje. Por enquanto tenho tanto nojo de você que não consigo sequer ...
Ele não completou. Deu as costas para ela e seguiu para o quarto em silêncio.
Foi quando Bella teve certeza que precisava provar para ele que não era o monstro que ele
imaginava. Era isso ou desistir de vez da pessoa que tinha o seu coração inteiro para si.
 “Fernando ficou encarando o envelope por um longo tempo e pensando em
tudo que ouviu. Ele não pretendia esconder aquilo do filho por muito tempo.”
Capítulo XI
 
Depois do pequeno confronto embriagado, Fred se distanciava cada vez mais da casa, sempre
chegava tarde e bêbado.
Queria desabafar com seu amigo Guto ou com seu pai, mas tinha vergonha de confessar o erro
pelo qual implorou a ajuda deles.
Bella não o perturbava mais, como ela não tinha desistido do curso, voltou as aulas e
procurou seus clientes para voltar com os trabalhos acadêmicos. Agora tinha outra meta: pagar o
dinheiro que seu pai roubou. Talvez depois que se formasse fosse necessário trabalhar de graça na
empresa deles para continuar pagando, mas para ela o importante era que precisava de um começo.
Sem que Fred soubesse, ela conseguiu o endereço do senador e foi parar na porta dele.
— Aconteceu alguma coisa com meu filho? — ele perguntou cheio de preocupação logo que
ela entrou em sua sala, que era muito parecida com a de Fred. Olhando bem, ela notou que os dois
homens eram bem parecidos, se fosse mais esperta teria notado. Não no físico, mas o sorriso era
idêntico, o jeito de reagir a certas situações.
— Eu queria falar com o senhor. Frederico não sabe que estou aqui.
— Pois não, sente-se. Posso ajudá-la? Precisa de algo?
— Eu descobri, logo após o casamento, que o senhor ofereceu dinheiro ao meu pai...
— Foi para a festa... — ele começou a interrompê-la, mas ela o cortou.
— Não. Foi para algum tipo de teste, ou não teriam inventado aquela história de motorista.
— Eu não quis ofendê-la. Só que precisávamos de uma garantia. As circunstâncias em que
meu filho te conheceu...
— Foi ele que foi até a minha casa, eu nunca o procurei... Mas isso não vem ao caso. E nem
se me ofendi ou não. — Ela novamente o cortou, abriu a bolsa, tirou um envelope cheio de dinheiro e
colocou sobre a mesa de centro. — O que tem aqui é bem pouco. É só um sinal de que vou pagar
cada centavo nem que leve até o último dia da minha vida.
— Se quer me devolver o dinheiro por que... Ah, seu pai mencionou que tinha dividas. —
Pretendia perguntar por que não devolvia tudo de uma vez, mas recordou o que Marcos disse.
— Não tem nada a ver com as dividas dele. Já sou maior de idade. Faz tempo que deixei de
precisar dos meus pais para decidirem algo por mim.
— A senhora está sendo grosseira. — Apesar de suas palavras, Fernando estava gostando da
situação.
— Não foi minha intenção. Sinto muito. Só queria mesmo que o senhor soubesse que eu não
me vendi.
Ele abriu a boca para falar, mas ela o interrompeu mais uma vez.
— Talvez esteja pensando que vou devolver esse dinheiro porque estou casada com o seu
filho que é rico, não pense. Eu me vestia antes de conhecê-lo, eu me alimentava e tinha um teto. Se
ele ainda quiser continuar comigo não quero mais nada dele, além disso.
— Você não deveria estar dizendo essas coisas a ele?
— Irei. — Ela se levantou, incomodada com tudo. — Posso ser nova, mas sei como o ser
humano é orgulhoso. Ele nunca aceitaria essa micharia como entrada, certamente pensaria que é
algum tipo de chantagem feminina. — Riu sem graça. — A minha história com ele só irá se resolver
quando ele acreditar em mim sem provas ou testemunhas... ou sempre haverá um mal-entendido entre
nós.
— Entendo. — Fernando estava impressionado com a coragem e ousadia da mulher a sua
frente. Ou ela era muito honesta ou muito dissimulada. Ele estava inclinado a acreditar na primeira
opção.
— Se não for pedir demais, gostaria que essa conversa ficasse entre nós e que o senhor aceite
os meus pagamentos mensais. Pelo que entendi, o dinheiro era do senhor.
— Sim, mas não preciso que me pague.
— Mas eu preciso pagar. Caso contrário nunca mais conseguirei olhar para o senhor ou Fred
sem me sentir um objeto comprado ou uma interesseira. — Uma lágrima silenciosadesceu pelo rosto
dela.
— Está bem. — Ele se levantou e segurou a mão dela. — Não precisa ficar tão estressada,
filha. Deixe o passado no passado. — Talvez tudo isso seja por vergonha do que ela fazia. Pensou.
— Vou te passar o meu número particular e você pode me ligar sempre que quiser me pagar. E
também sempre que precisar de algo, mesmo que seja desabafar. — Enxugou a outra lágrima que ela
deixou escapar. — Agora você é como uma filha para mim. E fiquei muito orgulhoso de como
enfrentou essa situação.
Bella fez um esforço imenso para não se entregar ao pranto. Sabia que tinha ofendido aquele
senhor e ainda assim ele a tratava como o pai que ela sempre desejou, a elogiando e se colocando à
disposição para cuidar dela.
Ela pegou o número e se foi.
Fernando ficou encarando o envelope por um longo tempo e pensando em tudo que ouviu. Ele
não pretendia esconder aquilo do filho por muito tempo. Como precisava seguir em viagem com
alguns membros do partido para ajudarem uma cidade atingida por uma forte seca, deixaria para
resolver isso quando voltasse, de acordo com a situação que encontrasse.
Bella voltou para casa um pouco mais animada. Sabia que era um pequeno passo e que
poderia não fazer diferença nenhuma para Fred, mas aliviou seu coração. Estava certa que
conseguiria um bom emprego ao se formar e em alguns anos pagaria tudo, mesmo que esse emprego
fosse na empresa dele, descontando a dívida do seu salário.
Naquela noite, ela encontrou Fred sóbrio quando desceu para jantar. A lembrança do primeiro
café da manhã levou embora sua fome e ela voltou para o quarto depois de dizer que estava sem
apetite.
— Sua patroa desistiu do casamento? — ele perguntou para Nana, sua voz saiu debochada.
— Nem um jantar comigo aguenta mais.
— A menina me disse que o senhor tem nojo de olhar para ela quando está comendo. — Nana
respondeu sem se abalar. Sabia bem que intrometer em briga de casal não era nada bom, mas cada
dia que passava e via sua menina triste fazia com que ela tomasse partido. Foi muito errado o que
fizeram com Fred, porém Bella era a menos culpada, e Nana sentia que gritaria isso em breve.
Ele colocou a colher que levava a boca sobre o prato inacabado. Perdera totalmente a fome.
Na hora da raiva disse tantas coisas das quais se arrependia, e essa era uma da lista das mais
abomináveis.
— Nana, pode ir. O motorista deve estar te esperando.
— Sim senhor. Boa noite!
— Boa noite!
Ela se foi. E Fred ficou olhando para o nada até decidir levantar e dar uma trégua em seus
ataques.
— Você sabia quem ela era quando se casou, imbecil. Por que agora te incomoda que ela não
seja a mulher gentil e “quase canibal” com a qual passou um tempo? Por que agora te incomoda ela
ser a mesma que Guto pagou para você comer? — resmungava sozinho. Até que bateu com o punho
fechado na mesa. — Porra! O que está acontecendo comigo? Por que não consigo ficar com ela nem
deixá-la ir?
Antes que pudesse ter qualquer resposta para as suas perguntas, foi até a cozinha e preparou
um prato meio desajeitado para Bella. Não havia mais empregados na casa, além dos seguranças,
todos foram dispensados depois que o jantar foi servido.
— Bella? — chamou ao parar na porta do quarto dela.
Não houve resposta. Ele chamou mais duas vezes antes de decidir entrar sem permissão.
Bella estava jogada na cama, abraçada a um travesseiro. Ele se aproximou e colocou o prato
sobre a mesa de cabeceira. Estava prestes a sair, mas o sentimento que massacrava seu peito foi mais
forte e ele se aproximou da cama, sentando-se.
— Eu te culpo pela minha dor e de quebra te faço chorar. Belo marido que me tornei! —
sussurrou tocando levemente o rosto dela.
Bella não acordou com o toque suave. Então ele se arriscou e beijou seus lábios devagar. Foi
o bastante para que ela despertasse e se afastasse.
— Por que está aqui? — perguntou, usando o travesseiro como um escudo na frente do seu
corpo.
— Trouxe seu jantar — disse e se levantou.
— E o que significa esse gesto?
— Apenas que não quero que morra de fome.
— Fred, o que eu preciso fazer para que acredite que o meu amor é sincero? — perguntou em
um lamento.
— Prove.
Ele subiu na cama e puxou o travesseiro da frente do corpo dela.
— Prove me beijando. — A beijou ao mesmo tempo em que a deitava e a cobria com o seu
corpo. Bella correspondeu ao beijo faminta, cheia de saudades. Suas mãos foram parar dentro da
camisa dele, sentindo sua pele, desejando-o por completo.
Fred desceu os beijos e, sem aviso, levantou a blusa que ela usava expondo os seios que
estavam sem a proteção de um sutiã.
Bella se assustou com o gesto repentino, mas ele segurou suas mãos.
— Me prove com o seu corpo — disse vidrado nos seios dela e desceu a cabeça até um deles
abocanhando, sugando de um jeito que Bella foi arremessada em uma onda de prazer delirante. E não
havia mais nada que a convencesse a ir contra o desejo que a consumia. Deixou que Fred se
deliciasse com seus seios, ora feroz, ora suave, sempre dando atenção a um com a boca e ao outro
com a mão, provocando o bico intumescido.
Quando mordiscava, Bella gemia alto e cravava as unhas em suas costas.
— Me faça sua! — pediu quando uma das mãos dele se insinuou para dentro da calcinha dela.
Fred se afastou bruscamente. A deixando confusa.
— Eu não posso.
Envergonhada, Bella cobriu os seios com a blusa.
— Fred, o que você está fazendo? Nenhum de nós é feliz assim. Se não me quer por que se
casou comigo? Por que tudo isso?
— Eu não sei. — Sem dizer mais nada, ele saiu do quarto. E Bella voltou a abraçar o
travesseiro e chorar.
Dormiu com o pensamento de que no dia seguinte teriam uma conversa definitiva e aceitaria a
oferta de morar com Nana até se estabelecer.
— Mãe, eu tentei. Juro que tentei. A senhora estava errada. O meu marido não me ama —
murmurou e dormiu.
— Mas que porra de indecisão é essa? — Fred gritou para o seu quarto vazio.
Eu me casei com ela sabendo quem era, mesmo que ela nunca fosse sincera. Mas depois
daqueles dias juntos, como namorados, algo mudou. Ele queria que ela fosse a mulher que
interpretava e saber que não era o atormentava. Era preciso colocar um fim em tudo antes que virasse
uma bola de neve.
Nos dias que se passaram ele voltou a só chegar em casa bêbado, e em alguns dias nem
chegava.
Estava decidido a se divorciar.
 “Por que ela aceitou o dinheiro e nunca mencionou o que fez com ele?”
Capítulo XII
 
Os dias passavam e a atitude de Fred não mudava. Ele constantemente chegava tarde e
embriagado. Apesar de ter tomado uma decisão, ainda relutava em segui-la.
Nana continuava a trabalhar na casa ajudando os empregados. Há alguns anos já havia se
aposentado, mas o carinho que sentia por Bella a impedia de deixá-la, primeiro porque sabia que ela
não teria amor na casa do pai, agora porque a viu se consumir de tristeza na casa do marido.
Fred não era o único que passava a maior parte do tempo longe da casa. Bella também
passava grande parte do seu tempo “livre” na biblioteca da faculdade pesquisando e fazendo os
trabalhos de colegas de curso e de alguns outros cursos que tinha afinidade com as matérias.
Nana queria ficar perto da sua protegida. Fred nem se importou. Não fazia questão de nada
que envolvesse Bella. Queria simplesmente arrancá-la do seu coração para poder seguir em frente.
Ele não conseguia conciliar o desejo físico e de proteção que sentia pela esposa e o nojo que também
sentia por ela ao lembrar de onde a conheceu e em no quanto ela exigiu para casarem.
Por que ela aceitou o dinheiro e nunca mencionou o que fez com ele? Essa pergunta o
perseguia.
Nesses dias que se passaram, foi contratado um jardineiro que pediu emprego na casa
alegando que perdera tudo e estava sem o que comer com uma mulher e filha pequena. Bella se
compadeceu dele e a governanta decidiu contratá-lo, pois exatamente naquele momento o jardineiro
da casa havia pedido um afastamento por motivos de saúde.
O homem se chamava John, era alto, musculoso, moreno e tinha olhos negros astutos e
penetrantes. Ele passava os dias

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