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Alguns Conceitos Dor incidente x intermitente: a dor intermitente é aquela imprevisível, já a incidente relaciona-se a uma atividade específica que o paciente realiza, sendo previsível e facilmente reproduzida. • Dor emergente: exacerbação inesperada da dor.• Alodínia: dor em resposta a estímulos que normalmente não são dolorosos.• Hiperalgesia: dor exacerbada em resposta a estímulos dolorosos.• Vias supressoras da dor: exercem atividade inibitória sobre a dor no sistema nervoso central, provocando alterações durante a transferência das informações nociceptivas. • Exemplos: endorfinérgicas, encefalinérgicas, neurotensinérgicas, gabaérgicas, serotoninérgicas, noradrenérgicas, colinérgicas, glutamatérgicas, dopaminérgicas, calcitoninérgicas e histaminérgicas Dor Aguda x Crônica || || Via Neospinotalâmica <== ==> Via Paleoespinotalâmica Fibras A-delta (pouco mielinizadas) Fibras C (amielinizadas) Passagem pelo Trato espinotalâmico lateral Passagem pelo Trato epino-reticular Componente sensitivo-discriminativo Componente afetivo-motivacional Componente sensitivo-discriminativo Componente afetivo-motivacional Via responsável pela dor rápida, pois Via responsável pela dor lenta, pois possui fibras mais calibrosas e mielizanadas possui fibras menos calibrosas e amielizadas Ativação de nociceptores térmicos ou mecânicos Nociceptores polimodais Envolve Sensibilização Central Nociceptiva x Neuropática || || Participação dos nociceptores <== ==> Lesão direta no Sistema Nervoso Envolvida na dor somática e visceral Mais relacionada com dor crônica Descrita como: Descrita como: Normalmente, dolorida ou pontadas Em queimação, pulsátil ou em formigamento Mecanismo da dor Neuropática: Efeitos periféricos + Ação central || || \/ \/ Lesão aguda de tecidos => liberação aminoácidos excitatórios (como persistente de mediadores inflamatórios, aspartato e glumatato) e substância P como bradicinina, histamina, prostaglandinas ligam-se a receptores nos neurônios e substância P => redução do limiar de de transmissão do corno dorsal da ativação dos nociceptores medula espinal => acentuação e + prolongamento da Indução de descargas ectópicas despolarização => maior sensibilidade + dos nociceptores e alterações duradouras lesão das fibras nervosas => presença de nos neurônios de transmissão do corno mediadores inflamatórios => aumento dos dorsal => sensibilização central => amplia canais voltagem-dependentes (no caso da a dimensão do campo receptivo, redução lesão das fibras A-delta e C, surgem novos do limiar de percepção da dor e acarreta canais de cálcio estimuláveis a mínimos em hipersensibilidade a vários estímulos estímulos sensoriais) => entrada de cálcio + na membrana e consequente descargas ectópicas por nervos despolarização => perpetuação da dor regeneradas após lesão => nervos que + geralmente não transmitem estímulos maior expressão de adrenorreceptores na dolorosos podem se projetar para membrana neuronal, ao lado de proliferação regiões mais superficiais do corno de terminais simpáticos => neurônios sensitivos dorsal, onde normalmente ocorre com sensibilidade aumentada a primeira sinapse para transmissão + da dor => dor por estímulos inócuos Excitação cruzada efática: processo + fisiopatológico pelo qual, a partir de fibra nervosa regeneração de nervos danificada, há o desenvolvimento de curto-circuito pode causar desorganização elétrico por correntes iônicas com fibras nervosas sensorial => organização somato adjacentes intactas trópica dos estímulos aferentes + torna-se desorganizada atividade ectópica local: lesão neural, que ativa + macrófagos, que infiltram nervos e glânglios da perda dos controles raiz dorsal, liberando citocinas pró-inflamatórias, inibitórios => maior chance de principalmente o fator de necrose tumoral alfa neurônios do corno dorsal dispararem estímulos aferentes primários espontaneamente ou com maior intensidade + Wind up ou Somação temporal da segunda dor Dor Somática x Visceral || || Tipicamente bem localizada <== ==> Tipicamente mal localizada Superfície cutânea ou Vísceras (estruturas profundas) estruturas musculoesqueléticas onde há nociceptores silentes Envolve uma via com fibras aferentes Normalmente não ativados por somáticas numerosas e que penetram estímulos dolorosos, mas inflamação e na medula espinal em determinado agentes químicos reduzem seu limiar segmento, por isso é bem localizada de ativação Sua má localização e característica difusa são devido a pouca quantidade de fibras aferentes viscerais e por penetrarem no corno posterior da medula em vários níveis Dor Inflamatóriae Referida x Irradiada Dor Inflamatória A dor inflamatória ocorre devido ao grau da lesão tissular, há envolvimento de mediadores inflamatórios agudos e crônicos, que reduzem o limiar de condução e sensibilizam o sistema nervoso central ao estímulo que chega, potencializando a dor. Dor referida x irradiada Dor referida pode ser definida como uma sensação dolorosa superficial percebida distante da estrutura onde se originou (visceral ou somática). A explicação da dor referida é a convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos, superficiais e profundos, para neurônios nociceptivos, localizados no corno dorsal da medula espinal, sobretudo na lâmina V. Como o sistema tegumentar apresenta maior suprimento nervoso nociceptivo, sua representação talâmica e cortical é superior a das estruturas profundas somáticas e viscerais, que apresentam menor suprimento nervoso nociceptivo. Por conta disso, impulsos dolorosos originados nas estruturas profundas podem ser interpretados pelo cérebro como provenientes do tegumento, causando percepção de dor naquele local. São exemplos de dor referida: dor na face interna do braço (dermátomo T1) em pacientes com infarto agudo do miocárdio; dor epigástrica ou periumbilical (dermátomos T6 a T10) na apendicite; dor no ombro (dermátomo C4) em indivíduos com lesão diafragmática ou irritação do nervo frênico. Dor irradiada caracteriza-se por ser sentida à distância de sua origem, mas em estruturas inervadas pela raiz nervosa ou em um nervo cuja estimulação é responsável pela dor. Característica importante da dor irradiada é que obedece claramente à distribuição metamérica. Exemplo clássico é a ciatalgia, provocada pela compressão de uma raiz nervosa por hérnia de disco lombar. Tratamento farmacológico da Dor A escada analgésica da OMS foi primeiramente proposta para o tratamento da dor oncológica, mas atualmente utilizada em diversos outros contextos. É uma classificação que se baseia na gravidade da dor: 1. Os medicamentos do primeiro degrau são usados para dor leve, geralmente graduada de 1 a 3 em uma escala de 11 pontos, na qual 0 significa ausência de dor e 10 a dor mais intensa possível. Nesse contexto, utiliza-se analgésicos não opioides, como acetomifeno ou AINEs. 2. Os medicamentos do segundo degrau são usados para dor moderada, geralmente graduada de 4 a 6. Nesse contexto, utiliza-se opioides "fracos", como hidrocodona, codeína e oxicodona de baixa dose. 3. Os medicamentos do terceiro degrau são usados para dor intensa, graduada de 7 a 10. Nesse contexto, utiliza-se opioides "fortes", como morfina, hidromorfona, oxidocodona em dose alta, fentanil e metadona. Além disso, em qualquer nível da escada, pode ser necessário o uso dos analgésicos adjuvantes, como os antidepressivos, anticonvulsivantes e antagonistas da NMDA. Classe de Fármacos e mecanismos de ação AINES Atuam na inibição da COX | | => antitrombótico | | | | => maioria inibe COX 1 e COX 2, como AAS, ibuprofeno e dipirona | | | => maior efeito adverso no TGI | => seletivos para COX 2 (coxibes) - maior efeitos adversos cardiovasculares Diminuem prostaglandina E2 e prostaciclina => diminuição da vasodilatação => redução indireta do edema causado pela inflamação Efeito antipirético: no SNC, impedem o mecanismo da IL-1 liberar prostaglandinas que elevam a temperatura no ponto de ajuste hipotalâmico. Dessa forma, inibem a ação inflamatória dependente de prostaglandinas! Mecanismo de analgesia: Menor produção de PG => Menos mediadores inflamatórios, como bradicinina => Menor sensibilização dos nociceptores Além disso, inibem a reação inflamatória espinal mediada pela micróglia, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da sensibilização espinal, e ativam o mecanismo inibitório descendente. Ambos os mecanismos são mediados por COX-2 e por prostaglandinas. Indicações e contra indicações: Como não atuam na origem e transmissão dos impulsos nervosos, mas apenas bloqueiam o desenvolvimento da sensibilização e da facilitação inflamatória, em dores agudas muito intensas e/ou em lesões de maior importância os AINEs não serão tão eficientes. => Possuem efeito teto AINHs são mais eficientes naqueles casos em que a mediação é principalmente PG-dependente, como os processos osteoarticulares, o espasmo das vias urinárias, a inflamação do tecido celular subcutâneo, o traumatismo, etc. Processos inflamatórios das vias aéreas, como rinite e asma, mediados principalmente por leucotrienos e PAF, ao contrário, podem até ser agravados pelo uso dos antiinflamatórios convencionais. Uso crônico pode causar lesão gástrica e intestinal, com risco de hemorragia, ulceração e perfuração, que levam à morte. Efeitos causados pela inibição da função protetora gástrica de prostaglandinas sintetizadas pela COX1. Maior atenção deve ser dada ao uso por idosos e paciente com insuficiência renal. Especificidades de alguns AINEs: AAS: maior efeito antitrombótico, devido maior inibição da síntese de tromboxano plaquetário, pois inativa a COX irreversivelmente. Dessa forma, são indicados em paciente com maior risco de trombose, por exemplo pós IAM. • Ibruprofeno: utilizado para ação analgésica com uso a curto prazo.• Naproxeno e piroxicam indicados para dores crônica, geralmente combinados com um opioide de baixa potência, como a codeína. • Dipirona: vantajosa em relação ao Paracetamol, por não possuir efeito teto.• *Paracetamol: Inibe produção de PG no SNC, mas possui pouco efeito de inibição na COX perifericamente, devido à inativação periférica. O que contribui para seu pouco efeito anti- inflamatório, fazendo com que alguns autores não o considerem um AINE. Possui maior efeito antipirético, pois por ser mais lipofílico, consegue atingir melhor o SNC, obtendo maior ação anti-térmica. No entanto, é fracamente anti-inflamatório, também por não conseguir passar pela água acumulada no edema. Sua fraca ligação com a COX conferem rápido efeito e eliminação. O paracetamol é um substituto adequado para os efeitos analgésicos e antipiréticos dos AINEs em pacientes com problemas ou riscos gástricos, nos quais o prolongamento do tempo de sangramento não é desejável, e naqueles que não necessitam da ação antiinflamatória dos AINEs. O paracetamol é o analgésico/antipirético de escolha para crianças com infecções virais ou varicela, pois o AAS oferece risco de síndrome de Reye. AIE (corticoides) Atuam na diminuição da expressão da fosfolipase A2, inibindo a produção do ácido araquidônico || \/ Possuem maior efeito antiinflamatório por também inibirem outros mediadores inflamatórios, como bradicinina, leucotrienos, PAF, TNF alfa, IL-1. O corticosteroide primário é a hidrocortisona, que é o padrão para a comparação das propriedades farmacológicas dos diversos corticosteroides sintéticos. Foram desenvolvidos muitos agentes sintéticos mais potentes, que têm durações de ação mais prolongadas, que apresentam atividade anti-inflamatória e que ocasionam menos efeitos colaterais mineralocorticoides indesejados do que a hidrocortisona. Existem evidências que apoiam o uso de corticosteroides em protocolos de analgesia multimodal contribuindo com a recuperação pós-operatória para pacientes por meio da minimização de doses opioides e, consequentemente, com menos efeitos colaterais. A dexametasona prolonga a duração do bloqueio anestésico local. A injeção peridural de corticosteroides foi usada para o tratamento da dor lombar (principalmente decorrente da irritação da raiz nervosa). A única eficácia comprovada das injeções peridurais de esteroides é sua capacidade de acelerar a resoluçãoda dor nas pernas (“ciática”) em pacientes com hérnia discal intervertebral aguda e associada à dor radicular. O uso ao longo prazo acarreta em diversos efeitos adversos sistêmicos, por conta disso uso crônico de corticoide não é recomendado. Apenas para quadros agudos de dor forte, devido a ação mais potente desses fármacos. Podem ser úteis nas fases iniciais/agudas de dor neuropática, como em radiculopatias. Limite de uso pela literatura é de 2 anos. No entanto, na prática, utiliza-se até 6 meses. Em caso de doenças crônicas, como artrite, em que o uso crônico é necessário, realiza-se um "rodízio" de medicamentos, transitando entre diferentes coticoides após o desmame. Opioides Analgésicos potentes que atuam em receptores opioides endógenos. Agonistas opioides puros são os principais fármacos para controle da dor oncológica. Mecanismos de ação: Abertura de canais de potássio + Fechamento de canais de || cálcio voltagem-dependentes || (inibição da entrada de cálcio) \/ || Hiperpolarização da membrana \/ || redução da liberação de \/ transmissores Menos provável de potenciais de ação serem disparados || \/ Menor excitabilidade neuronal (inibição da despolarização) Especificidades dos principais opioides: Morfina: fármaco de base dessa classe; possui via de administração a oral e injeção intratecal; como principais efeitos adversos há sedação, depressão respiratória, constipação intestinal, náuseas e vômitos, prurido devido a liberação de histamina; e, euforia. Quando utilizada para analgesia, tolerância e sintomas de abstinência não são comuns. • Oxicodona: utilizada para dores agudas e crônicas, com via de administração a oral e injetável. Possui os mesmos efeitos adversos da morfina. Hidrocodona, usada primariamente nos EUA, é semelhante. • Metadona: utilizada para dor crônica e manutenção de dependentes. Vias de administração possíveis são a oral e injetável. Ao contrário dos demais, possui meia vida longa (maior que 24h) e seu início de ação é lento. Também possui os mesmos efeitos adversos da morfina, mas com menor efeito eufórico. Pode ocorrer acúmulo e uma recuperação lenta resulta em síndrome de abstinência atenuada em consequência da meia-vida longa. • Possibilita a administração a cada 8 h para se obter analgesia. Além de se ligar aos receptores opioides μ, esse fármaco atua como antagonista de receptores N-metil- D- aspartato (NMDA), facilitando assim o controle da dor neuropática. Somados ao seu custo baixo, esses atributos têm resultado em crescente utilização de metadona para aliviar a dor. A metadona é metabolizada principalmente pelo CYP3A4, mas também pelo CYP2D6 e CYP1A2. Desse modo, os fármacos que induzem as enzimas do CYP, como agentes antirretrovirais, dexametasona, carbamazepina, fenitoína e barbitúricos (são frequentemente utilizados como paliativos); aceleram o metabolismo da metadona e diminuem seus níveis séricos. O paciente pode ter diminuição da duração do efeito analgésico ou menos alívio da dor. Já os fármacos que inibem as enzimas do CYP, como cetoconazol, cimetidina, omeprazol e inibidores seletivos da recaptação da serotonina (incluindo fluoxetina, paroxetina e sertralina); retardam o metabolismo da metadona e podem causar sedação e depressão respiratória. Fentanila: utilizada para dor aguda e anestesia. Vias de administração possíveis são a intravenosa, sublingual e adesivo transdérmico. Possui os mesmos efeitos adversos da morfina. Sufentanila é semelhante. • Codeína: eficaz apenas para dor moderada; via oral. Atua como profármaco, metabolizada em morfina e outros opioides ativos. Como efeito adverso apresenta principalmente constipação intestinal. Possui baixa dependência. Di-hidrocodeína é semelhante e utilizada também para suprimir a tosse. • Tramadol: utilizada para dor aguda, principalmente pós-operatória, e crônica. Como vias de administração há a oral e a intravenosa. É bem absorvido. Como efeitos adversos pode ocorrer tontura e convulsões, mas sem depressão respiratória. É análogo sintético da codeína que atua como agonista fraco do MOR, um dos receptores de opioides e inibe a captação de monoaminas. Tapentadol é semelhante. Não deve ser usado por pacientes tratados com inibidores de MAO, ISRS ou outros fármacos que reduzem o limiar convulsivo. • Tramadol liga-se ao MOR => bloqueia liberação do GABA (transmissor inibitório) => projeções da SCP (substância cinzenta periaquedutal) ao bulbo ativam liberação bulboespinal de NE e 5-HT (serotonina) no corno dorsal da medula => atenuação da excitabilidade do corno dorsal Antidepressivos Maioria dos fármacos antidepressivos possuem rápido início neuroquímico, mas início demorado de efeitos antidepressivos. Possuem as seguintes categorias: Inibidores da recaptação de monoaminas Inibidores seletivos da recaptação da serotonina (5-HT) (ISRS) (p. ex., fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina, sertralina, citalopram, escitalopram, vilazodona) ○ Antidepressivos tricíclicos (ADT) clássicos (p.ex., imipramina, desipramina, amitriptilina, nortriptilina, clomipramina). Estes variam na sua atividade e seletividade no que diz respeito à inibição da recaptação de norepinefrina e 5-HT ○ Inibidores mais recentes e misturados da recaptação de norepinefrina e 5-TH (p. ex., venlafaxina [um pouco seletiva para 5-HT, embora menos que os ISRS], desvenlafaxina, duloxetina) ○ Inibidores da recaptação da norepinefrina (p. ex., reboxetina, atomoxetina, bupropiona)○ A preparação da erva-de-são-joão, cujo principal ingrediente ativo é a hiperforina, tem eficácia clínica semelhante à maioria dos antidepressivos prescritos. É inibidor fraco da recaptação, mas também tem outras ações. ○ • Antagonistas do receptor da monoamina: Fármacos como mirtazapina, trazodona, mianserina são não seletivos e inibem uma variedade de receptores, inclusive os receptores α2-adrenérgicos e 5-HT2. Também apresentam efeito brando sobre a recaptação de monoaminas. • Inibidores da monoamina oxidase (IMAO): Inibidores irreversíveis não competitivos (p. ex., fenelzina, tranilcipromina) que não são seletivos com respeito aos subtipos MAO-A e B ○ Inibidores reversíveis seletivos para MAO-A (p. ex., moclobemida).○ • Agonista do receptor de melatonina: A agomelatina é um agonista dos receptores MT1 e MT2 da melatonina e um antagonista fraco de 5-HT2C. • Mecanismo de ação dos ISRS: Inibição da recaptação de serotonina (5-HT) para o terminal neural => acúmulo de 5-HT na sinapse No entanto, esse efeito é limitado, pois, ao perceberem a maior ativação de 5-HT1A nos receptores da corpo celular, os dendritos dos neurônios da rafe inibem esses neurônios, levando a diminuição da liberação de 5-HT. Além disso, em um tratamento prolongado com esses fármacos, a elevação dos níveis de 5-HT na região somatodendrítica dessensibiliza os receptores 5-HT1A, reduzindo seu efeito inibitório sobre a liberação de 5-HT pelos terminais nervosos. Efeitos adversos incluem náuseas, insônia e disfunção sexual. Os ISRS são menos sedativos e têm menor quantidade de efeitos adversos antimuscarínicos que os ADT mais antigos. Não provocam reações alimentares, mas pode ocorrer a perigosa “reaçãoda serotonina” (hipertermia, rigidez muscular, colapso cardiovascular) se administrados com IMAO. Há preocupação sobre o uso de ISRS em crianças e adolescentes em virtude dos relatos de aumento dos pensamentos suicidas no início do tratamento. Mecanismo de ação dos ADT: A maioria dos ADT inibe a recaptação de norepinefrina e de 5-HT, mas tem muito menos efeito sobre a recaptação de dopamina. Além de seus efeitos sobre a recaptação de aminas, a maioria dos ADT afeta outros receptores, incluindo os receptores colinérgicos muscarínicos, os receptores de histamina e os receptores de 5-HT. Os efeitos antimuscarínicos dos ADT são responsáveis por vários efeitos adversos, como boca seca, visão embaçada, constipação intestinal e retenção urinária. Esses efeitos são pronunciados com a amitriptilina e muito mais fracos com a desipramina. Ocorre hipotensão postural com os ADT, o que possivelmente resulta de um efeito sobre a transmissão adrenérgica no centro vasomotor bulbar. O outro efeito adverso comum é a sedação, e a longa duração de ação significa que o desempenho diurno costuma ser afetado por sonolência e dificuldade para se concentrar. Os ADT, particularmente em superdosagem, podem causar arritmias ventriculares associadas ao prolongamento do intervalo QT. As doses terapêuticas habituais dos ADT aumentam um pouco, porém de maneira significativa, o risco de morte súbita de causa cardíaca. Os ADT têm particular probabilidade de causar efeitos adversos quando administrados juntamente com outros fármacos. Eles dependem do metabolismo hepático por enzimas dos citocromos microssomais P450 (CYP) para a eliminação, e este pode ser inibido por fármacos competidores (p. ex., fármacos antipsicóticos e alguns esteroides). Os ADT potencializam os efeitos do álcool e dos anestésicos por motivos que não são bem compreendidos, e têm ocorrido mortes em decorrência disso, havendo depressão respiratória grave após consumo mais intenso de bebidas alcoólicas. Os ADT também interferem na ação de vários anti-hipertensivos, com consequências potencialmente perigosas, de modo que seu uso nos hipertensos exige monitoramento constante. Anticonvulsivantes Indicados para tratamento de dor neuropática. Mecanismo de ação: Atua nos canais de sódio ou cálcio, impedindo a condutância de estímulos dolorosos voltagem- dependentes. Carbamazepina: bloqueia canais de sódio, suprimindo assim a atividade espontânea de fibra A-delta e C e a atividade espontânea ectópica periférica • Gabapentina: bloqueia canais de cálcio, assim como a pregabalina. Gabapentina é um análogo do GABA (neurotransmissor inibido no mecanismo da dor neuropática), mas com mecanismo de ação exercido ao se ligar a subunidade α2δ do canal de cálcio. Seu efeito é exercido tanto sobre dor paroxística como na hiperalgesia e alodinia. Atualmente é o anticonvulsivante de primeira escolha para tratamento da dor neuropática. • Doses efetivas da gabapentina vão de 1.800 a 3.600 mg/dia, porém o início deve ser de dose baixa (300 mg/dia), aumentando-se gradualmente. Os efeitos colaterais são menos expressivos e incluem sonolência, vertigem e, menos frequentemente, sintomas gastrintestinais e leve edema periférico. Antagonistas Muscarínicos Antagonistas muscarínicos => bloqueio dos receptores muscarínicos nas células neuroefetoras em junções parassimpáticas (e simpáticas colinérgicas) nos gânglios periféricos e no SNC => efeitos da Ach evitados Em geral, os antagonistas muscarínicos causam pouco bloqueio nos receptores nicotínicos. Entretanto, os antagonistas de amônio quaternário em geral mostram graus mais acentuados de atividade bloqueadora nicotínica e, por isso, interferem mais na transmissão ganglionar ou neuromuscular. Além disso, diferentes antagonistas e doses terapêuticas afetam de forma distinta as funções fisiológicas dos órgãos, devido suas variações de sensibilidade ao bloqueio dos receptores muscarínicos. Dentre os diferentes efeitos sistêmicos, no trato GI, os antagonistas muscarínicos, como a escopolamina do Buscopan, além de serem usados para diminuir a secreção gástrica no tratamento da úlcera péptica, são utilizados como fármacos antiespamódicos para distúrbios GI, de acordo com o seguinte mecanismo: Bloqueio dos receptores muscarínicos => menor ação da Ach => inibição prolongada da atividade motora do estômago, duodeno, jejuno, íleo e cólon = redução do tônus e da amplitude e frequência das contrações peristálticas No entanto, para esse efeito, são necessárias doses relativamente altas, pois o sistema nervoso entérico regula a motilidade independente do controle parassimpático, sendo os nervos parassimpáticos apenas moduladores dos efeitos do sistema nervoso entérico. Embora a atropina*1 neutralize completamente os efeitos dos agonistas muscarínicos na motilidade e secreções GI, ela não inibe completamente as respostas GI à estimulação vagal. Essa diferença, particularmente impressionante nos efeitos da atropina na motilidade intestinal, pode ser atribuída ao fato das fibras pré-ganglionares vagais que inervam o trato GI fazerem sinapse não só com fibras colinérgicas pós-ganglionares, mas também com uma rede de neurônios não colinérgicos intramurais que formam os plexos do sistema nervoso entérico e utilizam neurotransmissores cujos efeitos a atropina não bloqueia (p. ex., 5-HT, dopamina e vários peptídeos). *1: atropina é o antagonista muscarínico de referência, servindo de base para entender os usos terapêuticos dos vários antagonistas muscarínicos Dessa forma, os efeitos adversos são consequências previsíveis do bloqueio dos receptores muscarínicos, podendo causar xerostomia, constipação, visão turva, dispepsia e prejuízos cognitivos. As doses necessárias para ação antiespamódica no trato GI causam também dilatação da pupila; inibição da acomodação do cristalino à visão de perto; aumento da frequência cardíaca, devido ao bloqueio dos efeitos vagais no coração; inibição da micção; e, diminuição da secreção salivar. São contraindicados em casos de obstrução do trato urinário, obstrução GI, glaucoma de ângulo fechado descontrolado (ou suscetibilidade para ataques de glaucoma) e devem ser usados com extrema cautela em pacientes com hiperplasia prostática benigna. Combinações medicamentosas O motivo por trás da coadministração de dois fármacos que produzam analgesia por diferentes mecanismos é que, se os efeitos forem aditivos, é possível administrar quantidades menores de ambos os fármacos e, ainda assim, produzir o mesmo grau de analgesia. Isso possui o efeito de reduzir a intensidade dos efeitos adversos produzidos por cada fármaco. Possíveis combinações: Opioides (p. ex., codeína) em associação com o paracetamol ou ácido acetilsalicílico parece produzir sinergia em vez de simples efeito aditivo. A combinação do dextropropoxifeno com o paracetamol foi retirada do Reino Unido devido a preocupações com superdosagem. • Para tratamento da fibromialgia: Naproxeno (AINE indicado para dor crônica, devido sua maior potência e ação prolongada) com amitriptilina (ADT); Ibuprofeno (AINE com maior ação anti-inflamatória) com alprazolam (benzodiazepínico); Tenoxicam (AINE) com bromazepam (benzodiazepínico) • Dor – Fisiopatologia e Farmacoterapia 07/01/2021 16:43
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