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NORMAS DE SEGURANÇA EM LABORATÓRIO AULA 3 Profª DRA. LUCIANE DE GODOI 2 CONVERSA INICIAL Em toda atividade desenvolvida no laboratório, se faz necessário o uso de diversas vidrarias, cada qual feita para determinado fim. Por conta disso é fundamental conhecer e identificar cada tipo de vidraria e saber o uso e manuseio correto da mesma. O mau uso das vidrarias pode acarretar em acidentes graves, com cacos do vidro ou de reagentes derramados, devido a impactos ou choques térmicos sofridos no decorrer das atividades no laboratório. TEMA 1 – OPERAÇÕES COM VIDRARIAS O uso de vidrarias faz parte do cotidiano de qualquer laboratório de química, e o seu uso envolve o manuseio, lavagem, aquecimento, transferência, transporte, montagem e até o descarte de vidrarias quebradas. São operações que devem ser realizadas de forma cuidadosa seguindo, às vezes, procedimentos específicos para cada tipo de vidraria. O vidro comum usado em produtos e utensílios domésticos é constituído de uma mistura de sílica e diversos tipos de óxidos de metais. Não é um vidro aproriado para uso em laboratório, visto que tem baixa resistência térmica e mecânica. Diferentemente do vidro comum, o vidro usado na fabricação de vidrarias de laboratório são produzidos de borossilicato, que é uma mistura de óxido de silício com adição de óxido de boro e um baixo teor de óxido de sódio. Essa mistura garante ao vidro propriedades superiores, adquirindo mais resistência química, mecânica e térmica, sendo capaz de tolerar choques térmicos melhor que o vidro comum, tornando-se então excelente para operações em laboratório. Contudo, não é imune a acidentes e pode quebrar. As principais causas de acidentes com vidraria são: Defeitos de fabricação; Choques térmicos; Fadiga por mudanças bruscas de temperatura; Riscos no vidro; Impactos; Tensões em montagens de aparelhos; 3 É importante, portanto, tomar alguns cuidados no manuseio das vidrarias para evitar acidentes. Existem várias operações diferentes com vidrarias, sendo algumas mais comuns que outras, variando de acordo com a atividade que o laboratório desempenha. O uso de Pipetas (Fig.1) é algo presente no dia a dia de qualquer laboratório químico, seja na transferência de volumes exatos de um frasco para outro, na preparação de soluções. Seu uso é bastante simples, sendo necessário um pipetador ou uma pêra de sucção acoplado na extremidade da pipeta para fornecer vácuo necessário para sugar o líquido. Nunca se deve realizar a sucção de líquidos com a boca, mesmo que seja água, pois podem estar contaminados. Outro cuidado importante é no acoplar a pipeta na pêra, segurando o mais próximo da extremidade para evitar tensão na pipeta que force o vidro e quebre, provocando um acidente. A transferência de líquidos sem o uso da pipeta deve ser feito com o auxílio de um bastão de vidro como guia para o líquido, evitando derramamento da solução que pode ser perigosa, ou que pode gerar erros na análise. Esta operção é muito comum na preparação de soluções. A preparação de uma solução diluída de um ácido concentrado deve ser feita com a adição do ácido sobre a água e nunca ao contrário. A diluição do ácido na água é exotérmica, ou seja, libera calor e esquenta, permitindo que o ácido esquente o suficiente, e de forma rápido e incontrolável, que se projete para fora do recipiente, ocasionando um acidente. Dependendo do frasco, é possível que o calor incontrolado trinque o vidro. Frascos usados para reagentes e soluções devem ser manipulados de forma cuidadosa, nunca segurando pela tampa, evitando segurar com a mão molhada e apoiando sempre o frasco com a outra mão para evitar queda do frasco. O profissional deve sempre se atentar e tomar todas as precauções necessárias ao inicar tarefas com produtos químicos, se familiarizando com as características do produto Figura 1 - Pipeta. Fonte: FreeImages. 4 A montagem de sistemas com vidrarias (Fig. 2) pode ser um procedimento arriscado caso não seja feito apropriadamente. É importante evitar montagens com tensões, manter os tubos de conexão alinhados entre os frascos sendo utilizados, fazendo uso de garras, pinças e mufas revestidas com material resistente às mudanças de temperatura e sem submeter à pressão excessiva de apertos, o que pode provocar a quebra do vidro. A limpeza das vidrarias é outra operação cotidiana e muito importante que deve receber atenção: sempre verificar se há a geração de vapores quando a água entra em contato com a vidraria, indício de reação com o produto, podendo ser perigoso e tóxico – manter sempre uma boa ventilação no local; lavar sempre com detergente e escova, especialmente vidraria que são difíceis de lavar com uma esponja; enxaguar profusamente com água para garantir que qualquer resíduo seja retirado. TEMA 2 – PROTEÇÃO CONTRA IMPACTOS Os choques mecânicos – ou impactos – são as maiores causas de quebra de vidrarias no laboratório, muitas vezes causando acidentes. Como citado anteriormente, o vidro do usado na fabricação das vidrarias de laboratório são mais resistentes em diversos aspectos, porém ainda são suscetíveis a quebrar por impactos. Por conta disso, alguns pontos devem ser ressaltados para evitar tais situações: Quanto maior o tamanho do frasco, maior será o volume que comporta e, portanto, maior seu peso e mais difícil o seu manuseio e transporte. Consequentemente, terá menor resistência ao impacto, sendo necessário o uso de revestimentos de borracha ou neoprene para sua proteção; Determinadas vidraria de laboratório já são adaptadas com uma base de plástico para equilibrar e evitar quedas que possam quebrar o vidro. Um Figura 2 - Vidrarias diversas. Fonte: FreeImages 5 exemplo muito comum é a proveta, que por conta da sua forma cilíndrica, exige uma base para que caia; Um cuidado muito importante no transporte de frascos (em grande quantidade), sejam cheios ou vazios, é o uso de um carrinho ou grade. Na lavagem das vidrarias é possível acontecer choques durante e depois da lavagem. A lavagem deve ser feita com escovas de tamanho apropriado para cada frasco. Devem ser colocados em locais adequados para secar, como varais para vidrarias, de acordo com o tamanho. Evitar colocar para secar de forma que fiquem desequilibradas e instáveis. Guardar sempre de maneira organizada, por tipos e tamanhos, em locais protegidos e devidamente identificados. TEMA 3 – CHOQUES TÉRMICOS Os choques térmicos são outras causas comuns da quebra de vidrarias e acidentes em laboratório, pela falta de cuidade e até mesmo conhecimento do profissional em como manusear e lidar com frascos quentes. Os choques térmicos são devido às diferentes temperaturas entre o conteúdo do frasco e a temperatura externa. Por conta do coeficiente de dilatação definido do vidro, quando colocado sob duas temperaturas distintas, fica sujeito a uma tensão no seu interior que pode provocar sua ruptura, mesmo com as propriedades superiores do borossilicato. Devido a isso, alguns cuidados devem ser tomados para evitar os choques térmicos. Evitar colocar recipientes de vidro superaquecidos diretamente sobre superfícies frias como, por exemplo, o mármore. Após desligar a fonte de calor, aguarde que o conteúdo do frasco esfrie antes de manuseá-lo; No aquecimento de líquidos no bico de bunsen num recipiente de vidro, é recomendado o uso de tela de amianto com um tripé de ferro, garantindo um aquecimento mais homogêneo do líquido e evitando um superaquecimento localizado, que pode ocasionar na quebra do vidro. É recomendável o uso de chapas de aquecimento ou banho-maria; É recomendado o uso de banho-maria ao conduzir uma reação exotérmica, pois dessa forma a energia (calor) liberado é absorvido pelaágua, não superaquecendo o vidro e evitando que quebre; As operações de evaporação devem realizadas preferencialmente em capela e com acompanhamento constante, visto que ao final da 6 evaporação, quando o recipiente estiver seco, não pode haver um aquecimento excessivo, podendo acarretar no trincamento do vidro e a consequente perda da análise; No aquecimento de um tubo de ensaio, deve-se sempre segurar o tubo de forma que a saída (boca) fique para o lado oposto, certificando também de que não há ninguém na direção da saída do tubo, visto que o líquido pode superaquecer rapidamente e se projetar para fora do tubo, causando um acidente; Durante um aquecimento em um béquer, balão de fundo redondo, etc., para que a tensão superficial do líquido diminua e o aquecimento seja controlado (especialmente em destilações), recomenda-se o uso de pérolas de vidro ou porcelana dentro no líquido. Ao realizar qualquer operação envolvendo o aquecimento de recipientes com qualquer tipo de reagente químico, é essencial seguir as normas de segurança e o uso de EPIs, além de ferramentas adequadas para manipulação. TEMA 4 – TRANSPORTE DE VIDRARIAS E REAGENTES O transporte de vidrarias e reagentes é um procedimento bastante corriqueiro, visto que no cotidiano de um laboratório é habitual o uso de diversos produtos, porém se realizado de forma inadequada pode gerar acidentes sérios, principalmente pela queda de frascos e consequente derramamento de reagentes (Fig.4). O transporte correto e seguro de vidrarias e frascos de reagentes, além de ser uma boa prática, é uma forma de evitar acidentes e impactos de vidrarias. É necessário seguir determinados critérios no transporte de produtos em laboratório. A análise e consideração da relação entre o tamanho, volume e massa do frasco e/ou vidraria é usado para determinar de que forma se deve proceder com o transporte. Ao escolher um recipiente para armazenar um reagente ou produto químico é Figura 2 - Acidente com vidrarias. Fonte: FreeImages 7 recomendado optar pelo menor volume possível, facilitando o possível manuseio futuro do mesmo; O uso de um carrinho ou uma grade é recomendado para transporte de reagentes mantidos em frascos de grande volume, visto que tais frascos nunca devem ser carregados junto ao corpo; Frascos pequenos e médios podem ser transportados com o uso de uma bandeja de tamanho adequado; Deve ser feito o mínimo possível o transporte de recipientes grande, como dessecadores, optando sempre pelo menor tamanho. Na sua manipulação, deve-se atentar para não deslizar a tampa, que não é fixada firmemente; Com vidrarias quentes é recomendado que deixe esfriar, porém em casos de que seja necessário o transporte delas, deve ser feito com luva e utilizando pinça tenaz, mantendo alguma distância no corpo; Da mesma forma que vidrarias quentes, cadinhos que precisam ser retirados da mufla após algum procedimento, devem ser manuseados com pinça e luvas apropriadas para o calor; É de suma importância que os produtos e reagentes sejam identificados adequadamente, com o nome do produto, a concentração que se encontra, a data em que foi feito/produzido, prazo de validade (se houver) e nome do responsável por fazer. No caso do reagente, observa-se o rótulo e os códigos de periculosidade. TEMA 5 – DESCARTE DE VIDRARIAS Decorrente dos diversos fatores abordados que podem provocar a quebra de vidrarias de laboratório, acumulam-se muitos cacos e pedaços de vidro quebrado (Fig.5). O descarte incorreto dos resíduos perfurocortantes constitui uma das principais fontes de risco de acidentes físicos, infecciosos e de impacto ambiental. É um problema sério para coletoras e profissionais que manuseiam estes resíduos, que podem ser agulhas, ampolas, lâminas, e Figura 3 - Cacos de vidro. Fonte: FreeImages 8 quaisquer vidrarias quebradas. Por questões que segurança é necessário seguir alguns procedimentos no descarte desse tipo de resíduo. Qualquer vidraria quebrada deve ser lavada e secada profundamente, de forma que fique isenta de qualquer contaminação; Em contaminações com produtos químicos, a lavagem deve ser feita repetidas vezes com um coletor de resíduo da água de lavagem; Frascos e embalagens de produtos químicos não deve ser armazenados junto com vidrarias; O armazenamento deve ser feito em recipientes adequados, como caixas de papelão reforçadas, mantendo o recipiente forrado com um saco plástico; Durante a limpeza deve-se adotar medidas de proteção como o uso de luvas de borracha, manuseando cuidadosamente o vidro quebrado, além de óculos de segurança. Se necessário, dependendo do que a vidraria esteve em contato, usar protetores respiratórios, pois poder haver desprendimento de vapores; Evitar o conserto e remendo de vidrarias sem que seja com um especialista, pois pode provocar acidentes futuros. A coleta do material deve ser feito pela coleta seletiva, sendo separados os resíduos recicláveis do que teve contato com produtos contaminantes. Todos os envolvidos nas atividades do laboratório devem estar orientados para realizar os procedimentos e dar o destino adequado aos resíduos, sendo todos responsáveis pela descontaminação, limpeza e acondicionamento correto dos frascos e vidros destinados ao descarte e/ou reciclagem. NA PRÁTICA Você já percebeu que o vidro é um material muito presente em nossa vida cotidiana? E apesar de que em muitos casos ele é substituído tranquilamente pelo acrílico, mas suas características de transparência ainda não se comparam às do vidro. Em nossas casas, usamos recipientes que vão ao fogo, denominados vidro temperado e este, por sua vez, possui propriedades diferentes dos copos e outros objetos que não podem ser submetidos ao calor. E ainda tem o vidro de segurança, ou vidro blindado, muito usado em janelas e vidros automotivos, 9 que na verdade é uma mistura (sanduíche) de vidro com policarbonato, que evita a projeção de estilhaços, quando quebrados. REFERÊNCIAS ANDRADE, M.Z. Segurança em laboratórios químicos e biotecnológicos, Caxias do Sul, RS, EDUC, 2008. CARVALHO, P.R. Boas práticas químicas em biossegurança, Rio de Janeiro: Interciência, 1999. Chemical Safety Matters, Cambridge: Cambridge University Press, 1992. MARIANO, A. B., et al., Guia de Laboratório para o Ensino de Química: instalação, montagem e operação. Conselho Regional de Química IV Região, São Paulo, 2012. FILHO, A. F. V., Segurança em Laboratório Químico. Conselho Regional de Química IV Região, Campinas, SP, 2008. Do VAL, A. M. G., et.al., Segurança e Técnicas de Laboratório – Volume I. Departamento de Química, UFMG, 2008.
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