Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ENDOCRINO I Doenças da Tireoide - Hipertireoidismo / Hipotireoidismo / Nódulos / Câncer A tireoide possui o formato em escudo abraçando a traqueia com seus lobos direito e esquerdo ligados pelo istmo. Pesa aproximadamente 20g. O bócio caracteriza-se pelo aumento da tireoide. Dentre as estruturas anatômicas, destaca-se a glote, carótidas e nervos. · Nervo laríngeo superior (lesão causa dificuldade em elevar o tom da voz) · Nervo vago D (origina o NLR D) · Nervos laríngeos recorrentes (D passa posterior ao TBC e E contorna a crossa da aorta) As paratireoides estão em íntimo contato com os nervos laríngeos recorrentes, bem como o esôfago e a tireoide. Determinados tumores ou lesões tireoidianas podem gerar rouquidão quando unilateral. Causas bilaterais causam fechamento da glote. Complicações da tireoidectomia - Lesão do nervo laríngeo superior – dificuldade em elevar o tom de voz - Lesão do nervo laríngeo recorrente – rouquidão (unilateral) / insuficiência respiratória (bilateral) - Hipoparatireoidismo – hipocalcemia no pós-operatório · Sinal de Chvostek e Trousseau “O R1 TROUSSEAU paciente um CHVOSTEK (irritabilidade)” · CHVOSTEK: Cansaço, Hipocalcemia, Vômitos, Tetania, Kâimbras · Trousseau: flexão da mão com manguito inflado A unidade funcional da tireoide é o folículo tireoideano, com várias células foliculares unidas com função de produção hormonal. Para isso, contam com a capacidade de concentrar iodo, substrato para formação dos hormônios tireoidianos, que são então armazenados no coloide e depois secretados no estroma glandular ricamente vascularizado. As células C (parafoliculares) tem pouco valor no ser-humano, porém são responsáveis pelo carcinoma medular da tireoide. A célula folicular tem capacidade de captar iodeto. A TPO (tireoperoxidase) capta o iodeto e transforma em T3 e T4, produzindo também tireoglobulina (Tg), que transporta os hormônios. Os hormônios ficam armazenados no coloide e quando necessários são separados da Tg e lançados no estroma. A produção de T4 é 20 vezes maior que T3, mas apenas T3 é biologicamente ativo; logo, ocorre uma conversão periférica de T4 em T3 pela TPO e Desiodinase tipo I. O propiltiouracil e o metimazol inibem a TPO! O TSH é responsável por todo este processo, atuando através do AMPc intracelular. O lítio inibe o AMPc intracelular, podendo causar hipotireoidismo. TIREOIDE T4 (20x) T3 Desiodase III Desiodase I e II rT3 T3 (sem efeito biológico) O iodo captado tem um controle fino sobre a célula folicular. Se o indivíduo ingere muito iodo, a célula folicular fica menos sensível à ação do TSH, e mesmo tendo mais substrato a taxa hormonal permanece normal (autorregulação da célula folicular). Com a redução da quantidade de iodo, a célula fica mais sensível ao TSH, mantendo a taxa hormonal normal. O efeito de Wolff-Chaikoff (indução de hipotireoidismo ao fornecer iodo) é um hipotireoidismo de base; seu oposto é o fenômeno de Jod-Basedow (indução de hipertireoidismo ao fornecer iodo). Isto pode ocorrer em TC com contraste e amiodarona! · ↑ IODO ↓ SENSIBILIDADE AO TSH T4/T3 normal · ↓ IODO ↑ SENSIBILIDADE AO TSH T4/T3 normal A amiodarona é uma droga de depósito, permanecendo no corpo por, no mínimo, 4 semanas após sua parada. Pode causar hepatotoxicidade, pneumotoxicidade, lesões oculares e também na tireoide. Ao depositar-se na tireoide causa uma tireoidite, rompendo o folículo e extravasando hormônios tireoidianos, causando tireotoxicose. Desta forma, a amiodarona pode causar hipotireoidismo (Wolff-Chaikoff), hipertireoidismo (Jod-Basedow) e tireotoxicose. O Eixo Endócrino da Tireoide: Hipotálamo (TRH) Hipófise (TSH) Tireoide (T4/T3) O excesso hormonal inibe o TRH, enquanto que a falta estimula sua liberação. Um hipotireoidismo primário significa um distúrbio da glândula, enquanto que o distúrbio secundário ocorre na hipófise. · A função tireoidiana é avaliada através do TSH! Fases iniciais de hipotireoidismo tem T4 normal com TSH elevado; a hiperestimulação do TSH causa bócio! Hipotireoidismo primário Hipertireoidismo primário Hipertireoidismo secundário TSH alto TSH baixo TSH alto T4L normal / baixo T4L alto T4L alto Bócio TSH sempre baixo (ex.: Dça de Graves) Ex.: tumor hipofisário produtor de TSH → adenoma TERCIÁRIO HIPOTÁLAMO (-) TRH (+)SECUNDÁRIO HIPÓFISE TSH (+) PRIMÁRIO TIREOIDE T4/T3 Análise Laboratorial da Tireoide Sempre solicitar TSH e T4L! TSH T4L 0,5 a 5,0 µU/ml 0,9 a 2 ng O propiltiouracil inibe a formação de T3 através do bloqueio da TPO e Desiodinase I, bem como propranolol e glicocorticoides. Após 1 hora inicia-se iodo, causando o efeito de Wolff-Chaikoff. - Hipertireoidismo: excesso de formação de hormônios tireoidianos por hiperfunção glandular. - Tireotoxicose: excesso de hormônios tireoidianos, não necessariamente por hiperfunção. Ex.: tireoidite factícia (intoxicação exógena), tireoidites. Captação de Iodo Radioativo (RAIU-24h) · Observa a captação de iodo radioativo pela tireoide em 24h. · Tireoide normal: captação de 5-20% do iodo administrado. Tireotoxicose Cursa com insônia, nervosismo, confusão, sudorese excessiva, intolerância ao calor, pele quente e úmida, perda de peso, polifagia, hiperdefecação, tremores e taquicardia. São sintomas adrenérgicos, e a tireotoxicose pode ser confundida com feocromocitoma (tumor endócrino produtor de adrenalina). Pode ocorrer HAS divergente e fibrilação atrial, pois há um hiperefeito em receptores β1 e aumento de receptores β2 (dilatação periférica). O tratamento é com propranolol – controla a clínica do excesso hormonal! Pode ser associado o propiltiouracil! Doença de Graves (Bócio Difuso Tóxico) Doença autoimune que causa hiperestimulação da tireoide pelo TRAb (Anticorpo Antirreceptor de TSH). Possui achados específicos: · Bócio difuso, elástico (não há nódulos) · Exoftalmia (esclera presente em toda a circunferência da íris; presente em 40% dos pacientes) · Edema periorbitário · Mixedema pré-tibial (edema duro) · Baqueteamento digital Diagnóstico Laboratorial (Função tireoidiana) · TSH baixo ou suprimido (< 0,05 µU/mL) · T4 livre alto · TRAb positivo – 100% dos casos · Anti-TPO – 80% dos casos (apesar de frequente, não tem importância clínica) Cintilografia da Tireoide · Captação difusa do iodo radioativo (Graves) RAIU 24h · Normal: 5-20% de captação · Graves: captação > 20% Tratamento 1) Medicamentos 2) Radioablação com iodo 3) Cirurgia * No Brasil, inicia-se com medicação; caso não funcione, realiza-se ablação, e apenas em último caso a cirurgia! Medicamentos · Betabloqueadores → reduzir sintomas adrenérgicos · PTU / MMI Após atingir o alvo de T4 livre (0,9 a 2 ng), geralmente 1 mês após, suspende-se o propranolol (paciente já está assintomático) e mantém Metimazol por 1 ano. Após 1 ano suspende-se a medicação e a doença resolve-se. Principais efeitos colaterais: hepatite medicamentosa e agranulocitose. Caso ocorra efeito colateral durante o tratamento, parte-se para radioablação com iodo. Radioablação · Caso recidiva medicamentosa ou reações tóxicas as DATs · Contraindicações: gravidez, grandes bócios, exoftalmia grave Cirurgia · Grávidas não controladas com medicação (DAT) · Doença com bócio volumoso · Pacientes com exoftalmia e recidiva após DAT Deve haver um preparo cirúrgico: internação 6 semanas antes, para reduzir o tamanho do bócio e causar o efeito de Wolff-Chaikoff, secando a glândula e reduzindo sua vascularização e produção hormonal. · PTU ou Metimazol → 6 semanas · Iodo (Lugol) → 2 semanas antes da cirurgia HIPOTIREOIDISMO Apesar de produzirmos mais T4, o hormônio biologicamente ativo é o T3. A conversão periférica é feita pela Desiodase tipo 1. O hipotireoidismo pode ser primário (tireoide), secundário (hipófise)e terciário (hipotálamo; raro). Pode haver bócio no hipotireoidismo primário, uma vez que o TSH estimula as células foliculares e acúmulo de coloide, apesar da baixa produção de T3 e T4, logo pode haver aumento da glândula. Também pode ocorrer hiperprolactinemia, pois o TRH estimula a produção de prolactina, cursando com galactorreia e amenorreia. Hipotireoidismo primário (Hashimoto) T4L TSH Hipotireoidismo secundário (central) (Hipopituitarismo) T4L TSH Hipotireoidismo subclínico (Estágio inicial de um hipo primário) TSH T4L (N) TIREOIDITES INFLAMAÇÃOCRÔNICA TIREOTOXICOSE HIPOTIREODISMOSUBAGUDA A tireoidite é uma inflamação da tireoide. No momento do diagnóstico, o paciente pode estar em tireotoxicose ou em hipotireoidismo: · No primeiro momento da inflamação há escape de coloide (rico em T3/T4), levando ao quadro de tireotoxicose. · Em seguida, há diminuição da função tireoidiana, levando ao hipotireoidismo clínico/subclínico. AGUDA Infecciosa (S. aureus) – dor + febre + flogose + supuração - Tratamento: drenagem + ATB Induzida por drogas: amiodarona/lítio/ interferon-alfa SUBAGUDA Linfocítica Indolor Granulomatosa subaguda (de Quervain) · Dolorosa, pós-viral, VHS CRÔNICA Doença de Hashimoto (Linfocítica crônica) · Principal causa de hipotireoidismo em nosso meio · Autoimune (ANTI-TPO 95-100%) · Clínica: - Tireotoxicose (Hashtoxicose) - Hipotireoidismo com bócio (maioria) - Risco de linfoma de tireoide Tireoidite Crônica de Riedel - Idiopática, fibrosante Tireoidite Subaguda · 1ª fase: tireotoxicose → pelo escape de coloide contendo T3/T4 · 2ª fase: hipotireoidismo → depleção dos hormônios tireoidianos · 3ª fase: eutireoidismo CINTILOGRAFIA RAIU-24H (Normal 5 – 20%) TIREOIDITE SUBAGUDA Baixa captação < 5% DOENÇA DE GRAVES Hipercaptação > 20% TIREOIDITE SUBAGUDA Granulomatosa Dolorosa de Quervain Tireoidite Indolor · Inflamação (pós-viral) + dor · Tireotoxicose · VHS aumentado · Leucocitose · Tratamento: AINE / prednisona · Variante leve e autolimitada de HASHIMOTO · Anti-TPO (50%) · Não há tratamento específico · Resolução espontânea Tireoidite de Hashimoto · Doença autoimune · Anti-TPO: 100% · Anti-Tg · Antirreceptor TSH bloqueador tireoide atrófica · Linfócitos T auto-reativos · Células de Askanazy células foliculares fibrosadas · Patognomônico de Hashimoto Quadro clínico Bócio (80%) Se antirreceptor TSH bloqueador (+) (10-20%): tireoide atrófica Hashtoxicose 5% clínica de tireotoxicose Hipotireoidismo Bradipsiquismo / depressão / ganho de peso / intolerância ao frio / pele seca / bradicardia Hiperprolactinemia ↑ Prolactina: galactorreia / amenorreia Dislipidemia ↓ da degradação dos lipídios Mixedema Edema duro sem cacifo (↑ glicosaminoglicanos) DIAGNÓSTICO ↑ TSH ↓ T4L Anti-TPO + Células de ASKANAZY: patognomônico TRATAMENTO Levotiroxina (T4): 1 – 2 µg/kg/dia (manhã) · Atenção: Hashimoto aumenta o risco de linfoma de Hodgkin! Hipotireoidismo Subclínico · ↑TSH com T4L normal · Tendência a evoluir para hipotireoidismo clínico · Tratamento se: · TSH ≥ 10 µg/ml · Gravidez · Depressão · Dislipidemia · Anti-TPO alto NÓDULOS DE TIREOIDE Iniciar pela anamnese e exame físico, com a palpação da tireoide. O próximo passo é sempre avaliar a função tireoidiana com dosagem de TSH para definir se está normal ou suprimido (VR 0,5 - 5 µU/ml). “Frio” ACOMPANHAR PAAF “Quente” < 1 cm > 1cm ou suspeito ADENOMA TÓXICO Cirurgia / radioiodo USG CINTILOGRAFIA NORMAL SUPRIMIDO TSH INVESTIGAÇÃO NÓDULOS DE TIREOIDE Nódulo suspeito: · Irradiação, crescimento · Linfonodo, rouquidão · USG: microcalcificações, sólidos, hipoecoico e irregular, vascularização (Chamas IV e V) CÂNCER DE TIREOIDE - Bem diferenciado: · Mulher (20 – 40 anos) · Mais comum (90%) · Bom prognóstico · Papilífero e folicular - Pouco diferenciado: · 9% dos casos · Pior prognóstico · Medular e anaplásico PAPILÍFERO FOLICULAR Tipo Bem diferenciado Bem diferenciado Características gerais Mais comum Mulher 20 – 40 anos Excelente prognóstico Disseminação linfática Associado à irradiação Corpos psamomatosos (acúmulo Ca++) 2º mais comum Mulher 40 – 60 anos Bom prognóstico Disseminação hematogênica Associado à carência de iodo Aumento de células foliculares Diagnóstico PAAF (citológico) Histopatológico Tratamento Tireoidectomia < 1cm, s/ linfonodo: parcial ≥ 1cm, c/ linfonodo: total (Se < 15 anos, irradiação: total) Ablação 131I + supressão TSH (Levotiroxina) ≤ 2 cm: parcial (se adenoma OK; se CA total) > 2cm: total Ablação 131I + supressão TSH (Levotiroxina) Seguimento Tireoglobulina / cintilografia Tireoglobulina / cintilografia * A PAAF não diferencia adenoma de câncer folicular! É necessário o diagnóstico histopatológico! Carcinoma Medular (CMT): células C ou parafoliculares · Marcador: calcitonina · Diagnóstico: PAAF · Esporádico - 80% · Familiar – 20% associação com NEM 2 · Associado ao proto-oncogene RET: pesquisar em parentes de 1º grau · Se positivo: tireoidectomia profilática · Tratamento: tireoidectomia + linfadenectomia · Seguimento: calcitonina · NEM 2 A: CMT + feocromocitoma + hiperparatireoidismo · NEM 2 B: CMT + feocromocitoma + neuromas Carcinoma Anaplásico (Indiferenciado) · Pior prognóstico, mais raro porém mais agressivo, idosos, deficiência de iodo · Diagnóstico: PAAF · Tratamento: traqueostomia + QT/RT Carcinoma de Células de Hurthle · Variante mais agressiva e menos diferenciada do folicular · Tratamento: tireoidectomia total + linfadenectomia
Compartilhar