Buscar

Pre socraticos

Prévia do material em texto

Os pré-socráticos: noções sobre os pensamentos de Tales, Anaximandro e 
Anaxímenes 
 
TALES DE MILETO 
Criado em uma época na qual a religião explicava todas as coisas, das guerras 
aos casamentos infelizes, Tales de Mileto rompeu com o pensamento mitológico e 
deu o pontapé inicial da filosofia. Foi o primeiro a usar o raciocínio puro para 
explicar as questões do homem e da natureza. 
Nascido na colônia de Mileto, atual Turquia, Tales é considerado o responsável por 
tirar a civilização helênica das trevas intelectuais. A fama vai além das 
contribuições para a filosofia. Em 585 a.C., conseguiu prever um eclipse total do 
Sol. Sua aptidão para os negócios também era invejável. Certa vez, percebeu que 
as condições do tempo estavam favoráveis para a colheita e investiu no ramo das 
azeitonas prevendo que o clima turbinaria uma safra recorde. Dito e feito: Tales 
encheu os bolsos de dinheiro. Porém, o pensador ficou mais conhecido pelo 
teorema de Tales, que ele formulou medindo a pirâmide de Quéops, no Egito, 
utilizando apenas uma estaca e as sombras dela e da pirâmide. Hoje, o teorema é 
fundamental para medições geométricas, utilizado desde a construção civil até a 
astronomia. 
Na filosofia, ele acreditava na existência de uma matéria-prima básica responsável 
pela origem do Universo: a água. Em uma de suas frases mais conhecidas, Tales 
teria dito que “o Universo é feito de água”. Ele observou que, sem água, tudo 
morria. Logo, ela era a fonte da vida. Tales chegou a afirmar que a Terra flutuava 
sobre um disco de água a partir do qual tudo emergiu. Ironicamente ou não, a sede 
teria sido um dos motivos da sua morte, aos 78 anos. “Tales sucumbiu por causa 
do calor, da sede e do esgotamento da velhice”, descreveu o biógrafo Diógenes 
Laércio. 
Segundo a tradição clássica da filosofia ocidental, o primeiro teórico a formular um 
pensamento mais sistemático fundado em bases racionais foi o grego Tales (cerca 
de 625 a.C. – 558 a.C.). Sendo o fundador dessa nova forma de pensar, ele é 
considerado o primeiro filósofo de que se tem notícia, inaugurando a linhagem 
filosófica dos pré-socráticos (filósofos que vieram antes de Sócrates). 
Nascido na cidade de Mileto, uma colônia grega na região da Jônia (atual Turquia), 
Tales foi matemático, astrônomo e negociante. Herdeiro de conhecimentos ainda 
mais antigos — como a matemática egípcia e a astronomia babilônica — Tales era 
tido em sua cidade como um sábio, mas também como um homem prático: conta-
se que, utilizando suas habilidades, soube prosperar como um hábil mercador. 
O que sabemos sobre as ideias desse filósofo resulta de comentários feitos pelos 
pensadores gregos que o sucederam, pois não há preservados registros escritos 
de sua autoria. As principais referências que temos a seu respeito vêm do filósofo 
Aristóteles. 
Tales inaugurou na filosofia a corrente dos pensadores “físicos”: filósofos que 
buscavam entender e explicar a origem da physis — palavra grega traduzida como 
natureza, mas cujo significado engloba também a ideia de origem, movimento e 
transformação de todas as coisas. 
Segundo Tales, a origem de todas as coisas estava no elemento água: quando 
densa, transformaria-se em terra; quando aquecida, viraria vapor que, ao se 
resfriar, retornaria ao estado líquido, garantindo assim a continuidade do ciclo. 
Nesse eterno movimento, aos poucos novas formas de vida e evolução iriam se 
desenvolvendo, originando todas as coisas existentes. 
Lançando um olhar crítico, tornam-se evidentes as brechas neste raciocínio. Por 
exemplo, o que dá início a este movimento e o que o mantém? Como um único 
elemento, a água, poderia se transformar em outra coisa? 
Essas falhas, que aos olhos científicos de hoje são evidentes, eram vistas de outra 
forma na época. Vale lembrar que no momento em que as ideias de Tales foram 
criadas, os pensamentos racional e filosófico ainda eram bastante povoados por 
elementos mágicos e mitológicos. Portanto, para um grego antigo, a ideia de que 
uma coisa simples como a água pudesse se transformar em outra coisa não era 
absurda. 
O grande mérito de Tales, na verdade, não foi a sua explicação aquática da 
realidade: foi o fato de que, pela primeira vez na história, o homem buscava uma 
explicação totalmente racional para o seu mundo, deixando de lado a interferência 
dos deuses. 
Tales pode ser tido também como o pai da filosofia unitarista — que busca a 
explicação de todas as coisas a partir de um único princípio (no caso dele, a água) 
— e que teria seu maior expoente na figura de Heráclito de Éfeso. 
A partir de sua teoria, diversos filósofos pré-socráticos buscaram seus próprios 
caminhos para explicar a physis. 
 
Tales, Anaximandro e Anaxímenes formaram o trio da chamada Escola de Mileto e 
ficaram conhecidos como os physiologoi (estudiosos da physis). Era o início da 
filosofia e do esforço humano em compreender o espetáculo da existência a partir 
da racionalidade. 
 
Anaximandro de Mileto (610 a.C. – 547 a.C.) foi discípulo de Tales, o primeiro 
filósofo. Assim como seu mestre, o pensador continua investigando qual seria a 
provável origem(arché) de todo o universo (cosmos) e da natureza (physis). 
 
Utilizando-se da observação e contemplação dos seres e processo naturais, o 
filósofo buscou compreender o movimento e a relação entre os contrários, fato que 
culminou na hipótese de que essas relações poderiam conter a chave para a 
explicação da origem. 
 
Para esse pensador, a água, ou qualquer outra substância isolada, não poderia ser 
a origem de tudo. Como há multiplicidades e relações infinitas e indetermináveis, o 
princípio só poderia ser algo também infinito e indeterminável. A palavra grega que 
traduz essa relação é ápeiron, algo ilimitado que, na teoria naturalista de 
Anaximandro, seria a origem de todos os seres e objetos (limitados e 
determinados) do universo. O ápeiron poderia ser melhor visualizado, segundo 
esse filósofo, observando a coexistência harmônica entre os opostos na natureza. 
Dessa maneira, os opostos não podem coexistir em um mesmo corpo ou objeto 
ao mesmo tempo, mas um só existe individualmente por causa do outro – o seu 
oposto. Por isso, não há como delimitar a origem a um único elemento, pois cada 
elemento necessita do seu oposto para ser determinado, sendo o indeterminável 
(ápeiron), a melhor maneira de se caracterizar o arché. 
 
Anaxímenes de Mileto (585 a.C. – 528 a.C.) foi discípulo de Anaximandro. Assim 
como o seu mestre discordou de Tales quanto ao arché da natureza, Anaxímenes 
também o fez. Após seus estudos com seu professor e a incansável observação 
da natureza como maneira de tentar buscar uma possível origem para o universo, 
o filósofo concordou com a parte da teoria de Anaximandro que diz que o princípio 
de tudo seria algo infinito, mas discordou quanto à definição. O princípio de tudo 
seria, então, um elemento infinito, porém definido: o ar. 
 
O filósofo compreendeu o ar como uma substância que permeia todos os corpos e 
objetos da natureza. As características de cada ser variariam, então, de acordo 
com a quantidade (maior ou menor) de ar que eles contivessem. O universo seria 
compreendido, nessa concepção, como um grande ser vivo que abriga todos os 
outros seres, vivos ou não vivos, sendo o ar o elemento em comum entre todos 
eles e a composição da alma dos seres vivos. 
 
Os dois filósofos apresentados pertencem à tradição cosmológica da Filosofia, 
por buscarem uma origem racional para o surgimento do universo. 
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/tales-mileto.htm
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/a-composicao-ar.htm
Cronologicamente, eles são classificados como pré-socráticos e também 
chamados de filósofos naturalistas por realizarem um trabalho de 
observação empírica da natureza. 
 
Pré-socráticos: Parmênides, Heráclito, Empédocles e Demócrito 
 
A partir de aproximadamente 500 a.C. viveram na colônia grega de Eléia, na Itália 
meridional, alguns filósofos,e estes "eleatas" tratavam destes problemas. O mais 
conhecido de entre eles era Parmênides. Ele acreditava que tudo o que existe, 
existiu sempre. Esta idéia estava bastante difundida entre os Gregos. Tinham 
como evidente que tudo o que há no mundo existiu desde sempre. Do nada, nada 
pode nascer, pensava Parmênides. E nada do que existe pode tornar-se nada. 
Heráclito, contemporâneo de Parmênides, era originário de Éfeso na Ásia Menor. 
Segundo ele, as transformações constantes eram a verdadeira característica da 
natureza. Podemos dizer que Heráclito confiava mais nas impressões dos sentidos 
do que Parmênides. "Tudo flui", segundo Heráclito. Tudo está em movimento, e 
nada dura eternamente. Por isso, não podemos "entrar duas vezes no mesmo rio". 
Porque quando entro no rio pela segunda vez, tanto eu como o rio estamos 
mudados. Heráclito explicou, também, que o mundo é caracterizado por contrários 
constantes. Se nunca estivéssemos doentes, não compreenderíamos o que é a 
saúde. Se nunca tivéssemos fome, não gostaríamos de comer. Se nunca 
houvesse guerra, não saberíamos apreciar a paz, e se nunca fosse Inverno, não 
saberíamos quando chega a Primavera. Tanto o bem como o mal ocupam um 
lugar necessário no todo, dizia Heráclito. Sem o jogo permanente entre contrários, 
o mundo terminaria. "Deus é o dia e a noite, o Inverno e o Verão, a guerra e a paz, 
a saciedade e a fome", dizia. Ele utiliza aqui a palavra "Deus", mas não se refere 
aos deuses de que falam os mitos. Segundo Heráclito, Deus - ou o divino - é algo 
que abrange tudo. 
Segundo Empédocles, a grande discórdia baseava-se no fato de os filósofos terem 
pressuposto que apenas havia um elemento. Para ele a natureza é constituída por 
quatro elementos primordiais ou "raízes", que identifica com a terra, o ar, o fogo e 
a água. Todas as transformações da natureza resultam do fato de os quatro 
elementos se misturarem e se separarem. Tudo é constituído por terra, ar, fogo e 
água, misturados em proporções variáveis. Quando uma flor ou um animal 
morrem, os quatro elementos separam-se novamente uns dos outros. 
 
Demócrito concordava com os seus predecessores ao afirmar que as 
transformações observáveis na natureza não significavam que algo se alterasse 
realmente. Admitiu, portanto, que tudo tinha de ser composto de elementos 
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/presocraticos.htm
https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/filosofia/empirismo.htm
pequenos e invisíveis, eternos e imutáveis. Demócrito designava estas pequenas 
partículas por átomos. O termo "átomo" significa "indivisível". Para Demócrito, era 
fundamental afirmar que aquilo a partir do qual tudo é formado não pode ser 
dividido em partes cada vez menores. Se os átomos pudessem ser 
constantemente divididos em partes cada vez menores, a natureza teria começado 
a fluir como uma sopa cada vez mais líquida. 
 
Os elementos constitutivos da natureza tinham ainda de se conservar eternamente 
- porque nada pode nascer do nada. Nisto, Demócrito estava de acordo com 
Parmênides e os eleatas. Além disso, os átomos eram sólidos e compactos. Mas 
não podiam ser iguais. Porque se os átomos fossem iguais, não teríamos uma 
explicação válida para o fato de poderem ser combinados de modo a formarem 
tudo, desde papoulas e oliveiras à pele de cabra e cabelo humano. Existe uma 
quantidade infinita de átomos diferentes na natureza segundo Demócrito. Alguns 
são redondos e lisos, outros são irregulares e curvos. E precisamente porque têm 
formas tão diversas, podem ser combinados para formarem corpos completamente 
diversos. Mesmo sendo numerosos e diferentes, todos são eternos, imutáveis e 
indivisíveis. Quando um corpo – por exemplo, uma árvore ou um animal - morre e 
entra em decomposição, os seus átomos dispersam-se e podem ser utilizados de 
novo em novos corpos. Os átomos movem-se no espaço vazio e agregam-se para 
formar as coisas que vemos à nossa volta. 
 
Hoje, podemos quase afirmar que a teoria de Demócrito estava certa. A natureza é 
de fato formada por diversos átomos, que se combinam uns com os outros e se 
separam de ovo. Um átomo de hidrogênio que está numa célula na extremidade do 
meu nariz pertenceu, outrora, à tromba de um elefante. Um átomo de carbono do 
meu miocárdio esteve já na cauda de um dinossauro.

Continue navegando