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Textos de Apoio Centro Hospitalar do Porto – Unidade Hospital de Santo António Março 2011 | Versão 3 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Curso de Cuidados Paliativos em Medicina Interna MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 2 Nota introdutória Este manual partiu da iniciativa dos enfermeiros da Unidade D do Serviço de Medicina 1 do HSA que, em 2007, se dividiram em grupos de trabalho para estudar e implementar a avaliação e o tratamento de sintomas de acordo com os princípios de Cuidados Paliativos. Com o apoio do Director do Serviço de Medicina 1 – Dr. Nelson Rocha, estes grupos estenderam-se às duas unidades – A e D, e integraram médicos. Desde o início, colaboraram com o grupo de sintomas neuropsíquicos, a Drª Sara Moreira e a Drª Margarida Branco, psiquiatra e psicóloga do Serviço de Psiquiatria de Ligação. Para além da redacção do manual, os grupos de trabalho têm também participado, como formadores, nos Curso Básicos de Cuidados Paliativos efectuados no Centro de Formação do CHP. Nos primeiros cursos tivemos a preciosa colaboração da Dr.ª Edna Gonçalves, e das enfermeiras Cátia Ferreira e Catarina Simões do Serviço de Cuidados Paliativos do IPO. Esta última continua a colaborar connosco. Desde 2008, temos tido a colaboração da Drª Luísa Pires, e desde 2009 da Drª Margarida Pinheiro do Serviço Social. A partir de 2009 começamos a ter a participação da Drª Ana Margarida Regalado e da Enfª Carina Raposo da Consulta da Dor. Nesse mesmo ano também começamos a ter a colaboração da Drª Maria Menezes do Serviço de Nutrição. Em 2010 passamos a ter a colaboração de mais duas nutricionistas: Drª Isabel Pinto (ULS Matosinhos) e a Drª Sónia Cabral (IPO Porto). Em 2007 e 2008 foram efectuados três cursos para médicos e enfermeiros do Serviço de Medicina 1. Em 2009 alargamos a formação a todos os Serviços do CHP. Temos vindo a reformular o manual e continuamos a contar com a ajuda dos novos formandos, para a sua melhoria. Não podemos terminar sem fazer uma referência ao Dr. Rui Carneiro, que foi um colaborador importante, quer na elaboração do manual, quer na implementação do curso, e do Enfº Nuno Marques, responsável pela execução final deste manual. Esperamos que este manual seja útil, não só para a formação, mas sobretudo para a prática clínica diária. O grupo coordenador, Elga Freire Júlia Alves MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 3 Coordenação: Drª Elga Freire, Enfª Júlia Alves Grupos de Trabalho (2007) Dor: Enfª Micaela Sores (Med 1D), Enfª Joana Alves (Med 1A), Dr. Vítor Lopes (Med 1D), Drª Luísa Carvalho (Med 1 A) Sintomas respiratórios: Enfº Nuno Marques (Med 1D), Enfª Rosa Maria Barbosa (Med 1A), Drª Fabienne Gonçalves (Med 1A), Dr. Ricardo Meireles (Med 1D) Sintomas neuro-psiquicos: Enfª Inês Brás (Med 1D), Enfº José Carlos (Med 1A), Dr. João Correia (Med 1A), Drª Carla Teixeira (Med 1D), Dra. Sara Moreira (Psiquiatria de ligação), Dra. Margarida Branco (Psiquiatria de ligação) Sintomas digestivos e nutrição/ hidratação: Enfª Diana Ferreira (Med 1D), Enfª Joana Mirra (Med 1D), Enfª Júlia Alves, Enfª Odete Carneiro (Med 1A), Dr. Júlio Oliveira (Med 1D), Dr. João Neves (Med 1A) Agonia: Dr. Rui Carneiro (Med 1 D), Enfº Pedro Pires (Med 1 A) Intervenção Social: Dra. Luísa Pires (Serviço Social) Designação do Curso Curso Básico de Cuidados Paliativos Destinatários Médicos, Enfermeiros, Assistentes Sociais, Nutricionistas, Psicólogos, Farmacêuticos e Fisioterapeutas do Hospital de Santo António Objectivos Gerais Contacto com metodologia de Medicina dirigida a Sintomas nos vários domínios dos princípios inerentes a Cuidados Paliativos (físico, psicológico, socio-familiar e ético). Objectivos específicos No final da sessão os formandos deverão ser capazes de: Saber os princípios dos cuidados paliativos; Fazer a avaliação dos sintomas; Comunicar com o doente terminal e seus familiare; Saber os critérios de doença terminal em doentes oncológicos e não oncológico; Reconhecer os principais mecanismos da dor e saber tratá-la; Identificar e tratar os principais sintomas respiratórios (dispneia, tosse, hemoptise, sufocação); Reconhecer e tratar os principais sintomas neuropsiquicos (delírio, confusão, insónia, ansiedade e depressão); Saber os princípios de nutrição e hidratação do doente terminal incluindo as indicações das sondas entéricas e da via subcutânea (hipodermoclise); Saber quais os fármacos que podem ser usados por via subcutânea; Reconhecer um doente em agonia e saber redefinir os objectivos terapêuticos; Saber quais os principais problemas éticos relacionados com as decisões em fim de vida. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 4 Conteúdo Filosofia e Princípios dos Cuidados Paliativos ............................................................................................ 11 Referências ................................................................................................................................ 13 Princípios Gerais de Avaliação de Sintomas ............................................................................................... 14 Introdução ....................................................................................................................................... 14 Princípios gerais do controlo dos sintomas ..................................................................................... 15 Referências ................................................................................................................................ 16 A Dor ........................................................................................................................................................... 17 Introdução ....................................................................................................................................... 17 Avaliação da dor .............................................................................................................................. 17 Medidas da intensidade da dor (unidimensionais) ......................................................................... 18 Escala numérica ......................................................................................................................... 18 Escala qualitativa ....................................................................................................................... 19 Escala visual analógica ............................................................................................................... 19 Escala das faces ......................................................................................................................... 19 Medidas das múltiplas dimensões da dor ....................................................................................... 20 Desenho da localização da dor .................................................................................................. 20 Questionário de dor de Mcgill ................................................................................................... 20 Conclusão ........................................................................................................................................ 21 Bibliografia ................................................................................................................................. 22 RECOMENDAÇÕES PARA O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DOR ......................................... 23Cuidados Paliativos Não-oncológicos ......................................................................................................... 35 Introdução ....................................................................................................................................... 35 A complexidade sintomática ........................................................................................................... 36 Estabelecer prognóstico não-oncológico ........................................................................................ 38 Bibliografia ................................................................................................................................. 41 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 5 SINTOMAS RESPIRATÓRIOS ........................................................................................................................ 43 Dispneia ........................................................................................................................................... 43 Incidência ................................................................................................................................... 44 Etiologia ..................................................................................................................................... 44 Fisiopatologia ............................................................................................................................ 45 TRATAMENTO ................................................................................................................................. 46 Medidas não farmacológicas ..................................................................................................... 46 Medidas farmacológicas ............................................................................................................ 46 Tosse ............................................................................................................................................... 48 Definição .................................................................................................................................... 48 Incidência ................................................................................................................................... 49 Fisiopatologia ............................................................................................................................ 49 Etiologia ..................................................................................................................................... 49 Tratamento ................................................................................................................................ 50 Medidas não farmacológicas ..................................................................................................... 50 Medidas farmacológicas ............................................................................................................ 50 HEMOPTISES.................................................................................................................................... 51 Definição .................................................................................................................................... 51 Etiologia ..................................................................................................................................... 51 Tratamento ................................................................................................................................ 52 Medidas não farmacológicas ..................................................................................................... 52 Medidas farmacológicas ............................................................................................................ 52 Terapêutica farmacológica ........................................................................................................ 53 Bibliografia ................................................................................................................................. 54 SINTOMAS NEUROPSÍQUICOS .................................................................................................................... 55 ANSIEDADE EM CUIDADOS PALIATIVOS.......................................................................................... 55 Introdução ................................................................................................................................. 55 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 6 Diagnóstico ................................................................................................................................ 56 Causas da Ansiedade ................................................................................................................. 56 Diagnóstico Diferencial .............................................................................................................. 57 Tratamento ................................................................................................................................ 57 Bibliografia ................................................................................................................................. 60 DEPRESSÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS ......................................................................................... 61 Doença terminal/oncológica ..................................................................................................... 61 Depressão .................................................................................................................................. 62 Prevalência ................................................................................................................................ 62 Etiologia ..................................................................................................................................... 63 Sinais e Sintomas ....................................................................................................................... 64 Outras perturbações de humor ................................................................................................. 64 Consequências da depressão .................................................................................................... 65 Dificuldades de diagnóstico de depressão em doentes paliativos ............................................ 65 Diagnóstico de depressão.......................................................................................................... 66 Rastreio da depressão ............................................................................................................... 67 Tratamento não farmacológico ................................................................................................. 68 Tratamento farmacológico ........................................................................................................ 68 Avaliação do risco de suicídio .................................................................................................... 70 Referencias Bibliográficas .......................................................................................................... 70 INSÓNIA ........................................................................................................................................... 73 Introdução ................................................................................................................................. 73 Causas da insónia ......................................................................................................................73 Critérios Gerais para o Diagnóstico de Insónia .......................................................................... 74 Diagnóstico diferencial: ............................................................................................................. 74 Tratamento ..................................................................................................................................... 76 Bibliografia ................................................................................................................................. 78 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 7 DELIRIUM/CONFUSÃO .................................................................................................................... 82 Definição .................................................................................................................................... 82 Prevalência ................................................................................................................................ 82 Etiologia ..................................................................................................................................... 82 Etiopatogenia ............................................................................................................................ 83 Diagnóstico ................................................................................................................................ 84 Diagnóstico Diferencial .............................................................................................................. 84 Tratamento ................................................................................................................................ 85 Tratamento Farmacológico ....................................................................................................... 86 Bibliografia ................................................................................................................................. 87 Protocolo ......................................................................................................................................... 88 DIAGNÓSTICO .................................................................................................................................. 89 INTERVENÇÃO DE SUPORTE (não farmacológica) ........................................................................... 89 TRATAMENTO FARMACOLÓGICO .............................................................................................. 91 SINTOMAS DIGESTIVOS .............................................................................................................................. 93 NÁUSEAS/ VÓMITOS ....................................................................................................................... 93 Introdução ................................................................................................................................. 93 Fisiopatologia ............................................................................................................................ 93 Identificar a etiologia – o caminho para o tratamento eficaz ................................................... 96 Conclusão .................................................................................................................................. 98 Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 99 Anorexia/Caquexia .......................................................................................................................... 99 Introdução ................................................................................................................................. 99 Fisiopatologia .......................................................................................................................... 100 Diagnóstico .............................................................................................................................. 102 Estratégias Terapêuticas .......................................................................................................... 102 Referências bibliográficas ........................................................................................................ 105 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 8 OBSTIPAÇÃO .................................................................................................................................. 105 Definição e prevalência ........................................................................................................... 105 Fisiopatologia .......................................................................................................................... 105 CUIDADOS ORAIS E XEROSTOMIA ................................................................................................. 112 Principais problemas orais ....................................................................................................... 112 Conceito ................................................................................................................................... 113 Fisiopatologia .......................................................................................................................... 113 Etiologia ................................................................................................................................... 114 Avaliação diagnostica .............................................................................................................. 114 Abordagem terapêutica ........................................................................................................... 115 Infecções ....................................................................................................................................... 116 Halitose ......................................................................................................................................... 119 Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 120 INTERVENÇÃO NUTRICIONAL EM CUIDADOS PALIATIVOS ....................................................................... 121 Estabelecendo a necessidade de intervenção nutricional ...................................................... 121 Intervenção nutricional no controlo de sintomas ................................................................... 122 Cuidados Nutricionais – que opções? ...................................................................................... 124 Bibliografia ............................................................................................................................... 125 TERAPÊUTICA SUBCUTÂNEA NOS CUIDADOS PALIATIVOS....................................................................... 126 Indicações ................................................................................................................................ 126 Contra indicações .................................................................................................................... 127 Beneficios ................................................................................................................................ 127 Desvantagens .......................................................................................................................... 128 Locais a utilizar ........................................................................................................................128 Locais a evitar .......................................................................................................................... 129 Técnica ..................................................................................................................................... 130 Solutos e fármacos .................................................................................................................. 130 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 9 Conclusão ................................................................................................................................ 131 Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 132 INTERVENÇÃO SOCIAL EM CUIDADOS PALIATIVOS .................................................................................. 133 Dimensão familiar, social, cultural e relacional ....................................................................... 133 Equipas de saúde: a participação do serviço social ................................................................. 134 Medidas de politica sócio institucional ................................................................................... 134 A Sociedade Civil e a organização formal e informal de cuidados .......................................... 135 Bibliografia ............................................................................................................................... 135 AGONIA .................................................................................................................................................... 136 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 136 CONCEITO ................................................................................................................................ 137 PLANO TERAPÊUTICO .............................................................................................................. 138 Modelo de Actuação Sintomática ........................................................................................... 138 Medidas Gerais ........................................................................................................................ 140 Cuidados da boca e lábios ....................................................................................................... 141 Controlo de Sintomas .............................................................................................................. 143 Dor ........................................................................................................................................... 143 Agitação Psicomotora/Delirium Hiperactivo ........................................................................... 143 Náusea e vómito ...................................................................................................................... 144 Mioclonias/Convulsões............................................................................................................ 144 Dispneia ................................................................................................................................... 145 Estertor/Respiração ruidosa .................................................................................................... 145 Retenção Urinária .................................................................................................................... 146 Nutrição ................................................................................................................................... 146 Desidratação ............................................................................................................................ 146 Hemorragia e Sufocação .......................................................................................................... 147 Apoio à família ......................................................................................................................... 147 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 10 Bibliografia ............................................................................................................................... 149 PROPOSTAS PARA O SERVIÇO ................................................................................................. 149 COMUNICAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS ............................................................................................ 154 A importância da Comunicação em Cuidados Paliativos ......................................................... 154 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................... 155 ESPIRITUALIDADE E CUIDADOS PALITIVOS ............................................................................................... 156 Introdução ............................................................................................................................... 156 Necessidades espirituais no final da vida ................................................................................ 158 Avaliação das necessidades espirituais ................................................................................... 158 Intervenção – qual o papel do médico? .................................................................................. 159 Conclusão ................................................................................................................................ 160 Bibliografia ............................................................................................................................... 160 ASPECTOS ÉTICOS EM CUIDADOS PALIATIVOS ......................................................................................... 162 Ética e cuidados paliativos ....................................................................................................... 162 Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 164 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 11 FILOSOFIA E PRINCÍPIOS DOS CUIDADOS PALIATIVOS Objectivos Gerais Identificar os fundamentos universalistas da medicina paliativa. Objectivos Específicos Compreender o espectro de acção da medicina paliativa. O aumento da longevidade e das doenças crónicas e progressivas conduziram a um aumento significativo do número de doentes que não se curam. Em Portugal, a esperança média de vida era, em 2000/2001 e de acordo com a Direcção Geral de Saúde, de 76,9 anos para o sexo masculino e de 80,3 anos para o feminino (1). O modelo da medicina curativa, agressiva, centrada no tratamento da doença não se coaduna com as necessidades daquele tipo de doentes. A morte passou a ser negada e encarada como derrota para muitos profissionais de saúde, como falhanço e frustração, e o treino dos profissionais sofreu, de algum modo uma desumanização, com menor enfoque nas questões relacionadas com a não cura (2). O movimento moderno dos cuidados paliativos, iniciado em Inglaterra na década de 60 por Cicely Sauders, e que posteriormente se foi alargando ao Canadá, Estados Unidos e mais recentemente à restante Europa, chama a atenção para o sofrimento dos doentes incuráveis, para a falta de respostas por parte dos serviços de saúde e para a especificidade dos cuidados que teriam que ser dispensados a estapopulação (3). Actualmente, a filosofia dos cuidados paliativos está largamente difundida e é hoje perspectivada como um direito humano, nomeadamente na Comunidade Europeia (4). No entanto, o acesso à prática rigorosa dos mesmos é ainda bastante assimétrico em todo o mundo, mesmo a nível europeu (2,5). Em 2002, a OMS (6) definiu os cuidados paliativos como uma abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes que enfrentam problemas decorrentes de uma doença incurável, com prognóstico limitado, e/ou doença grave que ameaça a vida, e suas famílias, através da prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à identificação MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 12 precoce, avaliação adequada e tratamento rigoroso dos problemas físicos, como a dor e dos psicossociais e espirituais. Esta definição é a adoptada pelo Programa Nacional de Cuidados Paliativos (PNCP) da Direcção Nacional de Saúde de 2004 (7). Os cuidados paliativos são prestados com base nas necessidades dos doentes e famílias e não com base no seu diagnóstico. Assim, estes cuidados dirigem-se, não só aos doentes com cancro avançado, mas também aos doentes com SIDA em estadio terminal, com insuficiências avançadas de órgão (cardíaca, respiratória, hepática, e renal), com doenças neurológicas degenerativas e com demências em estadio muito avançado (8, 8,9,10,11,12). Apesar das necessidades e preocupações de estas pessoas serem semelhantes, a evolução das diversas doenças e das suas fases terminais são diferentes. No caso do cancro a evolução é, geralmente, mais rápida (meses/semanas), nas outras situações não oncológicas pode ser mais prolongada (meses/anos), com agudizações das quais vão resultando perdas crescentes de funcionalidade (8,12,13). Estas diferenças não inviabilizam a aplicação dos princípios e práticas comuns mais importantes nos cuidados paliativos, sendo de considerar em cada caso algumas especificidades próprias, quer no manejo sintomático, quer na planificação dos recursos (14). Os instrumentos que viabilizam a aplicação dos cuidados paliativos são distribuídos por quatro áreas fundamentais: controlo dos sintomas, comunicação adequada, apoio à família e trabalho em equipa (5,8,15). Estas quatro vertentes devem ter igual importância, pois não é possível praticar cuidados paliativos de qualidade se alguma delas for subestimada. Os cuidados paliativos devem assentar numa intervenção interdisciplinar em que a pessoa doente e família são o centro gerador das decisões de uma equipa que idealmente integra médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais (8). Os cuidados paliativos não devem assumir-se como uma intervenção apenas em fim de linha, numa dicotomia entre eles e os cuidados curativos, mas sim como uma intervenção estruturada e rigorosa nas doenças crónicas e progressivas, nas que provocam grande sofrimento, podendo intervir desde o diagnóstico e assumindo uma dimensão cada vez maior à medida que as necessidades dos doentes assim o justificam (ver modelo de transição progressiva OMS 1996) (8). Quanto à organização há grande diversidade de respostas que variam mesmo dentro de cada país e de cada região (16,17,18,19,20). Segundo Gomez Batiste (18) a resposta às necessidades dos diferentes grupos de doentes com doença grave e terminal passa pela criação de uma rede alargada e integrada de serviços, que abranja desde o domicílio aos cuidados em unidades de internamento específicas e em hospitais de agudos, passando pelas instituições de longa duração. O PNCP partilha desta opinião (7). De acordo com aquele programa e a Associação Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), nos diferentes âmbitos do sistema de saúde devem-se prestar acções básicas de apoio a doentes em fim de vida, de baixa complexidade e não integradas num trabalho multidisciplinar, as acções paliativas, consideradas distintas das práticas estruturadas, organizadas e específicas de cuidados paliativos (7,8). Também se recomenda a existência de serviços de referência, com equipas dedicadas especificamente a esta actividade, de apoio domiciliário, de internamento (unidades de cuidados paliativos) e equipes de apoio ou suporte em unidades hospitalares (7,8,20). Para além destes recursos específicos, é recomendada a formação e treino de todos os médicos e profissionais de saúde para prestar as medidas paliativas básicas, acções paliativas ou cuidados paliativos primários, segundo Von Guten (21). No nosso país, os serviços qualificados e devidamente organizados são escassos e insuficientes para as necessidades detectadas (7,8). Com base nos dados do INE de 2001, considera-se que anualmente carecem de cuidados paliativos 250 000 pessoas (8). MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 13 Os cuidados paliativos deverão ser parte integrante do sistema de saúde, promovendo uma intervenção técnica que requer formação e treino específico obrigatório por parte dos profissionais que os prestam (8). Partilhando desta opinião, apresentamos uma proposta de formação para os profissionais do Serviço de Medicina 1, médicos e enfermeiros, para que possamos aumentar as acções paliativas aos nossos doentes, internados ou em ambulatório. REFERÊNCIAS - Portugal. Direcção Geral de Saúde. Elementos estatísticos – informação geral. Lisboa, Saúde 2001, Julho, 2004. - Clark D. 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O seu objectivo central é a redução do sofrimento dos doentes e famílias e a promoção da máxima qualidade de vida possível, apesar da doença (1,2). A qualidade de vida está relacionada com o grau de satisfação subjectiva que a pessoa sente da vida, e é influenciada por todas as dimensões da personalidade – física, psicológica, social e espiritual. Existe uma boa qualidade de vida quando as aspirações de um indivíduo são atingidas e preenchidas pela sua situação actual. Existe pouca qualidade de vida quando há grande divergência entre as aspirações e a situação actual. Para melhorar a qualidade de vida é necessário diminuir o afastamento entre as aspirações e a situação actual (2). Os cuidados paliativos, enquanto intervenção no sofrimento associado à doença avançada e/ou grave e incapacitante, devem ser introduzidos tão precocemente quanto possível após o diagnóstico de uma doença crónica e, como tal, não se destinam apenas aos moribundos (1). Nos doentes terminais os objectivos terapêuticos estão centrados em (1,3): - Melhoria da qualidade de vida; - Promoção da dignidade e autonomia do doente e melhoria da adaptação emocional à situação; - Concepção activa da terapêutica, que nos leva a ultrapassar o não há nada a fazer; - Abordagem interdisciplinar e multidisciplinar. - Sendo que os cuidados paliativos têm como principal objectivo a resposta adequada às necessidades dos doentes, é importante conhecê-las. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 15 Vários trabalhos abordam esta temática nomeadamente os de Singer e Steinnhauser (4,5). Em ambos os trabalhos o principal factor na Qualidade de vida dos doentes terminais é o controle adequado da dor e outros sintomas. Na doença avançada os sintomas: - Têm múltiplas dimensões (física, emocional, social e espiritual); - São frequentes e múltiplos (ver Quadro); - Têm causas multifactoriais; - Têm carácter evolutivo, geralmente com aumento da intensidade à medida que a doença progride. PRINCÍPIOS GERAIS DO CONTROLO DOS SINTOMAS Os princípios gerais do controlo dos sintomas são os seguintes (1,2): - Avaliar antes de tratar. Determinar a causa e o mecanismo fisiopatológico. Avaliar o impacto emocional e físico do sintoma, a sua intensidade e os factores que o condicionam; - Explicar as causas dos sintomas e o tratamento de forma acessível ao doente e familiares; - Perguntar, observar e antecipar, não esperar que o doente se queixe; - Adoptar uma estratégia terapêutica mista farmacológica e não farmacológica. Devem fixar-se prazos para o cumprimento de objectivos terapêuticos e adoptar uma estratégia de prevenção dos sintomas que possam vir a surgir (deixar prescrita terapêutica em SOS); - Monitorizar os sintomas utilizando escalas de pontuação ou escalas analógicas e registos adequados como o esquema corporal da dor, tabelas de frequência de sintomas, diários da dor ou de outros sintomas. Uma das escalas mais utilizadas é a Escala Numérica, pedindo ao doente que pontue os MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 16 sintomas de 0 a 10(máximo), como acontece na ESAS (Edmonton Symptom Assessment System) (ver Quadro). - Reavaliar regularmente as medidas terapêuticas, estabelecendo objectivos realistas com o doente. Devem estabelecer-se prioridades de acordo com os sintomas que mais incomodam o doente; - Cuidar dos detalhes, para optimizar o grau de controlo dos sintomas e minimizar os efeitos secundários da terapêutica. Deve incluir pormenores que diminuam a sensação de abandono por parte do doente e que promovam a sua dignidade e qualidade de vida. É essencial que toda a equipa de cuidados discuta e assuma os objectivos terapêuticos, nomeadamente naqueles sintomas que mais impacto têm sobre o doente. Os profissionais de enfermagem, pela sua maior proximidade do doente, têm um papel fundamental na monitorização dos sintomas. REFERÊNCIAS - Barbosa A, Neto IG, ed. Manual de Cuidados Paliativos. Faculdade de Medicina de Lisboa 2006. - Twycross R. Cuidados Paliativos. 2ª ed. Lisboa: Climepsi;2003. - Porta J, Gomez-Baptista X, Tuca A. Control de sintomas em pacientes com cáncer avanzado y terminal. Madrid: Aran ediciones;2004. - Singer Pa, Martin DK, Kelner M. Quality end of life care: patients`perspectives. JAMA 1999;281:163-168 - Steinhauser KE et al. Factors considered important at the end of life by patients, family, physicians and others care providers. JAMA 2000;284:2476-2482. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 17 A DOR Objectivos Gerais Compreender as múltiplas dimensões da dor e compreender traves mestras do plano terapêutico. Objectivos Específicos: - Relembrar a importância da dor (5º sinal vital); - Compreender a metodologia empregue no diagnóstico da dor; - Relembrar regras básicas na analgesia de acordo com a escala da OMS. INTRODUÇÃO Ao longo da evolução do homem, a dor esteve sempre envolta numa aura de misticismo. Ao longo dos anos, o homem tem utilizado todos os recursos imagináveis para evitar a dor e em último caso, minimiza-la. Nomes como Galeno, Da Vinci, Vesálio, Descartes, Darwin tentaram investigar esta sensação mas sem sucesso. Hoje temos noção do que é a dor, dos mecanismos que a provocam, mas não conseguimos ainda destrinçar a sua subjectividade. Em 1974 foi criada a International Association for the Study of Pain (ISSP) que surgiu da necessidade, de uma definição de dor e dos termos com ela relacionados, de modo a diminuir a confusão existente a nível internacional. Foi formada uma comissão composta por vários profissionais de saúde que 1979 apresentou o resultado do seu trabalho, tendo sido submetido à Organização Mundial de Saúde, onde se definia que a dor é uma “ experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos. Cada indivíduo aprende a utilizar esse termo através das suas experiências anteriores” Esta definição diz-nos que a dor é uma experiência individual, influenciada por vários aspectos, nomeadamente fisiológicos, sensoriais, afectivos, cognitivos, comportamentais e sócio-culturais. Tudo isto transforma a dor num fenómeno multidimensional. AVALIAÇÃO DA DOR Por a dor ser uma experiência que engloba várias esferas de acção torna-se complexo realizar a sua avaliação. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 18 A dor é constituída por quatro dimensões: - A descrição da dor, em que o doente localiza a dor, fala da sua intensidade, dos factores que aumentam ou diminuem a dor, da duração desta e se irradia ou não; - Os mecanismos que provocam a dor podem ser de origem patológica (lesão a nível dos nervos ou tecidos) ou funcional (cólica, cãibra); - A causa pode ser das mais variadas etiologias, nomeadamente oncológica, devido a tratamentos, doença crónica, úlceras; - Finalmente temos os factores não físicos como seja os factores culturais, sociais, psicológicos e espirituais. É essencial que toda a informaçãodada pelo doente não seja minimizada. A descrição do utente deve ser a principal forma de avaliação. Em doentes inconscientes o profissional de saúde deve recorrer a uma observação cuidadosa e estar desperto para identificar indícios de dor tais como choro, gemido, modificações visuais, alterações dos sinais vitais (taquicardia, hipertensão), sudorese, dilatação das pupilas, tremor, alterações momentâneas da fisionomia, entre outros. Existem vários instrumentos que permitem medir a dor. Estes podem abordar apenas uma única dimensão da dor - instrumentos unidimensionais ou podem ser instrumentos multidimensionais que tentam encerrar vários aspectos, sendo supostamente mais abrangentes e retratando melhor a dor. MEDIDAS DA INTENSIDADE DA DOR (UNIDIMENSIONAIS) Existem actualmente várias medidas de intensidade da dor nomeadamente as entrevistas, diários da dor, testes psicológicos e as escalas da dor. Tendo em consideração a nossa realidade iremos abordar as escalas. Existem várias e antes de optar por uma é necessário ter em atenção vários factores: nível de consciência do doente, a idade, o nível de literacia. ESCALA NUMÉRICA Este instrumento consiste numa régua dividida em 11 partes iguais, numeradas de 0 a 10. O doente deve definir a sua dor num valor tendo em consideração que 0 significa não ter dor e 10 é a pior dor possível. Esta escala pode ser também utilizada de 0 a 100, aumentando a sua sensibilidade. Figura 1 Escala Numérica MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 19 ESCALA QUALITATIVA Na escala qualitativa é pedido ao doente que quantifique a sua dor utilizando os termos acima. Por ter um número limitado de classes a sua sensibilidade é diminuída. ESCALA VISUAL ANALÓGICA A escala visual analógica consiste numa linha de 10 centímetros de comprimento onde numa extremidade esta gravado o termo sem dor e na outra a nomenclatura “pior dor possível”. O doente deve fazer um traço ou uma cruz perpendicular à linha. Posteriormente o profissional de saúde deve medir a distância entre o início da linha e a cruz dando assim um valor à dor do doente. Existem autores que referem que doentes com dor lombar tendem a ver a linha como a sua coluna, quando esta é colocada na vertical, e colocam o traço no local da sua dor. Apesar deste aspecto há uma crescente evidência da validade desta escala e sua fidedignidade. ESCALA DAS FACES Nesta escala o doente deve classificar a intensidade da dor de acordo com a face desenhada, tendo em atenção que a face de felicidade corresponde a não ter dor e a face de máxima tristeza corresponde à maior dor. Esta escala pode ser extrapolada para uma escala numérica, sendo que a primeira face corresponde a 0 e a ultima a 10. Nesta escala mede-se primeiro a intensidade da dor e em menor dimensão os componentes afectivos. Esta escala originalmente possuía faces com 2 cm mas foi aumentada para 4 cm para poder ser utilizada em doentes idosos. Possui boa fiabilidade e pode ser utilizada em doentes com demência leve e moderada. Tem ainda a vantagem de poder ser utilizada em doentes analfabetos e em crianças a partir dos três anos. Figura 1 Escala qualitativa Figura 2 Escala Visual Analógica Figura 3 Escala de Faces MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 20 MEDIDAS DAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES DA DOR DESENHO DA LOCALIZAÇÃO DA DOR O doente dá-nos uma localização do local onde sente dor e como esta se distribui. QUESTIONÁRIO DE DOR DE MCGILL O questionário de dor de McGill, é provavelmente o método multidimensional mais conhecido. Este avalia a dor nas dimensões afectiva, sensorial e avaliativa e baseia-se nas palavras que os doentes seleccionam para descrever a sua dor. Neste questionário são registados a localização da dor, a sua intensidade e o seu comportamento através de 3 partes: índice de avaliação da dor, uma escala de descrição verbal e intensidade da dor presente. Este instrumento é muito fiável mas complexo e necessita de muito tempo para ser aplicado em doentes com idade avançada. Uma das suas limitações é que não dá dados quantitativos sobre a dor mas é válido para medir a gravidade da dor. Figura 4 Escala de Faces Figura 5 – Localização da dor MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 21 CONCLUSÃO Chegado ao fim deste trabalho pode-se concluir que não existe nenhum instrumento de mensuração da dor que seja totalmente fiável. Assim sendo, resta optar por aquele que melhor se adequa à nossa realidade. Os instrumentos multidimensionais são impossíveis de utilizar numa base diária, uma vez que a sua aplicação demora bastante tempo. Ficamos então com os instrumentos unidimensionais, nos quais nos concentramos nas escalas. Todas as escalas têm vantagens e desvantagens. Figura 6 – Questionário de dor de Mcgill MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 22 Como a nossa população é bastante envelhecida, com níveis de literacia baixos consideramos que a escala das faces, será a mais viável. Tem como grande vantagem poder ser transformada, a nível de registo, em escala numérica. BIBLIOGRAFIA - Barbosa, A; Neto, I.G. – Manual de cuidados Paliativos. Faculdade Medicina Lisboa, 2006 - Circular normativa nº 9 DGCG de 14/6/2003 – Direcção Geral de Saúde - Sousa, F.F.; Silva, J.A.- A métrica da dor: problemas teóricos e metodológicos. Revista DOR, 6, 2005 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 23 RECOMENDAÇÕES PARA O TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DOR Núcleo de Cuidados Paliativos da APMCG Recomendações para o Tratamento Farmacológico da Dor Março de 2007 MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 24 1. Avaliar a dor - Qualidade - Factores temporais - Irradiação - Localização - Factores de agravamento e de alívio - Impacto no sono, na função e na qualidade de vida - Necessidade de doses de resgate para a dor irruptiva - Intensidade (0-10) Figura 1. Escalas de avaliação da dor. - Tipo de dor Tipo de dor Subtipos Características Exemplos Tratamento Nociceptiva Somática constante, osteoartrose grave, AINE + Opióide intermitente, em fracturas/metástases moinha ou ósseas, infiltração dos moedeira; tecidos moles bem localizada Visceral constante, que metástases intra- AINE + Opióide aperta; abdominais, metástases precariamente hepáticas, cancro no localizada; pode ser pâncreas referida cólicas obstrução intestinal, Opióide + Anti- cólica renal colinérgico ou AINE Neuropática Disestésica/ ardor constante radiculopatia por Opióide + desaferenciação hiperalgesia ou compressão discal, Antidepressivo alodínias, neuropatia diabética, tricíclico e/ou ocasionalmente nevralgia pós-herpética, Anticonvulsivante radiante neuropatia pós QT ou RT Lancinante Dor lancinante invasão do plexo Opióide+ episódica. braquial ou do nervo Anticonvulsivante Paroxismos tipo trigémio e/ou Antidepressivo choque. tricíclico Tabela 1. Adaptado de: Pereira JL (2006). Gestão da dor oncológica. In Barbosa A, Neto I (ed.)Manual de Cuidados Paliativos,pp. 61-113. Lisboa: Núcleo de Cuidados Paliativos/ Centro de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 25 2. Antes de iniciar a terapêutica Regras gerais para o tratamento da dor - evitar a demora - pela boca: usar a via oral sempre que possível - pelo relógio: horário regular e não apenas doses em SOS - para o indivíduo: de acordo com as necessidades específicas de cada doente - prescrever doses extra para a dor irruptiva - abordagem de outros problemas: físicos, psicológicos, espirituais e sociais - pela escada: seguir a escada analgésica da OMS , bloqueios anestésicos Figura 2. Adaptado de: Pereira JL (2006). Gestão da dor oncológica. In Barbosa A, Neto I (ed.) Manual de Cuidados Paliativos, pp. 61-113. Lisboa: Núcleo de Cuidados Paliativos/ Centro de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Regras gerais para a utilização de opióides - abordar os receios e mitos (adicção, efeitos colaterais, perda de efeito, encurtam a vida, segurança) - começar com doses baixas e titular; os opióides utilizados nas doses apropriadas e titulados progressivamente raramente provocam depressão respiratória (atenção se a frequência respiratória for inferior a 10 ciclos/min.) - iniciar com opióides de libertação normal até ao controlo da dor - usar opióides de libertação retardada quando a dor estiver controlada - prevenir efeitos colaterais (náuseas e obstipação) - usar um tipo de opióide de cada vez (excepto com os transdérmicos) - ponderar o uso de adjuvantes - avaliar regularmente, cada dia, até ao controlo da dor Ensino do doente e família - Fornecer ao doente esquemas terapêuticos escritos contendo nome dos fármacos, dose, indicação, frequência das tomas e contacto do médico. - Explicar que as náuseas, sonolência e confusão iniciais são transitórios. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 26 3. INÍCIO DA PRESCRIÇÃO COM OPIÓIDES FRACOS (2º degrau OMS) Tramadol Se o doente estava a fazer anteriormente um analgésico não opióide, poderá começar com: - tramadol de libertação normal 25 mg de 6/6h (1/2 cp LN Travex rapid® ou solução oral 10gotas=25 mg ou 2 bombadas de dispositivo doseador Tramal® =25 mg) ou - 1 comprimido de tramadol de libertação prolongada de 50 mg de 12/12 horas. Nota: 50 mg tramadol oral =10 mg morfina oral A dose de resgate (SOS) deverá ser prescrita em formulação de libertação normal iniciando com 25 a 50 mg podendo ser repetida passado uma hora e ajustando conforme o controlo da dor. Prevenir os efeitos colaterais como descrito para os opióides fortes adiante mencionados. A titulação é feita aumentando a dose em 25 a 50% cada 48h, se o doente necessita de mais de 2-3 doses de resgate por dia. A dose máxima recomendada é 400 mg por dia. Codeína e di-hidrocodeína A codeína existe em formulação de cáps., xarope (anti-tússico) ou comp. associada ao paracetamol e pode ser usada na dose de 30 a 60 mg de 6/6h a 4/4h até ao máximo de 240 mg/dia. A di-hidrocodeína existe em formulação de cp de libertação prolongada e pode ser usada na dose de 60 a 120 mg de 12/12h até ao máximo de 240 mg/dia. Prevenir os efeitos colaterais como descrito para os opióides fortes adiante mencionados. 4. PRESCRIÇÃO DE OPIÓIDES FORTES (3º degrau OMS) a) INICIO COM MORFINA DE LIBERTAÇÃO NORMAL Para um rápido controlo da dor, recomenda-se o recurso a morfina com 4h de semi-vida (Sevredol®) de acordo com o fluxograma seguinte: MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 27 Dor moderada a severa não controlada Medicação prévia com opióides fracos do degrau 2? S Idoso, caquexia, insuficiência renal ‡ ou DPOC? N Iniciar morfina oral 5 mg de 4- 4h * mais 5 mg em SOS cada 1h δ S N Iniciar morfina oral 10 mg de 4-4h * mais 10 mg em SOS cada 1h δ Prevenir os efeitos colaterais: -Vómitos: p.e. 10-20 mg metoclopramida ou domperidona 6-6h mais 10 mg SOS, 4- 5 dias ou 2 a 3 mg haloperidol à noite 3 a 5 dias -Obstipação: laxante osmótico e/ou estimulante, diário p.e. lactulose 15 a 30 ml, 1 a 3 x dia e/ou bisacodil 5 a 10 mg, 1 a 3 x dia, ou sene 2 comp ao deitar, enquanto utilizar opióide Reavaliar em 24-48h: - dose total diária usada -efeitos colaterais -características e etiologia da dor Dor controlada? N S Aumentar 50% § cada 24h Ponderar adjuvantes Calcular a dose total diária (DTD) e dar metade como morfina de libertação retardada de 12-12h mais 1/6 DTD em SOS como morfina de libertação normal Reavaliar periodicamente Figura 3. Início do tratamento com morfina de libertação normal. ‡ - Em caso de insuficiência renal o intervalo recomendado é 6-6h ou 8-8h. Evitar morfina de libertação retardada. *- Para evitar que o doente acorde a meio da noite, a dose de libertação normal administrada à meia- noite pode ser duplicada. §- Se dor grave profundamente descontrolada podem justificar-se aumentos de dose de 100% δ- Dose de resgate: em caso de dor irruptiva ou antes de realizar movimentos que agravem a dor deve prescrever-se morfina de libertação normal equivalente a 1/6 da dose total diária. Esta dose extra pode ser repetida de hora em hora até ao alívio da dor. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 28 b) INICIO COM MORFINA DE LIBERTAÇÃO RETARDADA Com os comprimidos de acção retardada o controlo da dor pode fazer-se em 48 a 72 horas. Útil para doentes com dificuldade na adesão terapêutica a múltiplas tomas. Se anteriormente o doente estava a fazer um analgésico não opióide, poderá começar com 1 comprimido de morfina retard de 10 mg de 12/ 12 horas. Prevenir os efeitos colaterais como descrito anteriormente no fluxograma. Se o doente estava medicado com um opióide fraco, inicia com morfina retard de 20-30 mg de 12/12 horas (consultar tabela de doses equianalgésicas). A titulação é feita aumentando a dose em 25 a 50% cada 48h, se o doente necessita de mais de 2-3 doses de resgate por dia. Sem dose máxima, apenas limitada pela tolerância aos efeitos colaterais individual. A dose de resgate (SOS) a prescrever é calculada conforme descrito anteriormente (1/6 da dose total diária). 5. CONVERSÃO ENTRE OPIÓIDES Em todas as conversões entre opióides existe incerteza. É mais seguro errar por defeito assegurando que são disponibilizadas doses de resgate para a dor irruptiva. Princípio activo Via Doses equianalgésicas diárias Codeína, mg oral 120-240 Tramadol, mg oral 100-150 300 400 Morfina, mg oral 10-30 60 80 120 180 240 360 Buprenorfina, µg/h TD 35 52,5 70 140 Fentanil, µg/h TD 25 50 75 100 Tabela 2. Adaptado: Watson M, Lucas C, Hoy A, Back I. Oxford Handbook of Palliative Care. Oxford University Press 2005. 6. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE OPIÓIDES ALTERNATIVAS A via transdérmica é uma alternativa se o doente não consegue engolir. Pelo seu lento início de acção não estão indicados no rápido controle da dor. São úteis em doentes relutantes a tomar morfina, com má adesão à terapêutica ou com efeitos colaterais da morfina significativos. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 29 7. FACTORES DE CONVERSÃO Se for necessário alterar o opióide ou a via de administração do mesmo poderão ser utilizados os seguintes factores de conversão, devendo sempre ser ajustada a dose individualmente. Fármacos Regra De…. Para… Codeína oral Morfina oral dividir por 10 Tramadol oral Morfina oral dividir por 5 Tramadol parentérico Morfina parentérica dividir por 10 Tramadol oral Buprenorfina TD dividir por 5 Morfina oral Morfina subcutânea dividir por 2 Morfina oral Morfina endovenosa dividir por 3 Morfina oral Fentanil TD dividir por 3 (dose de Fentanil inferior) Buprenorfina TD Fentanil TD dividir por 2 Dose de resgate de morfina oral em doentes a fazer Fentanil TD dividir dose de Fentanil (µg/h) por 2 Tabela 3. Factores de conversão de opióides. 8. Redução e cessação da terapêutica opióide a) Se surgir intolerância aos efeitos colaterais do opióide e a dor estiver controlada, reduzir a dose em 50% cada 2 dias ou utilizar outro opióide em dose equivalente. b) Suspensão da morfina ou outro opióide (p.ex. dor controlada após radioterapia). - passar para ¼ da dose e manter 2 dias - reduzir 50% cada 2 dias até atingir a dose equivalente a 10 a 15 mg/dia - suspender ao fim de 2 dias MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 30 9. Adjuvantes Os adjuvantes podem ser úteis usados com opióides ou isoladamente conforme descrito na tabela 1. AINEs Os AINEs são úteis isoladamente (dor ligeira) ou como adjuvantes no tratamento da dor nocicetiva somática e visceral. É preferível usar AINEs de semi-vida curta e começar pelas doses mais baixas recomendadas aumentando-as cada 2-3 dias. Atingindo a dose máxima sem sucesso o tratamento deve ser suspenso. O diclofenac e o tenoxicam podem ser administrados por via subcutânea. Princípio activo Posologia Dose máxima Ibuprofeno 400 mg a 800mg 8/8h 2400 mg/dia Naproxeno 500 mg 12/12h a 8/8h 1500 mg/dia Diclofenac 50 mg 12/12h a 8/8h 150 mg/dia 75 mg 12/12h Celecoxib 100 a 200mg 12/12h ou 24/24h 400 mg/dia Tenoxicam 20mg 24/24h 20mg/dia Tabela 4. Exemplos de anti-inflamatórios não esteróides. CORTICÓIDES No tratamento da dor por compressão nervosa ou distensão da cápsula hepática a dose de corticóides varia entre os 4 e 8 mg/dia de dexametasona. Na hipertensão intracraneana a dose indicada é de 12 a 16 mg/dia. A dexametasona é de todos o que tem menor efeito mineralocortocóide. A dose inicial costuma ser alta (ex. 8 mg de dexametasona actuam em 1-3 dias) e depois reduz-se até à dose mínima eficaz. Se não forem eficazes em 5 dias ponderar a sua suspensão. O quadro seguinte apresenta as doses equipotentes dos corticóides. Corticóide Apresentações Dose (mg) Deflazacort Rosilan® comp 6 e 30 mg e sol. oral 22,75 mg/ml (1 gota = 1mg) 6 Prednisolona Lepicortinolo® comp. 5 e 20 mg 5 Metilprednisolona Medrol® comp. 4 e 16 mg 4 Dexametasona Decadron® comp 0,5 mg * 0,75 Oradexon® sol. injectável 4 mg/ml (pode ser dado por via oral ou SC)** Betametasona Celestone® comp 0,5 mg e sol. oral 0,5 mg/ml (30 gotas=1ml=0,5mg) 0,75 Tabela 5. Doses equipotentes de corticosteróides. *- Temporariamente fora de comercialização à data de elaboração das recomendações **- Disponível apenas em farmácias hospitalares ANTIDEPRESSIVOS E ANTICONVULSIVANTES Devem ser titulados até obter o efeito ou atingir a dose máxima tolerada. Um teste adequado duraria 3-6 semanas com pelo menos 1-2 semanas na dose máxima tolerada. Classicamente os antidepressivos tricíclicos são usados como 1ª linha na dor MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 31 Princípio activo Dose Apresentações Carbamazepina Iniciar 100mg de 12-12h, aumentar 200 mg cada semana Tegretol® comp 200 mg, 400mg Dose de manutenção: 400-600 mg 12-12h Tegretol® xarope 100mg/5ml Reduzir em idosos ou insuf. renal. Monitorizar leucograma e função hepática. Valproato de 200mg de 12-12 horas, aumentar 200 mg/dia cada 3 dias. Depakine®/Diplexil® comp 150, sódio Dose de manutenção: 500-1000mg 12-12h 200, 250, 300 mg, 500 mg Dose máxima: 2500mg/dia Depakine®/Diplexil® xarope 40mg/ml e 200mg/ml Gabapentina Iniciar 300 mg/dia ao deitar; 2º dia 300 mg 12-12h; 3º dia Neurontin® 100mg, 300mg, 300 mg 8-8h. Aumentar 300 mg cada 2 a 3 dias até à dose 400mg, 600mg, 800mg de 1800 mg/dia. Reduzir em idosos ou insuf. renal Pregabalina Iniciar 75mg 12/12h. Aumentar após 3 dias para 150mg Lyrica® cápsulas 25, 50, 75, 150, 12/12h. Aumentar após 7 dias para 300mg 12/12h. Dose 200, 300mg máxima: 300mg/dia Reduzir em idosos ou insuf. renal Amitriptilina Iniciar 10mg (idosos) a 25mg ao deitar. Titular cada 5 dias. Tryptizol®/ADT® comp. 10 e 25mg Dose máxima 50 a 75 mg/dia, em 2 doses diárias ou em Tryptizol® comp 50 mg toma única ao deitar Nortriptilina Iniciar 25mg ao deitar. Titular cada 5 dias. Norterol® comp 25mg e 50mg Dose máxima: 100mg/dia (idosos 50mg) de 8-8h. Tabela 6. Anti-convulsivantes e anti-depressivos tricíclicos. RELAXANTES MUSCULARES Os relaxantes musculares podem ser úteis na dor associada a espasmos musculares. Princípio Dose Apresentações activo Baclofeno 5 -10mg de 8/8h Lioresal® comp 10mg e 25mg Dose máxima 100mg/dia Clonazepam Início 1 mg à noite, 4 noites. Titular até à dose de Rivotril® comp. 0,5 e 2 mg e sol. oral 2,5 manutenção de 2-4mg 12-12h mg/ml Tizanidina Inicio 2 mg à noite. Aumentar 2 mg cada 3 dias. Sirdalud® comp 2 mg LN Dose máxima 36mg/dia dividido em 3 tomas (ou 2 Sirdalud® MR comp 6mg LP tomas se comp LP) Ciclobenzaprin a Início 10 mg 8-8h. Dose máxima 60 mg/dia. Flexiban® comp 10mg Diazepam Iniciar 5mg ao deitar Valium®, Bialzepam®, Metamidol® Dose máxima 30mg/dia dividida em 3 tomas Unisedil® comp 5mg, 10mg Tabela 7. Relaxantes musculares. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 32 10. Fármacos usados no tratamento da dor Princípio activo Dose Apresentações Observações Paracetamol 1g 8/8h ou 6/6h. Dose máxima: 4g/dia. comp, xarope, sup, ampolas ev Codeína 30 a 60 mg 6/6h a 4/4h. Codipront® 30 mg cáps Dose máxima: 240 mg/dia. Codipront® xarope 30mg/15ml Di- hidrocodeína 60 mg 12-12h. Dose máxima: 240 mg/dia. Didor continus® 60,90 e 120 mg cp LP* Paracetamol + 8/8h ou 12/12h. Comp 30 mg codeína+500 mg paracetamol Dol-U- Ron Primeira linha no tratamento da dor Codeína Dose máxima: 8 comp ou 4 sup./dia (240mg Forte® cáps; Dafalgan Codeína® crónica por osteoartrose. codeína+4g paracetamol). sup 60 mg codeína+1 g paracetamol Dol-U-Ron Forte® Prevenir obstipação e náuseas. Metamizol 0.5-1gr 4-6h 575 mg cáps Nolotil® Útil na dor em cólica. Dose máxima 4 g/dia. 500 mg e 1000 mg sup Nolotil® Ampolas 2000 mg/5 ml Nolotil® Tramadol 25 a 100mg 8/8h, 6/6h 50 mg cáps LN Tramal® Útil na dor neuropática e nociceptiva. Dose máxima 400 mg/dia. 50 mg comp orodispersíveis Travex Rapid® Gotas orais 100 mg/ml (20 gotas=50 mg) Tramal® 50 mg de tramadol oral =10 mg morfina Sistema doseador (1 bomb=12,5 mg) Tramal® oral. Sup 100 mg Tramal® 100 mg de tramadol sc=10 mg morfina Ampolas, 100 mg/2ml Tramal® sc 12/12h 50 mg cáps LP Travex®Menos obstipante que a codeína e 100 mg cáps LP Tramal retard®, Travex®, Nobligan® morfina . 150 mg cáps LP Tramal retard®, Travex®, Nobligan® 200 mg cáps LP Tramal retard®, Travex®, Nobligan® Sem efeito na pressão dos ductos biliares e pancreáticos. 24/24h 150 mg cáps LP Travex Long® 200 mg cáps LP Travex Long® Precaução: 300 mg cáps LP Travex Long® epilepsia, insuficiência renal e hepática 400 mg cáps LP Travex Long® Insuf. Renal: 50 a 100 mg LN cada 12h. Paracetamol + Dose máxima 2 comp de 6/6h. 325mg paracetamol+37,5mg tramadol. Zaldiar® comp Tramadol MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 33 Princípio Dose Apresentações Observações activo Morfina, 10 mg/1ml Morfina® solução injectável Braun Usar diluída (ex. uma amp em 9 ml SF) cloridrato Reduzir para ½ da dose oral. Morfina, 10 mg e 20 mg, 4/4h Comp. LN Sevredol® (podem ser Prescrever sempre laxantes. sulfato fraccionados e/ou moídos) Prescrever anti-emético pelo menos 5 dias. Evitar conduzir pelo menos 5 dias devido à sonolência. 10, 30, 60, 100 mg, 12/12h Comp. LP MST1®, MST3®, MST6®, Aumentar 25% a 50% cada dia até controlo. MST10® Sem dose máxima (limitada pelos efeitos colaterais). (não podem ser fraccionados nem moídos) Insuf. Renal e hepática grave: 6-6h ou 8-8h. Cáps. LP Skenan® (podem ser abertas e Iniciar com doses baixas e titular. administradas por sonda naso- gástrica) * Mesmas doses por via rectal. Buprenorfina 35µg/h; 52,5 µg/h e 70 µg/h, de Sistema transdérmico Iniciar com 35 µg/h ou menos (os pensos podem ser cortados); TD 96/96h (esquema na embalagem) Podem ser usados com outros opióides. Menos obstipante. Sem depressão respiratória nas doses Dose máxima recomendada 140 recomendadas. µg/h. Insuf. Renal: Sem necessidade de ajuste. Insuf. Hepática: Ajuste se insuf. hepática grave com alterações da coagulação. Buprenorfina Início 0,1 a 0,2 mg 8/8h (sem 0,2 mg comprimido sublingual, Buprex® Dose de resgate: iniciar com 0,1-0,2 SOS cada hora e titular até à SL adesivos) 0,4 mg comprimido sublingual, Subutex® dose eficaz; Se mais de 3 SOS/dia aumentar a dose do penso TD. Não ingerir os comprimidos. Dose máxima recomendada 3 mg/dia Fentanil TD 25,50,75 e 100µg/h, de 72/72h sistema transdérmico Durogesic® Os pensos podem ser cortados. Podem ser usados com outros opióides. Insuf. Renal: reduzir 50% a75% Fentanil TM 200 µg SOS . Friccionar durante 15 sistema transmucoso oral Actiq® - só existe Dose de resgate: iniciar com 200 µg cada 15 a 20 minutos e titular até minutos na mucosa oral. a nível hospitalar à dose eficaz. Se mais de 3 SOS/dia aumentar a dose do penso TD. Útil na dor irruptiva em utilizador de Fentanil transdérmico com incapacidade para deglutir. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 34 11. Bibliografia recomendada Direcção-geral da Saúde. Circular Normativa nº9/DGCG de 14/6/2003 A dor como 5º sinal vital. Lisboa. 2003. Gonçalves F. Controlo de sintomas no cancro avançado. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian; 2002. Melo G. Guia de orientação geral de abordagem da dor crónica em cuidados paliativos. http://br.groups.yahoo.com/group/MGF_XXI/files/Documentos%20MGF/ (acedido em Abril 2006) Neto IG. Protocolo de tratamento da dor crónica oncológica da Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital da Luz. Março de 2007 Pereira JL (2006). Gestão da dor oncológica. In: Barbosa A, Neto I (ed.) Manual de Cuidados Paliativos, pp. 61-113. Lisboa: Núcleo de Cuidados Paliativos/ Centro de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Infarmed. Prontuário Terapêutico. http://www.infarmed.pt/prontuario/index.php (acedido em Março de 2007). Twycross R. Cuidados paliativos. Climepsi. 2003. Twycross R, Wilcock A, Charlesworth S Dickman A. Palliative drugs. http://www.palliativedrugs.com. (acedido em Março de 2007). Watson M, Lucas C, Hoy A, Back I. Oxford Handbook of Palliative Care. Oxford University Press, 2005. Agradecimentos O Núcleo de Cuidados Paliativos da APMCG agradece a colaboração e patrocínio científico da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos. Colaboraram na elaboração e revisão das recomendações: Dr.ª Edna Gonçalves Dr. Gonçalo Melo Dr.ª Isabel Costa Dr.ª Isabel Galriça Neto MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 35 CUIDADOS PALIATIVOS NÃO- ONCOLÓGICOS Objectivos Gerais Reconhecer a aplicabilidade da metodologia utilizada em Cuidados Paliativos na doença crónica não- oncológica. Objectivos Específicos - Comparar a complexidade sintomática entre doentes oncológicos e não-oncológicos; - Reconhecer os aspectos dos cuidados médicos mais importantes para doentes familiares; - Compreender as dificuldades da prognosticação não-oncológica. INTRODUÇÃO A ideia de que os Cuidados Paliativos são dirigidos à doença oncológica maligna constituiu uma noção antiquada. Actualmente os princípios de equidade e justiça em Saúde impõem que todos os doentes considerados complexos (independentemente do diagnóstico) possam usufruir de uma equipa capaz de adaptar a sua metodologia às necessidades do utente. A atenção está, portanto, a voltar-se para desenvolvimento de serviços que respondam de forma estruturada à necessidades de controlo sintomático e de apoio psico-social de doentes com patologia não- oncológica e respectivas famílias. Três grandes grupos de entraves têm estado na génese da não aplicação transversal da metodologia centrada no doente não-maligno: 1. Desconhecimento da complexidade sintomática inerente; 2. Dificuldade no estabelecimento de um prognóstico e mentalidade médica centrada no prognóstico; 3. Falta de formação médica nos princípios farmacológicos (e não farmacológico), com interferência de mitos. Este texto visa sintetizar as principais noções da literatura contemporânea inerente a esta problemática. MANUAL DE CUIDADOS PALIATIVOS Versão 3 Março de 2011 C e n t r o H o s p i t a l a r P o r t o – H o s p i t a l S a n t o A n t ó n i o Página 36 A COMPLEXIDADE SINTOMÁTICA Actualmente, 90% da população apresenta uma morte não-súbita (isto é, têm um percurso terminal mais ou menos lento) e 25% morre de cancro (ou seja, por cada doente que morre de cancro, 3 morrem de patologia não maligna) 1,2 . Estes dados sugerem a magnitude epidemiológica do problema dos doentes terminais não-oncológicos; outros estudos garantem que doentes não-oncológicos apresentam o mesmo leque de sintomas que doentes com cancro, com intensidade que pode ser similar mas que se tendem a prolongar mais ao longo da sua trajectória de doença 1 . Existe ainda evidência clara de que doentes com patologia não-maligna avançada apresentam necessidades não satisfeitas ao longo do seu percurso 3 . Daí que as normas para provisão de Serviços Paliativos australianos 4 advoga que se disponibilize meios técnicos e humanos que enquadre a necessidade de referenciação de cerca de 50% de doentes que se espera que morram por doença não-maligna, consultoria a 30% destes e cuidados sob responsabilidade directa de 10%. Um pequeno grupo de trabalhos retrospectivos e metanálises têm sido publicados nos últimos 10 anos, caracterizando os sintomas deste grupo de doentes, fornecendo ponto comparativo com doentes com cancro. A principal limitação na interpretação
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