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TUTORIA 2 1. Compreender dor crônica Dor nociceptiva: Manifesta-se quando a via dolorosa ou o receptor nervoso aos estímulos da dor, que é chamado de nociceptor, é ativado fisiologicamente por meio de um estímulo nocivo. A origem da dor nociceptiva está associada a lesões de tecidos, ossos, músculos e ligamentos. Osteoartrite, por exemplo, caracterizada por inflamações em algumas articulações, causa a dor nociceptiva. Alguns estudos dividem a dor nociceptiva em visceral e somática. Enquanto esta última é caracterizada por se manifestar na superfície do corpo, a visceral, como o nome diz, atinge órgãos internos e, por vezes, é mais difícil de se determinar. No entanto, em termos gerais, a literatura científica descreve a dor neuropática como local e referida. Dor neuropática É definida como dor causada por lesão ou disfunção do sistema nervoso. Esse tipo de dor geralmente está associado a algumas patologias, como o acidente vascular encefálico (AVC), a esclerose múltipla, lesões na medula, tumores, diabetes, entre outros. A dor neuropática diabética, por exemplo, costuma piorar à noite; já a conhecida neuralgia do trigêmeo é descrita como uma dor “em facadas” em um lado da face, sendo habitualmente muito severa. Outro tipo de dor neuropática encontrada na prática clínica é aquela secundária ao herpes zoster. Pode ser grave, incapacitante e durar meses. O diagnóstico da dor neuropática pode ser dificultado pela incapacidade de se identificar e medir a sensação dolorosa, muitas vezes referida de forma muita imprecisa pelo paciente. Diversas doenças podem evoluir para síndromes dolorosas crônicas sendo as de maior freqüência as dores lombares, fibromialgia e dor miofascial, cefaléias, neuropatias periféricas, dor fantasma, neuralgia do trigêmeo, neuralgias atípicas da face e dores orofaciais, síndrome dolorosa regional complexa e a dor oncológica. Esta última é considerada por muitas agudas, mas será abordada aqui pela longa evolução. Dor lombar 1º ou 2º causa de prevalência de queixa dolorosa ¼ dos casos são crônicos Pode se apresentar como episódio isolado, como dor contínua ou com crises recorrentes de gravidade variável Maioria dos casos é inespecífico e autolimitado, não se podendo diagnosticar alterações anatômicas ou fisiopatológicas, e desaparecem em poucas semanas Casos com origem específica, onde é possível identificar fontes de estimulação nociceptiva, relacionam-se à hérnia de disco, espondilolistese, estenose do canal espinhal, instabilidade da coluna, fratura de vértebras, tumores, infecção ou doença inflamatória O diagnóstico da origem da dor lombar é muito importante e deve ser realizado através de exame físico geral, exame neurológico e exames de diagnóstico por imagem Hérnia de disco O mecanismo de lombalgia ou lombociatalgia por hérnia de disco decorre da compressão ou irritação das terminações nervosas, pela saída do núcleo pulposo (devido a degeneração ou aumento brusco da pressão) para fora dos limites do disco. Amostras de disco intervertebral herniado exibiram altas concentrações de fosfolipase A2, enzima responsável pela liberação do ácido araquidônico da membrana celular. Esta liberação e a ação de enzimas extracelulares permite a formação dos eicosanóides que participam da Dor reação inflamatória e sensibilização periférica dos nociceptores. Esgotada a fase propedêutica e não sendo possível encontrar causa específica, inicia-se tratamento com repouso e analgésicos não opióides antiinflamatórios na fase aguda, associados a fisioterapia antiálgica. Nos casos de hérnia de disco com compressão radicular pode-se indicar também a infiltração com corticosteróides no espaço peridural. Esta opção é indicada também em outras situações clínicas como radiculopatias, fibrose pós-laminectomia, lombociatalgia crônica ou recorrente, estenose de canal vertebral, dor póslaminectomia e hérnia de disco cervical. A via de acesso ao espaço peridural tem sido lombar ou pelo hiato sacral. Dentre os corticóides os empregados foram metilprednisolona, em doses de 40 a 120mg, a triancinolona (40-60mg), hidrocortisona (50-125mg) e dexametasona (15mg). A associação do corticosteróide com anestésicos locais (bupivacaína 0,25%) em volume de 4 a 8ml mostrou-se superior em eficácia do que o uso isolado de corticosteróide ou sua diluição em solução fisiológica. Já a adição de opióides tanto hidrofílicos como lipofílicos não modificou a resposta ao tratamento. As complicações relatadas com o método são de baixa incidência e incluem meningite bacteriana, síndrome de cauda eqüina, abscesso peridural, síndrome de Cushing e hemorragia de retina. Há supressão transitória da adrenal, com as concentrações plasmáticas de cortisol e ACTH diminuídas, bem como de cortisol urinário. Estas alterações são observadas em intensidade máxima com 2-7 dias da aplicação e há retorno da normalidade em torno do 21 dia após o tratamento. Este ciclo justifica o espaçamento das injeções em 3 semanas e o limite de 3 aplicações por série, o que minimiza a possibilidade de síndrome de Cushing. Espondilolisteses, instabilidade na coluna e fratura de vértebras Nas espondilolisteses e instabilidade da coluna a imobilização com coletes pode controlar a dor. Quando há fraturas de corpos vertebrais originadas por osteoporose, além da imobilização e analgésicos, é necessário instituir tratamento específico para prevenir a evolução da doença. A dor lombar pode decorrer também de síndrome facetária, seja por processo degenerativo ou por procedimento cirúrgico na coluna vertebral. Neste caso bloqueios facetários com anestésico local e corticosteróide ou através de radiofreqüência podem aliviar o sintoma doloroso. Nos casos de procedimento cirúrgico na coluna vertebral (ex: TTO de hérnia de disco), pode surgir fibrose envolvendo o espaço peridural e raízes nervosas. A dor destes pacientes pode ser controlada com infiltração de corticóide associado a anestésicos locais no espaço peridural. Fibromialgia e dor miofascial Dor miofascial Uma das causas mais comuns de dor cervical ou lombar Apresenta duas características principais: ser localizada em um músculo ou grupo de músculos em determinada área do corpo e possuir pontos-gatilho. Pontos-gatilho: são nódulos hiperirritáveis da musculatura, que ao exame físico deslizam sob os dedos do examinador como um cordão, situados na intimidade da musculatura esquelética. A fisiopatologia do aparecimento destes pontos não é clara. O tratamento abrange medicação sistêmica, técnicas invasivas e medicina física. Na área da medicação sistêmica os antiinflamatórios não hormonais e os antidepressivos tricíclicos (não os inibidores específicos de recaptação de serotonina) mostraram-se eficazes. É provável que os relaxantes musculares de ação central, como benzodiazepínicos e baclofeno, também sejam benéficos. A injeção dos pontos-gatilho tem sido recomendada como medida auxiliar à medicação sistêmica, para tal tem sido usado anestésico local, solução fisiológica de cloreto de sódio, corticoesteróides, combinações destes fármacos e até o agulhamento seco. A fisioterapia parece ser a medida mais efetiva para tratar dor miofascial, através de diversas técnicas que tentam restabelecer a elasticidade do grupo muscular afetado Fibromialgia Pacientes com fibromialgia apresentam alteração na fisiologia do músculo esquelético e anormalidade nos neurotransmissores relacionados aos circuitos antinociceptivos no SNC. Esses pacientes possuem limiar para dor diminuído, não somente nos pontos dolorosos como também em pontos- controle. Os pontos dolorosos na fibromialgia são diferentes dospontos-gatilho, porque são áreas dolorosas sem as características de nódulos ou cordões. Distribuem-se em áreas específicas da musculatura e acompanham-se de fadiga e alterações do sono. As alterações de humor, depressão ou ansiedade acompanham freqüentemente o quadro de fibromialgia O tratamento é feito com antiinflamatórios não hormonais, antidepressivos tricíclicos e fisioterapia. As tentativas de infiltração dos pontos dolorosos têm sido desanimadoras. O suporte com tratamento psicológico é fundamental. Dor orofacial e cefaleias Cefaléias a) Cefaleias primarias: quando acompanha um quadro infeccioso, traumático ou tumoral. São divididas em 3 tipos: Cefaléia tipo tensão: A dor é bilateral, de fraca ou média intensidade, em caráter de peso ou pressão (jamais latejante) e durando de 30 minutos a dias. O tratamento das crises é feito com analgésicos comuns como ácido acetilsalicílico, dipirona ou paracetamol. Para o tratamento de base o grupo farmacológico mais indicado é o dos antidepressivos tricíclicos. Cefaléia em salvas: Na forma episódica, que é a mais comum, a dor é muito intensa, descrita pelo paciente como insuportável (ou excruciante) durando de 45 minutos a 2 horas. As crises podem ocorrer de uma a três vezes por dia e são comuns durante o sono. A dor é quase sempre unilateral, atingindo a região do território do trigêmeo, pode haver dor extratrigeminal, como região occipital, nuca, ombro e pericarotídea. Sinais neurovegetativos acompanham os episódios de cefaléia, como congestão nasal e conjuntival, lacrimejamento, rinorréia, sialorréia, edema periorbitário e bradicardia. Os fenômenos neurovegetativos manifestam-se ipsolateral em relação à dor. A forma crônica difere da episódica, pois não há a remissão prolongada dos sintomas, sendo o intervalo máximo de crises de 14 dias. Enxaqueca ou migrânea: Pode apresentar-se com ou sem aura, em crises oftalmoplégicas e retinianas. Possui caráter familiar e manifesta-se por crises de dor com evolução episódica ou recorrente. A fisiopatologia das cefaléias é bastante discutida, mas apenas alguns aspectos estão esclarecidos. Sabe-se, assim, que nas cefaléias em salvas, bem como na migrânea há uma ativação do sistema trigeminovascular. A ativação do sistema trigeminovascular é feita por descargas antidrômicas nos neurônios sensitivos do V par craniano, com concomitante ativação reflexa dos núcleos parassimpáticos do tronco encefálico por interneurônios que os conectam ao núcleo do trato espinhal. Todo o processo parece ser desencadeado por influência de áreas superiores do sistema nervoso central. Durante uma crise de migrânea com aura observa- se reduçao do fluxo sangüíneo cerebral regional, no polo posterior de um dos hemisférios. Esta área de fluxo sangüíneo reduzido aumenta gradualmente e avança para a região anterior, podendo parar em qualquer ponto ou atingir todo o hemisfério. A redução regional do fluxo atinge o limiar de isquemia com concomitante distúrbio do sistema de auto-regulação da área. A dor inicia-se quando o fluxo está reduzido e não se altera posteriormente quando ele aumenta, ultrapassando os valores normais. Nas migrâneas sem aura não foi possível demonstrar a redução regional do fluxo sangüíneo cerebral. A artéria cerebral média fica, no entanto, dilatada do lado em que a dor está manifesta tanto nas migrâneas com aura como nas sem aura. O mesmo ocorre com a artéria temporal superficial. Uma das hipóteses é que a dor nas migrâneas tenha relação com o plexo nervoso intra e extracraniano. b) Cefaleias secundárias: quando constitui uma enfermidade por si própria, podendo ter uma evolução crônica, com apresentação contínua ou episódica recorrente Dor orofacial O diagnóstico e tratamento das dores orofaciais são complexos em decorrência da multiplicidade de estruturas anatômicas na região, mecanismos de dor referida e conteúdo psicológico atribuído à face e cavidade oral Pode ter origem dental, periodontal e mucosa. Na mandíbula em geral associa-se à infecção, tumor ou trauma. Os tumores benignos desta região não são, normalmente, responsáveis por sintoma doloroso, com exceção do osteoma osteóide, que pode desencadear dor de grande intensidade, mas é raro na mandíbula. A glândula salivar é outra fonte importante de dor na boca. Em crianças a principal causa é infecciosa, nos adultos pode decorrer da interrupção do fluxo salivar por cálculos ou rolha de muco com episódios de dor intensa. A sinusite maxilar é outra causa infecciosa de dor na face, irradiando- se eventualmente, para os dentes e órbita. A dor originada na articulação temporomandibular normalmente intensifica-se com a movimentação da mandíbula e irradia-se para o conduto auditivo. Pode decorrer de processos infecciosos, trauma, artrite reumatóide, tumor e disfunção da articulação. Os diversos tipos de cefaléias e as neuralgias faciais, do trigêmeo ou atípicas são causas relativamente freqüentes de dor que devem ser consideradas nos diagnósticos diferenciais. Quadros nosológicos mais raros, como doença oclusiva da carótida externa, arterite e tendinite temporal, bem como distrofia simpático reflexa da face podem estar causando a dor nesta região A neuralgia facial mais frequente é a do nervo trigêmeo, sua fisiopatologia abrange a presença de irritação crônica em algum ponto do trajeto nervoso, associada à deficiência de inibição segmentar no núcleo trigeminal. O quadro clínico é caracterizado por dor em um ou mais ramos do trigêmeo que é provocada por movimentos na face como falar, mastigar, barbear-se. A dor tem grande intensidade e é normalmente de curta duração, durando de segundos até dois a três minutos. Eventualmente diversas crises de dor se superpõem, dando a impressão ao indivíduo que a duração foi longa. É mais comum a partir da quinta década e remissões espontâneas não são incomuns. Um ponto importante no diagnóstico de neuralgia de trigêmeo é a necessidade de diferenciação entre neuralgia primária ou sintomática. Assim crises de neuralgia seguidas por incompleto desaparecimento da dor, com a presença de áreas de hipoestesia ao exame clínico sugerem a possibilidade de neuralgia sintomática, que pode originar-se de diversas doenças como tumores intracranianos ou esclerose múltipla. A investigação com exames complementares é controversa. Atualmente a ressonância magnética com contraste paramagnético, tem sido sugerida, principalmente em pacientes com alterações de sensibilidade ou motricidade. O tratamento clínico da neuralgia do trigêmeo é a primeira opção terapêutica. O objetivo deste tratamento é diminuir a atividade dos focos irritativos ectópicos e aumentar a inibição segmentar. Este objetivo á atingido primariamente com fármacos anticonvulsivantes, sendo os mais utilizados a carbamazepina, clonazepam, difenilidantoína e valproato de sódio. O efeito farmacológico dos anticonvulsivantes é a estabilização da membrana neuronal com diminuição da transmissão sináptica e supressão da atividade espontânea. Além dos anticonvulsivantes são também empregados os antidepressivos tricíclicos, em baixas doses e o baclofeno em doses até 60mg por dia. A monoterapia é recomendável para iniciar o tratamento. Em alguns pacientes a associação destes grupos farmacológicos é benéfica, porém ela deve sempre ser precedida pela tentativa inicial de monoterapia. Nos casos onde o controle clínico é insuficiente, pode-se indicar o tratamento cirúrgico. Diversas técnicas cirúrgicas são empregadas no tratamento da neuralgia de trigêmeo, como a descompressão microvascular do trigêmeo, a coagulação por radiofreqüência do gânglio trigeminal ou sua compressão por microbalão. As técnicas cirúrgicas oferecem graus de risco variável, mas possuem uma incidência de recidiva em um ano aproximadamente iguais. Outro nervo craniano que, quando acometido por processo compressivo ou infecção viral, pode desencadear dores no segmento cefálico é o glossofaríngeo. As regiões com dor são a orelha, base do nariz, fossa tonsilar e ângulo da mandíbula. O tratamento clínico segue os mesmos princípios da neuralgia do trigêmeo. A neuralgia pós-herpética é outra entidade nosológica extremamente importante, pois é a seqüela mais temida do herpes-zóster, podendo atingir o trigêmeo. Após infecção na infância o vírus da varicela fica latente no gânglio da raiz dorsal na medula espinhal, ou no seu correspondente no trigêmeo e pode no paciente idoso ou imunocomprometido reativar-se e causar o herpes zoster. O quadro agudo evolui em 50% a 75% dos casos para neuralgia pós-herpética. O tratamento prevê uma ação na fase aguda do herpes-zóster que inclui tratamento antiviral e analgésico. Os analgésicos mais utilizados nesta fase são os analgésicos não opióides do tipo do paracetamol ou dipirona associados à analgésicos opióides fracos, como a codeína ou o tramadol. O objetivo é manter a dor sob controle com o intuito de impedir sensibilização central. Bloqueios simpáticos no gânglio cervicotorácico, ou na cadeia simpática para espinhal são realizados de acordo com a região da erupção herpética. Na fase crônica o tratamento da neuralgia pós- herpética, seja trigeminal ou em qualquer raiz dorsal desde a região cervical até a sacral é realizado com anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos e neurolépticos. Os bloqueios simpáticos podem também ser realizados na fase crônica. SÍNDROME DOLOROSA REGIONAL COMPLEXA (SDRC) Esta é a nova denominação proposta para as entidades anteriormente denominadas de distrofia simpático reflexa e causalgia. Ela se classifica em dois tipos: tipo I, anteriormente denominada de distrofia simpático reflexa e tipo II, causalgia. A causa mais freqüente de aparecimento de SDRC é o trauma, conseqüente à fratura, imobilização, intervenção cirúrgica, esmagamento, laceração, queimadura. Pode entretanto, decorrer de trauma mínimo, clinicamente imperceptível, como o causado por movimentos repetitivos ou doença sistêmica. O diagnóstico é clínico, sendo o principal elemento para o diagnóstico a dor. A dor caracteriza-se por afetar principalmente os membros com distribuição em bota ou em luva, não respeitando um trajeto nervoso específico. Seu caráter é em queimação e peso, podendo ou não ser acompanhada de fenômenos vasomotores e edema. A hiperestesia e alodínia são comuns, chamando a atenção a desproporção entre a intensidade da lesão e o grau de perda funcional que o paciente relata. De acordo com o grau de lesão e/ou tempo de evolução a SDRC pode ser dividida em três fases, aguda, distrófica e atrófica ou estágios, até três meses de evolução (estágio I), de três a seis meses (estágio II) e acima de seis meses (estágio III). A fisiopatologia da SDRC não está completamente estabelecida mas alterações podem ser observadas no órgão efetor, fibra aferente periférica, neurônio do sistema nervoso simpático, medula espinhal e centros supra-espinhais. A hiperatividade reflexa do sistema nervoso simpático resulta em hipoperfusão da área afetada, liberação de substâncias álgicas e sensibilização dos nociceptores. Além do componente periférico, que deve desempenhar papel relevante uma vez que sua supressão alivia os sintomas dolorosos, há o componente central. O princípio básico do tratamento é proporcionar alívio da dor associado a programa de recuperação funcional. Quando são identificáveis os fatores causais a sua remoção é de extrema importância. Dor oncológica A causa mais freqüente de dor são as metástases ósseas. O tumor metastático nos ossos realiza dois mecanismos: o de destruição e o de neoformação. Dependendo da região óssea atingida, o quadro clínico será de dor localizada ou generalizada. Locais mais freqüentemente atingido pelas metástases ósseas: coluna vertebral, ossos da bacia e ossos longos, costelas e ossos do crânio. Os tumores de mama, pulmão e próstata são as origens mais comuns das metástases ósseas. A invasão tumoral das leptomeninges é comum em pacientes com leucoses, câncer de mama, linfomas e tumores do pulmão. Os pacientes podem apresentar sintomas cerebrais com alterações mentais, letargia, confusão, perda de memória, cefaléia, convulsões, paralisia dos nervos cranianos, marcha atáxica e alterações esfincterianas. Os plexos braquial, lombar e sacro podem ser afetados na evolução do câncer tanto pela proximidade da coluna vertebral e vísceras, como pela invasão tumoral através de linfáticos. Os nervos periféricos podem ser atingidos por infiltração tumoral direta ou por fratura patológica de um osso próximo. São afetados principalmente pelos tumores que invadem os espaços intercostais, paravertebrais ou retroperitoneais. Alguns tumores produzem síndrome paraneoplásica, que se manifestam por neuropatia sensitivomotora. Nos casos de mieloma múltiplo uma neuropatia progressiva precede o dignóstico em 80% dos casos. Algumas síndromes dolorosas relacionam-se com o tratamento do câncer. Nos procedimentos cirúrgicos observam-se seqüelas dolorosas, mais freqüentemente, em mastectomias, quando há lesão do nervo intercostobraquial; em toracotomias com neuralgia intercostal, após esvaziamento cervical e após amputação de membros. A radioterapia e a quimioterapia podem também produzir síndromes dolorosas crônicas. Na fase de realização da quimioterapia uma complicação dolorosa comum são as mucosites, principalmente a mucosite oral, que é muito dolorosa e impede o paciente de alimentar-se e ingerir líquidos. Outro tipo de dor muito comum no câncer é a dor visceral, decorrente da invasão de vísceras ocas, com prejuízo da função ou de metástases em vísceras sólidas com aumento de seu volume e distensão capsular. No tratamento da dor, a primeira abordagem terapêutica é o esquema proposto pela Organização Mundial de Saúde, conhecido como “escada analgésica”. Nesta tática utiliza-se analgésicos com potência crescente de acordo com a intensidade da dor. O primeiro degrau da escada é representado pelos analgésicos não opióides que podem ou não serem associados a fármacos adjuvantes. Este grupo de analgésicos deve ser indicado em presença de dor de intensidade leve até moderada. Quando há aumento da intensidade da dor ou o alívio não chega a ser completo com os analgésicos não opióides acrescentam-se a eles opióides fracos, do tipo codeína, tramadol ou propoxifeno. Na seqüência, ao haver escape do controle da dor por novo agravamento de sua intensidade passa-se a utilizar os opióides fortes. A primeira escolha dentre os opióides fortes é a morfina, mas se houver intolerância ou efeitos colaterais de grande intensidade pode-se utilizar a metadona e a fentanina. Existe a possibilidade de procedimentos cirúrgicos como rizotomia, cordotomia, neuroadenólise da hipófise que podem controlar o sintoma em algumas situações. Os procedimentos neuroablativos têm tido suas indicações restritas. O uso de substâncias neurolíticas no plexo celíaco e hipogástrico é capaz de controlar por longos períodos a dor originada em tumores do andar superior do abdômen e pelve, respectivamente. A medicação adjuvante empregada visa potencializar os analgésicos ou combater seus efeitos colaterais indesejáveis. Normalmente são prescritos protetores de mucosa gástrica, antieméticos, laxantes, antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, anti- hipercalcemiantes (calcitonina, difosfonatos) e corticosteróides. Outros sintomas além dador provocam grande desconforto para o paciente e devem ser tratados como anorexia, astenia, dispnéia, estados confusionais, depressão, ansiedade e insônia. 2. Tratamento não farmacológico da dor Intervenções cognitivocomportamentais Se o indivíduo está na iminência de ser submetido a uma intervenção cirúrgica ou um procedimento doloroso, o ideal é que aprenda e treine essas técnicas antes da manifestação da dor (p. ex., antes da cirurgia). Se o indivíduo já está sentindo dor, o uso de intervenções cognitivocomportamentais deve se basear na capacidade da pessoa de dominar a técnica, bem como em sua resposta à intervenção. Por exemplo, para um doente em fase terminal com dor grave, pode ser um complemento mais adequado ao tratamento com analgésicos fazer uso de músicas relaxantes à sua escolha do que tentar aprender uma modalidade que exija mais atenção de sua parte (p. ex., meditação ou reavaliação cognitiva). Relaxamento: é uma das abordagens cognitivocomportamentais com melhor avaliação para o alívio da dor. O método de relaxamento não precisa ser complexo. Estratégias relativamente simples, como respiração lenta e rítmica e procedimentos breves de relaxamento da mandíbula, têm sido bemsucedidas na diminuição da dor autorrelatada e no uso de analgésicos. Distração: focalizar a atenção em coisas diferentes dos estímulos dolorosos ou emoções negativas não elimina a dor, mas pode torná-la mais tolerável. Pode servir como uma espécie de blindagem sensorial, por intermédio da qual a atenção à dor é sacrificada para prestar atenção a outros estímulos possíveis de serem mais percebidos. Exemplos de distração incluem contar, repetir frases ou poemas e se engajar em atividades voltadas à concentração, como projetos, tarefas, trabalho, conversas ou descrição de imagens. Televisão, filmes de aventura, música e humor oferecem distração. Reavaliação cognitiva: é um modo de autodistração ou controle cognitivo em que o indivíduo focaliza a atenção nos aspectos positivos da experiência e se distancia da dor. Indivíduos empregando métodos de distração podem não parecer sofrer de dor grave. No entanto, é inadequado supor que uma pessoa não esteja verdadeiramente com dor por usar o método da distração. Terapia de imagens mentais: é uma técnica que consiste em usar a imaginação para desenvolver uma imagem mental. No tratamento da dor, utiliza-se a terapia de imagens mentais (imagens dirigidas a um alvo específico). Essa técnica é usada isoladamente ou combinada com outras intervenções cognitivocomportamentais (p. ex., relaxamento ou biofeedback) para desenvolver imagens sensoriais capazes de diminuir a intensidade da dor percebida. Também pode ser utilizada para diminuir a ansiedade e reduzir a tensão muscular. Meditação: também pode ser utilizada, mas requer prática e capacidade de concentração para tornar-se efetiva. Biofeedback: é usado para fornecer retroalimentação ao indivíduo sobre a situação atual de algumas funções orgânicas (p. ex., temperatura do dedo, pulsação da artéria temporal, pressão arterial ou tensão muscular). Trata-se de um processo de aprendizagem concebido para tornar a pessoa consciente quanto a algumas de suas funções orgânicas com o propósito de modificálas em nível consciente. O interesse em biofeedback tem aumentado devido à possibilidade de utilizar esse tipo de tratamento em casos de enxaqueca e cefaleia tensional ou para qualquer tipo de dor com um componente de tensão muscular. Agentes físicos Calor: Dilata os vasos sanguíneos e aumenta o fluxo sanguíneo local. Também pode influenciar a transmissão dos impulsos de dor e aumentar a capacidade de extensão do colágeno. Um aumento na circulação local é capaz de reduzir o nível de estimulação nociceptiva por meio da redução da isquemia local causada por espasmo muscular ou tensão, aumentar a remoção de metabólitos e mediadores inflamatórios que agem como estímulos nociceptivos e ajudar a reduzir o edema e aliviar a pressão sobre as terminações nociceptivas locais. A sensação de calor é transportada até o corno posterior da medula espinal e pode exercer o seu efeito pela modulação na projeção de transmissão da dor. Pode também desencadear a liberação de opioides endógenos. O calor altera a viscosidade das fibras de colágeno nos ligamentos, tendões e estruturas articulares de modo que possam ser mais facilmente estendidos e mais esticados, antes que as terminações nociceptivas sejam estimuladas. Assim, o calor muitas vezes é aplicado antes de uma terapia que vise ao alongamento das estruturas articulares e ao aumento da amplitude de movimento. Quando se utiliza calor em excesso, o próprio calor se torna um estímulo nocivo, o que resulta em dor e danos teciduais reais ou iminentes. Em determinadas situações, a utilização de calor é controversa e, em certas condições (p. ex., doença vascular periférica), nas quais o aumento do fluxo sanguíneo ou do metabolismo seria prejudicial, o uso de calor é contraindicado. Frio: A aplicação de frio é capaz de produzir uma redução drástica da dor. O frio exerce seu efeito sobre a dor por intermédio de mecanismos circulatórios e neurológicos. A resposta inicial à aplicação local de frio é vasoconstrição local súbita. Essa vasoconstrição inicial é seguida por períodos alternados de vasodilatação e vasoconstrição, durante os quais o organismo “busca” seu nível normal de fluxo sanguíneo para evitar danos nos tecidos locais. A vasoconstrição é causada por estimulação local de fibras simpáticas e resfriamento direto dos vasos sanguíneos, enquanto a hiperemia acontece por mecanismos autorreguladores locais. Em situações de lesão aguda, o frio é utilizado para produzir vasoconstrição e evitar o extravasamento de sangue para os tecidos. O alívio da dor resulta da redução do edema e da diminuição da estimulação de terminações nociceptivas. A vasodilatação que se segue pode ajudar na remoção de substâncias estimuladoras das terminações nociceptivas. O frio também tem um efeito acentuado e significativo sobre a dor proveniente da acumulação de metabólitos no músculo, induzida por espasmos. Em termos de modulação da dor, o frio tem condições de reduzir a atividade aferente que chega ao corno posterior da medula espinal por modulação do input sensorial. A aplicação de frio é um estímulo nocivo e influencia possivelmente a liberação de opioides endógenos na área de PAG. Compressas frias devem ser flexíveis, para que possam assumir facilmente a conformação das partes do corpo, adequadamente embaladas, para proteger a pele, e aplicadas durante não mais do que 15 a 20 min por vez. Analgesia induzida por estímulo A analgesia induzida por estímulo é um dos mais antigos métodos conhecidos para o alívio da dor. TENS (neuro estimulação elétrica transcutânea): se refere à transmissão de energia elétrica através da superfície da pele para as fibras nervosas periféricas. O tipo de estimulação utilizado varia de acordo com a dor a ser tratada. A localização das vias fisiológicas e a compreensão dos mecanismos de dor envolvidos determinam a colocação do eletrodo. Provavelmente, não existe uma explicação única para os efeitos fisiológicos de TENS. Cada tipo específico de estimulador tem diferentes locais de ação e pode ser explicado por mais de uma teoria. A teoria do controle das comportas foi proposta como um mecanismo possível. De acordo com essa teoria, a informação da dor é transmitida pelas fibras Aδ e C de pequeno diâmetro. As fibras aferentes A de grande diâmetro e fibras de pequeno diâmetro transportam informações táteis fazendo a mediação de toque, pressão e sinestesia. TENS pode funcionar com base no disparo diferencialde impulsos nas grandes fibras que transportam informação não dolorosa. Por conseguinte, o aumento da atividade nessas fibras de maior diâmetro supostamente modula a transmissão de informações dolorosas para o prosencéfalo. TENS apresenta a vantagem de ser um método não invasivo, facilmente regulado pela pessoa ou profissional de saúde e eficaz em algumas formas de dor aguda e crônica. Sua utilização pode ser ensinada antes de um procedimento cirúrgico, proporcionando redução na quantidade de medicação analgésica no pósoperatório e, possivelmente, evitando o desenvolvimento de dores persistentes. Acupuntura: A prática da acupuntura envolve a introdução de agulhas em pontos específicos sobre a superfície corporal. Existem quadros disponíveis para descrever os pontos de inserção da agulha usados para aliviar a dor em determinadas regiões anatômicas. Além de agulhas, por vezes é utilizada a palpação. A acupuntura é amplamente disponível em clínicas de dor, embora não sejam muitas as pesquisas de alta qualidade, amplas e randomizadas sobre os efeitos da acupuntura no tratamento da dor crônica. Neuroestimulação: A neuroestimulação libera estimulação elétrica de baixa voltagem na medula espinal ou nervos periféricosalvo para bloquear a sensação dolorosa. Melzack e Wall (teoria das comportas) postulam que a neuroestimulação ativa o sistema de inibição da dor. Para um sistema totalmente implantável, são implantados cirurgicamente uma fonte de energia (bateria) e eletrodos. 3. A Escala Visual Analógica– EVA Consiste em auxiliar na aferição da intensidade da dor no paciente, é um instrumento importante para verificarmos a evolução do paciente durante o tratamento e mesmo a cada atendimento, de maneira mais fidedigna. A EVA é classificada como unidimensional, pois avalia somente uma das dimensões da experiência dolorosa, a intensidade Intensidade da dor seja conceituada, ao invés de definida. EVA tem característica linear quando aplicada à dor de média e de pouca intensidade. Isto é um dos fatores de credibilidade da ferramenta. Essa linearidade preconiza que quando um paciente apresenta um valor alto e depois um valor mais baixo, a dor realmente Escala Verbal - o paciente quantifica a experiência dolorosa usando frases que representam diferentes intensidades subjetivas de dor, como nenhuma dor, dor leve, dor moderada, dor forte, dor insuportável e a pior dor possível. (Voltada a qualidades e nem tanto à intensidade da dor) Escala Numérica 0 = Ausência de dor 1 a 3 = Dor leve 4 a 6 = Dor moderada 7 a 9= Dor forte 10 = Dor insuportável Escala de Faces Ausência da dor = face alegre Dor leve = face do sofredor está séria Dor moderada = face pouco triste e triste Dor forte = face bem triste Dor insuportável = face de choro Para indivíduos jovens, a escala apresenta alto índice de validade e confiabilidade, no entanto o aumento da idade está relacionado ao aumento de respostas incorretas para a EVA. 4. Medicações para alivio da dor O alívio da dor depende do seu tipo específico: nociceptiva ou neuropática. Por exemplo, na dor artrítica leve ou moderada (dor nociceptiva), os analgésicos não opioides, como os anti- inflamatórios não esteroides (AINEs), em geral são eficazes. A dor neuropática pode ser tratada com opioides (algumas situações exigem dosagens altas), mas respondem melhor a anticonvulsivantes, antidepressivos tricíclicos ou inibidores da captação de serotonina e norepinefrina. Contudo, para a dor grave ou crônica maligna ou não maligna, os opioides são considerados parte do plano de tratamento em pacientes selecionados. Opioides Opioides são fármacos naturais, semissintéticos ou sintéticos que produzem efeitos tipo morfina Todos os opioides agem ligando-se a receptores opioides específicos no SNC para produzir efeitos que imitam a ação de neurotransmissores peptídeos endógenos (p. ex., endorfinas, encefalinas e dinorfinas). Ampla disponibilidade dos opioides levou ao abuso daqueles capazes de produzir euforia. RECEPTORES OPIOIDES Os efeitos mais importantes dos opioides são mediados por três famílias de receptores, designadas comumente μ (mi), κ (capa) e δ (delta). Cada família de receptores apresenta uma especificidade diferente para os fármacos analgésica dos opioides é mediada primariamente pelos receptores μ, que modulam respostas nociceptivas térmicas, mecânicas e químicas. Os receptores κ no corno dorsal também contribuem para a analgesia modulando a resposta à nocicepção química e térmica. As encefalinas interagem mais seletivamente com os receptores δ na periferia. Os três receptores opioides são membros da família de receptores acoplados à proteína G e inibem a adenililciclase. Eles também estão associados a canais iônicos, aumentando o efluxo pós-sináptico de K+ (hiperpolarização) ou reduzindo o influxo pré-sináptico de Ca2+, impedindo, assim, o disparo neuronal e a liberação do transmissor. AGONISTAS OPIOIDES Morfina Mecanismo de ação: A morfina e outros opioides exercem seus efeitos principais interagindo estereoespecificamente com os receptores opioides nas membranas de certas células no SNC e em outras estruturas anatômicas, como o trato gastrintestinal (TGI) e a bexiga. A morfina atua também em receptores κ na lâmina I e II do corno dorsal da medula espinal. Ela diminui a liberação de substância P que modula a percepção da dor na medula espinal. A morfina também parece inibir a liberação de vários transmissores excitatórios dos terminais nervosos que levam a estímulos nociceptivos (dolorosos). Ações: Analgesia: A morfina e outros opioides causam analgesia (alívio da dor sem perda de consciência) e aliviam a dor, aumentando o seu limiar no nível da medula espinal e, de forma mais importante, alterando a percepção da dor no cérebro. Os pacientes tratados com opioides continuam conscientes da presença da dor, mas a sensação não é desagradável. Euforia: A morfina produz uma forte sensação de contentamento e bem-estar. A euforia pode ser causada pela desinibição dos neurônios que contêm dopamina da área tegmento ventral. Respiração: A morfina causa depressão respiratória pela dessensibilização ao dióxido de carbono dos neurônios do centro respiratório. Esse efeito pode ocorrer com doses normais de morfina em pacientes virgens para esse fármaco e acentuar-se à medida que a dose aumenta até que, por fim, a respiração cessa. A tolerância a esse efeito se desenvolve rapidamente com dosificações repetidas, o que permite o uso seguro da morfina para o tratamento da dor quando a dosagem é titulada corretamente. Depressão do reflexo da tosse Miose Êmese TGI: No geral, a morfina e outros opioides provocam constipação, com pouco desenvolvimento de tolerância. Sistema cardiovascular: A morfina em dosagens baixas não tem efeito significativo na pressão arterial ou na frequência cardíaca. Com doses altas pode ocorrer hipotensão e bradicardia. Devido à depressão respiratória e à retenção de dióxido de carbono, os vasos cerebrais dilatam e aumentam a pressão do líquido cerebrospinal. Assim, normalmente, a morfina está contraindicada em indivíduos com lesão grave na cabeça ou no cérebro. Liberação de histamina: A morfina libera histamina dos mastócitos, causando urticária, sudoração e vasodilatação. Ações hormonais: A morfina aumenta a liberação de hormônio do crescimento e aumenta a secreção de prolactina. Ela aumenta o hormônio antidiurético, causando retenção urinária. Parto: A morfina pode prolongar o segundo estágio do trabalho de parto, diminuindo temporariamente a força, a duração e a frequência das contrações uterinas. Farmacocinética: Administração as injeções intramuscular(IM), subcutânea (SC) ou intravenosa (IV) produzem as respostas mais confiáveis.A absorção da morfina no TGI após administração oral é lenta e errática. É importante observar que a morfina tem um perfil farmacocinético linear, permitindo que a dosagem seja mais previsível e mais flexível. Distribuição: A morfina entra rapidamente nos tecidos corporais, incluindo o feto da gestante. Ela não deve ser usada para analgesia durante o parto. Recém-nascidos de mães adictas apresentam dependência física de opioides, manifestando sintomas de abstinência se o opioide não for administrado. Apenas uma pequena fração de morfina atravessa a barreira hematencefálica, porque a morfina é o fármaco menos lipofílico dos opioides comuns. Em contraste, os opioides mais lipossolúveis, como a fentanila e a metadona, penetram facilmente no SNC. Destino: A morfina é conjugada com ácido glicurônico no fígado, formando dois metabólitos principais. A morfina-6-glicuronídeos é um analgésico muito potente, e a morfina-3- glicuronídeo não tem atividade analgésica, mas se acredita que provoque os efeitos neuroexcitatórios observados com as doses altas de morfina. Os conjugados são excretados primariamente na urina, e pequenas quantidades aparecem na bile. A duração de ação da morfina é de 4 a 5 horas quando é administrada sistemicamente em indivíduos nunca expostos, mas é consideravelmente mais longa quando injetada por via epidural, porque sua baixa lipofilicidade retarda a redistribuição do espaço epidural. (Nota: a idade pode influenciar a resposta à morfina. Pacientes idosos são mais sensíveis aos efeitos analgésicos, possivelmente devido à redução na biotransformação, na massa corporal magra ou na função renal. Doses iniciais menores devem ser consideradas para idosos. Os neonatos não devem receber morfina devido à sua baixa capacidade de conjugação.) Efeitos adversos Com a maioria dos agonistas μ, pode ocorrer grave depressão respiratória, e a dosagem excessiva com opioide pode resultar em óbito. A elevação da pressão intracraniana, particularmente em lesões na cabeça, pode ser grave. A morfina deve ser utilizada com cautela em pacientes com asma, doença hepática ou disfunção renal. Tolerância e dependência física: O uso repetido da morfina causa tolerância aos seus efeitos depressor respiratório, analgésico, eufórico e sedativo. No entanto, normalmente não se desenvolve tolerância aos efeitos de constrição pupilar e de constipação. Pode ocorrer dependência física e psicológica com a morfina e alguns dos outros agonistas. A retirada produz uma série de respostas autônomas, motoras e psicológicas que incapacitam o indivíduo e causam sintomas graves, mas raramente causam morte. Interações farmacológicas: Suas ações depressivas são potenciadas pelos fenotiazínicos, pelos inibidores da monoaminoxidase (IMAOs) e pelos antidepressivos tricíclicos. Codeína A codeína é um opioide de ocorrência natural que é um analgésico fraco em comparação com a morfina. Deve ser usada apenas para dor moderada. A ação analgésica da codeína é derivada da sua conversão à morfina pelo sistema enzimático. A atividade do sistema CYP2D6 varia entre os pacientes, e os biotransformadores ultrarrápidos podem obter níveis mais altos de morfina, levando à possibilidade de dosagem excessiva. Interações de fármacos associadas com o sistema CYP2D6 podem alterar a eficácia da codeína ou potencialmente causar toxicidade. A codeína é usada comumente com paracetamol para combate da dor. Ela exibe boa atividade antitussígena em doses que não causam analgesia. Mecanismo de ação Age por meio da ligação aos receptores específicos, localizados no SNC, alterando processos relacionados com a percepção da dor. Atua como um agonista da morfina, em receptores opióides. Possui maior afinidade pelos receptores µ (mu) e, normalmente menor afinidade pelos receptores δ (kappa) e κ (delta). Também diminui a liberação de neurotransmissores dos nervos aferentes sensitivos aos estímulos da dor. Como antissúgeno, atua inibindo o centro da tosse, que passa a não reagir frente aos estímulos. Reações adversas e precauções Em doses terapêuticas pode causar constipação (sendo por isto usado em certos quadros de diarreia) e sonolência. Em menor frequência, depressão respiratória, edema, confusão mental, sensação de boca seca, perda de apetite, náuseas, além de outros sintomas. A codeína não induz a euforia. AGONISTAS PARCIAIS E AGONISTA- ANTAGONISTAS MISTOS Os agonistas parciais se ligam ao receptor opioide, mas têm atividade intrínseca menor que a dos agonistas totais. Os efeitos desses fármacos dependem da exposição prévia a opioides. Em indivíduos que não receberam opioides (pacientes virgens), os agonistas-antagonistas possuem atividade agonista e são utilizados no alívio da dor. Em pacientes dependentes de opioides, os fármacos agonistas-antagonistas podem apresentar principalmente efeitos bloqueadores (produzem sintomas de abstinência). Buprenorfina A buprenorfina é classificada como agonista parcial e atua no receptor μ. Ela atua como a morfina em pacientes virgens, mas também pode provocar abstinência em usuários de morfina ou outros agonistas opioides totais. Pentazocina A pentazocina age como agonista nos receptores κ e é um antagonista fraco nos receptores μ e δ. Ela promove analgesia ativando receptores na medula espinal e é usada no alívio da dor moderada. Nalbufina e butorfanol OUTROS ANALGÉSICOS Tapentadol O tapentadol, um analgésico de ação central, é agonista μ opioide e inibidor da captação de norepinefrina. Tem sido usado para combater dor moderada e intensa, crônica e aguda. Tramadol O tramadol é um analgésico de ação central que se liga ao receptor opioide μ. Além disso, ele inibe fracamente a captação de norepinefrina e serotonina. É utilizado no manejo da dor moderada ou moderadamente intensa. Sua atividade depressora respiratória é menor do que a da morfina. A naloxona só reverte parcialmente a analgesia provocada pelo tramadol ou seu metabólito ativo ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES Os AINEs são um grupo de fármacos quimicamente heterogêneos que se diferenciam na sua atividade antipirética, analgésica e anti-inflamatória. A classe inclui derivados do ácido salicílico (ácido acetilsalicílico [AAS], diflunisal e salsalato), do ácido propiônico (ibuprofeno, fenoprofeno, flurbiprofeno, cetoprofeno, naproxeno e oxaprozina), do ácido acético (diclofenaco, etodolaco, indometacina, cetorolaco, nabumetona, sulindaco e tolmetina), do ácido enólico (meloxicam e piroxicam), de fenamatos (ácido mefenâmico e meclofenamato) e do inibidor COX-2 seletivo (celecoxibe). Eles atuam, principalmente, inibindo as enzimas cicloxigenase que catalisam o primeiro estágio da biossíntese de prostanoides. Isso leva à redução da síntese de PGs, com efeitos desejados e indesejados. Ácido acetilsalicílico e outros anti- inflamatórios não esteroides O AAS pode ser considerado um AINE tradicional, mas ele apresenta efeito anti-inflamatório apenas em dosagens relativamente altas, raramente usadas. Ele é mais usado em dosagens baixas para a prevenção de eventos cardiovasculares, como o acidente vascular encefálico (AVE) e o infarto do miocárdio (IM). O AAS é diferenciado dos outros https://www.infoescola.com/neurologia/neurotransmissores/ https://www.infoescola.com/biologia/nervos/ https://www.infoescola.com/fisiologia/tosse/ AINEs, frequentemente, por ser um inibidor irreversível da atividade da cicloxigenase. Mecanismo de ação: O AAS é um ácido orgânico fraco que acetila irreversivelmente e, assim, inativa a cicloxigenase. Todos os outros AINEs são inibidores reversíveis da cicloxigenase. Os AINEs, inclusive o AAS, realizam três ações terapêuticas principais: reduzem a inflamação (afeito anti-inflamatório), a dor (efeito analgésico) e a febre (efeito antipirético) Ação anti-inflamatória: A inibição da cicloxigenasediminui a formação de PGs e, assim, modula os aspectos da inflamação nos quais as PGs atuam como mediadoras. Os AINEs inibem a inflamação na artrite, mas não evitam o avanço da doença nem induzem remissão. Ação analgésica: Acredita-se que a PGE2 sensibiliza as terminações nervosas à ação da bradicinina, da histamina e de outros mediadores químicos liberados localmente pelo processo inflamatório. Assim, diminuindo a síntese de PGE2, a sensação de dor pode diminuir. Como a COX-2 é expressa durante inflamações e lesões, parece que a inibição dessa enzima é responsável pelo efeito analgésico dos AINEs. Nenhum AINE demonstrou eficácia superior aos demais (a eficácia de todos eles é considerada, em geral, equivalente). Os AINEs são usados, principalmente, para combater dores de leves a moderadas originadas de distúrbios musculosqueléticos. Uma exceção é o cetorolaco, que pode ser usado contra dores mais graves, mas por um curto período. Ação antipirética: A febre ocorre quando o “ponto de referência” do centro termorregulador hipotalâmico anterior é aumentado. Isso pode ser causado pela síntese da PGE2, que é estimulada quando agentes endógenos causadores de febre (pirógenos), como as citocinas, são liberados pelos leucócitos ativados por infecção, hipersensibilidade, câncer ou inflamação. Os AINEs diminuem a temperatura corporal em pacientes febris, impedindo a síntese e a liberação da PGE2. Esses fármacos, essencialmente, recolocam o “termostato” no normal. Isso rapidamente baixa a temperatura corporal de pacientes febris, aumentando a dissipação do calor como resultado da vasodilatação periférica e da sudoração. Os AINEs não têm efeito sobre a temperatura normal do organismo. responsável pela prevenção dos eventos cardiovasculares e pela maioria dos eventos adversos.) Eventos adversos: Devido aos eventos adversos associados enumerados a seguir, é preferível usar os AINEs na menor dosagem eficaz e pelo menor tempo possível. - Efeitos GI: desde dispepsia até sangramento. - Aumento do risco de sangramentos (efeito antiplaquetário - Ação sobre os rins: Os AINEs previnem a síntese de PGE2 e PGI2, PGs responsáveis pela manutenção do fluxo sanguíneo renal. - Efeitos cardíacos: Fármacos como o AAS, com alto grau de seletividade pela COX-1, mostraram efeito protetor cardiovascular provavelmente devido à redução na produção de TXA2. O uso de AINE, exceto AAS, é desaconselhado em pacientes com doença cardiovascular estabelecida. - Outros efeitos adversos: cefaleia, zumbidos e tonturas. Aproximadamente 15% dos pacientes tratados com AAS apresentam reações de hipersensibilidade. Pacientes com hipersensibilidade grave ao AAS devem evitar usar AINEs Celecoxibe O celecoxibe é um inibidor seletivo da COX-2, significativamente mais seletivo para inibir a COX- 2 do que a COX-1. Ao contrário da inibição da COX-1 pelo AAS (que é rápida e irreversível), a inibição da COX-2 é reversível. 1. Usos terapêuticos: O celecoxibe é aprovado para o tratamento de AR, osteoartrite e dor de leve a moderada. No tratamento da dor, a eficácia do celecoxibe é similar à dos AINEs. PARACETAMOL (ACETAMINOFENO) O paracetamol (N-acetil-p-aminofenol, ou APAF) inibe a síntese das PGs no SNC. Isso explica suas propriedades antipiréticas e analgésicas. O paracetamol exerce menor efeito sobre as cicloxigenases nos tecidos periféricos devido à inativação periférica, o que contribui para a sua fraca atividade anti-inflamatória. Esse fármaco não afeta a função plaquetária nem aumenta o tempo de sangramento. O paracetamol não é considerado um AINE. Usos terapêuticos O paracetamol é um substituto adequado para os efeitos analgésicos e antipiréticos dos AINEs em pacientes com problemas ou riscos gástricos, nos quais o prolongamento do tempo de sangramento não é desejável, e naqueles que não necessitam da ação anti-inflamatória dos AINEs. O paracetamol é o analgésico/antipirético de escolha para crianças com infecções virais ou varicela, pois o AAS oferece risco de síndrome de Reye. Farmacocinética O paracetamol é rapidamente absorvido no TGI. Nas células luminais dos intestinos e nos hepatócitos, ocorre significativa biotransformação de primeira passagem. Em circunstâncias normais, o paracetamol é conjugado no fígado, formando metabólitos glicuronizados ou sulfatados inativos. Uma parte do paracetamol é hidroxilada, gerando N-acetil-p-benzoquinoneimina (NAPQI), um metabólito altamente reativo que pode reagir com grupos sulfidrila e causar lesão hepática. Em dosagens normais de paracetamol, a NAPQI reage com o grupo sulfidrila da glutationa, que é produzida no fígado, formando uma substância não tóxica. O paracetamol e seus metabólitos são excretados na urina. O fármaco também está disponível em formulações de uso retal e IV. Efeitos adversos Em dosagens terapêuticas normais, o paracetamol é praticamente livre de efeitos adversos significativos. Em dosagens altas, a glutationa disponível no fígado se esgota, e a NAPQI reage com o grupo sulfidrila das proteínas hepáticas, formando ligações covalentes. Pode ocorrer necrose hepática, uma condição muito grave e potencialmente fatal. Os pacientes com doença hepática, hepatite viral ou história de alcoolismo correm mais riscos de hepatotoxicidade induzida pelo paracetamol. O paracetamol deve ser evitado em pacientes com insuficiência hepática grave. 5. ANALGESIA REGIONAL Pode ser realizada com anestésico local, opióide ou neurolítico. Neurolíticos: Os neurolíticos provocam lesão neural reversível ou permanente sendo que a extensão e o grau dependem da estrutura neural, do local de injeção, da quantidade e propriedades da droga usada e da lesão vascular causada pelo agente. Provocam desnaturação protéica não seletiva. A neurólise pode ser realizada através de agentes químicos, sendo que os mais comumente empregados são o álcool e o fenol. Outros agentes neurolíticos são o glicerol, o amônio, a solução salina hipertônica e o clorocresol. Também pode ser utilizada através da critoterapia, radiofreqüência e uso de LASER. O álcool é usado na concentração de 30- 100% e o fenol, de 5-10%. A lesão do fenol é menos duradoura que a do álcool. Bloqueios com neurolíticos foram usados com freqüência porque acreditava-se que a destruição da via da dor resultaria em alívio permanente da dor e também porque não existiam muitas opções terapêuticas para alívio da dor. Como complicações, os agentes neurolíticos podem causar parestesia, fibrose, destruição de estruturas próximas, trombose, zumbido, depressão do sistema nervoso central, colapso cardiovascular e convulsão. Atualmente a neurólise pode ser indicada para bloqueio de gânglio simpático e para lesão da hipófise em pacientes com metástases disseminadas como ocorre em câncer de próstata e mama. A crioterapia provoca degeneração walleriana das fibras distais e como a lâmina basal é mantida, ocorre regeneração em aproximadamente um mês. A radiofreqüência e o LASER cirúrgico também provocam lesão neural. “Pontos-gatilhos” são locais hiperexcitáveis em músculo ou fáscia, dolorosos à compressão que, ao serem estimulados, apresentam área de dor referida e resposta autonômica. A injeção de tecido celular subcutâneo é indicada para herpes zoster, neuralgia e neuroma, sendo realizada com anestésico local, corticosteróide e opióide. O bloqueio facetário é usado na lombalgia quando há alterações das articulações entre as vértebras. Após punção e localização da ponta da agulha dentro da articulação facetária, fazse injeção de pequeno volume de anestésico local associado com corticosteróide. A visualização é feita através da radioscopia. Os bloqueios de nervos maxilar e mandibular são indicados na neuralgia do trigêmio e na dor de neoplasia de cabeça com dor localizada na área desse nervo. O bloqueiode nervo occipital maior e menor está indicado na cefaléia tensional e enxaqueca. O bloqueio de nervo obturador é indicado na dor decorrente de osteoartrose de quadril, quando o paciente aguarda a operação ou não tem condições clínicas para a cirurgia. O bloqueio de nervo intercostal é indicado para neuralgia e neurite da parede torácica e parte do abdômen BLOQUEIO SIMPÁTICO O bloqueio do sistema simpático pode ser feito através de bloqueio neural ou com drogas. O bloqueio neural pode ser feito injetando-se medicação na cadeia simpática, no nervo periférico, por infiltração perivascular ou através da injeção de anestésico local no espaço epidural. Como o gânglio simpático, exceto na região torácica, está separado do nervo somático, é possível efetuar bloqueio simpático sem perda da função sensitiva ou motora. Isso possibilita tratamento de condições em que existe dor dependente do simpático sem perda de outras funções neurológicas. Bloqueio de Gânglio Estrelado: O gânglio estrelado é a fusão do gânglio cervical inferior com o primeiro torácico. É responsável pela inervação da face, membro superior e porção superior do tórax, ipsilateral. O bloqueio do gânglio estrelado está indicado na síndrome de dor regional complexa, na neuralgia, no herpes-zóster, na dor fantasma, na doença vascular periférica, na plexopatia do câncer etc. Injeta-se 8-10ml de anestésico local, que pode ser a bupivacaína 0,125-0,25%. Podem ser utilizados opióide (fentanil, 50-100mcg) ou clonidina (150mcg). As contra-indicações para bloqueio são: infecção no local de punção, coagulopatia, uso de anticoagulantes, alteração anatômica do local, paralisia de corda vocal contralateral. Após bloqueio observa-se síndrome de Horner (ptose, miose, enoftalmia e anidrose), que não é considerada complicação. A síndrome de Horner significa somente que houve bloqueio simpático da cabeça mas não necessariamente do membro superior. Esse bloqueio pode causar complicações como rouquidão, hematoma, neuralgia, bloqueio do plexo braquial e do nervo frênico e injeção intravascular e subaracnóidea Bloqueio Simpático Lombar: A cadeia simpática lombar está localizada no plano fascial anterolateral ao corpo vertebral, separada do nervo somático pelo músculo psoas. O bloqueio simpático lombar é indicado quando há alteração do simpático em membro inferior. Para uma das técnicas preconizadas para bloqueio simpático lombar, injeta-se 10-15ml de bupivacaína 0,125-0,25% na região anterolateral do corpo vertebral de L3, após injeção de líquido de contraste e confirmação da localização através da radioscopia Como complicações do bloqueio simpático lombar, pode ocorrer bloqueio do plexo lombar, injeção peridural ou subaracnóidea, punção de vaso, hematoma, punção de pelve renal e perfuração de disco intervertebral. Anestésico Local por Via Intravenosa: Os anestésicos locais por via intravenosa são eficazes para lesão de nervo periférico, neuropatia pós-herpética, neuropatia diabética, síndrome de dor regional complexa, dor central, neuralgia do trigêmio e fibromialgia. A infusão de anestésico local por via intravenosa causa bloqueio simpático, vasodilatação, anestesia das terminações nervosas do endotélio vascular, estabilização de membrana e quebra de círculo vicioso que mantém a dor. Os anestésicos locais suprimem a atividade anormal em fibras aferentes primárias. São estabilizadores de membrana e impedem a geração de impulsos ectópicos em concentrações menores que as necessárias para bloqueio da condução normal. Os estabilizadores de membrana causam bloqueio de canais de sódio com diminuição da atividade espontânea. A lidocaína em baixas concentrações pode bloquear a atividade evocada pelo glutamato no corno dorsal da medula espinhal. A duração do alívio da dor é maior que a esperada se fosse relacionar à meia-vida plasmática do anestésico local. Isso provavelmente ocorre porque há bloqueio da sensibilização, central. O efeito pode durar horas ou mesmo vários dias ou semanas. A infusão, pode ser feita diariamente mas geralmente é realizada com intervalos de uma semana. Os efeitos colaterais geralmente são leves: sonolência e parestesia perioral, gosto metálico e náusea. Doses maiores administradas de maneira rápida pode causar efeitos colaterais como zumbido, moleza e agitação. Essa técnica não deve ser usada em paciente com arritmia, síndrome de Adams-Syokes, insuficiência cardíaca e coronariopatia. Deve ser usada com cautela em paciente com bradicardia sinusal ou bloqueio cardíaco incompleto. Os primeiros sinais de toxicidade são: prolongamento de PR e QRS. Concentrações maiores causam bradicardia e arritmia. Bloqueio Simpático Venoso Regional Podem ser utilizados: guanetidina, quetanserina, bretílio, reserpina e droperidol. A quetanserina é usada na dose de 10-20mg; o bretílio, na dose de 1,5mg/kg e a reserpina, de 0,5-1,25mg. A guanetidina na dose de 10-30mg é injetada associada a 15-20ml de solução salina fisiológica e/ou lidocaína (200-300mg) e heparina (500UI) e o desgarroteamento é feito após 20 minutos. A guanetidina inibe de maneira seletiva a transmissão periférica do sistema simpático. Ela é transportada pela bomba de noradrenalina para o interior de vesículas pré-sinápticas de neurônios adrenérgicos pós-ganglionares. Após, inicialmente, provocam a liberação de noradrenalina; a seguir impede a recaptação da noradrenalina a partir da sinapse e a liberação posterior. A ação bifásica da guanetidina é vista clinicamente como aumento transitório da atividade simpática seguida de diminuição prolongada. No bloqueio regional, ocorre alta concentração de guanetidina em neurônio adrenérgico da região afetada, minimizando os efeitos colaterais. A duração da analgesia é de alguns dias após o primeiro bloqueio, aumentando com sucessivas injeções. A técnica é fácil de ser realizada mas tem os inconvenientes da dor do garrote e a necessidade de dessangramento. Nem sempre é possível realizar esses procedimentos em pacientes com alodínia na região da dor neuropática. Deve-se ter cuidado no desgarroteamento porque pode ocorrer hipotensão arterial. Bloqueio de Plexo Celíaco Indicado para alívio da dor de câncer de pâncreas, estômago, fígado, vias biliares, intestino delgado, cólon ascendente e transverso, tumor retroperitonial e pancreatite crônica. Para o bloqueio é utilizado álcool na concentração de 50-100% e volumes entre 20-25 ml em cada lado. O bloqueio pode causar complicações: hipotensão, dor radicular transitória, dor no local da punção, diarréia, pneumotórax, paresia de membros inferiores, paraplegia, perda da função esfincteriana e punção de rim, aorta ou cava. Bloqueio de Plexo Hipogástrico É indicado para dor decorrente de câncer de região pélvica (útero, bexiga). ANALGESIA POR VIA ESPINHAL A analgesia por via espinhal representa uma alternativa eficaz para a administração sistêmica de medicação. Opióide, corticosteróide, anestésico local, clonidina, calcitonina, somatostatina e outras substâncias promovem analgesia quando injetadas por essa via. Por serem injetadas próximo do local de ação, as medicações podem ser empregadas em doses menores com bons resultados. A associação de corticóide, opióide ou calcitonina ao anestésico local também é utilizada para o tratamento da dor por desaferentação, principalmente, de região lombossacral e membros inferiores das seguintes etiologias: causalgia, aracnoidite, neuralgia pós- herpética e neuropatia diabética. O sucesso terapêutico parece ser melhor quando é utilizada a associação de substâncias com efeito em diferentes locais, por via epidural. Anestésico Local por Via Peridural Em síndromesdolorosas associadas a alteração do sistema simpático em território de inervação lombo-sacral, o bloqueio simpático pode ser obtido através da injeção de anestésico local por via peridural. Comumente é injetada bupivacaína 0,125-025% em volumes de 10 ml. Corticosteróide Epidural A ação está relacionada ao efeito antiinflamatório, ao impedimento da formação e destruição de fibrose e aderência perirradicular. O corticosteróide (metilprednisolona) é usado associado a anestésicos locais ou solução salina fisiológica com ou sem opióide. Indicados em lombociatalgia por discopatias, na estenose de canal vertebral, na síndrome de dor pós- laminectomia etc. As complicações que podem ocorrer estão relacionadas à técnica, como perfuração da dura-máter. Opióide Espinhal Para dor crônica, tem indicação principalmente em pacientes com câncer. Outras indicações são: lombociatalgia, desaferentação, dor central medular etc. No paciente com câncer, está indicado quando não se consegue analgesia através da via oral, os efeitos colaterais são intensos ou o paciente não pode receber a medicação por VO. São administrados através de cateteres percutâneos, de fácil colocação, baixo custo e manipulação simples. São colocados em regime ambulatorial, tunelizados e fixados na pele com fios de nylon em sua saida. Os familiares são orientados quanto à maneira de aplicar a medicação e antissepsia. A dose mais comumente utilizada é de 2-5mg, com intervalos de 8-12 h. Os efeitos colaterais são menos freqüentes que na dor aguda, devido ao desenvolvimento de tolerância porque os pacientes normalmente utilizaram opióide por via oral anteriormente. Neurolítico Em alguns pacientes que apresentam dor devido a câncer de útero ou reto, em estágio avançado, pode ser injetado álcool ou fenol por via subaracnóidea. As complicações são: paresia motora, incontinência esfincteriana e alteração da sensibilidade cutânea.
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