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59154_gestao_de_seguranca_publica_2020

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Código Logístico
59154
Neste livro, é abordada a gestão da segurança pública, 
um tema de grande relevância para qualquer sociedade. 
Trata-se de uma das maiores preocupações populares, 
pois afeta as pessoas de maneira intensa e direta, 
interferindo em todos os momentos de suas vidas.
A obra preenche uma lacuna identificada no 
mercado editorial nacional, no qual há poucos títulos 
que se dediquem à gestão da segurança pública, 
configurando-se em uma ferramenta importante de 
consulta para estudantes, profissionais e pesquisadores.
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6579-0
9 788538 765790
Gestão de segurança 
pública 
Alex Erno Breunig
IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A. 
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do 
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. 
Imagem da capa: Dmitry Kalinovsky/Louis.Roth/CP DC Press /Joa Souza/Shutterstock
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B854g
Breunig, Alex Erno
Gestão de segurança pública / Alex Erno Breunig. - 1. ed. - Curitiba 
[PR] : Iesde, 2020. 
104 p. 
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6579-0
1. Segurança pública - Brasil. 2. Administração pública - Brasil. I. Título.
19-61858 CDD: 363.20981
CDU: 351.741(81)
Alex Erno Breunig Especialista em Informações e em Polícia Judiciária 
Militar pela Academia Policial Militar do Guatupê 
(APMG), em Planejamento e Controle de Segurança 
Pública pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), 
em Direito Penal pelo Centro Universitário Leonardo 
da Vinci (Uniasselvi) e em Segurança Pública pela 
Faculdade São Braz. Bacharel em Segurança Pública 
pela APMG e bacharel em Direito pela Pontifícia 
Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Oficial 
da Polícia Militar do Paraná, atualmente no posto 
de Tenente-Coronel. Na corporação, atuou em 
diversas áreas operacionais e administrativas, bem 
como ministrou aulas para cursos de formação, 
especialização e aperfeiçoamento. Atuou na gestão da 
segurança pública em Curitiba e no planejamento e 
comando do policiamento externo dos jogos da Copa 
do Mundo FIFA 2014. Atualmente, é chefe da Primeira 
Seção do Estado-Maior da Polícia Militar do Paraná.
SUMÁRIO
1 Organização da segurança pública 9
1.1 Estado e governo 9 
1.2 Organização da segurança pública 13
1.3 Integração da segurança pública 26
2 Gestão dos órgãos de segurança pública 31
2.1 Gestão de pessoal 31
2.2 Gestão financeira 41
2.3 Gestão de materiais 44
3 Tecnologia e inovações 50
3.1 Soluções tecnológicas 50
3.2 Estatísticas e georreferenciamento 58
3.3 Videomonitoramento e tornozeleira eletrônica 60
4 Políticas de segurança pública 67
4.1 Políticas institucionais 67
4.2 Experiências e inovações 77
4.3 Direitos humanos e defesa civil 84
5 Desafios da segurança pública 90
5.1 Aspectos culturais que influenciam na segurança pública 90
5.2 Inovações operacionais e gestão de delitos recorrentes 94
5.3 Criminalidade e violência na sociedade brasileira 100
Para que haja uma boa convivência em sociedade precisam ser providos 
meios básicos de vida, como educação, saúde, habitação e segurança para 
toda a população.
Neste livro, é abordada a gestão da segurança pública, um tema de 
grande relevância para qualquer sociedade. Trata-se de uma das maiores 
preocupações populares, pois afeta as pessoas de maneira intensa e direta, 
interferindo em todos os momentos de suas vidas. 
Nesta obra, dividida em cinco capítulos, são trabalhados os temas de maior 
importância e que afetam mais diretamente a prestação desse serviço público. 
Dessa forma, é feita uma abordagem a respeito da segurança pública, com 
ênfase na organização política e administrativa dos órgãos governamentais.
É tratada, também, a gestão dos órgãos de segurança pública, abordando-
se aspectos relacionados a pessoal, finanças e materiais e, posteriormente, 
a utilização de ferramentas de tecnologia e inovação, demonstrando suas 
vantagens para o serviço policial.
Na sequência, são abordados temas referentes às políticas e aos planos de 
segurança pública, direitos humanos e defesa civil, finalizando-se com estudos 
sobre os desafios da segurança pública, que envolvem aspectos culturais, de 
inovações operacionais e de compreensão dos fenômenos da criminalidade 
e da violência. 
Os assuntos são abordados de maneira direta, concisa e dialética, com o 
objetivo de provocar no leitor a reflexão a respeito deles e a formulação de 
suas próprias conclusões, utilizando-se de conhecimentos de diversas áreas, 
como sociologia, filosofia, direito e administração.
A obra preenche uma lacuna identificada no mercado editorial nacional, 
no qual há poucos títulos que se dediquem à gestão da segurança pública, 
configurando-se em uma ferramenta importante de consulta para estudantes, 
profissionais e pesquisadores, que podem adquirir conhecimentos ou ampliar 
os que já têm. Espera-se que seja uma contribuição na busca da melhoria das 
condições de segurança e de vida para a nação brasileira. 
Boa leitura!
APRESENTAÇÃO
Organização da segurança pública 9
Organização da 
segurança pública
A segurança pública é um dos principais anseios de qualquer 
comunidade. Diferente do que muitos pensam, propiciar adequadas 
condições de segurança pública não é uma tarefa exclusiva do 
poder público ou dos Estados da Federação, sendo, na verdade, a 
somatória de obrigações estatais com a responsabilidade de todos.
No intuito de preencher uma lacuna identificada na literatura 
pátria, que em poucas oportunidades se dedica a estudos sobre 
a organização da segurança pública, é que apresentamos este 
capítulo, procurando propiciar a você, leitor, operador da segurança 
pública ou estudante, uma fonte de consulta sucinta, direta, 
dialógica e simples, que lhe permita conhecer a estrutura estatal, 
refletir a respeito do tema e formular suas conclusões, podendo, 
então, colaborar para a solução dos problemas relacionados a 
essa tão estratégica e importante área da administração pública.
Temos a sincera expectativa de que, ao final deste estudo, você 
estará apto a refletir acerca da organização da segurança pública e 
a aprofundar seus conhecimentos.
1.1 Estado e governo 
Videoaula O termo Estado, como ente político com personalidade jurídica pró-
pria, teria sido utilizado pela primeira vez na célebre obra O Príncipe, do 
italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527). Nessa obra, o termo é empre-
gado em referência às comunidades formadas pelas cidades-Estado. 
No entanto, segundo Carvalho Filho (2014), o Estado, como forma de 
organização da sociedade, precede a criação do termo, existindo des-
de, no mínimo, o momento em que a sociedade sentiu necessidade de 
se organizar.
1
10 Gestão de segurança pública
Pela ótica da teoria geral do Estado, que é a ciência que se dedi-
ca a investigar e a explicar os princípios fundamentais, as origens, a 
evolução, a estrutura, as formas e a finalidade do ente personalizado 
denominado Estado, ele pode ser entendido, nos aspectos sociológi-
co, político e jurídico, como a organização política e jurídica que tem o 
intuito de buscar o bem de uma sociedade, possuindo uma adminis-
tração própria (governo) e um território determinado, com capacidade 
jurídica para adquirir obrigações e obter direitos.
O governo é um dos elementos que constituem o Estado, juntamen-
te com a população e o território. Há ainda autores que entendem que 
a soberania seria também necessária. Conforme Meirelles (2010, p. 61):
o Estado é constituído de três elementos originários e indissociá-
veis: Povo, Território e Governo Soberano. Povo é o componente 
humano do Estado; Território, a sua base física; Governo sobera-
no, o elemento condutordo Estado, que detém e exerce o poder 
absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado do 
Povo. Não há nem pode haver Estado independente sem Sobe-
rania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável 
de organizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu 
Povo e de fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, se 
necessário. A vontade estatal apresenta-se e se manifesta atra-
vés dos denominados Poderes de Estado.
Observando o conceito acima, é possível identificar, no Brasil, os ele-
mentos constitutivos de um Estado, pois possuímos o povo, o território e 
o governo soberano. Aqui, consideramos importante atentar para o fato 
de que o termo estado não está se referindo às unidades da Federação 
brasileira, dividida em Estados-membros que não possuem soberania.
Como forma de governo, o Brasil adotou a República, caracterizada 
pela soberania da vontade do povo, que escolhe seus representantes 
por meio do voto para exercerem mandato por tempo determinado. 
Como sistema de governo, adotamos o presidencialismo, que se ca-
racteriza pela concentração das funções de chefe de Estado e chefe de 
Governo na figura do presidente da República.
Essas distinções iniciais são importantes para deixar claro que a se-
gurança pública deve ser uma política de Estado, não de um governo, 
sendo que os órgãos públicos incumbidos dessa crucial função não 
podem se subjugar a políticas de governo que se curvem a interesses 
escusos e prejudiquem a sociedade, divergindo da política de Estado.
Organização da segurança pública 11
Quanto à sua formação, o Brasil é uma “federação centrífuga”. Isso 
significa que há uma concentração de poderes e de receitas na União, a 
qual se encarrega de distribuí-las. Essa característica de nossa Federa-
ção faz com que a União possua forte influência sobre os Estados-mem-
bros, tendo potencial restrição de suas autonomias, influenciando, 
também, nas políticas e na segurança pública, conforme explicaremos 
mais amiúde em tópicos adiante.
Procure prestar atenção em notícias e matérias de jornal, pesquise 
na internet e discuta com seus conhecidos a respeito da forma como 
o dinheiro público é administrado e distribuído entre os estados e mu-
nicípios; possivelmente, você irá perceber que isso tem fortes relações 
com nossa forma de governo e com a formação de nossa Federação.
A segurança pública foi estabelecida ao status de direito fundamen-
tal e social, sendo uma das funções típicas do Estado, conforme inscrito 
nos caputs dos artigos 5º e 6º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). 
Considerando que o artigo 5º está no rol de cláusulas pétreas 1
Cláusulas pétreas são dispositivos 
de nossa Constituição Federal 
que não podem ser alterados 
ou suprimidos, nem mesmo por 
meio de Emenda Constitucional, 
sendo que a identificação dos 
dispositivos constitucionais 
considerados pétreos é feita pela 
análise do § 4º do artigo 60 da 
Constituição Federal de 1988.
1
 consti-
tucionais, na vigente ordem constitucional, a segurança pública sempre 
será um direito fundamental dos brasileiros.
Para exercer as funções que possui, o Estado brasileiro precisa de 
uma vasta rede de agentes públicos, distribuídos em diversos níveis de 
planejamento, assessoramento e execução. Essa rede de agentes, no 
entanto, ganhou dimensões além do recomendado, devido a diversos 
fatores históricos, políticos e sociais; além desse crescimento na quan-
tidade de agentes, a administração pública brasileira, nos níveis fede-
ral, estadual e municipal, tornou-se excessivamente morosa e custosa, 
tornando-se um verdadeiro “Leviatã anabolizado 2 ”, em que, mesmo 
para a obtenção de direitos básicos, há a necessidade de interminá-
veis requerimentos, despachos, indeferimentos, certidões, atestados, 
alvarás e recursos. Ou seja, um verdadeiro tormento para os cidadãos.
A consciência de que o Estado brasileiro é demasiadamente moroso 
e burocrático possui grande importância para a compreensão das prá-
ticas de gestão da segurança pública, especialmente no que se refere à 
administração financeira e de pessoal. Isso possibilita o entendimento 
dos fatores que influenciam na tomada de decisões, as quais são con-
dicionadas pelos meios disponíveis.
É relevante ressaltar que, para o alcance da função estatal de pro-
ver segurança pública, há a necessidade de se estabelecer que os 
Leviatã – referência ao monstro 
bíblico que seria uma criatura 
extremamente poderosa e das 
mais temíveis já descritas – é 
o título da obra publicada 
em 1651, em que o pensador 
inglês Thomas Hobbes teorizou 
o contrato social. O nome da 
obra é uma metáfora a um 
pacto social proposto pelo autor, 
pelo qual um poder soberano 
organizaria a sociedade a fim de 
limitar os anseios individuais de 
competitividade, desconfiança e 
busca de glória, evitando, assim, 
a violência, mas abdicando da 
liberdade em nome da ordem 
social (COELHO, 2016).
Saiba mais+
“Leviatã anabolizado” é uma 
metáfora criada para chamar 
a atenção sobre o excessivo 
tamanho da administração 
pública brasileira, que não raras 
vezes é inchada por motivos 
desnecessários.
2
12 Gestão de segurança pública
interesses coletivos terão prioridade sobre os particulares. Assim, não 
se pode dissociar a atuação do Estado para a garantia da segurança 
da população do poder que ele possui de determinar as normas e, 
se necessário, utilizar de coerção para fazer valer suas ordens, que 
obrigatoriamente devem visar ao bem comum, mesmo que em detri-
mento de determinados interesses particulares.
Portanto, no intuito de efetivamente atender aos interesses co-
muns, o primado da indisponibilidade do interesse público deve ser in-
terpretado como instrumento para a proteção dos direitos do cidadão, 
que são os legítimos destinatários das normas, sem se esquecer da 
supremacia do interesse público sobre os particulares, visto que, con-
forme afirma Loubet (2009, p. 59), “não se pode conceber que o Estado 
unilateralmente tome decisões sob o manto de proteção coletiva, pas-
sando ao largo de princípios como os da dignidade humana, cidadania, 
proteção ao trabalho, dentre tantos outros”.
Outro conceito jurídico que necessariamente deve ser estudado 
para que se possa compreender a gestão da segurança pública é o de 
Estado Democrático de Direito, que se traduz na prevalência dos direitos 
do povo, mesmo que sobre o Estado e as leis, que nada significam se 
não garantirem os direitos humanos e constitucionais.
Segundo Braz (2018, p. 159), “o principal problema do Estado se re-
fere à conciliação da liberdade e da autoridade. A prevalência da liber-
dade sobre a autoridade poderá conduzir à anarquia. Já se a autoridade 
prevalecer sobre a liberdade, tenderemos ao totalitarismo”. Assim, o 
equilíbrio entre liberdade e autoridade refletiria o ideal de Estado De-
mocrático, sendo que, para o atingimento desse ideal, é imprescindível 
existirem instituições garantidoras dos direitos dos cidadãos e da au-
toridade pública.
Destacamos, por fim, uma corrente filosófica que teve forte influên-
cia na formação da República brasileira e que ainda se presta a au-
xiliar na compreensão de nossa estrutura administrativa e, portanto, 
na compreensão da gestão da segurança pública. Estamos falando do 
positivismo, que “procura explicar a sociedade pelo viés da observação 
empírica, ou seja, por meio da experiência, admitindo como critério de 
verdade as questões que podem ser verificadas pelo método científico, 
se distanciando do metafísico (aquilo que se explica por forças ocultas)” 
(BREUNIG; SOUZA, 2018, p. 30).
O positivismo procura explicar a 
sociedade pelo viés da observação 
empírica, ou seja, por meio da 
experiência, admitindo como 
critério de verdade as questões 
que podem ser verificadas pelo 
método científico, se distanciando 
do metafísico (aquilo que se 
explica por forças ocultas, que vão 
além do estado físico das coisas).
O nome de maior notoriedade 
dentro dessa corrente filosófica é o 
de Auguste Comte (1798-1857),filósofo e sociólogo francês. A 
base de seu pensamento se forma 
com fundamento na lei dos três 
estados (que didaticamente 
poderia ser definida como lei dos 
três “estágios”): o teológico, o 
metafísico e o positivo (BREUNIG; 
SOUZA, 2018).
Saiba mais+
Organização da segurança pública 13
Você já deve ter se questionado sobre a origem da expressão Ordem 
e Progresso, grafada em nossa bandeira nacional. Esse é um pressupos-
to positivista pelo qual, por meio da ordem, chegar-se-á ao progresso.
http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67468
PAUL, W. Ordem e progresso: origem e significado dos símbolos da Bandeira 
Nacional Brasileira. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 
São Paulo, v. 95, p. 251-270, jan. 2000. Acesso em: 4 dez. 2019.
A expressão Ordem e Progresso contida em nossa bandeira nacional tem ori-
gem em um pressuposto positivista. A esse respeito, recomendamos a leitura 
do artigo de Wolf Paul.
Artigo
Segundo o texto, a expressão 
grafada em nossa bandeira 
nacional tem origem em qual 
corrente filosófica? Como essa 
corrente procura explicar a 
sociedade?
Atividade 1
3
“Nós, representantes do 
povo brasileiro, reunidos 
em Assembleia Nacional 
Constituinte para instituir um 
Estado Democrático, destinado a 
assegurar o exercício dos direitos 
sociais e individuais, a liberdade, 
a segurança, o bem-estar, o 
desenvolvimento, a igualdade e 
a justiça como valores supremos 
de uma sociedade fraterna, 
pluralista e sem preconceitos, 
fundada na harmonia social 
e comprometida, na ordem 
interna e internacional, com 
a solução pacífica das contro-
vérsias, promulgamos, sob a 
proteção de Deus, a seguinte 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA 
FEDERATIVA DO BRASIL” 
(BRASIL, 1988).
1.2 Organização da segurança pública 
Videoaula Inicialmente, chamamos a atenção para o preâm-
bulo da Constituição Federal 3 , que elevou a segurança 
pública, assim como a liberdade, o bem-estar, o desen-
volvimento e a igualdade, à condição de valor supremo 
da sociedade brasileira. Assim, Estado e sociedade de-
vem se irmanar para atingir esses ideais e, para isso, os 
governos devem desenvolver políticas públicas, execu-
tadas por agentes públicos.
É importante esclarecer que as pessoas físicas in-
cumbidas de funções públicas, de maneira transitó-
ria ou efetiva, são denominadas de agentes públicos, 
os quais são subdivididos em categorias de acordo 
com as funções desempenhadas, as prerrogativas e 
as responsabilidades estabelecidas constitucional-
mente e em leis próprias.
Dentre as categorias de agentes conhecidos como 
administrativos encontram-se os militares estaduais e 
os servidores públicos policiais. Portanto, é incorreto, 
constitucionalmente falando, dizer que os policiais 
militares e bombeiros militares são servidores públi-
cos, pois, na verdade, são militares estaduais.
14 Gestão de segurança pública
Essa distinção, que parece de menor importância ou apenas uma 
questão de semântica, na verdade possui grande relevância, especial-
mente em relação à análise de funções, restrições de direitos, prerro-
gativas e direitos de cada categoria.
Alertamos para o fato de que os estudos que tendem a compreen-
der o tema segurança pública são interdisciplinares, ou seja, se utili-
zam de conhecimentos de diversas áreas do saber para compreender 
as questões em estudo, levando-se a diversas interpretações possíveis 
para o mesmo fato, para os mesmos problemas e a respeito das pos-
síveis soluções.
De acordo com Leis (2005, p. 9), “a interdisciplinaridade pode ser 
definida como um ponto de cruzamento entre atividades (disciplinares 
e interdisciplinares) com lógicas diferentes”. Assim, os estudos inter-
disciplinares devem levar em consideração as mais diversas visões a 
respeito do mesmo fato, para o que deve, no caso específico da gestão 
da segurança pública, levar em consideração conhecimentos atinentes 
à filosofia, à sociologia, à administração, ao direito, dentre outros.
1.2.1 Órgãos responsáveis pela segurança pública
Tradicionalmente, a doutrina pátria distingue as atribuições dos ór-
gãos responsáveis pela segurança pública pelo exercício do chamado 
poder de polícia, resultado da obrigação de o Estado interferir, quando 
necessário, na esfera de interesses do particular, a fim de salvaguardar 
os interesses públicos, fazendo uso de seus poderes legalmente cons-
tituídos para restringir direitos individuais.
Carvalho Filho (2014, p. 76) conceitua poder de polícia como “a prer-
rogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração 
Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em fa-
vor do interesse da coletividade”. É importante ressaltar que o poder de 
polícia não é exclusivo dos órgãos policiais, sendo exercido por todo e 
qualquer agente público que esteja investido legalmente desse poder.
Outro conceito importante para o nosso estudo é o de poder da polí-
cia, que é dependente e de menor envergadura em relação ao poder de 
polícia. Conforme Cretella Júnior apud Lazzarini et al. (1987, p. 21), “poder 
da polícia é a possibilidade atuante da polícia, é a polícia quando age. 
Numa expressão maior, que abrigasse as designações que estamos es-
Organização da segurança pública 15
clarecendo, diríamos: em virtude do poder de polícia o poder da polícia é 
empregado pela polícia a fim de assegurar o bem-estar público ameaça-
do”. Assim, os órgãos de segurança pública, quando atuam na prática e 
no caso em concreto, por exemplo restringindo direitos, o fazem no uso 
do poder da polícia, que tem por objetivo a garantia da supremacia do 
interesse público, sendo, portanto, a própria ação policial.
Para compreender a estrutura e a administração da segurança pú-
blica, é importante ainda que se tenha noção acerca das conceituações 
possíveis de crime. Ao ser questionada a respeito do conceito de crime, a 
maioria das pessoas, em especial os profissionais de segurança pública, 
possivelmente responderia se tratar de uma ação típica, antijurídica e 
culpável, ou algo bem próximo disso. Essa perspectiva técnico-jurídica, 
apesar de juridicamente correta, não abarca características sociológicas 
ligadas ao tema, tratando o fenômeno criminal de maneira isolada.
A visão jurídica possui importância preponderante para alguns ope-
radores da segurança pública, como promotores de justiça, juízes, ad-
vogados criminalistas e carcereiros. No entanto, para os responsáveis 
pelo policiamento ostensivo e preservação da ordem pública, afigura-
-se insuficiente, pois, além de prevenir e reprimir condutas delituosas, 
esses possuem atribuições de mediação de conflitos e prevenção de 
condutas não criminais, mas que possuem potencial para evoluir para 
o cometimento de ilícitos.
Essa visão multidisciplinar é necessária também para o poder polí-
tico, que deve ter sensibilidade para tratar a problemática envolvendo 
a segurança pública não apenas como um problema de polícia, mas 
como uma questão social, cultural e educacional.
Considera-se claro que a melhoria das condições de segurança 
pública não pode iniciar nem findar apenas no incremento das forças 
policiais – seja em termos de pessoal, tecnologia, treinamento ou apa-
relhamento –, as quais estão no meio da corrente que fixa as bases de 
uma boa convivência em sociedade, pois a criminalidade não é apenas 
um “problema de polícia”, antes disso, é um fato social.
Para atingir o objetivo de propiciar boas condições de segurança públi-
ca, primeiramente há de ser melhorado todo o aparelhamento do Estado, 
visando propiciar condições dignas de educação, saúde, lazer, moradia, 
trabalho e demais bens mínimos necessários à vida em sociedade, mas 
não nos deteremos nessas questões, por não ser o escopo do estudo.
16 Gestão de segurança pública
Em relação às políticas de segurança pública, nos parece que todos 
os elos da corrente carecem de melhorias – entre eles: polícias, Poder 
Judiciário, sistema prisional e estabelecimentos de internamento de 
menores infratores –,reiterando haver a necessidade de melhora nas 
condições sociais da população para que os investimentos no aparelho 
de segurança pública tenham os desejados efeitos.
Convidamos o leitor a refletir sobre as raízes mais profundas da 
criminalidade, alastradas em nosso país. Não poderiam residir elas, 
também, na falta de valores e de autoridade? Não estamos falando de 
uma autoridade formal ou legalmente imposta, mas sim de autoridade 
moral. Reflita sobre a necessidade de que os pais tenham autoridade 
sobre os filhos ou os professores sobre os alunos. Sem o acatamen-
to a essas autoridades, será que o incremento de investimentos em 
sistemas de repressão criminal não teriam efeitos apenas paliativos, 
pois estariam atuando apenas nos efeitos, sem atacar as causas dos 
problemas?
As perspectivas – jurídica e sociológica – a respeito dos fenômenos 
criminais possuem diversos pontos de convergência, prestando-se mu-
tuamente de alicerce e apoio. Assim, a organização da segurança públi-
ca, para bem prover a sociedade desse bem tão caro e necessário, deve 
utilizar ambas as conceituações, podendo, então, encontrar métodos e 
processos adequados a cada necessidade.
Para compreender a estrutura, a organização e a gestão da seguran-
ça pública, deve-se ter em mente que o Estado possui o monopólio do 
uso da força, utilizando-a por meio das polícias.
No uso desse monopólio, o Estado pode e, em determinadas con-
dições, deve utilizar inclusive de força letal, no escopo de proteger os 
cidadãos e seus próprios agentes. O uso dessa força possui amparo 
legal, conforme disposições do Código Penal (BRASIL, 1940), quando 
trata da legítima defesa.
Esse monopólio do uso da força foi estudado por Max Weber, como 
o fundamento de consolidação do Estado, permitindo fazer com que os 
desígnios politicamente decididos sejam cumpridos, pois “poder signifi-
ca toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, 
mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabi-
lidade” (WEBER, 2004, p. 33).
Organização da segurança pública 17
Feitas as considerações introdutórias, entendemos que você estará 
apto a compreender a estrutura constitucional da segurança pública, a 
qual possui arcabouço principal inscrito no artigo 144 da Constituição 
Federal (BRASIL, 1988), que relaciona os órgãos policiais incumbidos da 
segurança pública, conforme o seguinte:
Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e respon-
sabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pú-
blica e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através 
dos seguintes órgãos:
I – polícia federal;
II – polícia rodoviária federal;
III – polícia ferroviária federal;
IV – polícias civis;
V – polícias militares e corpos de bombeiros militares;
VI – polícias penais federal, estadual e distrital.
Esse artigo estabelece que a segurança pública é dever do Estado 
e direito e responsabilidade de todos, ou seja, há uma divisão da res-
ponsabilidade pela segurança pública entre o poder público e todos os 
cidadãos, considerados individual ou coletivamente. Entendemos que 
sem essa responsabilização difusa não haveria formas de desempe-
nhar essa exigência.
Devemos atentar para o fato de que o termo Estado não se refere ao 
ente federativo Estado (por exemplo, São Paulo, Paraná, Rondônia), mas 
a todos os entes federados: União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
Das expressões constantes desse dispositivo constitucional, consi-
deramos relevante esmiuçar ordem pública, que pode ser definida, de 
acordo com o Decreto n. 88.777, de 30 de setembro de 1983 (BRASIL, 
1983), como:
Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico 
da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os 
níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência 
harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e consti-
tuindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum.
Os parágrafos do artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) 
estabelecem as competências legais de cada um desses órgãos poli-
ciais, sobre os quais passamos a discorrer a seguir.
Quais são os órgãos do sistema 
de segurança pública e em qual 
legislação estão previstos?
Atividade 2
18 Gestão de segurança pública
1.2.1.1 Polícia Federal
Conforme determina o parágrafo 1° do artigo 144 da Constituição 
Federal (BRASIL, 1988), esse órgão pertencente à estrutura do Poder 
Executivo Federal destina-se a:
I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em 
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas 
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras 
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou inter-
nacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação 
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de 
competência;
III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de 
fronteiras;
IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária 
da União.
Como se depreende dos incisos transcritos, à Polícia Federal com-
pete apurar uma ampla gama de infrações, além de prevenir e reprimir 
diversas outras. Possui competência, ainda, para exercer as funções de 
polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras. Por fim, lhe compete 
exercer as funções de polícia judiciária da União. Compete à Polícia Fe-
deral, portanto, cuidar especialmente do combate à criminalidade que 
tenha repercussão nacional ou em mais de um estado da Federação.
Chamamos a atenção para a destinação de funções de polícia 
judiciária da União. A respeito dessa função, Oliveira (2014, p. 29) 
afirma que “as atividades de apoio ao Poder Judiciário e Ministério 
Público são aquelas que preferimos qualificar, com perdão da po-
lêmica, em funções de polícia judiciária”. Assim, o desempenho de 
funções de polícia judiciária da União concerne no apoio prestado 
pela Polícia Federal, como força policial, para o desenvolvimento 
do processo penal que esteja a cargo da Justiça Federal, por exem-
plo, para a custódia de presos em flagrante, escolta de presos e 
conduções coercitivas.
Embora a Polícia Federal exerça funções de polícia judiciária, é 
absolutamente inadequado designá-la como tal.
Organização da segurança pública 19
1.2.1.2 Polícia Rodoviária Federal
Conforme determina o parágrafo 2° do artigo 144 da Constituição 
Federal: “A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e 
mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da 
lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais” (BRASIL, 1988).
A Polícia Rodoviária Federal é responsável pelo patrulhamento de 
aproximadamente 65 mil quilômetros de rodovias federais por todo o 
Brasil, sendo que suas competências estão relacionadas no artigo 20 
do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997), das quais transcreve-
mos os dispositivos que consideramos de maior importância para nos-
so estudo:
Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das ro-
dovias e estradas federais:
[...]
II – realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações 
relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preser-
var a ordem, incolumidade das pessoas, o patrimônio da União 
e o de terceiros;
[...]
IV – efetuar levantamento dos locais de acidentes de trânsito e 
dos serviços de atendimento, socorro e salvamento de vítimas;
[...]
VII – coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre aci-
dentes de trânsito e suas causas, adotando ou indicando me-
didas operacionais preventivas e encaminhando-os ao órgão 
rodoviário federal;
VIII – implementar as medidas da Política Nacional de Segurança 
e Educação de Trânsito.
Dentro de sua atuação constitucional de patrulhamento das rodo-
vias federais, a Polícia Rodoviária Federal é peça fundamental do siste-
ma de segurança pública brasileiro, exercendo papel imprescindível naprevenção criminal, quando, por exemplo, combate o narcotráfico, o 
tráfico de armas, o contrabando e o descaminho.
Os levantamentos de locais de acidentes de trânsito e a coleta de da-
dos estatísticos são cruciais para a prevenção de acidentes nas rodovias, 
colaborando com a diminuição de feridos e mortos nas rodovias federais.
20 Gestão de segurança pública
1.2.1.3 Polícia Ferroviária Federal
É o órgão integrante do sistema nacional de segurança pública que 
atualmente possui o menor contingente, sendo o menos conhecido 
pelo público. Por disposição constitucional, conforme parágrafo 3° do 
artigo 144 da Constituição Federal: “A polícia ferroviária federal, órgão 
permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em car-
reira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das fer-
rovias federais” (BRASIL, 1988).
Apesar de possuir efetivo bastante reduzido, esse órgão possui atri-
buições de grande importância, com destinação similar às da Polícia 
Rodoviária Federal, sendo responsável pelo patrulhamento em aproxi-
madamente 26 mil quilômetros de ferrovias federais.
Esse órgão policial não possui nenhuma lei específica que regula-
mente a sua criação, sendo esse o motivo de um veto presidencial ao 
texto da Lei n. 13.675 (BRASIL, 2018), que pretendia incluir o órgão no 
Sistema Único de Segurança Pública.
Ou seja, a despeito de sua importante atribuição constitucional, 
não há, na prática, estrutura legal, logística e de efetivo que permita 
a execução de suas missões, que acabam por ser supridas por outros 
órgãos policiais, em especial pelas Polícias Militares, como uma ativi-
dade residual.
1.2.1.4 Polícia Civil
Esse órgão do sistema nacional de segurança pública, que é inte-
grante do Poder Executivo dos Estados, tem por incumbência principal 
a imprescindível atividade de investigação criminal, bem como pres-
tar apoio ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, recebendo trata-
mento constitucional conforme presente no parágrafo 4° do artigo 144 
da Constituição Federal: “Às polícias civis, dirigidas por delegados de 
polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as 
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as 
militares” (BRASIL, 1988).
As funções de polícia judiciária, assim como atribuídas à Polícia 
Federal, consistem no suporte ao Poder Judiciário e ao Ministério 
Público Estaduais, em atividades das mais diversas.
Organização da segurança pública 21
Outra observação que entendemos pertinente é que as carreiras 
das polícias civis não podem ser consideradas como carreira jurídica, 
ainda que sejam uma atividade eminentemente de operador do direi-
to, que são institutos diferentes. Esse é o entendimento firmado pelo 
Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade n. 5.520, realizado dia 6 de setembro de 2019.
No que se refere à atividade de apuração de infrações penais, exce-
to as infrações penais militares, entendemos ser de suma importância 
para a segurança pública, seja para a responsabilização de quem hou-
ver cometido alguma infração penal, seja para a prevenção criminal. Ou 
seja, a incumbência de investigar é relevante para o sistema de segu-
rança pública. Entendemos que uma proficiente e proveitosa apuração 
criminal possui efeitos diretos, preventivos e pedagógicos.
Os efeitos diretos são a devida identificação e responsabilização de 
infratores, possibilitando que o sistema judiciário realize seu trabalho e 
leve-os ao sistema penitenciário.
Os efeitos preventivos se referem ao forte fator de desmotivação 
que a elucidação de uma infração produz sobre quem tenha intenções 
criminosas.
Apurações criminais de qualidade demonstram que o desrespeito 
ao ordenamento jurídico não é compensatório, pois a probabilidade de 
responsabilização se torna alta, possuindo, assim, efeito pedagógico.
No entanto, apurações infracionais constantemente deficitárias 
possuem efeitos contrários, sendo fator de motivação e fomento ao 
cometimento de ilícitos.
Bastos apud Oliveira (2014, p. 21) leciona a respeito da investigação 
criminal, definindo-a como “atividade que se desenvolve com o objetivo 
de ser descoberta a autoria das infrações penais e serem recolhidos os 
elementos necessários à propositura da ação penal correspondente”.
As atividades de apuração de infrações possuem grande importância 
para o sistema de segurança pública, no entanto as polícias civis despen-
dem significativa parte de seus recursos e de seu tempo em atividades 
meramente cartoriais e burocráticas que são, em regra, dispensáveis.
Para que ocorra o início de uma ação penal não é necessário que 
haja um inquérito policial 4
Inquérito policial é um conjunto 
de diligências pré-processuais 
que contém atos investigatórios 
e tem por objetivo investigar 
infrações penais e sua autoria, 
no intuito de reunir elementos 
necessários à formação da 
opinião do Ministério Público a 
respeito de determinado fato.
4
, sendo que esse procedimento administra-
tivo não é essencial, ou seja, pode haver investigação, com levantamen-
O Supremo Tribunal Federal, no 
julgamento da Ação Direta de 
Inconstitucionalidade n. 5.520, 
no dia 6 de setembro de 2019, 
julgou inconstitucionais os dispo-
sitivos da Constituição do Estado 
de Santa Catarina, que designava 
os Delegados da Polícia Civil 
daquele estado como integrantes 
de Carreira Jurídica.
Disponível em: http://portal.stf.
jus.br/processos/downloadPeca.
asp?id=15341197199&ext=.pdf. 
Acesso em: 10 dez. 2019.
Saiba mais+
22 Gestão de segurança pública
to de todos os fundamentos para uma ação penal, sem que haja um 
inquérito.
Portanto, a missão essencial desse órgão público é a apuração de 
infrações penais, e as atividades burocráticas podem ser, no máximo, 
auxiliares a essa missão principal.
1.2.1.5 Polícia Militar
De acordo com nossa Constituição Federal, as polícias militares são 
instituições organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sendo 
que os seus membros são militares dos estados e se subordinam aos 
respectivos governadores.
A respeito dessa subordinação, conforme já tratamos neste capí-
tulo, devem ser respeitados os interesses gerais da população, sob a 
premissa de que estamos tratando de uma instituição de Estado, não 
de uma instituição de Governo, ou seja, essa subordinação não pode 
ser traduzida como uma submissão absoluta e irrestrita, estando con-
dicionada aos interesses maiores da população.
De acordo com o parágrafo 5° do artigo 144 da Constituição Fe-
deral: “Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preserva-
ção da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das 
atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de 
defesa civil” (BRASIL, 1988).
Atentamos para o fato de que a legislação pátria confere às polícias 
militares com exclusividade a “polícia ostensiva e a preservação da or-
dem pública”, sendo que o termo polícia possui sentido jurídico absolu-
tamente mais amplo do que o termo policiamento.
Essa exclusividade é conferida por meio do Decreto Lei n. 667 
(BRASIL, 1969), conforme a seguir transcrito:
Art. 3º Instituídas para a manutenção da ordem pública e segu-
rança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, 
compete às Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas 
jurisdições:
 a) executar com exclusividade, ressalvas as missões peculiares 
das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, plane-
jado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumpri-
mento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos 
poderes constituídos;
Qual é e onde está prevista a 
competência constitucional das 
polícias militares? 
Atividade 3
Organização da segurança pública 23
b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em lo-
cais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a pertur-
bação da ordem;
c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da 
ordem, precedendo o eventual emprego dasForças Armadas.
O termo polícia engloba as atividades típicas de policiamento, como 
o patrulhamento ostensivo e a presença policial, mas vai muito além, 
deferindo às polícias militares a exclusividade na atuação no amplo 
campo da prevenção e repressão imediata de ilícitos criminais e polícia 
administrativa da ordem pública.
A respeito da atuação da polícias militares, Oliveira (2014), ao tratar dos 
aspectos jurídicos concernentes à atividade policial, especialmente no que 
se trata da atividade de policiamento ostensivo preventivo – atividade per-
tencente ao campo constitucional das polícias militares –, afirma que essa 
atividade é complexa e exige dos membros dessas polícias um preparo 
técnico profissional, no qual inclui profundo conhecimento jurídico.
Ainda discorrendo acerca das atividades desempenhadas pelos po-
liciais militares, Oliveira (2014, p. 10) afirma que:
em situações drásticas, o agente policial precisa decidir, de plano 
e imediatamente, em turbulentas perspectivas psicológicas, 
sobre a vida e liberdade alheia, atividade com consequências e 
mediações jurídicas intensas, para dizer o mínimo.
Você já deve ter refletido a respeito da pesada carga decisória exis-
tente na atividade prática das polícias, na qual o policial, em fração de 
segundos – sem ter nenhuma oportunidade ou tempo para fazer qual-
quer tido de consulta, seja a suas próprias anotações, a outros policiais 
ou em bibliografia – toma decisões com repercussões práticas e jurídi-
cas da maior envergadura, por exemplo: “Prendo ou não prendo este 
cidadão?” “Faço ou não faço uso de força para contê-lo?” “Faço ou não 
faço uso de minha arma de fogo?”.
Essas decisões, dentre tantas outras, devem ser tomadas quase que 
de imediato e possuem reflexos fáticos e jurídicos na esfera de direitos 
dos cidadãos afetados direta ou indiretamente, bem como na esfera de 
direitos do policial, que terá de responder por sua decisão.
Para haver uma conclusão acerca da correção ou erro no procedi-
mento adotado pelo policial, será realizada uma investigação policial, 
na qual será incluída uma perícia, uma minuciosa análise por parte do 
Ministério Público e um julgamento por conta do Poder Judiciário. Em 
Você sabia que existem 
polícias militarizadas em muitos 
outros países além do Brasil? 
A única diferença entre essas 
polícias e a brasileira é que 
elas não têm o termo militar 
em seus nomes. À guisa de 
exemplo, relacionamos algumas 
dessas polícias militarizadas: 
na Argentina, a Gendarmeria 
Nacional; na Espanha, a Guarda 
Civil; em Portugal, a Guarda 
Nacional Republicana; na Itália 
há duas polícias militarizadas, 
os Carabineiros e a Guarda de 
Finanças; no Canadá, a Royal 
Canadian Mounted Police; no 
Chile, os Carabineiros.
Curiosidade
24 Gestão de segurança pública
todas essas etapas haverá possibilidade de consulta a bibliografias, 
a peritos, a exames laboratoriais e a especialistas das mais diversas 
áreas do conhecimento humano. Mesmo com todo esse suporte, não 
raras vezes haverá fundada dúvida quanto ao procedimento conside-
rado correto no caso em concreto.
Até mesmo a decisão de efetuar uma prisão ou atuar em face de um 
flagrante de crime pode gerar grandes dúvidas a respeito da decisão 
tomada pelo policial, levando a demandas em desfavor dele.
Uma peculiaridade única do sistema de segurança brasileiro é a fal- 
ta de ciclo completo de polícia, ou seja, as polícias brasileiras possuem 
meias competências: para prevenção e repressão imediata ou para in-
vestigação. Essa particularidade provoca sérios obstáculos à seguran-
ça, pois aumenta a demanda por atividades meramente burocráticas e 
cartorárias e resulta em prejuízos à segurança da população. Felizmen-
te, há diversas iniciativas para alterar esse panorama, com a intenção 
de conferir ciclo completo a todos os órgãos policiais, o que, por certo, 
irá colaborar para melhorar nossas condições de segurança pública.
Outro órgão integrante do sistema de segurança pública é o corpo 
de bombeiros militar, que tem por incumbência constitucional a pre-
venção e o combate a incêndios, além das atividades de defesa civil.
Mesmo que haja previsão constitucional no mesmo parágrafo das polí-
cias militares, os corpos de bombeiros militares não são necessariamente 
integrantes delas. Somente dois estados da Federação possuem corpos 
de bombeiros como instituições orgânicas das polícias militares: Paraná e 
São Paulo. Em todos os demais estados, os corpos de bombeiros militares 
são instituições independentes e com comando próprio.
1.2.1.6 Polícia Penal
Esse órgão de segurança pública foi criado por meio da Emenda 
Constitucional n. 104, de 4 de dezembro de 2019, a qual inseriu o 
inciso VI e o § 5º-A ao artigo 144, determinando que: “Às polícias pe-
nais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da unidade 
federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos 
penais” (BRASIL, 2019).
Juntamente às polícias militares, aos bombeiros militares e às polí-
cias civis, as polícias penais estaduais e distrital são subordinadas aos 
governadores dos estados e do Distrito Federal. 
A respeito do tema Ciclo 
completo de polícia, sugerimos 
assistir ao vídeo com a íntegra 
da reunião que acompanha os 
trabalhos da Comissão especial 
destinada a discutir a adoção, 
para todas as polícias, da 
competência legal para investi-
gação, instalada na Câmara dos 
Deputados em 16 de outubro 
de 2019. 
Disponível em: https://www.cama-
ra.leg.br/evento-legislativo/58029. 
Acesso em: 4 dez. 2019. 
Vídeo
Organização da segurança pública 25
Essa nova polícia foi criada para corrigir uma distorção existente no 
Brasil, pois, doutrinariamente, os órgãos incumbidos de realizar pri-
sões não deveriam realizar a guarda desses presos, sendo essa uma 
missão que deve ser de outro órgão, no caso, da polícia penal. 
Sendo assim, a criação da polícia penal se afigura como uma provi-
dência correta e que trará efeitos benéficos para a segurança pública, 
permitindo que os demais órgãos policiais se dediquem às suas mis-
sões constitucionais, deixando de utilizar seus efetivos para realizar a 
guarda de presos.
1.2.1.7 Guarda Municipal
A despeito de não ser considerado constitucionalmente como um 
órgão integrante do sistema de segurança pública, as guardas muni-
cipais estão previstas no parágrafo 8° do artigo 144 da Constituição 
Federal, em que se afirma que: “Os Municípios poderão constituir guar-
das municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instala-
ções, conforme dispuser a lei” (BRASIL, 1988).
Conforme expresso no dispositivo constitucional, as guardas muni-
cipais, nos municípios em que foram instituídas, têm por destinação a 
proteção dos bens, serviços e instalações dos municípios.
As normas gerais para as guardas foram instituídas pela Lei 
n.  13.022, de agosto de 2014 (BRASIL, 2014), da qual destacamos os 
dispositivos a seguir.
Art. 2º Incumbe às guardas municipais, instituições de caráter 
civil, uniformizadas e armadas conforme previsto em lei, a fun-
ção de proteção municipal preventiva, ressalvadas as competên-
cias da União, dos Estados e do Distrito Federal.
[...]
Art. 4º É competência geral das guardas municipais a proteção 
de bens, serviços, logradouros públicos municipais e instalações 
do Município.
Parágrafo único. Os bens mencionados no caput abrangem os de 
uso comum, os de uso especial e os dominiais.
Art. 5º São competências específicas das guardas municipais, res-
peitadas as competências dos órgãos federais e estaduais:
[...]
Parágrafo único. No exercício de suas competências, a guarda 
municipal poderá colaborar ou atuar conjuntamente com órgãos 
de segurança pública da União, dos Estados e do Distrito Fede-
ral ou de congêneres de Municípios vizinhos e, nas hipóteses 
26 Gestão de segurança pública
previstas nos incisos XIII e XIV deste artigo, diante do compare-
cimento de órgão descrito nos incisos do caput do art. 144 da 
Constituição Federal, deverá a guarda municipal prestar todo o 
apoioà continuidade do atendimento.
Art. 6º O Município pode criar, por lei, sua guarda municipal.
Parágrafo único. A guarda municipal é subordinada ao chefe do 
Poder Executivo municipal.
Conforme pode ser extraído dessa lei, as guardas municipais são 
incumbidas de cumprir sua missão constitucional de proteção dos 
bens, serviços e instalações dos municípios, podendo ainda colaborar 
ou atuar conjuntamente com os órgãos que compõem o sistema de 
segurança pública.
1.3 Integração da segurança pública 
Videoaula Conforme já abordado, a segurança pública é dever do Estado e 
direito e responsabilidade de todos. Para bem executar essa respon-
sabilidade, os órgãos públicos, de todos os entes federativos, têm por 
obrigação empregar esforços para se integrar, no intuito de minimizar 
a possibilidade de retrabalhos, para ampliar a efetividade na aplicação 
dos recursos públicos despendidos e para prestar melhores serviços 
à população. No entanto, essa desejável integração ainda não é uma 
realidade, ao menos de maneira sistemática e geral, sendo atualmente 
muito dependente de iniciativas isoladas ou regionais.
Todos os entes da Federação devem tomar providências para que os 
discursos se tornem realidade e ocorra uma real integração dos órgãos 
responsáveis pela segurança pública. Mas, por motivos estruturais, tec-
nológicos, culturais e políticos, ainda estamos bastante distantes de uma 
real integração de informações, tecnologias, treinamentos, dentre outros.
Além disso, a integração deve envolver os entes públicos e a popu-
lação em geral, lembrando que a segurança pública é uma responsa-
bilidade de todos. Assim, famílias, escolas, clubes de entretenimento, 
e imprensa, devem participar dos esforços para uma sociedade mais 
segura. Qualquer pessoa pode colaborar com a segurança pública, for-
necendo informações às autoridades, por exemplo.
Uma ferramenta interessante de apoio e gestão da segurança públi-
ca é o conhecido Disque Denúncia e suas diversas variações, que facili-
tam e incentivam a comunicação das comunidades com as autoridades 
públicas, especialmente para a troca de informações referentes ao trá-
Organização da segurança pública 27
fico de drogas ilícitas e pessoas, violência contra vulneráveis, trabalho 
análogo à escravidão, dentre outros.
Por meio dessa ferramenta, a administração pública ou as enti-
dades particulares disponibilizam formas para que a comunidade se 
comunique com as autoridades incumbidas da segurança pública, em 
regra, propiciando que as informações sejam transmitidas de maneira 
anônima, a fim de garantir a segurança de quem estiver as repassando.
Os esforços para efetivar medidas de proteção para mulheres víti-
mas de violência representam objetivos bastante efetivos para integrar 
os órgãos de segurança pública e a comunidade e, portanto, vêm ga-
nhando espaço atualmente.
Nesses esforços, aliam-se o Poder Judiciário, que é o responsável 
por deferir medidas protetivas, as forças de segurança, responsáveis 
por dar efetividade às medidas protetivas, e as vítimas, que podem se 
utilizar de meios tecnológicos para fazer valer seus direitos, sendo, en-
tão, um exemplo de que a integração é útil e necessária.
1.3.1 Controle externo das polícias
É de fundamental importância que haja controle de todo e qualquer 
detentor de poder. Todos os poderes da República têm que se subme-
ter a controles, sob pena de graves violações às liberdades individuais 
e de se tornarem poderes despóticos e opressores.
A esse respeito, Montesquieu, em sua célebre obra O espírito das 
Leis, afirma que todo aquele que detenha poder deve ser submetido a 
controles, sob pena de invariavelmente abusar desse poder.
A democracia e a aristocracia não são Estados livres por natureza. 
A liberdade política só se encontra nos governos moderados. Mas 
ela nem sempre existe nos Estados moderados; só existe quando 
não se abusa do poder; mas trata-se de uma experiência eterna 
que todo homem que possui poder é levado a dele abusar; ele vai 
até onde encontra limites. (MONTESQUIEU, 2000, p. 166)
Assim, o detentor e a população devem conhecer exatamente os 
limites desse poder. Para limitar seu exercício e evitar abusos, são ins-
tituídos sistemas de freios e contrapesos. Para explicar o que vem a ser 
esses sistemas, recorremos novamente a Montesquieu, que teorizou 
a necessidade de separação entre os poderes Executivo, Legislativo e 
Judiciário para que possa haver democracia:
28 Gestão de segurança pública
Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não for separado 
do poder legislativo e do executivo. Se estivesse unido ao poder 
legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria 
arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse unido ao poder 
executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor.
Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos 
principais, o dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o 
de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar 
os crimes ou as querelas entre os particulares. (MONTESQUIEU, 
2000, p. 168)
Atentamos para o fato de que essa separação de poderes é cláu-
sula pétrea de nossa Constituição e, conforme o artigo 2º (BRASIL, 
1988), “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, 
o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Essa separação de poderes 
confere atribuições de fiscalização mútua aos três poderes, sendo 
que o Executivo executa as leis aprovadas pelo Legislativo e ambos se 
submetem ao crivo de constitucionalidade do Judiciário.
Os órgãos do sistema de segurança pública possuem setores inter-
nos de corregedorias, as quais, apesar de pertencerem à estrutura in-
terna de cada órgão, se prestam a apurar irregularidades e alimentar 
outros sistemas incumbidos da responsabilização de seus agentes, em 
especial o Ministério Público, que é a instituição que possui constitucio-
nalmente a função de exercer o controle externo da atividade policial, 
conforme dispositivo da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
Esse controle externo não pode ser entendido como subordinação 
das polícias ao Ministério Público, que não possui competências fun-
cionais ou administrativas para com as polícias. Esse controle externo é 
exercido por meio de medidas judiciais e extrajudiciais, para que sejam 
adotadas providências para corrigir ilegalidades ou abusos de poder ou 
para que sejam realizadas investigações e apuradas ilegalidades perpe-
tradas por policiais.
Outra forma de controle externo da atividade policial, talvez a mais 
importante, é a realizada por meio da sociedade em geral, assim enten-
dida em sua expressão mais básica e individual, e até por grandes gru-
pos organizados, conhecidos como terceiro setor 5
Terceiro setor é uma expressão 
empregada para definir iniciati-
vas privadas, sem fins lucrativos 
e que prestem serviços de 
caráter público.
5
. Assim, a população 
pode – e deve – se engajar na solução de seus problemas, especialmen-
te quanto à segurança pública.
Um tema de grande re-
levância e interesse para 
ser aprofundado trata-se 
do controle externo da 
atividade policial, para 
o qual recomenda-
mos a consulta à obra 
elaborada pelo CNMP, O 
Ministério Público e o con-
trole externo da atividade 
policial: Dados 2016. 
CNMP. Brasília: Conselho 
Nacional do Ministério 
Público, 2017. Disponível em: 
https://www.cnmp.mp.br/
portal/publicacoes/245-cartilhas-
-e-manuais/10913-o-ministerio-
-publico-e-o-controle-externo-da-
-atividade-policial-dados-2016. 
Acesso em: 10 dez. 2019.
Livro
Organização da segurança pública 29
Por fim, incluímos nessa fiscalização externa das polícias, desem-
penhada pela população, a imprescindível atuação dos órgãos de 
imprensa, sendo de suma importância que tenhamos uma imprensa 
absolutamente livre para bem desempenhar suas funções. Os órgãos 
de imprensa não podem sofrer tipo algum de embaraço ou censura no 
desempenho de suas atribuições, pois uma imprensa livre é requisito 
básico para que haja uma sociedadelivre e democrática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este capítulo foi escrito levando em consideração a intenção de in-
centivar a criticidade, possibilitando a formação de opiniões. Para isso, 
deixamos claro que o sistema de segurança extrai seu arcabouço jurídico 
principalmente da Constituição Federal de 1988, apoiado em legislação 
infraconstitucional e em doutrinas.
É pertinente destacar que a segurança pública, conforme explicitado 
no texto, é responsabilidade e direito de todos, devendo ser proporciona-
da pelo Estado, por meio dos órgãos de segurança pública constitucional-
mente instituídos.
Conforme você teve oportunidade de verificar, para propiciar a com-
preensão da estrutura dos órgãos de segurança pública, foram aborda-
dos temas relacionados à teoria geral do Estado, à formação da República 
brasileira e à divisão de competências entre os entes federados. Estuda-
mos, ainda, os órgãos de segurança pública individualmente, demonstran-
do a competência legal de cada um e suas principais características. Por 
fim, observamos a necessária integração entre os órgãos de segurança 
pública e as formas de controlá-los.
REFERÊNCIAS
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Executivo, Brasília, DF, 31 dez. 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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Brasília, DF, 3 jul. 1969. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/
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Executivo, Brasília, DF, 4 out. 1983. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto/D88777.htm. Acesso em: 10 dez. 2019.
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30 Gestão de segurança pública
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Brasília, DF, 24 set. 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503.
htm. Acesso em: 10 dez. 2019.
BRASIL. Lei n. 13.022, de 8 de agosto de 2014. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, 
Brasília, DF, 11 ago. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l13022.htm. Acesso em: 10 dez. 2019.
BRASIL. Lei n. 13.675, de 11 de julho de 2018. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, 
Brasília, DF, 12 jul. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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WEBER, M. Economia e sociedade, fundamentos da sociologia compreensiva. v. 1. São Paulo: 
UnB, 2004.
GABARITO
1. A expressão Ordem e Progresso, grafada na bandeira nacional brasileira, tem origem na 
corrente filosófica denominada positivismo. Essa corrente procura explicar a sociedade 
pelo viés da observação empírica, ou seja, por meio da experiência, admitindo como 
critério de verdade as questões que podem ser verificadas pelo método científico, se 
distanciando do metafísico (aquilo que se explica por forças ocultas, que vão além do 
estado físico das coisas).
2. Polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis; 
polícias militares e corpos de bombeiros militares, conforme previsto no artigo 144 da 
Constituição Federal de 1988.
3. Conforme § 5º do artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), às polícias 
militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.
Gestão dos órgãos de segurança pública 31
Gestão dos órgãos de 
segurança pública
2
Este capítulo aborda a gestão dos órgãos responsáveis pela 
segurança pública, especialmente no que concerne a pessoal, às 
finanças e aos materiais.
Para a execução de suas missões constitucionais, as polícias 
estão condicionadas à existência e à qualidade de meios materiais 
e humanos, sendo que a insuficiência ou má qualidade destes têm 
influência direta na eficiência e efetividade de suas ações.
Quanto à gestão de pessoal, serão abordados temas 
relacionados às peculiaridades das carreiras policiais e às políticas 
motivacionais. A respeito da gestão financeira será tratada a 
administração de recursos públicos e das possibilidades de 
utilização de recursos privados. No que se refere aos materiais, 
este capítulo versará sobre a aquisição, o uso e a destinação de 
bens considerados de uso e acesso comum a qualquer pessoa, 
bem como os de uso restrito e que somente podem ser adquiridos 
pelo Estado para uso das forças de segurança.
Os temas serão tratados no intuito de fornecer a você uma fonte 
de consulta sucinta, com linguagem direta e simples, que leve à 
reflexão e fomente a formulação de opiniões e conclusões próprias.
2.1 Gestão de pessoal 
Videoaula À medida que a percepção de insegurança e o real incremento da 
criminalidade se acentuam, cresce também a preocupação com um 
tratamento justo dos escassos recursos disponíveis, especialmente 
quanto à administração de pessoal.
No conjunto de ideias comuns, para melhorar a prestação de servi-
ços, em geral, e de segurança pública, em particular, há necessidade de 
32 Gestão de segurança pública
se ampliar a quantidade de agentes, promovendo concursos públicos e 
a inclusão de novos integrantes para os órgãos responsáveis por essa 
intrincada missão.
Os concursos públicos para as carreiras da segurança pública 
atraem expressivo quantitativo de candidatos. No entanto, essa atra-
ção possui vários motivos, ligados à vocação, às influências familiares, 
à necessidade, dentre outros. Apesar desse evidente interesse, a fixa-
ção nas carreiras públicas e a adesão aos seus princípios norteadores 
não têm a mesma grandeza, pois as carreiras policiais envolvem di-
versas dificuldades, limitações e exigências.
É provável que o incrementodo efetivo em quantidade conside-
rável teria o potencial de reprimir fortemente a incidência de crimes, 
no entanto tal providência não parece viável, pois o erário encontra-
-se no limite do suportável. Deve-se, então, melhor gerir os recursos 
existentes, maximizando esforços e evitando desvios de finalidade no 
emprego dos atuais agentes públicos.
Melhorar a gestão de pessoal, diminuindo-se a pressão por mais 
contratações, exige um esforço intelectual e de inovação na adminis-
tração de recursos humanos, o que raramente é experimentado na 
administração pública brasileira.
No entanto, não podemos nos resignar com supostos obstáculos 
intransponíveis que atrapalhem a implementação de planejamentos 
na área de recursos humanos, pois há instrumentos capazes de 
melhorar a eficiência das corporações, viabilizando a otimização dos 
efetivos existentes. Temos que ir além, lutando contra influências 
políticas, partidárias e pessoais na administração do pessoal, no 
intuito de alcançar melhores resultados. A respeito da administração, 
Greene, Cordner e Bynum (2002, p. 67) afirmam que:
O planejamento dos recursos humanos visa a realizar os ob-
jetivos de recursos humanos da organização, mas, de modo 
mais amplo, espera-se que ele contribua para alcançar os ob-
jetivos gerais da organização. Um ponto de vista mais limitado 
é, grosso modo, comparado ao que algumas vezes é chamado 
de planejamento ou remanejamento de pessoal; tal atividade 
procura desenvolver planos que guiem a administração de pes-
soal para que vagas sejam preenchidas de maneira rápida, as 
pessoas sejam eficientemente utilizadas etc. Noutro viés mais 
efetivo: número de pessoas 
de um grupo, relacionado à 
função ou à formação.
Glossário
erário: designação dos 
recursos financeiros utilizados 
pelo poder público e obtidos por 
arrecadação de tributos.
Glossário
Gestão dos órgãos de segurança pública 33
geral, entretanto, o planejamento dos recursos humanos nos 
está envolvido intimamente com o planejamento organizacio-
nal e com a administração na busca pelos fins desejados.
Portanto, o planejamento de recursos humanos deve obedecer à 
finalidade pública, buscando alcançar os objetivos dos órgãos de se-
gurança pública, os quais são responsáveis por elaborar e executar 
o planejamento, remanejar pessoal e aplicar de maneira técnica os 
recursos disponíveis.
É amplamente conhecida e aceita a afirmação de que as polícias 
exercem funções de Estado, e não de Governo. Assim, para bem servir 
à população, os policiais necessitam de garantias legais que permitam 
o desempenho de suas missões sem o temor de represálias. Essas ga-
rantias incluem o provimento de cargo por meio de concurso público 
e a estabilidade no cargo público.
Convidamos você a realizar uma reflexão a respeito dessa estabi-
lidade. Imagine que os policiais não mais a tenham; será que todos 
terão a devida isenção para tomar providências em desfavor de pes-
soas de alto poder aquisitivo? A sua falta não provocaria o temor de 
que ao agir poderia estar colocando em risco seu cargo e o sustento 
de sua família? A população e a classe política possuem o devido pre-
paro cultural, ético e moral para absorver essas providências como 
devidas e necessárias, bem como para proteger esse policial de uma 
injusta demissão?
Não nos parece que a sociedade brasileira esteja pronta para de-
fender as autoridades policiais que atuem de maneira rigorosa, es-
pecialmente em desfavor de quem possuir grande influência política. 
É muito comum que os policiais, ao tomarem providências que de-
sagradem quem tenha muito poder aquisitivo ou contatos políticos, 
ouçam a expressão “sabe com quem está falando?”, como um claro 
recado de que haverá retaliação a seu ato.
O modelo atual – em que os policiais possuem uma estabilidade 
que os protege contra exonerações injustas – é imprescindível para 
permitir que atuem com energia e isenção, tomando suas decisões 
de maneira absolutamente imparcial, sem se sentirem pressionados 
a fazer ou deixar de fazer algo contrário ao seu dever, visto que a reti-
rada dessa estabilidade se afigura absolutamente temerária.
34 Gestão de segurança pública
2.1.1 Doutrina de gestão de policiais
Abordar o tema referente à doutrina de gestão de pessoas nas po-
lícias brasileiras não é uma tarefa simples. Atentamos para o fato de 
que estamos tratando de um país com dimensões continentais, com 
diversos órgãos policiais, federais e estaduais, os quais apresentam 
diferenças bastante substanciais entre si, mas que possuem diversos 
pontos de convergência.
Soma-se a essa pluralidade de órgãos policiais a multiplicidade de 
legislações e costumes regionais, chegando à noção da complexidade 
da atividade de segurança pública no Brasil, sobre a qual Goldstein 
(2003, p. 37) discorre:
A função da polícia é incrivelmente complexa. O alcance total das 
responsabilidades policiais é extraordinariamente amplo. Muitas 
de suas incumbências estão tão interligadas que parece impos-
sível separá-las. E os numerosos conflitos entre os diferentes as-
pectos da função não conseguem ser facilmente reconciliáveis. 
Qualquer um que tencione criar uma definição viável do papel da 
polícia normalmente irá se perder em fragmentos de velhas ima-
gens e em uma opinião, recém-descoberta, a respeito de quão 
intrincado é o trabalho policial.
Em linhas gerais, a doutrina para gestão dos integrantes de cada 
órgão responsável pela segurança pública apresenta semelhanças, em 
maior ou menor grau, no que concerne ao risco de vida envolvido no 
desempenho da missão, à disponibilidade permanente ao Estado e à 
necessidade de submissão a concurso público para ingresso.
Existem aspectos que são exclusivos das carreiras dos policiais mi-
litares e dos bombeiros militares, como a proibição de sindicalização e 
greve, a sujeição a preceitos rígidos de hierarquia e disciplina e à dis-
ponibilidade permanente e sem limitação de carga horária, além da 
vedação de participar de atividades político-partidárias.
Outro aspecto a ser considerado sobre a gestão das pessoas in-
cumbidas de prestar os serviços de segurança pública se refere ao 
fato de que o trabalho realizado para garanti-la guarda estreita rela-
ção com o trabalho de outros órgãos públicos, sendo afetado direta-
mente por ele e possuindo ainda grande dependência desses, como o 
Poder Judiciário, o Ministério Público, bem como os sistemas de edu-
Gestão dos órgãos de segurança pública 35
cação e saúde. A ineficiência, a carência ou a inexistência desses ser-
viços causa um aumento da sensação de insegurança, impactando, 
portanto, nos agentes responsáveis por ela.
É relevante demonstrar ainda que o trabalho policial despende signi-
ficativa parte de seu tempo tratando de assuntos não criminais, como o 
atendimento a chamados para socorros em assuntos pessoais, familia-
res e até para aconselhamentos, prevenção e socorros, além do auxílio 
a acidentes pessoais, cuidados com animais feridos ou perdidos, ajuda a 
pessoas sob efeitos de álcool ou entorpecentes, prevenção e repressão 
aos mais diversos distúrbios, acidentes de trânsito e buscas a pessoas 
desaparecidas. Todas essas situações não criminais integram a missão 
constitucional de preservação da ordem pública, que, se bem desempe-
nhada, refletirá na diminuição da incidência de ilícitos criminais.
O trabalho policial é amplamente conhecido por prevenir condu-
tas atentatórias à vida, à integridade física e ao patrimônio. No en-
tanto, menos populares são as funções ligadas ao auxílio a pessoas 
em risco, à garantia dos direitos constitucionais, à garantia do exercí-
cio dos poderes constituídos, às liberdades do cidadão, à facilitação 
da mobilidade e ao fomento do sentimento de segurança necessário 
para uma vida tranquila. Sendo assim, é possível perceber que lidar 
com a criminalidade é a face mais evidente, mas apenas uma parcela 
dos objetivos policiais.
Dessa forma, não há equívoco algum em afirmar que a polícia é o 
braço mais acessível e desburocratizadodo Estado, estando à dispo-
sição do cidadão sem qualquer formalidade, todos os momentos dos 
dias, bastando um aceno de mão para uma viatura que esteja patru-
lhando para se utilizar desse serviço público.
O trabalho policial é desempenhado, em regra, em ambiente de 
hostilidade e de desconfianças, sendo que vivemos em um mundo de 
armas brancas e de fogo, onde vizinhos e parentes se atacam, ou seja, 
de violência em todos os lugares. No entanto, mesmo com esse cená-
rio, o policial deve manter a calma nas situações mais alarmantes e 
estressantes, não podendo se envolver pessoalmente nas ocorrências.
Apesar da desejada isenção no trato com as situações, o policial 
não deve perder a sensibilidade. Ou seja, tem por obrigação agir com 
o menor envolvimento possível, mas, considerando que trabalha dire-
tamente com pessoas, é desejável também que exercite a empatia. 
Atividade 1
Além de tratar da prevenção e 
repressão a crimes, quais outros 
tipos de atividades são desem-
penhadas pelas polícias?
empatia: disposição do ser 
humano em se colocar no lugar 
do outro, refletindo sobre o que 
sentiria ao passar pela mesma 
situação.
Glossário
36 Gestão de segurança pública
Perceba que conciliar os dois sentimentos – isenção e empatia – exige 
grande preparo técnico e psicológico, bem como depende de condi-
ções pessoais.
Para que haja o preparo dos policiais é importante que ocorram 
investimentos em seleção, formação e treinamento. No intuito de 
colaborar com essa necessidade, foi apresentada, no ano de 2003, a 
primeira versão da Matriz curricular nacional para ações formativas dos 
profissionais da área de segurança pública. Atualmente está em vigência 
a matriz curricular editada no ano de 2014.
A atual matriz curricular (BRASIL, 2014, p. 40) apresenta como obje-
tivo geral:
favorecer a compreensão do exercício da atividade de segurança 
pública como prática da cidadania, da participação profissional, 
social e política num Estado Democrático de Direito, estimulan-
do a adoção de atitudes de justiça, cooperação, respeito à Lei, 
promoção humana e repúdio a qualquer forma de intolerância.
A matriz curricular nacional para as ações formativas dos profissio-
nais da área de segurança pública abrange competências cognitivas, 
operativas e atitudinais (BRASIL, 2014).
Competências cognitivas: são competências que requerem o 
desenvolvimento do pensamento por meio da investigação e da 
organização do conhecimento. Elas habilitam o indivíduo a pen-
sar de forma crítica e criativa, posicionar-se, comunicar-se e estar 
consciente de suas ações.
Competências operativas: são as competências que preveem a 
aplicação do conhecimento teórico em prática responsável, re-
fletida e consciente.
Competências atitudinais: são competências que visam estimu-
lar a percepção da realidade, por meio do conhecimento e do 
desenvolvimento das potencialidades individuais; a conscientiza-
ção de sua pessoa e da interação com o grupo; a capacidade de 
conviver em diferentes ambientes: familiar, profissional e social.
Para atender às necessidades da correta aplicação de policiais, os 
administradores públicos devem ter conhecimento de suas necessida-
des, peculiaridades e das capacidades exigidas em cada carreira, sen-
do que uma gestão doutrinariamente bem embasada possui maiores 
chances de produzir os resultados esperados.
Para obter informações 
mais detalhadas a res-
peito da Matriz curricular 
nacional para ações for-
mativas dos profissionais 
da área de segurança 
pública, recomendamos a 
leitura do arquivo oficial.
BRASIL. Brasília: Secretaria Nacional 
de Segurança Pública, 2014. 
Disponível em: https://www.justica.
gov.br/central-de-conteudo/segu-
ranca-publica/livros/matriz-curri-
cular-nacional_versao-final_2014.
pdf. Acesso em: 2 dez. 2020.
Leitura
Gestão dos órgãos de segurança pública 37
2.1.2 Políticas motivacionais
Ao estudar a gestão de pessoas, em particular os agentes públicos 
responsáveis pela segurança pública no Brasil, temos que levar em con-
sideração que a administração pública existe, sobretudo, para servir e 
resolver os problemas da população e que seus agentes devem empre-
gar todos os esforços para atingir esse objetivo, ou seja, existem para 
resolver questões da administração pública, não problemas próprios. 
No entanto, administrar tendo em vista a supremacia do interesse pú-
blico não significa ignorar que esses agentes também fazem parte da 
população e que, para bem prestar o serviço público, devem ser bem 
selecionados e formados, devendo ainda estar motivados e em boas 
condições de saúde física e mental.
É certo que o Estado não pode consumir todos os seus recursos 
apenas com a finalidade de atender aos anseios de seus agentes, no 
entanto ele tem por obrigação manter esses agentes sãos e motivados 
para bem prestar os serviços.
Essa necessidade de motivação se aplica com maior intensidade 
no que concerne aos policiais, pois desempenham suas atividades, em 
regra, em ambientes com conflitos e desgastantes, física e psicologi-
camente. Suas atitudes, apesar de decididas em fração de segundos, 
possuem forte influência na vida de diversas pessoas, sendo que um 
equívoco na tomada de decisão ou na execução pode levar a grandes 
prejuízos e até perdas de vidas.
Procure refletir a respeito dessa motivação. Como os administrado-
res públicos podem atuar para motivar os agentes? Pense sobre o que 
o motiva, sobre o que o faz levantar todas as manhãs e se dirigir para o 
local de serviço. Seriam os desafios diários? A satisfação de salvar uma 
vida? A obtenção de respeito e amizade dos colegas e da comunidade? 
A remuneração? Um plano de carreira?
Quando tratamos de motivação, precisamos levar em considera-
ção que todos os serem humanos possuem necessidades e que seus 
comportamentos motivacionais são influenciados por elas, já que suas 
ações são o resultado de estímulos e frustrações que os levam a agir 
ou a se desestimular.
A respeito de motivação, citamos a amplamente difundida teoria 
das necessidades de Maslow 1 (KINPARA, 2000), a qual é representada 
Teoria desenvolvida pelo 
psicólogo norte-americano 
Abraham H. Maslow, entre os 
anos 1940 e 1950.
1
38 Gestão de segurança pública
pela pirâmide motivacional baseada em uma hierarquia de necessida-
des dividida em cinco níveis. No primeiro estão as necessidades fisioló-
gicas (habitação, alimentação); acima, no nível dois, estão as 
necessidades de segurança (proteção contra ameaças ambientais); de-
pois, as necessidades sociais e afetivas (amizade, filiação a grupos); 
seguidas, no nível quatro, pelas necessidades de estima (dos outros 
e de si mesmo); e, por último, estando as necessidades de 
 autorrealização (obter o máximo de suas aptidões).
Como você pode perceber nessa hierarquia, as necessidades 
fisiológicas e de segurança estão localizadas na base da 
pirâmide, sendo os níveis mais essenciais e imprescindíveis 
para a existência da sociedade. Pela teoria de Maslow, 
quando atendidas as necessidades mais básicas, 
podemos pensar em buscar as demais como forma 
de motivação. Se não estiverem sendo atendidas, 
no entanto, estímulos referentes aos níveis mais 
altos terão pouco ou nenhum efeito.
Assim, supondo-se que as necessidades mais 
básicas já estejam minimamente supridas, retornamos à questão: o 
que o motiva?
Para colaborar com nossa reflexão, Torres (1996, p. 68) afirma que:
A motivação é um conceito que nos ajuda a compreender os ges-
tos dos que nos rodeiam. Dada a sua importância, todo o campo 
de análise sobre o comportamento organizacional está cheio de 
teorias que visam a explicar o que motiva os seres humanos, 
para compreendermos como suas necessidades e seus desejos 
os conduzem a agir desta ou daquela forma. O grande interesse 
da questão reside evidentemente na hipótese de que, se com-
preendemos o que leva as pessoas a agir, nós podemos influir 
sobre seu rendimento.
Parece-nos bastante evidente que a principal motivação seria uma 
remuneração apropriada. Pois,

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