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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI CURSO DE ADMINISTRAÇÃO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E AS TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO Melanie Steigleder Thomaz São João Del Rei 2019 Melanie Steigleder Thomaz CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E AS TRANSFORMAÇÕES NO TRABALHO Trabalho apresentado ao Curso de Administração da Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Tancredo Neves, como parte do conteúdo trabalhado na disciplina de Sociologia na Administração. Orientadora: Prof.ª Rosemeire Salata São João Del Rei 2019 SUMÁRIO Introdução...................................................................................................................03 Desenvolvimento........................................................................................................04 Conclusão...................................................................................................................11 Referências bibliográficas..........................................................................................12 3 INTRODUÇÃO Este trabalho visa abordar o Capitalismo contemporâneo, de modo a apresentar as transformações no trabalho . Foram consultados artigos e sites para a sua construção. 4 DESENVOLVIMENTO Retrospectiva do Capitalismo e os dias atuais Para compreender o capitalismo contemporâneo e as transformações no trabalho, é imprescindível compreender o histórico e as mudanças nas formas de organização empresarial, principalmente, no século XX, que foi palco de grandes transformações tanto na economia como nas relações de trabalho. Primordialmente, o Capitalismo, o sistema econômico que é conhecido pela propriedade privada, a acumulação de capital e o trabalho assalariado; surgiu com a decadência do Feudalismo no século XV, durante a passagem da Idade Média para a Idade Moderna, quando observou-se a ascensão de uma nova classe social: a burguesia. Na primeira fase, que corresponde período do século XV ao XVII, recebeu o nome de Capitalismo Comercial ou Mercantil, onde as Grandes Navegações imperavam e a economia se baseava no metalismo, no protecionismo e na balança comercial favorável. A segunda fase, Capitalismo Industrial, se iniciou com a revolução Industrial no século XVIII e foi adotado o Liberalismo econômico de Adam Smith, o qual defendia que o Estado não deveria interferir na economia e sim, uma “Mão Invisível” que deveria realizar a sua manutenção, permitindo um equilíbrio. Nesse período, o modo de produção alterou-se de forma que o que era feito de forma artesanal passou a ser manufaturado e fabricado em larga escala, o que necessitou de mão de obra, originando uma nova classe, a classe do operariado, o que fez com a discussão sobre as condições de trabalho e as formas de produção entrassem em pauta. Na terceira fase, Capitalismo Financeiro, que refere-se a partir do século XX, com o advento da segunda revolução industrial e da globalização, as indústrias começam a seguir as coordenadas dos grandes bancos e as empresas se tornaram grandes corporações. O liberalismo econômico funcionava bem até a crise de 1929, então, a falta da intervenção do estado na economia passou a ser duramente 5 criticada, o que fez com que o sistema passasse a adotar as ideias de John Maynard Keynes. Segundo o texto de Ruy Braga, “Empresa neoliberal e hegemonia”, nesse período que vigorou até a década de 1970 aproximadamente, o estado se manteve presente na economia, adotando práticas que asseguravam os direitos sociais e trabalhistas. Com o fordismo operando, havia uma grande necessidade de mão de obra, o que relacionava-se diretamente à contratação, sendo, portanto, por tempo indeterminado. No entanto, tudo começou a mudar com a chegada da década de 1970: o mundo se deparou com a crise do petróleo e a crise do fordismo-taylorismo, o que fez surgir a necessidade de uma reestruturação econômica e um reajustamento social e político. Na lógica, o sistema vigente deveria recuperar a sua alta lucratividade, adotando medidas que pudessem reduzir o máximo de custos em todos os setores da sociedade e de produção. Para isso, nesse período, que corresponde aproximadamente de 1970 até os dias atuais, foi adotado o Neoliberalismo cuja ideia principal é a mínima atuação do Estado na economia. E isso trouxe sérias consequências desde o momento em que o Estado passou a atender as necessidades empresariais, aprovando legislações coniventes aos interesses das empresas, reduzindo “gastos públicos” e privatizando empresas estatais, deixando, portanto, de ser o agente regulador do mercado e recuando na questão da proteção social. E para acentuar a situação, houve grandes transformações no modo de produção e nas relações trabalhistas, em que o trabalhador se vê encurralado entre a robotização de tarefas que antes exigiam sua mão de obra, a redução de seus direitos junto ao enfraquecimento do poder de negociação, a flexibilização dos processos de trabalho, a alta rotatividade e o desemprego. As transformações no trabalho Com a crise do fordismo-taylorismo, houve uma reestruturação produtiva, adotando o modelo Toyotista, cujas bases são a acumulação flexível, otimização do tempo, alta lucratividade e a automação/robotização, o que resultou numa produção por demanda, fábricas espalhadas pelo mundo, principalmente em países periféricos; e um desemprego estrutural. E junto à necessidade de enxugar todos os 6 tipos de custos, veio a flexibilização, alterando a forma de contratação da mão de obra e o modo de produção, flexionando/fragilizando as regras que antes conduziam o trabalho, precarizando-o. Umas das mais notórias faces da flexibilização está a “Terceirização”, fenômeno que assente flexibilizar o processo produtivo fazendo com que as empresas foquem nas atividades fins e externalizem as demais para outras, de modo que livra a empresa principal da responsabilidade com os direitos trabalhistas. Isso significa que dada uma empresa A cujo seu objetivo principal é produzir sapatos, ela pode transferir todo o processo de construção de seus componentes, como a sola, para a empresa B. Infelizmente, acaba acontecendo uma tragédia na empresa B, ela incendeia, ferindo muito dos funcionários que estavam no local. Nessa história fictícia, quem acaba respondendo judicialmente não é a empresa A e sim, a empresa B. No entanto, essa narrativa aconteceu de maneira semelhante com a Raza Plaza em 2013, na cidade de Dhaka, no Bangladesh: houve um desabamento do prédio, matando cerca de 377 trabalhadores. Esta empresa fabricava roupas para a marca britânica Primark. A outra expressão mais recente que a flexibilização assumiu foi a da “Uberização”, a qual refere-se a inserção de plataformas digitais para o acesso ao trabalho. Nela são eliminados os vínculos empregatícios, assim como as empresas donas dos aplicativos afirmam se tratar de uma tecnologia, que apenas oferece a interligação entre o serviço e o consumidor, e, portanto, elas possuem parceiros e não, funcionários. Como é o caso do aplicativo Uber, boa parte dos tribunais trabalhistas não reconhecem o vínculo do aplicativo com o motorista, uma vez que o trabalho não é habitual e não existe uma subordinação clara à empresa. Para acentuar o fenômeno da flexibilização no Brasil, que já estava inserido num contexto de redução dos direitos dos trabalhadores, em 2017, foi aprovada a Reforma Trabalhista, que institucionalizou formas precárias de contração, estimulando as contratações atípicas, cujos vínculos são os mais frágeis; e tornou a terceirização irrestrita. Com isso, o trabalhador tornou-se vulnerável diante dos capitalistas, não restando-lhe muito escolha,ou um trabalho precarizado ou a situação de desemprego. 7 Entrevistas Para ilustrar como as transformações no trabalho alteram a vida das pessoas de forma significativa e como elas lidam com a precarização do trabalho, foram entrevistadas duas pessoas de cidades diferentes, uma do interior e a outra de cidade grande, a fim de melhor compreender os diferentes cenários particulares. A primeira entrevista foi feita com um morador de Poços de Caldas-MG que dirige para a Uber e a segunda entrevista, com um morador da cidade de Campinas-SP que dirige para a 99. Os entrevistados preferiram que sua identidade não fosse revelada, portanto, foram usados nomes fictícios. Entrevista 01 Nome: Thiago A. Idade: 32 anos 1) Você trabalha apenas fazendo corridas para a Uber ? Se não, com o que mais? R: Atualmente sim, eu morava em São Paulo, saí da empresa em Janeiro e me mudei para Poços há pouco tempo. 2) Quando você começou a trabalhar para a Uber? R: Um pouco mais de 2 anos. 3) Por que decidiu trabalhar para a Uber? R: No começo foi renda extra, depois que saí da empresa ,em janeiro, passou a ser minha principal renda . 4) Desculpe, mas qual foi a razão de sua saída na empresa? R:Eu trabalhei em todos setores lá , laboratório, logística, operador de empilhadeira, mas não ganhava nenhuma promoção e não tinha meios de crescer lá dentro. 5) Você consegue atender suas necessidades trabalhando com a Uber? R: Eu fiquei um tempo em casa quando sai da empresa. Ainda estou pegando seguro desemprego, mas se pegar firme mesmo com as corridas, acho que dá para ganhar mais do que a média de salário para a minha profissão de operador de Empilhadeira, isso falando da média de salário aqui em Poços. Mas para você ter uma ideia, em São Paulo, eu fazia aeroporto de Guarulhos, lá tinha muitos 8 motoristas que pagavam R$ 500,00 ou R$800,00 por semana de aluguel quando de pessoas conhecidas, de locador era R$1700,00. 6) O carro que você usa para trabalhar é seu mesmo? R:Sim. 7) Você acha que está obtendo lucro com as corridas? Porque tem gasto com gasolina, manutenção do carro, entre outras coisas. R: Então, sim, porque eu tenho gasto com a gasolina, mas o que tiro no dia é maior. Em questão de manutenção, eu quase não fazia no carro, porque tive nos últimos 5 anos cerca de 4 carros, então, era só pastilha de freio, óleo e agora que troquei pneu do carro que estou agora. Mas em um geral, se trabalhar certinho dá para sustentar a família e viver um padrão normal. O único problema da taxa da Uber que agora que paga por Km e tempo, sempre a Uber fica com uma taxa muito alta. 8) Quais riscos você enfrenta trabalhando para o Move? O maior risco é sempre os assaltos. 9) Se algo acontecer contigo durante a viagem, como fica a situação? É responsabilidade da empresa? Em acidente, existe um seguro para motorista e passageiro do momento que aceito a viagem para buscar o passageiro até deixar ele em seu destino. Prejuízos com o carro, a empresa não ajuda em nada e nem em situações de assalto. 10) E esse seguro é por conta da Uber ou é algo a parte que você tem que pagar por ele? R: Por parte deles. 11) E como funcionam seus horários? Porque não tem um horário fixo de trabalho. R: Eu posso fazer uma viagem e parar e mais tarde faço outra. Posso trabalhar 1 minuto como também 24 horas. 12) Ao trabalhar para a Uber, você está abrindo mão da representação no sindicato, de direitos trabalhistas, do sistema previdenciário e até mesmo de uma carga horária fixa (podendo trabalhar até 24 horas). O que você tem a dizer sobre isso? R: Eu penso assim, vou falar aqui de Poços porque estou morando aqui, eu pesquisei a média salarial da minha profissão e fica em torno de R$ 1200,00. Comparando os dias que trabalhei aqui que foram poucos, porque 9 acabei de me mudar, em média de 10 dias, eu faço esse salário. Então, colocando na balança, Sindicato pelo menos em São Paulo não servia para nada. Férias, como consigo juntar um pouquinho por mês, consigo tirar. Carga horária, para fazer uma média de R$ 120,00 ao dia, igual falei não precisa trabalhar 24 horas. E Previdência, vou abrir CNPJ MEI micro empreendedor que vai contando como tempo trabalhado para aposentadoria. Ainda não abri pelo fato do seguro Desemprego, que perco. 13) Você está satisfeito trabalhando assim? R: Então, enquanto não conseguir um trabalho que pague a mesma coisa, penso que é melhor trabalhar assim. Satisfeito não, porque poderia pagar um pouco mais por corrida, ainda mais que aqui em poços o km e minutos pagos pela é menor que em São Paulo. 14) Se você tivesse a opção de trabalhar agora em um emprego formal que traz maior segurança financeira e mais a garantia de direitos, você iria parar de trabalhar com isso? Por quê? R: Então, se o salário desce para pagar minhas contas, eu trabalharia sim, pelo fato de ser garantido o dinheiro. No Uber é relativo, igual hoje deu um problema aqui no meu carro, já perdi o dia. Mas mesmo trabalhando em uma empresa, se o horário permitisse eu ainda faria Uber no final de semana como renda extra. 15) E você teria alguma consideração final sobre a Uber? Tem algo a dizer sobre essa nova forma de trabalho? R: Eu acho que deveria ter um reajuste no valor pago para os motoristas, porque o valor está congelado desde 2015. Outra coisa ruim na Uber é que ela não mostra o destino do passageiro na hora de aceitar a corrida, só aparece o destino depois que o passageiro está no carro e o motorista inicia a viagem. 16) Outra coisa, você não pode ficar recusando corrida, né? R: Existe taxa de aceitação e cancelamento, mas se não quiser aceitar não é obrigado. Igual a Uber fala, nós motoristas somos prestadores de serviço, não temos nenhum vínculo nem obrigação nenhuma. Um exemplo, toco para você buscar um passageiro a 10 km de você não compensa ir, então você deixa passar e não aceita Entrevista 02 10 Nome: Ricardo S. Idade: 27 anos 1) Quando você começou a trabalhar com a 99? R: Umas duas semanas. 2) E você trabalha apenas fazendo corridas? R: Sim, por enquanto, apenas isso. 3) Por que você decidiu trabalhar para a 99? R: Não foi muita decisão não, meio que obrigatoriamente, pela falta de oportunidades que está nesse momento por conta da crise em geral no Brasil. 4) Você trabalhava formalmente antes? R:Isso, antes era assim que eu estava ganhando a vida. 5) Você consegue atender suas necessidades trabalhando para a 99? R: Sinceramente, não. Tá meio faltando ainda um pouco de dinheiro para complementar a renda total. 7) Você acha que está obtendo lucro com as corridas? Porque tem gasto com gasolina, manutenção do carro, entre outras coisas. R: Dá um pouco de dinheiro, mas não muito, porque paga o seguro do carro, o aluguel porque o carro é alugado e tem que deixar calção e a gasolina está cara. 8) Ao trabalhar para a 99, você está abrindo mão da representação no sindicato, de direitos trabalhistas, do sistema previdenciário e até mesmo de uma carga horária fixa (podendo trabalhar até 24 horas). O que você tem a dizer sobre isso? R:Sinceramente, não é o que eu quero não. Gostaria de ter a liberdade que eu tenho com os aplicativos, mas eu preferiria estar debaixo desses benefícios, férias, salário garantido todo final de mês, mas, infelizmente, não estou conseguindo arrumar nada na minha profissão, foi uma alternativa mesmo, é desse modo que tô conseguindo respirar, sobreviver mesmo nessa crise, porque senão eu estaria desempregado a ponto de quase entrar em depressão. 9) E você teria alguma consideração final sobre a 99? Tem algo a dizer sobre essa nova forma de trabalho? R: Querendo ou não, foi um xeque-mate da parte deles em fazerem isso e tá ajudando muita gente com esse novo sistema de trabalho. Mas poderiam valorizar um pouco mais a gente, dá um retorno melhor. CONCLUSÃO 11 Dado o quefoi apresentado neste trabalho, é possível compreender as circunstâncias que levam as pessoas à aceitarem trabalhos precarizados, uma vez que o cenário é composto pela fragilização das leis trabalhistas, pelo recuo do Estado na proteção social e por um desemprego estrutal. Desse modo, o trabalhador se encontra cercado pelos dispositivos empresarias que visam o aumento dos lucros e a redução dos gastos, privando-o da opção de escolha. 12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRAGA, R. Dilemas do desenvolvimento: A empresa Neoliberal. SOUSA, Rainer Gonçalves. Origem do Capitalismo. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/origem-capitalismo.htm. Acesso em 23 de junho de 2019. BEZERRA,Juliana. Capitalismo. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/capitalismo/. Acesso em 23 de junho de 2019. CARVALHO,Talita. A origem do sistema Capitalista. 2018. Politize. Disponível em: https://www.politize.com.br/sistema-capitalista-origem/. Acesso em 23 de junho de 2019. BEZERRA,Juliana. Fases do Capitalismo. Toda Matéria. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/fases-do-capitalismo/. Acesso em 23 de junho de 2019. SANTOS, Emilio Samuel Novais. Terceirização, globalização e flexibilização de direitos trabalhistas. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 24 abr. 2015. Disponivel em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.53288&seo=1>. Acesso em: 25 de junho de 2019. BBC News Brasil. Desabamento em Bangladesh revela lado obscuro da indústria de roupas. 2013. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/04/130428_bangladesh_tragedia_lad o_obscuro. Acesso em: 25 de junho de 2019. MASCARO, Marcelo. Motorista do Uber é empregado ou não da empresa?. 2019. Disponível em: https://exame.abril.com.br/carreira/motorista-do-uber-e- empregado-ou-nao-da-empresa/. Acesso em: 26 de junho de 2019.
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