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2º WEBQUEST DE H TEMPO PRESENTE (1)

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POLO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
PROFESSORA MARIA CELESTE VIDAL
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
Darlan da Silva Dias
Jessica Mª da Silva Xavier
Tamires Amaral Santos
Fim do Socialismo Real e as Esquerdas Latino-Americanas
Tabira-PE
Novembro/2020
O sucesso dos movimentos de esquerda na América Latina são frutos de diversos acontecimentos ao longo da história que confrontavam as “tradições internacionalistas” já existentes. Vemos isso acontecer quando Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) trazem em sua concepção a perspectiva do internacionalismo revolucionário. O próprio Michael Löwy, afirma que o marxismo “possui no internacionalismo a pedra angular de sua visão de mundo e de sua estratégia revolucionária” (LÖWY, 2000, p.8). 
Segundo o Dicionário do Pensamento Marxista, o internacionalismo “teve sua importância fundamental para o pensamento e a atividade de Marx e Engels, que deram uma base de classe (o internacionalismo proletário) à ideia de fraternidade humana proclamada pela Revolução Francesa” (BOTTOMORE, 1988, p 199). Dessa forma, o sentido de internacionalismo proletário desenvolvida por Marx e Engels encontra-se baseada na “solidariedade das classes trabalhadoras oprimidas pela ordem social vigente e vê na eliminação da sociedade dividida em classes, por meios revolucionários, a base da superação dos antagonismos nacionais” (BOBBIO, 1998, p 643).
Dentro desse contexto, uma das questões de maior dificuldade encontrada no continente sul-americano no século XIX era sobre como colocar em prática as teorias marxistas dentro da realidade latino-americana; visto que conforme destaca Michael Lowy, existiam duas tendências antagônicas na região: o excepcionalismo indo – americano e eurocentrismo (LÖWY, p.10).
O Excepcionalismo indo-americano, em que as “especificidades latino-americanas foram absolutizadas, levando ao questionamento do próprio marxismo enquanto teoria exclusivamente europeia” (LÖWY, 2006, p.10-11). Já a concepção do eurocentrismo, “tratou de transplantar para a América latina os modelos explicativos do desenvolvimento socioeconômico da Europa, renegando as particularidades latino americanas” (LÖWY, 2006,p. 10-11).
Dentro desse contexto a Revolução Cubana liderada por Fidel Castro e Ernesto Guevara, foi um evento de grande importância política não apenas para a Ilha de Cuba naquele dado momento da história, pois com a sua vitória teve a derrubada da ditadura comandada por Fulgêncio Batista. Assumindo tempos depois o seu caráter revolucionário socialista.
Mas teve também a sua grande relevância política também para o continente sul-americano; pois conforme Michael Löwy, a revolução marca o início do terceiro período da história marxista na América Latina caracterizado com a “ascensão (ou consolidação) de correntes radicais, cujos pontos de referência comuns são a natureza socialista da revolução e a legitimidade, em certas situações, da luta armada, e cuja inspiração e símbolo, em grau elevado, foi Ernesto Che Guevara” (LÖWY, 2006, p.10).
Os outros dois períodos marxistas na América Latina são denominados como: 
Período Revolucionário – Segundo Löwy, esse é o primeiro período, que abrange a década de 1920 e vai até meados de 1930, tendo como José Carlos Mariátegui (1894-1930), escritor e jornalista o principal expoente da teoria através do livro “Sete ensaios de interpretações da realidade peruana”. Ele defendia o socialismo como a única alternativa contra a dominação imperialista no continente. Mas, que houvesse uma releitura da teoria não apenas uma mera reprodução do que já existia na Europa, mas sim algo que incorporasse as tradições milenares indígenas. Aqui, já podemos notar uma semelhança com o que anos depois acontece com a ida ao poder de Evo Morales. O primeiro presidente da Bolívia de origem indígena.
Período Stalinista – Ainda segundo Löwy, 2006, p.9, o segundo período é datado de meados de 1930 até o fim da década de 1950, ao qual tem se como principal característica a interpretação soviética do marxismo, apesar de haver outras correntes teóricas que propunham outra forma de comunismo, como o movimento trotskista, que tinha como resultado a “adoção da doutrina da revolução por etapas e do bloco de quatro classes (o proletariado, o campesinato, a pequena burguesia e a burguesia nacional) como fundamento da sua prática política, cujo objetivo era a concretização da etapa nacional – democrática (ou anti-imperialista ou anti-feudal)” (LÖWY, 2006,p. 27). 
Conforme podemos ver no material de estudo, a teoria da revolução por etapas mostrava que a América Latina estava na etapa de nacional-democrática, e por isso, dentro dessa concepção os países os quais ainda não eram desenvolvidos não possuíam condições necessárias para uma revolução socialista.
Com a morte de Stalin em 1953, houve profundas mudanças na forma de pensamento da União Soviética e consequentemente no movimento comunista em todo o mudo. Isso porque, no XX Congresso do Partido Comunista realizado em 1956 o secretário geral do partido, Nikita Khrutchev, fez a divulgação de um relatório secreto no qual denunciava os crimes cometidos por Josef Stalin, morto em 1953. A partir dessa divulgação na imprensa, crises internas nos partidos comunistas foram visto e autocríticas dentro dos partidos.
Com essa nova forma de fazer política da União Soviética, já no contexto da Guerra Fria, sem Stalin, uma das principais mudanças vistas foi a “defesa da coexistência pacífica com o mundo capitalista e pela defesa da participação dos comunistas nas disputas eleitorais nos países com democracias estabelecidas, a fim de chegar ao poder e lograr uma transformação pacífica ao socialismo” (TRISTÁN, 2006, p.43). Estas mudanças levaram o movimento comunista a uma profunda crise, levando a atritos entre a União Soviética e o Partido Comunista Chinês que passaram a disputar entre si a hegemonia dentro do campo socialista e sob o movimento comunista internacional, principalmente em países desenvolvidos.
Na América Latina, os movimentos de esquerda comunista ficaram alinhados a União Soviética e defendiam a teoria da revolução por etapas. No entanto, a revolução cubana marca a historia do comunismo na América Latina, pondo em xeque a teoria da revolução por etapas e favorecendo também o surgimento de novas esquerdas, com marcas principalmente na radicalidade política. 
Mediante o sucesso da Revolução Cubana, seus líderes propunham o modelo existente como uma forma a ser seguida; um caminho a ser trilhado pelas esquerdas na América Latina. Podemos ver isso no discurso de Fidel Castro, em 1959: 
“Como os povos do nosso continente necessitam de uma revolução como a que foi feita em Cuba!” (CASTRO apoud GOTT, 2006. 246). 
Portanto, o movimento revolucionário cubano é marcado por romper com ideias como a teoria das etapas de revolução, criticando a participação nos processos eleitorais como vias de transformação política e apostando em novas formas de organização e de ação política. Portanto, a revolução cubana tem fator primordial na formação das novas esquerdas na América Latina e sua ação política, influenciando movimentos de esquerda que tiveram seu protagonismo no início do Século XXI, como na Venezuela, Bolívia, Argentina e Brasil, que tiveram governos de esquerda afrente de seus países. Cada um com uma forma diferente de se chegar ao poder, por via eleitoral como o caso do Brasil e Argentina ou como posteriormente ditatorial como foi o caso da Venezuela e Bolívia através de golpe de estado.
Conforme vemos no documentário “Ao Sul da Fronteira” (2009), do cineasta e roteirista, Oliver Stone; ele mostra a partir de entrevistas realizadas com as principais lideranças da esquerda na América Latina viajando e se encontrando em cinco países com: Hugo Chávez, Presidente da Venezuela; Evo Morales, Presidente da Bolívia; Raul Castro, Presidente de Cuba; Cristina Kirchner e seu marido, ex-presidente da Argentina, Nestor Kirchner, Fernando Lugo, Presidente do Paraguai; Rafael Correa, Presidente do Equador e Lula, Presidente do Brasil.Através do documentário, podemos notar alguns fatos importantes que vão de encontro com o mesmo cenário que houve com a revolução cubana, como por exemplo, o uso da mídia para a tentativa de manipulação da consciência do povo para a construção de um inimigo imaginário. Com isso, tal fator pode se tornar uma justificativa para uma ação política ou militar na tentativa de eliminação do inimigo. 
Além disso, como vemos no documentário podemos perceber o quanto a mídia está influenciada por correntes ideológico/partidário e o quanto a mesma é responsável na compreensão e divulgação da informação. Vemos isso, quando no documentário logo no início o cineasta Stone faz oposição entre as reportagens americanas e as informações obtidas através das entrevistas realizadas com os presidentes.
Mediante toda essa informação e/ou falta de informação, que levou a população de países sul- americanos a ações mais efetivas; vemos aí outro fator que contribuiu para o protagonismo dos agrupamentos da esquerda latino americana no início do Século XXI, foi o uso do FMI como maneira de obter vantagens sob outros países. Onde o mesmo serve de “corrente” para outros países em situações financeiras delicadas, mas que com isso utiliza-se para obter vantagens financeiras ou de matéria prima dos mesmos. Ou seja, de imediato o uso do dinheiro do FMI é algo aparentemente benéfico para o país, contudo, o País permanece fortemente ligado as políticas externas, e sob forte influência americana; o que caracteriza muitas vezes como uma ação imperialista em pleno século XXI. 
Pois, dessa forma o País acaba fortemente ligado à ideologia liberal e muitas vezes o próprio país “beneficiado” acaba sem autonomia. Podemos notar isso, quando na entrevista a esposa do ex-presidente argentino Nestor Kirchner, Cristina Kircner fala sobre as ações que eram pedidas por o FMI para a Argentina. Não apenas na Argentina, mas também em outros países conforme pode ser constatado na entrevista revela o forte plano de privatizações de estatais nacionais. Enquanto a esquerda na América Latina defendia a manutenção das mesmas.
Portanto, a forte detenção do uso da mídia e o forte poder econômico fez com que a política liberal tivesse forte êxito em várias partes do mundo. Aumentando ainda mais a miséria e a desigualdade social. No entanto, principalmente na América Latina essa ideologia sofreu forte impacto, pois encontrou nas esquerdas da América Latina forte resistência. Apesar de em vários países sul – americanos existir diversas formas de esquerda, formas de pensar a esquerda, de se chegar ao poder, contudo, todas estão em uma forte união quando o assunto é: privatizações. 
É justamente baseado nisso, que vários países sul-americanos se colocaram fortemente em oposição ao liberalismo e ao globalismo. Pois, viram através delas que o país muitas vezes quando se deixa levar por tais ideologias acaba por muitas vezes perdendo a sua autonomia, tornando-se refém de outra nação, outro povo. Além disso, conforme vimos no documentário, algo em comum que todos os entrevistados falaram foi justamente o fato de não vender uma estatal (privatiza), mas sim fazer com que a nação perceba a riqueza que possui e valorize ainda mais tais empresas. 
E agora, não mais com a regulamentação de países estrangeiros, mas o próprio governo que intervém nas empresas com o objetivo de fazer com que as mesmas produzam cada vez mais lucro. Percebemos isso, por exemplo, na política brasileira do pré-sal, ou quando os comerciais trazem à nós o forte sentimento de orgulho por termos uma grande empresa responsável por o petróleo. Tudo isso, são ações das esquerdas latino – americanas com o objetivo de levar a população a se convencer de que aquela ação é necessária e bem mais benéfica do que a privatização.
Dentro dessa temática, vemos que com o sucesso da ascensão do poder das esquerdas na América Latina e o sucesso da revolução cubana no século XX e todas as suas conquistas; seja a revolução cubana, seja a URSS ou o Partido Comunista Chinês. Tudo isso exerceu forte influência na política, no fim da década de 90. E novos projetos de poder foram sendo debatidos principalmente na Venezuela que contava com os recursos necessários para que a Venezuela, Hugo Chávez, conseguisse realizar as mudanças significativas no país, surgindo assim um novo modo de vida na sociedade venezuelana pós-capitalismo. O principal núcleo deste projeto é o da estatização. Tal modelo foi seguido por Fidel Castro em Cuba, e é seguido também por Hugo Chávez na Venezuela.
Já a Bolívia, como não goza dos mesmos benefícios de recursos no seu país utilizou da folha da coca e de outros recursos indígenas para difundir as suas ideias socialistas em todo o país, culminando assim no referendo que refundou a Bolívia como Estado Plurinacional em 2009 graças a setores que propagaram a ideologia marxista-socialista. 
Portanto, a ascensão das esquerdas na América latina se dá justamente ao descontentamento das políticas liberais e imperialistas que tanto dominou vários países. Mediante o sucesso da revolução cubana, fez com que houvesse o surgimento de novas esquerdas na América latina. Diversificada, em suas formas de se chegar ao poder, mas unificada com um único objetivo: a forte oposição ao capitalismo, e a implantação das políticas socialistas. E como podemos ver no documentário, a oposição às políticas econômicas de livre mercado, o qual historicamente foram impostos pelos EUA e pelo FMI, e as suas falhas para aliviar o problema da desigualdade social na América Latina o que por sua vez contribuiu para que houvesse a ascensão de líderes socialistas ao poder em diversas partes da América Latina.
REFERENCIAS
Documentário: Ao sul da Fronteira (2009) disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=8hFun4E3cuA
ARAUJO, Rafael. Apropriações da Revolução Cubana pela esquerda latino – americana no início do século XXI. IN: SALES, Jean, ARAUJO, Rafael, MENDES, Ricardo e SILVA, Tiago. Disponível em: http://www.ifs.edu.br/propex/antigo/index.php/noticias/38-edifs-outros-lancamentos. Acesso: Junho de 2020.
Material Didático.

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