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Código Logístico 59154 Neste livro, é abordada a gestão da segurança pública, um tema de grande relevância para qualquer sociedade. Trata-se de uma das maiores preocupações populares, pois afeta as pessoas de maneira intensa e direta, interferindo em todos os momentos de suas vidas. A obra preenche uma lacuna identificada no mercado editorial nacional, no qual há poucos títulos que se dediquem à gestão da segurança pública, configurando-se em uma ferramenta importante de consulta para estudantes, profissionais e pesquisadores. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6579-0 9 788538 765790 Gestão de segurança pública Alex Erno Breunig IESDE BRASIL 2020 © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Dmitry Kalinovsky/Louis.Roth/CP DC Press /Joa Souza/Shutterstock Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ B854g Breunig, Alex Erno Gestão de segurança pública / Alex Erno Breunig. - 1. ed. - Curitiba [PR] : Iesde, 2020. 104 p. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6579-0 1. Segurança pública - Brasil. 2. Administração pública - Brasil. I. Título. 19-61858 CDD: 363.20981 CDU: 351.741(81) Alex Erno Breunig Especialista em Informações e em Polícia Judiciária Militar pela Academia Policial Militar do Guatupê (APMG), em Planejamento e Controle de Segurança Pública pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Direito Penal pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi) e em Segurança Pública pela Faculdade São Braz. Bacharel em Segurança Pública pela APMG e bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Oficial da Polícia Militar do Paraná, atualmente no posto de Tenente-Coronel. Na corporação, atuou em diversas áreas operacionais e administrativas, bem como ministrou aulas para cursos de formação, especialização e aperfeiçoamento. Atuou na gestão da segurança pública em Curitiba e no planejamento e comando do policiamento externo dos jogos da Copa do Mundo FIFA 2014. Atualmente, é chefe da Primeira Seção do Estado-Maior da Polícia Militar do Paraná. SUMÁRIO 1 Organização da segurança pública 9 1.1 Estado e governo 9 1.2 Organização da segurança pública 13 1.3 Integração da segurança pública 26 2 Gestão dos órgãos de segurança pública 31 2.1 Gestão de pessoal 31 2.2 Gestão financeira 41 2.3 Gestão de materiais 44 3 Tecnologia e inovações 50 3.1 Soluções tecnológicas 50 3.2 Estatísticas e georreferenciamento 58 3.3 Videomonitoramento e tornozeleira eletrônica 60 4 Políticas de segurança pública 67 4.1 Políticas institucionais 67 4.2 Experiências e inovações 77 4.3 Direitos humanos e defesa civil 84 5 Desafios da segurança pública 90 5.1 Aspectos culturais que influenciam na segurança pública 90 5.2 Inovações operacionais e gestão de delitos recorrentes 94 5.3 Criminalidade e violência na sociedade brasileira 100 Para que haja uma boa convivência em sociedade precisam ser providos meios básicos de vida, como educação, saúde, habitação e segurança para toda a população. Neste livro, é abordada a gestão da segurança pública, um tema de grande relevância para qualquer sociedade. Trata-se de uma das maiores preocupações populares, pois afeta as pessoas de maneira intensa e direta, interferindo em todos os momentos de suas vidas. Nesta obra, dividida em cinco capítulos, são trabalhados os temas de maior importância e que afetam mais diretamente a prestação desse serviço público. Dessa forma, é feita uma abordagem a respeito da segurança pública, com ênfase na organização política e administrativa dos órgãos governamentais. É tratada, também, a gestão dos órgãos de segurança pública, abordando- se aspectos relacionados a pessoal, finanças e materiais e, posteriormente, a utilização de ferramentas de tecnologia e inovação, demonstrando suas vantagens para o serviço policial. Na sequência, são abordados temas referentes às políticas e aos planos de segurança pública, direitos humanos e defesa civil, finalizando-se com estudos sobre os desafios da segurança pública, que envolvem aspectos culturais, de inovações operacionais e de compreensão dos fenômenos da criminalidade e da violência. Os assuntos são abordados de maneira direta, concisa e dialética, com o objetivo de provocar no leitor a reflexão a respeito deles e a formulação de suas próprias conclusões, utilizando-se de conhecimentos de diversas áreas, como sociologia, filosofia, direito e administração. A obra preenche uma lacuna identificada no mercado editorial nacional, no qual há poucos títulos que se dediquem à gestão da segurança pública, configurando-se em uma ferramenta importante de consulta para estudantes, profissionais e pesquisadores, que podem adquirir conhecimentos ou ampliar os que já têm. Espera-se que seja uma contribuição na busca da melhoria das condições de segurança e de vida para a nação brasileira. Boa leitura! APRESENTAÇÃO Organização da segurança pública 9 Organização da segurança pública A segurança pública é um dos principais anseios de qualquer comunidade. Diferente do que muitos pensam, propiciar adequadas condições de segurança pública não é uma tarefa exclusiva do poder público ou dos Estados da Federação, sendo, na verdade, a somatória de obrigações estatais com a responsabilidade de todos. No intuito de preencher uma lacuna identificada na literatura pátria, que em poucas oportunidades se dedica a estudos sobre a organização da segurança pública, é que apresentamos este capítulo, procurando propiciar a você, leitor, operador da segurança pública ou estudante, uma fonte de consulta sucinta, direta, dialógica e simples, que lhe permita conhecer a estrutura estatal, refletir a respeito do tema e formular suas conclusões, podendo, então, colaborar para a solução dos problemas relacionados a essa tão estratégica e importante área da administração pública. Temos a sincera expectativa de que, ao final deste estudo, você estará apto a refletir acerca da organização da segurança pública e a aprofundar seus conhecimentos. 1.1 Estado e governo Videoaula O termo Estado, como ente político com personalidade jurídica pró- pria, teria sido utilizado pela primeira vez na célebre obra O Príncipe, do italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527). Nessa obra, o termo é empre- gado em referência às comunidades formadas pelas cidades-Estado. No entanto, segundo Carvalho Filho (2014), o Estado, como forma de organização da sociedade, precede a criação do termo, existindo des- de, no mínimo, o momento em que a sociedade sentiu necessidade de se organizar. 1 10 Gestão de segurança pública Pela ótica da teoria geral do Estado, que é a ciência que se dedi- ca a investigar e a explicar os princípios fundamentais, as origens, a evolução, a estrutura, as formas e a finalidade do ente personalizado denominado Estado, ele pode ser entendido, nos aspectos sociológi- co, político e jurídico, como a organização política e jurídica que tem o intuito de buscar o bem de uma sociedade, possuindo uma adminis- tração própria (governo) e um território determinado, com capacidade jurídica para adquirir obrigações e obter direitos. O governo é um dos elementos que constituem o Estado, juntamen- te com a população e o território. Há ainda autores que entendem que a soberania seria também necessária. Conforme Meirelles (2010, p. 61): o Estado é constituído de três elementos originários e indissociá- veis: Povo, Território e Governo Soberano. Povo é o componente humano do Estado; Território, a sua base física; Governo sobera- no, o elemento condutordo Estado, que detém e exerce o poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado do Povo. Não há nem pode haver Estado independente sem Sobe- rania, isto é, sem esse poder absoluto, indivisível e incontrastável de organizar-se e de conduzir-se segundo a vontade livre de seu Povo e de fazer cumprir as suas decisões inclusive pela força, se necessário. A vontade estatal apresenta-se e se manifesta atra- vés dos denominados Poderes de Estado. Observando o conceito acima, é possível identificar, no Brasil, os ele- mentos constitutivos de um Estado, pois possuímos o povo, o território e o governo soberano. Aqui, consideramos importante atentar para o fato de que o termo estado não está se referindo às unidades da Federação brasileira, dividida em Estados-membros que não possuem soberania. Como forma de governo, o Brasil adotou a República, caracterizada pela soberania da vontade do povo, que escolhe seus representantes por meio do voto para exercerem mandato por tempo determinado. Como sistema de governo, adotamos o presidencialismo, que se ca- racteriza pela concentração das funções de chefe de Estado e chefe de Governo na figura do presidente da República. Essas distinções iniciais são importantes para deixar claro que a se- gurança pública deve ser uma política de Estado, não de um governo, sendo que os órgãos públicos incumbidos dessa crucial função não podem se subjugar a políticas de governo que se curvem a interesses escusos e prejudiquem a sociedade, divergindo da política de Estado. Organização da segurança pública 11 Quanto à sua formação, o Brasil é uma “federação centrífuga”. Isso significa que há uma concentração de poderes e de receitas na União, a qual se encarrega de distribuí-las. Essa característica de nossa Federa- ção faz com que a União possua forte influência sobre os Estados-mem- bros, tendo potencial restrição de suas autonomias, influenciando, também, nas políticas e na segurança pública, conforme explicaremos mais amiúde em tópicos adiante. Procure prestar atenção em notícias e matérias de jornal, pesquise na internet e discuta com seus conhecidos a respeito da forma como o dinheiro público é administrado e distribuído entre os estados e mu- nicípios; possivelmente, você irá perceber que isso tem fortes relações com nossa forma de governo e com a formação de nossa Federação. A segurança pública foi estabelecida ao status de direito fundamen- tal e social, sendo uma das funções típicas do Estado, conforme inscrito nos caputs dos artigos 5º e 6º da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Considerando que o artigo 5º está no rol de cláusulas pétreas 1 Cláusulas pétreas são dispositivos de nossa Constituição Federal que não podem ser alterados ou suprimidos, nem mesmo por meio de Emenda Constitucional, sendo que a identificação dos dispositivos constitucionais considerados pétreos é feita pela análise do § 4º do artigo 60 da Constituição Federal de 1988. 1 consti- tucionais, na vigente ordem constitucional, a segurança pública sempre será um direito fundamental dos brasileiros. Para exercer as funções que possui, o Estado brasileiro precisa de uma vasta rede de agentes públicos, distribuídos em diversos níveis de planejamento, assessoramento e execução. Essa rede de agentes, no entanto, ganhou dimensões além do recomendado, devido a diversos fatores históricos, políticos e sociais; além desse crescimento na quan- tidade de agentes, a administração pública brasileira, nos níveis fede- ral, estadual e municipal, tornou-se excessivamente morosa e custosa, tornando-se um verdadeiro “Leviatã anabolizado 2 ”, em que, mesmo para a obtenção de direitos básicos, há a necessidade de interminá- veis requerimentos, despachos, indeferimentos, certidões, atestados, alvarás e recursos. Ou seja, um verdadeiro tormento para os cidadãos. A consciência de que o Estado brasileiro é demasiadamente moroso e burocrático possui grande importância para a compreensão das prá- ticas de gestão da segurança pública, especialmente no que se refere à administração financeira e de pessoal. Isso possibilita o entendimento dos fatores que influenciam na tomada de decisões, as quais são con- dicionadas pelos meios disponíveis. É relevante ressaltar que, para o alcance da função estatal de pro- ver segurança pública, há a necessidade de se estabelecer que os Leviatã – referência ao monstro bíblico que seria uma criatura extremamente poderosa e das mais temíveis já descritas – é o título da obra publicada em 1651, em que o pensador inglês Thomas Hobbes teorizou o contrato social. O nome da obra é uma metáfora a um pacto social proposto pelo autor, pelo qual um poder soberano organizaria a sociedade a fim de limitar os anseios individuais de competitividade, desconfiança e busca de glória, evitando, assim, a violência, mas abdicando da liberdade em nome da ordem social (COELHO, 2016). Saiba mais+ “Leviatã anabolizado” é uma metáfora criada para chamar a atenção sobre o excessivo tamanho da administração pública brasileira, que não raras vezes é inchada por motivos desnecessários. 2 12 Gestão de segurança pública interesses coletivos terão prioridade sobre os particulares. Assim, não se pode dissociar a atuação do Estado para a garantia da segurança da população do poder que ele possui de determinar as normas e, se necessário, utilizar de coerção para fazer valer suas ordens, que obrigatoriamente devem visar ao bem comum, mesmo que em detri- mento de determinados interesses particulares. Portanto, no intuito de efetivamente atender aos interesses co- muns, o primado da indisponibilidade do interesse público deve ser in- terpretado como instrumento para a proteção dos direitos do cidadão, que são os legítimos destinatários das normas, sem se esquecer da supremacia do interesse público sobre os particulares, visto que, con- forme afirma Loubet (2009, p. 59), “não se pode conceber que o Estado unilateralmente tome decisões sob o manto de proteção coletiva, pas- sando ao largo de princípios como os da dignidade humana, cidadania, proteção ao trabalho, dentre tantos outros”. Outro conceito jurídico que necessariamente deve ser estudado para que se possa compreender a gestão da segurança pública é o de Estado Democrático de Direito, que se traduz na prevalência dos direitos do povo, mesmo que sobre o Estado e as leis, que nada significam se não garantirem os direitos humanos e constitucionais. Segundo Braz (2018, p. 159), “o principal problema do Estado se re- fere à conciliação da liberdade e da autoridade. A prevalência da liber- dade sobre a autoridade poderá conduzir à anarquia. Já se a autoridade prevalecer sobre a liberdade, tenderemos ao totalitarismo”. Assim, o equilíbrio entre liberdade e autoridade refletiria o ideal de Estado De- mocrático, sendo que, para o atingimento desse ideal, é imprescindível existirem instituições garantidoras dos direitos dos cidadãos e da au- toridade pública. Destacamos, por fim, uma corrente filosófica que teve forte influên- cia na formação da República brasileira e que ainda se presta a au- xiliar na compreensão de nossa estrutura administrativa e, portanto, na compreensão da gestão da segurança pública. Estamos falando do positivismo, que “procura explicar a sociedade pelo viés da observação empírica, ou seja, por meio da experiência, admitindo como critério de verdade as questões que podem ser verificadas pelo método científico, se distanciando do metafísico (aquilo que se explica por forças ocultas)” (BREUNIG; SOUZA, 2018, p. 30). O positivismo procura explicar a sociedade pelo viés da observação empírica, ou seja, por meio da experiência, admitindo como critério de verdade as questões que podem ser verificadas pelo método científico, se distanciando do metafísico (aquilo que se explica por forças ocultas, que vão além do estado físico das coisas). O nome de maior notoriedade dentro dessa corrente filosófica é o de Auguste Comte (1798-1857),filósofo e sociólogo francês. A base de seu pensamento se forma com fundamento na lei dos três estados (que didaticamente poderia ser definida como lei dos três “estágios”): o teológico, o metafísico e o positivo (BREUNIG; SOUZA, 2018). Saiba mais+ Organização da segurança pública 13 Você já deve ter se questionado sobre a origem da expressão Ordem e Progresso, grafada em nossa bandeira nacional. Esse é um pressupos- to positivista pelo qual, por meio da ordem, chegar-se-á ao progresso. http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/view/67468 PAUL, W. Ordem e progresso: origem e significado dos símbolos da Bandeira Nacional Brasileira. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 95, p. 251-270, jan. 2000. Acesso em: 4 dez. 2019. A expressão Ordem e Progresso contida em nossa bandeira nacional tem ori- gem em um pressuposto positivista. A esse respeito, recomendamos a leitura do artigo de Wolf Paul. Artigo Segundo o texto, a expressão grafada em nossa bandeira nacional tem origem em qual corrente filosófica? Como essa corrente procura explicar a sociedade? Atividade 1 3 “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das contro- vérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL” (BRASIL, 1988). 1.2 Organização da segurança pública Videoaula Inicialmente, chamamos a atenção para o preâm- bulo da Constituição Federal 3 , que elevou a segurança pública, assim como a liberdade, o bem-estar, o desen- volvimento e a igualdade, à condição de valor supremo da sociedade brasileira. Assim, Estado e sociedade de- vem se irmanar para atingir esses ideais e, para isso, os governos devem desenvolver políticas públicas, execu- tadas por agentes públicos. É importante esclarecer que as pessoas físicas in- cumbidas de funções públicas, de maneira transitó- ria ou efetiva, são denominadas de agentes públicos, os quais são subdivididos em categorias de acordo com as funções desempenhadas, as prerrogativas e as responsabilidades estabelecidas constitucional- mente e em leis próprias. Dentre as categorias de agentes conhecidos como administrativos encontram-se os militares estaduais e os servidores públicos policiais. Portanto, é incorreto, constitucionalmente falando, dizer que os policiais militares e bombeiros militares são servidores públi- cos, pois, na verdade, são militares estaduais. 14 Gestão de segurança pública Essa distinção, que parece de menor importância ou apenas uma questão de semântica, na verdade possui grande relevância, especial- mente em relação à análise de funções, restrições de direitos, prerro- gativas e direitos de cada categoria. Alertamos para o fato de que os estudos que tendem a compreen- der o tema segurança pública são interdisciplinares, ou seja, se utili- zam de conhecimentos de diversas áreas do saber para compreender as questões em estudo, levando-se a diversas interpretações possíveis para o mesmo fato, para os mesmos problemas e a respeito das pos- síveis soluções. De acordo com Leis (2005, p. 9), “a interdisciplinaridade pode ser definida como um ponto de cruzamento entre atividades (disciplinares e interdisciplinares) com lógicas diferentes”. Assim, os estudos inter- disciplinares devem levar em consideração as mais diversas visões a respeito do mesmo fato, para o que deve, no caso específico da gestão da segurança pública, levar em consideração conhecimentos atinentes à filosofia, à sociologia, à administração, ao direito, dentre outros. 1.2.1 Órgãos responsáveis pela segurança pública Tradicionalmente, a doutrina pátria distingue as atribuições dos ór- gãos responsáveis pela segurança pública pelo exercício do chamado poder de polícia, resultado da obrigação de o Estado interferir, quando necessário, na esfera de interesses do particular, a fim de salvaguardar os interesses públicos, fazendo uso de seus poderes legalmente cons- tituídos para restringir direitos individuais. Carvalho Filho (2014, p. 76) conceitua poder de polícia como “a prer- rogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em fa- vor do interesse da coletividade”. É importante ressaltar que o poder de polícia não é exclusivo dos órgãos policiais, sendo exercido por todo e qualquer agente público que esteja investido legalmente desse poder. Outro conceito importante para o nosso estudo é o de poder da polí- cia, que é dependente e de menor envergadura em relação ao poder de polícia. Conforme Cretella Júnior apud Lazzarini et al. (1987, p. 21), “poder da polícia é a possibilidade atuante da polícia, é a polícia quando age. Numa expressão maior, que abrigasse as designações que estamos es- Organização da segurança pública 15 clarecendo, diríamos: em virtude do poder de polícia o poder da polícia é empregado pela polícia a fim de assegurar o bem-estar público ameaça- do”. Assim, os órgãos de segurança pública, quando atuam na prática e no caso em concreto, por exemplo restringindo direitos, o fazem no uso do poder da polícia, que tem por objetivo a garantia da supremacia do interesse público, sendo, portanto, a própria ação policial. Para compreender a estrutura e a administração da segurança pú- blica, é importante ainda que se tenha noção acerca das conceituações possíveis de crime. Ao ser questionada a respeito do conceito de crime, a maioria das pessoas, em especial os profissionais de segurança pública, possivelmente responderia se tratar de uma ação típica, antijurídica e culpável, ou algo bem próximo disso. Essa perspectiva técnico-jurídica, apesar de juridicamente correta, não abarca características sociológicas ligadas ao tema, tratando o fenômeno criminal de maneira isolada. A visão jurídica possui importância preponderante para alguns ope- radores da segurança pública, como promotores de justiça, juízes, ad- vogados criminalistas e carcereiros. No entanto, para os responsáveis pelo policiamento ostensivo e preservação da ordem pública, afigura- -se insuficiente, pois, além de prevenir e reprimir condutas delituosas, esses possuem atribuições de mediação de conflitos e prevenção de condutas não criminais, mas que possuem potencial para evoluir para o cometimento de ilícitos. Essa visão multidisciplinar é necessária também para o poder polí- tico, que deve ter sensibilidade para tratar a problemática envolvendo a segurança pública não apenas como um problema de polícia, mas como uma questão social, cultural e educacional. Considera-se claro que a melhoria das condições de segurança pública não pode iniciar nem findar apenas no incremento das forças policiais – seja em termos de pessoal, tecnologia, treinamento ou apa- relhamento –, as quais estão no meio da corrente que fixa as bases de uma boa convivência em sociedade, pois a criminalidade não é apenas um “problema de polícia”, antes disso, é um fato social. Para atingir o objetivo de propiciar boas condições de segurança públi- ca, primeiramente há de ser melhorado todo o aparelhamento do Estado, visando propiciar condições dignas de educação, saúde, lazer, moradia, trabalho e demais bens mínimos necessários à vida em sociedade, mas não nos deteremos nessas questões, por não ser o escopo do estudo. 16 Gestão de segurança pública Em relação às políticas de segurança pública, nos parece que todos os elos da corrente carecem de melhorias – entre eles: polícias, Poder Judiciário, sistema prisional e estabelecimentos de internamento de menores infratores –,reiterando haver a necessidade de melhora nas condições sociais da população para que os investimentos no aparelho de segurança pública tenham os desejados efeitos. Convidamos o leitor a refletir sobre as raízes mais profundas da criminalidade, alastradas em nosso país. Não poderiam residir elas, também, na falta de valores e de autoridade? Não estamos falando de uma autoridade formal ou legalmente imposta, mas sim de autoridade moral. Reflita sobre a necessidade de que os pais tenham autoridade sobre os filhos ou os professores sobre os alunos. Sem o acatamen- to a essas autoridades, será que o incremento de investimentos em sistemas de repressão criminal não teriam efeitos apenas paliativos, pois estariam atuando apenas nos efeitos, sem atacar as causas dos problemas? As perspectivas – jurídica e sociológica – a respeito dos fenômenos criminais possuem diversos pontos de convergência, prestando-se mu- tuamente de alicerce e apoio. Assim, a organização da segurança públi- ca, para bem prover a sociedade desse bem tão caro e necessário, deve utilizar ambas as conceituações, podendo, então, encontrar métodos e processos adequados a cada necessidade. Para compreender a estrutura, a organização e a gestão da seguran- ça pública, deve-se ter em mente que o Estado possui o monopólio do uso da força, utilizando-a por meio das polícias. No uso desse monopólio, o Estado pode e, em determinadas con- dições, deve utilizar inclusive de força letal, no escopo de proteger os cidadãos e seus próprios agentes. O uso dessa força possui amparo legal, conforme disposições do Código Penal (BRASIL, 1940), quando trata da legítima defesa. Esse monopólio do uso da força foi estudado por Max Weber, como o fundamento de consolidação do Estado, permitindo fazer com que os desígnios politicamente decididos sejam cumpridos, pois “poder signifi- ca toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabi- lidade” (WEBER, 2004, p. 33). Organização da segurança pública 17 Feitas as considerações introdutórias, entendemos que você estará apto a compreender a estrutura constitucional da segurança pública, a qual possui arcabouço principal inscrito no artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), que relaciona os órgãos policiais incumbidos da segurança pública, conforme o seguinte: Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e respon- sabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pú- blica e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I – polícia federal; II – polícia rodoviária federal; III – polícia ferroviária federal; IV – polícias civis; V – polícias militares e corpos de bombeiros militares; VI – polícias penais federal, estadual e distrital. Esse artigo estabelece que a segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos, ou seja, há uma divisão da res- ponsabilidade pela segurança pública entre o poder público e todos os cidadãos, considerados individual ou coletivamente. Entendemos que sem essa responsabilização difusa não haveria formas de desempe- nhar essa exigência. Devemos atentar para o fato de que o termo Estado não se refere ao ente federativo Estado (por exemplo, São Paulo, Paraná, Rondônia), mas a todos os entes federados: União, Estados, Distrito Federal e Municípios. Das expressões constantes desse dispositivo constitucional, consi- deramos relevante esmiuçar ordem pública, que pode ser definida, de acordo com o Decreto n. 88.777, de 30 de setembro de 1983 (BRASIL, 1983), como: Conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado pelo poder de polícia, e consti- tuindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum. Os parágrafos do artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988) estabelecem as competências legais de cada um desses órgãos poli- ciais, sobre os quais passamos a discorrer a seguir. Quais são os órgãos do sistema de segurança pública e em qual legislação estão previstos? Atividade 2 18 Gestão de segurança pública 1.2.1.1 Polícia Federal Conforme determina o parágrafo 1° do artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), esse órgão pertencente à estrutura do Poder Executivo Federal destina-se a: I – apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou inter- nacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II – prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro- gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III – exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV – exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. Como se depreende dos incisos transcritos, à Polícia Federal com- pete apurar uma ampla gama de infrações, além de prevenir e reprimir diversas outras. Possui competência, ainda, para exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras. Por fim, lhe compete exercer as funções de polícia judiciária da União. Compete à Polícia Fe- deral, portanto, cuidar especialmente do combate à criminalidade que tenha repercussão nacional ou em mais de um estado da Federação. Chamamos a atenção para a destinação de funções de polícia judiciária da União. A respeito dessa função, Oliveira (2014, p. 29) afirma que “as atividades de apoio ao Poder Judiciário e Ministério Público são aquelas que preferimos qualificar, com perdão da po- lêmica, em funções de polícia judiciária”. Assim, o desempenho de funções de polícia judiciária da União concerne no apoio prestado pela Polícia Federal, como força policial, para o desenvolvimento do processo penal que esteja a cargo da Justiça Federal, por exem- plo, para a custódia de presos em flagrante, escolta de presos e conduções coercitivas. Embora a Polícia Federal exerça funções de polícia judiciária, é absolutamente inadequado designá-la como tal. Organização da segurança pública 19 1.2.1.2 Polícia Rodoviária Federal Conforme determina o parágrafo 2° do artigo 144 da Constituição Federal: “A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais” (BRASIL, 1988). A Polícia Rodoviária Federal é responsável pelo patrulhamento de aproximadamente 65 mil quilômetros de rodovias federais por todo o Brasil, sendo que suas competências estão relacionadas no artigo 20 do Código de Trânsito Brasileiro (BRASIL, 1997), das quais transcreve- mos os dispositivos que consideramos de maior importância para nos- so estudo: Art. 20. Compete à Polícia Rodoviária Federal, no âmbito das ro- dovias e estradas federais: [...] II – realizar o patrulhamento ostensivo, executando operações relacionadas com a segurança pública, com o objetivo de preser- var a ordem, incolumidade das pessoas, o patrimônio da União e o de terceiros; [...] IV – efetuar levantamento dos locais de acidentes de trânsito e dos serviços de atendimento, socorro e salvamento de vítimas; [...] VII – coletar dados estatísticos e elaborar estudos sobre aci- dentes de trânsito e suas causas, adotando ou indicando me- didas operacionais preventivas e encaminhando-os ao órgão rodoviário federal; VIII – implementar as medidas da Política Nacional de Segurança e Educação de Trânsito. Dentro de sua atuação constitucional de patrulhamento das rodo- vias federais, a Polícia Rodoviária Federal é peça fundamental do siste- ma de segurança pública brasileiro, exercendo papel imprescindível naprevenção criminal, quando, por exemplo, combate o narcotráfico, o tráfico de armas, o contrabando e o descaminho. Os levantamentos de locais de acidentes de trânsito e a coleta de da- dos estatísticos são cruciais para a prevenção de acidentes nas rodovias, colaborando com a diminuição de feridos e mortos nas rodovias federais. 20 Gestão de segurança pública 1.2.1.3 Polícia Ferroviária Federal É o órgão integrante do sistema nacional de segurança pública que atualmente possui o menor contingente, sendo o menos conhecido pelo público. Por disposição constitucional, conforme parágrafo 3° do artigo 144 da Constituição Federal: “A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em car- reira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das fer- rovias federais” (BRASIL, 1988). Apesar de possuir efetivo bastante reduzido, esse órgão possui atri- buições de grande importância, com destinação similar às da Polícia Rodoviária Federal, sendo responsável pelo patrulhamento em aproxi- madamente 26 mil quilômetros de ferrovias federais. Esse órgão policial não possui nenhuma lei específica que regula- mente a sua criação, sendo esse o motivo de um veto presidencial ao texto da Lei n. 13.675 (BRASIL, 2018), que pretendia incluir o órgão no Sistema Único de Segurança Pública. Ou seja, a despeito de sua importante atribuição constitucional, não há, na prática, estrutura legal, logística e de efetivo que permita a execução de suas missões, que acabam por ser supridas por outros órgãos policiais, em especial pelas Polícias Militares, como uma ativi- dade residual. 1.2.1.4 Polícia Civil Esse órgão do sistema nacional de segurança pública, que é inte- grante do Poder Executivo dos Estados, tem por incumbência principal a imprescindível atividade de investigação criminal, bem como pres- tar apoio ao Poder Judiciário e ao Ministério Público, recebendo trata- mento constitucional conforme presente no parágrafo 4° do artigo 144 da Constituição Federal: “Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares” (BRASIL, 1988). As funções de polícia judiciária, assim como atribuídas à Polícia Federal, consistem no suporte ao Poder Judiciário e ao Ministério Público Estaduais, em atividades das mais diversas. Organização da segurança pública 21 Outra observação que entendemos pertinente é que as carreiras das polícias civis não podem ser consideradas como carreira jurídica, ainda que sejam uma atividade eminentemente de operador do direi- to, que são institutos diferentes. Esse é o entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 5.520, realizado dia 6 de setembro de 2019. No que se refere à atividade de apuração de infrações penais, exce- to as infrações penais militares, entendemos ser de suma importância para a segurança pública, seja para a responsabilização de quem hou- ver cometido alguma infração penal, seja para a prevenção criminal. Ou seja, a incumbência de investigar é relevante para o sistema de segu- rança pública. Entendemos que uma proficiente e proveitosa apuração criminal possui efeitos diretos, preventivos e pedagógicos. Os efeitos diretos são a devida identificação e responsabilização de infratores, possibilitando que o sistema judiciário realize seu trabalho e leve-os ao sistema penitenciário. Os efeitos preventivos se referem ao forte fator de desmotivação que a elucidação de uma infração produz sobre quem tenha intenções criminosas. Apurações criminais de qualidade demonstram que o desrespeito ao ordenamento jurídico não é compensatório, pois a probabilidade de responsabilização se torna alta, possuindo, assim, efeito pedagógico. No entanto, apurações infracionais constantemente deficitárias possuem efeitos contrários, sendo fator de motivação e fomento ao cometimento de ilícitos. Bastos apud Oliveira (2014, p. 21) leciona a respeito da investigação criminal, definindo-a como “atividade que se desenvolve com o objetivo de ser descoberta a autoria das infrações penais e serem recolhidos os elementos necessários à propositura da ação penal correspondente”. As atividades de apuração de infrações possuem grande importância para o sistema de segurança pública, no entanto as polícias civis despen- dem significativa parte de seus recursos e de seu tempo em atividades meramente cartoriais e burocráticas que são, em regra, dispensáveis. Para que ocorra o início de uma ação penal não é necessário que haja um inquérito policial 4 Inquérito policial é um conjunto de diligências pré-processuais que contém atos investigatórios e tem por objetivo investigar infrações penais e sua autoria, no intuito de reunir elementos necessários à formação da opinião do Ministério Público a respeito de determinado fato. 4 , sendo que esse procedimento administra- tivo não é essencial, ou seja, pode haver investigação, com levantamen- O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 5.520, no dia 6 de setembro de 2019, julgou inconstitucionais os dispo- sitivos da Constituição do Estado de Santa Catarina, que designava os Delegados da Polícia Civil daquele estado como integrantes de Carreira Jurídica. Disponível em: http://portal.stf. jus.br/processos/downloadPeca. asp?id=15341197199&ext=.pdf. Acesso em: 10 dez. 2019. Saiba mais+ 22 Gestão de segurança pública to de todos os fundamentos para uma ação penal, sem que haja um inquérito. Portanto, a missão essencial desse órgão público é a apuração de infrações penais, e as atividades burocráticas podem ser, no máximo, auxiliares a essa missão principal. 1.2.1.5 Polícia Militar De acordo com nossa Constituição Federal, as polícias militares são instituições organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sendo que os seus membros são militares dos estados e se subordinam aos respectivos governadores. A respeito dessa subordinação, conforme já tratamos neste capí- tulo, devem ser respeitados os interesses gerais da população, sob a premissa de que estamos tratando de uma instituição de Estado, não de uma instituição de Governo, ou seja, essa subordinação não pode ser traduzida como uma submissão absoluta e irrestrita, estando con- dicionada aos interesses maiores da população. De acordo com o parágrafo 5° do artigo 144 da Constituição Fe- deral: “Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preserva- ção da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil” (BRASIL, 1988). Atentamos para o fato de que a legislação pátria confere às polícias militares com exclusividade a “polícia ostensiva e a preservação da or- dem pública”, sendo que o termo polícia possui sentido jurídico absolu- tamente mais amplo do que o termo policiamento. Essa exclusividade é conferida por meio do Decreto Lei n. 667 (BRASIL, 1969), conforme a seguir transcrito: Art. 3º Instituídas para a manutenção da ordem pública e segu- rança interna nos Estados, nos Territórios e no Distrito Federal, compete às Polícias Militares, no âmbito de suas respectivas jurisdições: a) executar com exclusividade, ressalvas as missões peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, plane- jado pela autoridade competente, a fim de assegurar o cumpri- mento da lei, a manutenção da ordem pública e o exercício dos poderes constituídos; Qual é e onde está prevista a competência constitucional das polícias militares? Atividade 3 Organização da segurança pública 23 b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em lo- cais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a pertur- bação da ordem; c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o eventual emprego dasForças Armadas. O termo polícia engloba as atividades típicas de policiamento, como o patrulhamento ostensivo e a presença policial, mas vai muito além, deferindo às polícias militares a exclusividade na atuação no amplo campo da prevenção e repressão imediata de ilícitos criminais e polícia administrativa da ordem pública. A respeito da atuação da polícias militares, Oliveira (2014), ao tratar dos aspectos jurídicos concernentes à atividade policial, especialmente no que se trata da atividade de policiamento ostensivo preventivo – atividade per- tencente ao campo constitucional das polícias militares –, afirma que essa atividade é complexa e exige dos membros dessas polícias um preparo técnico profissional, no qual inclui profundo conhecimento jurídico. Ainda discorrendo acerca das atividades desempenhadas pelos po- liciais militares, Oliveira (2014, p. 10) afirma que: em situações drásticas, o agente policial precisa decidir, de plano e imediatamente, em turbulentas perspectivas psicológicas, sobre a vida e liberdade alheia, atividade com consequências e mediações jurídicas intensas, para dizer o mínimo. Você já deve ter refletido a respeito da pesada carga decisória exis- tente na atividade prática das polícias, na qual o policial, em fração de segundos – sem ter nenhuma oportunidade ou tempo para fazer qual- quer tido de consulta, seja a suas próprias anotações, a outros policiais ou em bibliografia – toma decisões com repercussões práticas e jurídi- cas da maior envergadura, por exemplo: “Prendo ou não prendo este cidadão?” “Faço ou não faço uso de força para contê-lo?” “Faço ou não faço uso de minha arma de fogo?”. Essas decisões, dentre tantas outras, devem ser tomadas quase que de imediato e possuem reflexos fáticos e jurídicos na esfera de direitos dos cidadãos afetados direta ou indiretamente, bem como na esfera de direitos do policial, que terá de responder por sua decisão. Para haver uma conclusão acerca da correção ou erro no procedi- mento adotado pelo policial, será realizada uma investigação policial, na qual será incluída uma perícia, uma minuciosa análise por parte do Ministério Público e um julgamento por conta do Poder Judiciário. Em Você sabia que existem polícias militarizadas em muitos outros países além do Brasil? A única diferença entre essas polícias e a brasileira é que elas não têm o termo militar em seus nomes. À guisa de exemplo, relacionamos algumas dessas polícias militarizadas: na Argentina, a Gendarmeria Nacional; na Espanha, a Guarda Civil; em Portugal, a Guarda Nacional Republicana; na Itália há duas polícias militarizadas, os Carabineiros e a Guarda de Finanças; no Canadá, a Royal Canadian Mounted Police; no Chile, os Carabineiros. Curiosidade 24 Gestão de segurança pública todas essas etapas haverá possibilidade de consulta a bibliografias, a peritos, a exames laboratoriais e a especialistas das mais diversas áreas do conhecimento humano. Mesmo com todo esse suporte, não raras vezes haverá fundada dúvida quanto ao procedimento conside- rado correto no caso em concreto. Até mesmo a decisão de efetuar uma prisão ou atuar em face de um flagrante de crime pode gerar grandes dúvidas a respeito da decisão tomada pelo policial, levando a demandas em desfavor dele. Uma peculiaridade única do sistema de segurança brasileiro é a fal- ta de ciclo completo de polícia, ou seja, as polícias brasileiras possuem meias competências: para prevenção e repressão imediata ou para in- vestigação. Essa particularidade provoca sérios obstáculos à seguran- ça, pois aumenta a demanda por atividades meramente burocráticas e cartorárias e resulta em prejuízos à segurança da população. Felizmen- te, há diversas iniciativas para alterar esse panorama, com a intenção de conferir ciclo completo a todos os órgãos policiais, o que, por certo, irá colaborar para melhorar nossas condições de segurança pública. Outro órgão integrante do sistema de segurança pública é o corpo de bombeiros militar, que tem por incumbência constitucional a pre- venção e o combate a incêndios, além das atividades de defesa civil. Mesmo que haja previsão constitucional no mesmo parágrafo das polí- cias militares, os corpos de bombeiros militares não são necessariamente integrantes delas. Somente dois estados da Federação possuem corpos de bombeiros como instituições orgânicas das polícias militares: Paraná e São Paulo. Em todos os demais estados, os corpos de bombeiros militares são instituições independentes e com comando próprio. 1.2.1.6 Polícia Penal Esse órgão de segurança pública foi criado por meio da Emenda Constitucional n. 104, de 4 de dezembro de 2019, a qual inseriu o inciso VI e o § 5º-A ao artigo 144, determinando que: “Às polícias pe- nais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da unidade federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos penais” (BRASIL, 2019). Juntamente às polícias militares, aos bombeiros militares e às polí- cias civis, as polícias penais estaduais e distrital são subordinadas aos governadores dos estados e do Distrito Federal. A respeito do tema Ciclo completo de polícia, sugerimos assistir ao vídeo com a íntegra da reunião que acompanha os trabalhos da Comissão especial destinada a discutir a adoção, para todas as polícias, da competência legal para investi- gação, instalada na Câmara dos Deputados em 16 de outubro de 2019. Disponível em: https://www.cama- ra.leg.br/evento-legislativo/58029. Acesso em: 4 dez. 2019. Vídeo Organização da segurança pública 25 Essa nova polícia foi criada para corrigir uma distorção existente no Brasil, pois, doutrinariamente, os órgãos incumbidos de realizar pri- sões não deveriam realizar a guarda desses presos, sendo essa uma missão que deve ser de outro órgão, no caso, da polícia penal. Sendo assim, a criação da polícia penal se afigura como uma provi- dência correta e que trará efeitos benéficos para a segurança pública, permitindo que os demais órgãos policiais se dediquem às suas mis- sões constitucionais, deixando de utilizar seus efetivos para realizar a guarda de presos. 1.2.1.7 Guarda Municipal A despeito de não ser considerado constitucionalmente como um órgão integrante do sistema de segurança pública, as guardas muni- cipais estão previstas no parágrafo 8° do artigo 144 da Constituição Federal, em que se afirma que: “Os Municípios poderão constituir guar- das municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instala- ções, conforme dispuser a lei” (BRASIL, 1988). Conforme expresso no dispositivo constitucional, as guardas muni- cipais, nos municípios em que foram instituídas, têm por destinação a proteção dos bens, serviços e instalações dos municípios. As normas gerais para as guardas foram instituídas pela Lei n. 13.022, de agosto de 2014 (BRASIL, 2014), da qual destacamos os dispositivos a seguir. Art. 2º Incumbe às guardas municipais, instituições de caráter civil, uniformizadas e armadas conforme previsto em lei, a fun- ção de proteção municipal preventiva, ressalvadas as competên- cias da União, dos Estados e do Distrito Federal. [...] Art. 4º É competência geral das guardas municipais a proteção de bens, serviços, logradouros públicos municipais e instalações do Município. Parágrafo único. Os bens mencionados no caput abrangem os de uso comum, os de uso especial e os dominiais. Art. 5º São competências específicas das guardas municipais, res- peitadas as competências dos órgãos federais e estaduais: [...] Parágrafo único. No exercício de suas competências, a guarda municipal poderá colaborar ou atuar conjuntamente com órgãos de segurança pública da União, dos Estados e do Distrito Fede- ral ou de congêneres de Municípios vizinhos e, nas hipóteses 26 Gestão de segurança pública previstas nos incisos XIII e XIV deste artigo, diante do compare- cimento de órgão descrito nos incisos do caput do art. 144 da Constituição Federal, deverá a guarda municipal prestar todo o apoioà continuidade do atendimento. Art. 6º O Município pode criar, por lei, sua guarda municipal. Parágrafo único. A guarda municipal é subordinada ao chefe do Poder Executivo municipal. Conforme pode ser extraído dessa lei, as guardas municipais são incumbidas de cumprir sua missão constitucional de proteção dos bens, serviços e instalações dos municípios, podendo ainda colaborar ou atuar conjuntamente com os órgãos que compõem o sistema de segurança pública. 1.3 Integração da segurança pública Videoaula Conforme já abordado, a segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. Para bem executar essa respon- sabilidade, os órgãos públicos, de todos os entes federativos, têm por obrigação empregar esforços para se integrar, no intuito de minimizar a possibilidade de retrabalhos, para ampliar a efetividade na aplicação dos recursos públicos despendidos e para prestar melhores serviços à população. No entanto, essa desejável integração ainda não é uma realidade, ao menos de maneira sistemática e geral, sendo atualmente muito dependente de iniciativas isoladas ou regionais. Todos os entes da Federação devem tomar providências para que os discursos se tornem realidade e ocorra uma real integração dos órgãos responsáveis pela segurança pública. Mas, por motivos estruturais, tec- nológicos, culturais e políticos, ainda estamos bastante distantes de uma real integração de informações, tecnologias, treinamentos, dentre outros. Além disso, a integração deve envolver os entes públicos e a popu- lação em geral, lembrando que a segurança pública é uma responsa- bilidade de todos. Assim, famílias, escolas, clubes de entretenimento, e imprensa, devem participar dos esforços para uma sociedade mais segura. Qualquer pessoa pode colaborar com a segurança pública, for- necendo informações às autoridades, por exemplo. Uma ferramenta interessante de apoio e gestão da segurança públi- ca é o conhecido Disque Denúncia e suas diversas variações, que facili- tam e incentivam a comunicação das comunidades com as autoridades públicas, especialmente para a troca de informações referentes ao trá- Organização da segurança pública 27 fico de drogas ilícitas e pessoas, violência contra vulneráveis, trabalho análogo à escravidão, dentre outros. Por meio dessa ferramenta, a administração pública ou as enti- dades particulares disponibilizam formas para que a comunidade se comunique com as autoridades incumbidas da segurança pública, em regra, propiciando que as informações sejam transmitidas de maneira anônima, a fim de garantir a segurança de quem estiver as repassando. Os esforços para efetivar medidas de proteção para mulheres víti- mas de violência representam objetivos bastante efetivos para integrar os órgãos de segurança pública e a comunidade e, portanto, vêm ga- nhando espaço atualmente. Nesses esforços, aliam-se o Poder Judiciário, que é o responsável por deferir medidas protetivas, as forças de segurança, responsáveis por dar efetividade às medidas protetivas, e as vítimas, que podem se utilizar de meios tecnológicos para fazer valer seus direitos, sendo, en- tão, um exemplo de que a integração é útil e necessária. 1.3.1 Controle externo das polícias É de fundamental importância que haja controle de todo e qualquer detentor de poder. Todos os poderes da República têm que se subme- ter a controles, sob pena de graves violações às liberdades individuais e de se tornarem poderes despóticos e opressores. A esse respeito, Montesquieu, em sua célebre obra O espírito das Leis, afirma que todo aquele que detenha poder deve ser submetido a controles, sob pena de invariavelmente abusar desse poder. A democracia e a aristocracia não são Estados livres por natureza. A liberdade política só se encontra nos governos moderados. Mas ela nem sempre existe nos Estados moderados; só existe quando não se abusa do poder; mas trata-se de uma experiência eterna que todo homem que possui poder é levado a dele abusar; ele vai até onde encontra limites. (MONTESQUIEU, 2000, p. 166) Assim, o detentor e a população devem conhecer exatamente os limites desse poder. Para limitar seu exercício e evitar abusos, são ins- tituídos sistemas de freios e contrapesos. Para explicar o que vem a ser esses sistemas, recorremos novamente a Montesquieu, que teorizou a necessidade de separação entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para que possa haver democracia: 28 Gestão de segurança pública Tampouco existe liberdade se o poder de julgar não for separado do poder legislativo e do executivo. Se estivesse unido ao poder legislativo, o poder sobre a vida e a liberdade dos cidadãos seria arbitrário, pois o juiz seria legislador. Se estivesse unido ao poder executivo, o juiz poderia ter a força de um opressor. Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, o dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar os crimes ou as querelas entre os particulares. (MONTESQUIEU, 2000, p. 168) Atentamos para o fato de que essa separação de poderes é cláu- sula pétrea de nossa Constituição e, conforme o artigo 2º (BRASIL, 1988), “são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Essa separação de poderes confere atribuições de fiscalização mútua aos três poderes, sendo que o Executivo executa as leis aprovadas pelo Legislativo e ambos se submetem ao crivo de constitucionalidade do Judiciário. Os órgãos do sistema de segurança pública possuem setores inter- nos de corregedorias, as quais, apesar de pertencerem à estrutura in- terna de cada órgão, se prestam a apurar irregularidades e alimentar outros sistemas incumbidos da responsabilização de seus agentes, em especial o Ministério Público, que é a instituição que possui constitucio- nalmente a função de exercer o controle externo da atividade policial, conforme dispositivo da Constituição Federal (BRASIL, 1988). Esse controle externo não pode ser entendido como subordinação das polícias ao Ministério Público, que não possui competências fun- cionais ou administrativas para com as polícias. Esse controle externo é exercido por meio de medidas judiciais e extrajudiciais, para que sejam adotadas providências para corrigir ilegalidades ou abusos de poder ou para que sejam realizadas investigações e apuradas ilegalidades perpe- tradas por policiais. Outra forma de controle externo da atividade policial, talvez a mais importante, é a realizada por meio da sociedade em geral, assim enten- dida em sua expressão mais básica e individual, e até por grandes gru- pos organizados, conhecidos como terceiro setor 5 Terceiro setor é uma expressão empregada para definir iniciati- vas privadas, sem fins lucrativos e que prestem serviços de caráter público. 5 . Assim, a população pode – e deve – se engajar na solução de seus problemas, especialmen- te quanto à segurança pública. Um tema de grande re- levância e interesse para ser aprofundado trata-se do controle externo da atividade policial, para o qual recomenda- mos a consulta à obra elaborada pelo CNMP, O Ministério Público e o con- trole externo da atividade policial: Dados 2016. CNMP. Brasília: Conselho Nacional do Ministério Público, 2017. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/ portal/publicacoes/245-cartilhas- -e-manuais/10913-o-ministerio- -publico-e-o-controle-externo-da- -atividade-policial-dados-2016. Acesso em: 10 dez. 2019. Livro Organização da segurança pública 29 Por fim, incluímos nessa fiscalização externa das polícias, desem- penhada pela população, a imprescindível atuação dos órgãos de imprensa, sendo de suma importância que tenhamos uma imprensa absolutamente livre para bem desempenhar suas funções. Os órgãos de imprensa não podem sofrer tipo algum de embaraço ou censura no desempenho de suas atribuições, pois uma imprensa livre é requisito básico para que haja uma sociedadelivre e democrática. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este capítulo foi escrito levando em consideração a intenção de in- centivar a criticidade, possibilitando a formação de opiniões. Para isso, deixamos claro que o sistema de segurança extrai seu arcabouço jurídico principalmente da Constituição Federal de 1988, apoiado em legislação infraconstitucional e em doutrinas. É pertinente destacar que a segurança pública, conforme explicitado no texto, é responsabilidade e direito de todos, devendo ser proporciona- da pelo Estado, por meio dos órgãos de segurança pública constitucional- mente instituídos. Conforme você teve oportunidade de verificar, para propiciar a com- preensão da estrutura dos órgãos de segurança pública, foram aborda- dos temas relacionados à teoria geral do Estado, à formação da República brasileira e à divisão de competências entre os entes federados. Estuda- mos, ainda, os órgãos de segurança pública individualmente, demonstran- do a competência legal de cada um e suas principais características. Por fim, observamos a necessária integração entre os órgãos de segurança pública e as formas de controlá-los. REFERÊNCIAS BRASIL. 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Acesso em: 10 dez. 2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0667.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del0667.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D88777.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D88777.htm 30 Gestão de segurança pública BRASIL. Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 24 set. 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9503. htm. Acesso em: 10 dez. 2019. BRASIL. Lei n. 13.022, de 8 de agosto de 2014. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 11 ago. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2014/lei/l13022.htm. Acesso em: 10 dez. 2019. BRASIL. Lei n. 13.675, de 11 de julho de 2018. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 12 jul. 2018. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2018/lei/L13675.htm. Acesso em: 12 dez. 2019. BRASIL. Emenda Constitucional n. 104, de 4 de dezembro de 2019. Diário Oficial da União. Poder Legislativo, Brasília, DF, 5 dez. 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc104.htm. Acesso em: 12 dez. 2019. BRAZ, J. M. da C. U. Direito do Estado. Londrina: Educacional, 2018. BREUNIG, A. E.; SOUZA, V. de. Sociologia do crime e da violência. Curitiba: Intersaberes, 2018. CARVALHO FILHO, J. dos S. Manual de direito administrativo. 27 ed. São Paulo: Atlas, 2014. COELHO, A. M. Primado da religião e o Leviatã submerso. São Paulo, 2016. 177f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/ disponiveis/8/8131/tde-05052008-144048/pt-br.php. Acesso em: 10 dez. 2019. LAZZARINI, Á. et al. 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A expressão Ordem e Progresso, grafada na bandeira nacional brasileira, tem origem na corrente filosófica denominada positivismo. Essa corrente procura explicar a sociedade pelo viés da observação empírica, ou seja, por meio da experiência, admitindo como critério de verdade as questões que podem ser verificadas pelo método científico, se distanciando do metafísico (aquilo que se explica por forças ocultas, que vão além do estado físico das coisas). 2. Polícia federal; polícia rodoviária federal; polícia ferroviária federal; polícias civis; polícias militares e corpos de bombeiros militares, conforme previsto no artigo 144 da Constituição Federal de 1988. 3. Conforme § 5º do artigo 144 da Constituição Federal (BRASIL, 1988), às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. Gestão dos órgãos de segurança pública 31 Gestão dos órgãos de segurança pública 2 Este capítulo aborda a gestão dos órgãos responsáveis pela segurança pública, especialmente no que concerne a pessoal, às finanças e aos materiais. Para a execução de suas missões constitucionais, as polícias estão condicionadas à existência e à qualidade de meios materiais e humanos, sendo que a insuficiência ou má qualidade destes têm influência direta na eficiência e efetividade de suas ações. Quanto à gestão de pessoal, serão abordados temas relacionados às peculiaridades das carreiras policiais e às políticas motivacionais. A respeito da gestão financeira será tratada a administração de recursos públicos e das possibilidades de utilização de recursos privados. No que se refere aos materiais, este capítulo versará sobre a aquisição, o uso e a destinação de bens considerados de uso e acesso comum a qualquer pessoa, bem como os de uso restrito e que somente podem ser adquiridos pelo Estado para uso das forças de segurança. Os temas serão tratados no intuito de fornecer a você uma fonte de consulta sucinta, com linguagem direta e simples, que leve à reflexão e fomente a formulação de opiniões e conclusões próprias. 2.1 Gestão de pessoal Videoaula À medida que a percepção de insegurança e o real incremento da criminalidade se acentuam, cresce também a preocupação com um tratamento justo dos escassos recursos disponíveis, especialmente quanto à administração de pessoal. No conjunto de ideias comuns, para melhorar a prestação de servi- ços, em geral, e de segurança pública, em particular, há necessidade de 32 Gestão de segurança pública se ampliar a quantidade de agentes, promovendo concursos públicos e a inclusão de novos integrantes para os órgãos responsáveis por essa intrincada missão. Os concursos públicos para as carreiras da segurança pública atraem expressivo quantitativo de candidatos. No entanto, essa atra- ção possui vários motivos, ligados à vocação, às influências familiares, à necessidade, dentre outros. Apesar desse evidente interesse, a fixa- ção nas carreiras públicas e a adesão aos seus princípios norteadores não têm a mesma grandeza, pois as carreiras policiais envolvem di- versas dificuldades, limitações e exigências. É provável que o incrementodo efetivo em quantidade conside- rável teria o potencial de reprimir fortemente a incidência de crimes, no entanto tal providência não parece viável, pois o erário encontra- -se no limite do suportável. Deve-se, então, melhor gerir os recursos existentes, maximizando esforços e evitando desvios de finalidade no emprego dos atuais agentes públicos. Melhorar a gestão de pessoal, diminuindo-se a pressão por mais contratações, exige um esforço intelectual e de inovação na adminis- tração de recursos humanos, o que raramente é experimentado na administração pública brasileira. No entanto, não podemos nos resignar com supostos obstáculos intransponíveis que atrapalhem a implementação de planejamentos na área de recursos humanos, pois há instrumentos capazes de melhorar a eficiência das corporações, viabilizando a otimização dos efetivos existentes. Temos que ir além, lutando contra influências políticas, partidárias e pessoais na administração do pessoal, no intuito de alcançar melhores resultados. A respeito da administração, Greene, Cordner e Bynum (2002, p. 67) afirmam que: O planejamento dos recursos humanos visa a realizar os ob- jetivos de recursos humanos da organização, mas, de modo mais amplo, espera-se que ele contribua para alcançar os ob- jetivos gerais da organização. Um ponto de vista mais limitado é, grosso modo, comparado ao que algumas vezes é chamado de planejamento ou remanejamento de pessoal; tal atividade procura desenvolver planos que guiem a administração de pes- soal para que vagas sejam preenchidas de maneira rápida, as pessoas sejam eficientemente utilizadas etc. Noutro viés mais efetivo: número de pessoas de um grupo, relacionado à função ou à formação. Glossário erário: designação dos recursos financeiros utilizados pelo poder público e obtidos por arrecadação de tributos. Glossário Gestão dos órgãos de segurança pública 33 geral, entretanto, o planejamento dos recursos humanos nos está envolvido intimamente com o planejamento organizacio- nal e com a administração na busca pelos fins desejados. Portanto, o planejamento de recursos humanos deve obedecer à finalidade pública, buscando alcançar os objetivos dos órgãos de se- gurança pública, os quais são responsáveis por elaborar e executar o planejamento, remanejar pessoal e aplicar de maneira técnica os recursos disponíveis. É amplamente conhecida e aceita a afirmação de que as polícias exercem funções de Estado, e não de Governo. Assim, para bem servir à população, os policiais necessitam de garantias legais que permitam o desempenho de suas missões sem o temor de represálias. Essas ga- rantias incluem o provimento de cargo por meio de concurso público e a estabilidade no cargo público. Convidamos você a realizar uma reflexão a respeito dessa estabi- lidade. Imagine que os policiais não mais a tenham; será que todos terão a devida isenção para tomar providências em desfavor de pes- soas de alto poder aquisitivo? A sua falta não provocaria o temor de que ao agir poderia estar colocando em risco seu cargo e o sustento de sua família? A população e a classe política possuem o devido pre- paro cultural, ético e moral para absorver essas providências como devidas e necessárias, bem como para proteger esse policial de uma injusta demissão? Não nos parece que a sociedade brasileira esteja pronta para de- fender as autoridades policiais que atuem de maneira rigorosa, es- pecialmente em desfavor de quem possuir grande influência política. É muito comum que os policiais, ao tomarem providências que de- sagradem quem tenha muito poder aquisitivo ou contatos políticos, ouçam a expressão “sabe com quem está falando?”, como um claro recado de que haverá retaliação a seu ato. O modelo atual – em que os policiais possuem uma estabilidade que os protege contra exonerações injustas – é imprescindível para permitir que atuem com energia e isenção, tomando suas decisões de maneira absolutamente imparcial, sem se sentirem pressionados a fazer ou deixar de fazer algo contrário ao seu dever, visto que a reti- rada dessa estabilidade se afigura absolutamente temerária. 34 Gestão de segurança pública 2.1.1 Doutrina de gestão de policiais Abordar o tema referente à doutrina de gestão de pessoas nas po- lícias brasileiras não é uma tarefa simples. Atentamos para o fato de que estamos tratando de um país com dimensões continentais, com diversos órgãos policiais, federais e estaduais, os quais apresentam diferenças bastante substanciais entre si, mas que possuem diversos pontos de convergência. Soma-se a essa pluralidade de órgãos policiais a multiplicidade de legislações e costumes regionais, chegando à noção da complexidade da atividade de segurança pública no Brasil, sobre a qual Goldstein (2003, p. 37) discorre: A função da polícia é incrivelmente complexa. O alcance total das responsabilidades policiais é extraordinariamente amplo. Muitas de suas incumbências estão tão interligadas que parece impos- sível separá-las. E os numerosos conflitos entre os diferentes as- pectos da função não conseguem ser facilmente reconciliáveis. Qualquer um que tencione criar uma definição viável do papel da polícia normalmente irá se perder em fragmentos de velhas ima- gens e em uma opinião, recém-descoberta, a respeito de quão intrincado é o trabalho policial. Em linhas gerais, a doutrina para gestão dos integrantes de cada órgão responsável pela segurança pública apresenta semelhanças, em maior ou menor grau, no que concerne ao risco de vida envolvido no desempenho da missão, à disponibilidade permanente ao Estado e à necessidade de submissão a concurso público para ingresso. Existem aspectos que são exclusivos das carreiras dos policiais mi- litares e dos bombeiros militares, como a proibição de sindicalização e greve, a sujeição a preceitos rígidos de hierarquia e disciplina e à dis- ponibilidade permanente e sem limitação de carga horária, além da vedação de participar de atividades político-partidárias. Outro aspecto a ser considerado sobre a gestão das pessoas in- cumbidas de prestar os serviços de segurança pública se refere ao fato de que o trabalho realizado para garanti-la guarda estreita rela- ção com o trabalho de outros órgãos públicos, sendo afetado direta- mente por ele e possuindo ainda grande dependência desses, como o Poder Judiciário, o Ministério Público, bem como os sistemas de edu- Gestão dos órgãos de segurança pública 35 cação e saúde. A ineficiência, a carência ou a inexistência desses ser- viços causa um aumento da sensação de insegurança, impactando, portanto, nos agentes responsáveis por ela. É relevante demonstrar ainda que o trabalho policial despende signi- ficativa parte de seu tempo tratando de assuntos não criminais, como o atendimento a chamados para socorros em assuntos pessoais, familia- res e até para aconselhamentos, prevenção e socorros, além do auxílio a acidentes pessoais, cuidados com animais feridos ou perdidos, ajuda a pessoas sob efeitos de álcool ou entorpecentes, prevenção e repressão aos mais diversos distúrbios, acidentes de trânsito e buscas a pessoas desaparecidas. Todas essas situações não criminais integram a missão constitucional de preservação da ordem pública, que, se bem desempe- nhada, refletirá na diminuição da incidência de ilícitos criminais. O trabalho policial é amplamente conhecido por prevenir condu- tas atentatórias à vida, à integridade física e ao patrimônio. No en- tanto, menos populares são as funções ligadas ao auxílio a pessoas em risco, à garantia dos direitos constitucionais, à garantia do exercí- cio dos poderes constituídos, às liberdades do cidadão, à facilitação da mobilidade e ao fomento do sentimento de segurança necessário para uma vida tranquila. Sendo assim, é possível perceber que lidar com a criminalidade é a face mais evidente, mas apenas uma parcela dos objetivos policiais. Dessa forma, não há equívoco algum em afirmar que a polícia é o braço mais acessível e desburocratizadodo Estado, estando à dispo- sição do cidadão sem qualquer formalidade, todos os momentos dos dias, bastando um aceno de mão para uma viatura que esteja patru- lhando para se utilizar desse serviço público. O trabalho policial é desempenhado, em regra, em ambiente de hostilidade e de desconfianças, sendo que vivemos em um mundo de armas brancas e de fogo, onde vizinhos e parentes se atacam, ou seja, de violência em todos os lugares. No entanto, mesmo com esse cená- rio, o policial deve manter a calma nas situações mais alarmantes e estressantes, não podendo se envolver pessoalmente nas ocorrências. Apesar da desejada isenção no trato com as situações, o policial não deve perder a sensibilidade. Ou seja, tem por obrigação agir com o menor envolvimento possível, mas, considerando que trabalha dire- tamente com pessoas, é desejável também que exercite a empatia. Atividade 1 Além de tratar da prevenção e repressão a crimes, quais outros tipos de atividades são desem- penhadas pelas polícias? empatia: disposição do ser humano em se colocar no lugar do outro, refletindo sobre o que sentiria ao passar pela mesma situação. Glossário 36 Gestão de segurança pública Perceba que conciliar os dois sentimentos – isenção e empatia – exige grande preparo técnico e psicológico, bem como depende de condi- ções pessoais. Para que haja o preparo dos policiais é importante que ocorram investimentos em seleção, formação e treinamento. No intuito de colaborar com essa necessidade, foi apresentada, no ano de 2003, a primeira versão da Matriz curricular nacional para ações formativas dos profissionais da área de segurança pública. Atualmente está em vigência a matriz curricular editada no ano de 2014. A atual matriz curricular (BRASIL, 2014, p. 40) apresenta como obje- tivo geral: favorecer a compreensão do exercício da atividade de segurança pública como prática da cidadania, da participação profissional, social e política num Estado Democrático de Direito, estimulan- do a adoção de atitudes de justiça, cooperação, respeito à Lei, promoção humana e repúdio a qualquer forma de intolerância. A matriz curricular nacional para as ações formativas dos profissio- nais da área de segurança pública abrange competências cognitivas, operativas e atitudinais (BRASIL, 2014). Competências cognitivas: são competências que requerem o desenvolvimento do pensamento por meio da investigação e da organização do conhecimento. Elas habilitam o indivíduo a pen- sar de forma crítica e criativa, posicionar-se, comunicar-se e estar consciente de suas ações. Competências operativas: são as competências que preveem a aplicação do conhecimento teórico em prática responsável, re- fletida e consciente. Competências atitudinais: são competências que visam estimu- lar a percepção da realidade, por meio do conhecimento e do desenvolvimento das potencialidades individuais; a conscientiza- ção de sua pessoa e da interação com o grupo; a capacidade de conviver em diferentes ambientes: familiar, profissional e social. Para atender às necessidades da correta aplicação de policiais, os administradores públicos devem ter conhecimento de suas necessida- des, peculiaridades e das capacidades exigidas em cada carreira, sen- do que uma gestão doutrinariamente bem embasada possui maiores chances de produzir os resultados esperados. Para obter informações mais detalhadas a res- peito da Matriz curricular nacional para ações for- mativas dos profissionais da área de segurança pública, recomendamos a leitura do arquivo oficial. BRASIL. Brasília: Secretaria Nacional de Segurança Pública, 2014. Disponível em: https://www.justica. gov.br/central-de-conteudo/segu- ranca-publica/livros/matriz-curri- cular-nacional_versao-final_2014. pdf. Acesso em: 2 dez. 2020. Leitura Gestão dos órgãos de segurança pública 37 2.1.2 Políticas motivacionais Ao estudar a gestão de pessoas, em particular os agentes públicos responsáveis pela segurança pública no Brasil, temos que levar em con- sideração que a administração pública existe, sobretudo, para servir e resolver os problemas da população e que seus agentes devem empre- gar todos os esforços para atingir esse objetivo, ou seja, existem para resolver questões da administração pública, não problemas próprios. No entanto, administrar tendo em vista a supremacia do interesse pú- blico não significa ignorar que esses agentes também fazem parte da população e que, para bem prestar o serviço público, devem ser bem selecionados e formados, devendo ainda estar motivados e em boas condições de saúde física e mental. É certo que o Estado não pode consumir todos os seus recursos apenas com a finalidade de atender aos anseios de seus agentes, no entanto ele tem por obrigação manter esses agentes sãos e motivados para bem prestar os serviços. Essa necessidade de motivação se aplica com maior intensidade no que concerne aos policiais, pois desempenham suas atividades, em regra, em ambientes com conflitos e desgastantes, física e psicologi- camente. Suas atitudes, apesar de decididas em fração de segundos, possuem forte influência na vida de diversas pessoas, sendo que um equívoco na tomada de decisão ou na execução pode levar a grandes prejuízos e até perdas de vidas. Procure refletir a respeito dessa motivação. Como os administrado- res públicos podem atuar para motivar os agentes? Pense sobre o que o motiva, sobre o que o faz levantar todas as manhãs e se dirigir para o local de serviço. Seriam os desafios diários? A satisfação de salvar uma vida? A obtenção de respeito e amizade dos colegas e da comunidade? A remuneração? Um plano de carreira? Quando tratamos de motivação, precisamos levar em considera- ção que todos os serem humanos possuem necessidades e que seus comportamentos motivacionais são influenciados por elas, já que suas ações são o resultado de estímulos e frustrações que os levam a agir ou a se desestimular. A respeito de motivação, citamos a amplamente difundida teoria das necessidades de Maslow 1 (KINPARA, 2000), a qual é representada Teoria desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Abraham H. Maslow, entre os anos 1940 e 1950. 1 38 Gestão de segurança pública pela pirâmide motivacional baseada em uma hierarquia de necessida- des dividida em cinco níveis. No primeiro estão as necessidades fisioló- gicas (habitação, alimentação); acima, no nível dois, estão as necessidades de segurança (proteção contra ameaças ambientais); de- pois, as necessidades sociais e afetivas (amizade, filiação a grupos); seguidas, no nível quatro, pelas necessidades de estima (dos outros e de si mesmo); e, por último, estando as necessidades de autorrealização (obter o máximo de suas aptidões). Como você pode perceber nessa hierarquia, as necessidades fisiológicas e de segurança estão localizadas na base da pirâmide, sendo os níveis mais essenciais e imprescindíveis para a existência da sociedade. Pela teoria de Maslow, quando atendidas as necessidades mais básicas, podemos pensar em buscar as demais como forma de motivação. Se não estiverem sendo atendidas, no entanto, estímulos referentes aos níveis mais altos terão pouco ou nenhum efeito. Assim, supondo-se que as necessidades mais básicas já estejam minimamente supridas, retornamos à questão: o que o motiva? Para colaborar com nossa reflexão, Torres (1996, p. 68) afirma que: A motivação é um conceito que nos ajuda a compreender os ges- tos dos que nos rodeiam. Dada a sua importância, todo o campo de análise sobre o comportamento organizacional está cheio de teorias que visam a explicar o que motiva os seres humanos, para compreendermos como suas necessidades e seus desejos os conduzem a agir desta ou daquela forma. O grande interesse da questão reside evidentemente na hipótese de que, se com- preendemos o que leva as pessoas a agir, nós podemos influir sobre seu rendimento. Parece-nos bastante evidente que a principal motivação seria uma remuneração apropriada. Pois,
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