Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
― ― A avaliação da circulação em trauma fechado inclui o reconhecimento de possível hemorragia que pode ocorrer no abdome e pelve. Feridas penetrantes entre o mamilo e o períneo – tronco – são causas potenciais de lesões intraperitoneais. Determinar prioridade e avaliação: mecanismo de trauma, forças de lesão, localização do ferimento, estado hemodinâmico. Qualquer doente com traumatismo fechado no tronco deve ser considerado portador de lesão vascular, de víscera abdominal ou pélvica até prova em contrário. ✓ Abdome anterior: área abaixo dos arcos costais, superior aos ligamentos inguinais e sínfise púbica e com as linhas axilares lateralmente. Bainha aponeurótica delgada. ✓ Transição toracoabdominal: área abaixo da linha transmamilar anteriormente, linha infraescapular posteriormente e arcos costais superiormente. Inclui diafragma, fígado, baço e estômago ✓ Flanco: área entre as linhas axilares anterior e posterior desde o 6º espaço intercostal até a crista ilíaca. A musculatura é espessa e atua como barreira para ferimentos penetrantes. ✓ Dorso: área na região posterior, limitada por linhas axilares posteriores, pontas das escápulas e cristas ilíacas. Região protegida pelos músculos do dorso e paraespinhais. Assim como o flanco, possui órgãos retroperitoneais. ✓ Área retroperitoneal: área posterior ao revestimento peritoneal que inclui aorta abdominal, veia cava inferior, parte do duodeno, pâncreas, rins, ureteres, segmento posterior dos cólons ascendente e descendente e componentes retroperitoneais da cavidade pélvica. ✓ Cavidade pélvica: limitada pelos ossos pélvicos e consiste na parte inferior dos espaços retro e intraperitoneal. Inclui o reto, bexiga, vasos ilíacos e nas mulheres os órgãos reprodutores internos. IMPACTO DIRETO: pode causar compressão ou esmagamento de vísceras. Pode deformar órgão sólidos e vísceras ocas podendo causar ruptura, acarretando hemorragia secundária, contaminação pelo conteúdo intestinal e peritonite. CISALHAMENTO: forma de lesão por esmagamento. Ocorre quando um dispositivo de segurança e de restrição é usado de forma inadequada. LESÕES POR DESACELERAÇÃO: nas quais estruturas fixas e não fixas sofrem movimentos em sentidos opostos. Lacerações do fígado e baço, nos locais de inserção de seus ligamentos de sustentação; lesões extensas do mesentério do intestino delgado. Órgãos mais acometidos em trauma fechado: baço, fígado, intestino delgado, hematoma retroperitoneal. Ferimentos por arma branca geralmente envolvem: fígado, intestino delgado, diafragma e cólon. Ferimentos por arma de fogo geralmente afetam intestino delgado, cólon, fígado e estruturas vasculares abdominais. HISTÓRIA Obter informações sobre: velocidade do veículo, tipo de colisão, intrusão de partes do veículo no compartimento de passageiros, dispositivos de contenção, acionamento de airbags, posição do paciente no veículo, condições dos outros passageiros. Se queda: altura da queda. Informações sobre sinais vitais, lesões aparentes e resposta ao tratamento pré- hospitalar devem ser fornecidas pelos prestadores de cuidados pré-hospitalares. Se trauma penetrante: tempo de lesão, tipo de arma, distância do agressor, número de facadas/tiro, volume de sangue perdido na hora. Localização e intensidade de qualquer dor abdominal. EXAME FÍSICO 1. Inspeção; 2. Ausculta; 3. Percussão; 4. Palpação. Abdome -> estabilidade pélvica -> uretra -> períneo -> reto -> vagina -> glúteos. INSPEÇÃO Paciente completamente despido. Procurar abrasões e contusões pelos dispositivos de segurança, lacerações e feridas penetrantes, corpos estranhos empalados, evisceração de epíploo ou de intestino delgado, evidência de gravidez. Flanco, escroto e área perineal: procura de sangue no meato uretral, edemas, hematomas ou lacerações. AUSCULTA Confirmar presença ou ausência de ruídos hidroaéreos. PERCUSSÃO E PALPAÇÃO A percussão pode provocar sinais de irritação peritoneal e por isso não precisa de nenhuma outra evidência adicional. Palpação pode revelar e distinguir dor superficial ou profunda. Pode-se determinar na palpação um útero gravídico e estimativa da idade fetal. Palpação da próstata deslocada cranialmente é sinal de fratura pélvica importante. AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE PÉLVICA Hipotensão inexplicável pode ser inicialmente a única indicação de ruptura pélvica grave com instabilidade pélvica no complexo posterior dos ligamentos. Instabilidade mecânica do anel pélvico deve ser considerada em doentes com fraturas pélvicas com hipotensão e nenhuma outra fonte de sangramento. Achados sugestivos de fratura pélvica: evidência de ruptura da uretra (próstata deslocada cranialmente, hematoma escrotal ou sangue no meato uretral), discrepância entre o comprimento dos membros ou deformidade rotacional da perna sem fratura óbvia. Testar a instabilidade apenas uma vez durante o exame físico pois pode agravar a hemorragia e deve evitar fazer em doentes com choque ou fratura pélvica óbvia. A hemipelve instável migra cranialmente por causa das forças musculares e apresenta uma rotação externa secundariamente ao efeito da gravidade sobre a hemipelve instável. A pelve pode ser fechada manualmente: empurra as cristas ilíacas no nível das espinhas ilíacas anterossuperiores. É possível sentir o movimento se as cristas ilíacas são pegas e a hemipelve instável é girada para dentro e em seguida para fora – manobra de distração e compressão. O cisalhamento vertical da pelve pode ser sentido pela palpação da espinha ilíaca posterior e do tubérculo, enquanto a hemipelve instável é empurrada e puxada. Anormalidades neurológicas ou feridas abertas no flanco, períneo e no reto podem ser evidências de instabilidade no anel pélvico. RX AP da pelve confirma o exame clínico. EXAME DE URETRA, PERÍNEO E RETO Presença de sangue no meato uretral sugere lesão uretral. Equimose ou hematoma no escroto ou períneo é sugestivo de lesão uretral. Em doentes com trauma fechado, o objetivo do exame retal é avaliar tônus do esfíncter e integridade da mucosa retal, determinar posição da próstata – deslocamento cranial – e identificar fraturas de ossos da pelve, Em ferimentos penetrantes, o exame retal serve para avaliar tônus do esfíncter e procurar sangramento de perfuração do intestino. Não se deve inserir sonda de Foley em doentes com hematoma perineal ou deslocamento cranial da próstata. EXAME VAGINAL Laceração pode ocorrer a partir de fragmentos ósseos de uma fratura pélvica ou ferimentos penetrantes. Realizar o exame vaginal somente se houver suspeita de lesão – presença de laceração perineal complexa, fratura pélvica ou ferida transpélvica por projétil de arma de fogo. EXAME DOS GLÚTEOS Região glútea: das cristas ilíacas até pregas glúteas. Pesquisar lesões intra-abdominais por lesões penetrantes dessa área, incluindo lesões do reto abaixo da reflexão peritoneal. Pesquisar ferimentos por projétil de arma de fogo ou arma branca. MEDIDAS AUXILIARES AO EXAME FÍSICO ✓ SONDAGEM GÁSTRICA: o aliviar possível dilatação gástrica aguda; o descomprimir o estômago antes da LPD; o remover conteúdo gástrico. o Pode reduzir incidência de aspiração, mas pode provocar vômito em paciente acordado. o Presença de sangue no conteúdo gástrico sugere lesão em esôfago ou TGI superior após exclusão de sangramento em nasofaringe e/ou orofaringe. o Se fratura grave de face ou base de crânio, inserir a sonda pela boca para impedir que atravesse a placa crivosa e penetre o cérebro. ✓ SONDAGEM VESICAL: o Aliviar retenção urinária; o Descomprimir a bexiga antes da LPD; o Permitir monitoração do débito urinário como índice de perfusão tecidual. o Hematúria macroscópica é sinal de trauma do trato geniturinário e de órgãos intra-abdominais não renais. A ausênciade hematúria não descarta ferimento. o Na incapacidade de urinar espontaneamente, a presença de fratura pélvica instável, de sangue no meato uretral, de hematoma escrotal, de equimose perineal ou da próstata deslocada cranial mente implicam a obrigatoriedade de realização de um uretrograma retrógrado para confirmar a integridade da uretra antes de inserir a sonda vesical. ✓ OUTROS ESTUDOS: o Se alteração hemodinâmica pode fazer LPD ou FAST, que só são contraindicados se houver indicação de laparotomia. o Requer exames adicionais: ✓ RX PARA TRAUMA ABDOMINAL: o RX AP de tórax para trauma fechado multissistêmicos. o Se paciente hemodinamicamente normal com trauma penetrante acima do umbigo ou lesão toracoabdominal suspeita, deve-se realizar RX de tórax em posição ortostática para excluir presença de hemotórax ou pneumotórax ou para documentar presença de ar intraperitoneal. Os orifícios de entrada e saída podem ser marcados com materiais metálicos para q o RX de abdome seja obtida com o intuito de determinar o trajeto do projetil ou presença de ar retroperitoneal o RX AP pélvica para estabelecer origem da perda de sangue se estado hemodinâmico alterado e dor pélvica. ✓ FAST: o Utilizado para identificar hemorragia. o Meio rápido, não invasivo, preciso e barato para diagnosticar hemoperitôneo. o Pode detectar tamponamento cardíaco. o Deve-se obter imagens de: saco pericardial; espaço hepatorrenal; espaço esplenorrenal; pelve ou fundo de saco de Douglas. o Comprometem a utilização: obesidade. Enfisema subcutâneo e cirurgias abdominais anteriores. ✓ LPD: o Para identificar hemorragia. o Permite a investigação de possível lesão de víscera oca. o Deve ser ealizad por equipe cirúrgica em doente com anormalidade hemodinâmica com trauma fechado multissistêmico ou trauma penetrante. o Indicada também em doentes hemodinamicamentes normais com trauma fechado com FAST ou TC não disponíveis. o Contraindicações relativas: cirurgias abdominais prévias, obesidade mórbida, cirrose avançada, coagulopatia preexistente. o Em fraturar pélvicas prefere-se a abordagem supraumbilical aberta para evitar hematoma pélvico. o Em gravidez avançada: abordagem aberta acima do fundo uterino. o Fácil aspiração de sangue, conteúdo gastrintestinal, fibras vegetais ou bile pelo cateter em doentes hemodinamicamente anormais indica laparotomia. o Se não aspirar mais de 10 ml de sangue ou conteúdo gastrintestinal, deve-se efetuar lavagem com 1L de solução cristaloide isotônica aquecida – 10ml/kg em crianças. o Após ter certeza de que houve uma mistura adequada de conteúdo peritoneal com o fluido de lavagem, o que pode ser facilitado pela compressão do abdome e pela rotação lateral do doente, o efluente é enviado para o laboratório para análise quantitativa, desde que não existam evidências conclusivas sobre a presença de conteúdo gastrointestinal, de fibras vegetais ou de bile. O teste é considerado positivo na vigência de mais de 100.000 glóbulos vermelhos por mm3, 500 ou mais glóbulos brancos por mm3, ou detecção de bactérias pela coloração de Gram. ✓ TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA – TC: o Precisa ter administração de contraste endovenoso e requer exame do abdome superior e inferior e parte inferior do tórax e da pelve. o Deve ser utilizado apenas se perfil hemodinâmico estável sem indicação aprente de laparotomia de emergência. o Forece informações sobre presença e extensão de lesões de órgãos específicos e também pode diagnosticar lesões de órgãos retroperitoneais e pélvicos. o Contraindicações relativas: demora em se obter tomógrafo, falta de colaboração do paciente que não pode ser sedado com segurança, alergia a contraste iodado se contraste iônico não disponível. o Pode não diagnosticar alterações gastrintestinais, diafragmáticas e pancreáticas. o Na ausência de lesões hepáticas ou esplênicas, a presença de líquido livre na cavidade abdominal sugere lesão no TGI e/ou no mesentério. ✓ EXAMES CONTRASTADOS: o Uterografia: deve ser realizada antes da inserção de sonda vesical quando houver suspeita de ruptura uretral. Sonda vesical 8 french fixada no meato uretral pela insuflação do balão com 1,5 a 2 ml. Instilar 30 a 35ml de contraste sem diluição com leve pressão. A radiografia é tirada em projeção oblíqua com pequeno estiramento do pênis em direção a um dos ombros. Pode mostrar refluxo de contraste para o interior da bexiga. o Cistografia: avalia ruptura de bexiga intra ou extraperitoneal. Um recipiente de 350ml de contraste hidrossolúvel é conectado à sonda vesical e elevado cerca de 40cm acima do paciente. A solução é infundida na bexiga até que o fluxo are, doente urine espontaneamente, doente sinta desconforto. Segue-se então com instilação de 50ml adicionais de contraste para assegurar a distensão da bexiga. RX nas incidências AP, oblíqua e pós- miccional para excluir lesões vesicais. o Urografia excretora: injeção rápida de 100ml em bolus de iodo a 60% por meio de duas seringas de 50ml durante 30 a 60 seg. a visualização radiográfica dos cálices renais deve aparecer 2 min após o término da infusão do contraste. O não funcionamento unilateral indica ausência de um dos rins, trombose, avulsao da artéria renal ou comprometimento gravíssimo do parênquima renal. Perante essa ausência, deve fazer uma TC ou arteriografia ou exploração cirúrgica. o OBS: quando houver suspeita de lesões retroperitoneais isoladas de órgãos gastrointestinais deve-se realizar TC com contraste ou exames contrastados específicos do TGI alto e baixo e exames de imagem biliopancreáticas. ✓ Trauma penetrante: o em ferimentos toracoabdominais ou na parede anterior do abdome causados por arma branca, as opções são exame físico seriado ou LPD. o Em ferimentos dos flancos e dorso fazer TC com duplo ou triplo contraste. o Ferimento por arma de fogo é tratado por laparotomia exploradora. o Indicações para laparotomia em ferimentos abdominais penetrantes: ✓ Ferimentos toracoabdominais: o Pacientes assintomáticos com possíveis lesões de diafragma e de vísceras da porção superior do abdome: exames físicos seriados, radiografias seriadas do tórax, LPD, toracoscopia, laparoscopia e TC. ✓ Exploração local do ferimento e exames físicos seriados do abdome: o A maioria dos doentes com ferimento por arma branca que penetra o peritoneo anterior apresenta hipotensão, peritonite ou evisceração de epíploo ou intestino delgado – laparotomia de urgência. o Se penetração peritoneal anterior confirmada ou suspeitada por exploração local da ferida, provavelmente precisa de exploração cirúrgica. o Doentes relativamente assintomáticos – exames físiscos seriados por 24 horas, LPD ou laparoscopia diagnóstica. o FAST negativo não exclui a possibilidade de lesão intra- abdominal significativa que produz um pequeno volume de líquido livre intraperitoneal. ✓ Exames físicos seriados X TC com duplo ou triplo contraste em ferimentos de FLANCO ou DORSO: o Doentes inicialmente assintomáticos: exame físico seriado, LPD e TC com duplo ou triplo contraste. o Ferimentos posteriores à linha axilar anterior inicialmente assintomáticos e depois sintomático: exame físico seriado para detectar lesões retro e intraperitoneais. ✓ Trauma abdominal fechado com hipotensão e com FAST positivo ou evidência clínica de hemorragia intraperitoneal. ✓ Trauma abdominal fechado ou penetrante com LPD positiva. ✓ Hipotensão associada a ferimento penetrante de abdome. ✓ Ferimentos por projétil de arma de fogo que atravessam a cavidade peritoneal ou o compartimento visceral/vascular do retroperitôneo. ✓ Evisceração ✓ Hemorragia de estômago, reto ou trato geniturinário secundário a ferimento penetrante. ✓ Peritonite; ✓ Ar livre, ar retroperitoneal ouruptura hemidiafragmatica. ✓ TC com contraste revelando lesão do TGI, lesão intraperitoneal da bexiga, lesão do pedículo renal ou lesão parenquimatosa grave após trauma fechado ou penetrante. LESÕES DIAFRAGMÁTICAS Hemiadiafragma esquerdo é o mais comumente acometido. Lesão mais típica: ruptura de 5 a 10 cm de extensão envolvendo a porção posterolateral do hemidiafragma esquerdo. Anormalidades no RX inicial do tórax: elevação ou borramento do hemidiafragma, hemotórax, apagamento da imagem do diafragma por sombra gasosa; presença de sonda gástrica no tórax. Suspeitar em paciente com qualquer ferimento toracoabdominal e confirmar com laparotomia, toracoscopia ou laparoscopia. Pode ser assintomático. LESÕES DUODENAIS Classicamente encontradas em motoristas sem cinto de segurança cujo veículo sofreu colisão frontal e em pacientes q receberam golpe direto como guidão da bicicleta. Levantar suspeita se sangue no aspirado gástrico ou ar retroperitoneal na RX ou TC de abdome. Se alto risco para esse tipo de lesão: estudo radiográfico contrastado do tubo digestório alto ou uma TC com duplo contraste. LESÕES PANCREÁTICAS Resultado de golpe direto no epigástrio que comprime o órgão contra a coluna vertebral. Níveis elevados persistentes ou crescentes de amilase sérica podem determinar que se façam pesquisas adicionais do pâncreas e outras vísceras abdominais. A TC deve ser repetida após 8 horas de trauma se antes disso tiver sido negativa mas a suspeita de lesão pancreática existe. LESÕES GENITURINÁRIAS Trauma em dorso ou flanco q resultam em contusões, hematomas ou equimoses é marcador de possíveis lesões renais e exigem TC ou urografia excretora. Indicações adicionais de avaliação: hematúria macroscópica ou microscópica em doentes com ferimento abdominal oenetrante OU episódio de hipotensão em doente com trauma abdominal fechado OU lesões intra-abdominais associadas em doentes com trauma abdominal fechado. Hematúria macro e micro em oacientes em choque = trauma abdominal. Trombose da artéria renal ou ruptura do pedículo renal secundária a desaceleração: lesão rara em que a hematúria pode estar ausente mesmo com dor abdominal intensa. Diagnóstico: urografia excretora, TC ou arteriografia renal. Lesão uretral: pode ser devido a fratura pélvica. Pode ser posterior (acima do diafragma urogenital) – trauma multissistêmico - ou anterior (abaixo do diafragma urogenital) – trauma à cavaleiro. LESÕES DE VÍSCERAS OCAS Lesões contusas de intestino geralmente resultam de desaceleração brusca com esgarçamento próximo a um ponto fixo de sustentação visceral. Suspeita: equimoses lineares ou transversas (sinal do cinto de segurança); fratura lombar com desvio detectada em RX (fratura de Chance). LESÕES DE ÓRGÃOS SÓLIDOS Lesões de fígado, baço e rim que resultem em choque, instabilidade hemodinâmica ou evidência de hemorragia ativa são indicações de laparotomia de urgência. Internação em hospital sempre. FRATURAS PÉLVICAS E LESÕES ASSOCIADAS Fraturas pélvicas associadas a hemorragia comumente apresentam ruptura dos ligamentos ósseos posteriores (sacroilíaco, sacrotuberoso, sacroespinhoso e fibromuscular do assoalho pélvico) secundária a uma fratura e/ou luxação sacroilíaca ou a uma fratura sacral. Ruptura do anel pélvico ou deslocamento vertical da articulação sacroilíaca pode afetar o plexo venoso pélvico e ramos da artéria ilíaca interna. A hemorragia é o principal fator ligado a mortalidade. Em colisões automobilísticas, um mecanismo comum de fratura pélvica é a força aplicada na porção lateral da pelve, que tende a girar internamente a hemipelve envolvida, reduzindo o volume pélvico e diminuindo a tensão sobre o sistema vascular pélvico (lesão por compressão lateral). Esse movimento de rotação empurra o púbis contra o sistema geniturinário inferior, resultando em lesões da bexiga e/ ou da uretra. ✓ Mecanismos de trauma e classificação: o Compressão anteroposterior: pode ser causada por colisões de motocicletas, atropelamentos, esmagamento direto da pelve ou queda > 3,6 mestros. Pode existir disjunção da sínfise púbica e ruptura de ligamentos ósseos posteriores. Abertura do anel pélvico = hemorragia oriunda do complexo venoso pélvico posterior e de ramos da artéria ilíaca interna. o Compressão lateral: resultam de colisões automobilísticas e levam à rotação interna da hemipelve envolvida. o cisalhamento vertical: resulta na ruptura dos ligamentos sacroespinhosos e sacrotuberosos provocando instabilidade pélvica geralmente como resultado de uma queda. o padrões complexos. ✓ Tratamento: o Controle da hemorragia: estabilização mecânica no anel pélvico e contrapressão externa - tração longitudinal aplicada através da pele ou esqueleto; rotação interna dos membros inferiores; aplicação de suporte diretamente na pelve; lençol, cinta pélvica podem ser aplicados no nível dos trocânteres maiores dos fêmures. o Reanimação com líquidos. o Tratamento definitivo: cirurgião do trauma, cirurgião ortopédico e radiologista intervencionista. o A melhor opção geralmente é a embolização angiográfica. FAST ETAPA 1: Iniciar pela janela pericárdica para garantir que o ganho esteja definido corretamente - o fluido (líquido) dentro do coração deve estar preto O coração pode ser visualizado utilizando-se a janela para esternal ou a subxifoide. ETAPA 2: A visualização do quadrante superior direito é feita com um corte sagital na linha axilar média, aproximadamente na altura do 10 o ou 11 espaço intercostal. As estruturas a serem visualizadas são o diafragma, o fígado e o rim O espaço hepatorrenal deve ser visualizado como um todo. ETAPA 3: A visualização do quadrante superior esquerdo é feita com um corte sagital na linha axilar média, aproximadamente na altura do 8 ° ou 9 espaço intercostal. As estruturas a serem visualizadas incluem o diafragma, o baço e o rim. O espaço esplenorrenal deve ser visualizado como um todo. Os artefatos produzidos por ar do estômago e do cólon, e uma janela acústica menor, fazem com que essa visualização seja a mais difícil de ser realizada; pode ser necessário mover o transdutor posteriormente. ETAPA 4: A visualização suprapúbica é feita com um corte uma transversal, obtido melhor antes da colocação da sonda vesical de demora Artefatos podem surgir em consequência de realces posteriores; caso as imagens de líquido desapareçam com o movimento lateral do transdutor para ambos os lados, ela deve ser interpretada como artefato. Um FAST negativo não exclui lesão intra- abdominal. Porém, torna menos provável que a fonte de hemorragia que produz alterações hemodinâmicas seja o abdome. A visualização pélvica é realizada melhor antes da inserção da sonda vesical de demora, pois a bexiga distendida ajuda a visualização de líquido livre na pelve. Ondas sonoras não se deslocam bem pelo ar, aumentando a dificuldade de realizar o FAST em doentes com enfisema subcutâneo. A obesidade pode dificultar a obtenção de imagens adequadas; o ajuste, tanto de fanho quanto da frequência pode melhorar a qualidade da imagem. Assim como para a LPD, a indicação absoluta de laparotomia é uma contraindicação para o FAST. Fratura da pelve pode diminuir sua acurácia. LPD ✓ ABERTA: ETAPA 1: Se o tempo permitir, obter o consentimento informado. ETAPA 2: Descomprimir o estômago e a bexiga urinária através da inserção de uma sonda gástrica e uma sonda vesical. ETAPA 3: Após a paramentação com máscara, avental estéril e luvas, preparar cirurgicamente o abdome (da borda costal à área suprapúbica e de flanco a flanco, anteriormente). ETAPA 4: Injetar anestésico local na linha média, um pouco abaixo do umbigo, até atingir a fáscia. ETAPA 5: Realizar uma incisão vertical na pele e tecido celular subcutâneo até a aponeurose. ETAPA 6:Prender as margens da aponeurose, tracioná-las com pinças e incisar o peritônio. Fazer uma pequena incisão no peritônio e entrar na cavidade peritoneal. ETAPA 7: Introduzir o cateter de diálise na cavidade peritoneal. ETAPA 8: Avançá-lo em direção à pelve. ETAPA 9: Conectar o cateter de diálise a uma seringa e aspirar. ETAPA 10: Caso sangue vivo seja aspirado, o doente deve ser encaminhado para laparotomia. Se não aspirar sangue vivo, infundir dentro do peritônio 1 litro de solução cristaloide isotônica/solução salina aquecida (10 mL/kg na criança), através do equipo de soro conectado ao cateter de diálise. ETAPA 11: A agitação suave do abdome permite que o líquido se distribua melhor na cavidade peritoneal e aumente a sua mistura com o sangue porventura existente. ETAPA 12: Se as condições do doente são estáveis, deixar o líquido permanecer alguns minutos antes de permitir a drenagem. Isto é feito colocando-se o frasco de solução cristaloide no chão e deixando o líquido peritoneal fluir passivamente para drenar o abdome. Para que se considere o retorno de líquido adequado, deve-se conseguir mais de 20% do volume infundido. ETAPA 13: Após o retorno do líquido, enviar uma amostra ao laboratório para exame pela coloração de Gram e para contagem de hemácias e leucócitos (a amostra não deve ser centrifugada). Um teste é considerado positivo pela presença de 100.000 hemácias/mL ou mais e acima de 500 leucócitos/mL, ou um exame pela coloração de Gram positivo para fibras vegetais ou bactérias. Um resultado negativo, entretanto, não exclui lesões retroperitoneais, por exemplo, de pâncreas ou duodeno. ETAPA 1: Se o tempo permitir, obter o consentimento informado. ETAPA 2: Descomprimir o estômago e a bexiga urinária através da inserção de uma sonda gástrica e uma sonda vesical. ETAPA 3: Após a paramentação com máscara, avental estéril e luvas, preparar cirurgicamente o abdome (da borda costal à área suprapúbica e de flanco a flanco, anteriormente). ETAPA 4: Injetar anestésico local na linha média, um pouco abaixo do umbigo. ETAPA 5: Puncionar a pele e o tecido celular subcutâneo com uma agulha chanfrada 18 G acoplada a uma seringa. Uma resistência será percebida quando perfurar a fáscia e o peritônio. Aspirar. Se sangue vivo não for aspirado, continuar na etapa 6. Se sangue vivo for aspirado, o doente deve ser encaminhado à laparotomia. ETAPA 6: Introduzir um fio guia flexível através da agulha 18 G até perceber uma resistência ou 3 em do fio ficarem para fora da agulha. Remover a agulha da cavidade abdominal de modo que somente o fio guia permaneça. ETAPA 7: Realizar uma pequena incisão na pele no local da introdução do fio guia e introduzir o cateter de lavagem peritoneal na cavidade peritoneal através do fio guia. Remover o fio guia da cavidade peritoneal deixando somente o cateter. Tentar aspirar o cateter à procura de sangue vivo. Se sangue vivo for aspirado, o doente deve ser encaminhado à laparotomia. ETAPA 8: Infundir dentro do peritônio 1 litro de solução cristaloide isotônica/solução salina aquecida (10 mL/kg na criança), através do equipo de soro conectado ao cateter de lavagem peritoneal. ETAPA 9: A agitação suave do abdome permite que o líquido se distribua melhor na cavidade peritoneal e aumenta a sua mistura com o sangue porventura existente. ETAPA 10: Se as condições do doente são estáveis, deixar o líquido permanecer alguns minutos antes de permitir a drenagem. Isto é feito colocando o frasco de solução cristaloide no chão e deixando o líquido peritoneal fluir passivamente para drenar o abdome. Para que se considere o retorno de líquido adequado, deve-se conseguir mais de 20% do volume infundido. ETAPA 11: Após o retorno do líquido, enviar uma amostra ao laboratório para exame pela coloração de Gram e para contagem de hemácias e leucócitos (a amostra não deve ser centrifugada). Um teste é considerado positivo pela presença de 1 00.000 hemácias/mL ou mais e acima de 500 leucócitos/mL, ou um exame pela coloração de Gram positivo para fibras vegetais ou bactérias. Um resultado negativo, entretanto, não exclui lesões retroperitoneais, por exemplo, de pâncreas e duodeno. TRAUMA RENAL Grau I: Contusão ou hematoma subcapsular não expansivo. Sem laceração parenquimatosa; Grau II: Hematoma perirrenal não expansivo. Laceração do córtex renal com extensão inferior a 1 cm. Sem extravasamento urinário; Grau III: Laceração parenquimatosa superior a 1 cm (estende-se até a medula renal). Sem ruptura do sistema coletor ou extravasamento urinário; Grau IV: Laceração parenquimatosa maior que 1 cm atingindo córtex, medula e sistema coletor. Lesão da artéria ou das veias renais segmentares com hemorragia contida; Grau V: Várias lacerações de grau 4 ou rim completamente fragmentado e/ou avulsão do pedículo com desvascularização renal. Obs: tratar cirurgicamente se instabilidade e/ou grau 5. Tratamento conservador: internação hospitalar em unidade de terapia intensiva, repouso e acompanhamento de perto com seguimento clínico e exame de imagem. TRAUMA ESPLÊNICO - Esplenectomia nos graus 3, 4 e 5. - Trauma esplênico sangra mais porque o baço é intraperitoneal então o peritônio não ajuda a tamponar. - Após esplenectomia: vacinas pneumococo e haemophilus B. - As indicações clássicas de conduta conservadora incluem: (1) estabilidade hemodinâmica; (2) exame abdominal negativo para irritação peritoneal; (3) ausência de indicações precisas de laparotomia ou de lesões associadas que necessitem intervenção cirúrgica; (4) ausência de condições clínicas que aumentem o risco de sangramento (coagulopatias, uso de anticoagulantes orais e insuficiência hepatocelular crônica). TRAUMA DE PÂNCREAS - O tratamento do trauma pancreático é cirúrgico. Após exposição adequada de todo o órgão, as possíveis lesões são identificadas. A presença ou não de envolvimento do ducto pancreático principal e a localização da lesão em parênquima, são os principais fatores que determinam a conduta ser traçada. - No trauma grau I e nas lesões grau II sem laceração do parênquima, a conduta é conservadora. Em lesões grau II com laceração do parênquima é realizado apenas desbridamento, acompanhado de hemostasia local e drenagem. Os drenos são retirados após sete a 10 dias, quando a dieta oral é reiniciada. - No trauma pancreático grau III com envolvimento do ducto pancreático principal, a abor dagem é mais agressiva. Nas lesões distais, que se localizam na região corpo-caudal – portanto, à esquerda da veia mesentérica superior –, o tratamento é pancreatectomia distal (ressecção de corpo e cauda) com esplenectomia. Nesses casos, a ressecção do pâncreas envolve a ligadura de vasos esplênicos, o que obriga o cirurgião a retirar o baço. - As lesões localizadas no pâncreas proximal (graus IV e V) têm tratamento mais complexo. Sabemos que esta região divide sua vascularização com o duodeno e o colédoco distal, logo a ressecção da cabeça do pâncreas tem que ser acompanhada da ressecção do duodeno e da porção distal do colédoco, cirurgia conhecida como duodenopancreatectomia (cirurgia de Whipple). - A abordagem inicial envolve apenas hemostasia do parênquima pancreático associada à drenagem ampla (opção para as lesões grau IV). A duodenopancreatectomia fica reservada para os seguintes casos: hemorragia de difícil controle, lesões graves de duodeno e do pâncreas associadas e destruição maciça da cabeça do pâncreas (lesões grau V).
Compartilhar