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Fichamento - aula 28 de junho

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Fichamento de Formação Econômica e Social do Brasil
 FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. 34.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, cap. 24 (O problema da mão de obra: a eliminação do trabalho escravo).
 Nesse capítulo o autor discorre sobre o problema da mão-de-obra , trabalho servil e finalmente a abolição da escravatura - como a abolição da escravatura se refletiu no problema da mão de obra brasileira - quais os desdobramentos da abolição e suas consequências econômicas e sociais - como a antiga escravidão se refletiu na vida dos descendentes pós abolição...
 Logo no primeiro parágrafo o autor já coloca o problema da mão-de-obra como o mais importante, dizendo assim: “Já observamos que, na segunda metade do século xix, não obstante a permanente expansão do setor de subsistência, a inadequada oferta de mão-de-obra constitui o problema central da economia brasileira.”
 Dito isto, como vimos o problema da mão de obra foi resolvido nas duas regiões em rápida expansão econômica - o planalto paulista e a bacia amazônica... Agora vamos tratar de outro aspecto deste problema: a "questão do trabalho servil" ou o fim da escravidão. Mesmo no século XX, muitos ainda viam os escravos como “riqueza” considerando que abolição da escravatura provocaria o empobrecimento do setor responsável pela criação de riqueza no país. Pelo contrário, outros acreditavam que a abolição traria uma “liberação” de vultuosos capitais, antes gastos com os escravos - capitais antes imobilizados nestes ou gastos com sua comercialização.
    Dito isto, igual a uma reforma agrária, a abolição da escravatura é, apenas “uma redistribuição da propriedade dentro de uma coletividade” - a propriedade da força de trabalho deixa de ser um ativo ao passar do senhor de escravos para o indivíduo. Do ponto de vista econômico, a abolição acarretaria modificações na forma de organização da produção, no grau de utilização dos fatores, na distribuição da renda e na utilização final dessa renda. 
O autor analisa dois cenários diferentes ligados à abolição da escravatura:
 - Primeiro: não há disponibilidade de terras para os escravos ou chance de emigração, com a abolição limitando-se a “uma transformação formal dos escravos em assalariados”, não provocando quaisquer modificações na organização da produção ou na distribuição da renda - como o ocorrido em algumas ilhas das Antilhas inglesas, onde os ex-escravos passaram a receber um salário monetário fixado pelo nível de subsistência que refletia as condições de vida destes enquanto escravos.
 - Segundo: a oferta de terra é totalmente elástica, provocando enormes modificações na estrutura de produção, redução no grau de utilização dos fatores e na rentabilidade do sistema, com os ex-escravos abandonando as antigas plantações e passando a dedicarem-se à agricultura de subsistência. Ou, ainda nesse cenário, os empresários ofertariam salários suficientemente altos para reter os antigos empresários como assalariados, ocasionando “uma redistribuição da renda em favor da mão de obra” 
      No Brasil, “a região açucareira aproximou-se mais do primeiro caso e a cafeeira mais do segundo”.  Na região nordestina, na época da abolição, já havia se dado a ocupação praticamente total das terras de utilização agrícola mais fácil. Assim, os escravos que eram liberados e saíam dos engenhos encontravam grandes dificuldades para sobreviver. Nas regiões urbanas já havia um excedente populacional que se tornara um problema social desde o começo do século. No interior a economia de subsistência já se expandira por onde fosse possível, se alastrando até às terras semi-áridas do agreste e da caatinga. Tais barreiras limitavam a mobilidade dos ex-escravos, que partiam de engenho para engenho, com apenas poucos tendo saído da região. Dito isto, não foi difícil atrair e fixar os ex-escravos mediante um salário relativamente baixo.
       As inovações técnicas da indústria açucareira por “uma lei autorizando o governo imperial a dar garantia de juros a capitais estrangeiros invertidos na indústria açucareira até o montante de 3 milhões de libras” , antes da abolição, e a dificuldade de exportação - devido à libertação política de Cuba que possibilitou enormes vantagens ao comércio desta com os EUA - fizeram reduzir a procura por mão-de-obra. Assim, não houve modificações significativas na distribuição de renda ou sobre a utilização dos recursos com a contração da oferta, provocada pela abolição. Na região cafeeira, nas zonas que tinham por base o trabalho escravo - nas províncias que hoje constituem os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e, em pequena escala, em São Paulo - houve rápida destruição da fertilidade das terras ocupadas na primeira expansão do café - nas regiões montanhosas erodíveis - e com “a possibilidade de utilização de terras a maior distância com a introdução da estrada de ferro”, tais zonas já se encontravam em situação desfavorável, para tal cultivo antes da abolição. Assim, se esperaria que ao proclamar-se a abolição, ocorresse migração de mão-de-obra em direção às novas regiões em rápida expansão, que podiam pagar salários mais altos. Porém, essa foi a mesma época do grande fluxo de imigração europeia para São Paulo.
        Em questão das “vantagens que apresentava o trabalhador europeu com respeito ao ex-escravo”, a situação destes foi muito mais favorável do que na região açucareira nordestina. A grande quantidade de terras permitia ao escravo poder viver de subsistência. A dispersão, no entanto, foi menor do que a esperada, provavelmente por motivos de caráter social. Devido a tais condições favoráveis aos ex-escravos, para reter a força de trabalho, foi necessário oferecer salários maiores. Desta forma, tudo indica que a abolição na região cafeeira provocou uma efetiva redistribuição de renda em favor da mão-de-obra.
      Porém, segundo o autor, como o escravo normalmente não respondia a estímulos econômicos - ele via o trabalho como maldição e o ócio como bem inalcançável -, a elevação do salário acima de suas necessidades determinou uma preferência pelo ócio. Dessa forma, reduziu-se o grau de utilização da força de trabalho. Segundo o autor, esse problema se deve aos aspectos sociais da forma de vida à qual o escravo estava submetido antes da abolição - sem o conceito enraizado de família ou acumulação de riqueza, acostumado a viver no nível de subsistência - , e acabará por provocar a sua segregação parcial, “retardando sua assimilação e entorpecendo o desenvolvimento econômico do país”  Assim, durante toda a primeira metade do século XX, os descendentes dos ex-escravos continuarão vivendo dentro de “seu limitado sistema de ‘necessidades', cabendo-lhe um papel puramente passivo nas transformações econômicas do país”.
 Concluindo, a escravidão, segundo o autor, tinha um caráter mais político do que econômico, diz ele que: “A escravidão tinha mais importância como base de um sistema regional de poder do que como forma de organização de produção”.  Abolida a escravidão, de um ponto de vista amplo, praticamente em nenhum lugar houve significativa mudança na forma de organização da produção e na distribuição de renda, alterando-se apenas o sistema regional de poder formado na época colonial e cuja perpetuação “constituía um fator de entorpecimento do desenvolvimento econômico do país”

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