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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FUNDAMENTOS DE ANÁLISE SOCIOLÓGICA - HISTÓRIA 2020/1 ACÍLIO DE MIRANDA TAVARES, BEATRIZ LOPES MAZIM, GABRIELA LUCIANA LIMA INÁCIO, VICTÓRIA ANDRADE FLORES DE MELLO, VITÓRIA DE PAULA SOARES ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS NA PANDEMIA Um olhar sociológico iluminado pelos conceitos de Weber acerca da situação BELO HORIZONTE 2020 Sendo considerado por alguns como uma "gripezinha", em dezembro de 2019, houve o início da transmissão de um novo vírus que abalaria todo o mundo. Esse vírus é conhecido como o novo coronavírus e foi identificado pela primeira vez em Wuhan na China, resultando, em 2020, em uma pandemia mundial, uma vez que a sua transmissão é rápida e imperceptível. O número de mortos estava crescendo cada vez mais, chegando em 42 mil no final de março, e o processo de formulação de uma vacina é bastante demorado, sendo o fato de que ela deveria ser distribuída mundialmente uma das principais causas dessa demora. Dessa forma, no sentido de que o mundo foi pego de surpresa, tiveram que ser elaboradas medidas para tentar controlar tal realidade e estas deveriam ser tomadas em tempo recorde. Essa seleção de medidas a serem seguidas causa debates dentre os indivíduos no geral, criando uma discussão principalmente em cima da ciência e o ceticismo científico. Dessa forma, cabe a sociologia, como ciência social que utiliza métodos de investigação empírica para desenvolver uma análise crítica acerca da ordem social, padrões de relações sociais, e cultura da vida cotidiana, iniciar o debate acerca do que a pandemia de Covid-19 significa para a sociedade como um todo, agora e no futuro. A dimensão sociológica da pandemia se dá na medida em que a crise da Covid-19 é uma crise de saúde pública. Nesse sentido, é evidente que a saúde é um assunto científico, no qual os cientistas lidam usando dados, evidências e experimentação. No entanto, o “público” em saúde pública é o que concede a dimensão sociológica à pandemia, de modo que a perspectiva mais ampla oferecida pela sociologia está mais apta a analisar os impactos sociais das políticas públicas de combate à Covid-19, ou melhor, sua ineficiência. Períodos de crise muitas vezes se apresentam como verdadeiros motores para a produção acadêmica nas ciências sociais, que se veem obrigadas a produzir reflexões imediatas, quase sempre a partir de uma autorreflexão. Isso porque, o espírito das ciências sociais é exatamente esse: o interesse em explicar teoricamente o mundo, transformando problemas sociais em questões sociológicas, podendo indicar caminhos e proposições para possíveis soluções. Essa capacidade de se reinventar a cada crise torna o prisma sociológico ideal para analisar de forma crítica diversos aspectos da pandemia do coronavírus. Nesse contexto, cabe enfatizar uma mudança que vem sendo percebida nas ciências sociais no que diz respeito a percepção que as questões sociológicas afetam de maneira diferente a pluralidade de indivíduos que compõe o tecido social, a qual pode ser exemplificada por diferentes clivagens como: homens e mulheres, jovens e idosos, ricos e pobres, negros e brancos, etc. Exatamente por esse ângulo de interpretação é que se popularizou em 2020 a frase: o vírus não vê classe, cor, gênero, sexualidade ou idade. A questão é que a sociedade vê, e nesse sentido a conjuntura toma contornos que indicam os limites de uma explicação meramente biológica da pandemia e apontam para contradições sociais que apenas um olhar sociológico pode pretender analisar de maneira satisfatória. Nesse sentido, entender como está a atual situação do país frente a pandemia é essencial. É papel do Estado impor políticas públicas eficazes a fim de reduzir os impactos pandêmicos nas várias camadas da sociedade, principalmente aquelas que são mais dependentes do sistema público. No entanto, nesse período da pandemia do novo coronavírus, o Brasil se mostra carente dessas políticas. Primeiramente, é necessário entender que o Sistema Único de Saúde (SUS) se encontra em uma situação preocupante. O governo reacionário e a falta de profissionais competentes no Ministério da Saúde impedem o bom funcionamento do sistema, que é subfinanciado e com a verba destinada a ele só é possível fazer muito pouco. Além disso, o SUS é descentralizado e isso faz com que existam "diferentes SUS" espalhados pelo país, sendo eles administrados pelo governo estadual e municipal. Por fim, existem mais leitos privados do que públicos no sistema de saúde e cabe aos governadores, prefeitos e secretários da saúde a universalização desses leitos para atender melhor a demanda do COVID 19. Em adição, o agravamento da situação econômica resultou na eleição de governantes incompetentes que se interessam em desregular as coisas para poder privatizá-las e agora, com a pandemia, surgiu novamente a discussão sobre o papel do Estado. A situação de precariedade nas esferas públicas apresentam oportunidade de investimento e lucro para empresas, que muitas vezes são associadas aos governantes. Sendo assim, o desvio de recursos públicos e o desmonte do país, apesar de serem prejudiciais para a população, apresentam lucro para uma parcela poderosa. Logo, o Brasil é um país que grita pela necessidade de políticas públicas melhores, principalmente na pandemia. Esse embate acerca da atuação governamental e suas políticas públicas - ou melhor, a falta delas - pode ser visto sob a luz dos conceitos de um importante sociólogo, Max Weber. Em primeira análise, percebe-se, nas ações do próprio Presidente da República e na resposta de parte da população a elas, o que Weber define como dominação. A dominação exercida pelo presidente sobre uma parcela da sociedade brasileira pode ser caracterizada como carismática, dado ao fato de que sua autoridade é aceita e legitimada devido à devoção afetiva que seus apoiadores exercem. E com esse apoio recebido, o governo segue passando por cima de medidas necessárias para o controle da pandemia. Ademais, por se tratarem de políticas públicas, que por natureza são papel do Estado, o conceito de dominação legal proposto pelo sociólogo se encaixa perfeitamente no contexto. Uma vez que o Estado moderno faz parte desse tipo de dominação, o poder institucionalizado por ele teoricamente deveria submeter-se à constituição e estar expressa na vontade popular, por se tratar de uma democracia. No entanto, o atual desgoverno propõe medidas que vão contra aquilo que é considerado por muitos o melhor a se fazer, a fim de garantir o bom funcionamento das instituições públicas, ele age visando, muitas das vezes, apenas os interesses dos próprios governantes e as camadas mais ricas. Essa carência de políticas públicas, apoiada no abuso dessas dominações exercidas pelo Estado, acaba resultando em um agravamento da situação do país frente à COVID-19. Assim, fica evidente que os debates atuais entre a ciência e negacionistas constitui um problema que dificulta a solução de situações críticas geradas pela alta velocidade de contaminação do novo coronavírus, além de legitimar ações governamentais que diferem das recomendações emitidas por órgãos de saúde. As ciências sociais prezam pela análise racional dos fatos e demonstram a falta de gerenciamento público nesse período de crises intensas, uma vez que o governo brasileiro tem se mostrado aliado a ideias anticientíficas e extremistas, negando as soluções adotadas por diversos países do mundo. Logo, conceitos elaborados por estudiosos como Max Weber podem ser utilizados para analisarmos os efeitos da pandemia, o que demonstra a importância desse campo de estudo para a atualidade, uma vez que a análise sociológica e seus resultados práticos são fundamentais para um melhor enfrentamento da pandemia da COVID-19 REFERÊNCIAS CARDOSO, Adalberto; KHONDKER, Habibul H.; LOW, Martina; MONTEIRO, Cristiano; TREVISAN, Anderson. Simpósio 11: O Mundo Social e a Pandemia. BVPS (Blog da Biblioteca Virtual do Pensamento Social): 2020. Disponível em: <https://blogbvps.wordpress.com/2020/06/16/simposio-11-mundo-social-e-pandemia/>. Acesso em 29 out. 2020. SBS Tv. SBS Convida #08: Estado e políticas públicas na pandemia. Youtube, 26 jun. 2020. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=7G36dFIeQhE&t=557s >. Acesso em 29 out. 2020.
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