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Introdução à Biblioteconomia

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Prévia do material em texto

iI
Edson Nery da Fonseca
Introdução à Biblioteconomia
Prefácio de Antônio Houaiss
Segunda edição
BRIOUET DF. LEMOS
LIVROS
© 2007 Edson Nery da Fonseca
Direitos desta edição adquiridos por 
Lemos Informação e Comunicação Ltda.
l.a edição: 1992.
Todos os direitos reservados. De acordo com a lei n.° 9 610, de 19/2/1998, nenhuma parte 
deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de 
recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio 
eletrônico ou mecânico sem o consentimento do editor.
Revisão:
Maria Lucia Vilar de Lemos 
Antonio Agenor Briquet de Lemos
Capa: Formatos Design Gráfico Ltda.
Imagens da capa, da esquerda para a direita: O escribn ngachndo. Egito, ca. 2620-2500 a.C. Calcário 
pintado. Muséedu Louvre, Paris, E3023. O mundo e os livros, de José Pauto Moreira da Fonseca 
(1922-2004). Óleo sobre tela (1981). Coleção do artista. A biblioteca, de Maria Helena Vieira da Silva 
(1908-1992). Óleo sobre tela (1949). Musée National d'Art Moderne / Centre GeorgesPompidou,
Paris. A leitura, de José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899). Óleo sobre tela. Pinacoteca do Estado de 
São Paulo. II bibliotecário, dc Giuseppc Arcimboido (1527-1593). Óleo sobre tela (ca. 1566). Skoklosters 
Slott, Bâlsta, Estocolmo.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (Cll’)
Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Fonseca, Edson Nery da, 1921- .
Introdução à biblioteconomia / Edson Nery da Fonseca; prefácio de 
Antônio Houaiss. -- 2. ed. - Brasília, n r : Briquet de Lemos/ Livros, 2007. 
Bibliografia 
isiin 978-85-85637-32-3
1. Biblioteconomia i. Houaiss, Antônio, ii. Título.
07-3895 cnn-020
índices para catálogo sistemático:
1. Biblioteconomia 020
2007
Briquet de Lemos / Livros
SRTS - Quadra 701 - Bloco O - Loja 7
Edifício Centro Multiempresarial
Brasília, DF 70340-000
Telefones (61) 3322 9806 e 3323 1725
www.briquetdelemos.com.br
cditora@briquetdelemos.com.br
Este livro é dedicado à Biblioteca da Câmara dos 
Deputados e à Universidade de Brasília, pelas 
alegrias que me proporcionaram como bibliotecá­
rio e professor. Esta segunda edição é também de­
dicada à memória de Jannice Monte-Mór.
http://www.briquetdelemos.com.br
mailto:cditora@briquetdelemos.com.br
Isso é a grandeza admirável da biblioteco­
nomia! Ela torna perfeitamente acháveis os 
livros como os seres, e alimpa a escolha dos 
estudiosos de toda suja confusão. Este o seu 
mérito grave e primeiro.
Mário de Andrade. Biblioteconomia, 1937. Os fi­
lhos da Candinha.
Sumário
Prefácio, Antônio Houaiss xi 
Prefácio à segunda edição, e.n .f x v
Introdução 1
1 O livro 21
1.1 A palavra livro 21
1.2 O livro como "forma de vida humana" 23
1.3 O livro como conflito 24
1.4 A base física do livro 26
1.5 O livro, sua autoria e seu conteúdo 31
1.6 O livro no Brasil 35
1.7 Referências bibliográficas 43
2 A biblioteca 48
2.1 A palavra biblioteca 48
2.2 Novo conceito de biblioteca 49
2.3 Diferentes categorias de bibliotecas 51
2.4 Bibliotecas no Brasil 56
2.5 Referências bibliográficas 59
3 Leitor/Ieitura 63
3.1 As palavras leitor e leitura 63
3.2 Leitor e não-leitor 66
3.3 Leitura 70
3.4 Leitor/Ieitura no Brasil 82
3.5 Referências bibliográficas 86
4 O bibliotecário 91
4.1 A palavra bibliotecário 91
4.2 Missões do bibliotecário 92
4.3 Formação do bibliotecário 97
4.4 Atualização do bibliotecário 99
4.5 O bibliotecário no Brasil 105
4.6 Referências bibliográficas 111
Apêndice antológico: Textos de escritores brasileiros 115 
Apresentação 115
Biblioteconomia
Mário de Andrade 121 
Poesia e utilidade de Simões dos Reis 
Carlos Drummond de Andrade 123 
Um bibliotecário
Gilberto Freyre 126
Reflexões sobre a situação atual e futura do 
bibliotecário no Brasil
Otto Maria Carpeaux 128 
Um editor no céu
Carlos Drummond de Andrade 133 
Do leitor
Augusto Meyer 135 
O gladíolo no ramalhete 
Lêdo Ivo 140 
O bibliotecário
Emílio Carrera Guerra 144 
Para uma feira do livro
João Cabral de Melo Neto 145
índice 146
Se me fosse dado sonhar a relação ideal autor-obra, eu pro­poria três reptos: que o autor fosse — por sua vida de prá­tico e por sua vida de teórico — senhor e mestre do tema, 
pois que isso o capacitaria para balanceá-lo como essência e es­
perança; que o tema fosse tratado como que inauguralmente, mas 
com tal clareza experimentada e tal lucidez de horizontes havi­
dos e havituros, que seus leitores haurissem a impressão de evi­
dência, lógica e racionalidade, estranhando (a estranharem algo) 
que o dito tema tivesse sido objeto de passadas sombras, penum­
bras, controvérsias e litígios; que a clareza expositiva, por sua 
eficácia incontrastável, se amenizasse de graça e doçura e hu­
mor, pois o autor já havería superado (se os tivesse tido) as amar­
guras e tropeços de sua caminhada para o fazer, o saber fazer, o 
saber fazer fazer. De tudo isso fica-me aqui a certeza dos três 
reptos integrados, após a leitura amorosamente minudente des­
ta Introdução à biblioteconomia. Porque, se outrem tivesse no Bra­
sil elaborado uma obra deste tipo, para mim — e para quantos! 
— ficaria provavelmente a impressão de que se trataria de uma 
usurpação, pois esse alguém estaria exercendo uma função que 
não lhe cabia.
A maneira por que Edson Nery da Fonseca tem exercido sua 
biblioprática vem sendo, desde o início, a de um bibliósofo que 
chegaria a uma bibliosofia íntegra, de pés na terra — já que sabe 
de polpas de papel, de tintas, de caracteres, de composições, de 
manchas e ilustrações, de encadernações, de preservação, de res­
tauração, de armazenamento, de locais, de acondicionamentos 
ambientais — e de olhos no céu — já que busca para cada livro 
sua mensagem, seu conteúdo formativo, informativo, recreati­
vo, lúdico, sua adequação etária, seu curso de honra, sua inser­
ção na história: de permeio, entre os pés e os céus, quer, com o
coração, que os livros sejam objetos amoráveis, como cimentos e 
tijolos de humanização, mesmo os ruins e as controvérsias que 
geram com seqüelas quase sempre de redenção; e com o fígado, 
que dele quer que se possam haurir alegrias retemperantes, even­
tuais rancores magoados mas superáveis, certos ímpetos correti­
vos, alguns temperos didáticos — fontes de vida havida, vida 
vivente e vida futura.
Não me cabe 'provar' o que digo de Edson Nery da Fonseca: o 
seu currículo de vida prova-o à saciedade, convencendo não ape­
nas como argumento, mas como militância — oral, escrita, ativa, 
funcional, histórica —, dele fazendo um marco m iliar no 
derroteiro do livro (de um modo geral), do livro lusofônico (de 
modo especial) e do livro brasileiro (de modo particular). Dele 
dizer — com palavra neste texto por ele criada ad hoc — que é 
nm ser antropobibliocêntrico é fazer justiça, pois poucos sabem 
como ele que o Homem — como espécie e como indivíduo — se 
faz cada vez mais a si mesmo graças a um instrumento — o livro 
— de que derivam todos os instrumentos, físicos e mentais.
A esse respeito, talvez me caiba sublinhar uma lição implícita 
e não raro explícita nesta obra: que o livro, ao contrário do que 
certa modernosidade busca impingir, está agora dando os seus 
melhores frutos de uma floração que perdurará pelos milênios 
por vir. Daí também me cabe rogar ao leitor que não perca, nesta 
exposição-narração-dissertação, os momentos de ira sacra com 
que Edson Nery da Fonseca se levanta contra a ignorância crassa 
de certas 'autoridades' ditas brasileiras no trato ou destrato do 
livro.
Não nos esqueçamos de que, só com a escrita e seu vetor (o 
barro, a pedra, o mármore, a parede, o couro, o pergaminho, o 
papiro, o papel, a magnetofita), o Homem começou a História 
restritivamente dita, inventando a transmissão do saber institu­
cionalizadamente, fazendo de certas línguas de três mil palavras 
línguas de 600 mil, multiplicando as duas únicas profissões ini­
ciais nas 50 dos fins da Idade Clássica, nas 90 do fim do Antigo 
Regime, nas 420 do Romantismo, nas 30 mil de hoje em dia — 
graças em boníssima parte ao 'livro', qualquerque seja o seu 
suporte.
X l l
Este livro, assim, trata soberanamente do livro, como vetor e 
criador da modernidade — essa só que distingue o Homem ágrafo 
que existiu na Terra por quase dois milhões de anos do Homem 
gráfico, que há aqui e agora na Terra, mas ainda não planetizado, 
de apenas uns poucos — seis, cinco, quatro, três? — milênios 
para cá: só a sua universalização abrirá as portas a uma humani­
dade sem desenvolvidos, subdesenvolvidos, em vias de desen­
volvimento e em vias de subdesenvolvimento. Assim ainda, este 
livro, vocativamente, não pode deixar de ser lido, e relido, e rer- 
relido, pelos biblioteconomistas e bibliômanos em geral, e em 
especial pelos bibliopráticos e biblioteóricos.
Mas que quem lê não se iluda: quem quer que já saiba ler lerá 
com encantamento esta introdução à biblioventura — e se enri­
quecerá de (pelo menos) esperança.
Rio de Janeiro, 20 de julho de 1991 
ANTÔNIO HOUAISS
{xiii}
Prefácio à segunda edição
Eu já devia a Antonio Agenor Briquet de Lemos um agrade­cimento pela publicação — em 1988, quando era diretor do IBICT — do meu livro Problemas brasileiros de documenta­
ção. Sou-lhe novamente grato pelo interesse — agora como dinâ­
mico editor privado — na reedição desta Introdução à biblioteco­
nomia. Escrita em 1991, durante duas licenças sabáticas que me 
foram concedidas pela Universidade de Brasília — a segunda, 
aliás, interrompida, em dezembro daquele ano, pela aposenta­
doria por limite de idade — é natural que nela não apareçam a 
internet, o livro eletrônico e a informação digital. Não me ani­
mo, entretanto, a tratar de tão importantes invenções porque 
outros colegas poderão fazê-lo melhor do que eu, absorvido por 
assuntos mais adequados a uma idade já avançada, quando se 
experimenta o que Guimarães Rosa chamava "esta outra vida de 
aquém-túmulo".
Não posso, entretanto, deixar de exprimir o que penso diante 
da pós-modernidade biblioteconômica que estamos vivendo nes­
te alvorecer do século XXI. Sempre lutei contra especialistas fe­
chados em suas especializações, defendendo uma interdiscipli- 
naridade que acabou se impondo aos estudiosos de todas as áre­
as do conhecimento científico, tecnológico e humanístico.
Quando pesquisadores esclarecidos informavam que elemen­
tos já existentes em meados do século passado permitiam prever 
o advento de uma rede mundial de computadores, ainda havia 
entre nós quem afirmasse — parafraseando conhecida boutade 
de Lenin — ser o interesse pelas máquinas 'doença infantil da 
biblioteconomia'. Faltou quem respondesse ao antiquado biblio­
tecário que 'doença infantil' é o receio de outras especializações 
além da nossa. Pois o que hoje se impõe é um brado muito dife­
rente daquele ouvido em 1922 pelas 'margens plácidas' do ria­
cho Ipiranga: Interdependência ou morte! Interdependência tanto 
entre nações como entre especializações.
Em livro recentemente publicado no Brasil — Eremita em Pa­
ris (Companhia das Letras, 2006) — o escritor italiano ítalo 
Calvino deu-nos o exemplo ao declarar sua
paixão por uma cultura global, a recusa da íncomunicabilidade da especi­
alização para manter em vida uma imagem de cultura como um todo uni­
tário, do qual fazem parte todos os aspectos do conhecer e do fazer, e no 
qual os diversos discursos de cada pesquisa e produção específica fazem 
parte daquele discurso geral que é a história dos homens que temos de 
conseguir dominar e desenvolver em sentido finalmente humano (p.171- 
172).
A nova missão do bibliotecário
Estava o apóstolo Paulo perante o Sinédrio — o tribunal dos an­
tigos judeus em Jerusalém — contando ao rei Agripa a sua con­
versão: aquela misteriosa cena da estrada de Damasco em que 
ouviu a voz de Cristo mandando-o pregar o Evangelho. Quando 
falou na ressurreição dos mortos foi interrompido por Pórcio 
Festo, governador da Judéia, que exclamou: "Estás louco, Paulo! 
As muitas letras te fazem delirar" (Atos 26:24).
Faltava a Festo a visão sobrenatural de Paulo. Mas, na verda­
de, o excesso de leituras pode levar ao delírio. Fala-se, por exem­
plo, em delírio filosofante dos que discorrem especulativamente, 
com ares eruditos, sobre temas vagos e pretensamente filosófi­
cos. Noto que ocorre presentemente uma espécie de delírio infor- 
matizante, que pode ser diagnosticado nos que proclamam o fim 
do livro, impressionados com bancos de dados interativos, siste­
mas informatizados de hipertextos, minidiscos laser, ondas ele­
tromagnéticas e fibras ópticas.
Um professor de cinema, rádio e TV da Universidade de São 
Paulo demonstrou, em artigo publicado há vários anos num gran­
de jornal paulista, uma curiosa animosidade contra o livro, con­
siderando-o como "suporte da rotina acadêmica"; esta, segundo 
ele, somente poderia ser superada por programas radiofônicos. 
Incluo-me, porém, entre os que pensam que programas de rádio 
e televisão podem ser tão imbecis como certos livros. Nem al­
guns programas de canais de assinatura escapam da imbeciliza- 
ção em massa que domina tanto a televisão brasileira como a 
norte-americana.
(xvij
O que parece estar havendo entre os defensores da mídia ele­
trônica é um simplismo muito comum entre especialistas. Falta- 
lhes a visão holística da realidade, pois estão prejudicados por 
uma especialização à outrance. Veem tudo fragmentariamente, 
com antolhos unidisciplinares. Pois como já mostrou o poeta e 
jornalista Nelson Ascher, eletrônica e escrita não são excludentes, 
mas complementares.
Com o mesmo simplismo, alguns profetas anunciaram a mor­
te do teatro quando surgiu o cinema e o fim do cinema no adven­
to da televisão. Entretanto, o teatro — inclusive o grego e o 
elisabetano — está muito vivo e o cinema, em vez de substituir o 
teatro, se encarrega de sua difusão, da mesma maneira que a 
televisão exibe os clássicos do cinema e o DVD permite-nos ver 
tudo isso em nossas casas, além de óperas, concertos e grandes 
espetáculos de balé.
Até grandes espíritos como o nosso Sílvio Romero sucumbi­
ram ao simplismo de uma modernidade capenga. Em 1875, pres­
tando concurso para obtenção do grau de doutor pela Faculdade 
de Direito do Recife, o grande sergipano disse que a metafísica 
estava morta. O professor Coelho Rodrigues, que o examinava, 
perguntou se fora ele quem dera o tiro...
E a pergunta que me ocorre fazer aos anunciadores da morte 
do livro: foram os senhores que o mataram? Como Sílvio Romero 
respondeu irritado a seu examinador que a metafísica havia sido 
morta pela ciência e pelo progresso, os pregoeiros da morte do 
livro estão atribuindo-a à mídia eletrônica. Esta, entretanto, con­
vive tranqüilamente com o livro, assim como o teatro convive 
com o cinema e este com a televisão. Apropria metafísica convi­
ve com a modernidade, como prova a existência de filósofos con­
temporâneos do alto nível de Heidegger, W ittgenstein ou 
Habermas.
Em conferência lida na New York Public Library e publicada 
no caderno Mais! da Folha de S. Paulo de 15 de abril de 2002, o 
historiador norte-americano Robert Darnton — professor da 
Princeton University e autor de vários livros especializados em 
história das mentalidades — lamentou que o projeto original para 
o novo campus da Califórnia State University, em Monterey, não 
inclui uma biblioteca. E explicou:
{xvii}
Imaginamos as bibliotecas como o núcleo de nossos campi, mas esse seria 
um novo campus sem uma biblioteca. Os projetistas julgaram que os com­
putadores seriam suficientes, supostamente porque acreditavam que os li­
vros nada mais fossem que recipientes de informação. Hoje muitos estu­
dantes adotam essa atitude, e não só na Califórnia. Acham que pesquisar é 
surfar. Quando escrevem trabalhos costumam surfar na internet, baixar os 
arquivos, recortar, colar e imprimir.
Comentando o texto do professor Robert Darnton, a Folha de S. 
Paulo da mesma data escreveu em editorial o seguinte:
[...] por mais perfeitas que se tornem as bibliotecas virtuais, alguém que 
realmente goste de livros tende a preferir o livro físico, com cheiro,forma e 
mecânica de livro. Não é a mesma coisa adormecer com um bom romance 
na cama ou com um incômodo laptop, ainda por cima ligado à rede elétrica.
Concordamos com o comentário, mesmo correndo o risco de ser­
mos chamados de luditas. A palavra vem do nome do operário 
inglês Ned Ludd, que induziu seus colegas a destruírem máqui­
nas têxteis, entre 1811 e 1816, por julgar que elas, economizando 
trabalho, fossem responsáveis pelo desemprego.
Não queremos ser como os luditas. Não pregamos a destrui­
ção dos computadores. Queremos, isto sim, que sejam utilizados 
como veículos complementares dos livros: complementares e não 
substitutos. Tanto que o pretensamente substituto se chama e- 
book, o livro eletrônico. Lembro a definição de livro como "obra 
em prosa ou verso de qualquer extensão". O fenômeno é o mes­
mo desde a mais remota Antiguidade: alguém exprime, em pro­
sa ou verso, o que vê ou imagina; a expressão, gravada num su­
porte que foi pedra, cerâmica, papiro, pergaminho ou papel, é 
hoje magnetizada em disco rígido de computador.
E claro que o hipertexto com seus links enriquece muito a men­
sagem, assim como a gravura ilustra a mancha tipográfica e a 
transmissão do som dá mais vida à imagem. Tudo, portanto, obe­
dece à lei da complementariedade que é, segundo ouço falar, 
uma das bases da física moderna.
A missão do bibliotecário continua sendo a de orientar os lei­
tores ou, se quiserem, os usuários da informação. Em sua edição 
de 18 de junho de 2001, a revista Time publicou (páginas 58-59) o 
anúncio da empresa h p invent com este título; "O que a internet
{xviii}
precisa é de uma bibliotecária ultrapassada". A gravura mostra 
a bibliotecária Eugenie Prime entre pilhas de livros e o texto diz:
Encontrar o que você deseja na iveb devia ser mais fácil do que encontrar 
um livro na biblioteca. Será assim se Eugenie encontrar a solução. Ela está 
trabalhando para criar um padrão de identificação e catalogação de infor­
mação online — inclusive todos os 2,7 bilhões de páginas da web — um 
sistema decimal de Dewey virtual, se vocês quiserem. Portanto você gasta­
rá menos tempo utilizando a informação que deseja.
Não sei se notaram que estou citando neste prefácio matérias 
publicadas em jornal e semanário. O problema de informação 
não é hoje discutido somente em revistas especializadas: ele che­
gou à imprensa semanal e diária. É um problema de interesse 
geral e não apenas dos técnicos. Nós, bibliotecários, temos de 
evitar o que chamo de erro biblioteconomizante: o de pensar que a 
biblioteca existe para o bibliotecário. Abiblioteca existe para ser­
vir aos que procuram formação, informação e recreação. E os 
bibliotecários devem estar a serviço dessa assembléia de usuári­
os da informação, mesmo que esta forneça — como pretende a 
projetada universidade da Califórnia em Monterey — em vez de 
livros, terminais de computadores.
Note-se que expressão livro eletrônico é constituída pelo subs­
tantivo livro e pelo adjetivo eletrônico. O suporte eletrônico não 
elimina o livro como "obra em prosa ou verso de qualquer ex­
tensão". Outros suportes existiram, como a placa de cerâmica, o 
rolo de papiro, a folha de pergaminho e o sobrevivente papel. O 
livro não deixa de ser livro quando muda o suporte, assim como 
a biblioteca não deixa de ser biblioteca ao tornar-se virtual. Con- 
seqüentemente, o bibliotecário não precisa mudar de nome para 
exercer a sua nova missão. O que ele necessita é de uma forma­
ção em nível de pós- graduação. Mas de uma pós-graduação sem 
antolhos unidisciplinares. A interdisciplinaridade deve ser a ca­
racterística da nova missão do bibliotecário.
Revendo as provas da segunda edição, verifiquei, gratificado, 
que, Antonio Agenor Briquet de Lemos, corrigindo lapsos e atu­
alizando referências, tornou-se não apenas publisher, mas tam­
bém editor (no sentido inglês da palavra) deste livro.
{xix}
De minha parte, acrescento às leituras recomendadas no ca­
pítulo 3.4 (Leitor/leitura) o recente livro de Gilda Maria Whitaker 
Verri Tinta sobre papel: livros e leituras em Pernambuco no século xvm, 
1759-1807 (Recife: Governo do Estado e Editora Universitária da 
u f p e , 2006. 2 v.).
Olinda, outubro de 2006/março de 2007
E.N.F.
{xx}
Introdução
0.1 A palavra biblioteconomia é composta por três elementos gre­
gos — biblíon (livro) + théke (caixa) + nomos (regra) — aos quais jun­
tou-se o sufixo ia. Etimologicamente, portanto, biblioteconomia é o 
conjunto de regras de acordo com as quais os livros são organiza­
dos em espaços apropriados: estantes, salas, edifícios.
0.2 Organizar livros implica tanto ordená-los segundo um sis­
tema lógico de classificação dos conhecimentos e conservá-los para 
que resistam a condições desfavoráveis de espaço e de tempo, como 
torná-los conhecidos — por meio de catálogos, bibliografias, resu­
mos, notícias, exposições etc. — paraquesejamutiíizadospelo maior 
número possível de pessoas interessadas nos elementos formativos, 
informativos, estéticos ou simplesmente lúdicos neles contidos. A 
organização começa antes mesmo do ingresso dos livros nas bibli­
otecas — que se faz por compra, doaçãooupermuta — através de uma 
seleção cuidadosamente atenta aos perfis dos respectivos usuários.
Ò.3 No Vocabularium bibliothecarii da Unesco estão indicadas as 
seguintes palavras ou expressões correspondentes ao português bi­
blioteconomia em cinco línguas: librarianship na Inglaterra e library 
Science nos Estados Unidos da América; bibliothéconomie na França; 
Bibliotheksioissenschaft, Bibliothekswesen ou Bibliotheksfach na Alema­
nha; bibliotecología na Espanha e em países hispano-americanos; e 
bibliotekoveãenie ou bibliotechnoe delo na Rússia (transliteração do 
cirílico ÔHÕJiHOTeKOBefleHHe e 6h6jiho r e hhoe flejio)}
0.4 Em relação à palavra bibliotecología impõe-se o esclarecimento 
de que é usada mais na América hispânica do que na Espanha, onde 
biblioteconomia está consagrada em títulos de livros, revistas e insti­
tuições. O bibliotecário argentino Domingo Buonocore tem razão 
ao proclamar que, etimologicamente, bibliotecología é denominação 
mais abrangente que biblioteconomia, pois em grego o logos é muito 
mais amplo que o nomos.2
0.5 O que me leva a pensar na obra O logos heraclítico, do erudito 
franciscano teuto-brasileiro frei Damião Berge: obra na qual se in-
Introdução À Biblioteconomia 1
forma que o logos "é a palavra, o discurso, a coligir o saber a respei­
to da physis, a tomar visível, em sua enunciação, a physis invisível".3 
E como não há lógica na tradição lingüística, a palavra bibliotecono­
mia consagrou-se, tanto na Espanha e em Portugal como no Brasil, 
como 9 ramo da bibliologia que trata da organização e administra­
ção de bibliotecas.
0.6 A disciplina Introdução à Biblioteconomia não figurava nos 
cursos brasileiros de formação de bibliotecários, que se graduavam, 
conseqüentemente, com uma visão fragmentária do fazer bibliote- 
conômico: aquisição, classificação, catalogação, referência etc. É ver­
dade que nas disciplinas História do Livro e Organização e Admi­
nistração de Bibliotecas poderia o estudante captar o elemento 
unificador. Mas dependia dele mesmo ou do professor.
0.7 Coube à Universidade de Brasília a primazia em considerar 
Organização e Administração de Bibliotecas menos como disciplina 
do que como matéria, desdobrada esta em tantas disciplinas quantas 
são exigidas pelo aumento da produção bibliográfica e conseqüen- 
te complexificação dos serviços bibliotecários: Documentação é uma 
delas; Reprografia outra; e Introdução à Biblioteconomia, da qual 
nos encarregamos^ Disciplina cujo objetivo é mostrar ao futuro bi­
bliotecário as relações tanto entre os di ferentes processos técnicos e 
informativos — relações intradisciplinares — como entre ela e as 
demais disciplinas bibliológicas — relações transdisciplinares — e 
até entre a bibliologia e os conhecimentos científicos e humanísticos 
— relações interdisciplinares.
0.8 Trata-se, portanto, de uma disciplina integradora,que pro­
cura unificar o que na prática administrativa e didática se oferece 
de modo disperso; que procura uma visão de conjunto e, portanto, 
uma filosofia da biblioteconomia.
0.9 Comecemos, portanto, procurando situar a biblioteconomia 
no quadro geral dos conhecimentos. Para tanto, necessitamos de um 
pouco de fenomenologia. Não da fenomenologia no sentido filosó­
fico dado à palavra por Edmund Husserl em sua obra Investigações 
lógicas; e sim num sentido mais genérico, como "pura descrição da­
quilo que aparece", pois em grego fenômeno significa 'o que aparece'.
0.10 Olhando para a realidade que nos rodeia e de que somos 
parte, verificamos que, de um lado, existem as coisas e os fenôme­
2 Edson Nery da Fonseca
nos: coisas e fenômenos que vemos ou testemunhamos; de outro 
lado, existem os conhecimentos dessas coisas e desses fenômenos: 
conhecimentos que resultam de uma sistematização do que nossas 
inteligências aprendem de modo fragmentário; ainda em outro pla­
no, existem os registros dos conhecimentos, resultantes de nossa 
necessidade de comunicação. Teilhard de Chardin denominou os 
dois primeiros planos biosfera (conjunto dos seres vivos) e noosfera 
("o invólucro pensante");4 e Antônio Houaiss cunhou a palavra gra- 
fosfera, definindo-a como o "envoltório escrito".5
0.11 Os conhecimentos acumulados pelo homem através dos 
tempos foram pela primeira vez sistematizados na China antiga; os 
gregos, porém, deram maior ênfase a essa sistematização, princi­
palmente com a obra de Aristóteles, primeiro filósofo a tratar de 
matérias variadas, como a lógica, a física, a psicologia e a antropolo­
gia, a zoologia, a metafísica, a ética, a política, a retórica e a poética.
0.12 Até a Idade Média os conhecimentos estiveram mais ou me­
nos unificados na filosofia. Basta ver o número de tópicos compre­
endidos numa de suas subdivisões clássicas, a cosmologia ou filo­
sofia da natureza: leis gerais da natureza, espaço, tempo, movimen­
to, matéria, força e energia, quantidade e número. A partir do Re­
nascimento, começa a dispersão dos conhecimentos.
0.13 Dispersão e sucessão, porque uns geram ou tros, como a his­
tória natural, por exemplo, da qual saíram a biologia, a zoologia e a 
botânica. Da biologia, por sua vez, surgiram a citologia, a microbio- 
logia e várias outras disciplinas. A fragmentação disciplinar generali- 
zou-se de tal maneira que o pesquisador moderno passou a saber cada 
vez mais de cada vez menos coisas, como observou G.K. Chesterton.
0.14 Culturas pessoais como a de Aristóteles ou a de Leonardo 
da Vinci não são mais possíveis; entretanto, a unidade básica dos 
conhecimentos reponta nas relações tanto entre ciências do mesmo 
tronco — biofísica, bioquímica — como de troncos diferentes — 
psicolingüística, sociobiologia — e até entre conhecimentos cientí­
ficos e humanísticos, como sociologia da arte, cibernética. As pes­
quisas interdisciplinares ajudam o homem na recuperação da uni­
dade perdida.6
0.15 O que ocorre na noosfera projeta-se inexoravelmente na gra- 
fosfera, confirmando a observação de Mallarmé, para quem "tout,
Introdução à Biblioteconomia 3
au monde, existe pour aboutir à im livre".7 Consequência da multi­
plicação das ciências e de suas aplicações tecnológicas é a explosão 
documental, fenômeno comparável à explosão demográfica. Não há 
exagero na comparação, pois segundo o Britannica world data foram 
publicados em 1985 mais de 700 000 livros e mais de 100 000 revis­
tas, calculando-se que tais números tendem a duplicar de dez em 
dez anos.8
0.16 Preocupados com este problema, os pesquisadores belgas 
Henri La Fontaine (1854-1943) e Paul Otlet (1868-1944) fundaram 
em Bruxelas, no ano de 1895, um Instituto Internacional de Biblio- 
^eu objetivo era registrar em fichas a produção mundial de 
impressos: o Repertório Bibliográfico Universal, então inaugurado 
naquela cidade.9 ̂v
0.17 O desenvolvimento da ciência e o da tecnologia — que são 
mutuamente corolários — provocaram o advento de documentos 
não-impressos, como as patentes de invenções e as marcas de fábri­
cas, a que se juntaram os resultantes de aperfeiçoamentos nas técni­
cas de registro do som e da imagem. O norte-americano Thomas 
Alva Edison (1847-1931) — que durante sua vida registrou mais de 
mil patentes, inclusive as da lâmpada elétrica incandescente, do 
fonógrafo e do projetor cinematográfico — propôs a substituição 
da expressão 'bibliographic explosion' por 'documentation explosion'. 
Por ocasião de seu 10.° congresso anual (Haia, 1931), o Instituto In­
ternacional de Bibliografia passou a denominar-se Instituto Inter­
nacional de Documentação. Seis anos depois, fundava-se nos Esta­
dos Unidos o American Documentation Institute. Estava constituí­
da a nova ciência, sistematizada por Otlet em seu Trnité de áocumen- 
tation.10
0.18 Enquanto a matéria-prima da biblioteconomia sempre fora
o texto impresso — avulso (livro) ou periódico (revista) — a docu­
mentação passou a interessar-se pelos documentos de qualquer na­
tureza, também chamados documentos não-convencionais. Mas docu­
mento é, por definição, o suporte da informação, cuja origem, trans­
missão e uso passaram a ser estudados por especialistas em dife­
rentes áreas do conhecimento científico e humanístico.
0.19 Já em 1924 começara a funcionar em Londres uma Associa- 
tion of Special Libraries and Information Bureaux (ASLIB), sob os
4 Edson Nery da Fonseca
auspícios de instituições de pesquisas metalúrgicas. Em 1958 fun­
dou-se na mesma cidade o Institute of Information Scientists. E dez 
anos depois o American Documentation Institute transformava -se 
em American Society for Information Science. Estava institucionali­
zada a ciência da informação, chamada por alguns informatologiaA
0.20 Temos, portanto, uma visão pessoal do relacionamento en­
tre a biblioteconomia, a documentação e a ciência da informação. 
Jamais aceitamos a idéia — tão definida, na década de 1960, por bibli­
otecários norte-americanos e brasileiros — de ser a documentação 
um nome novo para tarefas que a biblioteconomia já vinha desem­
penhando secularmente: para sermos exatos, desde 1627, quando o 
médico francês Gabriel Naudé (1600-1653) publicou seus Aâvis pour 
dresser une bibliothèque. Também consideramos inaceitável que a ci­
ência da informação tenha surgido para substituir a documentação. 
Cada uma delas tem seus objetivos, devendo, porém, atuar "de mãos 
dadas", como o poeta Carlos Drummond de Andrade recomendava 
aos homens do "tempo presente": um tempo de interdependência 
— entre indivíduos, instituições, nações e especializações — e de unifi­
cação, de integração e harmonia, de visão holística do mundo.12
0.21 A fundação, em 1937, do American Documentation Institute 
(ADl) desmistificou uma falácia utilizada por certos bibliotecários 
brasileiros: a de que a documentação surgira na Europa em face da 
ineficiência das bibliotecas daquele continente no estabelecimento 
de sistemas de armazenagem e recuperação da informação (Infor­
mation storage and retrieval). Ficou famosa a frase de mn autor norte- 
americano citado por Suzanne Briet: "a ciência encontrou seu 
Waterloo nas bibliotecas".13 Nos Estados Unidos — argumenta­
vam — a documentação jamais seria acolhida, por causa da eficiên­
cia das bibliotecas desse país. É verdade que houve reações à docu­
mentação da parte de bibliotecários estadunidenses assustados com 
o advento dos documentalistas. A palavra documentação tomou-se 
para eles um verdadeiro tabu. Ainda em 1951, em obra coletiva da 
importância histórica de Bibliographic organization, procurou-se evi­
tar a palavra como que maldita — maldita, certamente, por sua ori­
gem européia — com esta curiosa entrada remissiva no índice: 'do­
cumentation; see bibliographic organization'.14
0.22 O receio da palavra documentação parece ter passado logo,
Introdução à Biblioteconomia 5
tanto que no ano seguinte o bibliotecário Mortimer Taube fundava 
em Washington a empresa Documentation Incorporated, vitoriosa 
até sua morte,em 1965, a julgar pelo número e importância de seus 
associados — mais de 500 — dois dos quais a National Aeronautics 
and Space Administration (NASA) e a United States Air Force 
(USAF) !5 E em 1956 os mesmos organizadores da obra Bibliographic 
organization publicavam outra obra coletiva já com o título Docu­
mentation in action.'6
0.23 Mortimer Taube foi dos primeiros bibliotecários norte-ame­
ricanos que tiveram a corajosa lucidez de aceitar a documentação 
como exigência natural de nossa época, tanto quanto como fenô­
meno comum na história das ciências, desconhecendo conflitos en­
tre juristas, sociólogos e psicólogos em face do advento da crimino- 
logia, ou entre biólogos e químicos diante do nascimento da bioquí­
mica, ou entre engenheiros e fisiologistas por causa da cibernética 
etc.: apenas alguns exemplos de novas disciplinas resultantes de 
outras.17 Taube talvez tenha sido também o último desses bibliote­
cários corajosos e lúcidos, pois pouco depois de sua morte o ADI 
mudava seu nome para American Society for Information Science 
(ASIS), hoje American Society for Information Science and Tech­
nology (ASIS&T). E quase ninguém mais falou em documentação 
naquele país.
0.24 A ciência da informação surgiu em conseqüência de um 
acordo tácito entre bibliotecários e documentalistas, tendo estes acei­
to a nova denominação e aqueles imposto a palavra biblioteca, do 
que resultou a frase hifenizada por George E. Bennett library-and- 
information Science:18 frase consagrada, sem os hífens, tanto nos no­
mes de várias escolas de pós-graduação como nos títulos de impor­
tantes obras de referência. Uma delas, a monumental Encyclopedia 
oflibranj and information Science, cujo corpus principal, em 36 volu­
mes, vem sendo permanentemente atualizado por suplementos.19
0.25 Tudo parecia consolidado, quando Jesse Shera — conside­
rado por Curtis Wright como "uma ponte entre a biblioteconomia e 
a ciência da informação" — faz esta surpreendente declaração, na­
quele que talvez tenha sido o último dos inúmeros textos por ele 
escritos: "Há vinte anos, eu achava que aquilo que hoje se chama 
ciência da informação proporcionava as bases intelectuais e teó­
6 Edson Nery da Fonseca
ricas da biblioteconomia; agora, porém, estou convencido de que
estava errado."!20 . . ,
0.26 É oportuno analisar, mesmo de passagem, o itinerário des 
sa figura exponencial da biblioteconomia. Oprimeiro livro de Shera 
é uma exaltação da biblioteca pública: The foundahons ofthe pubhc 
library.2' Mas em 1953, ao escrever, em colaboração com Margaret 
Egan, a longa introdução para a segunda edição da obra Documen­
tation, do inglês S.C. Bradford, ele recrimina as bibliotecas publicas 
por terem negligenciado os "problemas bibliográficos" da ciência e
da tecnologia, para cuidar apenas da "cultura popular .
0.27 Já manifestamos, em outra oportunidade, nossa discordân­
cia dessa assertiva dos insignes autores, procurando mostrar que as 
bibliotecas públicas devem continuar dedicadas à cultura popular, 
à educação de adultos e à democratização da cultura, deixando os 
problemas bibliográficos da ciência e da tecnologia para as bibliote­
cas especializadas e os serviços de documentação.23 No mesmo ano 
da introdução ao livro de Bradford, Jesse Shera deixou de ser pro­
fessor da Graduate Library School da University of Chicago - uma 
escola de orientação tradicionalmente humanística — para dirigir a 
School of Library Science da Western Reserve University, que logo 
passou a denominar-se School of Library and Information Science. 
Problemas pessoais com James W. Perry, diretor do Center for Do­
cumentation and Communication Research da mesma universida­
de e seu colaborador na organização de várias obras coletivas, leva­
ram Shera a repudiar a ciência da informação.24
0.28 É um caso de sociologia da ciência e foi, como tal, magis- 
tralmente estudado por George E. Bennett em sua ja citadaobra 
Librarians in search of Science and identity: the ehisive profession. Quan­
do se fizer a história do relacionamento, no Brasil, da bibliotecono­
mia com a documentação e a ciência da informação, ver-se-a que, 
guardadas as distâncias, conflitos semelhantes ocorreram entre nos. 
Os rumos do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação 
(IBBD), por exemplo, teriam sido outros, se a orientação do consul­
tor da Unesco, Herbert Coblans, tivesse prevalecido sobre a de Lydia 
de Queiroz Sambaquy, com quem ele teve debates nada suaves (so­
bre o assunto existe dissertação de mestrado ainda inédita, de auto­
ria de Luiz Antonio Gonçalves). Outro exemplo: na origem da re-
Introdução À Biblioteconomia 7
sistência que alguns bibliotecários de São Paulo opuseram à docu­
mentação nos anos 1950 estava o conflito entre a diretora da Biblio­
teca Central — nossa douta e saudosa amiga Maria Luisa Monteiro 
da Cunha — e o diretor do Serviço de Documentação da Universi­
dade de São Paulo, Guelfo Oscar Campiglia.
0.29 E claro que tais conflitos não devem perturbar nossa visão 
do problema. Eles retardam, mas jamais deterão o progresso da ci­
ência, que é inexorável. O fato de os norte-americanos terem substi­
tuído a documentação pela ciência da informação não deve obri­
gar-nos a adotar essa simplificação do problema, talvez decorrente 
de um complexo de superioridade que os leva a subestimar tudo o 
que é europeu, inclusive textos escritos em línguas neolatinas. Acon­
tece que os melhores textos sobre documentação são de autores 
dessas línguas, como o belga Paul Otlet, a francesa Suzanne Briet e 
os espanhóis Lasso de la Vega e López Yepes.
0.30 Repetimos que, para nós, a biblioteconomia, a documenta­
ção e a ciência da informação têm objetivos diferentes. Dentre os da 
primeira, podemos salientar a democratização da cultura — através 
de bibliotecas públicas —, a preservação e difusão do patrimônio 
bibliográfico de cada nação — tarefa das bibliotecas nacionais e das 
bibliografias nacionais correntes e retrospectivas — o apoio docu­
mental ao ensino e à pesquisa oferecido pelas bibliotecas universi­
tárias; à documentação compete fornecer resumos de pesquisas, em 
processo ou já concluídas, tanto quanto de artigos, comunicações a 
congressos, relatórios, teses, patentes etc., e, eventualmente, tradu­
ções e reproduções desses documentos, muitos dos quais não-im- 
pressos; a ciência da informação não veio substituir a documenta­
ção, eis que seu objetivo é estudar a gênese, transformação e utiliza­
ção da informação.
0.31 Não nos alongaremos a respeito da comunicação e da ciên­
cia da informação, porque este livro é uma introdução apenas à 
biblioteconomia, estruturada em tomo de seus elementos princi­
pais, que são o livro, a biblioteca, o leitor e o bibliotecário. No qua­
dro geral dos conhecimentos, ou das ciências no sentido mais am­
plo da palavra, a biblioteconomia aparece como parte das ciências 
documentológicas. Estas, por sua vez, se inserem no campo de uma 
ciência das ciências, proposta pelo físico irlandês John Desmond
Edson Nery da Fonseca
Bemal (1901-1971) em sua obra The social function o f Science.25 Enca­
ramos a ciência das ciências como um dos três ramos do conheci­
mento, que compreende as ciências da natureza, denominação pro­
posta, em 1878, por Du Bois-Reymond,26 e as ciências da cultura, 
como as chamava Rickert,27 ou ciências do espírito, denominação 
preferida por Dilthey.28
0.32 Classificamos a biblioteconomia entre as ciências documen­
tológicas aplicadas: ao lado, portanto, da arquivologia, da museolo- 
gia e dos serviços de documentação científica (a palavra documen­
tação é aqui usada em sentido restrito). As ciências documentológi­
cas de natureza histórico-descritiva são a bibliologia, a bibliografia 
e a bibliometria. Bibliologia é a ciência histórica do livro — como 
surgiu e se desenvolveu até nossos dias — havendo proposta re­
cente de que passe a denominar-se bibliomática, em face da aplica­
ção dejprocessos informatizados na produção e difusão do livro.29 
Na visão original do sociólogo francêsVictor Zoltowski, bibliogra­
fia é a "ciência concreta [que] procura recensear o mundo dos livros 
na sua totalidade, da mesma forma pela qual a demografia procede 
recenseando a população".30 Bibliometria é a aplicação da análise 
estatística tanto à bibliografia geral — macrobibliometria — e à bi­
bliografia especializada — microbibliometria — como, a partir dos 
anos 1960, às citações contidas em textos científicos;31 mediante o 
cruzamento de documentos citados com documentos citantes, con­
segue-se aquela "estatística das idéias" com a qual sonhou Ortega y 
Gasset em 1935, ao atribuir ao bibliotecário do futuro a tarefa de 
"determinar com todo rigor o instante cronológico quando nasce 
uma idéia, o processo de sua difusão, o período exato durante o 
qual perdura como vigência coletiva e, por fim, a hora de seu 
declínio, de seu anquilosamento como mero lugar-comum, enfim, 
seu ocaso além do horizonte do tempo histórico".32
0.33 Essa tarefa, que vem sendo executada por Eugene Garfield 
e seus colaboradores do Institute for Scientific Information, em Fi­
ladélfia, é, para nós, o núcleo da ciência da informação.33 Em 1967 o 
ensaísta francês Henri Lefebvre retomou a idéia de Ortega, supo­
mos que sem conhecê-la.34 Elq fala na possível reconstituição de "ca­
deias de citações" que mostrariam "quão raramente se introduz nos 
textos uma idéia nova [...] onde determinada idéia foi introduzida,
Introdução à Biblioteconomia 9
por quem, aquilo que ela se tornou, como ela se metamorfoseou, 
onde morreu, onde está seu túmulo”. Lefebvre desconhecia que as 
cadeias de citações' são, desde 1963, uma esplêndida realidade, com 
os principais produtos do Institute for Scientific Information: o Sci­
ence Citation Index (1963- ), o Social Sciences Citation Index (1973- ) e 
o Arts and Humanities Citation Index (1978- ).
*
0.34 Este livro não é um manual, como foram, no passado, os dos 
franceses Naudé (1627) e Namur (1834) e dos alemães Petzholdt 
(1866) e Graesel (1893) ou como são, modernamente, os da mexica­
na Juana Manrique de Lara ou da brasileira Heloísa de Almeida 
Prado. Os manuais de biblioteconomia ensinam a organizar e ad­
ministrar bibliotecas. Esta introdução procura oferecer uma visão 
panorâmica da biblioteconomia, seguindo, com nossas limitações, 
os exemplos dos pioneiros Pierce Butler (1933), A. Broadfield (1949) 
e S.R. Ranganathan (1949) e, mais recentemente, A.K. Mukherjee 
(1966), Jesse H. Shera (1976) e Donald Urquhardt (1981). O esclare­
cimento é necessário, porque existem títulos enganadores, como o 
da obra de Edmund Corbett, que, sendo um manual, se intitula An 
introduction to librarianship.35 A bibliografia que, a seguir, recomen­
damos, procura ser exaustiva em relação à filosofia da bibliotecono­
mia, mas é muito seletiva quanto à documentação e à ciência d? 
informação.
*
0.35 Agradecemos ao então Departamento de Biblioteconomia 
da Faculdade de Estudos Sociais Aplicados da Universidade de 
Brasília, hoje Departamento de Ciência da Informação e Docu­
mentação da Faculdade de Economia, Administração, Contabili­
dade e Ciência da Informação e Documentação da mesma uni­
versidade, as duas licenças sabáticas que me foram concedidas para 
redação desta obra; a Cordélia Robalinho Cavalcanti a leitura críti­
ca do datiloscrito e o fornecimento de textos modernos sobre a ma­
téria, e a Antônio Houaiss, tanto por seu generoso prefácio como 
pela honrosa atenção com que paciente e competentemente revi­
sou os originais.
O; ;10 Edson Nery da Fonseca
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Quadro 1. Biblioteconomia, documentação e ciência da informa­
ção: objetivos, instrumentos e ciências conexas
OBJETIVOS INSTRUMENTOS CIÊNCIAS CONEXAS
Formação, informação Organização e adminis- Bibliografia
e recreação através tração de bibliotecas Bibliologia
de todos os tipos nacionais, públicas, Administração
de documentos infantis, escolares, 
universitárias e 
especializadas 
Bibliografias nacionais 
Catálogo coletivo 
Intercâmbio nacional 
e internacional de 
publicações
ISBN
Organização e métodos 
Psicologia
História da civilização
Documentação
Ciência da informação
Informática
Arquívologia
Muscologia
Apoio documentai à Organização e adminis- Bibliografia
pesquisa científica, tração de serviços de Biblioteconomia
humanística e tecno- documentação Bibliometria
lógica, através da Publicações secundárias Artes gráficas
indexação, tradução e terciárias Ciência da informação
e resumo de publi- Reprografia Lingüística
cações primárias Normas técnicas 
Bases de dados 
Disseminação seletiva 
Serviço de alerta
iSSN
Informática
Arquivologia
Museologia
Gênese e comunicação Estatística da produção Bibliografia
da informação bibliográfica Estatística
Emergência de novas Bibliomctria Informática
disciplinas índices de citações Lingüística
Interdisciplinaridade Colégios invisíveis História da ciência
Biblioteconomia
Documentação
Introdução à Biblioteconomia 11
Quadro 2. A biblioteconomia no universo dos conhecimentos
/
Ciências da natureza
Exatas e descritivas
/ matemáticas 
físicas 
, químicas 
biológicas 
mistas
Í médicas agronômicas engenharias*
Humanidades
/
Ciências da cultura
\
Ciências sociais
I filosóficas 
teológicas 
psicológicas 
letras
artes plásticas 
\ música
/ lingüística* 
antropologia cultural 
sociologia 
/ economia 
história 
educação* 
t administração*
(teoria da informação* teoria geral dos sistemas* metodologia*
Ciência das ciências
Documento-
lógicas
/ bibliografia* 
bibliometria* 
bibliologia*
I biblioteconomia* 
arquivologia 
museologia
documentação (sentido 
restrito)*
observação . A biblioteconomia presta serviços a todas as ciências (interdisciplinaridade de 
contribuição) e se utiliza das assinaladas com asterisco {interdisciplinaridade de utilização).
12 Edson Nery da Fonseca
0.36 Referências bibliográficas 
0.36.1 Das citações
1 THOMPSON/Anthony. Vocnbularitim bibliothecarii. 2. ód. Paris: Unesco, 1962, p.151. 
WERSIG, Gernot; Neveling, Ulrich. Terminologi/of documentation. Paris: Unes­
co, 1976, p. 99.
2 BUONOCORE, Domingo. Diccionario de bibliotecología. 2. cd. aum. Buenos Ai­
res: Marymar, 1976, p. 90.
3 BERGE, Damião, O.F.M. O logos heraclítico; introdução no estudo dos fragmentos. 
Rio de Janeiro: instituto Nacional do Livro, 1969, p. 87.
4 CUYPERS, Hubert. Vocabulário de Teilhard. Tract. de frei Eliseu Lopes. Petró- 
polis: Vozes, 1967, p. 16,17 e 76.
5 HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. Rio de Janeiro: Instituto Naci­
onal do Livro, 1967, v. 2, p. 3.
6 APOSTEL, Léo et nl. (ed.) Llnterdisciplinarité; problèmes d'enseignement et de 
recherche dans les universités. Paris: Organisation de Coopóration et de Déve- 
loppement Economiques, 1972, p. 9 et passim.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: 
ímago, 1976, p. 182-203.
7 MALLARMÉ, Stéphane. Le livre, instrument spirituel. Em suas: Oeuvres com­
pletes. Texte ótabli et annoté par Henri Mondor et G. Jean-Auvry. Paris: Galli- 
mard, 1945, p. 378-382. O artigo é de 1895. Sobre as diferentes versões da 
frase, ver: FONSECA, Edson Nery da. "Tudo o que no mundo existe começa 
e acaba em livro." Ciência da Informação, Brasília, v. 10, n. 1, p. 5-11, 1981. 
Reproduzido em Ser ou não ser bibliotecário e outros manifestos contra a roti­
na. Brasília: ABDF, 1988, p. 108-117.
8 E n CYCLOPAEDIA B r íTANNICA. 1990 Brilannica book o f lhe \/ear. Chicago, 
1990, p. 888-893.
PRICE, Derek de Solla. A ciência desde a Babilônia. Trad. de Leônidas Hegenberg 
e Octanny Mota. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da USP, 1976, 
p. 143-171,
9 OTLET, Paul. Traité de docwneutation; le livre sur le livre; théorie et pratique. 
Bruxelles: Editiones Mundaneum, 1934, p. 404-406.
Bradford, S.C. Fifty years of documentation. Em seu: Documentation. 2nd 
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tura, 1961, p. 180-195.
10 Otlet, Paul, Traité de documentation. Op. cit., n." 9.
11 Oten, Klaus; DEBONS, Anthony. Towards a metascience of information: 
informatology. Journal o f the American Socictt/ for Information Science, Washing­
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Fo n s e c a , Edson Nery da. Informatologia. In: Enciclopédia Mirador internaci­
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Introdução à Biblioteconomia 13
12 Andrade, Carios Drummond de. Mãos dadas. Em sua: Obra completa. Rio 
de Janeiro: Aguilar, 1964, p. 111. Deste poema, do qual disse Otto Maria 
Carpeaux que o ajudou a suportar o exílio, ousamos fazer uma paráfrase. 
Ver FONSECA, Edson Nery da. Paráfrase de Carlos Drummond de Andra­
de. Revista da Escola de Biblioteconomia da LíFMG, Belo Horizonte, v. 1, n. 2, p. 
93-100,1972. Reproduzido em: Ser ou não ser bibliotecário. Op. cit., n." 7, p. 77-81.
13 Briet, Suzanne. Qu'cst-ceque ladocumentation? Paris: Éditions Documentai- 
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14 Sl-IERA, Jesse H.; EGAN, Margaret E. (ed.) Bibliographic organizalion. Chica­
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16 SHERA, Jesse II. et al. (ed.) Documentation in action. New York: Reinhold; 
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21 SHERA, Jesse H. Foundations o f the public library. Chicago: University of Chi­
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22 SHERA, Jesse H.; EGAN, Margaret E. A review of the present state of librari­
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9, p. 11-45. Ed. brasileira: p. 15-60.
23 FONSECA, Edson Nery da. Importância da biblioteca nos programas de alfa­
betização e educação de base. Revista do Serviço Público, Rio de Janeiro, v. 
94, n. 3, p. 99-108, jul./set. 1962. Reproduzido em: Problemas brasileiros de 
documentação. Brasília: IBICT, 1988, p. 129-138.
24 Bennett, George E. Librarians in search o f Science and identih/: the elusive pro- 
fession. Op. cit., n." 18.
25 BERNAL, John Desmond. The social fituction o f Science. Cainbridge, Mass.: 
MIT Press, 1939. Ver LÓPEZ YEPES, José. Teoria de la docu-mentación. Pam- 
plona: Universidad de Navarra, 1978, p. 14. Ver também, de Bernal, Historia 
social de Ia ciência. 3. ed. Barcelona: Península, 1973.
26 Du BoiS-REYMOND, Emil I-Ieinrich. Kulturgeschichte und Natunoissenschaf- 
ten. 1878. Apud ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mes­
tre Jou, 1962, p. 130.
27 RiCKHRT, Hcinrich. Logik der Kultunvissenschaften. 1942. Apud ABBAGNANO, 
Nicola. Dicionário de filosofia. Op. cit., n." 26, p. 130.
14 Edson Nery da Fonseca
28 DrLTUOY, Wilhelm. Einleitung in dieGeisteswissenschaften. Apud Amarai,, Ma­
ria Nazaré de Camargo Pacheco. Dilthey: um conceito de vida e uma pedago­
gia. São Pauio: Perspectiva: Editora da USP, 1987, p. xvn.
29 BATICLE, Robert L. Propos sur la bibliomatique. Revue de Bibliologie, Schéma 
et Schématisation, Paris, v. 24, p. 13-18; v. 25, p. 69-74, 1986.
30 ZOLTOW SKI, Victor. Les cycles de 1a création intellectuelle et artistique. 
L'Année Sociologique 1952. Paris: Presses Universitaires de France, 1955, p. 
163-206. Ed. brasileira: Os ciclos da criação intelectual e artística. Trad. de 
Ivanilda Fernandes Costa Rolim, rev. por Cordélia Robalinho Cavalcanti. 
In: FONSECA, Edson Nery da (ed.) Bibliometria, teoria e prática. São Paulo: 
Cultrix: Editora da USP, 1986, p. 71-111.
31 FONSECA, Edson Nery da (ed.) Bibliometria, teoria e prática. Op. cit., n.” 30.
32 O r t e g a y G a s s e t , José. Misión dei bibliotecário y otros ensayos afines. 2. ed. 
Madrid: Revista de Occidente, 1967, p. 88. Para outras edições, ver adi­
ante, em 'D e obras recomendadas'.
33 Garpield, Eugene. Historiographs, librarianship, and the history of Sci­
ence. In: Rawski, Conrad E. (ed.) Tozonrdsa theory o f librarianship. Metuchen: 
Scarecrow, 1973, p. 380-402. Ed. brasileira: Historiógrafos, biblioteconomia 
e a história da ciência. Trad. de José Paulo Paes. In: FONSECA, Edson Nery 
da (ed.) Bibliometria, teoria e prática. Op. cit., n." 30, p. 113-135.
GARFIELD, Eugene. Cilation indexing, ils theory and application in Science, 
technology, and humanities. New York: Wiley, 1979.
34 L e f e b v r e , Henri. Posição: contra os tecnocratas. Trad. de T.C. Netto. São 
Paulo: Documentos, 1969, p. 182.
35 CORBETT, Edmund V. An introduetion to librarianship. Cambridge: J. Clarke, 
1963. 2nd ed. completely rev. and enl. vvith supplement, 1969.
0.36.2 De obras recomendadas
BRIET, Suzanne. Qu'est-ce que la documentation? Op. cit. n." 13. Quarenta e cinco 
anos depois, ainda é um texto válido, embora com dados superados.
B u t i .e r , Pierce. An introduetion to library Science. Chicago: University of Chica­
go Press, 1933. 2nd ed. with an introduetion by Lester Asheim. Chicago: 
University of Chicago Press, 1961. (Phoenix books, 59). Ed. brasileira: Intro­
dução à ciência da biblioteconomia. Trad. de Maria Luiza Nogueira. Rio de 
Janeiro: Lidador, 1971. Esta obra é um dos primeiros produtos da Graduate 
Library School da University of Chicago, que renovou a biblioteconomia 
nos Estados Unidos, dando-lhe orientação humanística. O autor (1886-1953) 
disserta inicialmente sobre a natureza da ciência e aborda a bibliotecono­
mia sob os aspectos sociológico, psicológico e histórico, concluindo com 
considerações de ordem prática. Não concordamos com o titulo da edição 
brasileira porque library Science em nossa língua é biblioteconomia.
B r a d f o r d , S.C. Documentation. Op. cit., n." 9. Formado em química, o autor 
(1878-1948) deixou-se atrair pela documentação ao estudar na biblioteca do 
Science Museum, de Londres, no qual passou a trabalhar. Os ensaios reunidos
Introdução à Biblioteconomia 15
neste volume são baseados na prática bibliotecária de um entusiasta da Clas­
sificação Decimal Universal e do Instituto Internacional de Bibliografia.
BROADFIELD, A. Philosophy o f librarianship. London: Grafton, 1949. Quinze anos 
depois do 'apelo' de J. Periam Danton "por uma filosofia da bibliotecono­
mia" (ver adiante), este autor inglês publicou o primeiro livro sobre a matéria.
COBLANS, Herbert. Librarianship and documentation, an inlernational perspective. 
London: A. Deutsch, 1974. Doutor em físico-química e bibliotecário o autor 
foi, durante dez anos, diretor do serviço de informação científica da Orga­
nização Européia de Pesquisa Nuclear (CERN) em Genebra. Como consultor 
da Unesco, projetou vários serviços informatizados de documentação, como 
o INIS em Viena e o AGR1S em Roma. Obra muito importante, pela visão 
internacional do autor.
CURRÁS, Emilia. Lns ciências de la documentación: bibliotecología, archivologia, do­
cumentación, infonnación. Barcelona: Mitre, 1982.
DANTON, J. Periam. Plea for a philosophy of librarianship. Libran/ Quarterly, 
Chicago, v. 4, n. 4, p. 527-551, Oct. 1934. Professor da Graduate Library 
School da University of Chicago, já referida no comentário ao livro de Pierce 
Butler (vide supra), o autorfoi quem primeiro falou em filosofia da biblio­
teconomia, embora reconheça que em trabalhos anteriores possamos vis­
lumbrar uma abordagem filosófica da matéria. Ele cita as obras de Pierce 
Butler e S.R. Ranganathan (ver adiante).
ESCARPIT, Robert. Théorie généralc de Tinformation et de la communication. Paris: 
Hachette, 1976. Obra indispensável pela abordagem humanística de assun­
tos geralmente estudados sob o aspecto estritamente tecnicista. Recomen­
damos especialmente os capítulos 8 — L'information et ic document (p. 
118-145) — e 9 — Les problòmes documentaires (p. 146-164).
ESTIVALS, Robert. La bibliologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1987 
(Que sais-je? 2374). O que escrevemos de Escarpit pode ser dito de Estivais 
e de sua ampla e lúcida visão de assuntos técnicos. Esta é uma síntese ma­
gistral das idéias do autor, expostas em obras anteriores, algumas já difí­
ceis de encontrar.
f e d e r a ç ã o INTERNACIONAL DF. DOCUMENTAÇÃO. Gnide de la Fédération Interna­
tionale de Documentation. La Haye, 1955.
GATES, Jean Key. Introdnction to librarianship. New York: McGraw-Hill, 1968. 
2nd ed. 1976. Em três capítulos a autora oferece uma história das bibliote­
cas, fala da biblioteconomia como profissão e indica as categorias de bibli­
otecas e de serviços por elas prestados.
HAYES, Robert M. The history of library and information Science: a commenta- 
ry. Journal o f Library History, v. 20, n. 2, p. 173-178, Spring 1985. Comenta as 
comunicações apresentadas à mesa-redonda sobre história da biblioteco­
nomia promovida pela American Library Associationpor W. Boyd Rayward, 
H. Curtis Wright e Francis L. Miksa (ver pelos nomes destes autores).
HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional 
do Livro, 1967. Quase meio século depois da publicação do Traité de docu­
mentation de Paul Otlet (ver adiante), surge em nossa língua o segundo tra­
16 Edson Nery da Fonseca
tado sobre a matéria. O título é modesto para a importância tratadística da 
obra, escrita por um dos mais vigorosos ensaístas brasileiros e ensinando 
tudo a respeito do livro: como pensá-lo, redigi-lo, ilustrá-lo, datilografá-lo, 
imprimi-lo, revisá-lo, citá-lo e referenciá-lo.
KEMP, D. A. The nature ofknowleâge, an introdnction fo r librarians. London: Bin- 
gley; Hamden, Conn.: Linnet Books, 1976.
LASSO DE la V ega, Javier. Manual de biblioteconomia. Madrid: Mayfc, 1952. O 
capítulo inicial sobre a biblioteconomia é, ainda hoje, de grande interesse.
-------, Bibliotecário y documentalista, una fricción y un problema. Revista de
Archivos, Bibliotecas y Museos, Madrid, v. 60, n. 2, p. 451-476, jul./dez. 1954. 
O melhor estudo sobre as relações da biblioteconomia com a documenta­
ção. Por nossa iniciativa foi traduzido e publicado no Brasil: Bibliotecário e 
documentalista: uma divergência e um problema. Trad. de Lygia N. Fernan­
des. Revista do Serviço Público, Rio de Janeiro, v. 86, n. 3, p. 137-155, mar. 1960.
-------. Manual de documentación. Barcelona: Labor, 1969.
LÓPEZ YEPES, José. Teoria de la documentación. Pamplona: Universidad de Na- 
varra, 1978.
MIKSA, Francis L. Machlup's categories of knowledge as a framework for 
viewing library and information Science history. Journal o f Library History, v. 
20, n. 2, p. 157-172, Spring 1985.
MUKHERJEE, A.K. Librarianship, its philosophy and history. Bombay: Asia Pu- 
blishing House, 1966. Considerando a biblioteconomia como ciência social, 
o autor destaca suas funções de ensino, pesquisa e recreação. Também são 
analisadas as relações da biblioteconomia com a história, as ciências bási­
cas, as ciências sociais, a educação, a literatura, a ética e a psicologia. O 
último capítulo é um comentário das cinco leis de Ranganathan (ver adiante).
NlTECKl, Joseph Z. Metaphors of librarianship: a suggestion for a metaphysical 
model. Journal o f Library History, v. 14, n. 1, p. 21-42, Winter 1979.
-------. The concept of information-knowledge continuum: implications for li­
brarianship. Journal o f Library History, v. 20, n. 4, p. 387-407, Fali 1985.
ORTEGA Y GASSET, José. Misión dei bibliotecário. Revista de Occidente, Madrid, 
mayo, 1935. Também nas Actas y trabajos dei li Congreso Internacional de Bibli­
otecas y Bibliografia. Madrid: Librería de Julián Barbazán, s. d., p. 100-122. 
Obras completas. Madrid: Espasa-Calpe, 1943, v. 2, p. 1297-1322. El libro de 
las misiones. Buenos Aires: Espasa-Calpe Argentina, 1940, p. 11-50. Misión 
dei bibliotecário y otros ensayos afines. Madrid: Revista de Occidente, 1962, p. 
59-98. Ed. brasileira: Missão do bibliotecário. Trad. e posfácio de Antonio 
Agenor Briquet de Lemos. Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 2006. Amais 
profunda reflexão sobre "o livro como conflito" e o bibliotecário "como um 
filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem". Só um filósofo 
poderia fazê-la e um ensaísta literário escrevê-la. Ortega era as duas coisas. 
Ele previu o advento do computador e sua aplicação nas bibliotecas ao falar 
de "uma nova técnica bibliográfica, de um automatismo rigoroso". Sobre 
este ensaio existe sugestiva interpretação do professor H.J. de Vleeschauwer, 
da University of South África: Méditation sur un discours. Pretória: Université
Introdução à Biblioteconomia 17
de 1'Afrique du Sud, 1961 (Mousaion, 45). Ver, ainda, sobre o mesmo en- 
saio as pagnias que lhe dedica José López Yepes em Teoria de ia documenta- 
cion (vide referencia supra), p. 75-78.
° ™ ' PauI' l Yf úé de documentation; le livre sur 1c livre; théorie et pratique 
Bruxelies: Editiones Mundaneum, 1934. Obra ao mesmo tempo teórica e 
pratica, como indica o subtítulo, o tratado de Otiet, além de notável para a 
época, ainda hoje pode ser lido com proveito. Pioneiro na formulação de 
vanos conceitos, como o de documento amplamente considerado e o de 
bibliometna, do qual autores de língua inglesa quiseram se apropriar. Ver a 
proposito, nosso artigo: Bibliografia estatística e bibliometria: uma reivin- 
dc Pnorióades. Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 5-
—. Documentos e documentação. Trad. de Francisco Martins Dias Filho. Rio 
e Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, 1947. 31 p. 
(Publicação avulsa n.'* 254), Scparata da Revista do Serviço Público, Rio de
Í ! r !T ' T i ' T \ ? \ 28; 31' mar- 1946; v- 2' n- p- 43-49, abr. 1946. Síntese 
magistral do Traite de documentation, este discurso no Congresso da Docu-
mentaçao Universal (Paris, 1937) desenvolve o conceito amplo de documen- 
o. Merece a mais ampla divulgação, sendo sua leitura indispensável à com- 
preensao do relacionamento da biblioteconomia com a documentação 
Ranganatnan, S.R. Tive laius oflibranj science. Delhi: University of Delhi 1931 
2nd ed. Bombay: Asia Pubüshing House, 1963. Parecendo insistir sobre o 
obvio o autor indiano formado na Inglaterra toca em pontos importantíssi­
mos da biblioteconomia moderna. Eis as cinco leis: Livros são para uso; 
Cada leitor seu livro; Cada livro seu leitor; Poupe o tempo do leitor; Biblio­
teca e um organismo em crescimento. A primeira lei aponta para o livro 
como um meio e nao como tendo um fim em si mesmo; a segunda para a 
seleção de acordo com o perfil do leitor; a terceira para a importância da 
divulgação do livro, antecipando a estética da recepção; a quarta para o 
hvie acesso as estantes, o serviço de referência e a simplificação dos proces­
sos técnicos; a quinta lei decorre da explosão bibliográfica que exige atua- 
hzaçao das coleçoes e previsão do crescimento da área ocupada pela biblioteca 
. 1 reface to library Science. Delhi: University of Delhi 1949
RAWSKi Conrad H. (ed.) Tozvard a theonj oflibrarianship; papers in honor ofjesse 
Hauk Shera. Metuchen: Scarecrow, 1973. Obra coletiva de múltiplo e perma- 
nente interesse, inclui na parte li os seguintes textos de interesse para uma 
ílosofia da biblioteconomia: The interdisciplinarity of librarianship (Conrad
ÍÍVRiâ ST1. /P‘ 6:? 46; The nature of Information Science (B.C. Vickery),p. 
147-168 The contribution of classification to a theory of librarianship (D J 
Foskett), p. 169-186. FV J
IÍAYWARD, W Boyd. Library and information Science: an historical perspecti­
ve. Journal o f Library History, v. 20, n. 2, p. 120-136, Spring 1985
ROBREDO, Jaime; Cunha, Murilo Bastos da. Documentação de hoje e de amanha- 
urna abordagem informatizada da biblioteconomia e dos sistemas de informação 2 
ed. rev. e ampi. Brasília: Edição dos Autores, 1986. Nova edição: Robredo,
18 Edson Nery da Fonseca
Jaime. Documentação de hoje e de amanhã: uma abordagem revisitada e contempo­
rânea da ciência da informação e de suas aplicações biblioteconômicas, documentá­
rias, arquívísticas e museológicas. 4. ed. Brasília : Edição do Autor, 2005.
SARACEVIC, Tefko (ed.) Introduction to information science. New York: R.R. 
Bowker, 1970.
SHERA, Jesse H.; EGAN, Margaret E. Exame do estado atual da biblioteconomia 
eda documentação. In: Bradford, S.C. Documentação. Op. cit., n." 9, p. 15-60.
____ . Introduction to library science; basic elements o f library Service. Littleton, CO:
Libraries Unlimited, 1976. Uma das melhores, senão a melhor introdução à 
biblioteconomia, este livro de Jesse Shera é altamente estimulante. Como o 
tratado de Otiet, esta é uma obra ao mesmo tempo teórica e prática, sendo a 
biblioteconomia do título completada pelo serviço bibliotecário do subtítu­
lo. A abordagem histórica do primeiro capítulo se alonga na visão socioló­
gica do segundo. Vem a seguir um capítulo sobre livros e outro sobre bibli­
otecas, este de autoria de La Vahn Overmyer. No capítulo quinto o autor faz 
uma objetiva análise do relacionamento entre a biblioteconomia, a docu­
mentação e a ciência da informação. O capítulo sexto é dedicado à organi­
zação institucional e bibliográfica da biblioteconomia, e o sétimo ao ensino 
e à pesquisa. O último capítulo, dedicado ao planejamento nacional de ser­
viços de biblioteca e de informação, é de autoria de Margaret Anderson.
-------. Librarianship, philosophy of. In: ALA world encyclopedia o f library and in­
formation Services. Chicago: American Library Association, 1980, p. 314-317.
THOMPSON, James. Library power; a neto philosophy oflibrarianship. London: Bin- 
gley, 1974. A abordagem do autor é realmente nova, além de aliciante, A 
começar pelos títulos dos 12 capítulos curtos: "Imagem", "Contrapartida", 
"Elite", "Estrutura", "Atividades", "Sociedade", "Educação", "Cultura", "In­
fluência", "Compromisso", "Futuro", "Conclusão". Dentre os bibliotecári­
os ingleses e norte-americanos, Thompson é o primeiro que cita Ortega y 
Gasset através da tradução ao inglês de Misión dei bibliotecário: The mission 
of the librarian, Antioch Revieiu, v. 21,1961. Também cita muito seu patrício 
e predecessor A, Broadfield (ver supra). Leitura imprescindível!
-------. A history o f the principies o f librarianship. London: Bingley, 1977. Com a
mesma originalidade com que escreveu uma nova filosofia da biblioteconomia, 
apresenta o autor uma história dos 17 princípios que sumaria no último 
capítulo: 1) as bibliotecas são criadas pela sociedade; 2) as bibliotecas são 
conservadas pela sociedade; 3) as bibliotecas existem para armazenagem e 
disseminação do conhecimento; 4) as bibliotecas são centros de poder (co­
nhecimento é poder); 5) as bibliotecas são para todos; 6) as bibliotecas de­
vem crescer; 7) uma bibliotceca nacional deve reunir toda a iiteratura naci­
onal com as obras mais representativas de outras literaturas; 8) cada livro 
deve ser utilizado: 9) um bibliotecário deve ter boa formação intelectual; 
10) um bibliotecário é um educador; 11) o papel do bibliotecário só pode ser 
importante quando integrado no sistema social e político predominante; 
12) o bibliotecário necessita de treinamento e/ou formação profissional; 13) 
é dever do bibliotecário aumentar o acervo de sua biblioteca; 14) uma bibli-
Introdução À Biblioteconomia 19
oteca deve ser organizada de acordo com normas, oferecendo uma lista do 
que contém: 15) desde que bibliotecas são armazéns do conhecimento, elas 
deveríam ser organizadas por assuntos; 16) a conveniência prática deveria 
determinar como os assuntos são agrupados numa biblioteca; 17) uma bi­
blioteca deve ter um catálogo por assuntos.
UNESCO. Unisist: informe dei estúdio sobre la posibilidad de estnblecer un sistema 
mundial de infonnación científica. Montevideo: Oficina de Ciências de Ia Unes- 
co para América Latina, 1971.
-------. National Information System (NATIS): objectivesfor nationnl and international
action. Paris, 1974,
URQUHART, Donald. The principies o f librarianship. Metuchen: Scarecrow, 1981. 
Tendo organizado e dirigido a National Lending Library for Science and 
Technology, o autor transforma sua importante experiência em princípios, 
incluindo sua passagem pela biblioteca do Science Museum. O primeiro 
desses princípios — as bibliotecas são para os usuários — é quase o mesmo 
estabelecido por Ranganathan na primeira de suas cinco leis da biblioteco­
nomia: os livros são para uso. Mas Urquhart não fala em Ranganathan, 
citando abundantemente trabalhos de sua própria autoria. Parece Descar­
tes no Discurso do método, fazendo tabula rasa de tudo o que se escreveu 
antes dele. Trata-se, entretanto, de uma obra que deve ser lida, por ser fruto 
daquele "saber só de experiência feito" a que se refere Camões. Tem obser­
vações interessantes, como a de que "no library is an island" [biblioteca 
alguma é uma ilha], título, aliás, do penúltimo capítulo, O autor esqueceu 
de esclarecer que apenas parafraseou o verso "no man is an island" [ho­
mem algum é uma ilha] de seu eminente patrício John Donne (1573-1631).
VLEESCHAUWER, H.J. de. Ambiguitics in thepresent-dai/ librar\/. Pretória: Univer-
sity ofSotuh África, 1960 (Mousaion, 36).
. Library Science as a science. Pretória: University of South África, 1960 
(Mousaion, 37-40).
. The fundamental library phenomenon o f our time. Pretória: University of 
South África, 1964-1965 (Mousaion, 77-78). As obras do autor se caracteri­
zam pela predominância da teoria; são ensaios densamente filosóficos, nos 
quais não encontramos uma referência de ordem prática. As poucas cita­
ções de outros autores não são devidamente referenciadas. São, entretanto, 
importantes contribuições a uma filosofia da biblioteconomia,
Wright, H. Curtis. Of mirrors, monkeys, and apostles. Journal o f Library His- 
tory, v. 13, n. 4, p. 388-407, Fali 1978.
. Shera as a bridge between librarianship and information Science Oo 
cit., n." 20. '
ZAHER, Célia Ribeiro. Introdução à documentação. 2. ed. rev. Rio de Janeiro: Edi­
ção da Autora, 1968,
20 Edson Nery da Fonseca
1
Tout, nu monde, existe pour aboutir à itn livre.
Stcphane Mallarmé. Le livre, instrument spirituel. Revue Btnnchc, 1895. (Repro­
duzido em suas Oeuvrcs completes. Paris, Callimard, 1945, p. 378.)
1.1 A palavra livro
1.1.1 Tanto em línguas neolatinas como nas anglo-saxônicas 
a etimologia da palavra livro indica o material com que se fabri­
cava o papel na Antiguidade, isto é, a entrecasca de certos vege­
tais que, transformada em pasta, adquire a forma laminada. Li­
vro em português, libro em espanhol e italiano, livre em francês 
têm a raiz latina liber, librí; book em inglês e Buch em alemão têm 
a raiz grega biblos e biblíon. Ensinam os lexicógrafos que a pala­
vra livro data, em nossa língua, do século Xiu.
1.1.2 Em conseqüência dessa etimologia, a palavra livro é de­
finida pelos dicionários como reunião de cadernos de papel con­
tendo um texto manuscrito ou impresso. Prefiro a boutade de 
Fernando Pessoa: no poema Liberdade ele disse que "livros são 
papéis pintados com tinta".1 A definição está de acordo com o 
vitalismo antiintelectualista e whitmaniano do poeta.
1.1.3 A palavra livro também é definida — definição mais 
apropriada —• como obra científica, literária ou artística; e ainda 
como parte desta obra (por exemplo, 'segundo livro da Eneida'). 
Os dicionários consignam também palavras derivadas de livro, 
como,por exemplo, os depreciativos livreco, livretc, livrório, livro- 
xada, bem como palavras compostas pela adjetivação de livro, 
como, por exemplo, livro falado ou falante (do inglês talking book),
Introdução à Biblioteconomia 21
sendo como tal conhecidos, entre bibliotecários, os textos grava­
dos em discos fonográficos e em fitas magnctofônicas, para uso 
de deficientes visuais, pessoas hospitalizadas etc., tanto quanto 
por qualquer apreciador da voz dos poetas e dos grandes intér­
pretes.
1.1.4 Recorde-se ainda que a palavra livro é usada às vezes 
em sentido figurado, podendo ser citada, como exemplo, a ex­
pressão livro dn vida: " suposto livro em que está escrita a duração 
da vida de cada um", como a define Antenor Nascentes, em seu 
Tesouro da fraseologia brasileira.2 É neste sentido que a expressão 
aparece tanto no Velho como no Novo Testamento. Alguns exem­
plos: "Vi então os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do 
trono, e abriram-se livros. Também foi aberto outro livro, o da 
vida" (Apocalipse 20:12); "O vencedor se trajará com vestes bran­
cas e eu jamais apagarei seu nome do livro da vida" (Apocalipse 
3: 5); "Entrarão somente os que estão inscritos no livro da vida 
do Cordeiro" (Apocalipse 21: 27); também São Paulo se refere 
aos que o ajudaram "na luta pelo evangelho, em companhia de 
Clemente e dos demais auxiliadores meus, cujos nomes estão no 
livro da vida" (Filipenses 4: 3). Ainda a propósito da expressão 
do livro da vida, vale a pena citar o comentário dos editores de A 
Bíblia de Jerusalém: "Os primeiros livros abertos contêm as ações 
boas ou más dos homens; o livro da vida contém os nomes dos 
predestinados".3
1.1.5 Também registra Nascentes a expressão livro do destino: 
"suposto livro em que se imaginam escritos todos os aconteci­
mentos que estão por vir". E acrescenta frases pitorescas, como 
abrir o livro sobre alguém — o mesmo que "soltar-lhe uma des­
compostura" — falar como um livro — que é "usar de palavras 
esmeradas e escolhidas — e isso é dos livros, significando "é regu­
lar, não oferece dúvidas".4
1.1.6 Para uma relação exaustiva de epítetos ou adjuntos ter­
minativos de que se faz acompanhar a palavra livro, consulte-se 
a obra de Antônio Houaiss Elementos de bibliologia;5 título modes­
to demais para um trabalho que só tem um símile em qualquer 
língua: o Traité de documentation, do belga Paul Otlet.6
22 Edson Nery da Fonseca
1.2 O livro como "forma de vida humana"
1.2.1 O livro que nos interessa estudar nesta obra não é o ar­
tefato de papel impresso das definições que acabamos de expor. 
Por isso, não apreciamos ahistória desse artefato — como surgiu 
e evoluiu até seu aspecto atual — mesmo porque essa história é 
objeto de outra disciplina do currículo de biblioteconomia. Inte­
ressa-nos, isto sim, o livro como "forma de vida humana", se­
gundo Ortega y Gasset: "tremenda realidade humana", como es­
creveu ainda o grande ensaísta espanhol.7
1.2.2 Recordo ter encontrado na Casa do Livro de Brasília — 
simpática livraria do casal Noemi (infelizmente já falecida) e Wil­
son Hargreaves, onde tive tantas alegrias bibliográficas — um 
volume bem-encadernado, em cuja sobrecapa está impresso este 
título enigmático: The nothing book.8 Comprei-o justamente para 
entreter-me com meus alunos sobre a "realidade humana" de 
que fala Ortega. Porque apenas a sobrecapa está impressa: na 
sólida encadernação, com guardas cor-de-rosa e no miolo ima­
culadamente branco, nada foi escrito; e só quando o abrimos se 
desvenda o enigma do título: é um livro de mentira, o livro de 
nada, como se diz na gíria de pessoas inócuas: "fulano não é de 
nada".
1.2.3 A rigor, The nothing book não é um livro, ou melhor, ain- , 
da não é um livro. Poderá sê-lo, se alguém escrever em suas pá- 
ginas uma obra científica, literária ou artística. Só então ele esta­
rá de acordo com a sabedoria soerática: livros são "dizeres escri- ■_ 
tos". A definição está no Fedro, um dos mais interessantes diálo­
gos de Platão, considerado como legítima continuação do Ban- j 
quetef E Ortega a enriqueceu de comentários em Misión ácl bibli 
otecario.'0
1.2.4 Definidos os livros como "dizeres escritos", Sócrates 
ensina Fedro a distinguir o verdadeiro do falso livro. O verda­
deiro é aquele cujo autor tem algo de novo a revelar. O discurso 
de Lísias, que tanto empolgara o jovem Fedro, devia ser despre­
zado por sua esterilidade: por não conter em si aquelas "semen­
tes que produzem novas sementes em outras almas".
1.2.5 Enunciada há vinte e três séculos, esta definição de li­
Introdução À Biblioteconomia 23
vro aponta para uma relação que parece nova: a do autor com o 
leitor. Para que exista livro, é indispensável que haja "dizeres 
escritos", que esses dizeres sejam;epifânicos-(como queria Joyce, 
que redescobriu esta palavra teológica) e enriqueçam os leitores. 
O livro é um dos veículos de comunicação e, como é sabido, no 
processo comunicativo o receptor da mensagem é tão importan­
te quanto seu emissor. Como observa Gaétan Picon, senão é para 
outrem que a obra é escrita, ela é "inseparável desse outro e a ele 
se entrega".11 Por isso existe hoje toda uma corrente de teoria 
literária em torno da estética da recepção.
1.3 O livro como conflito
1.3.1 Mais de uma vez recorro a Ortega y Gasset, agora inti­
tulando esta parte do primeiro capítulo com um dos subtítulos 
de seu ensaio-conferência Misión dei bibliotecário. Se os livros, 
como os definia Platão, são dizeres escritos que, uma vez lidos, 
se transformam em novos livros ad infinitum, podemos falar, sem 
hipérbole, em explosão bibliográfico, tão assustadora quanto a ex­
plosão demográfica, da qual é, ao mesmo tempo, origem e conse- 
qüência. Já tratamos do assunto em posfácio da coletânea Biblio- 
metria: teoria e prática, do qual reproduzimos os seguintes pará­
grafos.12
1.3.2 Sabe-se que a primeira explosão demográfica — ocorri­
da no período paleolítico, quando a população mundial era de 5 
milhões — foi provocada pela generalizada utilização de instru­
mentos. Com um desses instrumentos o homem primitivo gra­
vou em pedra seus primeiros dizeres escritos: antecedentes re­
motíssimos do livro.
1.3.3 Devo esclarecer que, ao apontar os pictogramas como 
antecedentes do livro, estou falando em sentido amplo, porque 
a escrita — representação da linguagem verbal articulada — so­
mente surgiria muito depois: por volta de 3 100 a.C. E o alfabeto 
aparecería mais de mil anos depois, isto é, por volta de 1700 e 
1500 a.C. Mas em sentido amplo — repita-se — podemos consi­
derar como escrita "qualquer sistema semiótico de caráter visu­
al e espacial", como ensina Antônio Houaiss.13
24 Edson Ncry da Fonseca
1.3.4 A segunda explosão demográfica — ocorrida quando, 
em oito mil anos, a população mundial multiplicou-se por cem 
— foi provocada pela revolução agrícola, denominação proposta 
por Vere Gordon Childepara substituir o termo neolítico. O aper­
feiçoamento da cerâmica é uma das peculiaridades tecnológicas 
desse período. E ninguém ignora a importância das placas de 
barro cozido como antecedentes do pergaminho, do papiro e do 
papel.
1.3.5 Finalmente, o desenvolvimento da ciência e da tecnolo­
gia, principalmente na área biomédica, aumentando a média de 
vida, fez a população mundial crescer assustadoramente, pre- 
vendo-se que, no ano 2013, poderá atingir sete bilhões. E o de- 
senvqlvimento científico e tecnológico é, ao mesmo tempo, cau­
sa e efeito da explosão bibliográfica, agora caracterizada menos 
em termos de livros do que de outros veículos textuais: artigos 
de periódicos, comunicações a congressos, relatórios de pesqui­
sas etc.
1.3.6 Em seu monumental Traité de documentation, de 1934, 
Paul Otlet estimou em 12 milhões o número de livros publicados 
no mundo após a invenção da imprensa de caracteres móveis 
(meados do século XV). A estimativa atual é de 50 milhões, por­
que houve outras revoluções além da que Gutenberg desenca­
deou. Um ano após a publicação do Traité de documentation, isto 
é, em 1935,

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