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LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA DIARREIAS INFECCIOSAS AGUDAS: SALMONELOSE E FEBRE TIFOIDE ➢ As doenças diarreicas agudas (DDA) correspondem a um grupo de doenças infecciosas gastrointestinais caracterizadas por uma síndrome, na qual ocorre a diminuição da consistência das fezes, aumento do número de evacuações (mínimo de 3 episódios em 24hrs), em alguns casos, há presença de muco e sangue (disenteria). São autolimitadas, com duração de até 14 dias. O quadro pode evoluir para desidratação leve a grave. Quando tratadas incorretamente ou não tratadas, podem levar à desidratação grave e ao distúrbio hidroeletrolítico, podendo ocorrer óbito, principalmente quando associadas à desnutrição O QUE FAZER? • Avaliação: tempo, aspecto da diarreia (sangue, muco, cor, textura, tempo, número de evacuações, se vômitos, febre, dor) • Fatores relacionados • Fatores de risco • Diagnóstico/Classificação SÍNDROME DIARREIA AGUDA • Aumento da frequência de evacuações e/ou diminuição da consistência fecal até 14 dias • Às vezes associada a muco, pus, sangue (disenteria) e restos alimentares FISIOLOGIA DA ABSORÇÃO DA ÁGUA • 6 a 8 litros de água/dia transitam no sistema digestivo: ingestão de água, composição de alimentos, secreção salivar, gástrica, biliar, pancreática e enterica • Jejuno: 50% de absorção passiva (osmose) • Íleo: 70% do restante – absorção ativa (bomba de sódio – aldosterona) • Colón ascendente: absorção ativa • Colón descendente: restante • 150 a 200ml eliminada pelas fezes (2/3 do peso fecal evacuado) DIARREIAS INFECCIOSAS AGUDAS • Vírus: 30 a 40% (rotavírus, Norwalk, adenovírus, astrovírus, calicivírus) • Bactérias: 15 a 50% • Coinfecção com parasitos MANEJO NA DIARREIA AGUDA ETIOLOGIA VIRAL ETIOLOGIA BACTERIANA LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA ETIOLOGIA PARASITÁRIA CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA o Osmótica: ▪ Hiperosmolaridade luminal ultrapassa a capacidade absortiva ▪ Laxantes tem esse efeito por puxar a água por pressão osmótica o Secretória: ▪ Comum na diarreia infecciosa ▪ Estímulo do sistema bradicinina – AMP cíclico – prostaglandinas ▪ Secreção de água e sódio por lesão na mucosa, geralmente no íleo ▪ Geralmente as salmonelas são secretórias o Exsudativa: ▪ Secreção acompanhada de proteínas, mucopolissacarídeos, restos celulares, sangue ▪ Além da secreção de líquidos e eletrólitos tem células mortas e inflamação ▪ As infecciosas também podem chegar a ser exsudativa o Motora: ▪ Distúrbio da motilidade ▪ Aumento da motricidade intestinal TEMPORAL o Aguda o Crônica ETIOLÓGICA o Infecciosa o Não infecciosa CURSO INFECCIOSO: RESPOSTA DO HOSPEDEIRO Patogenicidade: depende de produção de fatores de virulência PLANOS DE TTO • A avaliação do estado de hidratação do paciente deve orientar a escolha entre os três planos de tratamento a seguir preconizados PLANO A o Para prevenis desidratação no domicilio LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA o Destina-se a pacientes com diarreia SEM sinais de desidratação. O tratamento é domiciliar. Explicar ao paciente ou acompanhante o que fazer no domicílio o Oferecer ou ingerir mais líquidos que o habitual para prevenir a desidratação. ▪ O paciente deve tomar líquidos caseiros (água de arroz, soro caseiro, chá, suco e sopas) ou solução de reidratação oral (SRO) após cada evacuação diarreica ▪ Não utilizar refrigerantes nem adoçar o chá ou suco. o Manter a alimentação habitual para prevenir a desnutrição: ▪ Continuar o aleitamento materno; ▪ Manter a alimentação habitual para as crianças e adultos. o Se o paciente não melhorar em 2 dias ou se apresentar qualquer um dos sinais e sintomas abaixo, levá-lo imediatamente ao serviço de saúde: ▪ Piora da diarreia; ▪ Vômitos repetidos; ▪ Muita sede; ▪ Recusa de alimentos; ▪ Sangue nas fezes; ▪ Diminuição da diurese. o Orientar o paciente ou acompanhante para: ▪ Reconhecer os sinais de desidratação; ▪ Preparar e administrar a sro; ▪ Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da água, higienização dos alimentos). o Administrar zinco uma vez ao dia, durante 10 a 14 dias: ▪ Até 6 meses de idade – 10mg/dia; ▪ Maiores de 6 meses de idade – 20mg/dia PLANO B o Para tratar a desidratação por VO na Unidade de Saúde o Destina-se a pacientes com diarreia e COM sinais de desidratação, mas com capacidade de ingerir líquidos, que devem ser tratados com SRO na unidade de saúde, onde deverão permanecer até a reidratação completa. o Administrar SRO: ▪ A quantidade de solução ingerida dependerá da sede do paciente; ▪ A sro deverá ser administrada continuamente, até que desapareçam os sinais e sintomas de desidratação; ▪ Apenas como orientação inicial, o paciente deverá receber de 50 a 100ml/kg para serem administrados no período de 4 a 6 horas. o Durante a reidratação, reavaliar o paciente seguindo as etapas do Quadro ▪ Se desaparecerem os sinais de desidratação, utilizar o Plano A. ▪ Se continuar desidratado após o período de 4 horas, repetir o Plano B por mais 2 horas e reavaliar, ou indicar a sonda nasogástrica (gastróclise). ▪ Se o paciente evoluir para desidratação grave, seguir o Plano C. o Durante a permanência do paciente ou acompanhante no serviço de saúde, eles devem ser orientados a: ▪ Reconhecer os sinais de desidratação; ▪ Preparar e administrar a sro; ▪ Manter a alimentação habitual; e ▪ Praticar medidas de higiene pessoal e domiciliar (lavagem adequada das mãos, tratamento da ▪ Água, higienização dos alimentos PLANO C o Se o paciente apresentar sinais e sintomas de desidratação grave, com ou sem choque (palidez acentuada, pulso radial filiforme ou ausente, hipotensão arterial, depressão do LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA sensório), a sua reidratação deve ser iniciada imediatamente por via endovenosa, em duas fases para todas as faixas etárias: fase rápida e fase de manutenção e reposição o Avaliar o paciente continuamente. Se não houver melhora da desidratação, deve-se aumentar a velocidade de infusão o Quando o paciente conseguir ingerir líquidos, geralmente duas a 3 horas após o início da reidratação endovenosa, iniciar a reidratação por via oral com SRO, mantendo a reidratação endovenosa. o Interromper a reidratação por via endovenosa somente quando o paciente puder ingerir SRO em quantidade suficiente para se manter hidratado. A quantidade de SRO necessária varia de um paciente para outro, dependendo do volume das evacuações. o Lembrar que a quantidade de SRO a ser ingerida deve ser maior nas primeiras 24 horas de tratamento. o Observar o paciente por pelo menos 6 horas. o Os pacientes que estiverem sendo reidratados por via endovenosa devem permanecer na unidade de saúde até que estejam hidratados e conseguindo manter a hidratação por via oral BACTÉRIAS AÇÃO DIRETA DA TOXINA: o Elas estão em outro sitio, mas suas toxinas agem no lumen intestinal o Staphylococcus aureus o Bacillus cereus o Clostridium perfringens o Não invasivas: o Estão no lumen intestinal o Enterotoxinas: E. coli o Enterotoxigênica (ETEC): E. coli o Enteroaderente (EAEC): E. coli o Enteropatogênica (EPEC): Klebsiella pneumoniae CITOTÓXICAS NÃO INVASIVAS o Lesão mucosa, mas não invadem o sistema o E. coli enterohemorragica (EHEC) o Clostridium dificile o Bactérias invasivas: o Podem levar a sepse o Se aprofundam na mucosa o Atingem o sistema sanguíneo e podem atingir outros órgãos o Salmonella o Shigella o Aeromonas o Campylobacter jejuni o Yersinia enterocolítica o Escherichia coli enterohemorragica (EHEC) o E. coli entero invasiva (EIEC) o Clostridium dificile SALMONELAS • Salmonellapertence à família Enterobacteriacea (Gram-negativos entéricos ou enterobactérias). São bastonetes Gram- negativos, anaeróbios facultativos, que não produzem esporos, medindo cerca de 2-3 x 0,4-0,6 micrômetros, movimentando-se através de flagelos peritríquios (distribuídos por toda superfície bacteriana) • Apresenta na superfície de sua parede celular o lipopolissacarídeo (endotoxina), que contém o antígeno O, um dos principais determinantes antigênicos da bactéria. O outro é o antígeno H, que está presente nos flagelos. Esses dois antígenos irão determinar qual o sorogrupo da salmonela – A, B, C ou D. Ainda existe um terceiro antígeno variante – o antígeno Vi, presente apenas na S. typhi e na S. paratyphi C • Em relação ao quadro clínico, podemos classificar as salmonelas em dois grandes grupos: (1) aquelas incriminadas na febre entérica (tifoide ou paratifoide), como S. typhi e S. paratyphi sorotipos A, B ou C; (2) aquelas incriminadas principalmente nos quadros LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA clássicos de gastroenterite bacteriana aguda, como S. enteritidi e S. typhimurium SALMONELOSES NÃO TIFOIDES QUADRO CLÍNICO o Intoxicação alimentar com diarreia intensa com outros sintomas abdominais o Transmissão: ingestão de alimentos contaminados o enterite: inflamação da mucosa intestinal, iniciando 6 a 48h após a ingestão o Início súbito: vômitos, náuseas, doreas abdominais e diarreia profusa sem sangue o Acompanhada de febre, cefaleia e mal estar o Duração de 2 a 7 dias: resolução sem complicações o Complicação rara: septicemia SALMONELAS o Divididas em sorovares com base na composição antigênica: ▪ Ag O (somático) ▪ Ag H (flagelar) ▪ Ag Vi (capsular): apenas em S. typhi, S. paratyphi e S. dublin FATORES DE RISCO o <1 ano o Idosos o Acloridria: diminuição da acidez gástrica que seria um fator protetor o Comorbidades o HIV-AIDS/outras imunodeficiências TRATAMENTO o Hidratação o Probióticos o Zinco: ▪ 10mg vo por 14 dias se idade <6 meses ▪ 20mg vo por 14 dias se idade >6meses o Antibióticos: ▪ Norfloxacino 400mg de 12/12h ▪ Ciprofloxacino 500mg de 12/12h ▪ Sulfametoxazol/trometroprim 800mg de 12/12h ▪ Neutrofilia, leucocitose, desvio a esquerda é clássico para uso de atb no hemograma o Diarreia sem melhora (14 dias ou epf+): ▪ Metronidazol 15 mg/kg/dia por dia se giárdia ou 30 mg/kg/dia por 5 dias se amebíase ▪ Secnidazol dose única (mais caro) o Persistência de sangue nas fezes/48h: internação em crianças o Persistência de sangue nas fezes/48h em adultos: sem desidratação faz ceftriaxona 1 a 2g im 3 a 5 dias ou se desidratação interna SALMONELLA TYPHI • Febre tifoide • Bacilos gram negativos, moveis (flagelos) • Aeróbios: crescem bem a 30º e suportam ph entre 8 e 9 • Restrita aos seres humanos • Endêmica: américa latina, oceania, áfrica, mas 80% no sudoeste da ásia e índia 3 ANTÍGENOS o O: em todas salmonelas na fase S, altamente toxica (endotoxina O), aglutinação lenta, estável e polar o H: em todas as formas flageladas de salmonelas, aglutinação rápida e termolábel o Vi: de superfície, presente apenas em S. Typhi e paratyphi (virulência) TRANSMISSÃO o O único reservatório da S. typhi e da S. paratyphi sorotipos A, B e C é o ser humano o Orofecal: fezes, vômitos, expectoração o Direta (menos frequentes): mãos contaminadas levadas diretamente a boca o Indireta (mais frequente e responsável por epidemias): água contaminada, alimentos, fômites o Transmissibilidade: desde os primeiros dias até a convalescença LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA SOBREVIDA EM MEIO AMBIENTE o Em carnes e enlatados: ▪ Raros casos ▪ Uma vez preparada a carne ou aberta a lata, a sobrevida da Salmonela é maior que o tempo de validade dos alimentos o Na água doce: temperatura mais baixas maior sobrevida, melhor em meio rico em O2 e ricas em material orgânico – em condições ideiais de 3 a 4 semanas o Podem sobreviver varias semanas em água, gelo ou leite, roupas, pó, em esgotos o São sensíveis ao hipoclorito o No esgoto: experimentalmente sobreviveu por 40 dia, na água do mar a contaminação é altíssima o Em ostras, mariscos e moluscos: até 4 semanas o Nos alimentos: leite, creme e laticínios até 2 meses RESERVATÓRIO o Homem o Ciclo de transmissão: Homem – Meio ambiente – Homem o Saneamento básico e profissão o Fonte de infecção: ▪ Doentes ▪ Portadores assintomáticos ▪ Infecção crônica biliar: eliminação intermitente pelas fezes por ano HISTÓRIA EPIDEMIOLOGICA o Em áreas endêmicas: maior frequencia (15 a 45 anos de idade) o Não tem padrões cíclicos nem sazonalidade o Está relacionada as condições de saneamento e hábitos individuais como também condições de habitação ou trabalho em precárias condições de saneamento FISIOPATOGENIA o Pós ingestão: ▪ Penetração na mucosa do intestino delgado ▪ Invasão dos fagócitos mononucleares das placas ileais de Peyer e gânglios linfáticos mesentéricos o Após período de incubação: ▪ Disseminação hematogênica para o sistema reticuloendotelial (fígado, baço, medula óssea), onde as salmonelas penetram nas células histiocitarias o Febre e calafrios: ▪ Refletem bacteremia ▪ Liberação de fatores pirogênicos endógenos pelos macrófagos infectados ▪ Reação inflamatória: tecidos e órgãos onde estão os macrófagos infectados o Hiperplasia de Placas de Peyer: ▪ Inflamação seguida de ulceração da mucosa ▪ Sintomas gastrointestinais ▪ Dor abdominal, diarreia, sangramento ou perfuração intestinal o A porta de entrada do agente infeccioso é a via digestiva. Para ser infectado, o indivíduo precisa ingerir um inóculo médio de 105 bactérias. Os bacilos precisam passar pelo estômago, resistindo ao pH ácido (em torno de 1,5-2,0) o Os indivíduos com hipo ou acloridria são mais propensos ao adoecimento o Ao chegar no íleo, a bactéria adere às células M (microfold cell) das placas de Peyer, penetrando-as através de um processo denominado Endocitose Mediada por Bactérias (EMB) e alcançando o tecido linfoide local, onde são logo internalizadas pelos macrófagos e linfócitos locais. Nos fagócitos mononucleares das placas de Peyer o bacilo começa a se proliferar (comportando-se como um parasita intracelular – isso não ocorre nas salmonelas não tifoides!), por enquanto, sem nenhum tipo de interferência do sistema imune. Atinge os linfonodos mesentéricos satélites – o segundo local em que o bacilo se multiplica – e logo depois a circulação linfática e sanguínea, caminhando no interior de monócitos, determinando o início da bacteremia. Nesse momento a S. typhi se dissemina pelos órgãos e sistemas, indo assestar- se no tecido reticuloendotelial presente no fígado, no baço e na medula óssea (rico em macrófagos). Esta fase corresponde à primeira semana da doença, quando o paciente se queixa de febre progressiva e sintomas gastrointestinais brandos, como constipação intestinal. É denominada fase LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA bacterêmica. A hemocultura é positiva em 80- 90% dos casos nesta fase, enquanto a coprocultura é caracteristicamente negativa o Enquanto o bacilo vai se multiplicando nos macrófagos do sistema reticuloendotelial, a bacteremia persiste e mais leucócitos mononucleares (monócitos e linfócitos) são atraídos para o local, desencadeando uma reação inflamatória que começa a ganhar vulto a partir da segunda semana, tendo o seu pico na terceira semana. Esta é a segunda fase da doença – a mais grave – a fase hiper-reativa, pelo predomínio de fenômenos imunoinflamatórios precipitados e mantidos pela proliferação bacteriana no sistema reticuloendotelial. A hepatoesplenomegalia já pode ser notada. A hemocultura só é positiva em 50% dos casos, pois o sistema imune já está tentando contero bacilo: ▪ O exame histopatológico demonstra a presença de focos inflamatórios mononucleares, denominados “nódulos tíficos”, encontrados no fígado, no baço, na medula óssea, nos linfonodos mesentéricos e nas placas de Peyer. Os dois últimos podem sofrer um processo de hiperplasia e necrose, determinando dor abdominal, exacerbada pela palpação do quadrante inferior direito (as placas de Peyer se concentram no íleo terminal). A inflamação da parede intestinal pode levar à diarreia, sintoma frequente nesta fase. Em casos extremos, a necrose atinge a mucosa, causando úlceras e enterorragia, ou acomete toda a extensão da parede, levando à perfuração intestinal ▪ Os macrófagos infectados liberam grande quantidade de citoquinas, do tipo TNF-alfa e IL-1, fazendo piorar a febre e causando em alguns pacientes o quadro encefalopático (cefaleia, bradipsiquismo, delirium, torpor, coma), semelhante ao do tifo epidêmico exantemático o Um fenômeno crucial da patogênese da febre tifoide é a recirculação do bacilo. Já na primeira fase da doença, durante o período de intensa bacteremia, o bacilo atinge o fígado, sendo eliminado pelas vias biliares e concentrado na vesícula biliar. Neste local, há grande proliferação bacilar! As bactérias, agora em maior quantidade, chegam novamente ao íleo e são reabsorvidas, aumentando sobremaneira a carga bacilar nas placas de Peyer. Este fenômeno contribui para o agravamento do processo necroinflamatório local. Mesmo após a resolução do processo infeccioso, em 3-4% dos casos os bacilos permanecem se multiplicando na vesícula biliar por meses a anos, constituindo o estado de portador crônico assintomático – um importante fator na transmissão da doença – mais comum em mulheres, lactentes e indivíduos com anormalidades biliares ou infecção concomitante da bexiga pelo Schistossoma haematobium QUADRO CLÍNICO o A febre tifoide deve ser suspeitada em qualquer paciente que apresenta uma febre inexplicada há mais de 1-2 semanas e uma história epidemiológica compatível: precárias condições de moradia, falta de instalações sanitárias, ingestão de água não tratada ou de alimentos preparados sem cuidado, viagem LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA recente a regiões endêmicas e contato com casos semelhantes o Diagnóstico diferencial com malária, leptospirose, dengue, endocardite infecciosa, mononucleose e TB miliar o Período inicial: primeira semana ▪ Febre: aumenta dia a dia (stepwise) com inicio insidioso (subagudo), acometendo o paciente a qualquer hora e retornando ao passar o efeito do antitérmico ▪ Cefaleia ▪ Astenia ▪ Anorexia ou hiperexia ▪ Dor abdominal, constipação intestinal ▪ Vômitos e náuseas ▪ Mialgia ▪ Tosse seca e dor de garganta ▪ Sinal de Faget: acontece também na febre amarela, é uma dissociação pulso/temperatura, ou seja, tem febre alta e bradicardia o Período de estado: ▪ Febre se estabiliza alta >39º ou alterna-se sustentada ▪ Cefaleia constante e grave sem resposta ao tratamento ▪ Prostração intensa ▪ Alteração do nível de consciência (tiphus): torpor delirante, indiferença ao ambiente ▪ Sinais de desidratação: pele e mucosa secas, olhos fundos e inexpressivos (olhar tífico) ▪ Dor predomina em FID ▪ Diarreia abundante esverdeada (sopa de ervilha) mais comum em crianças e prisão de ventre prolongada mais comum em adultos ▪ Ausculta: meteorismos, borborigmos ▪ Roséolas tificas: maculas hiperemiadas principalmente em troncos ▪ Ulceras de Daguet ▪ Língua saburrosa ▪ Sinal de Faget ▪ Esplenomegalia (60 a 70%): comprometimento do sistema reticuloendotelial ▪ Hepatomegalia (50%) ▪ Alterações hematológicas ▪ Hemograma: leucopenia com desvio a esquerda, neutrofilia com aumento de bastões (desvio a esquerda), eosinófilos zero com granulações grosseiras/toxinas nos neutrófilos ▪ Febre por 2 semanas, cefaleia intensa no pico da febre, sem sinais de meningite ▪ Diarreia semilíquida, não é aquosa, ainda tem uma consistência, esverdeada (aspecto de sopa de ervilha), mal cheiro, cólica, vômitos, febre o Período de declínio: ▪ Febre em declínio progressivo, gradativo (em lise e nunca em crise) ▪ Melhora de sinais ▪ Atenção ao aparecimento de complicações: perfuração intestinal, abscesso ósseo, trombose femoral, recorrência ▪ A febre começa a diminuir, o mal estar também e a diarreia vai diminuindo. Apesar da melhora, a infecção é intensa o Período de convalescença: ▪ Sinais de desnutrição ▪ Queda de cabelo ▪ Atrofias musculares ▪ Período de astenia sem febre PORTADORES o Eliminam bactérias pelas fezes ou urina por tempo prolongado o Valor epidemiológico: propiciam a manutenção das epidemias o Colonização da vesícula: 3ª semana o 2 a 5% dos doentes tornam-se portadores o Portador convalescente: elimina bactérias pelos 4 meses seguintes (30%) o Portador crônico: elimina bactérias 1 ano (5%) o Portador são assintomático, elimina bactérias após 1 ano de infecção aguda (identificado em busca ativa) LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA COMPLICAÇÕES: 3ª SEMANA o Dores abdominais difusas, vômitos biliosos ou em borra de café, sudorese fria, respiração curta o Rx de abdome: ▪ Pneumoperitonio (perfuração de víscera oca) ▪ Ausência do sinal não afasta o diagnóstico o Perfuração intestinal: ▪ Em 3% dos casos surge em torno de 20 dias da doença, em formas graves e com diagnostico tardio ▪ Dor em fossa ilíaca direita, súbita, distensão abdominal e hiperestesia abdominal, diminuição ou aumento dos ruídos peristálticos, aumento rápido da temperatura, pulso acelerado, hipotensão (evolui para peritonite) o Enterorragia: ▪ 3 a 10% leve a maciça que pode levar ao choque hipovolêmico o Outras complicações digestivas: ▪ Colecistites ▪ Ulcerações de colon ▪ Estomatite ▪ Parotidite ▪ Pancreatite ▪ Abscesso hepático ▪ Abscesso esplênico o Outras complicações: ▪ Miocardite tifica: insuficiência cardíaca direita (ICC) ▪ Vasculares: artrites, flebites ▪ SNC: encefalites, alterações psíquicas, leptomeningite, neurites ▪ Rins: glomerulonefrite, proteinúria, hematúria transitória ▪ Ossos: periostites, osteites, osteomielites, monartrites, poliartrites ▪ Menos frequente: iridociclite, coriorreitinite, neurite ótica, otite media, surdez, prostatite, vulvite, mastite, abscesso cutâneo, miosite SALMONELOSE SEPTICÊMICA PROLONGADA o Febre prolongada, calafrios, sudorese, perda de peso, anorexia, hepatoesplenomegalia o Colonização da salmonela no Schistossoma mansoni o Diagnóstico diferencial: Calazar o Praziquantel e série de antibióticos DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL o Doenças entéricas de diversas etiologias o Salmonella sorotipo paratyphi a, b, c; yersínia enterocolitica o Pneumonia o Tuberculose o Meningoencefalite o Septicemia por agentes piogenicos o Mononucleose infecciosa o Doença de hodgkin o Abscesso hepático, subfrenico o Endocartite bacteriana DIAGNÓSTICO LABORATORIAL o Hemograma na 1ª e na 2ª semana com leucopenia real (<5000), leve desvio para esquerda, linfomonocitose relativa. Leucocitose é descrita nos primeiros 10 dias da doença, principalmente em crianças o Queda abrupta do hematócrito sugere enterorragia o Reação de Widal: não é de certeza o O diagnóstico definitivo da febre entérica requer o isolamento da S. typhi ou S. paratyphi no sangue, na medula óssea, de outro sítio estéril, das roséolas, das fezes ou secreções intestinais o Hemocultura: 3 amostras se nas 2 primeiras semanas tem 75% de positividade de preferencia antes de entrar com antibiótico o Mielocultura é o padrão ouro, tem 90% de sensibilidade mesmo com antibioticoterapia, mas é invasivo o Coprocultura: 2ª a 5ª semanas em dias alternados com 3 amostras. Em portador faz 7 amostras diáriaso As aminotransferases podem estar elevadas, geralmente numa faixa entre 300-500 UI. Este aumento reflete uma hepatite discreta, marcada por infiltrado mononuclear no espaço porta, hiperplasia das células de Kuppfer e necrose focal de hepatócitos o O EAS pode raramente revelar discreta proteinúria, piúria, cilindros granulosos e hialinos LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA TRATAMENTO o Hidratação o Sintomáticos o Antibioticoterapia: ▪ Ofloxacino 400mg de 12/12h VO por 10 a 14 dias ▪ Ciprofloxacino 250 a 500mg de 12/12h VO por 10 a 14 dias ▪ Ceftriaxona 1 a 2g IM de 12/12h ▪ Cloranfenicol 50mg/kg/dia de 6/6h até 4g/dia por 15 dias após desaparecimento da febre (5º dia reduzir a dose) ▪ Ampicilina 1 a 1,5g de 6/6h até 6g/dia (100 mg/kg/dia em crianças) por 14 dias ▪ Amoxicilina 3g/dia VO dividida em 3 tomadas (8/8h) por 14 dias ▪ 800 a 1.600 mg de sulfametoxazol e 160 a 320 mg de trimetoprima, via oral, dividida em 2 tomadas (12/12 horas), por 14 dias o Não usar antieméticos por alterações do SNC o Não usar antiespasmódicos por maior proliferação das bactérias o O uso de corticosteroides pode ser indicado em associação com o antibiótico em pacientes com quadros muito graves, com choque e alteração do estado de consciência. O esquema mais usado é a Dexametasona 3 mg/kg (ataque) + 1 mg/kg 6/6h durante 48h RECAÍDAS o É o ressurgimento de febre e outras manifestações clínicas da doença durante o período de convalescência (a partir da quarta semana) o Esta situação é observada em 3-20% dos pacientes e ocorre geralmente duas semanas depois de terminada a febre o Hemoculturas são novamente + o Uma explicação plausível é a permanência de focos replicativos de salmonela na vesícula biliar ou no centro de linfonodos mesentéricos o Parece que a recaída é mais frequente quando o tratamento antibioticoterápico dura apenas 7-10 dias, em vez de 14 dias, especialmente se o antibiótico utilizado for o cloranfenicol (com esta droga, as taxas de recaída podem alcançar 25% TTO RECAÍDAS E PORTADORES CRÔNICOS ASSINTOMÁTICOS o O esquema atualmente proposto pelo Ministério da Saúde consiste no uso de ampicilina ou amoxicilina, no mesmo esquema posológico utilizado para tratamento do quadro clínico o Sete dias após o término do tratamento, devemos iniciar a coleta de três coproculturas, com intervalo de trinta dias entre cada uma. Se o paciente trabalhar com manipulação de alimentos, esse intervalo deve ser de uma semana o Caso alguma coprocultura resulte positiva, essa série pode ser suspensa e o indivíduo deve ser novamente tratado, de preferência, com uma quinolona (ciprofloxacina 500 mg, via oral, de 12/12 horas, durante quatro semanas) e esclarecido quanto ao risco que ele representa para os seus comunicantes íntimos e para a comunidade em geral PROFILAXIA • Notificação compulsória • Monitoramento • Prevenção de doenças de veiculação hídrica • Educação em saúde • Vacinas: eficácia questionável, curta duração e baixo poder imunogênico. Só é indicados em militares em missão de paz MEDIDAS PREVENTIVAS • Saneamento básico • higienizar e proteger alimentos • cuidados com a água EXEMPLOS LARISSA MENEZES – INFECTOLOGIA Síndrome diarreica infecciosa aguda Salmonelose/Sem desidratação Plano A: Síndrome diarreica infecciosa aguda Salmonelose/Com desidratação Plano B: Síndrome diarreica infecciosa aguda Salmonelose/Com desidratação grave Plano C
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