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Replica - Pratica Juridica I

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AO JUÍZO DA ___ 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PONTES E LACERDA – MT.
Autos do Processo n. 0000
Ação declaratória da existência de união estável
Filomena, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, vem por meio de seu advogado(a) abaixo assinado, com fundamento no art. 350 do código de Processo Civil, propor a presente
RÉPLICA 
á contestação apresentada nos autos da ação em epígrafe que move contra (herdeiros de Josué – nomes completos), já qualificados, com base nos fundamentos de fato e de direito a seguir aduzidos.
	
	I - BREVE RELATO DOS FATOS 	
	Trata-se de ação declaratória, ajuizada pela requerente Filomena com o objetivo de ver declarada a existência de união estável que manteve entre o período de 2009 até o ano de 2021 com o falecido Josué. Referida relação teve convivência pública e continuada, perdurando até o falecimento de seu companheiro, assim arrolando, no pólo passivo da demanda os herdeiros do seu amasiado, que após devidamente citados vieram apresentar contestação nos autos.
	II - DA TEMPESTIVIDADE
	Salienta-se que a presente réplica é devidamente tempestiva, haja vista que o prazo para sua apresentação é de 15 (quinze) dias, contados do primeiro dia útil seguinte ao da publicação, nos moldes dos artigos 350, 351, 430 e 437, todos do Código de Processo Civil.
	Assim, considerando que a intimação foi feita em 20/10/20xx (sexta-feira), o termo em penúltimo dia, ocorre em 09/11/20XX (quinta-feira).
III - PRELIMINARMENTE
	
	III – I. O INTERESSE DE AGIR
	
	Em que pese os requeridos terem alegado ausência do interesse de agir da autora, sob o argumento de que o falecido não restou deixado pensão de qualquer origem, também arguiram inútil para ela a simples declaração de união estável, data máxima vênia, de rigor, a referida preliminar não pode ser acolhida, pois, a autora tem sim o interesse de agir, em que pese tão somente seja ao reconhecimento da união estável com seu amasiado, nos termos do artigo 19, I, CPC., senão vejamos:  
“O interesse do autor pode limitar-se à declaração:  
I - Da existência, da inexistência ou do modo de ser de uma relação jurídica. (Art. 19, I, CPC.).”
	Pontuado o limite do seu interesse de agir, no que concerne ao reconhecimento da relação com a propositura da ação, não está relacionada com qualquer possibilidade, desde já afastada, pela ordem processual inicialmente perseguida que se restringe à declaração, de que haja algum alcance à bens, que porventura tenham sido adquiridos quando estavam juntos. Pois caso fosse este o pedido, seria nos autos de outro processo que já tramita em diferente Vara, conforme interesses do espólio no inventário, pela competência e atratividade dos assuntos afins. 
III – II. DA FALHA DA REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL
	Os requeridos alegam, em sede de preliminar, falha da lide, em face da ausência de representação processual da autora. Entretanto, a falha na representação processual, por parte da autora, não gerará a nulidade do feito e, tampouco, autorizaria a aplicação da sanção correspondente, sem que lhe tivesse sido assegurada a regularização respectiva, pois segundo o art. 36, do CPC/2015, a parte será representada em juízo por advogado legalmente habilitado, desse modo, havendo advogado regularmente constituído nos autos, não há que s falar em extinção do feito com fundamento na falta de representação processual. Além de que, da leitura do artigo 13 do CPC de 1973, que assim dita:
Art. 13. “Verificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo, marcará prazo razoável para ser sanado o defeito”.
	é percebido que, antes de ser reconhecida a falha ou falta de representação processual, é indispensável que a parte seja intimada a regularizar a mesma, sendo que, em caso de inobservância pela parte autora, será declarada a nulidade do processo.
	De qualquer sorte, quanto à irregularidade apontada, enseja a rejeição da preliminar. Neste sentido, a contrario sensu:
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO RESCISÓRIA. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. PRELIMINAR DE IRREGULARIDADE DE REPRESENTAÇÃO DA AUTORA. DEFEITO SANADO NA RÉPLICA. REJEIÇÃO. MÉRITO. NOMEAÇÃO DE CURADOR ESPECIAL AO REVEL CITADO POR EDITAL. INOCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO A LITERAL DISPOSIÇÃO DE LEI. PROCESSO ANULADO A PARTIR DO MOMENTO EM QUE DEVERIA TER SIDO NOMEADO O CURADOR. PROVIMENTO PARCIAL. Juntada com a réplica documentação apta a regularizar a representação processual da Autora, desaparece o defeito apontado pelo Réu na contestação. Preliminar rejeitada; Mérito. O art. 9º, II, do CPC configura norma cogente de direito público, dizendo respeito diretamente às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa, razão pela qual seu descumprimento eiva de nulidade absoluta os atos processuais praticados após o momento em que deveria ter se verificado; Sendo a sentença o único ato realizado depois de certificada nos autos a falta de contestação - momento a partir do qual deve ser nomeado curador especial ao revel citado por edital, somente ela será alcançada pela nulidade, não havendo que se falar em irregularidade da citação. (TJ-PE - AR: 43263 PE 90003580, Relator: Cândido José da Fonte Saraiva de Moraes, Data de Julgamento: 14/09/2009, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: 101).
	Como bem demonstrado pela Jurisprudência citada, firmou-se de que é possível a “ratificação dos atos processuais, quando regularizada a representação na instância ordinária”.
	III – III. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
	Em defesa, os requeridos impugnam indevidamente a concessão da gratuidade de justiça, visto que a Requerida atualmente trabalha como ______, tendo sob sua responsabilidade a manutenção de sua casa, razão pela qual não poderia arcar com as despesas processuais.
	Para tal benefício a Requerida juntou declaração de hipossuficiência e comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade de pagamento das custas judiciais sem comprometer sua subsistência, conforme clara redação do Código de Processo Civil de 2015:
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º - Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.
§ 2º - O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.
§ 3º - Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural.
	Assim, caberia ao impugnante a prova, não bastando a mera alegação de capacidade financeira para revogar o benefício da gratuidade de justiça, conforme precedentes sobre o tema:
DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. PEDIDO DE REVOGAÇÃO DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA. REITERAÇÃO DE FATOS JÁ CONHECIDOS E APRECIADOS PELO JUÍZO EM CONTESTAÇÃO E SENTENÇA. AUSÊNCIA DE FATO NOVO HÁBIL A DEMONSTRAR ALTERAÇÃO DA SITUAÇÃO DE HIPOSSUFICIÊNCIA QUE ENSEJARA A CONCESSÃO. DECISÃO MANTIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. 1. Nos termos do art. 100, do Código de Processo Civil, após ser concedida a benesse da gratuidade judiciária, o ônus de provar que a parte beneficiada não faz jus ao benefício é de quem tem interesse na revogação. Assim, é ônus da parte adversa comprovar que a situação econômico-financeira do requerente da gratuidade de justiça lhe permitiriam arcar com os encargos processuais. 2. Na impugnação à justiça gratuita, a mera alegação de que o beneficiário não faz jus à benesse, desprovida de prova, não é capaz de afastar sua concessão. 3. Tendo em vista a ausência de comprovação, pelo agravante, da capacidade financeira da agravada, deve ser mantida a decisão que lhe deferiu os benefícios da gratuidade de justiça. 4. Agravo de instrumento desprovido. (TJDFT, Acórdãon. 1293380, 07010996020208079000, Relator(a): ALFEU MACHADO, 6ª Turma Cível, Julgado em: 14/10/2020, Publicado em: 04/11/2020, #45450859).
IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA CONCEDIDA À AUTORA – INEXISTÊNCIA OU DESAPARECIMENTO DOS REQUISITOS – FALTA DE COMPROVAÇÃO – RECURSO PROVIDO. A impugnação à concessão da assistência judiciária gratuita deve vir acompanhada de elementos probatórios que demonstrem a inexistência ou o desaparecimento dos requisitos para a concessão de referido benefício assistencial. Ausentes provas que contrariem a condição de necessitado, deve ser mantido o benefício assistencial deferido. Recurso conhecido e provido (TJMS. Agravo de Instrumento n. 1400866-18.2020.8.12.0000, Glória de Dourados, 3º Câmara Cível, Relator (a): Des. Dorival Renato Pavan, j: 10/07/2020, p: 15/07/2020, #95450859).
	Cabe destacar que a lei não exige atestada miserabilidade do requerente, sendo suficiente a “insuficiência de recursos para pagar as custas, despesas processuais e honorários advocatícios” (Art. 98, CPC/15), conforme destaca a doutrina:
“Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É possível que uma pessoa natural, mesmo com boa renda mensal, seja merecedora do benefício, e que também o seja sujeito que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os para angariar recursos e custear o processo.” (DIDIER JR. Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça, 
	
	Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça ao requerente. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. P. 60)
	Assim considerado a demonstração inequívoca da necessidade da requerente, faz jus ao benefício.
	III – IV. DA LITISPENDÊNCIA 
	Os demandados arguiram ainda preliminar de litispendência, sob o argumento de quede já tramitava na 1º Vara Civil da Comarca de Pontes e Lacerda, ação semelhante. Entretanto a ação declaratória à existência de união estável submetida pela autora não incide de litispendência com a ação de inventário, pois só existe litispendência quando da ação idêntica a outra que está em curso, com mesmas partes, causa de pedir e pedido. 
	No caso concreto trata-se de pedido diverso da ação em trâmite na 2ª Vara Cível de Pontes e Lacerda - MT, o que lá será competente discutir acerca dos interesses do espólio no inventário, pela competência e atratividade dos assuntos afins.  
	Portanto, sem conexão com o caso concreto a preliminar de litispendência que pugnam os requeridos, assim não merece ser acolhida por falta de amparo legal, pelos fatos e fundamentos aqui expostos, e com apoio as diretrizes do artigo 337, §§2º , 3º e art. 485, V, do CPC., ao passo que sobre o tema, a doutrina conceitua:
“Litispendência. (...). Há litispendência quando se repete ação que está em curso (art. 337, § 3º, CPC). Considera-se que uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (art. 337, § 2º, CPC). O acolhimento da alegação de litispendência leva à extinção do processo em resolução de mérito (art. 485, V, CPC).” (MITIDIERO, Daniel. ARENHART, Sérgio Cruz. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo Código de Processo Civil Comentado – ed. RT, 2017. e – book, Art. 337.).
	Logo, ausente a identidade de partes, pedidos e causa de pedir, resta demonstrada a inexistência de litispendência na presente ação, devendo se recebida e processada nos termos da lei.
	
	IV- DO MÉRITO NA CONTESTAÇÃO
	No mérito, os requeridos alegam que a requerente não tinha convívio com o falecido Josué à época do seu falecimento e que apenas possuíam uma relação de namoro. Ainda alegaram que a autora não era a única a se relacionar com o falecido, o qual era dado a muitos relacionamentos, e que na mesma época do namoro com a autora, o mesmo, tinha outra namorada que residia em uma cidade vizinha com a qual se encontrava, regularmente, uma vez por semana, no período noturno, e que por isso, seria impossível declarar a união estável aduzida pela requerente.
	Ora, tais alegações não merecem prosperar, haja vista que a requerente conviveu com o falecido pelo período de doze anos (2009 a 2021), em que tal relacionamento, fora reconhecido pelos próprios herdeiros do falecido, quando os mesmos, denominam a relação do pai com a autora como “namoro”, sendo assim em união estável, além de residir na mesma cidade, em Pontes e Lacera - MT.
	É importante mencionar que o artigo 1.723, do Código Civil aduz que:
“É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”
	Além de que, verifica-se que há jurisprudência que há muito já reconhece a figura da união estável em casos similares ao tecido nesta ação:
“Constitui união estável a convivência sob o mesmo teto, com publicidade, notoriedade, comunhão de vida e de interesses, tal como se casados fossem. 2. A união estável assemelha-se a um casamento de fato e indica uma comunhão de vida e de interesses, reclamado não apenas publicidade e estabilidade, mas, sobretudo, um nítido caráter familiar, evidenciado pela affectio maritalis, que restou comprovado nos autos. Recuros desprovido.” (TJRS, Apelação 70075687350, Relator (a): Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Sétima Câmara Cível, Julgado em: 28/02/2018, Publicado em: 05/03/2018).
	Por esses motivos, e por estarem presentes os requisitos legais, há que ser reconhecida a união estável, para que, em decorrência desta, surtam os efeitos legais pertinentes diante da dissolução aqui pleiteada.
	
	V - DOS PEDIDOS
	Por todo exposto, requer seja julgado procedente a inicial, bem como reiterado todos os seus pedidos na exordial e que sejam rechaçadas todas as preliminares aventadas na contestação da autora Filomena.
Termos em que,
Pede deferimento.
Pontes e Lacerda – MT. 
09 de Novembro 20xx.
Nome Completo do Advogado
Advogado (a)
OAB/UF 00000

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