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METODOLOGIA DO ENSINO SUPERIOR Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Autor: Norberto Siegel CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Prof.ª Bárbara Pricila Franz Prof.ª Cláudia Regina Pinto Michelli Prof.ª Kelly Luana Molinari Corrêa Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Luis Augusto Ebert Revisão Gramatical: Iara de Oliveira Revisão Pedagógica: Ivan Tesck Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2016 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 378 S571m Siegel; Norberto Metodologia do ensino superior/ Norberto Siegel. Indaial : UNIASSELVI, 2016. 124 p. : il. ISBN 978-85-69910-16-9 1. Ensino Superior. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci Norberto Siegel Possui graduação em Filosofi a, pela Fundação Educacional de Brusque (1990), graduação em Teologia, pelo Instituto Teológico de Santa Catarina (1994), especialização em Filosofi a e Teoria do Conhecimento e Filosofi a da Ciência, pela Fundação Educacional de Brusque (2001), e mestrado em Educação, pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (2005). Além de professor de cursos de Graduação e pós-graduação do Centro Universitário Leonardo da Vinci, tem experiência na área de Filosofi a e Educação, com ênfase em Ética. Na EAD, publicou vários materiais didáticos, tais como: Temas Transversais; Filosofi a Geral e da Educação; Fundamentos Epistemológicos da Geografi a; Legislação e Avaliação do Ensino Superior no Brasil. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação ...........................................9 CAPÍTULO 2 Tendências Pedagógicas .....................................................35 CAPÍTULO 3 Metodologias de Ensino e Aprendizagem ..........................57 CAPÍTULO 4 Planejamento do Ensino ......................................................75 CAPÍTULO 5 Avaliação do Ensino e da Aprendizagem .............................89 CAPÍTULO 6 Tecnologias de Comunicação no Ensino Superior ........ 111 APRESENTAÇÃO Você deve estar se perguntando: como é feita a preparação de um professor para lecionar no Ensino Superior? O médico, o advogado, o engenheiro, o arquiteto e as demais profissões realizam o curso de Ensino Superior para poder atuar no mercado de trabalho. E como se aprende a ser professor universitário? No Brasil, a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e base da educação nacional, em seu art. 66, afirma que: “a preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado”. Como há falta de mestres e doutores para lecionarem no Ensino Superior, a preparação para essa área é feita por meio de cursos de pós-graduação lato sensu (especialização), que é a formação mínima para se poder atuar na sala de aula nos cursos superiores. Portanto, os cursos de pós- graduação lato sensu têm a disciplina de Metodologia do Ensino Superior ou Didática do Ensino Superior, que é voltada para a formação docente. O objetivo da disciplina é apresentar os principais aspectos do processo de preparação do professor, na pós-graduação lato sensu, para o exercício do magistério em nível superior. Para isso, os conteúdos estão divididos em 6 capítulos. O primeiro capítulo tem como título “O Panorama histórico do Ensino Superior e as políticas públicas de educação”, em que são apresentados a origem do termo universidade e seus modelos, relacionados à história da Educação Superior no Brasil e suas políticas públicas. O segundo capítulo apresenta as tendências pedagógicas presentes na prática pedagógica das instituições de ensino e que foram desenvolvidas pelo professor e pesquisador José Carlos Libâneo. Complementam o capítulo os aspectos que diferenciam disciplinaridade, transversalidade e interdisciplinaridade. No terceiro capítulo são apresentadas algumas metodologias de ensino, dentre elas, podemos destacar a aula expositiva, os seminários, os trabalhos em grupo, as atividades práticas e a sala de aula invertida. O quarto capítulo é dedicado ao planejamento de ensino, uma das atividades mais importante para o professor de Ensino Superior. Nele é apresentada uma definição de planejamento de ensino e como elaborar um plano de aula e de disciplina. O quinto capítulo apresenta o tema avaliação como um instrumento de aprendizagem. Nele abordam-se as funções da avaliação (diagnóstica, formativa e somativa) e alguns tipos de avaliação que podem ser elaborados no Ensino Superior. Por fim, o sexto capítulo apresenta as tecnologias de comunicação que estão presentes no Ensino Superior, bem como o desenvolvimento da educação a distância nestes últimos anos no Brasil. Bons estudos! O autor. CAPÍTULO 1 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Identifi car os fatos que marcaram a história da Educação Superior. Conhecer as principais políticas públicas para a Educação Superior na atualidade. Relacionar os conhecimentos históricos da origem das Universidades e as políticas públicas de educação com a atualidade. 10 Metodologia do Ensino Superior 11 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 ConteXtualização O que nos inspira a apresentar este capítulo sobre o panorama histórico do Ensino Superior é trazer a memória da universidade, que desempenhou um papel importante de desenvolvimento junto à sociedade, pois ela contextualiza histórica e politicamente muitas das ações realizadas na atualidade e que têm forte infl uência história na Educação Superior. Antes de iniciarmos nossa viagem pela história do pensamento e do ensino superior em nível geral e de Brasil, queremos destacar a fi losofi a que foi o marco inicial e essencial para o surgimento da educação como ciência. Foi a partir da Filosofi a Grega, principalmente pelos pensadores Sócrates, Platão e Aristóteles, que surgiram as bases as quais deram sustentação ao desenvolvimento das instituições de ensino. Sócrates, fi lósofo da cidade de Atenas, vivendo entre os anos 469 a 399 a.C., desenvolveu um método prático de ensino e de investigação baseado no diálogo, na conversa, na dialética, que tinha por fi nalidade desenvolver nas pessoas um conhecimento mais seguro sobre as coisas e não apenas das aparências. Platão, que também foi fi lósofo e nasceu em 427 a. C, na cidade de Atenas na Grécia, fundou a academia, entendida por muitos como a primeira universidade. Nela os estudantes aprendiam fi losofi a, matemática e ginástica. Não se constitui realmente em uma universidade porque representava a forma de pensar de um pensador e sua escola era para repassar os seus conhecimentos. Somente na Idade Média, por interferência da Igreja Católica, é que as universidades ganharam corpo e os alunos aprendiam sobre assuntos relacionados à fé, à ciência e à fi losofi a. Neste capítulo, vamos apresentar a origem do termo universidade e os principais modelos de universidade que se desenvolveram ao longo da história, relacionados com a realidade brasileira. Por fi m, vamos apresentar as principais políticas públicas para a Educação Superior no Brasil. Origem do Termo Universidade Para que possamos compreender o processo de formação do Ensino Superior brasileiro, faz-se necessário conhecer as origensda universidade que, de alguma forma, deixaram marcas na atual estrutura e organização de ensino. Queremos compartilhar com você uma das maiores conquistas da humanidade, a ideia de universidade, para, depois, especifi car os principais marcos históricos do desenvolvimento do Ensino Superior. 12 Metodologia do Ensino Superior O termo universidade vem do latim universitas, que signifi ca “um todo”. É uma instituição de ensino que se caracteriza por ofertar cursos de ensino superior (graduação e pós-graduação) a um número de pessoas inscritas. “A origem do termo “universidade” não está relacionado ao conhecimento universal, como comumente se pensa, mas ao conceito de corporação, de uma associação que mantém uma unidade.”. (FERREIRA, 2010, p. 25). A expressão universidade surgiu na Idade Média, em torno do século XII, e se referia a instituições que reuniam um conjunto de alunos e seus mestres, as quais abordavam o conhecimento de determinadas atividades. Os dois centros que se tornaram modelos para as fundações posteriores, por mérito de sua considerável distinção, forma Paris e Bolonha; mas a ele se sucederam, rapidamente muitos outros centros, de maneira que uma rede destas instituições se espalhou em breve pela Europa, desde a Espanha, de um lado, até a Polônia e Boêmia, de outro. Os professores em Paris e os estudantes de Bolonha acharam vantajoso se agrupar numa corporação legal, e consequentemente adotam o termo universitas, um termo que podia ser usado por qualquer espécie de associação legal; por volta do fi m da Idade Média, ele já estava começando a ser restrito ao que denominamos agora universidades. (MINOGUE, 1979, p. 15). Cabe destacar, ainda, que a expressão universidade deriva da expressão latina universitas magistrorum et scholarium, signifi cando uma congregação de mestres e estudantes para designar uma organização em torno do ensino em que os envolvidos ligavam-se pelos mesmos interesses. Em sua organização mais moderna, a universidade passou a signifi car uma instituição de ensino que oferece aulas em disciplinas aos que querem obter uma profi ssão. A universidade é uma instituição que não nasceu em nosso País. É importada com modelos vindos de Portugal, França, Alemanha e Estados Unidos. Não foi pensada originalmente para o Brasil. Foi pensada para ser resposta a problemas de outras regiões que possuíam uma realidade própria e peculiar. (CASSIMIRO; GONÇALVES, apud FERREIRA, 2010, p. 23). A partir dessas considerações, queremos identifi car os fatos que marcaram a história da universidade e das infl uências sofridas desde sua criação. Por isso, pretendemos apresentar as características do modelo jesuítico, francês, alemão e inglês para, posteriormente, compreendermos o modelo brasileiro de Ensino Superior. O termo universidade vem do latim universitas, que signifi ca “um todo”. 13 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 Os Modelos de Universidade e Suas InFluências Apresentamos os modelos de universidade jesuítica, francesa, alemã e inglesa, que são referências para a compreensão da universidade contemporânea, as quais, de alguma forma, infl uenciaram a compreensão do ensino superior brasileiro. a) O Modelo Jesuítico Para compreendermos os primeiros passos da universidade no Brasil, apresentamos o modelo jesuíta, descrito pelas professoras Léa das Graças Camargos Anastasiou e Selma Garrido Pimenta, em seu livro Docência no Ensino Superior. As primeiras instituições escolares implantadas no Brasil foram organizadas nos moldes das demais escolas jesuíticas dos vários países. Nelas havia um programa básico de estudos, composto pelo Trivium, que abrangia a Gramática, a Retórica e a Dialética, e o Quadrivium, que abrangia a Aritmética, a Geometria, a Astronomia e a Música. O MODELO JESUÍTICO As primeiras instituições escolares implantadas no Brasil foram organizadas nos moldes das demais escolas jesuíticas dos vários países, que iniciaram o trabalho de escolarização num contexto em que o cristianismo visava “poder manter-se, propagar sua doutrina e assegurar o exercício do culto” (ULLMANN, 1994, p. 35). Eram escolas que iniciavam com o ensino das primeiras letras, chegando até as escolas superiores. Nelas havia um programa básico de estudos, composto pelo Trivium, que abrangia a Gramática, a Retórica e a Dialética, e o Quadrivium, que abrangia a Aritmética, a Geometria, a Astronomia e a Música. Para construir o método de ensino, os jesuítas tomaram como referência o método escolástico, existente desde o século XII, e o modus parisiensis, como era chamado o método em vigor na Universidade de Paris, local onde Inácio de Loyola e os demais jesuítas fundadores da Companhia de Jesus realizaram seus estudos. Nesses modelos, em que o uso do latim imperava, visava-se à abordagem exata e analítica dos temas a serem estudados, clareza nos conceitos e defi nições, argumentação precisa e sem digressões, expressão rigorosa, lógica e silogística. Nesses dois modelos tomados como referência (o escolástico e o modus parisiensis), dois momentos eram fundamentais: a lectio, que consistia na leitura do texto e na sua interpretação 14 Metodologia do Ensino Superior pelo professor, com a análise de palavras, o destaque de ideias e a sua comparação com outros autores; e a questio, que consistia nas perguntas do professor aos alunos e destes ao mestre (ULLMANN; BOHNEN, 1994, p. 37). É preciso considerar a inexistência da imprensa e a difi culdade da cópia, um a um dos livros existentes. Durante as aulas, aos alunos cabia realizar as reportaciones, ou seja, anotações para serem memorizadas em exercícios, e utilizar um caderno para loci communes, em que registravam, por ordem, assuntos e frases signifi cativas, palavras e pensamentos ou completavam essas anotações com citações transpostas, imitando os clássicos. Como o texto comentado pelo professor suscitava dúvidas, surgiam as quaestiones, indagações feitas pelos alunos ou pelo professor, visando clarear pontos difi cultosos. Delas surgiam as disputationes entre professores e alunos ou só entre esses últimos. Todo início de aula era precedido de verifi cação da lição anterior, chamada lectionem reddere, e, semanalmente, realizava- se uma recapitulação de toda a matéria. Nas escolas jesuíticas, as aulas ocorriam em período integral, e ao fi nal da manhã e da tarde os alunos faziam as repetições do meio-dia e do fi nal da tarde, sob o comando de um aluno decurião, que, a exemplo do modelo do exército romano, era o “comandante” de um grupo de dez alunos. A formação e a personalidade de cada professor – um sacerdote – eram elementos fundamentais para a efi cácia do método jesuítico. Como o objetivo era salvar as almas para Deus, cabia seguir cada aluno e concentrar toda a sua ciência em saber ensinar, adaptando- se ao aluno, pondo em jogo toda a solicitude e amor exigido por sua vocação sacerdotal e docente. A fi m de garantir a ordem e o sucesso, toda anarquia discente e docente devia ser evitada: as normas eram rigidamente seguidas. A base estava na unidade e hierarquia da organização dos estudos, na divisão e na graduação das classes e programas em extensão e difi culdade, não se permitindo passar a uma etapa mais avançada sem que a anterior estivesse totalmente dominada. O conhecimento, tomado como algo posto, indiscutível, pronto e acabado, devia ser assim repassado, e a memorização era concebida como operação essencial e recurso básico de ensino e aprendizagem. O material de ensino era comum a todas as escolas jesuíticas, independentemente do país em que se encontravam, e estava contido no documento chamado Ratio Studiorum, cabendo aos professores apenas cumpri-lo. 15 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 A ação docente é a de transmitiresse conteúdo indiscutível a ser memorizado, num modelo da exposição (aula expositiva – quase palestra) que era acompanhado de exercícios a serem resolvidos pelos alunos e tinha o recurso da avaliação como controle rígido e preestabelecido. Nas escolas jesuíticas, efetivou-se a manutenção de um modelo único, com controle rígido dentro e fora da sala da aula, e uma hierarquia de organização de estudos. [...] Hoje, diferentemente do momento jesuítico inicial, não se impõe ao professor universitário um manual. Sua ação docente é muito mais calcada no senso comum do como ensinar. Neste, no entanto, a prelação do docente, a memorização, a avaliação, a emulação e o castigo característicos do modelo jesuítico permanecem. Luckesi (1994, p. 93-106) o defi ne como “conceitos, signifi cados e valores que adquirimos espontaneamente, pela convivência, no ambiente em que vivemos” e afi rma que, de acordo com esse senso comum vigente, para ser professor no sistema de ensino escolar, basta tomar certo conteúdo, preparar-se para apresentá-lo ou dirigir o seu estudo; ir a uma sala de aula, tomar conta de uma turma de alunos e efetivar o ritual da docência, que consiste em apresentar os conteúdos, controlar os alunos, avaliar a aprendizagem, disciplinar. Mantivemos o estudo dos clássicos por meio dos textos e de exercícios trabalhados num processo de repetição e exercitação do preestabelecido, condicionado a um currículo fi xo, determinado e organizado por justaposição de disciplinas. Fonte: PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no ensino superior. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2014. p. 144-148. Inácio de Loyola foi o fundador da Companhia de Jesus, ordem dos jesuítas que realizou o início do processo de escolarização no Brasil e que aqui permaneceu até sua expulsão pelo Marquês de Pombal, no século XVIII. 16 Metodologia do Ensino Superior Cabe destacar que este modelo de ensino teve seu início no Brasil com a chegada dos Jesuítas em 1549. Suas práticas educativas eram realizadas por meio de missões religiosas, visando evangelizar os índios, por meio de aulas de alfabetização da língua portuguesa, músicas, artes aos fi lhos dos colonos e alguns índios, e, ainda, por meio da criação dos seminários, para formar religiosos com o intuito de dar continuidade à catequização e à evangelização dos primeiros habitantes brasileiros. Nesse modelo de ensino, o aluno era um ser passivo e obediente, que recebia as verdades proferidas pelos seus professores e que deveria memorizá- las e reproduzi-las na hora das provas. Os alunos eram considerados uma “tábula rasa”. Isso signifi ca que não tinham conhecimento nenhum antes de frequentarem a escola. O professor era o responsável por ensinar, mas se o aluno não aprendesse, a culpa era do aluno, pois não tinha aptidão para o estudo. Por fi m, vale destacar que o modelo jesuítico se encontra, pois, na origem das práticas e modos de ensinar das Instituições do Ensino Superior. Na sequência, vamos apresentar o modelo Francês, que tinha como objetivo formar técnicos para viabilizar o desenvolvimento industrial da França e a expansão político-militar. b) Modelo Francês Também chamado de Napoleônico, o modelo francês de universidade tem como fi nalidade principal formar profi ssionais, tais como: professores, funcionários públicos, servidores, para atender às necessidades do Estado. Como as universidades eram partes integrantes da administração do Estado, não tinham autonomia institucional para realizarem seus estudos, pois tinham que atender às demandas e às solicitações dele. Nesse modelo, os professores têm um papel relevante: infl uenciar o desenvolvimento de programas e políticas para servirem ao Estado, ao invés da sociedade. O modelo possuía uma preocupação com a formação de uma noção de nacionalidade junto à população. Uma das formas do Estado impor seu domínio estava na defi nição dos conteúdos dos cursos que estivessem diretamente ligados aos seus interesses, bem como no fi nanciamento do ensino e da pesquisa. O modelo francês é um dos exemplos mais antigos de uso, por parte do Estado, da universidade para a modernização da sociedade, por meio do rigoroso controle do fi nanciamento das instituições de ensino e da nomeação de pessoal para assegurar uma distribuição equitativa dos recursos em todo o território nacional, visando ao seu desenvolvimento. A formação de professores para o exercício da “docência universitária, era adquirida por meio de títulos que deveriam ser reconhecidos pelo Estado, ou seja, 17 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 A educação era monopólio do estado e tinha a função de difundir suas ideias perante a sociedade. O professor universitário, mais que um funcionário público, deve assumir o papel de membro de uma corporação científi ca, reivindicando a autonomia da pesquisa e do ensino. deveria haver uma organização mínima e comum desses estudos para que fossem aprovados” (FERREIRA, 2010, p. 27). Em suma, pode-se afi rmar que “a educação era monopólio do estado e tinha a função de difundir suas ideias perante a sociedade.”. (FERREIRA, 2010, p. 27). De acordo com a historiografi a tradicional, o modelo francês foi o que mais infl uenciou a formação da universidade brasileira. Ela conserva características herdadas desse modelo na sua atual estrutura, que vão desde a organização de suas faculdades, perpassam pela relação do ensino centrado no professor, concebendo este como detentor do conhecimento; pelo processo de ensino eminentemente memorialístico; à concepção de avaliação como instrumento fundamentalmente classifi catório. (FERREIRA, 2010). c) Modelo Alemão O modelo alemão, também chamado de Humboldt, surgiu devido ao fi lósofo Alexander Von Humboldt, cientista que lançou as bases do conhecimento científi co. Apesar de ter pesquisado diversas coisas em seus mínimos detalhes, sempre o fez com uma visão geral e imparcial. Defendia a pesquisa como função primordial da universidade em busca da verdade, sempre acompanhada do ensino. Segundo a concepção alemã, para que a universidade desempenhe plenamente o seu papel, ela deve ser autônoma, embora sua existência dependa economicamente do Estado. Nesse sentido, num Estado que limite a liberdade de ensino e de pesquisa, que impeça a busca e a transmissão incessante da verdade científi ca, não será possível a existência de uma autêntica universidade. Daí que os homens de ciência ou os intelectuais não podem estar vinculados diretamente à prática política cotidiana, que compromete a autonomia do pensamento e a busca da “verdade pura”. O mundo da ciência não pode ser confundido com o mundo da ação, embora seja penetrado pelas realidades deste, que se convertem em objeto de investigação. No universo científi co, a valoração e a ação cedem lugar à “pureza da verdade”. O professor universitário, mais que um funcionário público, deve assumir o papel de membro de uma corporação científi ca, reivindicando a autonomia da pesquisa e do ensino, o que implica a sua independência das pressões e demandas externas à aventura do saber. (PAULA, 2002, p. 151-152). Um aspecto importante a se destacar no modelo alemão de universidade é a relação entre pesquisa e educação, que teve grande infl uência na universidade brasileira, principalmente no desenvolvimento de pesquisas por meio do ensino, na liberdade administrativa, na complementaridade do Ensino Fundamental e Médio com o Ensino Superior. Esse modelo enfatiza a formação científi ca e humanista, 18 Metodologia do Ensino Superior enquanto a formação tecnicista, presente nos cursos técnicos (Pronatec), está relegada ao segundo plano. d) Modelo Inglês O modelo inglês de universidade retrata basicamente a realidade de duas universidades: Oxford e Cambridge. Foram criadas no século XII e XIII e tiveram fortes infl uências das instituiçõesreligiosas, para as quais a aristocracia, de alta posição social, enviava seus fi lhos para realizarem seus estudos e, posteriormente, assumirem as funções de comando na sociedade. Tinham a função de formar o caráter dos estudantes para exercer com dignidade uma profi ssão dentro de princípios éticos e morais. Buscavam formar o “gentleman”, com “uma inteligência cultivada, um gosto refi nado, um espírito leal, justo e severo, uma conduta nobre e cortês, qualidades que acompanham um vasto saber.”. (NEWMANN apud ROSSATO, 1998, p. 130). Gentleman: palavra inglesa que signifi ca cavalheiro, pessoa de conduta irrepreensível, dotado de grande educação e cultura, e de grande delicadeza de trato. A citação de Dréze e Debelle (1983, p. 35) resume bem qual é o papel da universidade inglesa: O problema e a tarefa especial de uma universidade não é fazer avançar a ciência, nem fazer descobertas, nem formar novas escolas fi losófi cas, nem inventar novos modelos de análise, nem efetuar trabalhos de medicina, de direito ou mesmo de teologia, mas, muito mais, formar espíritos, religiosamente, moralmente e intelectualmente [...]. Em suma, o modelo Inglês de universidade é uma instituição que zela pelos valores tradicionais e por formar uma elite que irá administrar sua nação. Para fi nalizarmos esta seção, apresentamos um quadro comparativo entre os principais modelos universitários apresentados e que irão infl uenciar diretamente na formação da universidade brasileira. O modelo Inglês de universidade é uma instituição que zela pelos valores tradicionais e por formar uma elite que irá administrar sua nação. 19 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 Quadro 1- Comparativo entre os principais modelos de universidade que infl uenciaram a universidade brasileira Modelos universi- tários Características marcantes Principais infl uências no ensino superior brasileiro Jesuítico - Modelo de ensino (ratio studiorum): profes- sor apresentava o conteúdo, levantamento de dúvidas dos alunos e exercícios para fi xação. - O aluno copiava e memorizava o conteúdo. - O conhecimento era tido como indiscutível, verdadeiro, pronto e acabado. - A fi gura do professor era de portador da verdade e critério de cientifi cidade do conte- údo transmitido. - O professor era autoridade indiscutível e responsável por todas as respostas possí- veis sobre o tema estudado. - Os alunos deveriam se comportar como aprendizes passivos. - Foi o primeiro modelo que esteve presente no Brasil. - O modelo de ensino ainda conti- nua bem presente nas instituições de ensino superior brasileiras. - Realização de provas e exames para mensurar o conhecimento. - Caracteriza-se como uma peda- gogia tradicional de ensino. Francês - Faculdades isoladas. - Ciência como instrumento de controle. - Forte dependência do Estado. - Ensino centrado na formação de quadros superiores no país. - Formação docente com currículo mínimo e submissão destes ao Estado. - Organização das faculdades em estruturas compartimentalizadas. - Professor como detentor do conhecimento. - Ensino memorialístico. - Avaliação como instrumento classifi catório e excludente. Alemão - Pesquisa como função primeira. - Preocupação com o saber e com a verda- de. - Formação docente sem currículo pré-deter- minado, portanto, subjetiva. - Ausência da fi gura controladora do Estado. - Desenvolvimento da pesquisa no ensino. - Autonomia, ainda que pela liber- dade administrativa. - Preocupação em formar pesqui- sadores. - Ensino superior como comple- mento do fundamental e médio. Inglês - Ciência como atividade neutra. - Dissociação entre ensino e pesquisa. - Conservação e transmissão dos saberes acumulados. - Separação entre ensinar e pesquisar. - Pluralidade de instituições forma- doras. - Caráter elitista. Fonte: Ferreira e Shuvartz (2010 apud FERREIRA 2010, p. 31). 20 Metodologia do Ensino Superior Atividade de Estudos: 1) Quais são as características marcantes e as principais infl uências dos modelos de universidade jesuítico, francês, alemão e inglês no ensino superior brasileiro? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Universidade Brasileira: Democracia e Cidadania Inicialmente, serão apresentadas algumas refl exões acerca do modelo de Educação Superior brasileiro presente nestas últimas décadas e, posteriormente, alguns indicadores do Ensino Superior na atualidade. O principal aspecto que marcou cada um dos períodos da história da educação superior foi: as universidades públicas criadas na primeira metade do século passado seguiram uma visão liberal e de não interferência do Estado e da sociedade na universidade, ou seja, a ideia do saber desinteressado. Na década de 50, a universidade caracterizou-se por desenvolver uma ideia de educação pública gratuita a todas as camadas sociais, dando sinais de atender a um dos direitos primordiais do cidadão, a educação pública. [...] O ensino universitário público era pago, mas estudantes que comprovassem falta de recursos tinham direito a bolsas de estudos. As taxas escolares, devido às reivindicações por gratuidade, deixaram de ser reajustadas até que, com o tempo, não mais cobradas. Esse fato aliado às pressões de estudantes e docentes para expansão do ensino gratuito, levou à federalização de diversos estabelecimentos. Por este procedimento, escolas mantidas por municípios e estados foram incorporadas à União pela Lei n. 1.254 de dezembro de 1950. No ano seguinte, mais 39 instituições, entre Faculdades Isoladas e Universidades também foram benefi ciadas, com isso, a gratuidade na educação superior brasileira passou a existir de fato na década de 1950. (CUNHA, 1989 apud REIS, 2008, p. 25-26). Na década de 50, a universidade caracterizou-se por desenvolver uma ideia de educação pública gratuita a todas as camadas sociais, dando sinais de atender a um dos direitos primordiais do cidadão, a educação pública. 21 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 Na década de 70, em pleno regime das ditaduras militares no Brasil e América Latina, o Estado passa a controlar e censurar o pensamento, limitando o acesso ao saber, mas procurou atender às necessidades da indústria e da tecnologia. Os aspectos que caracterizaram a Educação Superior nesta época eram a “disseminação de uma visão tecnicista e burocrática de educação; adoção da indissociabilidade entre ensino e pesquisa; expansão de vagas; implantação da pós-graduação e de atividades de extensão; conceito de autonomia.”. (MENEGHEL, 2003, p. 157). Caso você queira aprofundar os seus estudos sobre a Universidade no período da Ditadura Militar, sugiro a leitura da tese de doutorado de Stela Maria Meneghel, “A Crise da Universidade Moderna no Brasil”, principalmente o capítulo 4 – Reforma Universitária de 68: a implantação. Na década de 90, as instituições atravessam um momento diferente, ou seja, as instituições de Ensino Superior passam por um processo de mercantilização do ensino, comandadas pela lógica do capital, com certa autonomia para adaptar- se às regras do mercado, enquanto o Estado fi ca com o papel de avaliar o desempenho, consequentemente, isentando-se de qualquer responsabilidade pelo fracasso das instituições de Ensino Superior. Tabela 1 - Evolução do número de instituições públicas e privadas de Ensino Superior no Brasil – 1970-2000 Ano Universidade Faculdadesintegradas Estabelecimentos isolados Centros Universitários Total Público Privado Público Privado Público Privado Público Privado 1970 32 15 - - 139 463 - - 639 1975 37 20 - -178 625 - - 860 1980 45 20 1 10 154 643 - - 882 1985 48 20 1 58 184 548 - - 859 1990 55 49 - 74 167 582 - - 918 1995 68 59 3 84 147 490 - - 851 2000 71 85 2 88 132 782 1 49 901 Fonte: Disponível em: <http://nupps.usp.br/downloads/docs/dt0303.pdf>. Acesso em: 2 abr. 2016. 22 Metodologia do Ensino Superior É importante notar que, de acordo com a Tabela 1, o Ensino Superior até 1980 estava concentrado nas universidades e estabelecimentos isolados de ensino. A partir de 1980 aparecem as faculdades e, no ano 2000, os centros universitários. Outro aspecto que merece destaque é a presença, cada vez mais forte, das instituições privadas no Ensino Superior. Em paralelo ao crescimento das instituições de ensino a partir da década de 70, também tivemos a elevação do número de alunos matriculados nos estabelecimentos de Ensino Superior. Analise a tabela que segue! Tabela 2 – Evolução dos números de matrículas em estabelecimentos públicos e privados no ensino superior brasileiro (1933 – 2010) Fonte: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-40362013000200009>. Acesso em: 11 abr. 2016. É importante destacar que, a partir do fi nal da década de 80, o Estado brasileiro realiza reformas no Ensino Superior. Tais mudanças modernizam e racionalizam as atividades estatais em quatro ciclos, que dão um direcionamento de como estão sedimentadas em nossa sociedade, a saber: 23 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 • Primeiro ciclo (1986 a 1992) – várias iniciativas de organização de um processo de avaliação, e a existência de avaliações isoladas no país não se constituindo em uma avaliação de caráter nacional (PARU, GERES); • Segundo ciclo (1993 a 1995) – denominado de formulação de políticas. Instalação do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB); • Terceiro ciclo (1996 a 2003) – denominado de consolidação ou implementação da proposta governamental. Ocorreu o desenvolvimento do Exame Nacional de Cursos (ENC), o Provão, e o da Avaliação das Condições de Oferta (ACO), a qual passou, posteriormente, a ser chamada de Avaliação das Condições de Ensino (ACE). Por fi m, houve, ainda, algumas Portarias para regulamentarem e organizarem a avaliação das IES; • Quarto ciclo (2003 a atual) – denominado de construção da avaliação emancipatória, com a implantação do SINAES, numa proposta de se desenvolver uma avaliação formativa e que considerasse as especifi cidades das IES do país. (FELIX, 2008; FONSECA, 2007 apud POLIDORI, 2009, p. 444). Analisando a história recente da evolução da Educação Superior brasileira, podemos destacar que, na atualidade, a Avaliação do ensino Superior é regulada pelos índices, que são: o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Índice Geral de Cursos da Instituição de Educação Superior (IGC). CPC - O Conceito Preliminar de Curso foi criado para agregar ao processo de avaliação da Educação Superior critérios objetivos de qualidade e excelência dos cursos. O CPC vai de 1 a 5 e, como o próprio nome sugere, é um indicador prévio da situação dos cursos de graduação. Para que os valores se consolidem, e representem efetivamente o que se espera de um curso em termos de qualidade e excelência, comissões de avaliadores realizam visitas locais para concordar ou alterar o conceito obtido preliminarmente. O Conceito Preliminar de Curso será divulgado anualmente, junto aos resultados do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes, o Enade. Os cursos com conceito 3 serão aqueles que atendem aos critérios de qualidade para funcionar. Da mesma forma, cursos com conceito 5 serão cursos de excelência, devendo ser vistos como referência pelos demais. IGC- Índice Geral de Cursos é um indicador de qualidade que avalia as instituições de Educação Superior. Ele é calculado anualmente, considerando a média dos últimos CPCs disponíveis dos cursos avaliados da instituição no ano do cálculo e nos dois anteriores, ponderada pelo número de matrículas em cada um dos 24 Metodologia do Ensino Superior cursos computados. Como o IGC considera o CPC dos cursos avaliados no ano do cálculo e nos dois anos anteriores, sua divulgação refere-se sempre a um triênio, compreendendo, assim, todas as áreas avaliadas, ou, ainda, todo o ciclo avaliativo. Fonte: Brasil (2016). Cabe ressaltar que, em cada um dos períodos apresentados, a Educação Superior estabeleceu relações diferentes com a sociedade, impedindo-a, muitas vezes, de participar e de atender as suas necessidades, passando o Estado a ser o ditador das normas e das regras, de acordo com a sua vontade e os seus interesses. Em números, como estavam as instituições de Ensino Superior em 2014? Confi ra os detalhes na fi gura que segue: Figura 1 – Números de instituições de Educação Superior e números de matrículas em cursos de graduação por organização acadêmica – Brasil – 2014 Fonte: Disponível em: <http://docplayer.com.br/11093503-Mec-censo- da-educacao-superior-2014.html>. Acesso em: 11 de abr. 2016. De acordo com a Figura 1, o Brasil tem 2.368 instituições, que oferecem cursos superiores em mais de 32 mil cursos de graduação. Quanto ao número de alunos matriculados no Ensino Superior, o Brasil registrou 7.823.013 de estudantes, de acordo com o Censo da Educação Superior 2014, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). 25 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 O que se observa nestes últimos anos é que há uma tendência de crescimento no número de estudantes e, consequentemente, de docentes no Ensino Superior, e que a maioria se concentra na rede privada de ensino. A seguir, apresentamos algumas defi nições e explicações com relação à classifi cação das instituições universitárias: • Universidades: instituições que se caracterizam pela indissociabilidade das atividades de ensino, pesquisa e de extensão. • Centros Universitários: confi guram-se como uma nova modalidade de instituição de Ensino Superior pluricurricular (criados a partir do Decreto n. 3.860/01). Caracterizam-se pela oferta de ensino de graduação, qualifi cação do seu corpo docente e pelas condições de trabalho acadêmico proporcionadas à comunidade escolar. Já as instituições não-universitárias caracterizam-se por atuar numa área específi ca do conhecimento ou da formação profi ssional e não têm autonomia para criação de novos cursos superiores, necessitando de autorização do poder executivo. As instituições não- universitárias classifi cam-se em: • Faculdades isoladas e integradas: como afi rmado anteriormente, são entendidas como faculdades e abrangem mais de uma área de conhecimento e estão organizadas para atuar com regimento comum e comando unifi cado. • Centros de Educação Tecnológica e os Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETS e CETS): são instituições especializadas de educação profi ssional pós-secundária, públicas ou privadas que têm a fi nalidade de qualifi car profi ssionais, nos vários níveis e modalidades de ensino. • Institutos Superiores de Educação: têm por fi nalidade à formação inicial, continuada e complementar para o magistério da educação básica, podendo oferecer cursos de licenciaturas e de pedagogia entre outros. Fonte: Soares (2002). 26 Metodologia do Ensino Superior Há várias bibliografi as que abordam o desenvolvimento histórico da Educação Superior no Brasil. Como sugestão de leitura complementar, indica-se o livro de: CHAUÍ, Marilena. Escritos sobre a universidade. São Paulo: UNESP, 2001. Este livro é escrito por uma das mais experientes pesquisadoras do campo da educação na atualidade e discute as diversas questões que envolvem a universidade pública em nosso país. Atividades de Estudos: 1) Estabeleça as principais diferençasentre universidades, centros universitários e faculdades. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Segundo os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep de 2014, um em cada 26 brasileiro está matriculado no Ensino Superior, ou seja, 7.828.013 alunos estudam na modalidade presencial ou a distância. Nesse sentido, analise a tabela que segue: 27 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 Tabela 3 – Total de matrículas em cursos de graduação - presenciais e a distância - 2014 Total Geral Universidades Centros Universitários Faculdades IF e CEFET Brasil 7.828.013 4.167.059 1.293.795 2.235.197 131.962 Pública 1.961.002 1.678.706 27.094 123.240 131.962 Federal 1.180.068 1.046.467 . 1.639 131.962 Estadual 615.849 546.086 1.793 67.970 . Municipal 165.085 86.153 25.301 53.631 . Privada 5.867.011 2.488.353 1.266.701 2.111.957 . Fonte: Adaptado de: <http://portal.inep.gov.br/superior- censosuperior-sinopse>. Acesso em: 21 abr. 2016. Considerando os dados dessa tabela e os estudos realizados até agora, elabore um texto em torno de 15 linhas que contemple os seguintes aspectos: • Análise geral sobre os dados apresentados na tabela. • As instituições públicas e privadas. • A educação na formação profi ssional. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ As Políticas Públicas Para a Educação Superior no Brasil O campo das políticas públicas é bastante amplo, pois envolve toda a história da educação brasileira e mundial. O propósito não é abordar todos os itens que marcaram a história, mas alguns aspectos que caracterizam as políticas públicas a partir da década de 90 para cá. Você deve estar se perguntado: o que são políticas públicas? Políticas públicas são formas de planejamento governamental visando coordenar os meios e recursos à disposição do Estado, e também do setor privado e suas atividades, para a realização de objetivos e ações ‘socialmente relevantes e politicamente determinados. (BUCCI, 2002 apud KAUCHAKJE, 2008, p. 71). 28 Metodologia do Ensino Superior Visando ampliar o crescimento das instituições de Ensino Superior, o Estado incentivou a participação das instituições privadas que aumentaram consideravelmente o número de matrículas por meio de programas desenvolvidos nestes últimos tempos. Os principais programas desenvolvidos para a Educação Superior são: a) Prouni – Programa Universidade para Todos É o programa do Ministério da Educação, criado pela Lei n. 11.096 de 13 de janeiro de 2005, que concede bolsas de estudos integrais e parciais (50%) às instituições privadas com cursos sequenciais e de graduação a estudantes brasileiros não possuidores de diploma de Ensino Superior. Em 2016, os requisitos que o estudante deve apresentar para participar do Prouni são: • Ser professor da rede pública de ensino, no efetivo exercício do magistério da educação básica e integrando o quadro de pessoal permanente da instituição pública, para os cursos com grau de licenciatura destinados à formação do magistério da educação básica; ou • Ter participado do Exame Nacional do Ensino Médio - Enem, a partir da edição de 2010, e obtido, em uma mesma edição do referido exame, média das notas nas provas igual ou superior a 450 pontos e nota superior a zero na redação. • Ter cursado o Ensino Médio completo em escola da rede pública ou privada na condição de bolsista integral da própria escola. É o programa do Ministério da Educação, criado pela Lei n. 11.096 de 13 de janeiro de 2005, que concede bolsas de estudos integrais e parciais (50%) às instituições privadas. Confi ra estas e outras informações no site do programa Prouni: <http://prouniportal.mec.gov.br>. b) Reuni – Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Em 2007, por meio do Decreto n. 6.096 de 24 de abril, é implantado o Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades 29 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 Federais (REUNI), que tem como proposta principal ampliar o acesso e a permanência na Educação Superior. Além de ampliar o acesso e a permanência na Educação Superior pública, as ações promovidas pelo REUNI visam criar condições para que as universidades possam expandir-se e melhorar o atendimento pedagógico e acadêmico. O programa também tem como objetivo elevar o número de vagas nos cursos de graduação, ampliar a oferta de cursos noturnos, promover inovações pedagógicas e tecnológicas e diminuir a taxa de evasão nos cursos de graduação presenciais. c) Fies – Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior Criado em 1999 pelo governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), o Fies substituiu o Programa de Crédito Educativo – PCE/CREDUC, que foi aperfeiçoado pelos governos posteriores. O Fies destina-se a estudantes regularmente matriculados em instituições de Educação Superior privada e que são reconhecidas pelo MEC, com exigência de participação no Enem. Após ter feito a inscrição, o estudante pode ter até 100% de seu curso fi nanciado, o qual poderá ser pago num prazo até três vezes superior ao da graduação, com juros de 3,4% ao ano. O Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que tem como proposta principal ampliar o acesso e a permanência na Educação Superior. O Fies destina-se a estudantes regu- larmente matricula- dos em instituições de Educação Superior privada e que são reconhe- cidas pelo MEC, com exigência de participação no Enem. Conheça mais sobre o Reuni acessando o site: <http://reuni.mec.gov.br>. Para obter mais informações acesse o site do Fies: <http:// sisfi esportal.mec.gov.br>. d) Sisu – Sistema de Seleção Unifi cado O Sisu é um sistema unifi cado de seleção de estudantes em que instituições públicas de Ensino Superior oferecem vagas a candidatos participantes do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC). 30 Metodologia do Ensino Superior Esse sistema funciona da seguinte maneira: em cada edição, durante duas vezes ao ano, as instituições públicas de Ensino Superior podem optar por participar do Sisu e ofertar vagas em seus cursos. Ao fi nal do período de inscrições, são selecionados os candidatos mais bem classifi cados para ocupar o número de vagas ofertadas. Todo esse processo é realizado via internet. A avaliação que se faz do Sisu é que houve uma melhor racionalidade e uma otimização dos recursos por parte das IES públicas, bem como favoreceu um aumento no número de vagas. O Sisu é um sistema unifi cado de seleção de estudantes em que instituições públicas de Ensino Superior oferecem vagas a candidatos participantes do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). A educação a distância foi incluída como política pública no Brasil por meio das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lei n. 9.394/96 em seu artigo 80, que estabelece sua possibilidade em todas as modalidades de ensino. Para obter mais informações acesse o site do Sisu: <http://sisu. mec.gov.br>. e) Expansão do EAD no Brasil: Universidade Aberta do Brasil A educação a distância foi incluída como política pública no Brasil por meio das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), lein. 9.394/96 em seu artigo 80, que estabelece sua possibilidade em todas as modalidades de ensino. Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. § 1º A educação a distância, organizada com abertura e regime especiais, será oferecida por instituições especifi camente credenciadas pela União. § 2º A União regulamentará os requisitos para a realização de exames e registro de diploma relativos a cursos de educação a distância. § 3º As normas para produção, controle e avaliação de programas de educação a distância e a autorização para sua implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver cooperação e integração entre os diferentes sistemas. (BRASIL, 1996). O artigo 80 foi regulamentado posteriormente pelos Decretos n. 2.494 e n. 2.561, de 1998, mais ambos revogados pelo Decreto n. 5.622, em vigência desde sua publicação em 20 de dezembro de 2005. No decreto 5.622, fi cou estabelecida a política de garantia de qualidade no tocante aos variados aspectos ligados a modalidade de Educação a Distância, notadamente ao 31 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 credenciamento institucional, supervisão, acompanhamento e avaliação, harmonizados com padrões de qualidade enunciados pelo ministério da educação. (BRASIL, 2005). Nestes últimos anos, principalmente a partir de 2005, houve um crescimento signifi cativo desta modalidade de ensino, devido à expansão das instituições privadas que investiram e ampliaram seus espaços para atender a uma demanda cada vez maior. Um aspecto importante a se destacar é a implantação da Universidade Aberta do Brasil (UAB), por meio do Decreto n. 5.800 de 2006, que teve como fi nalidade ampliar o acesso à Educação Superior no Brasil por meio da modalidade a distância. Os cursos ofertados via UAB estão mais voltados para a área da formação de professores da educação da rede pública de Educação Básica, para atender a uma necessidade urgente que é a falta de professores e um desprestígio social e salarial da profi ssão. Em abril de 2016, o Brasil contava com 171 instituições públicas e privadas credenciadas pelo governo federal para ministrar cursos de graduação e pós- graduação lato sensu na modalidade a distância. Infelizmente não há nenhuma instituição que oferte mestrado ou doutorado totalmente a distância, pois continuam aguardando que o MEC edite normas sobre isto. Atividade de Estudos: 1) O cenário de oportunidades na Educação Superior brasileira é o mesmo que em épocas passadas, uma vez que as políticas públicas para educação têm se preocupado com a diminuição das desigualdades sociais e econômicas, incisivamente para a Educação Superior, com a instituição do Prouni, REUNI, Fies e outros programas. LIMA, Antônio Bosco de. Qualidade da educação superior: O programa Reuni. Jundiaí: Paco Editorial, 2014 (adaptado). Nesse contexto, analise e associe os itens que seguem: I – Prouni. II- Reuni. III – Fies. IV – Sisu. 32 Metodologia do Ensino Superior ( ) Criado pelo de Decreto n. 6.096, é um Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais que tem como proposta principal ampliar o acesso e a permanência na Educação Superior. ( ) É um sistema de seleção unifi cado de estudantes, no qual instituições públicas de Ensino Superior oferecem vagas a candidatos participantes do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). ( ) Programa de fi nanciamento de estudantes matriculados em cursos de graduação de instituições privadas e que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação. ( ) Programa criado pela Lei n. 11.096, que concede bolsas de estudos integrais e parciais às instituições privadas que ofertam cursos superiores. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de respostas: a) ( ) II – IV – III – I. b) ( ) IV – II – I – III. c) ( ) III – II – I – IV. d) ( ) I – III – IV – II. Algumas ConsideraçÕes O objetivo deste capítulo foi apresentar uma síntese histórica da origem do termo universidade (universitas), que signifi ca “um todo”, e os principais modelos que infl uenciaram as instituições públicas e privadas no Brasil. Entre os modelos apresentados estão o jesuítico, francês, alemão e inglês, cada um com características marcantes na educação brasileira. Outro aspecto apresentado é um cenário da Educação Superior nestes últimos anos, bem como o número de instituições de Educação Superior e o número de matrículas em cada um dos períodos. Por fi m, apresentamos os programas de políticas públicas brasileira para a Educação Superior e o que se observa é uma melhora no sistema público e privado de educação, e um aumento no acesso à universidade por parte dos setores socialmente mais necessitados. No entanto, para avaliar o êxito dos 33 Panorama Histórico do Ensino Superior e as Políticas Públicas de Educação Capítulo 1 programas de políticas públicas de Educação Superior, é necessário levar em conta não somente os itens apresentados, mas outros aspectos, como qualidade dos serviços prestados e os benefícios para toda a sociedade. É claro que muitos outros aspectos poderíamos apresentar, mas você poderá aprofundar seus estudos consultando as diferentes fontes (bibliografi as e sites) utilizadas para a elaboração deste capítulo. A seguir, vamos apresentar as principais tendências pedagógicas e seus pressupostos teóricos presentes na prática docente. ReFerências BRASIL. INEP. Indicadores de Qualidade da Educação Superior. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/educacao-superior/indicadores>. Acesso em: 11 abr. 2016. ______. Decreto n. 5622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Decreto n. 5.622, de 19 de dezembro de 2005. n. 243, Seção 1. Disponível em: <http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index. jsp?jornal=1&pagina=1&data=20/12/2005>. Acesso em: 19 abr. 2016. _______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Referenciais de qualidade para educação superior a distância. Brasília, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/legislacao/refead1. pdf>. Acesso em: 15 mar. 2016. ______. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 15 maio 2016. CHAUÍ, M. Escritos sobre a universidade. São Paulo: UNESP, 2001. DRÉZE, J.; DEBELLE, J. Concepções da Universidade. Fortaleza: Edições Universidade Federal do Ceará, 1983. FERREIRA, D. R. M. Visões de práticas dos formadores do curso de ciência biológica da UFG. 2010. 155 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação em Ciências e Matemática, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2010. Disponível em: <https://mestrado.prpg.ufg.br/up/97/o/Diss_036.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2016. 34 Metodologia do Ensino Superior KAUCHAKJE, S. Elaboração e planejamento de projetos sociais. Curitiba: Iesde, 2008. MENEGHEL, Stela Maria. A Crise da Universidade Moderna no Brasil. 2001. 330 f. Tese (Doutorado) - Curso de Educação, Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2001. Disponível em: <http:// www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=vtls000225598>. Acesso em: 25 jul. 2016. MINOGUE, Kenneth. O conceito de universidade. Brasília: UNB, 1979. PAULA, M. F. C. USP e UFRJ: a infl uência das concepções alemã e francesa em suas fundações. Tempo Social, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 147-161, out. 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v14n2/v14n2a08.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2016. PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. Docência no ensino superior. 4. ed. SãoPaulo: Cortez, 2010. POLIDORI, M. M. Políticas de avaliação da educação superior brasileira: provão, sinaes, idd, cpc, igc e...outros índices. Avaliação, Campinas, v. 2, n. 14, p. 439- 452, jul. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/aval/v14n2/a09v14n2. pdf>. Acesso em: 11 abr. 2016. REIS, Ana Maria dos. Democratização do acesso e políticas afi rmativas na educação superior. 2008. 137 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade de Sorocaba, Sorocaba, 2008. ROSSATO, R. Universidade: nove séculos de história. Passo Fundo: EDIUPF, 1998. SOARES, M. S. A. (Coord.). Educação superior no Brasil. Brasília: CAPES, 2002. CAPÍTULO 2 Tendências Pedagógicas A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conhecer as diferentes tendências pedagógicas presentes na prática escolar brasileira. Identifi car os pressupostos de aprendizagem presentes nas diferentes tendências pedagógicas. 36 Metodologia do Ensino Superior 37 Tendências Pedagógicas Capítulo 2 ConteXtualização No capítulo anterior, apresentamos as origens do termo universidade, os modelos de universidade e suas infl uências no sistema educacional brasileiro, bem como as principais políticas públicas para a Educação Superior no Brasil. Este capítulo tem por fi nalidade apresentar as tendências pedagógicas na prática escolar brasileira. A teoria das tendências pedagógicas foi desenvolvida por José Carlos Libâneo, que é um dos pesquisadores de destaque no campo da educação. José Carlos Libâneo nasceu em 1945, na cidade de Angatuba, interior de São Paulo. Graduado em Filosofi a pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) em 1966, mestre em educação escolar brasileira e doutor em educação. Escreveu várias obras, entre elas estão: – Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade, 2005. – Educação escolar: políticas, estrutura e organização, 2005. – Didática: velhos e novos temas, 2003. – Didática, 2001. – Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profi ssão docente, 2001. – Pedagogia e pedagogos, para quê?, 2001. – Democratização da escola pública: a pedagogia crítico social dos conteúdos,1985. Partindo do pensamento de José Carlos Libâneo, os pressupostos teóricos e metodológicos das diversas tendências pedagógicas (que serão apresentados nas próximas páginas) oferecem aos professores uma orientação para analisar a sua prática docente. A forma como os professores selecionam os seus materiais e elegem as técnicas para a realização do ensino depende muito de sua formação e da fi nalidade da educação na sociedade. A maioria dos professores baseia sua prática pedagógica em pressupostos tradicionais, que têm como referência o conhecimento comum, o exemplo de colegas professores com mais experiência, ou, também, segue os mesmos livros didáticos. Queremos discutir estes pensamentos que sustentam o atual cenário de muitas instituições de ensino. Inicialmente, vamos apresentar a tendência liberal, e, posteriormente, a tendência progressista. 38 Metodologia do Ensino Superior Tendência Liberal O termo tendência não quer signifi car uma moda ou um costume que se teve num determinado período histórico, mas concepções pedagógicas que se fi zeram presentes na prática docente. Podemos dizer que tendências são comportamentos ou características que são semelhantes e que estão presentes no fazer pedagógico. O termo liberal não tem o sentido de democrático, mas de justifi car um sistema político (capitalismo) cuja premissa básica: “defender a predominância da liberdade e dos interesses individuais na sociedade, estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, também denominada saciedade de classes.”. (LIBÂNEO, 2003, p. 21, grifo do autor). As formas como a tendência liberal se manifesta estão presentes na pedagogia tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista. A seguir, vamos conhecer cada uma dessas formas e suas principais características. a) Tendência Liberal Tradicional De acordo com Libâneo (2003), a tendência liberal tradicional procura dar destaque para o ensino humanístico de cultura geral, no qual o aluno é educado para atingir, pelo próprio esforço, sua plena realização como pessoa. A seguir, vamos apresentar como essa tendência compreende o papel da escola, os conteúdos de ensino, os métodos, o relacionamento professor-aluno, os pressupostos de aprendizagem e as manifestações na prática escolar. • Papel da escola: consiste na preparação intelectual e moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade. Entende que a forma de obter o conhecimento é única para todos os alunos. Os que apresentam difi culdades devem se esforçar mais para conquistar o seu lugar junto aos mais capazes intelectualmente. • Conteúdos de ensino: são os conhecimentos e valores sociais acumulados pelas gerações adultas e que devem ser repassados aos alunos como verdades. Os conteúdos são separados da escola e da vida, por isso, recebem muitas críticas de intelectuais e pesquisadores. • Métodos de ensino: têm como fundamento a exposição oral do conteúdo. Tanto a exposição do conteúdo, quanto a interpretação são feitas pelo professor, que, geralmente, segue estes pontos: preparação do aluno (recordar a matéria da aula anterior); apresentação (destaque dos pontos- chave); associação (combinação do conhecimento novo com o já conhecido); 39 Tendências Pedagógicas Capítulo 2 generalização (dos aspectos particulares conclui-se o geral); aplicação (resoluções de exercícios). • Relacionamento professor-aluno: predomina a autoridade do professor e sua postura é a de evitar o relacionamento entre os alunos durante as aulas. A disciplina imposta é a maneira mais efi caz para obter a atenção dos alunos. • Pressupostos de aprendizagem: entende que a assimilação do conhecimento é a mesma para uma criança e para um adulto. A aprendizagem se dá pela repetição dos conteúdos apresentados pelo professor. • Manifestações na prática escolar: essa tendência está presente na Educação Básica e também no Ensino Superior. Não há um pesquisador teórico que a defende, mas na prática há milhares de defensores que a praticam. b) Tendência Liberal Renovada Progressivista A tendência teve início com o Manifesto dos Pioneiros da Educação, publicado em 1930 e assinado por diversos intelectuais, entre eles Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira. (SANDER, 2007). Essa tendência é conhecida como Escola Nova. Manifesto dos Pioneiros da Educação: Em 1931, realizou- se uma conferência sobre a educação nacional, na qual foi lançado um documento que fi cou conhecido como Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Em linhas gerais, este documento afi rma que a “educação varia sempre em função de uma ‘concepção de vida’, refl etindo, em cada época, a fi losofi a predominante que é determinada, a seu turno, pela estrutura da sociedade.”. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2009, p. 43). Escola Nova: O movimento educacional conhecido como Escola Nova surgiu no fi nal do século XIX justamente para propor novos caminhos à educação, em descompasso com o mundo no qual se achava inserida. Representa o esforço de superação da pedagogia da essência pela pedagogia da existência. Não se trata mais de submeter a pessoa a valores e dogmas tradicionais e eternos nem de educá-la para a realização da “essência verdadeira”. A pedagogia da existência volta-se para a problemática do indivíduo único, diferenciado, que vive e interage em um mundo dinâmico. (ARANHA, 2006, p. 225). 40 Metodologia do Ensino Superior Em comparação com a tendência liberal tradicional, essa tendência visa superar o caráter autoritário e discriminatório da educação. Defende que a prática educativa deve ser ativa.Os alunos aprendem fazendo e o processo educacional está centrado no aluno, e não no professor. De acordo com Libâneo (2003), estas são as características: • Papel da escola: a escola deve se adaptar às necessidades que o indivíduo tem em seu meio social. Essa tendência é progressivista porque os indivíduos se adaptam progressivamente ao ambiente em que se encontram. Á escola cabe suprir as experiências que permitam ao aluno educar-se, num processo ativo de construção. • Conteúdos de ensino: como o indivíduo se adapta progressivamente ao meio social, os conteúdos de ensino são defi nidos a partir da função e das experiências que a pessoa tem. É mais importante o processo de aquisição do saber do que o saber propriamente dito, ou seja, é “aprender a aprender”. • Método de ensino: parte-se da ideia de aprender fazendo. Valorizam-se as tentativas experimentais que o estudante faz, tanto a pesquisa quanto a busca de solução de problemas. • Relacionamento professor-aluno: o papel do professor é de auxiliar o desenvolvimento livre e espontâneo do estudante. A disciplina é o relacionamento harmonioso entre professores e alunos dentro da sala de aula. • Pressupostos de aprendizagem: para aprender é necessário estar motivado. Somente motivados é que somos capazes de aprender e de descobrir coisas novas. A avaliação não tendo um caráter punitivo, mas é compreendida como um processo para auxiliar o estudante em seus trabalhos e desafi os de aprendizagem. • Manifestações na prática escolar: a pedagogia progressivista está muito presente nos cursos de licenciatura e pedagogia destinados à formação de professores do Ensino Fundamental e Médio. c) Tendência Liberal Renovada Não Diretiva Essa tendência tem uma preocupação com a questão prática, pois seu objetivo é o desenvolvimento pessoal (autorrealização) e que queira ocupar um papel de destaque na sociedade com maior autonomia. Ela está baseada nas ideias do psicólogo norte-americano Carls Rogers, que dá maior atenção aos aspectos psicológicos do que pedagógicos ou sociais. 41 Tendências Pedagógicas Capítulo 2 Carl Rogers (1902-1987): A terapia rogeriana se defi ne como não-diretiva e centrada no cliente (palavra que Rogers preferia a paciente), porque cabe a ele a responsabilidade pela condução e pelo sucesso do tratamento. Para Rogers, o terapeuta apenas facilita o processo. Em seu ideal de ensino, o papel do professor se assemelha ao do terapeuta e o do aluno ao do cliente. Isso quer dizer que a tarefa do professor é liberar o caminho para que o estudante aprenda o que quiser. (FERRARI, 2016). De acordo com Libâneo (2003), estas são as características predominantes no âmbito escolar da tendência liberal renovada não-diretiva: • Papel da escola: a escola deve estar mais preocupada com os problemas psicológicos do que os pedagógicos ou sociais. As aulas, a matéria, os livros têm muito pouca importância, pois o que forma o comportamento da pessoa é estar bem consigo mesmo e com seus semelhantes. • Conteúdos de ensino: a transmissão de conteúdos não tem muita importância, pois o processo de ensino facilita que os estudantes busquem por si mesmos os conhecimentos disponíveis. • Método de ensino: diante de cada estudante, o professor desenvolve um estilo próprio para facilitar a aprendizagem dos alunos. O professor é um “facilitador” do conhecimento. • Relacionamento professor-aluno: a educação está centrada no aluno e não no professor. O professor deve ser um especialista em relações humanas ao garantir o clima de relacionamento favorável e de confi ança com o estudante. • Pressupostos de aprendizagem: a motivação é o elemento essencial para a aprendizagem, pois resulta do desejo de busca da autorrealização. A motivação aumenta quando o estudante desenvolve o sentimento de que é capaz de agir em termos de atingir suas metas pessoais. • Manifestações na prática escolar: esta forma de educação está presente em um número expressivo de professores, orientadores e psicólogos educacionais que se dedicam ao aconselhamento. 42 Metodologia do Ensino Superior d) Tendência Liberal Tecnicista A tendência liberal tecnicista compreende a educação como um treinamento para preparar os indivíduos para atuarem na indústria como mão de obra qualifi cada. “No tecnicismo acredita-se que a realidade contém em si suas próprias leis, bastando aos homens descobri-las e aplicá-las. Dessa forma, o essencial não é o conteúdo da realidade, mas as técnicas (forma) de descoberta e aplicação.”. (LIBÂNEO, 2003, p. 23). De acordo com Libâneo (2003), os aspectos que caracterizam essa tendência são: • Papel da escola: cabe à educação escolar organizar o processo de aquisição de habilidades, atitudes e conhecimentos específi cos, que sejam úteis e necessários para os indivíduos se integrarem na máquina do sistema social global. Também cabe à educação escolar produzir indivíduos "competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo, efi cientemente, informações precisas, objetivas e rápidas. • Conteúdo de ensino: as informações, os princípios científi cos e as leis são ordenadas numa sequência lógica por especialistas. Os conteúdos de ensino decorrem da ciência objetiva, eliminando-se qualquer sinal de subjetividade, e estão sistematizados em manuais ou em livros didáticos. • Método de ensino: é o processo de condicionamento das respostas que o estudante deverá obter por meio da operacionalização dos objetivos e da mecanização dos processos. As etapas básicas do processo ensino e aprendizagem são: – estabelecimento de comportamentos terminais, por meio de objetivos instrucionais; – análise da tarefa de aprendizagem, a fi m de ordenar sequencialmente os passos da instrução; – executar o programa, reforçando gradualmente as respostas corretas correspondentes aos objetivos. • Relacionamento professor-aluno: os papéis são bem defi nidos. O professor transmite os conteúdos aos estudantes conforme os manuais ou livros didáticos, enquanto o aluno recebe as informações e memoriza. Debates, discussões, questionamentos são desnecessários no processo ensino e aprendizagem. A tendência liberal tecnicista compreende a educação como um treinamento para preparar os indivíduos para atuarem na indústria como mão de obra qualifi cada. 43 Tendências Pedagógicas Capítulo 2 • Pressupostos de aprendizagem: nessa teoria prevalece a ideia de que aprender é modifi car seu comportamento e, principalmente, o seu desempenho. O ensino é um processo de condicionamento por meio do uso de reforço das respostas que se quer obter. O psicólogo americano Skinner foi o principal representante dessa tendência pedagógica, afi rmando que, por meio de imitação, repetição e do hábito, repetimos as instruções programadas e esperadas de nós. Skinner: Burrhus Frederic Skinner realizou, durante anos, experiências com ratos para simular o conhecimento humano. Nesta experiência, o rato faminto é colocado em uma caixa que contém uma alavanca e um fornecedor de alimento. Quando o rato aperta a alavanca sob as condições estabelecidas pelo experimentador, o alimento é fornecido, recompensando, assim, o rato. O rato tende a repetir o movimento cada vez que sentir fome. Figura 2 - Caixa de Skinner Fonte: Disponível em: <http://goo.gl/dH4KUK>. Acesso em: 2 maio 2016. • Manifestações na prática escolar: a tendência foi introduzida no Brasil no fi nal dos anos 60 com o objetivo de adequar o tema educacional à orientação político-econômica do regime militar: inserir a escola nos modelos de racionalização do sistema de produção capitalista. 44 Metodologia do Ensino Superior Tendência Progressista A expressão “progressista” é empregada para designar as tendências que têm uma análise crítica da sociedade. Tenta superar a visão tradicional de educação defendida pela pedagogia liberal, apresentada na seção anterior. A pedagogia progressistamanifesta-se em 3 tendências: libertadora, libertária e crítico social dos conteúdos. a) Tendência Progressista Libertadora Essa tendência teve como representante principal o pensador brasileiro Paulo Freire, por isso, também é conhecida como pedagogia de Paulo Freire. Paulo Freire (1999, p. 25) afi rmava que “ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria produção e a sua construção”. Portanto, ensinar não é algo mecânico, em que cada um domina uma certa quantidade de conteúdos de determinada disciplina e os repassa aos seus educandos, mas é, acima de tudo, estar aberto às indagações e às curiosidades dos alunos frente aos desafi os que esta realidade apresenta. Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e é considerado um dos pensadores brasileiros mais infl uentes da pedagogia crítica. Destacou-se em seu trabalho com a educação popular, voltado para a conscientização política. Autor de mais de 30 livros, entre eles podemos citar: – 1959 – Educação e atualidade brasileira. – 1967 – Educação como prática da liberdade. – 1970 – Pedagogia do oprimido. – 1985 – Por uma pedagogia da pergunta. – 1996 – Pedagogia da autonomia. – 2000 – Pedagogia da indignação. A seguir, vamos ver como a tendência compreende o papel da escola, os conteúdos de ensino, os métodos de ensino, os passos da aprendizagem, o relacionamento professor-aluno, os pressupostos de aprendizagem e suas manifestações na prática escolar, tendo como base os escritos de Libâneo (2003), que estruturou as tendências pedagógicas. 45 Tendências Pedagógicas Capítulo 2 • Papel da escola: compreende a escola como um local onde professores e alunos, mediados pela realidade, atingem um nível de consciência dessa realidade com o objetivo de atuarem na transformação social com uma visão crítica da sociedade. • Conteúdos de ensino: o importante não é transmitir conteúdos que são estabelecidos pelos livros didáticos, mas partir de “temas geradores” que levem a uma discussão e a uma relação crítica com a experiência de vida. • Métodos de ensino: baseado no diálogo, o método de ensino está na discussão em grupos, em que professores e alunos se engajam no processo de aprendizagem. • Relação entre professor-aluno: é baseada no diálogo entre professores e alunos. O professor não é mais importante que o aluno, mas a relação é de igualdade e com saberes diferentes, por isso, a relação é horizontal, na qual professores e alunos se posicionam como sujeitos do ato de conhecer. • Pressupostos de aprendizagem: a aprendizagem se dá a partir de situações- problema das quais se analisa criticamente a realidade concreta. O que é aprendido não decorre de uma memorização ou imposição, mas do nível crítico de conhecimento, ao qual se chega pelo processo de compreensão, refl exão e crítica. • Manifestações na prática escolar: essa pedagogia tem como divulgador Paulo Freire e está bastante presente nos movimentos populares, sindicatos, partidos políticos, que vêm atuando em diversos campos da sociedade. b) Tendência Progressista Libertária A tendência progressista libertária e libertadora tem em comum a valorização da experiência vivida e a luta pelo antiautoritarismo. A tendência progressista libertária parte de uma simples premissa: por natureza nós guardamos tudo aquilo que utilizamos. Isso se refere a conhecimentos ou a funções orgânicas. Se a título de experiência um indivíduo colocar um tapa-olho, obstruindo um de seus olhos por seis meses, ao retirar o tapa-olho depois desse período estará praticamente cego deste olho e terá adquirido um problema no outro, que fi cou livre, por tê-lo forçado demais ao longo do período, tentando compensar a perda de visão do outro. Por que isso ocorre? Porque por natureza vamos perdendo o que não usamos e aprimoramos aquilo que usamos. O mesmo ocorre com o conhecimento. Se estamos em contato com o mesmo constantemente, ele cresce. Se estudamos algo que não utilizamos, esquecemos. (MESSEDER, 2012, p. 102). Se estamos em contato com o mesmo constantemente, ele cresce. Se estudamos algo que não utilizamos, esquecemos. 46 Metodologia do Ensino Superior Essa pedagogia valoriza o que é vivido pelos educandos no seu dia a dia. Repudia toda e qualquer forma de autoritarismo ou falta de liberdade. Os limites e regras devem ser discutidos entre os envolvidos no processo para, somente depois, serem seguidos, caso contrário, torna-se uma arbitrariedade. Segundo Libâneo (2003), os principais aspectos dessa tendência no ambiente escolar são: • Papel da escola: a escola deve proporcionar mecanismos institucionais de participação do aluno na sociedade, tais como: assembleias, conselhos, eleições, reuniões, associações, etc. Essas instituições são autogestionárias. Ao participar da sociedade, o aluno leva tudo que aprendeu para sua vida, ocorrendo a transformação de sua personalidade. • Conteúdos de ensino: as matérias são colocadas à disposição do aluno, mas não são exigidas, pois o importante são as experiências vividas, principalmente pelo grupo no qual o aluno está inserido. • Método de ensino: é na vivência grupal que os alunos aprenderão a se organizar e a buscar as respostas para as suas necessidades e exigências da vida social. • Relação professor-aluno: a relação entre professor e aluno é no sentido da não-diretividade. O professor desempenha o papel de conselheiro, orientador e catalisador das discussões do grupo. • Pressupostos de aprendizagem: dá-se ênfase na aprendizagem informal, via vivência grupal, com a fi nalidade de formar pessoas livres. Somente o vivido, o experimentado é incorporado e utilizado em novas situações pelos educandos. • Manifestações na prática escolar: abrange quase todas as tendências antiautoritárias em educação, entre elas, a anarquista, a psicanalista e dos professores progressistas. Entre os divulgadores dessa tendência estão Celestin Freinet (há muitas escolas que utilizam seu método), Miguel Gonzales e Miguel Arroyo. c) Tendência Progressista “crítico social dos conteúdos” Essa tendência também é conhecida como histórico-crítica. Ela propõe uma superação das pedagogias tradicional e renovada, valorizando a ação pedagógica inserida na prática social concreta. A escola é entendida como mediação entre o indivíduo e a sociedade, exercendo a função de transmitir os conteúdos, 47 Tendências Pedagógicas Capítulo 2 enquanto a assimilação do conteúdo pelo aluno é resultado do saber criticamente reelaborado. (LIBÂNEO, 2003). De acordo com Libâneo (2003), são suas características na prática escolar: • Papel da escola: sua função consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade. • Conteúdo de ensino: são os conteúdos culturais universais que devem ser incorporados pela humanidade frente à realidade social. Não basta que os conteúdos sejam ensinados, mas é preciso que se liguem à sua signifi cação humana e social. • Método de ensino: uma aula começa pela constatação da prática real, havendo, em seguida, a consciência dessa prática no sentido de referi-la aos termos do conteúdo proposto, na forma de um confronto entre a experiência e a explicação do professor. • Relação entre professor-aluno: tanto aluno quanto professor tem um relacionamento horizontal, em que alunos não se encontram submissos ao professor, nem o professor encontra-se submisso aos alunos. • Pressupostos de aprendizagem: está baseada nas estruturas cognitivas dos alunos. O professor precisa saber (compreender) o que os alunos dizem ou fazem, o aluno precisa compreender o que o professor procura dizer-lhes. A transferência da aprendizagem se dá a partir do momento da síntese, isto é, quando o aluno supera sua visão parcial e confusa e adquire uma