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1 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 1 RENOVAÇÃO, REGENERAÇÃO E REPARO DOS TECIDOS Lesão Celular: Qualquer insulto que cause destruição tecidual, colocando em movimento uma série de eventos e iniciando o processo de cura. Regeneração: Restituição completa do tecido perdido ou lesado, com proliferação de células e tecidos para a substituição dessas estruturas. Tecido hematopoiético e epitélio da pele e TGI. Crescimento compensatório hepático. Reparo/Cicatrização: Repara estruturas originais, mas pode causar desarranjos estruturais, sendo uma combinação de regeneração e formação de cicatriz pela deposição de colágeno. Aterosclerose: causa disfunção tecidual A formação de cicatriz constitui o processo dominante de reparo quando a Matriz Extracelular é danificada por uma lesão, tendo em vista que ela possui componentes essenciais para a cura de feridas e para permitir a migração celular. Uma inflamação crônica também pode acarretar na formação de cicatriz pela deposição do colágeno após a resposta inflamatória. FIBROSE: Extensa deposição de colágeno. PROLIFERAÇÃO CELULAR O tamanho das populações celulares é determinado pelas taxas de proliferação celular, diferenciação e morte por apoptose. A proliferação celular pode ser estimulada tanto por condições fisiológicas (endométrio estimulado pelo estrogênio no ciclo menstrual) ou por condições patológicas (hiperplasia prostática) e seu controle se dá por sinais do microambiente que fazem a estimulação ou inibição. 2 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 2 Os tecidos do organismo são divididos em: 1. Tecidos Lábeis: Estão em divisão contínua, as células se proliferam por toda a vida, substituindo aquelas que são destruídas. Epitélios superficiais, mucosas de ductos excretores, epitélio do TGI e útero, vias urinárias, tecido hematopoiético e medula óssea. 2. Tecidos Estáveis ou Quiescentes: Baixo nível de replicação, porém as células podem sofrer rápida divisão em resposta a estímulos, sendo capazes de reconstituir o tecido de origem. Parênquima do rim, fígado e pâncreas, fibroblastos e músculo liso, endotélio vascular, leucócitos. 3. Tecidos Permanentes: São tecidos com células que não se dividem em qualquer circunstância, pois deixaram o ciclo celular. Neurônios e células musculares cardíacas e esqueléticas. CÉLULAS-TRONCO: São caracterizadas por suas propriedades de autorrenovação e por sua capacidade de gerar linhagens celulares diferenciadas. Nos estágios iniciais do desenvolvimento embrionário, são chamadas de Células Tronco Embrionárias (Células ES) e são células pluripotentes, com capacidade de gerar todos os tecidos do corpo. Essas células pluripotentes originam as células multipotentes que produzem as células diferenciadas dos três folhetos embrionários. As Células Tronco Somáticas, entretanto, possuem uma capacidade mais restrita de gerar diferentes tipos celulares e residem em nichos (microambientes especiais que geram/transmitem estímulos que regulam a autorrenovação da célula-tronco e a geração de células progenitoras), sendo os principais exemplos as células-tronco presentes na pele, intestino, fígado e córnea. Regulação da Replicação Celular A replicação das células é estimulada por fatores de crescimento ou por sinalização dos componentes da MEC, através das integrinas. Para possibilitar a replicação, a célula precisa antes adentrar ao Ciclo Celular (células quiescentes que ainda não entraram no ciclo celular ficam estagnadas em G0). Esse ciclo apresenta inúmeros controles e redundâncias que são os pontos de controle. Quando a célula passa para G1, o ciclo tem início e, ao final deste, ocorre a replicação celular. Para a replicação ocorrer, é necessário: 1. Estímulo 2. Fatores de Crescimento + Receptores para esses fatores 3. Sinalização 4. Transdução de sinais 5. Transcrição de genes reguladores A proliferação de muitos tipos celulares é orientada por polipeptídeos conhecidos como Fatores de Crescimento (múltiplos ou restritos alvos celulares). Esses fatores se 3 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 3 ligam a Receptores Específicos que liberam sinais para a célula-alvo, estimulando a transcrição gênica e promovendo a entrada ou progressão do ciclo celular. Exemplos são EGF (fator de crescimento epidérmico), TGFα (fator de crescimento transformador), HGF (fator de crescimento do hepatócito), PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas), VEGF (fator de crescimento endotelial vascular), FGF (fator de crescimento dos fibroblastos), TGFβ (fator de crescimento transformador) e Citocinas (TNF, IL-1 e IL- 6, mediadores da inflamação). Após a ativação do receptor de membrana, inicia-se a transdução de sinal e uma cascata de eventos que levam à expressão de genes específicos. Existem três modos principais de sinalização: Autócrina (as células respondem a moléculas de sinalização que elas próprias secretam – regeneração hepática, proliferação de linfócitos e células tumorais), Parácrina (uma célula produz o ligante que age em células-alvo adjacentes, geralmente próximas – reparo do tecido conjuntivo, regeneração hepática e desenvolvimento embrionário) e Endócrina (por hormônios que se dissipam pela corrente sanguínea e afetam células distantes – citocinas durante a inflamação). Os receptores de membrana que recebem e identificam os sinais podem ser classificados em três grupos principais: • Com atividade intrínseca de tirosina-cinase (cascata de moléculas efetoras) • Sem atividade intrínseca de tirosina-cinase (receptor transmite sinais que diretamente ativam a transcrição de genes no núcleo) • Acoplados a proteína G 4 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 4 MECANISMOS DE REGENERAÇÃO A regeneração é um processo um pouco limitado nos mamíferos, acontecendo apenas em tecidos lábeis e estáveis. O processo ocorre a partir de uma lesão parenquimatosa que não chega a atingir a matriz extracelular, promovendo uma ativação das células- tronco do local (pele, tecido hematopoiético, mucosas do trato gastrintestinal e pulmão) e o retorno a estrutura normal do tecido, sem haver depósito de colágeno ou formação de cicatriz. A REGENERAÇÃO HEPÁTICA ocorre após hepatectomia parcial e não é uma verdadeira regeneração, tendo em vista que, a ressecção do tecido não provoca um novo crescimento do fígado, mas sim um processo de hiperplasia compensatória. O processo, entretanto, é rápido, demorando cerca de um mês para duplicação do fígado remanescente. A restauração da massa hepática é alcançada sem que haja crescimento de novos lobos, mas apenas pelo aumento dos lobos que restaram na cirurgia, por um processo chamado crescimento compensatório. Quase todos os hepatócitos se duplicam durante o percurso, porém, como são células quiescentes, levam algumas horas para sair de G0 e adentrar o ciclo celular (G1 -> S). Há ainda uma replicação sincrônica de células não parenquimatosas. CICATRIZAÇÃO E FIBROSE É o principal mecanismo de cura quando a lesão ao tecido é grave ou crônica (afetando as células parenquimatosas e do estroma), sendo caracterizada pela deposição de colágeno e outros elementos da MEC e pela formação de uma cicatriz. É uma resposta fibroproliferativa que apenas ocupa o espaço antes ocupado por um tecido funcional, se diferenciando assim da regeneração. CICATRIZAÇÃO:Cura de feridas na pele ou substituição de células parenquimatosas de qualquer órgão por colágeno. Caracteriza uma lesão na MEC. A inflamação, a angiogênese, a migração e proliferação de fibroblastos, a formação de cicatriz e o remodelamento do tecido conjuntivo são etapas importantes do processo de reparo. A reação inflamatória vai conter a lesão e remover o tecido lesado, 5 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 5 promovendo deposição de componentes da MEC na área, ao mesmo tempo que a angiogênese é estimulada. Se a lesão for crônica, há uma excessiva deposição de tecido conjuntivo chamada fibrose. Na maioria dos processos de cura, ocorre uma combinação de regeneração e reparo. CURA DE FERIDAS CUTÂNEAS O processo de cura de ferida cutâneas é dividido em três fases principais. A Inflamação inicia a partir da lesão inicial, que provoca adesão/agregação plaquetária e forma um coágulo, o qual, vai causar quimiotaxia e iniciar o processo inflamatório. Na Fase Proliferativa, há a formação do tecido de granulação, proliferação e migração de células do tecido conjuntivo, angiogênese e reepitelização da superfície da ferida. A Maturação, então, envolve a deposição de Colágeno (advindo da MEC), o remodelamento do tecido e a contração da ferida. Incisão cirúrgica aproximada por suturas: Cicatrização por união primária ou primeira intenção, o corte provoca a morte de células epiteliais, conjuntivas e da membrana basal. O reparo se dá pela formação de uma cicatriz fina. Excisões com grandes defeitos da superfície da pele: União secundária ou por segunda intenção. Ocorre perda excessiva de células e tecidos, gerando uma reação inflamatória mais intensa, além da formação de grandes quantidades de tecido de granulação e extensa deposição de colágeno, que vai levar à formação de uma cicatriz que normalmente se contrai. 1. O processo de cura se inicia pela ativação das vias de coagulação, que formam um coagulo que detém o sangramento e funciona como um arcabouço para as células em migração, que são atraídas por quimiotaxia. Há, ainda, a formação de uma crosta que recobre a ferida. 6 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 6 2. Entre as primeiras 24 a 72 horas, os fibroblastos e as células endoteliais se proliferam e formam o tecido de granulação (presença de novos vasos – angiogênese- e proliferação de fibroblastos), que geralmente é acompanhado por Edema. Esse tecido de granulação invade o espaço da incisão e sua quantidade varia de acordo com o tamanho da lesão. 3. Após 48 a 96 hora do início da lesão, os macrófagos chegam ao local e removem resíduos extracelulares do local, promovendo angiogênese e deposição de colágeno advindo da MEC. A migração de fibroblastos é orientada por quimiotaxia e sua proliferação é desencadeada por fatores de crescimento. Em 24 a 48 horas, grupos de células epiteliais se movem da borda da ferida ao longo das margens dissecadas, depositando componentes da membrana basal e se fundindo na linha média, onde ocorre a produção de uma fina camada epitelial e o fechamento da ferida. 4. Os leucócitos, o edema e a vascularização desaparecem na segunda semana, deixando o tecido pálido e com aumento de acúmulo de colágeno. O TECIDO DE GRANULAÇÃO É CONVERTIDO EM CICATRIZ AVASCULAR E PÁLIDA. 5. A contração da ferida ocorre em grandes lesões superficiais e serve para diminuir a lacuna entre as margens dérmicas, constituindo uma etapa da união secundária. 6. Há ainda um remodelamento na trama do tecido conjuntivo, tendo em vista as alterações da MEC ocorridas durante o processo. 7 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 7 Deiscências e Ulcerações surgem decorrentes de uma formação inadequada do tecido de granulação ou da cicatriz. A deiscência é a ruptura de uma ferida e é muito vista em cicatrizes abdominais cirúrgicas, que vêm a romper por um aumento da pressão intra- abdominal. As úlceras surgem em decorrência de uma vascularização inadequada durante a cura. Cicatrizes hipertróficas e Queloides são causadas por uma formação excessiva dos componentes de reparo. A cicatriz hipertrófica é saliente e surge do acúmulo de quantidades excessivas de colágeno, sendo mais comum após lesões traumáticas ou térmicas. Os queloides são cicatrizes que crescem além das margens da ferida original e não regridem, podendo variar de acordo com a individualidade de cada um. A Granulação Exuberante surge da formação excessiva de tecido de granulação, que faz protrusão acima do nível da pele circundante. Cicatriz Hipertrófica Queloide A Contração de uma ferida é normal, porém quando ela ocorre de maneira demasiada, é chamada de Contratura e resulta em deformidades da ferida e tecidos ao redor. São normalmente vistas em queimaduras e podem comprometer a movimentação. A Fibrose é a deposição excessiva de colágeno e componentes da MEC no local da lesão. Mais associada a lesões crônicas. 8 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 8 DISTÚRBIOS HEMODINÂMICOS Os distúrbios hemodinâmicos caracterizam-se por uma perfusão alterada que acarreta lesão em órgãos e células, sendo inclusas na categoria de doenças cardiovasculares (mais importante causa de morbidade e mortalidade na sociedade ocidental). O tempo ainda é o principal inimigo desta classe de lesões, tendo em vista que, elas podem se tornar fatais em questão de minutos (neurônios), horas ou dias (tecido fibroso). • Hiperemia • Hemorragia • Trombose • Embolia • Infarto – Isquemia • Edema • Choque HIPEREMIA E CONGESTÃO São causadas por um aumento local do volume sanguíneo, com quantidade excessiva de sangue em um órgão ou tecido e sendo reversíveis. Podem ser classificadas em Hiperemia Ativa ou Hiperemia Passiva (Congestão). Hiperemia ativa (Arterial): Resulta da dilatação arterial, com consequente aumento e direcionamento do fluxo sanguíneo para as artérias e arteríolas. Pode ser fisiológica (no músculo esquelético durante exercício físico intenso, no processo de digestão após refeições ou em situações de estresse, vergonha, emoções) ou patológica (nos vasos de pequeno calibre durante o processo de inflamação), e o tecido normalmente torna-se vermelho (eritema) devido ao congestionamento dos vasos com sangue oxigenado e com um aumento do calor local. Microscopicamente, visualizamos vasos dilatados e cheios de sangue, edema. Pode ser causada pela paralisia de nervos vasoconstritores, excitação de nervos vasodilatadores, excitação da musculatura arteriolar ou pela liberação de mediadores químicos (Vasodilatação). Hiperemia passiva (Venosa – Congestão): Acúmulo de sangue venoso em determinado órgão pela diminuição da velocidade do sangue, podendo ocasionar diminuição do fluxo em certos tecidos. Veias dilatadas e repletas de sangue. Pode ser localizada (obstrução venosa isolada – trombose, embolia, pressão externa causada por torniquetes ou coleta de sangue) ou generalizada (todo o retorno venoso fica comprometido – Insuficiência Cardíaca Direita, alterações valvulares). Apresentam coloração arroxeada (cianótica, falta de oxigênio) pela estase de eritrócitos e acúmulo de hemoglobina desoxigenada. 9 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 9 HEMORRAGIASConsiste em um extravasamento de sangue para o espaço extravascular, sendo geralmente decorrente de uma lesão ou ruptura da parede do vaso, mas também podendo ser por aterosclerose, inflamação ou neoplasia. • Trauma Direto: Acidentes, excisões cirúrgicas, fraturas ósseas. • Erosão Gradual: Lesões tuberculosas (hemoptise), úlceras do tubo digestivo, neoplasias malignas. • Angiopatias: Más formações congênitas (má formação do colágeno – baixa resistência - aneurismas), inflamações (arterites) ou degenerações (arteriosclerose). • Outras condições advindas dos vasos que podem vir a desencadear uma hemorragia são as doenças autoimunes (lúpus eritematoso sistêmico) ou a arteriosclerose (enrijecimento e estreitamento do lúmen do vaso, sendo a aterosclerose a principal causa – placas de ateroma nas áreas de bifurcação das artérias são as mais frequentes. As Hemorragias Internas, então, ficam contidas dentro de um tecido ou cavidade, não se exteriorizando para fora do organismo. Podem ser pequenas (sangue é reabsorvido) ou grandes (parte do sangue é reabsorvido pelos linfáticos e parte sofre coagulação – resposta inflamatória). Sua nomenclatura se dá pelo uso do prefixo HEMO + Local da hemorragia. Hemotórax, Hemoperitônio, Hemartrose, Hematocele (sangramento em víscera oca ou cavidade que se formou), Hematossalpinge. 10 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 10 Se o extravasamento sanguíneo for pequeno, os próprios Macrófagos teciduais degradam as hemácias deslocadas, porém, se o volume for maior, surgirá uma resposta inflamatória com a consequente chegada de mais células de defesa para a realização da contenção do problema. Nas Hemorragias Externas, o sangue é extravasado para fora do organismo (líquido e secreções orgânicas), sendo que a nomenclatura é composta pelo Local da hemorragia + Sufixo -RRAGIA. Gengivorragias, Estomatorragias, Gastrorragias (ativa o reflexo do vômito causando hematêmese ou é eliminado nas fezes na forma de melena), Otorragia, Epistaxe (sangramento nasal que acompanha o espirro), Hemoptise (sangramento que acompanha a tosse, muito presente em Tuberculose). Aspectos Morfológicos das Hemorragias HEMATOMA: Acúmulo de hemorragia dentro dos tecidos, podendo ser insignificantes ou graves a ponto de levar a óbito. PETÉQUIA: Hemorragias minúsculas (1 a 2 mm) na pele, mucosas ou superfícies serosas, associadas a um aumento local da pressão intravascular, trombocitopenia ou defeitos na função plaquetária (fatores de coagulação). PÚRPURAS: São hemorragias levemente maiores (>3mm), causadas pelos mesmos fatores que as petéquias ou por trauma, vasculites e aumento da fragilidade vascular. EQUIMOSES: Hematomas subcutâneos maiores (>1 a 2 cm). Possuem a característica de mudança de coloração no decorrer do processo: inicia na cor vermelho-azulada pela degradação dos eritrócitos e liberação da hemoglobina; essa hemoglobina vai ser convertida em bilirrubina e adotará a cor azul-esverdeada; em seguida, essa bilirrubina será convertida em hemossiderina e se tornará marrom-dourada. CONTUSÃO. 11 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 11 PETÉQUIA EQUIMOSE HEMATOMA Doenças hemorrágicas PÚRPURAS PLAQUETÁRIAS: As Púrpuras Trombocitopênicas surgem a partir de uma diminuição na contagem plaquetária, seja pelo aumento da destruição das plaquetas, diminuição da produção ou aumento do sequestro esplênico. A causa primária é a Doença de Werlhof (doença autoimune, púrpura idiopática) e as causas secundárias são infecções, septicemias, venenos, AIs, sulfas, quimioterápicos (destruição de células lábeis), radiações, leucemias, linfomas, etc. As Púrpuras Não Trombocitopênicas surgem de alguma alteração funcional das plaquetas, podendo ser na forma (trombopatias), função (tromboastenias) ou até um aumento na contagem (trombocitemias). A principal causa primária e hereditária é a Hemofilia, e as causas secundárias são senilidade, nefropatias e o uso de algumas drogas (AINEs, AAS). VASCULOPATIAS: Podem ser advindas de um aumento da permeabilidade vascular ou diminuição da RVP, tendo como causas algumas anomalias congênitas vasculares ou do tecido conjuntivo, além de alergias, infecções, escorbuto (deficiência da Vitamina C necessária para a produção de colágeno) e outras patologias. COAGULOPATIAS: Pode ser hereditária pela deficiência de um ou mais fatores da coagulação ou adquirida em algumas hepatopatias, deficiência de vitamina K e no uso de anticoagulantes orais. EDEMA É o acúmulo anormal de líquido nos espaços teciduais (interstício) ou nas cavidades do corpo, sendo originado a partir de um aumento da pressão capilar ou diminuição da pressão coloidosmótica sanguínea, com o consequente movimento exacerbado da água para fora do vaso (o movimento da água dentro dos tecidos excede a drenagem linfática). 12 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 12 O Edema pode ser do tipo Inflamatório (aumento da permeabilidade endotelial e saída de exsudato rico em proteínas), Não Inflamatório (saída de transudato pobre em proteínas) ou Intracelular (degeneração hidrópica com tumefação celular). Clinicamente, o órgão geralmente encontra-se aumentado de volume e, se possível de palpação, se deprime sob pressão digital (Cacifo). Edema subcutâneo pode sinalizar doença renal ou cardíaca. Edema pulmonar observado em casos de IC Ventricular Esquerda, com acúmulo de líquido no espaço alveolar e dificuldade na difusão do oxigênio. Edema cerebral pode causar herniação e ser mortal. Microscopicamente, o edema é visto com um clareamento e separação da MEC, além de um discreto aumento celular! A nomenclatura do edema pode ser realizada pelo prefixo HIDRO + LOCALIZAÇÃO do evento. • Hidrotórax – Cavidade pleural • Hidropericárdio – Saco pericárdico • Hidrocefalia – Edema cerebral • Hidroartrose - Articulações • Hidroperitônio/Ascite – Edema na cavidade peritoneal (abdominal) • Anasarca – Edema intenso e generalizado por todo o organismo, com amplo aumento tecidual subcutâneo Características e Etiologia do Edema 1. Aumento da Pressão Hidrostática: Deficiência no retorno venoso (ICC, pericardite, cirrose hepática, obstrução ou estreitamento de veias), trombose, compressão externa ou baixa movimentação dos MMII (estase sanguínea). 2. Dilatação Arteriolar: Calor, excesso ou déficit neuro-humoral (inflamações e alergias). 3. Redução da Pressão Oncótica do Plasma: Síndrome nefrótica (glomerulopatias com perda de proteínas na urina), cirrose hepática, desnutrição (edema da fome), gastroenteropatia perdedora de proteínas. Desnutrição -> Falta de 13 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 13 proteínas na dieta -> Fígado sem substrato para a síntese de proteínas plasmáticas -> Diminuição da pressão coloidosmótica do plasma -> Edema generalizado -> Anasarca -> Edema de Fome. 4. Retenção de Sódio e Água: Ingestão excessiva de sódio com redução da função renal, maior reabsorção tubular de sódio, maior excreção renina-angiotensina- aldosterona. 5. Obstrução Linfática: Inflamatória (aumento da permeabilidade vascular), neoplásica, pós-cirurgia, pós-radiação, PARASITÁRIA (Filariose – Elefantíase). CIRROSE COMO CAUSA DE EDEMA Os hepatócitos(células funcionais do Fígado) são responsáveis por captar a gordura vinda do Intestino e liga-las a uma proteína (formando as Lipoproteínas), possibilitado então o transporte destas substâncias insolúveis na corrente sanguínea – HDL, LDL, VLDL. Na Cirrose Hepática (após alcoolismo crônico), ocorre um acúmulo de Acetato nesses hepatócitos, impedindo o correto processamento da gordura e causando o consequente acúmulo das mesmas no Fígado, originando a Esteatose Hepática. Até o momento, a lesão é reversível, porém se o alcoolismo perdurar por mais tempo, essas células vão se rompendo e morrendo (estágio irreversível), originando uma reação inflamatória com deposição de colágeno sob o tecido. Esse colágeno vai causar uma retração no fígado e diminuição do seu tamanho, além de envolver e contrair os vasos sanguíneos ao seu redor, impedindo a movimentação do sangue, causando uma congestão e um aumento na pressão hidrostática. Com a morte celular, o Fígado vai parar de produzir as proteínas plasmáticas, causando uma diminuição da pressão coloidosmótica plasmática da região e o consequente acúmulo de líquido no espaço intersticial, originando a Ascite ou Hidroperitônio. 14 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 14 HEMOSTASIA A Hemostasia é a cessação de um sangramento, a parada da circulação sanguínea em uma parte do organismo, a estagnação do sangue. Ela é consequência de um processo altamente regulado que mantém o sangue em um estado líquido/fluído nos vasos normais, mas que também induz à formação rápida de um tampão hemostático localizado, que cessa o sangramento em locais de lesão vascular. O oposto patológico da hemostasia é a Trombose, processo que envolve a formação de um coágulo sanguíneo (trombo) dentro dos vasos, sendo uma ativação excessiva dos processos hemostáticos normais. Os componentes envolvidos na hemostasia são: a parede vascular (endotélio), as plaquetas e a cascata da coagulação. Endotélio Apresenta atividade antitrombótica e pró-trombótica, determinando se ocorre a formação, propagação ou dissolução do trombo. Em circunstâncias normais, apresentam propriedades antiplaquetárias, anticoagulantes e fibrinolíticas, porém em situação de lesões, adquirem inúmeras atividades pró-coagulantes. O endotélio ainda atua como barreira permeável (permitindo a passagem de substâncias), modula o fluxo sanguíneo, regula a angiogênese e oxida o LDL (permitindo a sua passagem pelo endotélio). PROPRIEDADES ANTITROMBÓTICAS: Efeito Antiplaquetário (impede o encontro das plaquetas à MEC, liberação de mediadores que impedem a adesão plaquetária), Efeito Anticoagulante (substâncias semelhantes à Heparina e outros mediadores que inibem a Trombina e outros fatores) e Efeito Fibrinolítico (síntese do ativador de plasminogênio tecidual, que cliva o plasminogênio em plasmina e assim degrada o trombo). PROPRIEDADES PRÓ-TROMBÓTICAS: Estado induzido pelo trauma e inflamação das células endoteliais. Efeito Plaquetário (adesão plaquetária possível pela interação com o fator de von Willebrand, que liga as plaquetas à MEC), Efeitos pró-coagulantes (síntese do fator tecidual, principal ativador da cascata de coagulação) e Efeitos Fibrinolíticos (secreção de inibidores do ativador do plasminogênio, que limita a fibrinólise e favorece a trombose). O processo de hemostasia se dá basicamente por: 1. Espasmo Vascular – Vasoconstrição pela ativação do SNS 2. Formação do Tampão Plaquetário 3. Formação do Coágulo Sanguíneo: mecanismo intrínseco, mecanismo extrínseco. 15 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 15 PROCESSO HEMOSTASIA NORMAL Após a lesão inicial, há um curto período de vasoconstrição arteriolar mediada por mecanismos neurogênicos e pela secreção de endotelina, ocasionando uma cessação transitória do sangramento. Hemostasia Primária: A lesão expõe a MEC subendotelial altamente trombogênica, facilitando a aderência e ativação das plaquetas (alteração de sua forma discoide para placas planas) e a liberação de secreções que estimulam a adesão de ainda mais plaquetas. Rapidamente, há a formação de um tampão hemostático. EVITA O SANGRAMENTO Hemostasia Secundária: A Tromboplastina e o Fator III (fatores teciduais) atuam em conjunto com o fator VII, iniciando a cascata de coagulação e gerando a Trombina. Essa Trombina converte o fibrinogênio circulante em fibrina insolúvel, criando uma rede de fibrinas. EVITA O RESSANGRAMENTO A fibrina polimerizada e a agregação plaquetária formam um tampão permanente e sólido que previne qualquer hemorragia subsequente. Mecanismos de contenção (contra regulatórios) limitam o tamanho deste tampão. 16 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 16 Cascata de Coagulação É basicamente uma série de conversões enzimáticas amplificadas, em que cada etapa proteolítica cliva uma proenzima inativa em uma enzima ativava, culminando na formação da Trombina. Essa trombina pode atuar em várias etapas do processo e, ao final da cascata, converte o Fibrinogênio (proteína plasmática solúvel) em monômeros de Fibrina, que envolvem as plaquetas e outras células, formando um tampão hemostático secundário definitivo. A coagulação é ainda dividida em duas vias (intrínseca e extrínseca) que convergem na ativação do fator X. A Via Extrínseca requer a adição de um desencadeador exógeno (oferecido pelo extrato dos tecidos), enquanto a Via Intrínseca exige apenas a exposição do fator XII (fator de Hageman) para superfície trombogênica. A Via extrínseca é a mais relevante após o dano vascular, tendo em vista que é ativada pelo fator tecidual (tromboplastina). Coagulograma Ca+2 importante durante todo o processo! Utilizado para se fazer a contagem plaquetária, o Tempo de Protrombina (PT) e o Tempo de Tromboplastina Tecidual (PTT, TTP, KTTP). O PT avalia a função das proteínas na via extrínseca e quando ocorre o depósito de fibrina. O PTT exibe a função das proteínas na via intrínseca, analisando também o início da cascata. Se o paciente fizer uso de ACG, os tempos de ambos os exames estarão prolongados, devendo usar o INR para a correção em valores padrões. TROMBOSE A Trombose consiste na coagulação do sangue no interior dos vasos ou cavidades cardíacas, acarretando na formação de uma massa sólida, o Trombo. Esse trombo é um agregado de sangue coagulado contendo plaquetas, fibrina e elementos celulares amontoados dentro da luz do vaso. As três principais alterações que levam à Trombose estão descritas na Tríade de Virchow: 1. Lesão Endotelial: Normalmente o endotélio apresenta carga negativa e assim repele as plaquetas, entretanto, em caso de lesões ou micro lesões, o colágeno presente na MEC fica exposto para a corrente sanguínea, passando a liberar substâncias pró-trombóticas e estimulando a agregação plaquetária. As principais causas de lesões endoteliais são: vasculites (lesão inflamatória), lesões traumáticas, aterosclerose (acúmulo de gordura oxidada no subendotélio, podendo se romper e causar a formação do trombo) e lesões endocárdicas (formação de trombos nas câmaras cardíacas após Infarto Agudo do Miocárdio).O endotélio não precisa estar totalmente rompido para causar atividade pró- trombótica. 17 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 17 2. Alterações no fluxo sanguíneo normal: A turbulência contribui para a trombose por causar lesão/disfunção endotelial. A estase sanguínea, entretanto, é advinda da diminuição do fluxo e torna aquele local muito propício à formação do trombo. As principais causas de alterações no fluxo são: aterosclerose (turbulência), aneurismas (estase local), IAM (áreas não contráteis e estase do sangue nas câmaras cardíaca), anemia falciforme (glóbulos vermelhos alterados que causam oclusão em pequenos vasos), varizes, falta de exercício físico e/ou mobilidade dos MMII (idosos e imobilizados). 3. Hipercoagulabilidade: Também chamada de Trombofilia, corresponde a qualquer alteração nas vias de coagulação que predisponha à trombose. As causas podem ser primárias/genéticas (mutações no fator V) ou secundárias/adquiridas (repouso prolongado, IAM, cirurgias, câncer, valvas cardíacas, trombocitemia). A Trombofilia deve ter um cuidado especial em gestantes, tendo em vista que o Estrógeno por si só já provoca uma ativação na cascata de coagulação. TROMBOSE ARTERIAL São frequentemente oclusivos e a Aterosclerose é a principal causa dos mesmos, uma vez que, está associada à perda de integridade do endotélio e com fluxo vascular anormal. As localizações mais comuns são as artérias coronárias, cerebrais, mesentéricas, renais e de MMII (recomenda-se o uso rápido de fibrinolíticos em caso de oclusões, evitando assim a perda de suprimento sanguíneo do órgão-alvo por muito tempo). Podem ser causadas ainda por traumas, arterites ou algumas doenças. Consistem normalmente em uma malha friável de plaquetas, fibrina, eritrócitos e leucócitos degenerados. Diferentemente dos trombos venosos, apresentam finas faixas alternadas de plaquetas/fibrinas amareladas e glóbulos vermelhos de coloração mais escura: Linhas de Zahn. Uma das complicações possível de trombose arterial é a fragilidade da parede arterial (surgimento de aneurismas) e a calcificação das paredes (depósito de Cálcio). Se a oclusão da luz for maior do que 70% e não houver ainda complicações, recomenda-se a inserção de um STANT. 18 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 18 Nesses casos ainda, a promoção de Angiogênese pelos Angioblastos possibilita uma recalinização do fluxo e retomada gradual do suprimento de oxigênio, fato que impede a morte celular por radicais livres (como ocorreria caso o fluxo fosse retomado repentinamente). Os trombos que ocorrem nas câmaras cardíacas ou no lúmen da aorta são chamados de Trombos Murais e surgem de contrações anormais do miocárdio, lesões endomiocárdicas ou placas ateroscleróticas e aneurismas aórticos. TROMBOSE VENOSA É quase sempre oclusiva, com o trombo formando um longo trajeto no lúmen, tendo em vista que se formam na circulação venosa lenta e tendem a conter mais eritrócitos (trombos vermelhos ou de estase). De modo geral são ocasionados pelos mesmos fatores que a trombose arterial e as veias dos MMII são comumente as mais atingidas. DESTINOS DO TROMBO: Os trombos podem se desalojar e percorrer a circulação (embolia trombótica, podendo ser total ou parcial), podem sofrer dissolução como resultado da fibrinólise (comum em trombos pequenos e com pouco tempo de vida, por isso a terapia de agentes fibrinolíticos deve ser realizada nas primeiras horas após o ocorrido), podem sofrer amolecimento (por enzimas proteolíticas ou êmbolos sépticos), podem sofrer recalinização por células endoteliais e fibroblastos (formação de capilares que restituem o fluxo) ou podem sofrer calcificação distrófica. CONSEQUÊNCIAS CLÍNICAS: Dependem do local de surgimento do trombo. Os trombos venosos podem causar congestão, edema e embolia pulmonar, enquanto os trombos arteriais normalmente causam infartos, IAM e isquemias. Tudo depende do grau de oclusão, da existência de circulação colateral e do órgão afetado. 19 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 19 EMBOLIA Consiste no transporte de uma massa intravascular solta e insolúvel (sólida, líquida ou gasosa) que é carregada pela corrente sanguínea para um local longe do seu ponto de origem. O Êmbolo é o material que circula livremente pelo sangue até que seja retido em um vaso de menor calibre, sendo quase sempre parte de um trombo que se desalojou. Consequentemente, acabam causando uma oclusão vascular parcial ou total, podendo chegar ao patamar de necrose isquêmica (infarto) do tecido distal. Embolia Pulmonar: Quase sempre é originada de trombos venosos profundos (TVP) de MMII, que, pela conformação anatômica, partem do seu local de origem, vão para o coração direito e são enviados para a circulação pulmonar, local onde chegam a vasos de pequenos calibres e ficam alojados. Dependendo do tamanhão do êmbolo pode ocluir as arteríolas menores, as artérias lobares ou até a bifurcação da artéria pulmonar (êmbolo em sela). Com frequência existem múltiplos êmbolos alojados no pulmão e a morte súbita (IC direita, colapso cardiovascular) ocorre quando mais de 60% da circulação é ocluída. Esses êmbolos múltiplos também podem vir a acarretar o surgimento de hipertensão pulmonar e insuficiência ventricular direita ao longo do tempo. Tromboembolismo Sistêmico: Refere-se a êmbolos na circulação arterial, sendo que a grande maioria surge de trombos murais intracardíacos ou de aneurismas aórticos. Podem percorrer vários locais e o seu ponto de parada dependerá da fonte e do volume do fluxo sanguíneo, sendo que os principais locais de alojamento são as extremidades inferiores, o cérebro e, com menor frequência, o intestino, rins, baço e extremidades superiores. Em geral, causam infarto do tecido afetado. Êmbolos Sólidos: Trombóticos, material ateromatoso, microorganismos (sépticos) ou neoplásicos. Êmbolos Líquidos: Embolias gordurosas (fratura de ossos longos com medula gordurosa) e por líquido amniótico (infusão de líquido amniótico ou tecidos fetais na circulação materna por rompimento das membranas fetais). Êmbolos Gasosos: Doença da descompressão (diminuição brusca da pressão atmosférica), aprisionamento de ar durante cirurgias, traumas torácicos e abortos. 20 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 20 ISQUEMIA Consiste na interrupção ou diminuição do fluxo sanguíneo para um determinado tecido, podendo ser causado por algo que oclua a luz de artérias que irrigam um órgão (com pouca ou nenhuma circulação colateral): trombos, êmbolos, placas de ateroma, arterites, compressão externa (gesso, atadura, torniquetes, tumores). ISQUEMIA ESPÁSTICA: Diminuição do aporte sanguíneo sem que haja oclusão do vaso, podendo ser logo revertido ou não. Pode ser um reflexo do organismo contra dor ou frio exacerbados, por um estímulo direto dos nervos vasoconstritores ou por um estímulo a nível de SNC (cortical). Os principais sinais são palidez, diminuição da temperatura e volume, perda de função e até infarto da área. INFARTO Consiste em uma área de necrose isquêmica causada pela oclusão do suprimento arterial ou da drenagem venosa. Podem ser causados pelos mesmos fatores que a isquemia e alguns fatores incomuns que também podem levar ao infarto são: torção dosvasos (testicular e intestinal), ruptura traumática ou compressão por edema (síndrome compartimental) ou pelo aprisionamento em um saco herniário. A TVP pode causar infarto, mas normalmente acarreta apenas na congestão e ativação da circulação colateral. INFARTOS BRANCOS (ANÊMICOS): Ocorrem nas oclusões arteriais em órgãos sólidos com circulação terminal (coração, baço, rim), onde a densidade do tecido impede a entrada de suprimento sanguíneo por vasos adjacentes. Macroscopicamente, apresenta uma hiperemia inicial e, após 1 ou 2 dias, a zona de infarto fica mole, bem demarcada e amarelo-clara. Microscopicamente, mostra-se como uma necrose de coagulação uniforme. INFARTO VERMELHO (HEMORRÁGICO): Podem decorrer de oclusões arteriais ou venosas, também se caracterizando como necrose de coagulação, mas com a presença de um sangramento para a zona necrótica (proveniente de vasos adjacentes). Ocorre principalmente em órgãos de irrigação dupla ou com extensa circulação colateral: pulmão, intestino delgado e cérebro. Macroscopicamente, são bem demarcados, firmes e de coloração vermelho-escuro. Infarto Pulmonar Vermelho (hemorrágico) e Infarto Esplênico Branco (anêmico) 21 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 21 OBS: O infarto não é visível instantaneamente: após um período de alguns dias, células inflamatórias agudas infiltram a zona necrótica a partir da margem não afetada pela isquemia. As células mortas e o resíduo celular são fagocitados e digeridos por células polimorfonucleares e posteriormente por macrófagos. Ao final do processo, forma-se um tecido de granulação que é substituído por uma cicatriz (fibrose – deposição de colágeno). Nos infartos vermelhos, os eritrócitos extravasado são fagocitados pelos macrófagos que convertem o ferro do grupo heme em hemossiderina (pigmento que deixa o tecido marrom). Cicatriz fibrosa formada no miocárdio após Infarto Agudo. SINAIS E SINTOMAS DO IAM Dor aguda subesternal intensa, que se irradia para o braço esquerdo e mandíbula. Pele pálida, fria e úmida. Dispneia com respiração rápida e superficial. PA baixa, ansiedade, vertigens, náuseas e vômitos. Em raros casos pode ser assintomático. COMPLICAÇÕES IAM Morte súbita, arritmias agudas, choque cardiogênico, IC, aneurisma ventricular com perfuração septal, ruptura do músculo papilar, embolia pulmonar. FATORES PREDISPONENTES IAM Alto nível lipídico (dislipidemia), hipertensão, vida sedentária, stress, fumo, obesidade, homem entre 45 e 50 anos de idade. 22 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 22 CHOQUE Consiste em um colapso hemodinâmico ou vascular, caracterizado pela hipotensão sistêmica devido à redução do débito cardíaco ou pela redução efetiva de volume sanguíneo circulante, tendo como consequência a perfusão tecidual deficiente e a hipóxia celular. Inicialmente, a lesão é reversível, porém o choque prolongado pode levar a uma leão tecidual irreversível. As duas principais causas, então, são a perda de conteúdo e a alteração de contingente (bombeamento), que podem ser advindos de qualquer agressão grave da homeostasia do organismo. • Há uma redução do controle vasomotor periférico. • Não pode ser mantido um volume eficaz de sangue circulante. • Lesão hipóxica reversível (diminuição da capacidade funcional) que pode se tornar irreversível (Anóxia) e levar à morte. • Desvio do metabolismo aeróbico para o anaeróbico (acidose lática), podendo ocasionar uma Acidose Metabólica. • O organismo inicia mecanismos de compensação (vasoconstrição) que pioram ainda mais a perfusão e a hipóxia, levando frequentemente à anóxia. • O primeiro órgão a ser afetado pelo choque é o rim, que com a diminuição do fluxo diminui a produção de urina e causa Insuficiência Renal. • A Inflamação causa uma perda de volume a nível de microcirculação (exsudato/edema), com aumento da permeabilidade vascular e saída de líquido deles. Se essa saída de líquido for muito alta, pode levar ao colapso e consequentemente ao choque. • Hemorragias, queimaduras graves, amplo IAM, embolia pulmonar maciça, infecção bacteriana, desidratação, traumatismos graves, etc. IMPORTANTE 23 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 23 Choque Cardiogênico: Resulta de um baixo débito cardíaco devido à falência da bomba do miocárdio por uma lesão intrínseca, compressão extrínseca (tamponamento cardíaco) ou obstrução do fluxo de saída (embolia pulmonar). Suas causas mais comuns são IAM, ruptura ventricular e arritmias. Choque Hipovolêmico: Resulta em um débito cardíaco baixo pela perda do volume sanguíneo ou plasmático. Pode ser causado por uma perda hídrica externa (hemorragias, vômitos, diarreia) ou interna (queimaduras, anafilaxia, endotoxinas, traumatismos). Choque Séptico: Resulta da propagação e expansão de uma infecção na corrente sanguínea, acarretando em vasodilatação sistêmica e acúmulo de sangue na periferia – reação imunológica sistêmica a uma infecção bacteriana ou fúngica. Tudo isso é acompanhado por lesões endoteliais que levam a um estado de Hipercoagulabilidade e ativação da cascata das citocinas. Suas causas são frequentemente por infecções microbianas graves (gram negativas produtoras de endotoxinas) e septicemia. Lipossacarídeos bactericidas (endotoxinas) se ligam a proteínas plasmáticas e causam a liberação de citocinas que causarão o choque. 24 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 24 • Todas as plaquetas do organismo estão ativas e aderidas às microlesões dos vasos, fato que acarreta em uma diminuição da contagem plaquetária e no surgimento de inúmeros sangramentos pelo corpo (principalmente do TGI). • Quanto maior o número de bactérias na infecção, maior o número de Lipossacarídeos e, consequentemente, maior o número de citocinas liberadas e maior a resposta inflamatória. • O Choque Séptico pode causar sequelas e danos celulares irreversíveis. • A Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) é uma das complicações do choque séptico. O dano ao epitélio que revesto os alvéolos faz com que ocorram dificuldades nas trocas gasosas. Choque Anafilático: Consiste em uma vasodilatação sistêmica e aumento da permeabilidade vascular causados por uma reação de hipersensibilidade aguda mediada pelo IgE. Choque Neurogênico: Ocorre em acidentes anestésicos ou traumatismo raquimedular, causando uma perda no tônus vascular e acúmulo de sangue na periferia. ESTÁGIOS CHOQUE 1. ESTÁGIO NÃO PROGRESSIVO INICIAL: Mecanismos compensatórios são ativados e a perfusão de órgãos vitais é mantida. 2. ESTÁGIO PROGRESSIVO: Hipoperfusão tecidual e início de desequilíbrios circulatórios e metabólicos (acidose). 3. ESTÁGIO IRREVERSÍVEL: Se estabelece após ocorrer uma lesão tecidual tão intensa que, mesmo se corrigida, a sobrevida se torna impossível. O choque, se não revertido, pode causar a falência de múltiplos sistemas orgânicos: Cérebro (encefalopatia isquêmica), Coração (necrose de coagulação e hemorragias), Pulmões (lesão alveolar difusa), Rins (necrose tubular aguda), Suprarrenais (depleção lipídica nas células corticais), TGI (enteropatia hemorrágica) e Fígado (esteatose e necrose hemorrágica). As principais manifestações clínicas do choque são: Hipotensão, pulso fraco, taquicardia, hiperventilação, pele fria e viscosa, palidez, oligúria e alterações mentais. 25 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 25 NEOPLASIAS O termo neoplasiarepete a um “novo crescimento”, estando diretamente relacionado ao conceito de neoplasma. Tumor, entretanto, se refere ao edema causado pela inflamação, sendo usado nesse caso pelo aumento de volume provocado. A oncologia é, então, o estudo dos tumores ou neoplasmas. Neoplasma ou Neoplasia consiste, então, em uma massa anormal de tecido, cujo crescimento é excessivo e não coordenado em comparação aos tecidos normais, persistindo mesmo após a interrupção do estímulo que originou tal alteração. • Essa persistência do tumor mesmo após a cessação do estímulo advém de alterações genéticas que são passadas adiantes para as células tumorais filhas. São essas alterações que permitem a proliferação excessiva e desregulada de forma AUTÔNOMA. Embora tenham essa característica autônoma, as células neoplásicas ainda dependem do hospedeiro para a obtenção da sua nutrição e suprimento sanguíneo. Toda a população de células tumorais surge de uma única célula que sofreu alterações genéticas e se multiplicou, formando inúmeras células clonais neoplásicas. TUMORES BENIGNOS: São relativamente inocentes, permanecendo localizados, não se disseminando para outros sítios, sendo geralmente removidos por cirurgias locais e tendo um bom prognóstico. Podem, entretanto, produzir mais do que nódulos localizados e causar doenças graves. TUMORES MALIGNOS: Recebem a denominação de câncer pelo fato de se aderirem a qualquer região que estejam. A lesão pode invadir e destruir estruturas adjacentes, além de se disseminar para sítios distantes (metástases) e levar à morte. Embora sejam mortais, em alguns casos cujo diagnóstico for precoce, o tratamento pode obter sucesso. 26 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 26 Obs: Todos os tumores (tanto benignos quanto malignos) apresentam sua estrutura composta por dois componentes básicos: um Parênquima composto por células clonais neoplásicas e um Estroma formado por tecido conjuntivo (vasos sanguíneos, macrófagos, linfócitos). O crescimento e evolução das células neoplásicas são diretamente dependentes do estroma, tendo em vista que, é ele quem promove o suprimento sanguíneo necessário e o molde estrutural para o desenvolvimento do tumor. NOMENCLATURA TUMORES BENIGNOS Em geral, são nomeados pelo sufixo -OMA ligado à CÉLULA DE ORIGEM. Fibroma, Condroma, Hemangioma, Lipoma, Linfangioma, Leiomioma, Rabdomioma, Linfoma (Exceção, sempre maligno). Adenoma – Neoplasia epitelial benigna de glândulas Papilomas – Neoplasias epiteliais benignas que produzem micro e macroscopicamente projeções visíveis (semelhantes a dedos ou verrucosas) a partir de suas superfícies. Geralmente advindos de infecções por vírus: HPV. Cistadenomas – Formam grandes massas císticas, como no ovário. Papilares – Produzem padrões papilares que se projetam nos espaços císticos. Pólipos – Projeção macroscópica sobre a superfície mucosa que se projeta no lúmen gástrico ou colônico por exemplo. NOMENCLATURA TUMORES MALIGNOS Os que surgem de tecido mesenquimal são denominados de Sarcomas, uma vez que, possuem pouco tecido conjuntivo e são mais carnosos. 27 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 27 Fibrossarcoma, Condrossarcoma, Leiomiossarcoma, Rabdomiossarcoma, Osteossarcoma, Linfangiossarcoma. Já as neoplasias malignas de célula epiteliais são denominadas de Carcinomas. O termo Carcinoma de Células Escamosas remete a um câncer no epitélio escamoso estratificado, enquanto o termo Adenocarcinoma se refere a um câncer em células glandulares. Adenocarcinoma de células renais, Carcinoma de células escamosas broncogênicas. TUMORES MISTOS Criados a partir da diferenciação divergente de um único clone neoplásico com duas linhagens. O tumor misto com origem em glândula epitelial é o melhor exemplo, tendo elementos que surgem tanto de células epiteliais quanto de células mioepiteliais. Neste caso, recebe a denominação de Adenoma Pleomórfico. TERATOMAS Apresenta células maduras ou imaturas reconhecíveis ou tecidos representativos de mais de uma camada germinativa, podendo ser até de todas as três. Se originam a partir de Células Totipotentes presentes nos ovários, testículos ou restos embrionários sequestrados na linha média. Como essas células podem se diferenciar em qualquer tipo celular, é comum vermos pedaços de ossos, epitélios, músculo, gordura, nervo e até dentes presentes dentro do tumor. Teratoma Benigno – Maduro – Bem diferenciado Teratoma Maligno – Imaturo – Menos diferenciado Teratoma Cístico Ovariano Se diferencia em linhagens ectodérmicas, criando um tumor cístico revestido de pele, pelos, glândulas sebáceas e estruturas dentárias. Linfomas, Melanomas, Mesoteliomas e Seminomas (epitélio da placenta) são tumores malignos com nomenclatura que lembra os tumores benignos. Coristoma: Nódulo pequeno de substância pancreática bem desenvolvida e organizada que pode ser encontrado na submucosa do TGI, estando repleto de ilhotas de Langerhans e de glândulas exócrinas. 28 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 28 NOMENCLATURA TUMORES MALIGNOS E BENIGNOS LOCAL BENIGNO MALIGNO Revestimento Papiloma Carcinoma Glandular Adenoma Adenocarcinoma Epitélio Renal Adenoma tubular renal Carcinoma de células renais ou de células claras Vias respiratórias Adenoma brônquico Carcinoma broncogênico Células do fígado Adenoma de células do fígado Carcinoma Hepatocelular Epitélio do trato urinário (transacional) Papiloma de células transicionais Carcinoma de células transicionais Fibroso Fibroma Fibrossarcoma Mixóide Mixoma Mixossarcoma Adiposo Lipoma Lipossarcona Osso Osteoma Sarcoma Osteogênico (Osteossarcoma) Cartilagem Condroma Condrossarcoma Vasos sanguíneos Hemangioma Hemangiossarcoma Glômus Glomangioma - Pericitos Hemangiopericitoma Hemangiopericitoma maligno Vasos linfáticos Linfangioma Linfangiossarcoma Mesotélio - Mesotelioma maligno Meninge Meningioma Meningioma maligno ou invasivo Mielóide - Leucemia Linfóide - Leucemia, Linfoma, Plasmocitoma/Mieloma Células de Langerhans - Histiocitose X Tec Muscular Liso Leiomioma Leiomiossarcoma Tec Muscular Estriado Rabdomioma Rabdomiossarcoma Ganglioneuroblastoma Neuroblasto ou Neurônio Ganglioneuroma Neuroblastoma SimpaticogoniomaCélulas gliais - Gliomas Nervos periféricos Neurilemoma - (Schannoma) Neuroepitélio - Ependioma Melanócitos - Melanoma Trofoblasto Mola hidatiforme Coriocarcinoma Células embrionárias (Totipotentes) Teratoma maduro (cisto derrmóide) Teratoma imaturo (maligno) 29 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 29 CARACTERÍSTICAS GERAIS E COMPORTAMENTO BIOLÓGICO As neoplasias podem ser ditas como Doenças ocupacionais, tendo em vista que, inúmeros tipos de tumores estão relacionados à exposição sofrida na sua profissão. Ex: Percival Pott (século XVIII) descobriu a relação entre Câncer de escroto e Limpadores de chaminé. Cornelius Celsus (138 a 201 d.C.) – Batismo termo Câncer Marco Severinus (1580-1656) – Descrição do mixossarcoma, diferenciação entre adenoma e adenocarcinoma e primeira exérese de linfonodos axilares Le Drau (1685-1770) – Se a Linfa passar aos Linfonodos adjacentes, ela contamina todo o sistema Virchow (1860) – Classificação de neoplasias pela sua estrutura histológica Hoje, se sabe que os Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos (HAPs) são uma família de substâncias altamente cancerígenas, tendo em vista que, seus metabólitos reagem com a guanina do DNA e provocam mutações que levam ao surgimento de células neoplásicas. Tumores Benignos e Malignos podem ser distinguidos basicamente com base na sua diferenciação/anaplasia, na sua taxa de crescimento (proporção/tamanho), na invasão local (padrão de crescimento) e nas metástases. DIFERENCIAÇÃO E ANAPLASIA A diferenciação se refere à extensão com que as células parenquimatosas neoplásicas lembram as células do parênquima normal correspondente, tanto morfológica quanto funcionalmente. Em suma, a diferenciação vai consistir na capacidade das células neoplásicas de se multiplicarem e alterarem sua forma e função para a de outro tipo celular. AS NEOPLASIAS BENIGNAS SÃO BEM DIFERENCIADAS. As células lesadas vão conseguir se proliferar mais rápido que o tecido de origem, a ponto de formarem uma massa distinta que se sobressai ao tecido normal. Entretanto, essa velocidade de multiplicação ainda é lenta o suficiente para permitir a completa diferenciação das células, que conseguem completar o seu ciclo e se tornar células idênticas ao tecido de origem. Então, as mitoses são extremamente reduzidas em número e apresentam configuração normal. 30 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 30 AS NEOPLASIAS MALIGNAS PODEM TER DIFERENTES GRAUS DE DIFERENCIAÇÃO. Isso varia desde células supreendentemente bem diferenciadas até células completamente indiferenciadas, incluindo também os tumores moderadamente bem diferenciados (fator que dificulta muito o diagnóstico da malignidade do tumor). É válido citar ainda que, quanto maior a indiferenciação da neoplasia, mais rápido o tempo de proliferação das células, maior a agressividade da doença e maior a resposta aos procedimentos de quimioterapia (resposta rápida em células que realizam muita mitose). Se a célula se multiplicar muito rápido, a diferenciação não consegue se completar. NEOPLASMAS MALIGNOS COMPOSTOS POR CÉLULAS POUCO DIFERENCIADAS OU INDIFERENCIADAS SÃO DENOMINADOS DE ANAPLÁSICOS. Essa falta de diferenciação é característica de tumores malignos, fato que faz com que as células neoplásicas fiquem pouco parecidas com o tecido normal. Refere-se a uma reversão de diferenciação em células, apresentando uma maior capacidade de multiplicação, um tempo de proliferação menor e, consequentemente, uma agressividade muito grande. Essa falta de diferenciação pode estar associada a: • Pleomorfismo: variação no tamanho e forma das células, variando desde células grandes até células muito pequenas (aspecto primitivo). • Morfologia Nuclear Anormal: Núcleos desproporcionais e muito grandes, forma variável e irregular, cromatina grosseiramente agrupada, hipercromia, multinucleação. • Mitoses: Grande número de mitoses, que podem ser atípicas, bizarras e que podem até mesmo produzir fusos tripolares, quadripolares ou multipolares. • Perda de Polaridade: Orientação alterada, ocasionando um crescimento anárquico e desorganizado. • Formação de células gigantes tumorais. METAPLASIA: Substituição de um tipo celular por outro tipo celular. DISPLASIA: Crescimento desordenado, frequentemente encontrada em metaplasias. Consiste na perda da uniformidade das células individuais, assim como a perda de sua orientação arquitetônica. Pleomorfismo e núcleos hipercromáticos, com grande razão núcleo/citoplasma. Quando envolve todo o epitélio, porém permanece confinada pela lâmina basal, é considerada um neoplasma pré-invasivo: Carcinoma in situ. 31 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 31 TAXA DE CRESCIMENTO A taxa de crescimento de um tumor é determinada basicamente pelo tempo de duplicação das células tumorais, a fração das células tumorais que se encontram no grupo replicativo e a taxa com que as células são perdidas ou morrem. Na maioria dos tumores, os controles do ciclo celular estão desordenados e as células podem ser incitadas a entrar no ciclo sem as restrições usuais, entretanto, o tempo do ciclo celular por si só não é alterado. Fração de crescimento – Proporção de células dentro da população tumoral que estão no grupo replicativo. Durante a fase submicroscópica (tumor dificilmente detectado), a vasta maioria das células tumorais estão no grupo replicativo, fato que faz com que a maior parte do crescimento do tumor se de neste momento. Conforme o tumor cresce, essas células vão deixando o grupo replicativo exponencialmente (descamação, falta de nutrientes, necrose, apoptose, etc) e quando a neoplasia já for clinicamente detectável, a maioria das células não estarão mais no grupo de replicação. O crescimento progressivo do câncer é, ainda, determinado por um excesso de produção celular em relação à perda celular. Se a fração de crescimento for muito grande (linfomas, leucemias, CA de pulmão), o desequilíbrio será alto e o curso clínico ocorrerá mais precocemente. O oposto ocorre em tumores nos quais a fração de crescimento excede em pouco a perda celular (colo intestinal e mama): crescem em um ritmo muito mais lento. • A maioria dos agentes anticâncer (quimioterápicos) age nas células que estão no ciclo celular, logo, um tumor de crescimento lento, em que apenas uma pequena parte das células estarão no grupo replicativo, terá uma resistência muito maior à quimioterapia. Tumores agressivos, entretanto, contém uma grande parcela das suas células dentro do ciclo celular, sendo então facilmente destruídos pelo tratamento quimioterápico. A taxa de crescimento das neoplasias se correlaciona com o seu nível de diferenciação, de modo que quanto maior a diferenciação (tumores benignos), menor a velocidade de crescimento do câncer. Portanto, a maioria dos tumores malignos crescem mais rapidamente do que as lesões benignas. “O período de latência pelo qual um tumor passa antes de se tornar clinicamente detectável não pode ser previsto, mas tipicamente é muito maior do que 90 dias, e pode durar tanto quanto vários anos para os tumoressólidos, enfatizando uma vez mais que os tumores malignos em humanos são diagnosticados somente após estarem razoavelmente avançados em seu ciclo de vida.” 32 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 32 INVASÃO LOCAL – PADRÃO DE CRESCIMENTO O padrão de crescimento dos tumores BENIGNOS é do tipo EXAPNSIVO, ocorrendo um aumento no número de células para todas as direções, entretanto permanecendo no seu sítio de origem e não tendo capacidade de infiltrar, invadir ou metastizar outros locais. Geralmente sofrem a ação de uma resposta inflamatória promovida pelo tecido conjuntivo, que encapsula a lesão com uma cápsula fibrosa e a separa do hospedeiro. Essa cápsula não impede que o tumor cresça, porém, mantém o tumor bem definido, palpável, móvel e fácil de ser retirado cirurgicamente. O padrão de crescimento nos tumores MALIGNOS é do tipo INVASIVO, sendo acompanhado for infiltração progressiva, invasão e destruição dos tecidos circunjacentes. Em geral, são pouco demarcados, não possuem um plano de clivagem bem definido. Essas células se multiplicam rapidamente, desprendem-se das células vizinhas, produzem e liberam substâncias que rompem o colágeno que a sustenta e, finalmente, se movem para outros locais. Não há encapsulamento e é macroscopicamente mais agressivo, provocando ulcerações nos epitélios e não respeitando barreiras anatômicas. Tal invasividade impede uma ressecção cirúrgica fácil desses tumores, porem funciona como um dos método mais eficazes para a diferenciação de tumores malignos e benignos. 33 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 33 METÁSTASES São basicamente implantes tumorais descontínuos com o tumor primário, sendo exclusivos de neoplasias malignas e não surgindo nas benignas. Pode ocorrer em todos os tumores malignos, tirando poucas exceções (gliomas e carcinomas basocelulares). A disseminação metastática reduz em muito as possibilidades de cura. Quanto mais agressivo, mais rápido o crescimento e maior o neoplasma primário do tumor, sendo, então, maior a probabilidade de formar metástases. Não é regra, algumas lesões pequenas podem vir a causar metástases e algumas grandes podem não causar. Existem 3 vias principais de disseminação: 1. Implante em Cavidades e Superfícies Corpóreas: Ocorre quando as células tumorais malignas invadem/penetram em uma cavidade aberta do organismo, tais como a cavidade peritoneal (mais frequente), pleural, pericárdica, subaracnóidea e do espaço articular. 2. Disseminação Linfática: É a via mais comum de disseminação dos carcinomas, ocorrendo também nos sarcomas. Ocorre quando o neoplasma rompe o colágeno no qual está sustentado, invade o tecido conjuntivo e penetra nos vasos linfáticos ali presentes, formando um êmbolo sólido de células linfáticas. O padrão de envolvimento dos linfonodos segue as rotas naturais de drenagem linfática (câncer de mama – axilares, câncer de pulmão – peri-hilares traqueobrônquicos e mediastinais). Em muitos casos, os linfonodos regionais servem como barreiras efetivas para a disseminação do tumor, impedindo que ele siga o seu trajeto e tribute na corrente sanguínea. Linfonodo Sentinela: o primeiro linfonodo em uma cadeia linfática a receber o fluxo da linfa advindo do tumor primário. 3. Disseminação Hematogênica: É a via mais comum de disseminação dos sarcomas, ocorrendo também nos carcinomas. As artérias, dado suas espessas paredes e alto fluxo, são menos penetradas do que as veias, contudo podem ocorrer em alguns casos específicos. Na disseminação venosa, entretanto, as células tumorais são frequentes, sendo transportadas e soltas no primeiro leito capilar de fluxo lento e fácil passagem que encontram (pulmão e fígado normalmente, dadas as conformações anatômicas). Nesses locais, tais células neoplásicas voltam a se instalar e se multiplicar (podem ficar em latência e demorar um certo tempo também), sobrevivendo até às tentativas de contenção do sistema imune – Teoria da Autonomia. 34 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 34 Essas metástases vão ter ainda uma alta capacidade de multiplicação do endotélio e indução da Angiogênese, processo que leva vasos sanguíneos e nutrientes para o local da lesão, aumentando facilitando a sua proliferação no local. O Miocárdio é um local raro de instalação de metástases, tendo em vista que, apresenta péssimas condições para a infiltração das células: alta pressão, fluxo rápido, parede em contração rítmica. O Baço e o Músculo Estriado Esquelético também são inviáveis para essa disseminação. ESTADIAMENTO O Estadiamento consiste em um processo utilizado para determinar a extensão de um tumor maligno presente no organismo e o local onde está localizado. É usado para determinar o avanço do câncer na pessoa, para a escolha do tratamento correto, para a definição de um prognóstico esperado, etc. Primeiramente, os médicos observam o tumor primário (tamanho, localização, crescimento) e investigam se há algum outro tumor nas proximidades. Em um segundo momento, analisam os linfonodos próximos da região afetada, buscando identificar se houve algum indício de metástase ou disseminação da neoplasia. O procedimento pode ser usado também para a determinar o estágio, tipo celular e o grau de evolução da lesão. Segue um exemplo de estadiamento pelo TNM. 35 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 35 Categoria T: Informações sobre aspectos do tumor primário (tamanho, profundidade, invasão de tecidos adjacentes): • Tx – Não pode ser avaliado • T0 – Não existe evidência de tumor primário (não encontrado) • Tis – Tumor in situ, células neoplásicas se desenvolvem apena na camada mais superficial do tecido, sem invadir partes mais profundas • T1, T2, T3 e T4 – Descrevem o tamanho do tumor e sua disseminação nas proximidades Categoria N: Descreve se o câncer se espalhou para os linfonodos vizinhos: • Nx – Não pode ser avaliado • N0 – Linfonodos vizinhos não afetados • N1, N2 e N3 – Descrevem o tamanho, localização e número de linfonodos afetados pela neoplasia. Quanto maior esse número, maior a disseminação pela via linfática Categoria M: Descreve se o câncer sofreu metástases para sítios distantes do organismo: • M0 – Nenhuma metástase encontrada • M1 – Metástases à distância encontradas Obs: A maioria dos tipos de câncer possui a sua própria versão deste sistema de classificação, logo, nem sempre ele possui o mesmo significado! CARCINOGÊNESE O desenvolvimento das neoplasias advém de causas externas (exposição a fatores exógenos – hábitos e cultura, chimarrão) associadas a causas internas (genéticas e epigenéticas, alterações nos genes e nas histonas que modelam o DNA, não necessariamente congênita). Essas fatores estão inter-relacionados e a sua interação aumenta em muito as chances de aparecimento de células malignas. Os CARCINÓGENOS, ou seja, substâncias que podem ocasionar o surgimento de neoplasias, são identificados por meio de algumas técnicas: 1. Levantamento Epidemiológico, o aumento da prevalência/incidência de certos tumores em algumas regiões com características específicas em detrimento de outras com um número muito menor de casos. 2. Isolamento de substâncias químicas, que podem estar causando essasalterações e que estão diretamente relacionadas aos indivíduos afetados pelas lesões. 36 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Alan Paz Medicina UFFS, ATM 2024/1 3. Exposição de animais a estes carcinógenos, injeta-se a substância estudada em ratos ou outros animais de laboratório e analisa-se se há o surgimento de alguma alteração/neoplasia. 4. Exposição do carcinógeno em potencial a célula em cultura, agora em um estágio já mais avançado onde os testes ocorrem em material humano. 5. Teste de mutagênese em bactérias, teste de Ames. Para que a substância seja classificada como carcinogênica, ela precisa causar alguma MUTAÇÃO no material genético humano, levando a sucessivas multiplicações dessa célula lesada e formando o tumor. O agressor pode, ainda, ser físico (radiação) ou biológico (vírus). TEORIA MÚLTIPLOS PASSOS INICIAÇÃO: Corresponde ao início do estímulo, envolve a exposição a um carcinógeno e sua interação com o DNA celular, provocando uma mutação/alteração permanente. Essa célula fica latente no organismo, podendo ser eliminada ou vir a desenvolver alterações futuramente. PROMOÇÃO: Caracteriza-se pela expansão clonal das células iniciadas através de sucessivas mitoses, entretanto, ainda dependem de um estímulo promotor a todo momento. Esse fator de estimulação pode ser exógeno ou endógeno, sendo geralmente representado pelos hormônios. PROGRESSÃO: A célula adquire sua autonomia própria. As células se livram dos mecanismos que regulam a replicação celular e a organização arquitetônica, adquirindo a característica maligna. Por adquirir uma certa automação, o câncer não depende mais de carcinógenos ou agentes promotores para continuar a se desenvolver. O CÂNCER consiste, então, no resultado de todo esse processo, sendo estabelecido quando as células adquirem a capacidade de invadir outros tecidos e sofrer o processo de metástase. Essas células vão se multiplicar tanto, a ponto de ser clinicamente detectáveis (1g = 109 células). • Certos carcinógenos, como o tabaco, funcionam como agentes completos, ou seja, atuam nas três fases do processo de gênese do câncer, sendo considerados substâncias de alto risco. O Cigarro (tabaco) causa um processo de inflamação crônica. Já o álcool, atua como agente promotor no processo. 36 37 RESUMO PATOLOGIA – NP2 Luis Maronezi Medicina UFFS, ATM 2022/2 Para os tecidos epiteliais, essas etapas são muito bem delimitadas, entretanto, em outro órgãos isso já é de difícil compreensão. Nos epitélio, a promoção e progressão do surgimento do tumor são representados pela seguinte sequência: Int. Delgado Hiperplasia Neoplasia Benigna Adenocarcinoma Colônico (Displasia) (carcinoma in situ) Esse epitélio exógeno do TGI é muito exposto a diversos agentes carcinógenos (conservantes, corantes, alimentos) e, sendo assim, quanto maior o tempo que estas substâncias ficam no trato, maior a chance de surgimento de uma mutação. Portanto, é importante ressaltar que pacientes com histórico de constipação vão ter uma certa disposição maior a adquirir tal neoplasia, já que o tempo de contato do epitélio com o carcinógeno é muito maior. MUTAÇÃO: Consiste em qualquer modificação ou alteração brusca de genes ou de cromossomos, podendo provocar uma variação hereditária ou uma mudança no fenótipo. Inicialmente, essa lesão pode ser corrigida pelo organismo, porém, caso não seja revertida, vários clones surgirão a partir desta célula lesada e assim se iniciará a carcinogênese. HETEROGENICIDADE. • As mutações vão poder ser benéficas (evolução), maléficas (neoplasias), somáticas ou germinativas (gônadas-ovários ou testículos-embrião), gênicas ou cromossômicas (estruturais ou numéricas). • Essa alteração gênica geralmente acarreta na síntese de uma proteína alterada, que é quem causará problemas. • Em células germinativas, as mutações passarão para os descendentes. AGENTES MUTAGÊNICOS: São substâncias químicas ou radiações que aumentam a probabilidade de ocorrência de mutações. Fontes naturais de radiação, substâncias químicas e drogas, compostos nitrogenados (mutação por substituição, inibem a ação da Vitamina C, a qual, atuaria como corretora de alterações e protetora do DNA), ácido nitroso, benzopireno (tabaco), radiações ionizantes e UV. TUDO DEPENDE DO TEMPO E DOSE DE EXPOSIÇÃO. Existem famílias de genes que estão sempre nos protegendo da exposição contra agentes lesivos, realizando funções de homeostasia celular e controlando a relação da célula com o tecido adjacente – PROTO-ONCOGENES. A partir do momento que ocorre uma mutação específica nesse grupo de genes, eles passam a se chamar ONCOGENES e passam a expressar/produzir várias características de células neoplásicas. O câncer por indução de alterações genéticas envolve, portanto, mutações nesses genes normais responsáveis pela replicação e morte celular. Quatro tipos de genes são tipicamente afetados: os que codificam fatores de crescimento, os que regulam a apoptose, os supressores de tumores e os que codificam enzimas de reparo do DNA. 37
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