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TRAUMA ABDOMINAL E PÉLVICO A avaliação do abdome é um desafio na avaliação inicial do paciente politraumatizado. Lesões intrabdominais e pélvicas não detectadas são causas frequentes de mortes evitáveis. Avaliação primária, durante avaliação da Circulação (C), devemos reconhecer a existência de sangramento oculto, como as que podem ocorrer em dorso e pelve. Volumes significativos de sangue podem estar presentes no interior da cavidade abdominal sem que ocorram mudanças dramáticas na aparência ou nas dimensões do abdome e sem sinais evidentes de irritação peritoneal. Pode prejudicar o exame: intoxicação aguda por álcool ou drogas ilícitas Lesões que afetam o SNC e medula Lesões de estruturas adjacentes, como costela, coluna e pelve. Ferimentos penetrantes em tronco, bem como desaceleração brusca ou impacto direto: Lembrar do movimento respiratório Na expiração profunda, o diafragma pode chegar até 4º EIC Risco potencial de lesão vascular ou de víscera abdominal Anatomia Externa Abdome anterior: Superior: linha transmamilar Inferior: ligamento inguinal + sínfese púbica Lateral: linha axilar anterior NUNCA ESQUECER DE AVALIAR O DORSO!! O dorso pode ser avaliado no E. Mas se estou procurando zona de choque e não encontro em outras, já avalio no começo. Lembrar de rodar o paciente em bloco Flanco: entre linha axilar anterior e posterior, do 6º EIC até crista ilíaca Dorso: posterior do tronco, entre a linha axilar posterior e ponta das escápulas. Anatomia interna Cavidade peritoneal: o Superior: diafragma, fígado, baço, estômago, colon transverso o Inferior: delgado, colon ascendente, descendente, sigmoide e órgãos reprodutores femininos Retroperitôneo: aorta, veia cava inferior, duodeno, pâncreas, rins e ureteres o Difícil avaliação clínica, pois não causa peritonite e não é acessível no lavado peritoneal Pelve: reto, bexiga, vasos ilíacos, órgãos reprodutores internos da mulher o Difícil avaliação por estarem envolvidos por estruturas ósseas MECANISMO DO TRAUMA Traz informações importantes, através da equipe pré-hospitalar ou testemunhas, ajudando na suspeição de lesões o Trauma fechado/contuso o Trauma penetrante (distância do agressor, tamanho da faca) TRAUMA FECHADO O impacto direto pode causar compressão ou esmagamento visceral, causando sua ruptura. o Deformam os órgãos sólidos e vísceras ocas, podendo causar sua ruptura, acarretando hemorragia secundária, contaminação pelo conteúdo intestinal e, consequentemente, peritonite. O uso inadequado de dispositivos de segurança, como cinto, podem causar lesões Cinto deve estar sobre as cristas ilíacas o Por desaceleração, devido deslocamento desigual de partes mais ou menos fixas Exemplo: lesões hepática ou esplênica. O fígado e o baço são estruturas móveis, porém, os ligamento são fixos. São os órgãos mais acometidos do trauma abdominal contuso. o Air bag não evita lesões o Baço 40 - 55% o Fígado 35 - 45% o Delgado 5 - 10% o Hematoma retroperitoneal - 15% Lesões por dispositivos de restrição o Cinto de segurança abdominal: compressão e hiperflexão Esgarçamento ou avulsão do mesentério, ruptura delgado/colon, trombose ilíaca ou aorta, fratura de vértebras lombares, lesão duodeno/pâncreas o Cinto de segurança 3 pontos: escorregamento e compressão Ruptura de víscera do abdome superior, contusão pulmonar, fratura de costela, fratura ou luxação cervical o Air bag: contato, desaceleração, flexão e hiperextensão Ruptura cardíaca, abrasão face, tórax, fratura de coluna cervical ou torácica TRAUMA PENETRANTE Arma branca ou projétil de baixa velocidade causam lesão por corte ou desaceleração: o Fígado 40%, Delgado 30%, Diafragma 20%, Colon 15% Projétil de alta velocidade, transfere energia cinética (queimadura), podendo causar lesão lateral ao trajeto: o Delgado 50%, Colon 40% , Fígado 30%, Estruturas vasculares 25% Maior número de lesões, tanto pela energia, quanto pela possibilidade de ricocheteamento em estruturas ósseas, criando projéteis secundários Dispositivos explosivos: lesão penetrante + lesão contusa o Ejeção do paciente, lesão por impacto o Proximidade com a fonte pode apresentar lesão decorrente da onda de choque AVALIAÇÃO INICIAL O choque é de algum ferimento intrabdominal ou pélvica? o Se o paciente está estável, pode ter sua avaliação mais detalhada o Se hipotensão, os métodos diagnósticos devem ser mais rápidos HISTÓRIA: o Cinemática do trauma Contuso: ejetado, uso de cinto, assento que ocupava, velocidade Penetrante: tempo de lesão, tipo de arma, distância, número de ferimentos, sangue perdido no local, se dor abdominal irradia para ombro Dispositivo explosivo: probabilidade de lesões viscerais por onda de alta pressão aumenta com a proximidade do doente da explosão. EXAME FÍSICO o Inspeção: abrasões, contusões, marca de cinto, corpo estranho, evisceração Lembrar do dorso Região uretral: sangue Região perineal: equimose, hematoma o Ausculta: sangue ou secreção podem reduzir RHA Esses resultados são mais úteis quando são normais no exame inicial e alteram-se ao longo do tempo. A ausculta não é tão importante na avaliação inicial do trauma, nem a percussão o Percussão e Palpação: defesa involuntária indica irritação peritoneal o Estabilidade pélvica (testada uma vez só) Atentar para a presença de hematoma em região peniana ou escroto ou sangramento no meato uretral ESTABILIDADE PÉLVICA o Hipotensão inexplicada pode ser a única indicação Instabilidade mecânica do anel pélvico deve ser de ruptura pélvica o Considerada em pacientes com hipotensão e nenhuma outra fonte de perda de sangue. o Exame físico: sinais de ruptura da uretra (hematoma escrotal ou sangue no meato uretral),discrepância no comprimento do membro e deformidade rotacional de uma perna, sem fratura evidente. o Distração da pelve não é recomendada durante a avaliação inicial de lesões, pois pode piorar ou causar sangramento pélvico recorrente o Este procedimento deve ser realizado apenas uma vez durante o exame físico, pois pode agravar a hemorragia, e deve ser evitado em doentes em choque ou com fratura pélvica óbvia Colocação de um ligante pélvico é uma prioridade e pode salvar vidas nesta circunstância. o Uma radiografia ântero-posterior (AP) da pelve é útil para identificar uma fratura pélvica, dado limitações do exame clínico. Exame uretral, perineal, retal, vaginal e glúteo A presença de sangue no meato uretral, equimose ou hematoma de escroto e períneo sugerem uma lesão uretral. o Não colocar SVD Toque retal: o No trauma contuso avalia o tônus do esfíncter e integridade da mucosa retal. Palpação da próstata não é um sinal confiável de ferimento uretral. o No trauma penetrante avaliar o tônus do esfíncter e sangramento macroscópico, o que pode indicar perfuração intestinal. Toque vaginal: Fragmentos ósseos de fratura pélvica ou ferimentos penetrantes podem lacerar a vagina. o Suspeitar de lesão se laceração perineal complexa, fratura pélvica ou ferimento por arma de fogo transpélvico. o Atentar paa possível uso de absorventes internos, coletores. Região glútea (desde as cristas ilíacas até as dobras glúteas) o Lesões penetrantes nesta área são associadas a uma incidência de até 50% de lesões intra- abdominais significativa, incluindo lesões retais abaixo da reflexão peritoneal. MEDIDAS AUXILIARES Na fase de reanimação, este paciente pode ser sondado o SNG descompressão gástrica antes do LPD. Se sangue sugere lesão esôfago ou TGI alto. Se suspeita de fratura de base de crânio, usar SOG o SVD para descomprimir bexiga, monitorar débito, verificar se hematúria, sugerindo lesão no tratourogenital Descartar lesão uretral com uretrograma Ausência de hematúria não descarta lesão TGU Exames Radiológicos (se paciente hemodinamicante estável) Avaliação de tórax e pelve Contraindicados se instabilidade hemodinâmica o Se trauma penetrante acima do umbigo, o raio-x de tórax, em posição ortostática, pode excluir hemo/pneumotórax fratura em livro aberto FAST Cada vez mais utilizado! Primeiro exame mais rápido para suspeitas de ruptura e hemoperitôneo o É rápido, não invasivo, baixo custo e preciso o Pode ser repetido – controle após 30 min o Pode detectar tamponamento pericárdico Causa de hipotensão não hipovolêmica Dificuldade se obesidade, enfisema ou cirurgias prévias Técnica o 4 regiões: 1 - Saco pericárdico 2 - Fossa hepatorrenal (Morrison) 3 - Fossa esplenorrenal 4 - Pelve O Protocolo eFAST, além de avaliar cavidade abdominal e cardíaca, também faz avaliação torácica o 2 – Linha axilar direita antero-lateral Transição fígado, pulmão, diafragma o 3 – Linha hemiclavicular anterior direita (entre 3º e 5º EIC) o 5 – Linha axilar esquerda antero-lateral Transição baço, pulmão, diafragma o 6 – Linha hemiclavicular anterior esquerda (entre 3º e 5º EIC) Nos focos 3 e 6 consigo ver pneumotórax simples LAVADO PERITONEAL DIAGNÓSTICO (LPD) Segundo exame mais rápido, porém invasivo 98% sensibilidade para hemorragias intraperitoneais o Indicação: Paciente com alteração hemodinâmica, trauma contuso ou penetrante com múltiplas trajetórias Paciente estável com alteração de nível de consciência, alterações de sensibilidade, dúvida no exame físico, se irá perder contato com paciente, sinal de cinto de segurança, sem acesso a FAST/Tomografia o Contraindicado se já tem indicação de laparotomia Relativas: cirurgia abdominal, obesidade, cirrose avançada, coagulopatia preexistente o Atualmente, pouco usado, devido disponibilidade dos outros exames diagnósticos LPD - TÉCNICA Exige descompressão gástrica e vesical para evitar complicações o Assepsia, antissepsia do local o Anestesia local (xilocaína) com vasocontritor na linha mediana, abaixo do umbigo Se fratura pélvica, deve ser supra-umbilical o Incisão vertical até aponeurose, prender, tracionar e incisar o peritônio o Introduzir cateter de diálise e direcionar para pelve o Aspirar com seringa o Se não vier conteúdo, inserir 1 litro de solução cristaloide aquecido, agitar e depois drenar, abaixando a solução, deixando líquido fluir. o Coletar líquido e enviar para laboratório o Indica laparotomia quando (LPD positivo) Aspirar conteúdo gastrointestinal, fibras vegetais ou bile Aspirar 10mL ou mais de sangue em paciente instável o Análise laboratorial: >100 hemácias, >500 leucócitos ou gram positivo para fibra alimentar ou bactéria Lavagem negativa não exclui necessidade de cirurgia – lembrar que pode haver lesão retroperitoneal TOMOGRAFIA o Exige transporte, geralmente necessidade de contraste, demora mais, portanto deve ser usado para paciente estável o Vê órgãos mais específicos, retroperitoneais, que são difíceis de avaliar no FAST Pode não identificar algumas lesões pancreáticas, gastrointestinais diafragmáticas o Se líquido livre, sem lesão de baço ou fígado, pensar em lesão TGI ou mesentério LAPAROSCOPIA/TORACOSCOPIA DIAGNÓSTICA o Método aceito para avaliação de paciente hemodinamicamente estável, com trauma penetrante tangencial no abdome, sem indicação de laparotomia. o Para diagnosticar lesão diafragmática e penetração peritoneal Limitação: uso de anestesia geral EXAMES CONTRASTADOS o Em busca de diagnóstico de alguma lesão específica em pacientes estáveis Não devem atrasar o tratamento de doentes hemodinamicamente instáveis Uretrografia Cistografia Urografia excretora Estudo contrastado do tubo digestivo Uretrografia: antes da inserção de uma sonda vesical, quando houver suspeita de ruptura uretral. Sonda vesical 8 fixada no meato uretral pela insuflação do balão com 1,5 a 2mL. Injetar cerca de 30 a 35mL de contraste sem diluição com uma leve pressão. Cistografia: ruptura de bexiga intra ou extraperitoneal Um recipiente com 350mL de contraste hidrossolúvel é conectado à sonda vesical e elevado cerca de 40cm acima do doente. A solução é infundida na bexiga até que o fluxo pare, até que o doente urine espontaneamente ou que o doente sinta desconforto. Isto é seguido pela instilação de 50mL adicionais de contraste para assegurar a distensão da bexiga Urografia excretora: Se a TC não estiver disponível Dose elevada de contraste (200 mg de iodo/kg de peso corporal) Exames contrastados do trato gastrointestinal Duodeno, cólon ascendente, cólon descendente, reto, vias bilares e pâncreas podem não causar peritonite e não ser detectadas pela LPD AVALIAÇÃO ESPECÍFICA No trauma penetrante Explorar ferimento e exame físico seriado o 25-33% não perfura peritôneo o Se não tem certeza se perfurou (paciente obeso, pouco colaborativo), interna e observa Ferimentos Toracoabdominais Em doentes assintomáticos com possíveis lesões de diafragma e de vísceras da porção superior do abdome Exames físicos seriados, radiografias seriadas do tórax, LPD, toracoscopia, laparoscopia e TC (para ferimentos toracoabdominais à direita). o FAB abdome anterior: LPD, TC, se flanco/dorso TC com duplo/triplo contraste 30% tem lesão e indica laparotomia Alteração hemodinâmica, peritonite, perfuração de fáscia laparotomia o FAF: laparotomia, devido incidência de lesões chegar a 90% Ferimento abaixo do tórax: exame seriado, laparoscopia/toracoscopia e tomografia Ferimento a esquerda em região toracoabdominal laparo INDICAÇÕES DE LAPAROTOMIA Trauma fechado com hipotensão, FAST/LDP positivo LPD positivo FAB com evisceração Trauma penetrante com hipotensão Peritonite Hemorragia de estômago, reto ou TGU por lesão penetrante Ar livre em retroperitoneo ou ruptura de hemidiafragma TC com lesão do TGI, bexiga, pedículo renal ou de parênquima grave DIAGNÓSTICOS ESPECÍFICOS Diafragma: Lado esquerdo é mais acometido. Rx pode sugerir elevação ou borramento do hemidiafragma, hemotórax, SNG no tórax, mas pode estar normal. o Tratamento: laparotomia com rafia e drenagem de tórax Duodeno: Colisão frontal sem cinto ou golpe direto no abdome. Sangue na SNG, enfisema de retroperitoneo no RX ou TC contrastada o Tratamento: laparotomia + rafia primária/enterectomia Pâncreas: Geralmente golpe direto no epigástrio, comprimindo contra coluna. Amilase não afasta, mas pode estar alta. No pós trauma imediato (até 8h) até a tomografia com contraste pode não ver. Se alta suspeita, indica laparotomia o Tratamento: pancreatectomia ou drenagem TGU: Trauma contuso no dorso ou flancos. Desconfiar de lesão se hematúria macroscópica ou microscópica em doentes com: ferimento abdominal penetrante; episódio de hipotensão com trauma abdominal fechado; lesões intra- abdominais associadas em doentes com trauma abdominal fechado. Até 95% tem tratamento conservador. Trombose de artéria renal ou ruptura são raras. Paciente não tem hematúria, mas dor abdominal e para excluir, realizar TC, urografia excretora, arteriografia. o Lesão de uretra geralmente tem fratura de pelve associada Delgado: Por desaceleração brusca. Uso incorreto do cinto de segurança Pequenas hemorragias ou avulsão do mesentério, com ou sem perfuração. TC ou FAST precoce não são conclusivos, geralmente LPD o Lembrar lesões tardias Órgãos sólidos (fígado, baço e rim): Se instabilidade indicam laparo, mas se lesão isolada, com paciente estável, o tratamentopode ser conservador, desde que bem monitorado PELVE Fraturas associadas a hemorragia: ruptura dos ligamentos ósseos posteriores (sacroilíaco, sacro tuberoso, sacroespinhoso e fibromuscular do assoalho pélvico) secundária a uma fratura e/ou luxação sacroilíaca ou a uma fratura sacral. Ruptura do anel pélvico pode esgarçar o plexo venoso pélvico e, ocasionalmente, os ramos da artéria ilíaca interna (lesão por compressão anteroposterior). Colisões de moto, atropelamentos, esmagamento direto da pelve e queda de alturas superiores a 3,6m. A mortalidade é de aproximadamente 5 a 30%. Figura 1 - Fratura a cavaleiro o Aumenta para cerca 10 a 42% se fraturas pélvicas fechadas e hipotensão e para cerca de 50% se fraturas pélvicas abertas. DIAGNÓSTICO ESPECÍFICO Pelve o 4 padrões de força que causam fraturas pélvicas compressão anteroposterior o colisões de motocicletas, atropelamentos, esmagamento direto da pelve ou queda de alturas superiores a 3,6m compressão lateral o colisões automobilísticas e levam à rotação interna da hemipelve envolvida cisalhamento vertical o queda padrões complexos (combinação). TRATAMENTO Fratura pélvica grave associada à hemorragia controle da hemorragia e reanimação com líquidos. Controle da hemorragia = estabilização mecânica do anel pélvico e contrapressão externa. A tração longitudinal aplicada através da pele ou do esqueleto é considerada o método de primeira linha. Como nessas lesões a hemipelve está rodada externamente, a rotação interna dos membros inferiores também pode reduzir o volume pélvico Um lençol, cinta pélvica ou outro dispositivo pode ser aplicado no nível dos trocânteres maiores dos fêmures para se estabilizar a pelve instável Tratamento definitivo se tem alterações hemodinâmicas: necessária uma equipe com cirurgião de trauma, ortopédico e um radiologista intervencionista, se disponível. o A embolização angiográfica é, muitas vezes, a melhor opção para o tratamento definitivo de doentes com hemorragia ativa secundária a fraturas pélvicas.
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