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Monografia pré-TCC - Cinema e Arquitetura

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS 
Departamento de Arquitetura e Urbanismo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CINEMA E ARQUITETURA: 
reabrindo as portas do Cine Pathé 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Kleber Mendes Prodígios 
Estudos Preparatórios do TFG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 
2018 
 
 
 
Kleber Mendes Prodígios 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CINEMA E ARQUITETURA: 
reabrindo as portas do Cine Pathé 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho acadêmico apresentado à Professora 
Viviane Zerlotini na disciplina Estudos Prepatórios 
do Trabalho Final de Graduação, para obtenção 
parcial de pontos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BELO HORIZONTE 
2018 
 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
 
FIGURAS 01 a 38 – FONTES DIVERSAS 
APÊNDICE - DESENHOS DE PROJETO DIGITALIZADOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 TEMA………………………………………………………………………………...…….5 
1.1 Questão norteadora.............................................................................................6 
1.2 Hipótese................................................................................................................6 
1.3 Objetivos...............................................................................................................6 
1.3.1 Objetivo geral......................................................................................................6 
1.3.2 Objetivos específicos..........................................................................................7 
2 REFERENCIAL TEÓRICO………………………………………………………….…8 
2.1 Interfaces Arquitetura e Cinema/ Videomapping………………………………8 
2.2 Art Déco em Belo Horizonte …………………………………………………..…12 
2.3 Cinemas de Rua……………………………………………………………….……15 
 
3 PLANO DE AÇÃO…………………………………………………………………….16 
4 CADÊ MEU PATHÉ?.…………………………………………………………….…..17 
5 ESTUDOS DE CASO……………………………………………………………...….23 
6 CONCLUSÃO……………………………………………………………………….…35 
 
APÊNDICES..............................................................................................................36 
REFERÊNCIAS.........................................................................................................40 
 
 
 
 
5 
 
 
1 TEMA 
 
A experiência cinematográfica é parte integrante da cultura de nossos dias. Ir a uma 
sala de cinema, encontrar amigos, conversar, comer. Em tempos de conectividade 
em rede e hipermídias, somos levados a questionar o papel reservado às salas de 
cinema nas práticas socio-culturais contemporâneas. 
 
O cinema de rua tem um imaginário de práticas socio-culturais associados a ele, que 
implicam então uma tradição sociocultural. Como essas práticas podem ser 
transladadas à contemporaneidade, com um projeto de abertura desse espaço, em 
um contexto em que a própria existência da sala de cinema nos moldes vigentes é 
posta em xeque. A conjugação com outros usos é uma alternativa potencial? 
 
O presente estudo toma como ponto de partida a preexistência de um cinema de rua 
de importância histórica e urbana para belo-horizontinos e, por extensão, para os 
mineiros. O Cine Pathé é um edifício com laços afetivos para gerações de mineiros, 
que resistiu à onda de fechamento de “cinemas de bairro” nos anos 80, acabou 
tendo suas portas fechadas nos 90. 
 
Teve sua fachada tombada pelo município, e um projeto de parceria público-privada 
que encenou uma reativação do espaço, mas não vingou. Seu futuro parece se 
equilibrar em uma corda bamba, pondo, de um lado, os interesses dos proprietários, 
e de outro, os clamores de grupos e coletivos organizados que não se esquecem da 
memória afetiva e dos valores cultural e histórico desse espaço. 
 
O projeto de reabertura do Cine Pathé invoca sobretudo a vocação cultural e 
comercial da Savassi. Este trabalho também nos leva a pensar sobre a dicotomia 
entre permanências e inovações, algo que por si só está no cerne de intervenções 
no ambiente construído. Portanto, cai no território de atuação do arquiteto e 
urbanista, no desafio de conciliar tradição e transformação. 
 
 
 
6 
 
1.1 Questão Norteadora 
 
De que modo pode ser proposta a reabertura do Cine Pathé, um antigo cinema de 
rua de Belo Horizonte do ano de 1948, que conjugue a história e sua identidade 
estética original à experiência contemporânea de uma sala de cinema? Que tipo de 
experiência de espaço pode advir da relação entre Arquitetura e Cinema, tendo 
como ponto de partida a intervenção em um cinema de rua art déco emblemático na 
história urbana de Belo Horizonte, o qual foi tombado pela municipalidade e se 
encontra fechado há vários anos? 
 
1.2 Hipótese 
 
Apesar do crescimento do público frequentador de cinemas e teatros que se tem 
observado no Brasil nos últimos anos, a experiência cinematográfica em si tem 
caráter predominantemente homogeneizado, especialmente se colocarmos em 
pauta as estruturas sociais e espaciais associadas aos principais repositórios de 
salas de cinema, os shopping centers. Logo, espaços com características 
diferenciais, que ampliem o repertório envolvido na experiência cinematográfica, 
tornando-o singular, teria um impacto na cultura cinematográfica urbana e 
fomentaria o envolvimento das pessoas em torno dessa arte. 
 
1.3 Objetivos 
 
1.3.1 Objetivo geral 
 
Elaborar um projeto arquitetônico que promova a reabertura do espaço do Cine 
Pathé, na Savassi. 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
1.3.2 Objetivos específicos 
 
a) Realizar uma pesquisa histórica sucinta sobre a história do cinema; 
b) repensar o papel/uso que cabe aos espaços de cinema na contemporaneidade; 
c) traçar o perfil dos públicos frequentadores de espaços de cinema e de coletivos 
afins à temática; 
d) realizar uma análise crítica comparativa de espaços análogos atualmente ativos 
em Belo Horizonte (Cine 104, MIS Santa Tereza, Cine Belas Artes, Cine-Theatro 
Brasil); 
e) realizar uma pesquisa sobre o dossiê de tombamento do objeto de intervenção; 
f) realizar o levantamento do objeto de intervenção bem como avaliar seu estado 
atual de conservação; 
g) propor uma agenda contemporânea para o espaço, com o escopo de múltiplas 
atividades que não restrinja o espaço somente a um cinema; 
h) propor uma identidade estética para os espaços internos (foyer, sala de exibição 
temática); 
i) realizar o estudo de viabilidade econômica de implementação e operação do novo 
espaço. 
 
8 
 
2 REFERENCIAL TEÓRICO 
 
O referencial teórico consiste na revisão bibliográfica aprofundada de assuntos afins 
ao Trabalho, e que foram agrupados em 4 subtemas. 
 
2.1 Interfaces Arquitetura e Cinema/ Videomapping 
 
Assim como a arquitetura, o cinema é uma das artes onde o sentido espacial é mais 
forte. Pelo alcance atual do cinema é pertinente, portanto, que se investiguem as 
relações existentes entre ambos. 
 
A interface entre Cinema e Arquitetura, entre a linguagem arquitetônica e a 
linguagem cinematográfica surge como um potencial de exploração de elementos 
cenográficos, conceituais, identitários, semióticose e o próprio enriquecimento da 
proposta de intervenção. 
 
Jean Nouvel em entrevista à revista AU – Arquitetura e Urbanismo comparou o 
arquiteto a um cineasta. Para ele, "o arquiteto, à semelhança de um diretor de 
cinema, deve saber captar a luz, o movimento, produzindo por meio de seus projetos 
uma coreografia de ritmos, gestos, imagens, tomadas (planos) e fantasia. Saber 
realizar, enfim, a síntese entre o universo real e o virtual." 
 
No livro Arquiteturas Fílmicas, o autor Fábio Allon dos Santos lança luz sobre as 
relações entre o Cinema e Arquitetura, como produtos criativos afins: 
 
“Como toda novidade, o cinema parecia reproduzir o real, tamanha a 
fidelidade com que representava o mundo perante qualquer outro sistema 
até então utilizado (pintura, fotografia, etc.). A introdução da dimensão 
tempo, gerandoa ilusão do movimento, era capaz de convencer o público 
da veracidade da situação representada. Atualmente, graças em grande 
parte às incursões de diversos teóricos numa abordagem semiótica do 
cinema, sabe-se que as imagens cinematográficas são representação, 
diferindo da “realidade concreta” na medida em que são manipuladas por 
seus realizadores. Figurando num sistema de representação, o cinema se 
vale de diversos recursos para sublinhar a realidade representada: jogos de 
luz, sombra e penumbra, uso de cores ou do preto e branco, ângulos de 
9 
 
câmera e uma série de outros artifícios que foram sendo incorporados a sua 
linguagem no percurso de sua história.” 
 
A dialética das duas artes traz à tona as recentes experiências do chamado 
videomapping ou projeção mapeada. É uma técnica que consiste na projeção de 
vídeo em objetos ou superfícies irregulares, tais como estruturas de grandes 
dimensões, estátuas, fachadas de edifícios. Através da utilização de um software 
especializado, objetos de duas ou três dimensões são formados virtualmente, e a 
partir dessas informações o software interage com um projetor para adaptar 
qualquer imagem à superfície do objeto escolhido. 
 
Pode-se dizer que há uma reconstrução do espaço real existente através da adição 
de espaço virtual. Com esta técnica os artistas podem criar dimensões extras, 
ilusões de óptica e noção de movimento em objetos estáticos. Normalmente são 
criadas narrativas audiovisuais por meio da combinação ou desencadeamento do 
vídeo com aúdio. 
Figura 1 - Projeção mapeada na Catedral de Oaxaca, México. Distingue-se a projeção 
animada no corpo da edificação religiosa do coroamento da fachada, apenas 
iluminado em tons lilás. uma sinergia entre o material e o virtual. 
 
 
10 
 
Trata-se assim de uma interessante interface entre Arquitetura e Audiovisual, na 
medida em que a tecnologia de videomapping pode ser empregada para ressaltar os 
atributos estéticos e/ou construtivos de uma edificação histórica, por exemplo, ou 
como ferramenta de intervenção em suportes ampliados da cidade como fachadas 
cegas de prédios residenciais para a arte digital. 
O Festival Chave do Centro, realizado na região de Santa Cecília, em São Paulo, 
em novembro de 2017 trouxe megaprojeções mapeadas para as fachadas de quatro 
edifícios do bairro. Essa intervenção de videoarte foi idealizada pelo artista Alexis 
Anastasiou, cujo recém-lançado livro “Mappingfesto" aponta para um futuro no qual 
as cidades serão modificadas com instalações permanentes de projeções em 
grande formato, possibilitando uma nova era digital na Arquitetura e no Urbanismo. 
O autor propõe a instalação de projeções mapeadas contínuas em predios novos e 
antigos como forma de reconhecimento e interação com o espaço urbano, 
democratizando a arquitetura ao modificar sua materialidade através da projeção de 
imagens. Dessa forma, a paisagem da metrópole seria fortemente marcada por essa 
expressão artística, a qual relaciona o desenvolvimento das técnicas e estética à 
tecnologia de computadores e projetores. 
No caso de um cinema de rua, essa tecnologia ganharia um viés semiológico e 
pedagógico ao conjugar simultaneamente a linguagem cinematográfica à linguagem 
arquitetônica, ao instigar um embate entre o real e o virtual. Sem falar no potencial 
de valorização do patrimônio histórico e arquitetônico proporcionado por esse tipo de 
intervenção artística. 
Além disso, podemos pensar de que forma a Arquitetura pode se comportar ante 
realidades tecnológicas como o videomapping, incorporando-o à expressão da 
materialidade dos edifícios e ressignificando a paisagem urbana a partir da simbiose 
entre o concreto e o imagético. 
 
 
 
11 
 
 
 
 
 
 
Figuras 2-4 – Capa e fotografias retiradas do livro Mappingfesto, de Alexis 
Anastasiou. 
 
 
 
 
 
12 
 
2.2 Art Déco em Belo Horizonte 
 
O estilo arquitetônico Art Déco, o primeiro sopro de um modernismo em Belo 
Horizonte, se consolidou em um período de notável mudança social, política e 
econômica pós 1930. Um estilo que pode ser considerado como a primeira 
arquitetura moderna do Brasil e responsável pelo rompimento com os estilos 
utilizados na República Velha. 
Várias edificações representativas desse estilo na capital eram cinemas ou cine-
theatros, algumas delas inclusive tendo sido tombadas pela municipalidade, a 
exemplo do Cine Brasil, do Cine México, do Cine Pathé. 
O Guia do Bem é uma plataforma digital que apresenta informações 
georreferenciadas sobre os bens tombados da capital, entre os quais podemos 
encontrar as informações disponibilizadas sobre o Cine Pathé, localizado à Avenida 
Cristóvão Colombo, 315. 
Nessa plataforma digital encontra-se a caracterização do art déco, bem como sua 
expressividade no Brasil e em Belo Horizonte, 
“O movimento conhecido como art-déco é o arauto da modernidade. 
Representa uma transição entre a presença do ornamento, aí entendido de 
uma maneira mais racional e mais próxima do fazer industrial, e seu 
banimento completo preconizado no purismo modernista identificado com o 
less is more e a máxima loosiana de que o ornamento seria um crime. 
Segundo CONDE e ALMADA, o estilo se caracterizava por seis 
características arquitetônicas: composição de matriz clássica (simétrica/ 
axial, tripartida em base, corpo e coroamento), tratamento volumétrico das 
partes constituintes com predominância de cheios sobre vazados, 
geometrização e abstração, composição com linhas e planos verticais e 
horizontais fortemente contrastados; articulação com design e interiores; 
estruturas em concreto armado; plantas flexíveis, com acesso por hall e 
iluminação feérica e cenográfica.” 
 
 
 
13 
 
 
 
Figuras 5 e 6 – Dois edifícios representativos do art déco em Belo Horizonte: 
acima, já demolido, o Cine Metrópole, de 1941, de autoria de Raffaello Berti; 
abaixo, o Cine Brasil, de 1932, ainda de pé na Praça Sete. 
FONTE: historiadocinemabrasileiro. 
 
 
14 
 
De todo modo, o déco veio ao encontro da mentalidade progressista da nova capital 
e, portanto, teve nela ampla acolhida. Inicialmente reconhecido como “cubista”, 
“futurista" ou “moderno”, o déco em Belo Horizonte apresentou manifestações 
dignas de serem catalogadas entre as mais belas e criativas do panorama brasileiro. 
O art déco foi a linguagem arquitetônica dos principais edifícios de cine teatro de 
Belo Horizonte das décadas de 30 e 40, época em que a cultura do cinema ganhava 
força na cidade. 
Dentre eles, o edifício do Cine Theatro Brasil se destacava na paisagem urbana com 
sua fachada em ângulo curvilíneo, que demarca a esquina da Avenida Amazonas 
com a Rua dos Carijós, e com acabamento típico desse estilo. A fundação do prédio, 
em 1932, trouxe para Belo Horizonte uma nova concepção na utilização de espaços 
na cidade, pois reunia em um único local: sala de cinema; galerias comerciais; bares 
e escritórios. 
O prédio permaneceu como o mais alto de Belo Horizonte até 1943, e graças às 
suas características arquitetônica o Cine Theatro Brasil transformou-se em ícone da 
modernidade e marco na evolução técnica da engenharia em Belo Horizonte. 
Como expresão de um tempo, o patrimônio art déco de Belo Horizonte deve ser 
protegido e valorizado, especialmente no que diz respeito aos cinemas de rua 
originalmente concebidos nesse estilo, pois evocam a memória coletiva da 
população, e guardam simbolicamente os valores e as práticas daquele tempo, que 
podem vir a ser retomados em períodos posteriores. 
 
 
 
 
 
 
15 
 
2.3 Cinemas de Rua: memória e valores 
 
Como marcas do espírito de um tempo, os cinemas de rua são depositários de 
memórias e valores de uma parcela da sociedade. Os cinemas de rua de Belo 
Horizonte ficavam perto dos cafés mais tradicionais da cidade e as ruas ficavam 
lotadas com as pessoas que saíam dos filmes, ao ar livre, e ficavamcomentando 
sobre eles. Hoje, com a migração das salas para os shopping centers o espaço para 
o debate e a fruição ficou reduzido. 
 
A emergência dessa nova manifestação artística propôs a abertura de um enorme 
leque de atividades sociais, influindo diretamente no cotidiano das cidades. Segundo 
Zanella: 
Com o cinema, o mundo passa a observar a imagem como espetáculo, 
instituindo uma inédita reorganização do olhar ancorada à narrativa 
cinematográfica, uma linguagem nova, intimamente relacionada com o 
conjunto de transformações sociais denominado modernidade (Zanella, 
2006, p. 24). 
 
Os antigos cinemas de rua eram vistos como verdadeiros templos em virtude da 
arquitetura dos prédios. A impecabilidade dos prédios como ambientes de luxo com 
mármore, veludos, espelhos e banheiros deslumbrantes. Era possível perceber dois 
aspectos que caracterizavam o cinema de rua por volta das décadas de 30 e 40: 
local de visibilidade social e ambiente de lazer. 
 
O saudosismo em torno desses espaços é traduzido pelas memórias de vínculos 
afetivas e das vivências associadas a ele. Experiências essas que se tornam formas 
de resistências nos poucos cinemas de rua que ainda subsistem. 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
3 PLANO DE AÇÃO 
 
O plano de ação da pesquisa foi montado com base nos tópicos dos objetivos 
específicos, apresentados na seção Objetivos. 
 
Quadro 01 – Plano de ação 
 
Objetivos 
específicos 
Classificação Instrumento 
de coleta de 
dados 
Fontes de 
pesquisa 
Tratamento 
de dados 
 Quanto à 
finalidade 
Quanto aos 
meios 
a exploratória bibliográfica bibliográfica livros,revistas qualitativa 
b explicativa bibliográfica bibliográfica livros,revistas qualitativa 
c explicativa bibliográfica bibliográfica livros,revistas qualitativa 
d descritiva estudo de 
caso 
bibliográfica/ 
observação 
Visita de 
campo 
qualitativa 
e descritiva pesquisa-
ação 
entrevista Visita de 
campo 
qualitativa 
f intervencionista levantamento observação edificação qualitativa 
g intervencionista bibliográfica bibliográfica livros,revistas qualitativa 
h aplicada observação bibliográfica livros,revistas qualitativa 
i aplicada observação bibliográfica livros,revistas qualitativa 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
4 CADÊ MEU PATHÉ? 
 
Há cerca de 70 anos atrás, bastava atravessar a Avenida Cristóvão Colombo, na 
região da Savassi, em Belo Horizonte, para se ver grandes títulos 
hollywoodianos projetados em uma das telas mais sofisticadas da época. Além da 
novidade tecnológica, mil lugares e poltronas confortáveis faziam do Cine Pathé, um 
dos cinemas de rua mais prestigiado da capital: batizado em homenagem ao 
magnata francês da sétima arte, Charles Pathé, o espaço se tornou ponto de 
encontro para famílias inteiras e jovens apaixonados por cinema. 
2017, sem letreiro, portas fechadas, nada de espetáculo. Quem passa em frente ao 
Cine Pathé ainda encontra a bela fachada do imóvel preservada. Tombado pelo 
Patrimônio Histórico Municipal, ele deixou de exibir clássicos europeus e longas 
independentes, além de películas norte-americanas, para abrigar parcialmente um 
estacionamento. Desde suas últimas exibições, em 1999, o local também já serviu 
de sede para uma igreja evangélica e para um shopping popular, mas por pouco 
tempo. Os empreendimentos enfrentaram resistência por parte da população, de 
urbanistas e de outros interessados em ocupar o prédio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8 – Fachada do Cine Pathé fotografada em 1999, ainda com o letreiro 
do cinema. FONTE: O Tempo. 
18 
 
Diante das distintas ocupações do Pathé, um movimento criado nas redes sociais 
fez coro para pedir que o cinema fosse reaberto ao público. Entre os argumentos 
dos participantes da iniciativa, que se mobilizam por meio de uma página no 
Facebook, está a importância histórica do local para a cidade. Fora da internet, 
cartazes foram colados e perguntas escritas na entrada do imóvel em atos de 
protesto pelo funcionamento da sala de exibição, cuja história já virou livro pelas 
memórias e mãos da socióloga mineira Maria Celina Pinto Albano, nascida na 
capital e antiga frequentadora do lugar. “Cadê meu Pathé?” e “Cadê o cinema que 
estava aqui?” foram algumas das expressões estampadas no local. 
 
 
Figura 9. FONTE: Bhaz. 
 
Em 2013, a Fundação Municipal de Cultura (FMC) chegou a anunciar a reativação 
do cinema. A promessa do órgão, ligado à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), era 
de que o espaço seria revitalizado e inaugurado no fim do último ano. O projeto 
previa a criação de um complexo cultural com direito a um café e a uma galeria de 
arte. A novidade seria concretizada graças à uma parceria com a iniciativa privada: o 
Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município aprovou planos 
da Farkasvölgyi Arquitetura e da PHV Engenharia para a construção de um edifício 
de nove andares no local. 
19 
 
Com entrada pela rua Alagoas, o comercial ainda teria dois níveis subterrâneos 
como garagem. Em troca, o cinema seria doado ao município. Por fim, o projeto não 
vingou e os usos subsequentes levaram à remoção do letreito do cinema bem como 
das poltronas originais para dar espaço a um pátio de estacionamento de veículos. 
 
Figuras 10 e 11 – Galeria do cinema transformada em pátio de estacionamento. 
FONTES: Bhaz e tudopodemudar. 
 
No volume dedicado ao Cine Pathé, da Coleção BH – A cidade de cada um, a autora 
Celina Albano revela que uma forte referência do espaço era sua programação 
diferenciada: 
“Sua programação ousada priorizava filmes consagrados pela crítica, mas 
de difícil comercialização. A exibição no Pathé era, no entanto, garantia de 
boa bilheteria. (..) O prestígio da programação do Pathé era tão forte que 
levantava a bilheteria de filmes que tinham sido grandes fracassos nos 
cinemas do centro.” (CINE PATHÉ, pp. 86-87) 
 
 
Outro trecho que explicita as particularidades de sua programação: 
 
“O Cine Pathé foi o rei dos festivais temáticos. Uma ótima estratégia para 
promover o cinema e aumentar o número de espectadores. (...) Mas 
também abriu espaço para o cinema mineiro.” (CINE PATHÉ, pp. 86-87) 
 
Em 1999 o Cine Pathé foi alugado à Igreja Cristã Apostólica Renascer em Cristo, 
que manteve o imóvel razoavelmente preservado. Com a saída da igreja, em julho 
de 2003, foi elaborado um projeto de revitalização do cinema que seria alugado pela 
20 
 
Prefeitura. O alto valor do aluguel e a falta de interesse da empresa BLT, dona do 
imóvel, em ser parceira desse empreendimento inviabilizaram sua execução. Por 
motivos financeiros foi descartada a desapropriação pela administração municipal. 
 
Em 2004 a rede Infoshop alugou o imóvel e a sala de exibição foi totalmente 
desmontada. Em 2007, o espaço do antigo cinema mais uma vez recebeu a placa 
“Aluga-se”. Em maio, uma campanha em defesa da recuperação do Cine Pathé, 
iniciada pelo semanário Beagá Savassi, ganhou ampla repercussão no meio cultural 
da cidade. No início de 2008 o imóvel foi alugado para ser estacionamento da Minas 
Park. 
 
 
 
 
Figuras 12-15 – Registros de diferentes momentos por que passou o prédio do Cine 
Pathé, na Savassi. FONTES: Skyscrapercity, Estado de Minas, Revista Encontro, 
historiadocinemabrasileiro. 
 
 
 
 
 
 
21 
 
Quanto ao contexo urbano, o prédio do Cine Pathé está localizado bem próximo ao 
coração da Savassi, simbolicamente representado pela Praça Diogo de 
Vasconcelos, no cruzamento das Avenidas Getúlio Vargas e Cristóvão Colombo. A 
vocação cultural e comercial da Região pode ser confirmada pela proximidade com o 
Circuito Cultural da Praça da Liberdade, pela vida noturna agitada com bares, 
boates e cafés, e pela programação variada de eventos de rua que acontecem ao 
longo do ano. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 16 – Área correspodente à 
Savassi. FONTE: Google Maps. 
 
 
Figura 17 –Inserção Urbana a partir de vista aérea. FONTE: Google Earth. 
22 
 
Na seguinte passagem lemos um depoimento do escritor Roberto Drurevela acerca 
da Savassi, revelando como o bairro era o epicentro da vida cultural da Savassi nos 
anos 70: 
“O escritor Roberto Drummond dizia que Belo Horizonte „só perdeu seu ar 
de província depois que descobriu a Savassi‟. E ele estava certo. Invenção 
do capital imobiliário que utilizou o nome da padaria para valorizar uma 
parte do bairro dos Funcionários, essa área criou novos usos e costumes. 
(...) Nesse novo território, o cine Pathé era a principal referência cultural, o 
epicentro para vários outros pontos da Savassi, da cidade.” (CINE PATHÉ, 
p. 86) 
 
Esse trecho evoca a vocação cultural e comercial do endereço, o que corrobora o 
potencial de reabertura do espaço, com uma agenda contemporânea. 
 
O lote do imóvel atravessa o quarteirão entre a Rua Alagoas e a Avenida Cristóvão 
Colombo e apesar da profundidade do lote e do volume original do prédio, a fachada 
em si, à Avenida Cristóvão Colombo, é discreta. 
 
 
Figura 18 – Elevação da Avenida 
Cristóvão Colombo obtida de modelo 
digital. FONTE: Sketch Up. 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
5 ESTUDOS DE CASO 
 
Esta seção tem por objetivo levantar experiências atuais de concepção de espaços 
destinados à exibição cinematográfica, desenvolvendo uma análise crítica de seus 
processos e atributos. 
 
5.1 Belas Artes, meu amor 
 
Localizado à rua da Consolação, 2423, quase esquina com a Avenida Paulista, o 
Cine Belas Artes é um eminente espaço de exibição de filmes do Centro de São 
Paulo desde 1956. Como Cine Belas Artes, foi inaugurado em julho de 1967 com o 
filme de abertura “Os russos estão chegando”, programado pela Sociedade Amigos 
da Cinemateca. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figuras 19 e 20 - Cartaz do filme de inauguração e localização do prédio do Belas 
Artes. FONTES: Belas Artes e Google Maps. 
 
 
Em 1980 ganhou a divisão de seis salas, existentes até hoje, batizadas cada uma 
com o nome de um artista brasileiro: Villa-Lobos, Portinari, Niemeyer, Aleijadinho, 
Mario de Andrade e Carmen Miranda. Devido a sua programação alternativa, 
mesclando filmes de procedências variadas e mantendo alguns deles por longo 
24 
 
período em cartaz, o Cine Belas Artes tornou-se um dos mais importantes pontos de 
encontro intelectual e artístico da cidade. 
 
Em meados de 2002 o cinema quase foi fechado. André Sturm e a O2 Filmes 
assumiram o prédio, que passou por uma grande reforma em 2003, e foi inaugurado 
em 2004 com a exibição simultânea em todas as suas salas de „Do outro lado da 
rua‟, estrelado pelos mestres do cinema brasileiro Fernanda Montenegro e Raul 
Cortês. 
 
O cinema permaneceu com sua programação diferenciada, com uma média de 10 
filmes em cartaz por semana, e uma variação de gêneros desde filmes de arte a 
clássicos antigos, passando por produções contemporâneas capazes de agradar ao 
público mais exigente e informado dos tempos atuais, até 2011, quando depois de 
muitas negociações o Cine Belas Artes teve suas portas fechadas. 
 
Como consequência se iniciou na cidade de São Paulo um movimento pelo não 
fechamento do cinema – Contra o fechamento do Cine Belas Artes. Os mais 
diversos frequentadores do espaço, cinéfilos e cidadãos se uniram e somaram mais 
de 90 mil assinaturas, realizando a maior mobilização já ocorrida no Brasil em 
defesa de um patrimônio cultural. Porém não foi possível evitar o fechamento. 
 
Em 2013 o cinema teve sua fachada tombada pelo patrimônio histórico estadual, e 
em 2014, três anos após o fechamento, a Prefeitura de São Paulo e a Caixa 
Econômica Federal viabilizaram a reabertura do clássico cinema. Ainda em 2014, o 
cinema ganha como sócia a ASAS, um colaborativo internacional de inteligência 
criativa fundado pela cineasta Paula Trabulsi. 
 
Observa-se, portanto, que no processo de "reexistência" do Belas Artes a 
participação da sociedade civil orgazinada em torno do Movimento Cine Belas Artes 
(MBA) foi decisiva. Isso demonstra o valor da cultura cinematográfica, materializada 
nesse espaço de exibição de filmes do centro da cidade, para a cultura urbana de 
São Paulo, a maior metrópole da América Latina. 
 
No portal eletrônico do MBA, entendemos um pouco mais sobre sua causa: 
25 
 
“O Movimento Cine Belas Artes (MBA) é um movimento social independente 
de cidadania cultural que luta pela preservação do Cine Belas Artes, 
fundado como patrimônio material, imaterial, afetivo, cultural e histórico da 
cidade e do Estado de São Paulo e do Brasil no mesmo endereço onde foi 
fundado seu antecessor, o Cine Trianon, em 1952. (…) Reúne 
frequentadores do tradicional cinema de Rua de São Paulo e pessoas 
simpáticas à causa de proteção e preservação dos cinemas e espaços 
culturais de rua e galeria no Brasil.” 
 
Quanto à sua organização e história, o movimento foi criado em janeiro de 2011 
após uma passeata feita nos arredores do cinema contra seu fechamento, 
anunciado no início daquele ano, devido à alta exorbitante do aluguel, que passaria 
de cerca de 600 mil reais para 1,8 milhão de reais por ano. 
 
Com atuação voluntária e recursos financeiros de seus ativistas, o MBA 
protagonizou uma das maiores e bem-sucedidas mobilizações já promovidas no 
Brasil em defesa de um patrimônio cultural e afetivo. Promoveu inúmeras coletas de 
assinaturas nos abaixo-assinados, debates, atos públicos, manifestações de rua, 
importantes negociações nas três esferas de governo, alimentou o Ministério Público 
Estadual com documentação e depoimentos bem como angariou apoios de 
personalidades dos mundos da cultura e da política e na sociedade civil. 
 
A manutenção do edifício, construído com instalações próprias para a exibição de 
filmes foi fundamental para manter acesa a esperança de retorno do cinema, desta 
vez consolidado como um cinema da cidade, um patrimônio afetivo, cultural e 
histórico, muito mais do que um negócio com dono. 
 
Figuras 21 e 22 - Dois momentos de celebração pela reabertura do Cine Belas Artes. 
26 
 
Na falta de recursos para comprar o prédio, a Prefeitura procurou o apoio da Caixa 
Econômica Federal, um banco público, que topou patrocinar o cinema após meses 
de negociações. Fundamental para a decisão da Caixa foi a dimensão pública do 
Cine Belas Artes, que foi destacada pela mobilização social cidadã conduzida pelo 
MBA. 
O contrato de patrocínio foi assinado com o gestor privado no final de janeiro de 
2014, com validade de 5 anos, suficiente para cobrir o novo valor pedido para o 
aluguel do prédio. A condição estabelecida para a Caixa para apoiar o cinema é o 
acordo de cogestão do espaço entre o gestor privado e a Prefeitura de São Paulo, 
por intermédio da Secretaria Municipal de Cultura (SMC). 
 
Para além das questões socias e econômicas apresentadas anteriormente 
relacionadas ao processo de reabertura do cinema, devemos proceder a uma 
análise dos atributos arquitetônicos e ambientais do espaço construído do Cine 
Belas Artes Caixa. 
 
A fachada do edifício, tombada em nível estadual, apresenta grande permeabilidade 
visual no térreo, integrando o foyer do cinema à calçada. Sob generosa marquise 
que protege os transeuntes, lê-se o letreiro indicativo do cinema, cuja tipografia 
característica harmoniza com o conjunto edificado. Acima da marquise há um pano 
de vidro centralizado na fachada que dá para o pavimento superior. O restante da 
elevação é predominantemente cega. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 23 - Fachada do cinema a partir da Rua da Consolação, São Paulo. 
27 
 
O tombamento da fachada, aprovado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio 
Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) 
em outubro de2012, impede alteração na fachada (panos de vidro) e em até quatro 
metros para dentro do espaço. Tal medida visa garantir a preservação das 
características históricas do cinema, mesmo que futuros locatários abram outro tipo 
de negócio no imóvel. 
 
O foyer tem boa comunicação com a rua e atmosfera própria, favorecendo o 
encontro e a fruição do lugar. A combinação de salas com nomes e não numeradas 
como de costume, de uma ambiência com iluminação e mobiliário precisos no 
concourse do edifício, com uma programação de filmes diferenciada confere ao 
espaço do Cine Belas Artes uma personalidade muito própria. 
 
 Figuras 24 e 25 - Vistas do foyer do cinema. 
 FONTE: Flickr. 
 
No esteio do projeto de reabertura do espaço, além das salas originalmente 
batizadas com nomes importantes do cenário artístico brasileiro, um novo espaço 
inaugurado salta aos olhos. Trata-se de uma sala de exibição temática batizada 
como sala Drive-in. Ela recria o conceito dos antigos cinemas drive in em um espaço 
interno, com bancos de carro no lugar de poltronas individuais, iluminação nas 
paredes simulando farois de veículos e um bar ao fundo da sala, onde os 
frequentadores podem fazer seus pedidos antes e durante a sessão. 
 
Como resultado temos uma experiência de sala de cinema totalmente inusitada, que 
foge do circuito comercial de salas de cinema de shoppings centers. Esse espaço 
28 
 
singular confere ainda mais originalidade no que diz respeito não somente à 
experiência cinematográfica mas à própria experiência espacial do lugar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
] 
 
 
 
Figura 26 - Perspectiva da sala Drive-in, no Cine Caixa Belas Artes SP. 
 
Diante do exposto, o papel desse espaço de cinema para vida urbana de São Paulo 
está sintetizado no seguinte texto do MBA: 
 
“A volta do cinema só faz sentido na medida em que empodera os cidadãos 
e respeita a dimensão pública do Belas Artes, resultante de seu valor 
enquanto patrimônio afetivo, cultural e histórico da cidade, do Estado e do 
Brasil e da parceria desenvolvida entre a sociedade civil e o poder público 
desde janeiro de 2013. Tal parceria visa gestar um modelo inovador de 
preservação de espaços culturais relevantes para a população. Acreditamos 
que apenas esforços conjugados entre a iniciativa privada, o poder público e 
a sociedade civil poderão levar à retomada ou manutenção dos poucos 
cinemas de rua de qualidade que restam no país. Em um contexto de 
descrença generalizada e hegemonia do mercado imobiliário no 
desenvolvimento urbano no Brasil, a reabertura do Belas Artes dará nova 
vida às calçadas da Consoloção e novo fôlego às lutas por mais cultura, 
cidadania e sustentabilidade ambiental nas cidades brasileira.” 
 
 
 
 
29 
 
5.2 MIS Santa Tereza 
 
Em Belo Horizonte, um projeto afim diz respeito à restauração do antigo Cine Santa 
Tereza, no tradicional bairro homônimo pericentral. Trata-se de um dos principais 
patrimônios edificados do bairro, a edificação da antiga sala de cinema projetada 
pelo arquiteto italiano Raffaello Berti e inaugurada em 1944, que preserva traços da 
arquitetura art dèco e é um dos lugares mais afetivos para a população de Santa 
Tereza. 
 
Convém lembrar que, na década de 40, surgem outros importantes edifícios 
análogos de estética art déco em Belo Horizonte, como o Cine Brasil e o Cine Pathé. 
Era a época em que o cinema começava a ganhar força no país. 
 
A edificação foi reaberta ao público em abril de 2016, após ter seu imóvel histórico 
revitalizado, para suprir uma demanda de moradores do bairro, da cidade e do setor 
cultural, por espaços de difusão, circulação e criação artística, especialmente 
daquela vinculada a linguagem audiovisual. 
 
Localizado em um espaço historicamente dedicado à cultura cinematográfica, o 
recém-convertido Museu da Imagem e do Som, tornou-se o primeiro cinema de rua 
de cárater público municipal da capital mineira. Além da sala de exibição, conta com 
biblioteca pública, salão multiuso e cafeteria. 
 
Ao proporcionar a experiência individual e coletiva do cinema em sua sala de 
exibição, o MIS Santa Tereza oferece cinema digital em alta resolução de imagens e 
tem como um de seus eixos a democratização do acesso ao cinema e ao 
audiovisual produzidos ao longo do tempo e em diferentes lugares, oferecendo ao 
público produções cinematográficas em diálogo permanente com outras linguagens 
artísticas. 
 
 
 
 
30 
 
Dentro dessa proposta, ocupam lugar de destaque o cinema produzido em Minas 
Gerais, ontem e hoje, cuja circulação é fomentada e valorizada, convertendo o MIS 
Cine Santa Tereza em um canal de difusão contínua da produção cinematográfica e 
audiovisual local. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 27 - MIS Cine Santa Tereza, com sua característica fachada art dèco 
após ter sido restaurada. 
 
 
Após 11 anos fechado, este charmoso cinema que se encontra localizado na Praça 
Duque de Caxias tornou-se o primeiro cinema público de rua de Belo Horizonte. A 
atual gestora do espaço, Ana Amelia Lage Martins, salienta o papel do MIS Sta 
Tereza quanto à democratização do acesso à produção audiovisual, promovendo a 
experiência do cinema em suas melhores condições, além de constituir, de certo 
modo, uma forma de resistência à mercantilização que atravessou essa linguagem 
artística. 
 
Em 2003, a Prefeitura de Belo Horizonte comprou o edifício, mas a obra, que foi 
incluída no Orçamento Participativo, só começou uma década depois e demorou três 
anos para ser concluída. Transformado finalmente em um equipamento cultural 
subordinado à Fundação Municipal de Cultura (FMC), a nova sala de projeção 
31 
 
funcionando agora no mezanino do edifício conta com 126 assentos e um projetor 
com tecnologia 4K. 
 
Apesar dos esforços do poder público no sentido de devolver o espaço do antigo 
Cine Tereza à população, a qualidade arquitetônica final dos espaços internos do 
prédio é duvidosa, conforme se pode constatar nos registros fotográficos realizados 
em pesquisa de campo. Em conversa com a referida gestora do MIS, informou-se 
que a reforma não contou com acompanhamento de profissional da área de 
arquitetura, e que o orçamento da obra priorizou elemenos de ordem técnica em 
detrimento da concepção dos espaços internos, a começar pelo foyer do cinema, a 
sala de visitas do prédio. 
Figuras 28-31 - Registros dos ambientes do MIS Santa Tereza, em visita de campo em 
agosto de 2017. Em sentido horário: biblioteca, salão multimeios, rampa de acesso 
lateral e saguão de entrada. 
 
 
32 
 
5.3 Cine 104 
 
Localizado na região central de Belo Horizonte, próximo à praça da Estação, o Cine 
104 faz parte do espaço cultural centoequatro, um espaço multiuso que também 
abriga galerias, uma biblioteca e um café. O prédio em que funciona foi construído 
em 1908 e funcionou como uma fábrica de tecidos por muitos anos. Em 1984 foi 
tombado e, em 2009, inaugurado como centro cultural. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 32 – Vista das duas edificações da antiga Companhia 
Industrial Bello Horizonte, em 1948, em uma das quais funciona 
atualmente o centoequatro, à Praça Rui Barbosa, Centro. 
 
Conta com uma sala de cinema com capacidade para 80 pessoas e exibe filmes nos 
formatos digital e película. A programação funciona de terça a domingo e tende para 
a exibição de filmes de arte e principalmente filmes nacionais. Os curadores do 
cinema também exibem curtas, médias e longas de cineastas independentes na 
mostra “O cinema de BH” na tentativa de fomentar a produção e exibição do cinema 
mineiro. O Cine 104 é uma produção do Ministério da Cultura com patrocínio da 
CIFRA e EGL por meio do Fundo Nacional da Cultura e Lei de Incentivo à Cultura. 
 
33 
 
 
Figura 34 – Fachada do Espaço centoequatro. FONTE: centoequatro. 
 
O centroequatro, enquanto centro cultural, abarca um programa variado entreos 
quais está a sala de cinema. Assim como nos exemplos anteriores, o Cine 104 está 
localizado em uma edificação histórica, com relações de salvaguarda e valorização 
do patrimônio construído. No entanto, essa edificação data do início do século XX, 
tendo sido criada originalmente para abrigar uma tecelagem, ao passo que as outras 
duas edificações foram concebidas desde o início como espaços de cinema. 
 
Percebe-se assim que os dois primeiros exemplos veiculam a memória de um 
espaço dedicado à sétima arte, enquanto o centoequatro, por sua vez, traduz o 
potencial de requalificação de um edifício industrial em um equipamento cultural, no 
qual foi inserido um componente cinematográfico. 
 
Mas há de se convir que a qualidade da experiência espacial resultante é 
incomparável, resultando em uma multiplicidade de texturas, formas, ambientes, 
práticas sociais, conforme se pode ver nos registros apresentados a seguir. Em 
suma, no contexto do Centro Cultural 104 a experiência de ir assistir a um filme se 
associa a outros usos e valores, enriquecendo em si mesmo a experiência do lugar. 
 
 
 
 
34 
 
 
 
Figuras 35-38 – Registros dos espaços internos do centoequatro. 
 
 
35 
 
5 CONCLUSÃO 
 
A pesquisa temática suscitou elementos para orientar a busca de soluções 
promovida pela questão norteadora. A experiência cinematográfica como parte 
integrante da cultura urbana contemporânea apresenta variáveis econômicas, 
tecnológicas e sociais. Com isso, uma postura crítica ante as mudanças observadas 
nesses contextos é capaz de apontar caminhos alternativos para a permanência e 
vigor dessa atividade. 
 
A reabertura de um eminente cinema de rua pode ao mesmo tempo agregar um 
novo componente estético e espacial à experiência contemporânea de ir ao cinema, 
com intenção de associá-la a demais práticas socio-culturais. Ou seja, estamos 
falando de uma intervenção cujo espectro de programa é abrangente. 
 
Pela localização estratégica do objeto arquitetônico de intervenção, o Cine Pathé 
pode ser convertido, por exemplo, em um Centro de Referência do Audiovisual, no 
por meio do qual seria capaz de reunir salas de exibição de filmes, café, espaços de 
debate, aprendizado e formação na área, galeria, todos em um mesmo 
equipamento. Assim, essa reabertura conjugaria a linguagem arquitetônica e a 
linguagem cinematográfica em um espaço cujo potencial reside na combinação de 
múltiplas atividades: a sala de cinema, o centro de memória, o café, o point de 
encontro, o espaço de formação. 
 
Para incursão na próxima etapa do Trabalho Final de Graduação, buscarei levar em 
consideração a multiplicidade de elementos levantados durante esta monografia, 
bem como ter em vista a penetração de inovações tecnológicas na vida cotidiana 
das pessoas e na própria construção da paisagem urbana. 
 
 
 
 
 
 
 
36 
 
APÊNDICES 
 
I - Ficha de Tombamento do Cine Pathé 
 
Endereço: Avenida Cristóvão Colombo, 315, Savassi 
Uso Original: Serviço - Cinema 
Uso Atual: Comercial 
Instância de Tombamento: Municipal 
Data de Tombamento: 23/11/1999 
Arquiteto: Raphael Hardy F 
Estilo: Art Déco 
Data de Construção: 1947 
Conjunto Urbano: Tombamento isolado 
Projeto Original: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
37 
 
 
 
 
 
 
38 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
39 
 
II - Roteiro de Entrevista 
 
 
 
 
 
Entrevistada: Ana Amélia Lage Martins 
Cargo: Gestora do MIS Cine Santa Tereza 
Formação: Bibliotecária 
 
1) Como foi conduzido o processo de restauração do Cine Santa Tereza? 
2) Quais as características da requalifição física e tecnológica da edificação? 
3) Como é feita a gestão do espaço atualmente? 
4) Quais atividades acontecem no espaço do MIS Santa Tereza? 
5) Qual o perfil dos usuários do espaço? 
6) Como acontece a definição da programação de filmes e mostras do MIS Sta 
Tereza? 
7) Quais as intervenções previstas no curto prazo? 
8) Qual a relação do MIS Cine Santa Tereza com a sede do MIS e seu acervo, 
localizada em casarão histórico na Avenida Álvares Cabral? 
9) Em que ponto está a proposta de fusão desses dois equipamentos em um 
mesmo edifício? 
10) Quais as consequências dessa proposta para as atividades que acontecem 
no MIS Cine Santa Tereza? 
 
 
 
40 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALBANO, Celina. Cine Pathé. Coleção BH - A cidade de cada um v. 11. Belo 
Horizonte: Conceito, 2008. 
 
BORSAGLI, Alessandro. Turbulenta Modernidade: Art Déco em Belo Horizonte 
1930-1950. Belo Horizonte: 2016. 
 
Portal do Cine Theatro Brasil (BH): 
http://cinetheatrobrasil.com.br/ 
 
CASTRO, Maria Angela Reis de (org). Guia de Bens Tombados de Belo 
Horizonte. Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Belo Horizonte, 2006. 
 
DONDIS, A. Dondis. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 
2000. 
 
Cine Pathé na Savassi, já – perfil do coletivo em rede social: 
https://www.facebook.com/cinepathenasavassi/ 
 
JIMENEZ, Burilo. Introdução à psicologia ambiental. Editora Alianza, 1991. 
 
MAUTINHO, Stela R. O dicionário de artes decorativas e decoração de 
interiores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 
 
Movimento Cine Belas Artes (SP): 
http://movimentocinebelasartes.com 
 
PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre: 
Bookman, 2011. 
 
PALLASMAA, Juhani. A imagem corporificada: imaginação e imaginário na 
arquitetura. Porto Alegre: Bookman, 2013. 
 
Plataforma Digital de Guia de Bens Tombados de Belo Horizonte: 
https://guiadobem.org 
 
Plataforma Digital Cinemas de Rua de BH: 
http://www.cinemaderuabh.com 
 
Portal do Espaço Cultural centoequatro (BH): 
http://www.centoequatro.org 
 
SANTOS, Fabio Allon dos. Arquiteturas Fílmicas. Arte e Letra: 2015. 
 
 
http://cinetheatrobrasil.com.br/
http://movimentocinebelasartes.com/
https://guiadobem.org/
http://www.cinemaderuabh.com/
http://www.centoequatro.org/

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