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1 Comportamento de Consumo Unidade I Profa. Marcia Soares de Almeida 2 INTRODUÇÃO O estudo do comportamento do consumidor é geralmente definido pelos teóricos da área como um conjunto de atividades que visam a conhecer a fundo o consumidor, identificando seus desejos, necessidades, hábitos, valores, motivações para a compra e/ou utilização de bens e serviços. É em torno desses conhecimentos que se organiza a administração mercadológica das indústrias e empresas atuais. Ora, essa não é uma tarefa simples. O consumidor, um ser humano, é bastante complexo. Várias ciências têm contribuído para melhor compreendê-lo, com destaque para a psicologia, a ciência por excelência que se dedica ao estudo do homem, sua conduta e desenvolvimento. Portanto contribuindo também para os estudos do comportamento do consumidor. Baseando-se no dito acima, é imediata a relação do estudo do comportamento de consumo com o desenvolvimento da economia de mercado, iniciada com a revolução industrial no início do século XX. A produção em série de produtos diversos gerou a necessidade de um consumo crescente, de maneira a dar vazão à produção também crescente. O Marketing – ou ciência mercadológica – ganhou importância e se desenvolveu muito nos últimos anos. Os primeiros estudos que se têm notícia especificamente sobre o comportamento do consumidor datam da década de 60, nos Estados Unidos, e ganham força na segunda metade do século passado. Contribuições das ciências psicológicas, nas suas mais diversas correntes teóricas se destacam. Estudos comportamentalistas sobre a motivação humana, por exemplo, produziram experimentos e técnicas de pesquisa e observação, que visavam não só a compreender, mas principalmente a prever e manipular o comportamento do consumidor. Estratégias como colocar produtos na altura dos olhos ou na fila do caixa de supermercados, agregar produtos, do tipo “compre A e ganhe B”, exemplificam a aplicação de teorias comportamentais que objetivavam aumentar a probabilidade de determinado comportamento ocorrer, no caso o comportamento de compra de um produto específico. Estudos sobre a percepção humana orientaram a confecção de peças publicitárias, embalagens, além da forma de exposição dos produtos. Outra teoria psicológica que deu sua contribuição foi a psicanálise. Os trabalhos do psicanalista austríaco Ernest Dichter revelaram motivos subconscientes ligados ao consumo. As técnicas de entrevista em profundidade com o consumidor, como o “focus group”, associação de palavras e interpretação de imagens, se originaram de estudos motivacionais psicanalíticos e ainda hoje são usadas largamente pelos institutos de pesquisa. Anúncios de automóveis com mulheres bonitas, bem vestidas e sofisticadas apelam para o desejo de conquista, sucesso e poder no universo masculino, público alvo dos anúncios em questão. Em suma, todos esses conhecimentos foram bastante utilizados nas decisões mercadológicas e principalmente pela publicidade, responsável pela comunicação das empresas com o mercado. 3 Assim, podemos dizer que a evolução dos estudos do comportamento do consumidor foi paralela ao desenvolvimento do marketing, desde os primórdios desse. Da fase inicial do processo de industrialização, caracterizada por uma orientação que enfatizava o desenvolvimento dos produtos, passando por uma orientação focada nas vendas, depois no próprio mercado, até uma visão socioambiental, chegando à abordagem atual, cujo foco é o relacionamento com o consumidor que se tornou cliente. Estudos que levantem, analisem e principalmente antecipem mudanças de valores e comportamentos dos consumidores se tornaram elementos-chave para a administração mercadológica. Como decorrência lógica de todo esse processo, temos uma produção intelectual de material voltado especificamente pra o comportamento do consumidor. Muitos artigos e livros foram publicados sobre o assunto, nos Estados Unidos principalmente, mas também aqui no Brasil. Esses manuais destrincham todas as etapas do processo de compra, desde seu início, com a constatação do desejo de compra, até a realização do ato em si, uso do produto e satisfação do consumidor. A identificação das variáveis que afetam todo o processo (sejam sociais, culturais, psicológicas ou ambientais), têm alimentado administradores e publicitários na execução de seu trabalho. Não é nosso objetivo aqui criar ou reproduzir um tipo de manual, até porque seria provavelmente incompleto. No final desse livro texto se encontram vários desses materiais nas referências bibliográficas. Nossa proposta aqui é trazer algumas questões, refletindo sobre causas e efeitos do comportamento de consumo de maneira global, além de apontar tendências e principalmente alternativas de mudanças. É um enfoque sociocultural na análise do comportamento do consumidor. Por questão de organização, na primeira parte nos deteremos na análise do consumo no século passado, origem do consumismo, deixando para o segundo livro texto o momento mais atual, pós-advento da internet que sem dúvida alavancou mudanças de comportamento muito grandes e velozes. Acreditamos ser fundamental para o profissional de comunicação ampliar seu nível de consciência em relação à prática profissional, percebendo com nitidez as implicações sociais, ambientais e individuais decorrentes de sua ação. Com mais ferramentas, se for de sua escolha, contribuir para mudanças do comportamento de consumo de maneira a garantir uma vida mais plena, justa, integra e feliz para todos. 4 ORIGENS Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. (Carlos Drummond de Andrade) Carlos Drummond de Andrade em seu poema “Eu Etiqueta” (anexo 1) refere- se à transformação do homem “em coisa” por meio do consumo. O poema, escrito em 1970, pode ser considerado uma crítica ao próprio meio de produção vigente que estimulou um consumo crescente, modelo norte-americano pós-guerra. A Revolução Industrial permitiu a fabricação em série de produtos diversos e a evolução tecnológica que se seguiu aprimorou o processo, resultando na sociedade de consumo e produção em massa, tal como a conhecemos hoje. Atendendo aos interesses das grandes empresas, visando a sustentar o modelo econômico adotado, foi necessário estimular o consumo dos produtos que passaram a ser fabricados em uma escala cada vez maior. Afinal, “se o consumidor não compra, a economia não cresce”. Victor Lebow, citado por Annie Leonard no vídeo e livro “A História das Coisas”, diz: A nossa economia altamente produtiva … exige que transformemos o consumo em nosso modo de vida, que convertamos a compra e o uso de bens em rituais, que busquemos nossa satisfação espiritual, nossa satisfação egoica no consumo … Precisamos que as coisas sejam consumidas, gastas, substituídas e descartadas num ritmo cada vez mais acelerado (LEONARD, 2011, p. 173). Uma observação: a apresentação da frase no vídeo citado leva a crer que Victor Lebow defendia o modelo econômico, sendo uma espécie de papa do consumo. No entanto, o trecho foi extraído de um artigo escrito para o Journal of Retailing e, se considerarmos o texto integralmente, ele pode também ser interpretado como uma crítica ao modelo econômico1. Porque isso aconteceu já se sabe, mas como aconteceu? No início do século havia consumo também, mas numa frequência bem menor, apenas de produtos e serviços necessários que costumavam durar por períodos maiores de tempo. 1O texto completo em inglês pode ser encontrado em: <http://hundredgoals.files.wordpress.com/2009/05/journal-of-retailing.pdf>. 5 Como os consumidores– homens, mulheres, jovens, idosos, crianças, de todas as camadas sociais – mudaram seus valores e (alguns) passaram até a querer consumir compulsivamente? Quais estratégias e mecanismos postos em prática promoveram essa transformação? Há alguns anos os bens eram feitos para durar. Muitas famílias têm ainda em casa uma geladeira ou máquina de lavar que foi da mãe, ou até da sua avó. Ela pode não ter um design moderno, ser um pouco barulhenta, mas funciona perfeitamente. Já sobre as mais novas, é comum ouvirmos relatos que em três ou quatro anos de uso quebraram. Algumas vezes já não existem peças do modelo específico. Ou ainda, quando existem as peças, o conserto sai quase o preço de uma nova (às vezes até mais caro!). E isso acontece com praticamente todo o tipo de produto: eletrodomésticos, móveis, roupas, sapatos, brinquedos, eletrônicos, etc. O avanço tecnológico também torna ultrapassada uma variedade enorme de produtos. Automóveis são bons exemplos: a cada ano as montadoras lançam novos modelos, introduzindo alguma função nova: controles computadorizados, sistema de freios, vidros automáticos, além de, é claro, uma modificação na aparência: faróis redondos agora são oblongos, as linhas do capô tornam-se mais retas – ou curvas! O mesmo acontece com celulares, refrigeradores, lavadoras de roupa, que geralmente “quebram” ou simplesmente param de funcionar alguns meses depois do término da garantia de fábrica. Estamos falando da obsolescência programada, um conceito que apareceu formalmente na década de 50 (apesar de já estar sendo praticada desde a década de 20) que pode ser definido como a intenção de fabricar produtos com uma durabilidade específica, de maneira que, após determinado tempo, parem de funcionar ou se desgastem e precisem ser substituídos. 6 A OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA: MITO OU REALIDADE? Alguns estudiosos das ciências humanas (sociólogos, economistas e historiadores de várias nacionalidades) acreditam que, por volta de 1920, alguns fabricantes decidiram encurtar a vida de determinados produtos, de modo a garantir o consumo contínuo desses. Afinal, acreditava-se que, se o consumidor não comprasse, a economia não cresceria. O exemplo mais conhecido é o das lâmpadas. Por volta de 1920, a vida útil de uma lâmpada era de 2500 horas, o melhor resultado obtido pelos técnicos, graças às pesquisas das indústrias fabricantes, Uma exceção, inclusive famosa, é a Lâmpada Centenária, acesa desde 1901 numa unidade do corpo de bombeiros da cidade de Livermore, na Califórnia, EUA. Fabricada pela Shelby Eletronic Company, fundada por Adolphe Chaillet, um rival de Thomas Edison, foi feita artesanalmente e seu segredo nunca foi totalmente desvendado. Em 2001, quando completou 100 anos, recebeu o nome, uma festa e foi incluída no Guiness dos Recordes como a lâmpada mais duradoura do mundo. Hoje, com 117 anos, continua acesa, perdendo apenas parte da sua luminosidade. Em 1924, houve uma reunião em Genebra com os maiores fabricantes de lâmpadas do mundo, a maioria norte-americana e europeia, mas também com a presença de africanos e asiáticos. Nessa reunião ficou acertado que a durabilidade de todas as lâmpadas produzidas passaria de 2500 para 1000 horas e que todos eles investiriam seus esforços para atingir tal meta de redução, o que realmente foi atingido somente nos anos 40. Tal fato pode ser comprovado pelos anúncios veiculados nas duas épocas. Esse é o primeiro cartel que se tem notícia, conhecido como PHOEBUS, amplamente documentado e divulgado em diversos artigos e filmes. Destaca-se aqui o interessante documentário da cineasta alemã Cosima Dannortizer The Light Bulb Conspiracy, de 2010, rodado em vários países do mundo e disponível no Youtube. Outros exemplos corroboram a existência real da obsolescência programada, como o caso das meias de nylon da Dupon. Quando o nylon foi desenvolvido, engenheiros e químicos da Dupon conseguiram produzir um fio extremamente robusto. Meias femininas feitas com esse material foram testadas por familiares dos próprios técnicos, mostrando-se muito resistentes, praticamente indestrutíveis. No entanto, em seguida houve uma orientação da direção da empresa para que os mesmos profissionais se empenhassem agora em desenvolver fibras mais frágeis, de maneira que as meias não durassem tanto. A queda da bolsa de Nova York em 1929, que provocou enorme recessão, de certo modo justificou a ideia de que a economia deveria girar e crescer segundo o mesmo modelo, pois o desemprego foi grande e era preciso garantir os salários dos operários. Um parêntese: na época não se tinha a noção atual sobre as questões ambientais hoje tão em voga, como a poluição do ar, do solo e da água, efeito estufa, aquecimento global e esgotamento dos recursos naturais. Pelo contrário, se acreditava que esses recursos eram enormes e suportariam toda a produção em massa mundial. 7 Foi exatamente em decorrência da recessão de 29 que surgiu o termo obsolescência programada, criado pelo norte-americano Bernard London, um investidor imobiliário. Ele propôs a obrigatoriedade da redução da durabilidade de todos os produtos com certo controle governamental, o que, acreditava, garantiria trabalho para todos, impulsionando a economia tão afetada pela recessão. O conceito explicitou a prática que já existia de maneira camuflada. A ideia de London foi considerada muito radical e não foi aceita formalmente na ocasião. Mas na década de 50 foi encampada abertamente e transformada pelo designer Brooks Stevens, então já um profissional consagrado, famoso por seus desenhos no desenvolvimento de produtos considerados modernos e um árduo defensor da obsolescência programada. Stevens (apud Braga, 2018) argumentava que a obsolescência programada dependia do consumidor. Todos os consumidores desejam novos produtos no mercado e são livres para decidir comprá-los ou não, independentemente da duração dos mesmos. Surgia então a obsolescência percebida, complementar e certamente mais eficaz que sua antecessora, pois a ideia agora era seduzir o consumidor, tornando-o “infeliz” com os produtos que tinha em casa e despertando sua vontade de comprar novos. Não é mais a durabilidade do produto que atrai o consumidor, mas seu design moderno e a praticidade de uso. 8 OBSOLESCÊNCIA PERCEBIDA: O CONSUMIDOR QUER E “PRECISA” DE CADA VEZ MAIS! A partir da década de 50, o consumo foi gradativamente se fortalecendo, impulsionado, por um lado, pelo avanço tecnológico e o design, que encurtam a vida útil dos produtos e os tornam “antiquados” cada vez mais rapidamente e, por outro, pelo Marketing, pela publicidade e pela mídia em geral, responsáveis por incutir no consumidor o desejo da compra, junto com novos paradigmas de comportamento. Não são mais os valores familiares, a educação dada em casa que imperam, mas sim a posse de produtos é que determina o pertencimento a grupos específicos, afetando diretamente a constituição da identidade pessoal e do autoconceito. Não somos mais mães, professores, agricultores ou católicos, protestantes, judeus, mas nos percebemos (e nos avaliamos!) pelas coisas que temos, que conseguimos comprar. Importa mais a marca de nossas roupas e, bolsas e sapatos do que conforto ou durabilidade, e desfilamos orgulhosamente como anúncios ambulantes. Citando mais uma vez Carlos Drummond de Andrade (1984), em outro trecho do poema “Eu etiqueta”: Agora sou anúncio ora vulgar ora bizarro… Não sou –vê lá – anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender. E bem à vista exibo esta etiqueta. Leandro Karnal (filósofo e historiador), em uma palestra de setembro de 2016, Felicidade e consumo no mundo contemporâneo, demonstra como a inclusão ou exclusão social são agora dadas pelo consumo, usando um exemplo interessante: segundo ele, antigamente ladrões roubavam por comida, eram crimes de fome; hoje roubam por status:roubam celulares ou tênis, não porque precisem de um aparelho de comunicação ou de um calçado, mas sim porque querem o progresso material que esses objetos significam: querem um smartphone X ou um tênis de marca, não qualquer telefone ou calçado. Não é à toa que, na segunda metade do século XX, assistimos a um aumento do número de agências de publicidade e de marketing e à proliferação dos cursos de formação dos profissionais da área. Durante a década de 70, por exemplo, o curso de Publicidade e Propaganda foi um dos mais concorridos na FUVEST, em São Paulo, disputando os primeiros lugares com Medicina e Engenharia. A Psicologia deu sua contribuição à formação dos profissionais da área, sistematizando os conhecimentos produzidos por quase todas as correntes teóricas, construindo os manuais já citados e instrumentos de pesquisa e análise, de maneira a aplicá-los diretamente ao comportamento do consumidor. Muitos desses conhecimentos inclusive foram descontextualizados e serviram para camuflar o processo gerador da obsolescência, percebida e programada. O melhor exemplo é a Pirâmide de Maslow, presente em praticamente todos os livros e artigos sobre o comportamento de consumo. Abraham Maslow (1908-1970) foi um psicólogo norte americano que criou uma abordagem original, chamada 9 humanismo ou corrente humanista. A concepção de Homem adotada considera o ser humano detentor de livre arbítrio e responsável por suas escolhas e ações. De certa forma, as ideias de Maslow podem ser consideradas como uma reação às duas concepções então mais fortes na época: a primeira, a Psicanálise, originada das concepções de Freud, considera um determinismo psíquico em nossa conduta, consciente ou inconsciente. A segunda, o Behaviorismo, criado por Skinner e seus seguidores, foca a importância dos estímulos do meio em nosso comportamento, demonstrando por meio de metodologia experimental que o comportamento humano é controlado pelas suas consequências. A principal elaboração de Maslow ao estudar a motivação humana foi sua pirâmide de necessidades (anexo 2), uma sistematização das necessidades humanas numa hierarquia de cinco níveis. Coerente com a concepção humanista, essas necessidades seriam universais, presentes em todos os seres humanos de qualquer época e lugar, ou seja, parte da natureza humana. Na base da pirâmide estariam as necessidades fisiológicas, depois as de segurança, em seguida as de amor e relacionamento, as de estima e por último as de realização pessoal. A satisfação de necessidades de um nível só seria buscada quando as do nível anterior estivessem satisfeitas. Maslow não esteve preocupado em analisar o consumo, sua teoria era voltada para a prática da Psicologia Clínica. Mas é fácil perceber por que tal concepção foi rapidamente adotada pelo marketing: se nossas necessidades são universais, vistas como parte da nossa natureza, não são o mercado nem a publicidade que criam necessidades de consumo, apenas dão condições para a satisfação das mesmas, já existentes. O desejo de compra seria então decorrente do processo de motivação humana, uma forma moderna de satisfazer nossas necessidades naturais. Correntes psicológicas atuais criticam a concepção humanista de Homem de Maslow, acreditando não termos natureza, mas sim história. A psicologia sócio-histórica, uma dessas correntes, define assim o ser humano:2 O homem constrói sua existência a partir de uma ação sobre a realidade, que tem por objetivo satisfazer suas necessidades. Mas essa ação e essas necessidades têm uma característica fundamental: são sociais e produzidas historicamente em sociedade. As necessidades básicas do homem não são apenas biológicas; elas, ao surgirem, são imediatamente socializadas. Por exemplo, os hábitos alimentares e o comportamento sexual do homem são formas sociais e não naturais de satisfazer necessidades biológicas (BOCK,1999, p. 89). A concepção motivacional de Maslow ajudou a disfarçar o mecanismo de sedução do consumidor, que cria necessidades de consumo até então inexistentes. A publicidade consegue inclusive inverter a ordem de satisfação das necessidades. Não são poucas as famílias brasileiras que moram precariamente, sem água encanada e esgoto, mas têm em suas casas modernos aparelhos de televisão. Comprovando a hipóteses das necessidades serem sociais e historicamente constituídas, basta verificar as novas necessidades surgidas nesse período, fruto do 2 Vertente da Psicologia baseada na concepção de Vigotsky que entrou no Brasil na década de 1980 através da Psicologia Social e da Educação, representada principalmente por teóricos e professores da PUC-SP. Mais informações em Bock e outros,1999, capítulo 6, p. 85 a 96. 10 avanço tecnológico e de descobertas e invenções, promovendo mudanças significativas no comportamento humano. O plástico foi talvez uma das mais impactantes criações em relação ao consumo. Permitiu a era dos descaráveis, literalmente. Pratos, copos, talheres, fraldas, absorventes femininos, embalagens de alimentos e por aí afora. Foi no começo do século que Leo Hendrik Baekland desenvolveu uma resina totalmente sintética que denominou baquelita. “Daí para o material ocupar o papel de destaque que tem atualmente foi apenas questão de tempo: a produção mundial de plástico passou de 1,5 milhão de toneladas em 1950 para 265 milhões de toneladas em 2010” (EDUKATU, 2007). Chegamos à era da praticidade: o consumidor tem pouco tempo para as tarefas domésticas, agora muito facilitadas pelos inúmeros instrumentos e eletrodomésticos existentes no mercado. As mulheres de donas de casa perfeitas passam a profissionais realizadas, acumulando a dupla jornada de trabalho: nas suas profissões e em casa, cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos. Computadores, celulares, máquinas de lavar pratos, congeladores, micro- ondas, eletrodomésticos variados invadem os lares e tornam-se objetos almejados, sonhos de consumo e agora necessários, principalmente em função dos novos padrões de comportamento. 11 MUDANDO O COMPORTAMENTO: PESSOAS MAIS FELIZES? Se a felicidade fosse dependente de nossos níveis de consumo, nós deveríamos ter chegado à felicidade absoluta. (SERGE LATOUCHE, in DANNORTIZER, 2010). Assistimos nesse período a uma verdadeira revolução nos costumes: os integrantes das famílias não fazem mais as refeições em conjunto. O almoço é geralmente feito na rua em fast-foods ou restaurantes por quilo. Cada um janta num horário diferente em pratos individuais esquentados nos micro-ondas. Os jovens em seus quartos, mas todos na frente da televisão. O alimento é raramente preparado em casa, mas comprado pronto, congelado. Casais se separam e se casam novamente, constituindo novas famílias. A mulher “se libera” e aumenta sua participação social. A internet, disseminada no final do século, introduz novo padrão de relacionamento, o digital. A globalização promove a comunicação e encurta distâncias. Uniformiza o consumo: jovens do mundo inteiro vestem-se da mesma maneira, ouvem e dançam as mesmas músicas. Com ferramentas cada vez mais aperfeiçoadas, os profissionais de marketing e propaganda se multiplicam. Praticamente todas as empresas, grandes, médias e pequenas se utilizam dos serviços dos mesmos para conquistar mais clientes e fidelizar os antigos, aumentando assim o consumo de seus bens e serviços. A televisão entra em todos os tipos de lares, as emissoras também se reproduzem e junto com a informação e o entretenimento, a publicidade se impõe. Conhecer a fundo os consumidores torna-se uma necessidade. É desse período a origem da várias pesquisas de hábitos e valores dos consumidores, a maioria encomendada por grandes empresas ou agências de publicidade. Instrumentos importados de outros países foram traduzidos e adaptados à realidade brasileira e amplamente empregados para traçar o perfildo consumidor. Os mais conhecidos são dois inventários, o AIO (Atividades, Interesses e Opiniões) e VALS I e II, esse último desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Pesquisa de Stanford, EUA. A VALS classifica o consumidor em tipos com base em seus recursos (financeiros, psicológicos e materiais) e motivações (ideais, realizações e auto expressão). As combinações desses dois itens produzem oito tipos de consumidores: inovadores, pensadores, realizadores, experimentadores, crentes, lutadores, fazedores e sobreviventes. Segundo Tânia Limeira (2008, p. 74), professora de marketing da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP) e autora de Comportamento do Consumidor Brasileiro: “[…] a segmentação psicográfica é bastante usada no Brasil como base para a seleção do público alvo e a formulação das estratégias de posicionamento (da marca) e de comunicação […]”. Institutos de pesquisa nacionais também criaram suas próprias metodologias, conseguindo resultados significativos. A MTV, uma rede de televisão voltada para o público jovem foi uma das pioneiras no mapeamento de seu público. Em 1999, 12 realizou a primeira pesquisa cujos resultados foram publicados e amplamente divulgados, sob o título de “Dossiê Universo Jovem”3. Os segmentos dos jovens – a amostra envolveu homens e mulheres de 12 a 30 anos, residentes nas principais capitais do país, receberam nomes mais criativos: antenas do tempo, novas posturas, sonhando com alturas e lutando nas bases, vivendo intensamente, arranhados pela vida e solidários. Hoje esse material, além de disponível na internet, pode ser encontrado em sebos de livros. A Estante Virtual, por exemplo, tem vários exemplares. A internet, aliás, é uma fonte interessante de pesquisas de segmentação. Destaca-se o vídeo produzido em 2010 pela agência BOX 1824, We all want be Young, que teve como objetivo caracterizar a geração Y (ou Milleniuns) como é conhecida a geração nascida nas décadas de 80/90. O vídeo traça um paralelo com as gerações anteriores, os Baby Boomers, nascidos em 40/50 e a geração X, de 60/70, usando linguagem atual, a dos videoclipes. De maneira sintética, consegue mostrar a mudança de comportamento e valores dos consumidores durante a segunda metade do século passado e começo deste. Para atender aos consumidores, o comércio se reorganiza, incrementando as vendas: vivemos a época dos shoppings centers, grandes espaços recheados de lojas com alguns centros de lazer, como cinemas, cafés, restaurantes e atividades para as crianças. Ao invés de parques e jardins ao ar livre, os centros de compra tornaram-se rapidamente o local preferido para os passeios familiares. A maior diversão é olhar vitrines. E mesmo quando se vai ao cinema ou lanchar, os longos corredores com vitrines chamativas são apelos enormes ao consumo. Além dos produtos realmente descartáveis, use uma vez e jogue fora, como lenços de papel e fraldas, outros tipos de produtos tornaram-se descartáveis, graças à existência da obsolescência percebida. A moda faz com que, a cada ano, vestidos, calças, camisas, bolsas e sapatos tornem-se ultrapassados, pois seus comprimentos, tecidos, cores e modelos não refletem mais a modernidade. Quem não anda na moda se sente excluído de seu grupo social e isso vale para homens, mulheres e crianças de todas as idades e condições socioeconômicas. Homens bem sucedidos, acompanhados de lindas mulheres louras, altas e magras têm sempre o carro do ano. Usam um relógio X no pulso, a caneta Y no bolso do paletó de marca. As famílias felizes, formadas por um lindo casal, duas crianças alegres e bem educadas e um cão, de preferência Labrador Golden, consomem determinada margarina, moram num determinado tipo de casa e se vestem de uma mesma maneira. Valores são formados. Padrões estéticos são agora os valorizados pela mídia. A identificação passou a se dar com as/os modelos das lojas e da publicidade ou com artistas da televisão e não mais com seus pais e mães. Para ilustrar a forma como o consumo e a mídia alteram nossos valores, um fato curioso: por volta de 1995 eu ministrava aulas de Psicologia num curso de Propaganda e Marketing em São Paulo. O trabalho final, que envolvia todas as disciplinas do ano letivo, era uma proposta de intervenção de marketing numa instituição do terceiro setor. Um dos grupos fez seu trabalho com uma ONG que recolhia cães abandonados e promovia feiras de adoção. Encontraram dados que 3 Em 2010 foi publicada a 5ª edição do Dossiê Universo Jovem. As várias edições estão disponíveis em www.aartedamarca.com.br. 13 surpreenderam os alunos: a maioria desses cães abandonados era de raça e tinham preços relativamente altos no mercado. Os alunos se perguntaram então: por que pessoas que devem gostar de cães, compram animais caros e depois de um tempo os abandonam? Decidiram fazer uma sondagem, entrevistando alunos do campus, de diversos outros cursos. A pesquisa detectou que, nos projetos de vida de grande parte dos jovens, rapazes e moças, havia sempre um cão compondo o modelo de família almejada. Quando perguntados quais eram suas metas de vida, respondiam que, além de um emprego onde ganhassem bem e se sentissem realizados, queriam se casar, ter dois filhos (de preferência um casal), casa própria, um automóvel e um cachorro labrador ou Golden Retriever dourado. No plano dos sonhos e desejos, esse era o modelo de felicidade, o mesmo apresentado como pano de fundo em vários anúncios (cenário conhecido no meio publicitário como família margarina). Quando esses jovens se casavam ou iam morar juntos, compravam o cão antes mesmo dos filhos ou da casa própria. Mas a realidade se mostrava bem diferente do clima dos anúncios. O cachorro preso num apartamento durante todo o dia, sozinho, enquanto seus donos trabalhavam e estudavam, fazia suas necessidades pelo espaço todo, roía móveis, tapetes e sapatos, rasgava roupas do varal. Os jovens quando chegavam a casa, muitas vezes tarde da noite, cansados, precisavam ainda passear com seus cães. Brigas aconteciam. As despesas também eram grandes, além do estrago nos móveis, roupas e objetos, havia gastos com ração, vacinas, veterinário, banhos. Em suma, o dia a dia do jovem casal com seu cão nem de longe se parecia com o mostrado na TV. Abandonar o pomo da discórdia e o foco da infelicidade sentida em um lugar distante era a solução encontrada. Na situação acima descrita, percebe-se claramente que o modelo familiar não era o recebido por seus familiares, mas basicamente o veiculado pela mídia, mesmo que de forma subliminar. Para manter o comportamento, comprando sempre mais e mais, os consumidores precisaram aumentar sua carga de trabalho. O ingresso feminino no mercado de trabalho, além de manter a imagem de mulher moderna também aumenta a renda familiar. A culpa pela ausência dos pais em casa e pela falta de tempo no cuidado e relacionamento com os filhos é compensada por brinquedos novos e caros. A TV, uma excelente babá eletrônica, estimula os pequenos a quererem todo o tipo de bonecos, carrinhos, jogos. O consumo é agora um mecanismo de compensação, que pretensamente diminui a ansiedade e aplaca a culpa que o consumidor sente. Entramos em um círculo vicioso. A primeira consequência para o consumidor é que a gratificação pela posse dos objetos comprados é efêmera, muitas vezes só imediata. E, portanto, também frustrante. Ou seja, o prazer não vem mais do uso do que foi comprado, mas da compra em si. É a compra pela compra. E, assim que ela se realiza, o consumidor não se satisfaz, pois produtos similares com um design mais moderno ou alguma nova função são lançados rapidamente no mercado. Às vezes até já existem e por razões financeiras não puderam ser adquiridos naquele momento. No ótimo documentário Criança, a Alma do Negócio, produzido em 2008 pelo Instituto Alana e dirigido porStella Renner, isso se evidencia. Seja pelo relato de pais mostrando a quantidade de brinquedos que seus filhos têm e que nunca brincaram, 14 seja pelo depoimento das crianças dizendo que comprariam um shopping se ganhassem muito dinheiro ou que preferem ver TV e fazer compras a brincar. Elas não querem mais um brinquedo específico ou amigos, companheiros de jogos e brincadeiras, mas querem apenas comprar. A segunda consequência – e não menos importante – é a constante infelicidade individual, caracterizada pela angústia, depressão e consequente abuso de drogas, lícitas ou ilícitas. A depressão inclusive já é considerada o mal do século. O círculo vicioso faz com que as pessoas trabalhem cada vez mais, diminuam o tempo de lazer junto à família e amigos e se endividem, pois o padrão de consumo desejado é, frequentemente, maior que o poder aquisitivo real. Cartões de crédito, financiamentos e liquidações estimulam a aquisição de bens num ritmo bem maior que a possibilidade financeira do consumidor. Uma comprovação: um dos candidatos à presidência do Brasil nas eleições de 2018 tinha em sua plataforma a promessa de zerar as dívidas de todos os cidadãos que estavam com o nome no SBPC, ou seja, pessoas que tinham assumido dívidas e não tinham conseguido pagá-las. Está formado o cenário perfeito para a insatisfação. A angústia e a depressão decorrem da falta de saída percebida pelo consumidor, que vê sua felicidade como dependendo diretamente dos bens materiais. Ser alguém e ser feliz é sinônimo de ter coisas. Zygmut Bauman (1925-2017), sociólogo, filósofo e professor polonês, um dos mais profícuos e respeitados teóricos do consumo pós-moderno, com cerca de 30 livros publicados no Brasil, compara em vários de seus textos, as lojas às farmácias, chamando as compras de pílulas da felicidade, usadas sempre que estivermos tristes ou sofrermos uma contrariedade. Na verdade, todos os estudos apontam para uma relação inversa. Serge Latouche, economista e filósofo francês, um dos criadores da Teoria do Decrescimento4, diz em entrevista a Cosima Dannortizer, (2010), completando a frase que abre esse capítulo: “[…] todos os estudos mostram que as pessoas não estão mais felizes, inclusive pode haver uma relação inversamente proporcional entre o crescimento do consumo e o da sensação de felicidade, porque a felicidade é sempre subjetiva […]”. Outras pesquisas feitas para avaliar o grau de felicidade de grupos sociais demonstraram que quanto maior é a valorização dos bens materiais, menor a importância dada a valores pessoais como empatia, cooperação, respeito aos outros e ao meio ambiente. O pouco tempo livre disponível faz com que as pessoas não se relacionem mais diretamente com amigos, vizinhos, familiares, nem possam se dedicar ao estreitamento das relações afetivas ou à busca do conhecimento. O tempo livre da maioria das pessoas é gasto na frente da televisão. Várias maneiras de se avaliar e comparar a qualidade de vida das populações foram criadas. O PIB (Produto Interno Bruto) per capita é uma delas, bastante utilizada, que considera o total produzido num país na agricultura, indústria e serviços, 4 A Teoria do Decrescimento é uma proposta alternativa de frear a destruição do meio ambiente e promover a melhora da qualidade de vida, garantindo o futuro da humanidade. Várias palestras do autor estão disponíveis no Youtube e alguns de seus livros foram traduzidos para o português pela Editora Icaria. 15 dividido pelo número de habitantes, como se todos tivessem partes iguais nessa divisão. Claramente tal índice não reflete bem estar ou qualidade de vida. Em primeiro lugar porque num país como o nosso, a distribuição de riquezas é bastante desigual. Poucos indivíduos detém a maior parte dessa riqueza, enquanto a enorme maioria fica com uma parte muito pequena. Além disso, poderíamos pensar que um PIB alto implica em mais horas de trabalho e, portanto em menos horas de lazer. Ou poderia ser associado também a um nível mais alto de poluição e agressão ao meio ambiente, o que daria menos qualidade de vida as populações locais. Outro índice, o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, criado pela ONU, leva em conta basicamente escolaridade média e expectativa de vida escolar da população, renda nacional bruta per capita, nível de saúde e expectativa de vida da população, considerando aí serviços de saúde e saneamento básico. O mesmo raciocínio usado em relação ao PIB pode aqui também ser aplicado. As desigualdades brasileiras referem-se também à apropriação dos serviços de saúde e educação e na diferença da qualidade desses serviços nos níveis público e privado. Um dos instrumentos de pesquisa mais utilizados no Brasil, o Critério de Classificação Econômica, classifica a população em camadas segundo a posse de bens em suas casas. O número de refrigeradores, rádios, televisões, eletrodomésticos, junto com o nível de escolaridade do chefe da família situa o indivíduo na camada alta, média ou baixa da população. Resumindo, todos esses indicadores ao considerarem o poder aquisitivo médio não refletem a situação da maioria da população e ainda é a capacidade de consumir bens e serviços que situa a pessoa nas classes ou camadas sociais. Quanto mais a pessoa consome, mais “valorizada” é. 16 CONSUMISMO A cidade de Leônia refaz a si própria todos os dias: a população acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém-tirados da embalagem, veste roupões novíssimos, extrai das mais avançadas geladeiras latas ainda intatas, escutando as últimas lengalengas do último modelo de rádio. (CALVINO, 1990, p. 105). A descrição feita por Ítalo Calvino do acordar dos habitantes de Leônia, uma de suas cidades invisíveis, caberia com certeza em várias cidades brasileiras. Porque atualmente assistimos a uma transformação das sociedades industrializadas (e, portanto, produtoras) em sociedades consumidoras. A valorização extrema do consumo gerou o consumismo, uma tendência ao consumo exagerado de bens e serviços, em sua maioria supérflua, explicado pela busca contínua da felicidade. Bauman assim define: A sociedade de consumo tem como base de suas alegações a promessa de satisfazer os desejos humanos em um grau que nenhuma sociedade do passado pôde alcançar, ou mesmo sonhar, mas a promessa de satisfação só permanece sedutora enquanto o desejo continua insatisfeito, mais importante ainda, quando o cliente não está plenamente satisfeito. (BAUMAN, p.63). O consumismo dominou o consumidor, que passou então a se comportar de maneira a reproduzir o sistema econômico vigente, comprando sem parar, reproduzindo consequentemente atitudes e valores compatíveis com sua conduta. Extremos do comportamento consumista geraram inclusive uma nova doença, a oniomania ou Transtorno da Compra Compulsiva. Nesse quadro, o consumidor perde totalmente o controle de seus atos de compra. As razões apontadas são as mesmas: amenizar angústia ou lidar com frustrações e depressão, mas a frequência do comportamento é muito maior. Procurando esconder seu transtorno, os compulsivos mentem para seus familiares e contraem enormes dívidas que chegam a comprometer o orçamento familiar. O cartão de crédito é o grande vilão do processo. Apesar de não ter cura, a oniomania pode ser tratada. Em 2004 o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo criou o Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRÓ-AMITI), que atende também outros tipos de comportamentos compulsivos, como o de comer ou jogar. O tratamento dos compradores compulsivos envolve medicação e terapia, além de um apoio dado por economistas para o acerto das finanças. Segundo a coordenadora do núcleo de compra, Tatiana Filomensky, em artigo para o Jornal da USP de agosto de 2015 (LEÃO, 2015), o objetivo é “[…] ressignificar o comportamentocompulsivo, mostrar outras formas de a pessoa obter recompensas e sentir-se amada que não seja pelo viés do consumo […]”. A maioria dos pacientes 17 do PRÓ-AMITI é composta por mulheres, estimadas em 5% da população geral, o que a coordenadora considera um índice elevado. Ainda segundo a coordenadora, os resultados têm sido animadores. É grande o número de participantes que conseguiu controlar sua compulsão e alterar o comportamento de consumo, depois de se submeter ao tratamento. O filme norte americano Delírios de Consumo de Becky Bloom, estrelado por Isla Fisher em 2009 e baseado no romance de mesmo nome de Sophie Kinsella, mostra de maneira divertida as complicações de uma consumidora compulsiva e seus esforços para superar o transtorno. Resumindo, podemos afirmar que no século passado o consumo se transformou em consumismo e o consumidor ficou preso numa espécie de círculo vicioso, buscando sua felicidade por meio da compra de cada vez mais produtos, sem ter a noção clara das implicações de seu comportamento em toda a cadeia produtiva, desde a extração da matéria prima até o descarte do que não é mais usado e encontrando basicamente infelicidade nesse processo. No entanto, a partir do final do século passado e começo desse, essa situação começou a ser alterada. Em função de questões ligadas principalmente a alterações climáticas e de saúde, indivíduos, grupos e governos começaram a divulgar os efeitos nocivos desse modelo econômico, pondo em cheque o modo de vida baseado no consumismo. O aspecto mais evidente para o consumidor é a destinação das coisas que são substituídas pelas novas. O descarte tornou-se um problema e movimentos de reciclagem e reaproveitamento de excedentes surgiram em diferentes países. No entanto, o descarte não é o único problema. O comportamento de consumo exacerbado vem agredindo nosso planeta em todas as fases do processo de produção, pondo em risco, inclusive, nosso futuro. 18 VIVEMOS NUM PLANETA FINITO Alterações climáticas, aquecimento global, tempestades, furacões ou grandes períodos de seca espalhados pelo mundo todo alertaram estudiosos sobre os efeitos da degradação que a natureza vinha sofrendo, causada principalmente pela economia produtiva adotada pelos países industrializados. Percebeu-se que o modelo era bastante perverso em relação à natureza e aos próprios indivíduos. Os recursos do planeta, solo, água e ar não são ilimitados, mas finitos. Analisando todas as etapas da cadeia produtiva, percebemos que a agressão ao meio ambiente começa na primeira delas: a extração das matérias primas. Petróleo, minérios, árvores são apenas alguns exemplos. A Amazônia, talvez nossa maior riqueza, vem sendo devastada a uma velocidade enorme, apesar dos esforços de governos e grupos da sociedade civil. Segundo Annie Leonard, em seu livro A História das Coisas, nós estamos exaurindo nossos recursos naturais com muita rapidez. 1/3 dos recursos naturais do planeta já se foram, 75 % dos viveiros de peixes se esgotaram, 80% das florestas desapareceram e com a vegetação, muitas espécies animais também. A conclusão de que não podemos tirar indefinidamente recursos de um planeta finito, é dela. Na etapa seguinte, a produção propriamente dita, além das matérias primas extraídas da natureza, tem o consumo de água e energia. As fábricas lançam dejetos, provocando poluição do ar, da água e do solo. A emissão de gases tóxicos pelas indústrias afeta não só os trabalhadores diretos, mas toda a população do entorno e o próprio consumidor, pois vários estudos já demonstraram que existem elevados graus de químicos tóxicos em praticamente todos os produtos consumidos diariamente. As neurotoxinas – toxinas que afetam nosso cérebro estão presentes nos computadores, celulares, colchões, travesseiros, tecidos. As carcinogênicas, em alimentos, roupas, sapatos e até em brinquedos. Na verdade não se sabe exatamente quais os efeitos dessas toxinas em nosso organismo, uma vez que os estudos ainda estão em andamento e a divulgação de resultados, às vezes parciais ou não plenamente comprovados, e a internet banaliza a informação. Alguns exemplos: “ficar na frente de um forno de micro-ondas ligado provoca câncer”; “usar smartphones no bolso da calça afeta a capacidade reprodutiva masculina”. O consumidor, recebendo enorme quantidade dessas informações pelas redes sociais não dá crédito! Não podemos esquecer a produção agrícola, com pesticidas que vão direto para o corpo dos consumidores, nem doas animais criados para abate, frangos, vacas e porcos que trazem em suas carnes quantidades de toxinas e hormônios. Na década de 90, médicos do Hospital das Clínicas de São Paulo constataram que as meninas criadas na cidade estavam tendo sua primeira menstruação mais cedo. A idade média da menarca em 1960/70 era 13 anos. Agora a idade média tinha caído para 11 e eram muitos os casos de meninas menstruando aos 9 anos. Investigando as possíveis causas, chegaram a três fatores: o primeiro deles, a exposição à mídia que estimulava a sexualidade precoce, prejudicando o desenvolvimento da criança. O segundo, absorção pela pele de produtos destinados às crianças, que até pouco tempo não existiam: hidratante, shampoo e creme rinse basicamente. No passado usava-se sabão de coco para lavar os cabelos das crianças! .E o terceiro, ingestão de hormônios via alimentos, principalmente frangos. 19 Na tentativa de abreviar o processo de criação dos frangos destinados ao abate, além do confinamento em locais pequenos, alimentavam-nos com hormônios, para que ficassem gordos rapidamente e, portanto, os custos com a produção fossem diminuídos. Hoje essa situação foi alterada graças à intervenção de órgãos reguladores e, principalmente, pela pressão do próprio consumidor que ciente dos malefícios de ingerir frangos criados com hormônios, passou a preferir as empresas que não utilizam tal recurso. Para evitar os efeitos nocivos da produção de bens e diminuir custos, muitas fábricas foram deslocadas dos países industrializados para o chamado terceiro mundo. Temos, portanto, mais uma questão: direitos humanos violados. O uso de mão de obra infantil ou de populações inteiras exploradas são situações constantemente denunciadas por organizações militantes. Annie Leonard, no livro já citado, relata uma visita feita a Porto Príncipe, no Haiti, em 1990. Assim descreve a situação de trabalhadoras da região que costuravam roupas para a Disney, relatada por uma das líderes do grupo, Yannick Etienne: No calor haitiano nos aglomerávamos numa pequena sala de uma casa feita de blocos de concreto. As janelas permaneciam fechadas, para que ninguém nos visse reunidas. As mulheres trabalhavam dia após dia, costurando roupas que jamais conseguiriam comprar. As que tinham a sorte de receber salário mínimo, ganhavam cerca de quinze dólares por semana, numa jornada de oito horas diárias ao longo de seis dias. Alguns supervisores não pagavam o salário caso uma determinada quantidade de roupas não ficasse pronta a cada turno. As mulheres descreviam a pressão desumana, o assédio sexual constante entre outras humilhações e as baixas condições de segurança. (LEONARD, 2011, p. 77). Essa é uma informação importante para os muitos consumidores brasileiros que todos os anos frequentam os parques da Disney e compram camisetas, bonés, fantasias, provavelmente feitas no Haiti. Muitas outras situações semelhantes vêm sendo denunciadas e boicotes de consumidores do mundo inteiro têm pressionado as organizações e alterarem suas condições de trabalho. 20 A DISTRIBUIÇÃO: VIAJANDO PELO MUNDO Matérias-primas são produzidas ou extraídas diretamente da natureza em diferentes países. Fábricas produzem todas as coisas que usamos também em vários locais e precisam chegar às lojas para serem compradas pelo consumidor. A logística do processo envolve muita gente: fornecedores, produtores, trabalhadores,investidores, atravessadores, pessoal direto dos transportes, marítimo, aéreo e terrestre. Os produtos originários da Ásia, por exemplo, viajam preferencialmente em grandes navios cargueiros, que são um dos maiores poluidores dos oceanos. Annie Leonard (2011, p. 130) elenca algumas manchetes sobre esse aspecto, baseadas em pesquisas de instituições de renome: “[…] Emissões de enxofre dos navios têm forte impacto na poluição de oceanos e costas: cargueiros a diesel estão entre as maiores fontes de poluição mundial por tonelada de combustível […]” “[…] A cada ano o transporte marítimo causa cerca de 600 mil mortes por câncer de pulmão e doenças cardiopulmonares em todo o mundo […]” “[…] Navios comerciais emitem quase a metade do total de partículas poluentes liberadas por toda a frota de carros do planeta […]” Basicamente, navios, aviões, trens e caminhões transportam todos esses produtos e, certamente, consomem grandes quantidades de combustíveis fósseis, além de emitirem gases e produtos tóxicos que poluem a terra, o ar e os oceanos. No entanto, esse é o efeito menos percebido pelo consumidor como prejudicial em toda a cadeia produtiva. No Brasil, como o grosso do transporte interno de mercadorias se faz pela malha rodoviária, a greve dos caminhoneiros em setembro/outubro de 2018 chamou a atenção do consumidor, isso porque houve desabastecimento de produtos básicos, combustíveis e alimentos. Os danos ao meio ambiente continuaram escondidos. 21 O QUE ACONTECE COM TUDO QUE NÃO QUEREMOS MAIS Nas calçadas, envoltos em límpidos sacos plásticos, os restos de Leônia de ontem aguardam a carroça do lixeiro. Não só tubos retorcidos de pasta de dente, lâmpadas queimadas, jornais, recipientes, materiais de embalagem, mas também aquecedores, enciclopédias, pianos, aparelhos de jantar de porcelana: mais do que pelas coisas que todos os dias são fabricadas vendidas compradas, a opulência de Leônia se mede pelas coisas que todos os dias são jogadas fora para dar lugar às novas. (CALVINO,1990, p. 105). Mais uma vez a cidade de Leônia nos faz lembrar nossas cidades! Talvez também o consumidor moderno se avalie pela quantidade de coisas que descarta! O principal vilão do processo (e o mais perceptível) é sem dúvida o descarte, última etapa do consumo. Afinal, se precisamos comprar sempre novos produtos, os velhos precisarão ser descartados. Um dado assustador vem dos Estados Unidos: após seis meses de compra, somente 1% de todos os produtos permanece com o consumidor. 99% foram descartados, jogados fora. (LEONARD, 2011). Não temos essa informação atualizada no Brasil, mas, como importamos o modelo norte-americano de consumo, é de se esperar que essa porcentagem seja aqui também elevada. Todos os objetos que não queremos mais e as embalagens dos produtos vão, a princípio, para os lixões, ou aterros sanitários. Ou então primeiro o material é incinerado e depois jogado no lixão. As duas formas de descarte são ruins para o meio ambiente. Ambas poluem o solo, os recursos hídricos e o ar. A incineração libera as toxinas presentes nos produtos, além de expelir novas toxinas, como a dioxina, uma das substâncias mais tóxicas que se conhece. O trecho abaixo foi extraído do site ecycle.com.br, uma organização que se propõe a divulgar maneiras e procedimentos para um descarte menos agressivo: Dioxina é um nome genérico para designar um grupo de substâncias químicas que são subproduto industrial de alguns processos… As dioxinas são consideradas Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), pois se acumulam na cadeia alimentar e também no corpo humano… A incineração do lixo também libera dioxina através da queima de plástico, de papel, de pneus e de madeira tratada com pentaclorofenol… Alguns exemplos de produtos que podem liberar dioxina são filtros de café, toalhas de papel e absorventes femininos que passaram por processos de branqueamento com cloro (EQUIPE ECYCLE, sd). Em 2004 circularam na internet notícias e fotos do candidato à presidência da Ucrânia, Viktor Yuschenko, que foi envenenado com dioxina tipo TCDD, a mais perigosa de todas. A quantidade usada foi grande, suficiente para causar deformações, mas todos nós temos pequenas quantidades de dioxina em nossos organismos, acumuladas nas gordurinhas, uma vez que a dioxina se acumula nos 22 tecidos adiposos, as regiões em nossos corpos e nos dos animais que têm mais gordura. O premiado curta metragem de Jorge Furtado, Ilha das Flores, de 1989, mostra, através de um roteiro ágil e bem humorado, o funcionamento da sociedade de consumo, terminando no lixão de Porto Alegre, ironicamente chamado Ilha das Flores. Destaca-se a desigualdade social gerada pelo modelo econômico e, principalmente, as condições sub-humanas da população local, que vive literalmente no e do lixo. Em função da quantidade de lixo produzido, os aterros tornaram-se um problema para os países industrializados, que resolveram simplesmente deslocar o destino do seu lixo para países mais pobres. Em 2009 a Polícia Federal brasileira descobriu que mais de mil toneladas de lixo vindas da Europa estavam sendo descarregadas aqui, escondidas em containers, com guias de importação de polímeros de etileno (plástico) para a fabricação de telhas ou reciclagem. Eram cerca de 90 containers vindos do reino Unido com uma carga de lixo tóxico e doméstico. Com a interferência do Ibama e da Polícia Federal, todo o lixo foi devolvido ao país de origem. O caso foi amplamente divulgado pela mídia em geral, inclusive pela Rede Globo, a emissora de maior penetração no Brasil, pauta do Jornal Nacional de julho de 2009. A matéria completa pode ser encontrada no site da globo.com. Outras notícias, no entanto, mostram que esse não foi um fato isolado. Em 2011, por exemplo, outro container com lixo hospitalar, dessa vez vindo dos Estados Unidos, tentou descarregar em Pernambuco, no Porto de Suape. Segundo a Gazeta do Povo de 13/10/2011, esse foi o segundo container apreendido. O primeiro continha lençóis sujos, seringas, luvas usadas e cateteres. Na realidade, ambientalistas de várias partes do mundo vêm denunciando tentativas de despejo de resíduos tóxicos de diversos países. Além do Brasil, Índia, África do Sul, Haiti são alguns deles. Uma situação amplamente documentada é a de Gana, que recebe pelo menos há dez anos um fluxo constante de lixo eletrônico vindo de vários países da Europa e também dos Estados Unidos. Concretamente esse envio é proibido por leis internacionais, mas países produtores conseguem burlar as leis com a desculpa de serem produtos de segunda mão que visam incluir a população africana na era digital. O documentário já citado The Light Bulb Conspiracy, de Cosima Dannortizer, mostra um ativista nascido e criado na região, Mike Anane, que vem se dedicando a documentar o processo, inconformado com a degradação ambiental de sua região natal, transformada num enorme lixão de eletrônicos. No lixão a céu aberto que se formou no local, crianças pobres procuram pedaços de metal para serem vendidos por quilo, queimando os invólucros plásticos dos componentes. Mike Anane vem fotografando e filmando a chegada de grandes cargueiros com containers repletos de computadores e aparelhos de TV obsoletos. Segundo ele, o aproveitamento do equipamento não chega a 20% do total. Mike Anane vem também coletando as etiquetas que comprovam a origem dos produtos (Dinamarca, Alemanha, Estados Unidos são algumas delas) formando um banco de dados que sirva como prova para um processo legal contra os países em questão. É dele a frase: “[…] as gerações futuras não vão nos perdoar, elas vão fazer cara feia para o estilo de vida de jogar fora dos países desenvolvidos […]” 23 PODEMOS REVERTER A SITUAÇÃO? Sim, com certeza. Segundo estudiosos e ativistas ambientais do mundo todo, não só é possível, como já está acontecendo. Desde o final do século passado pode-se perceber uma mudança significativa no comportamento do consumidor. O consumismo já não é tão valorizado e o consumidor melhor informado tornou-se mais consciente e exigente em relação aos seus direitos, além de mais ético em suas relações com o consumo. O principal fator que alavancou a mudança foi, sem dúvida, a internet. O fenômeno da globalização não alterou apenas a maneira de comprar (agora também à distância), mas permitiu que as informações que permeiam as relações de consumo cheguem rapidamente em todos os cantos do mundo. O consumidor do século XXI é um consumidor mais consciente de seu papel como agente transformador da qualidade das relações de consumo e como influenciador no comportamento de empresas e instituições. Questões como aquecimento global, poluição, degradação do meio ambiente, esgotamento de recursos naturais, miséria e exclusão social, exploração de mão-de-obra infantil, trabalho em regime de semiescravidão são alguns dos temas que têm inquietado esse consumidor. Afinal, ele é um cidadão do planeta, um consumidor cidadão. (SAMARA E MORSCH, 2005, p. 244). Encerramos assim esse primeiro livro texto com uma perspectiva otimista de mudança. Diferentemente da Leônia de Calvino, não precisamos terminar soterrados em enormes montanhas de lixo! 24 ANEXO 1 EU, ETIQUETA Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome… estranho. Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei. Minhas meias falam de produto que nunca experimentei mas são comunicados a meus pés. Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provada por este provador de longa idade. Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara, minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo, desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade, e fazem de mim homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado. Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabia tão diverso de outros, tão mim mesmo, ser pensante, sentinte e solidário com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição. Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro, em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente). E nisto me comparo, tiro glória de minha anulação. Não sou - vê lá - anúncio contratado. Eu é que mimosamente pago para anunciar, para vender em bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiqueta global no corpo que desiste de ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente, que moda ou suborno algum a compromete. Onde terei jogado fora meu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais, tão minhas que no rosto se espelhavam e cada gesto, cada olhar cada vinco da roupa sou gravado de forma universal, saio da estamparia, não de casa, da vitrine me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objeto que se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados. Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem. Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa. Eu sou a coisa, coisamente. Carlos Drummond de Andrade In Corpo, Cia das Letras, 1984. (escrito em 1970) http://pensador.uol.com.br/autor/carlos_drummond_de_andrade/ 25 ANEXO 2 PIRÂMIDE DE MASLOW Fonte: SCHERMANN, 2018. 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ANDRADE, Carlos Drummond. Corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 1984. BAUMAN, Zygmut. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. BOOK, FURTADO E TEIXEIRA. Psicologias, uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª edição reformulada e ampliada. São Paulo: Saraiva, 1999. CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis, trad. Diogo Mainardi. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. GADE, Christiane. Psicologia do Consumidor e da Propaganda. Ed. revisada e ampliada. São Paulo: EPU, 1998. GIGLIO, Ernesto. O comportamento do consumidor. 4ª edição. São Paulo: Cengage Learning, 2010. KARSAKLIAN, Eliane. Comportamento do Consumidor. São Paulo: Atlas, 2000. LEONARD, Annie. A história das coisas: da natureza ao lixo, o que acontece com tudo que consumimos. Tradução de Heloísa Mourão. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Comportamento do consumidor brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2008. SAMARA e MORSCH. Comportamento do consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. ELETRÔNICAS BRAGA, Júlia, Consumo exacerbado e esgotamento das fontes naturais. 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Pirâmide de Maslow: o que é e porque você precisa conhecê-la. Disponível em: <https://blog.opinionbox.com/>. Acesso em: 17 maio 2019. https://www.goethe.de/ins/br/pt/kul/mag/20786930.html http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2014/07/como-surgiu-o-plastico https://blog.opinionbox.com/ 27 VÍDEOS/ FILMES BOX 1824. We all want be Young. Pesquisa realizada pela agência BOX 1824, em 2010. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=c6DbaNdBnTM>. Acesso em: 3 nov. 2018. DANNORTIZER, Cosima. The Light Bulb Conspiracy. Documentário de 2010. Versão completa disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=H7EUyuNNaCU>. Acesso em: 10 out. 2018. FURTADO, Jorge. Ilha das Flores. Curta metragem de 1989, realizado pela Casa de Cinema de Porto Alegre. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=- qySt5LwCBg>. Acesso em: 30 out. 2018. LEONARD, Annie. A História das coisas. Produção de 2007. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=TFbFNwI6k>. Acesso em: 28 out. 2018. RENNER, Estela. Criança a alma do negócio. Produção do Instituto Alana e realização de Maria Farinha Filmes em 2008. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=ur9LIf4RaZ4&t=6s>. Acesso em: 14 out. 2018. SITES www.aartedamarca.com.br - Dossiês Universo Jovem MTV www.ecycle.com.br www.globo.com
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